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PARECER JURÍDICO TERESINA-PI, DATA- ANO SUPLICANTE: PEREBA SÍNTESE: DIREITO PENAL. TRÁFICO DE DROGAS. EMBARGOS INFRIGENTES. PRINCÍPIO DA SUBSTITUTIVIDADE. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. 1. RELATÓRIO: Trata-se de uma consulta formulada pelo requerente Pereba, primário e de bons antecedentes, que foi preso na cidade de Teresina/PI com vários papelotes de cocaína. Na delegacia seu advogado tentou a possibilidade do delegado arbitrar a fiança, como foi negado, esperou audiência de custódia para ver ser cliente solto. Ocorre que o Juiz transformou a prisão em flagrante em preventiva e encaminhou Pereba para casa de Custódia, prisão provisória em Teresina. O Ministério Público ofereceu denúncia pela prática do crime de tráfico de drogas, citado, apresentou defesa. Após a instrução, inclusive com realização do interrogatório, ocasião em que o acusado confessou os fatos, Pereba foi condenado, na forma do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, à pena de 1 ano e 08 meses de reclusão, a ser cumprido em regime Fechado. O advogado de Pereba interpôs o recurso de Apelação da sentença condenatória. Em julgamento pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, a sentença foi integralmente mantida por maioria de votos. O Desembargador revisor, por sua vez, votou no sentido de manter a pena de 01 ano e 08 meses de reclusão, assim como o regime, mas foi favorável à substituição da pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, no que restou vencido. É o que basta para a compreensão do tema, passo a opinar. 2. FUNDAMENTAÇÃO: Seguindo o passo de toda exegese narrada, a medida processual cabível a ser perfilhada pelo advogado do requerente PEREBA é a interposição do recurso de EMBARGOS INFRIGENTES, com fundamento e na forma prelecionada do Art. 609, parágrafo único do CPP, considerando que a decisão proferida no terreno de Apelação não foi, em relação à substituição da pena, unânime. Os chamados embargos infringentes e de nulidade trata-se de recursos manuseado exclusivamente pelo réu a fim de confutar e desafiar acórdão de segunda instância em sede de Apelação, Recurso em Sentido Estrito ou Agravo em Execução desfavorável a seu interesse, que julgou o feito de forma não unânime. Recebe a nomenclatura recheada de Embargos Infringentes quando a divergência se fundamentar sobre o mérito. A divergência pode ser total, quando envolve sobre todo o julgado e ainda parcial quando se dará sobre um ponto da decisão. Tais embargos devem ser opostos no prazo de 10 (dez) dias, dirigidos e apresentados diretamente ao tribunal de segunda instância, responsável pelo julgamento do recurso em sentido estrito ou da apelação. Ainda na quadra, teremos como requisitos para o ajuizamento do recurso: (decisão não unânime, que essa decisão seja desfavorável a defesa; que tenha sido proferida no julgamento do recurso de Apelação, Recurso em Sentido Estrito ou Agravo em Execução), podendo o Ministério Público, desde que em favor da defesa, manejar tal recurso. PROCESSAMENTO: O recurso é encaminhado ao Relator do acórdão embargado, o qual decidirá sobre a sua admissibilidade, exercendo, assim o juízo de prelibação ou admissibilidade. Se o recurso for denegado caberá agravo regimental no prazo de 5 dias e se for admitido, abre-se vista a parte contrária, pelo prazo de 10 dias para a impugnação (contrarrazões). Os embargos são distribuídos a um relator sorteado dentre os Juízes que integrarão o órgão julgador, não podendo ser nenhum dos Juízes que tomaram parte do julgamento do acórdão embargado. DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS (PRINCÍPIO DA SUBSTITUTIVIDADE): O primordial objetivo da instituição das penas alternativas (substitutivas), como substituição da hipótese de estabelecimento do cárcere, é a redução da incidência da pena detentiva, na medida em que a prisão deve ser vista como uma situação excepcional, ou seja, a última medida no terreno do Direito Penal. Nessa esteira, o art. 44 do CP leciona no sentido: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; II - o réu não for reincidente em crime doloso; (III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente; No caso em debate, é amplamente prosperável salutar pela possibilidade de ser substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, tendo em vista que foi reconhecido que o acusado é primário, de bons antecedentes e que não se dedica ao crime e nem integra organização criminosa. Em que pese o Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, vedar a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, o Supremo Tribunal Federal, em sede de controle difuso de inconstitucionalidade, entendeu que tal vedação viola o princípio da individualização da pena. Ademais, diante dessa decisão o Senado Federal editou a Resolução nº 05, suspendendo a eficácia da parte da redação do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, que veda a substituição. Com isso, revela-se a desnecessidade da segregação penal imputada, ante a possibilidade e cabimento da substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, sendo isso, considerado um seio da perfeita e admirável justiça. Ainda no ponto, vale destacar que o caráter substitutivo das penas restritivas de direitos, quando não podem ser aplicadas diretamente, tem provocado algumas críticas por parte da doutrina, dentre eles, o renomado Alberto Silva Franco, que pondera no seguinte teor: É lamentável, contudo, que não se tenha erigido, em face de certas situações tipificadas, algumas das atuais penas restritivas de direitos em penas principais, ao lado da pena privativa de liberdade e da multa, em cominação isolada, cumulativa ou alternativa. Dessa forma, as conhecidas resistências judiciais teriam fim e os juízes se viriam na contingência de aplicar, porque presentes no preceito sancionário, penas como a de interdição de direção de veículos que teriam, sem dúvida, enorme relevância em relação aos crimes de trânsito. O delito, como tem concebido a doutrina, é um fato social, que nasce no seio da comunidade, só podendo sofrer óbice na ação conjunta do governo com a sociedade, sob o prisma do Estado Democrático de Direito. O sistema carcerário brasileiro encontra-se na fase pré-falimentar, senão pós-falimentar, após os ataques de facções criminosas, organizadas no interior do sistema, a policiais e a membros da sociedade civil. A população carcerária Brasileira atingiu o alarmante quadro de aproximadamente 250 mil indivíduos, sofrendo um déficit superior a 63 mil vagas. Cada um destes detentos, executados ou reeducandos, representa enorme oneração os cofres públicos. O sempre lembrado Evandro Lins e Silva, em ponderação sobre o tema, alerta que a prisão "perverte, corrompe, deforma, avilta, embrutece". É uma fábrica de reincidência, é uma universidade às avessas, onde se diploma o profissional do crime. Com efeito, o índice de reincidência supera os 80%, as condições do encarceramento são subumanas, cerceando, assim, o desenvolvimento do caráter e a recuperação do preso. Tangente ao princípio da substitutividade, as substituições de reprimenda corporal por penas restritivas de direitos, ou mesmo por multa, onde a previsão do art. 44 do Estatuto Repressivo merece destaque, representam um dos meios mais eficazes de prevenir a reincidência criminal, devido ao seu caráter educativo e socialmente útil, pois ensejam queo infrator, cumprindo sua pena em "liberdade", seja monitorado pelo Estado e pela comunidade, facilitando grandiosamente a sua reintegração à sociedade. Portanto, nessa esteira é de se vislumbrar que intervenção da Justiça Penal tem por objetivo prevenir o delito, promover a segregação punitiva do infrator, constituindo a última reação do Estado em face da criminalidade, pelo que hodiernamente é forçoso reconhecer a importância da aplicação de penas alternativas, com vista à reinserção do infrator na sociedade, sem se esquecer da reparação do dano causado à vítima, que merece, ao menos, uma satisfação do Estado Juiz em decorrência da prática criminosa por ela sofrida. Sobre grande relevância, colaciono por extração o julgamento do HC de n°97.256 proferido pela Suprema Corte deste país, que declarou incidentalmente a inconstitucionalidade da proibição de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos prevista nos arts. 33, § 4º, e 44, caput, da Lei 11.343/2006. Seguinte teor: Nota: O Plenário do STF, no julgamento do HC 97.256, declarou incidentalmente a inconstitucionalidade da proibição de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos prevista nos arts. 33, § 4º, e 44, caput, da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas). A execução da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos” do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 foi suspensa pela Resolução 5/2012 do Senado Federal, nos termos do art. 52, X, da Constituição. ƒ O processo de individualização da pena é um caminhar no rumo da personalização da resposta punitiva do Estado, desenvolvendo-se em três momentos individuados e complementares: o legislativo, o judicial e o executivo. Logo, a lei comum não tem a força de subtrair do juiz sentenciante o poder-dever de impor ao delinquente a sanção criminal que a ele, juiz, afigurar-se como expressão de um concreto balanceamento ou de uma empírica ponderação de circunstâncias objetivas com protagonizações subjetivas do fato-tipo. Implicando essa ponderação em concreto a opção jurídico-positiva pela prevalência do razoável sobre o racional; ditada pelo permanente esforço do julgador para conciliar segurança jurídica e justiça material. No momento sentencial da dosimetria da pena, o juiz sentenciante se movimenta com ineliminável discricionariedade entre aplicar a pena de privação ou de restrição da liberdade do condenado e uma outra que já não tenha por objeto esse bem jurídico maior da liberdade física do sentenciado. Pelo que é vedado subtrair da instância julgadora a possibilidade de se movimentar com certa discricionariedade nos quadrantes da alternatividade sancionatória. As penas restritivas de direitos são, em essência, uma alternativa aos efeitos certamente traumáticos, estigmatizantes e onerosos do cárcere. Não é à toa que todas elas são comumente chamadas de penas alternativas, pois essa é mesmo a sua natureza: constituir-se num substitutivo ao encarceramento e suas sequelas. E o fato é que a pena privativa de liberdade corporal não é a única a cumprir a função retributivo-ressocializadora ou restritivo-preventiva da sanção penal. As demais penas também são vocacionadas para esse geminado papel da retribuição-prevenção SUBSTITUIÇÃO DA PENA substituição da pena sumário 143 -ressocialização, e ninguém melhor do que o juiz natural da causa para saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda é suficiente para castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo comportamentos do gênero. (...) Ordem parcialmente concedida tão somente para remover o óbice da parte final do art. 44 da Lei 11.343/2006, assim como da expressão análoga “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”, constante do § 4º do art. 33 do mesmo diploma legal. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da proibição de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direitos, determinando-se ao juízo da execução penal que faça a avaliação das condições objetivas e subjetivas da convolação em causa, na concreta situação do paciente. Sendo assim, em grande respeito ao colendo guardião da Carta Política e bem como pelos argumentos ora aparelhados no parecer confeccionado, indubitável ainda contestar que o Requerente Pereba não faça jus a substituição elencada nos arts.43 e 44 do CP. 3.CONCLUSÃO: ANTE O EXPOSTO, conclui-se que a que a decisão proferida em sede de Apelação não foi, em relação à substituição da pena, unânime, e com base nisso, é perfeitamente adequado a oposição dos EMBARGOS INFRIGENTES, tendo por fundamento o art. 609, par. único do CPP, seguindo as razões disciplinada nos arts. 43 e 44 do CP, e tendo por supedâneo as orientações doutrinárias acerca do tema principiológico da substitutividade, e da decisão proferida pelo STF no sentido de declarar a inconstitucionalidade do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06. Pelas razões delineadas, este parecer mostra-se favorável e simpatizante ao pleito do suplicante PEREBA. É o parecer. Teresina, Data__ Ano___ ADVOGADO/OAB
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