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Jurisprudência de 2020 - Direito Penal e Processual Penal (RogerioSanches)

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*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Análise da jurisprudência criminal do 
STF e o STJ de 2020 
 
 
 DIREITO PENAL 
 
 
• (Ir)retroatividade da representação exigida pelo Pacote 
Anticrime para o estelionato. 
 
Ação penal: 
A Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) inseriu no art. 171 o §5º, que modifica a natureza da 
ação penal, antes pública incondicionada (com as exceções do art. 182 do CP). 
Atualmente, a ação penal é pública condicionada à representação, exceto se a vítima 
for: 
I- a Administração Pública, direta ou indireta; 
II-criança ou adolescente; 
III-pessoa com deficiência mental; ou 
IV-maior de70(setenta) anos de idade ou incapaz. 
 
- O tema ação penal é encarado pela doutrina como norma mista (ou híbrida), o que 
explica estar disciplinado tanto no CP como no CPP. 
 
Pergunta: o estudo da lei no tempo deve considerar as regras do CP (irretroatividade 
maléfica e retroatividade benéfica) ou do CPP (“tempus regit actum”)? 
Resposta: A (ir)retroatividade é ditada pela parte penal. Se a parte penal é benéfica, 
retroage. 
Aspecto processual (condição de procedibilidade) X Aspecto penal (causa extintiva de 
punibilidade) – decadência – pesa mais 
 
Pergunta: Partindo do pressuposto de que a retroatividade é garantia do cidadão, a 
nova Lei retroage sempre, pouco importando a etapa da persecução penal? 
a) Se a inicial (denúncia) já foi ofertada, o crime não será alcançado pela mudança. 
Não nos parece correto o entendimento de que a vítima deve ser chama para 
manifestar seu interesse em ver prosseguir o processo. Essa lição transforma a 
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ministrado pelo professor Rogério Sanches 
natureza jurídica da representação de condição de procedibilidade em condição 
de prosseguibilidade. A lei nova não exigiu essa manifestação (como fez no art. 
88 da Lei 9.099/95); 
b) Se a inicial ainda não foi oferecida, deve o MP aguardar a oportuna 
representação da vítima ou o decurso do prazo decadencial, cujo termo inicial, 
para os fatos pretéritos, é a vigência da nova lei. 
 
A 5ª Turma do STJ tem seguido essa orientação (de que a norma só retroage se ainda 
não oferecida a denúncia): 
“[...]IV Outrossim, quanto a pretendida aplicação retroativa da regra do §5º do art. 171 
do CP, acrescentado pela Lei n. 13.964/2019, esta colenda Quinta Turma já decidiu que 
"além do silêncio do legislador sobre a aplicação do novo entendimento aos processos 
em curso, tem-se que seus efeitos não podem atingir o ato jurídico perfeito e acabado 
(oferecimento da denúncia), de modo que a retroatividade da representação no crime 
de deve se restringir à fase policial, não alcançando o estelionato processo", pois, "do 
contrário, estar-se-ia conferindo efeito distinto ao estabelecido na nova regra, 
transformando-se a representação em condição de prosseguibilidade e não 
procedibilidade[...]”(EDclnoAgRgnosEDclnoAREsp1.681.153/SP,Rel.Min.FelixFischer,j.0
8/09/2020). 
 
À mesma conclusão chegou a 1ª Turma do STF: 
“Não retroage a norma prevista no §5º do art. 171 do Código Penal (CP) (1), incluída 
pela Lei 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”), que passou a exigir a representação da 
vítima como condição de procedibilidade para a instauração de ação penal, nas 
hipótese e sem que o Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da entrada 
em vigor do novo diploma legal” (HC187.341/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, 
j.13/10/2020). 
 
A 2ª Turma do STF caminha para o mesmo entendimento da 1ª Turma; 
 
A 6ª Turma do STJ, no entanto, decidiu que a retroatividade abrange inclusive os 
processos em curso: 
“[...] 4. A retroação do §5º do art. 171 do Código Penal alcança todos os processos em 
curso, ainda sem trânsito em julgado, sendo que essa não gera a extinção da 
punibilidade automática dos processos em curso, nos quais a vítima não tenha se 
manifestado favoravelmente à persecução penal. Aplicação do art.91 da Lei n. 
9.099/1995 por analogia (HC583.837/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j.04/08/2020). 
 
 
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ministrado pelo professor Rogério Sanches 
• Interrupção da prescrição pelo acórdão confirmatório da 
condenação 
 
Iniciado o prazo prescricional, é possível causa que suspenda ou interrompa seu curso. 
 
A prescrição, diferente da decadência, admite causas suspensivas e interruptiva do 
prazo fatal. 
As causas suspensivas estão previstas no art. 116 do CP, e as interruptivas no art. 117 
do CP. 
a) Causas suspensivas: param o relógio, voltando a correr de onde parou depois de 
superada a causa de suspensão; 
b) Causas interruptivas: zeram o relógio, voltando a correr todo o prazo 
prescricional. 
 
Causas interruptivas da prescrição: 
Art. 117 C.P. – O curso da prescrição interrompe-se: 
I-pelo recebimento da denúncia ou da queixa; 
II-pela pronúncia; 
III-pela decisão confirmatória da pronúncia; 
IV-pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; 
V- pelo início ou continuação do cumprimento da pena; 
VI- pela reincidência. 
 
Diz o inc. IV que o prazo da prescrição da pretensão punitiva será interrompido pela 
publicação da sentença ou acórdãos condenatórios recorríveis. O que se entende por 
ACÓRDÃO CONDENATÓRIO? 
- Acordão é uma decisão colegiada, emitida por um tribunal superior. Seja como decisão 
advinda de um recurso ou de um processo ingressado no tribunal devido ao foro 
privilegiado. 
 
Situação 1: Juiz condena e o Tribunal confirma a condenação 
Situação 2: Juiz absolve e o Tribunal reforma a absolvição e condena o recorrido 
 
Havia uma corrente no sentido de que apenas a ‘situação 2’ poderia interromper a 
prescrição pois o acordão da ‘situação 1’ seria meramente confirmatório. 
Uma segunda corrente já tem o entendimento deque as duas situações possuem 
acordão condenatório para zerar a prescrição. É o que vigora hoje: 
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ministrado pelo professor Rogério Sanches 
O STF seguiu a orientação de que o acórdão confirmatório também interrompe a 
prescrição: “Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o Acórdão 
condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando confirmatório da 
sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente 
imposta” (HC176.473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j.27/04/2020). – Repercussão 
Geral 
 
No STJ a orientação majoritária era de que o acórdão confirmatório não interrompia a 
prescrição, mas ambas as turmas com competência criminal (5ª e 6ª) têm conformado 
seus julgamentos ao que decidiu o STF. 
CUIDADO: de acordo com a Corte Cidadã (STJ), essa orientação adotada pelo STF se 
aplica somente nos crimes cometidos posteriormente à Lei11.596/07. Se o crime é 
anterior, deve ser aplicada a orientação jurisprudencial precedente, segundo a qual 
somente o acórdão que reformasse a sentença absolutória tinha efeito interruptivo 
(AgIntnoREsp1.883.145/PR,Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j.06/10/2020). 
 
• Tipificação do crime de desacato e a garantia de liberdade 
de expressão 
 
Desacato 
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: 
Pena- detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
 
A conduta punida pelo art. 331 é desacatar funcionário público, no exercício da função 
ou em razão dela. 
 
“É a grosseira falta de acatamento, podendo consistirem palavras injuriosas, 
difamatórias ou caluniosas, vias de fato, agressão física, ameaças, gestos obscenos, 
gritos agudos etc. Uma expressão grosseira, ainda que não contumeliosa, proferida em 
altos brados ou de modo a provocar escândalo, bastará para que se identifique o 
desacato.” (Nélson Hungria, ob. cit., v.9, p.424). 
Em síntese, desacatar é achincalhar, menosprezar, humilhar, desprestigiar o servidor, 
seja por meio de gestos, palavras ou escritos. 
 
A partir de 2015 - Há quem sustente que a punição da conduta de desacato seja 
incompatível com a ordem constitucional e com a legislação internacional de que o 
Brasil faz parte. 
 
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Quanto à ofensa à ordem constitucional, argumenta-se que se trata de tipificação de 
caráter autoritário, que visa afinal a impedir – ou ao menos a desencorajar –
manifestações contrárias às práticas de agentes estatais. Criminalizar a conduta fere o 
princípio da proporcionalidade e ignora postula dos próprios do Direito Penal como a 
intervenção mínima e a lesividade. 
E no que concerne à legislação internacional, a Convenção Americana sobre os Direitos 
Humanos – à qual o Brasil aderiu por meio do Decreto nº 678/92 – garante, no artigo 
13, a liberdade de pensamento e expressão, e a Comissão Interamericana de Direitos 
Humanos já se manifestou no sentido de que a legislação de desacato vigente no 
continente americano contraria os termos da Convenção. 
 
ATENÇÃO: O STJ, por meio da sua 6ª. Turma, chegou a decidir nesse sentido (2016 e 
2017). 
 
Após essa decisão, decidiu-se afetar à Terceira Seção o julgamento do HC 379.269 
(j.24/05/2017) para que a questão fosse pacificada pelo órgão que reúne as duas turmas 
com competência criminal no STJ. 
 
Desta feita, o tribunal concluiu que o desacato continua sendo crime. A tipificação 
penal da ofensa contra o funcionário público no exercício de suas funções é uma 
proteção adicional que não impede a liberdade de expressão, desde que exercida sem 
exageros. 
 
O STF encampou a tese de que a tipificação do desacato permanece hígida, pois o 
tratamento conferido à liberdade de expressão pela norma de direito internacional 
não difere daquele disposto na Constituição Federal. O direito não é absoluto, tanto 
que o ordenamento constitucional tutela a honra e a intimidade, em face das quais a 
liberdade de manifestação do pensamento sofre limitações e pode ser objeto de 
punição no caso de abuso (ADPF 496/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 22/06/2020). 
 
• Beijo lascivo e crimes contra a dignidade sexual de 
vulneráveis 
 
Beijo lascivo - É comumente chamado de beijo lascivo ou beijo de micareta. Presença 
de um ânimo lúbrico (sensual, lascivo, devasso, libidinoso), ou seja, de uma finalidade 
de excitar ou satisfazer o impulso sexual próprio ou alheio. 
Ele pode configurar três crimes contra a dignidade sexual, a depender das circunstâncias 
do caso concreto: 
 
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Estupro 
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção 
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: 
Pena- reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos 
 
Vítima não vulnerável 
Beijo lascivo sem anuência da vítima e COM VIOLÊNCIA ou GRAVE AMEAÇA pode 
configurar crime de estupro 
 
Importunação sexual 
Art. 215- A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo 
de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: 
Pena- reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave. 
(Subsidiariedade expressa) 
 
Vítima não vulnerável 
Beijo lascivo sem anuência da vítima, mas SEM VIOLÊNCIA ou GRAVE AMEAÇA pode 
configurar crime de Importunação Sexual 
 
Estupro de vulnerável 
Art.217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 
(catorze) anos: 
Pena- reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. 
§1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, 
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a 
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. 
 
Vítima vulnerável 
Beijo lascivo, ainda que tenha a anuência da vítima, pouco importando o emprego ou 
não de violência ou grave ameaça pode configurar crime de estupro de vulnerável 
 
Esses são os entendimentos do STF e do STJ: 
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. 
CONDUTA LIBIDINOSA DIVERSA DA CONJUNÇÃO CARNAL. CONFIGURAÇÃO DO DELITO 
DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PRESUNÇÃO DE 
VIOLÊNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO TIPIFICADO NO 
ART. 215-A DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE 
SUPERIOR E DO STF. RESSALVA DO ENTENDIMENTO DESTE RELATOR. AGRAVO 
REGIMENTAL CONHECIDO EM PARTE E, NA PARTE CONHECIDA, IMPROVIDO. 1. "Em 
sede de agravo regimental, não se admite que a parte amplie objetivamente as causas 
de pedir e os pedidos formulados na petição inicial da ação ou do recurso, pois tal 
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ministrado pelo professor Rogério Sanches 
procedimento traduz indevida inovação recursal". (AgRg no RHC n. 116.871/SP, 
Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 18/10/2019). 2. No caso, o 
pleito de afastamento da presunção de violência não estava contida nas razões da 
impetração inicial, tampouco no pedido formulado, o que impede o conhecimento, no 
ponto, do regimental. 3. Não obstante a inovação trazida pelo art. 215-A do Código 
Penal (introduzido pela Lei 13.718/2018), "a Terceira Seção desta Corte Superior 
sedimentou a jurisprudência, então já dominante, pela presunção absoluta da 
violência em casos da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso com pessoa 
menor de 14 anos" (REsp n. 1.320.924/MG, relator Ministro ROGERIOSCHIETTI CRUZ, 
SEXTA TURMA, julgado em 16/8/2016, DJe de29/8/2016, grifei), de modo que é 
"inaplicável o art. 215-A do CP para a hipótese fática de ato libidinoso diverso de 
conjunção carnal praticado com menor de 14 anos, pois tal fato se amolda ao tipo 
penal do art. 217-A do CP, devendo ser observado o princípio da especialidade" (AgRg 
nos EDcl no AREsp n. 1225717/RS,relator Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA 
TURMA, julgado em 21/2/2019, DJe 6/3/2019). Ressalvado o entendimento deste 
Relator. 4. Agravo regimental conhecido em parte e, na parte conhecida, improvido. 
(STJ - AgRg no HC: 556663 SC 2020/0003088-1, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA 
FONSECA, Data de Julgamento: 19/05/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 
27/05/2020) 
 
 
• Penas extintas e a circunstância judicial de maus 
antecedentes 
 
Cálculo da pena privativa de liberdade 
Art. 68 C.P. – A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; 
em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, 
as causas de diminuição e de aumento. 
 
1ª FASE: o juiz fixa a PENA BASE (circunstâncias judiciais do art. 59 CP) sobre a pena 
simples ou qualificada. 
 
Exemplo: art. 155 do CP (pena de 1 a 4 anos) 
1ª. Fase – art. 59 do CP = 1 ano (pena base no mínimo) 
 
2ª FASE: PENA INTERMEDIÁRIA/PROVISÓRIA – o juiz considera as agravantes (arts. 61 
e 62 CP) e atenuantes (arts. 65 e 66 CP) 
 
Exemplo: art. 155 do CP (pena de 1 a 4 anos) 
1ª. Fase - 1 ano 
2ª. Fase - 1 ano (pb) + 2 meses (agrav) = 1 ano e 2 meses 
 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
3ªFASE: PENA DEFINITIVA – causas de aumento e diminuição da pena 
 
Exemplo: art. 155 do CP (pena de 1 a 4 anos) 
1ª. Fase -1 ano 
2ª. Fase -1 ano (pb) + 2 meses (agrav) = 1 ano e 2 meses 
3ª. Fase –1 ano e 2 meses (pi) + 7 meses (majorante) = 1 ano e 9 meses 
 
SISTEMA TRIFÁSICO (NELSON HUNGRIA): 
O método trifásico de cálculo da pena privativa de liberdade tem porobjetivo viabilizar o 
exercício do direito de defesa, explicando para o réu os parâmetros que conduziram o juiz na 
determinação da reprimenda. 
Art. 59, C.P. – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como 
ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para 
reprovação e prevenção do crime: 
(...) 
II- a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; 
 
ANTECEDENTES DO AGENTE: 
-Representa a vida pregressa do agente 
-Vida “ante acta”(anterior ao crime). 
 
O que configura maus antecedentes? 
 
Súmula 444 STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para 
agravar a pena-base. 
 
A respeito da extensão do termo “maus antecedentes”, decidiu o STJ: 
“O conceito de maus antecedentes, por ser mais amplo, abrange não apenas as condenações 
definitivas por fatos anteriores cujo trânsito em julgado ocorreu antes da prática do delito em 
apuração, mas também aquelas transitadas em julgado no curso da respectiva ação penal, além 
das condenações transitadas em julgado há mais de cinco anos, as quais também não induzem 
reincidência, mas servem como maus antecedentes (HC 185.894/MG–Sexta Turma– Nefi 
Cordeiro– Dje 05/02/2016)”. 
 
De acordo com a maioria, não existe limite temporal para a condenação passada servir como 
maus antecedentes em crime futuro. 
 
“Art. 64, C.P. – Para efeito de reincidência: 
I-não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena 
e a infração posterior tiver de corrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado 
o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;” 
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O plenário do STF decidiu, em sede de repercussão geral, que o limite de cinco anos não se 
aplica aos maus antecedentes: 
“Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição 
da reincidência, previsto no art. 64, I, do Código Penal” (RE 593.818/SC, Rel. Min. Roberto 
Barroso, j. 17/08/2020). 
 
O STJ, há tempos, segue a orientação de que o aumento é admissível: 
“É assente neste Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que, à luz do artigo 64, inciso 
I, do Código Penal, ultrapassado o lapso temporal superior a 5 anos entre a data do cumprimento 
ou extinção da pena e a infração posterior, as condenações anteriores não prevalecem para fins 
de reincidência, mas podem ser consideradas como maus antecedentes, nos termos do artigo 
59 do Código Penal” (AgRg no AREsp 1.075.711/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 
18/05/2017). 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
• Competência para o processo e julgamento dos crimes 
envolvendo criptomoedas. 
 
O Bitcoin (BTC) é um tipo de moeda virtual, também chamado de criptomoeda. 
É como se fosse uma espécie de dinheiro da internet, mas que não apresenta um sistema 
centralizado de controle sobre as suas trocas comerciais, tais como um banco central, 
ao contrário do que acontece com as moedas do “mundo real”. O termo bitcoin também 
é designado para o software utilizado para a criação e controle da moeda. 
 
Temos visto, nos últimos anos, um aumento considerável na utilização das denominadas 
criptomoedas, negociadas exclusivamente por meio virtual, sem nenhum controle dos 
bancos centrais ou de algum outro órgão ligado à fiscalização do sistema financeiro 
dos países. 
Na medida em que se populariza a utilização das criptomoedas, é inevitável a 
multiplicação de atos ilícitos nas transações, o que pode provocar certa perplexidade 
nos operadores do sistema criminal, cujas normas não acompanham a evolução 
tecnológica e o incremento das atividades delituosas decorrentes desta evolução. 
 
Crimes envolvendo criptomoedas devem ser processados e julgados na Justiça 
estadual ou federal? 
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Exemplo: Pirâmide financeira e Criptomoedas 
 
 
 Você me envia R$ 5,00 
 
 Faça 5 amigos seus me enviarem R$5,00 
 
 Faça com que seus 5 amigos consigam mais 5 amigos que me enviem R$5,00 
 
 O vigarista fica muito rico 
 
 
A Terceira Seção do STJ julgou um conflito de competência (CC 161.123/SP) que teve 
origem em irregularidades cometidas numa espécie de corretagem sobre bitcoins. 
No caso, os acusados captavam recursos de investidores e lhes ofereciam ganhos fixos 
mensais enquanto utilizávamos recursos recebidos para especular no mercado de 
criptomoeda. 
 
O MP de São Paulo considerou que os indícios de evasão de divisas, de sonegação fiscal 
e de exercício de atividade financeiras em autorização legal deveriam provocar o 
deslocamento da competência para a Justiça Federal, no que foi acatado pela Justiça 
paulista. 
Mas a Justiça Federal suscitou o conflito de competência argumentando que a atividade 
desenvolvida pelos acusados não se inseria em crimes contra o sistema financeiro, tendo 
em vista que criptomoedas não sofrem controle do Banco Central e não podem ser 
consideradas ativos financeiros 
 
Sabemos que compete à Justiça Federal, nos termos do art. 109, inc. IV, da Constituição 
Federal, julgar “os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de 
bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas 
públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da 
Justiça Eleitoral”. 
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O inc. VI, por sua vez, acrescenta ser de competência federal “os crimes contra a 
organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro 
e a ordem econômico-financeira”. 
 
No âmbito do sistema financeiro, são diversas as infrações penais cuja competência de 
julgamento recai na Justiça Federal, como a falsificação de moeda – de emissão 
rigorosamente controlada pelo Banco Central -, a evasão de divisas e a fraude em 
instituição financeira nos termos da Lei 7.492/86. 
 
Todas estas infrações atingem diretamente a União, que tem interesse em manter o 
domínio sobre a emissão e a circulação de moeda devido aos efeitos devastadores que 
o descontrole pode provocar em termos macroeconômicos. 
 
À União ainda convém controlar a movimentação de moeda para fora e para dentro do 
Brasil, não somente em virtude da influência que isso pode exercer na economia interna, 
mas também por questões de ordem tributária, como também lhe interessa manter a 
higidez do sistema financeiro nacional garantindo sua operação em condições nas quais 
as pessoas possam confiar. 
 
A Terceira Seção do STJ, no caso em estudo, se pronunciou no sentido de que a captação 
de recursos decorrente de "pirâmide financeira" não se enquadra no conceito de 
atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça Federal se 
justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de 
dinheiro em detrimento de bens e serviços ou interesse da União. 
 
Em resumo, crimes envolvendo criptomoedas em regra são de competência da Justiça 
Estadual, somente quando o crime dialogar com art. 109, IV ou VI, da CF, é que a 
competência passa a ser da Justiça Federal. 
 
• Condições para exame de habeas corpus quando já 
interposto recurso pela defesaTJ/TRF 
 Habeas Corpus 
Decisão STJ 
 Apelação 
 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
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A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça estabeleceu que o habeas corpus, 
quando já tiver sido interposto o recurso próprio contra a mesma decisão judicial, só 
será examinado se for destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou se 
contiver pedido diverso do recurso que reflita no direito de ir e vir. 
Nas demais hipóteses, o colegiado entendeu que o habeas corpus não deverá ser 
admitido, e o exame das questões que ele apontava ficará reservado para o julgamento 
do recurso – ainda que a matéria discutida tenha relação indireta com a liberdade 
individual. 
 
O caso: 
O STJ não conheceu de HC no qual a defesa pedia a desclassificação da conduta 
imputada ao réu, por estar pendente o julgamento de apelação com o mesmo pedido 
no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). 
A Corte ressaltou que a Sexta Turma já havia substituído a prisão preventiva do paciente 
por medida cautelar de comparecimento em juízo, restando nesse novo pedido apenas 
a discussão sobre a desclassificação da conduta. 
O TJSP não conheceu do habeas corpus lá impetrado justamente por entender que a 
matéria será mais bem analisada na apelação já interposta. 
 
Conclusão: 
Estando pendente de julgamento a apelação no TJSP, a análise do habeas corpus pelo 
STJ implica, efetivamente, ostensiva e inadmissível supressão de instância, justamente 
porque não caracterizada, na decisão impugnada, a ocorrência de flagrante ilegalidade 
ou de teratologia jurídica cerceadora do direito de locomoção. 
 
Racionalidade: 
Para o Min. Schietti, é preciso respeitar a racionalidade do sistema recursal e evitar que 
o emprego concomitante de dois meios de impugnação com a mesma pretensão 
comprometa a capacidade da Justiça criminal de julgar de modo organizado, acurado e 
correto – o que traz prejuízos para a sociedade e os jurisdicionados em geral. 
 
Uso desvirtuado: 
O ministro explicou que é inequívoco o cabimento do habeas corpus para tutelar, 
deforma direta e exclusiva, a liberdade de locomoção que esteja concretamente 
ameaçada ou efetivamente violada por ilegalidade ou abuso de poder contido na 
sentença condenatória. "Ao recurso de apelação caberá, pois, a revisão da decisão de 
primeiro grau nos demais pontos que, eventualmente, hajam sido impugnados pela 
defesa (nulidades, individualização da pena etc.)", disse ele. 
Nas hipóteses em que o habeas corpus possuir, além do pedido de tutela direta da 
liberdade, um ou mais objetos idênticos aos da apelação, somente será admissível o 
seu conhecimento na parte relativa à prisão – se houver insurgência nesse sentido –, 
cabendo à apelação o exame das outras questões suscitadas pela defesa. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
 
O STJ não se nega a discutir o HC, apenas a rediscutir o tema já interposto na Apelação. 
Quando houver lesão direta ao direito de ir e vir, evidente abusou de poder ou quando 
houver uma decisão monstruosa, o HC será julgado. 
 
• Conflito de atribuição entre MPF e MPE 
 
 
O Supremo Tribunal Federal, no ano de 2016, nas Ações Cíveis Originárias (ACO) 924 e 
1394, havia modificado seu posicionamento, concluindo que, no conflito de atribuições 
entre Ministérios Públicos de Estados diversos, ou entre o Ministério Público estadual e 
Ministério Público da União, não é da Corte, mas do Procurador Geral da República o 
dever de solucionar a controvérsia. 
 
Revisitando o tema, mais precisamente na ACO 843, o Supremo modificou (votação 6x5) 
novamente sua posição, sem assumir como sua a responsabilidade, mas do Conselho 
Nacional do Ministério Público (CNMP). – Essa decisão, contudo, está suspensa. A 
Corte analisa embargos interpostos pelo PGR. 
 
Nos termos do art. 128 da CF/88, o Ministério Público abrange: o Ministério Público 
Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar, o Ministério 
Público do Distrito Federal e Territórios e os Ministérios Públicos dos Estados. O §1º do 
mesmo artigo anuncia que o Ministério Público da União tem por chefe o Procurador – 
Geral da República (...). 
 
Percebe-se a autonomia entre o MPU os MPEs, os últimos não sendo subordinados 
funcional, financeira e/ou administrativamente ao primeiro. Logo os MPEs não são 
subordinados ao PGR, mas sim ao Procurador Geral de Justiça. 
 
Diferentemente do Poder Judiciário, verticaliza do na Carta Maior, o Ministério 
Público foi desenhado de forma horizontal. 
 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
 
 
Informada pela estrutura anunciada na Constituição, a Lei Complementar 75/93 (Lei 
Orgânica do MPU), nos seus artigos 26, inciso VII, e 49, inciso VIII, estabelece ser 
atribuição do PGR, como chefe do MPU, dirimir conflitos de atribuição entre 
integrantes de ramos diferentes do MPU e os conflitos de atribuições entre órgãos do 
MPF. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Já a Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional dos MPs estaduais), no seu artigo 10, inciso X, 
prevê competir ao PGJ, como chefe da instituição, dirimir conflitos de atribuições entre 
seus membros. 
 
 
 
 PGJ 
 
 
 
 
 
 
 
Ora, não sendo possível, lógica, política e juridicamente, a tese de o PGR dirimir conflitos 
envolvendo órgãos do MPU e MP dos Estados ou entre MPs de Estados diferentes, 
pergunta-se: qual (a instituição) o órgão que deve assumir essa tarefa? 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
 
 
 
A lacuna existe e o uso da analogia é inevitável. Na tarefa de suprimi-la, no entanto, o 
intérprete deve ater-se aos seguintes pressupostos, a saber: a existência de um conflito 
federativo, cuja apreciação só pode passar por órgão institucionalmente equidistante 
daqueles envolvidos e, ao mesmo tempo, colegiado. 
 
Dentro desse espírito democrático, no plano constitucional chama a atenção um 
dispositivo: o artigo 102, inciso I, “f”, que afirma ser de competência do STF processar 
e julgar, originariamente, as causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o 
Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da 
administração indireta. 
 
Quando dois MPs de Estados diferentes (ou MP estadual e MPF) colidem nas suas teses, 
instaurado está um conflito federativo. Por esta razão, parece-me que o STF é o órgão 
competente para dirimir a controvérsia, na esteira do já mencionado artigo 102, I, “f”, 
da nossa Bíblia Política”. 
 
Ora, se não cabe ao STF ou PGR dirimir os conflitos de atribuições entre Ministérios 
Públicos de Estados diversos, ou entre o Ministério Público estadual e Ministério Público 
da União, a quem cabe importante missão? 
Trabalhando com intepretação sistemática, decidiu-se que a tarefa compete ao 
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) 
 
Houve progresso da decisão de que era o PGR, pois o conflito será solucionado por órgão 
colegiado e equidistante das partes envolvidas, mas dois aspectos merecem atenção. 
Primeiro, é sabido que o CNMP é órgão plural, composto por membros do Ministério 
Público brasileiro, membros do Poder Judiciário, advogados e representantes da 
sociedade civil. Por óbvio, a decisão num conflito de atribuições entre Ministérios 
Públicos deve ser repartida entre os membros da carreira, sem a participação dos 
extraneus, deve-secriar uma câmara com apenas membros do MP brasileiro. 
O segundo aspecto diz respeito ao alcance da decisão do CNMP. Ao solucionar o conflito, 
a decisão do Conselho vinculará as partes envolvidas, mas não o Judiciário. 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
• Prisão preventiva e seus limites impostos pelo Pacote 
Anticrime. 
 
DA PRISÃO EM FLAGRANTE 
Art. 301 CPP. Qualquer do povo poderá (flagrante facultativo) e as autoridades policiais 
e seus agentes deverão (flagrante compulsório) prender quem quer que seja encontrado 
em flagrante delito. 
 
 
 Preso em flagrante – Autoridade policial – Audiência de custódia 
 
 1º juízo de valor (auto de prisão em flagrante) 
 
Audiência de custódia: Trata-se de cautela que atende, basicamente, à Convenção 
Americana de Direitos Humanos (art. 7. 5), a impor a apresentação do preso a um juiz. 
No mesmo sentido, o art. 9, 3 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 
Nova York. No nosso ordenamento, a matéria, até o advento da Lei 13.964/19 (Pacote 
AntiCrime), estava prevista apenas na Resolução n. 213/2015, do Conselho Nacional de 
Justiça e em normas internas de tribunais. Agora temos Lei (art. 310 do CPP). 
 
- A audiência de custódia (ou de apresentação) tem dupla finalidade: 
a) de proteção, a fim de tutelar a integridade física do preso; 
b) e de constatação, aquilatando de acordo com as circunstâncias do caso concreto, a 
necessidade de ser mantida a prisão do autuado. 
 
Na citada Resolução, o CNJ determina o dever de apresentação de toda pessoa presa, 
abrangendo o flagrante e outras prisões, como temporária, preventiva ou definitiva. 
A Lei 13.964/19 disciplinou solenidade somente para o caso de flagrante. Dessa forma, 
a resolução do CNJ não está superada, pois continua viva para as outras espécies de 
prisão. 
 
- Deveres do juiz na audiência de custódia: 
Na audiência de custódia o juiz, depois de ouvir MP e defesa, deverá 
fundamentadamente: 
I - relaxar a prisão ilegal ou; 
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos 
constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as 
medidas cautelares diversas da prisão ou; 
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
ATENÇÃO: A prisão em flagrante será convertida em preventiva quando presentes os 
requisitos do art. 312 do CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares 
diversas da prisão - A prisão preventiva é a ultima ratio 
O art. 311 do CPP impede o juiz decretar a prisão preventiva de ofício. Só pode 
decretar se provocado! 
 
Pode o Magistrado converter a prisão em flagrante em prisão preventiva sem o prévio 
requerimento do Ministério Público ou sem a representação da autoridade policial 
nesse sentido? 
STF STJ 
 
No HC 188.888 o STF não admitiu o juiz 
converter, de oficio, o flagrante em 
preventiva, dependendo de provocação 
do MP ou do Delegado de Polícia. 
 
No HC 590.039 o STJ, a exemplo, do STF, 
não admitiu o juiz converter, de oficio, o 
flagrante em preventiva, dependendo de 
provocação do MP ou do Delegado de 
Polícia. 
 
Cuidado: No HC 583.995, autorizou a 
conversão de oficio em casos 
excepcionais (ex: quando o MP não 
estiver presente na audiência de 
custódia ou de apresentação) 
* A tendência é o STF e STJ não admitir a conversão de oficio. 
 
DA PRISÃO PREVENTIVA 
A prisão preventiva, em um sentido amplo, é aquela decretada antes do trânsito em 
julgado da sentença penal condenatória e tem significado idêntico à prisão processual, 
cautelar, provisória ou prisão sem pena. Em um sentido mais estrito, vem prevista nos 
arts. 311 e ss. do CPP. 
 
Art. 311 CPP. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a 
prisão preventiva decretada pelo juiz a requerimento do Ministério Público, do 
querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade policial. 
 
A prisão preventiva, como consta do dispositivo em exame, pode ser decretada na fase 
de investigação policial ou quando já deflagrado o processo penal. 
 
Prazo máximo de duração da prisão preventiva: a nossa lei não estipula um prazo 
máximo de duração da prisão preventiva e, talvez, não devesse mesmo fazê-lo, já que a 
peculiaridade de cada caso concreto pode justificar tratamentos diversos. 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Foi adotado o critério de razoabilidade, previsto no art. 5º, inciso. LXXVIII da 
Constituição, a partir do advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, pelo qual “a 
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do 
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. É necessário 
observar o prazo razoável da prisão preventiva, logo o juiz deve revisitar a necessidade 
da clausura pois é dessa forma que é garantida a vigilância constante no tema 
razoabilidade. 
 
Revisão da necessidade da prisão preventiva: O CNJ editou a Res. 66/2009 
determinando a revisão da necessidade da prisão a cada três meses. 
A Lei 13.964/19, alterando o art. 316 do CPP, seguiu o espírito da referida Resolução. 
Diz que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção a 
cada 90 dias, mediante decisão fundamentada (art. 315 do CPP), sob pena de tornar a 
prisão ilegal. 
 
STF STJ 
 
O prazo a ser observado compete 
somente pelo juiz que decreto a prisão 
preventiva não é peremptório. Cabe o 
Tribunal provocá-lo. 
 
O Prazo a ser observado compete 
somente pelo juiz que decreto a prisão 
preventiva 
 
 
Art. 312, CPP: A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem 
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar 
a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime, indício suficiente 
de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. 
§1º. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de 
qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 
4º). 
§2º. A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada 
em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que 
justifiquem a adoção da medida adotada (incluído pela Lei 13.964/20). 
 
Ao analisar o parágrafo segundo: 
Tem inegável caráter de uma prisão cautelar de natureza processual e, por conta disso, 
deve preencher os requisitos típicos de toda e qualquer medida cautelar: fumus comissi 
delicti e o periculum libertatis. 
Fumus comissi delicti: Trata-se da comprovação da existência de um crime e indícios 
suficientes de autoria. É a fumaça da pratica de um fato punível. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Periculum libertatis: se refere ao risco que o agente, em liberdade, possa criar à garantia 
da ordem pública, ordem econômica, da necessidade da instrução criminal e para 
aplicação da lei penal. 
 
Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos à decisão que 
a decreta? 
 
O §2º do art. 312 do CPP, acrescentado pela Lei 13.964/19, reconhece que a urgência 
intrínseca às cautelares exige a contemporaneidade dos fatos justificadores dos riscos 
que se pretende evitar com a segregação processual. Tese outra não se coaduna com 
a excepcionalidade da prisão preventiva, princípio que há de ser observado para a 
convivência harmônica da cautelapessoal extrema com a presunção de não 
culpabilidade. A contemporaneidade pressupõe que o lapso temporal entre os fatos 
imputados e a determinação da prisão preventiva seja curto. 
Em suma, estamos diante de um requisito importante da atualidade da decisão que 
decreta a prisão. É um desdobramento lógico do periculum libertatis. 
 
IMPORTANTE: O STJ já decidiu que “não há falar em ausência de contemporaneidade 
entre o fato delituoso e a segregação cautelar quando presente indisfarçável dificuldade 
em apurar o delito. (AgRg no HC 582.182/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, 
SEXTA TURMA, julgado em 12/08/2020, DJe 21/08/2020) 
Ex: Crime cometido em 2020 e a prisão preventiva decretada em dezembro de 2020, 
esse ato temporal de quase um ano não impede a decretação, não significa a ausência 
de contemporaneidade entre o fato e prisão quando presente indisfarçável dificuldade 
de apurar o delito. 
 
• Autoridade competente para atuar na prisão em flagrante 
de usuário de drogas 
 
Lei 11.342/06 
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-
se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do 
Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. 
(...) 
§2ºTratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em 
flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo 
competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-
se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias 
necessários. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
§3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no §2º deste artigo 
serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, 
vedada a detenção do agente. (Vide ADI 3807) 
 
O STF, na ADI 3807, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, 
afirmou que o autor do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser 
encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado irá lavrar o termo 
circunstanciado e requisitar os exames e perícias necessários. 
Se não houver disponibilidade do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à 
autoridade policial, que então adotará essas providências (termo circunstanciado e 
requisição). 
 
Juiz investigando???? E o sistema acusatório???? 
Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão. Isso porque a lavratura de 
termo circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de 
investigação. 
 
Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento investigativo, mas 
sim uma mera peça informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do 
condutor do flagrante e do autor do fato, deve-se reconhecer que a possibilidade de 
sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende os §§1º e 4º do art. 144 
da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador. As normas dos §§ 2º e 
3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de drogas, 
visando afastá-lo do ambiente policial, quando possível, e evitar que seja 
indevidamente detido pela autoridade policial. 
 
 
 
 LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE 
 
• Pedofilia 
 
Arts. 241-A e 241-B da Lei n. 8.069/1990 e o princípio da consunção. 
 
Caracteriza o crime do art. 241-A do ECA oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, 
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de 
informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de 
sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente (pena de 3 a 6 de 
reclusão e multa). 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Pune em sentido amplo a comercialização/disponibilização/transmissão de conteúdo 
pornográfico contendo criança ou adolescente. 
 
 
Já o art. 241-B do mesmo estatuto estabelece que "adquirir, possuir ou armazenar, por 
qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo 
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente" atrai a sanção de 1 a 4 
anos de reclusão e multa. – Pune quem possui/armazena conteúdo pornográfico 
contendo criança ou adolescente. 
 
Qual a imputação adequada a um indivíduo que adquire, armazena e compartilha 
imagens pornográficas com crianças e adolescentes? Há concurso material de delitos 
ou é possível aplicar o princípio da consunção para que condutas posteriores à 
aquisição sejam absorvidas como post factum impunível? 
 
Via de regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento (Art. 241-
B) e compartilhamento (Art. 241-A) de material pornográfico infanto-juvenil. 
O cometimento de um dos crimes NÃO perpassa, necessariamente, pela prática de 
outro, mas é possível a absorção, a depender das peculiaridades de cada caso, quando 
as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente 
vinculadas. 
 
O princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos. Se 
evidenciado pelo caderno probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, 
sem relação de subordinação com o outro, o réu deverá responder por ambos, em 
concurso material (REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por 
maioria, julgado em 04/02/2020, DJe 17/02/2020). 
 
Outros casos semelhantes (com mesmo entendimento sobre a aplicação do princípio da 
consunção): 
1 - Resistência (art. 329 do CP) x desacato (art. 331 do CP) 
Ex1: Pessoa resiste a prisão, tentando correr e xingando os policiais. Aqui o ato de resistir 
a prisão absorve o crime de desacato (os xingamentos aos policiais). 
Ex2: Pessoa resiste a prisão mas consegue ser presa, enquanto é levada a delegacia 
começa a xingar os policiais. O ato de resistir e os xingamentos ocorrem em situações 
fáticas diferentes, logo não há nexo de dependência e a pessoa responderá pelo crime 
do art. 329 e 331, ambos do CP. 
2 - Registro não autorizado de cena pornográfica (art. 216-B do CP) x compartilhamento 
de imagens sexuais sem autorização da pessoa capturada (art. 218-C do CP) 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Ex.1: A pessoa vê uma atriz se trocando no camarim e a grava nua sem autorização e na 
mesma hora compartilha essas imagens em um grupo de Whatsapp. Aqui há absorção, 
respondendo apenas pelo art. art. 218-C. 
 
Ex.1: A pessoa vê uma atriz se trocando no camarim e a grava nua sem autorização e 
dias depois resolve compartilhar essas imagens. Aqui não há relação de meio e fim, por 
isso ele responderá em concurso material pelos delitos do art. 216-B e art. 218-C, ambos 
do CP. 
 
• Posse de drogas para uso próprio e a agravante da 
reincidência 
 
 
Reincidência 
 
Art. 63 C.P. - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de 
transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por 
crime anterior. 
 
Art. 7º L.C.P. - Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção 
depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no 
estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.” 
 
 
SENTENÇA PENAL 
CONDENATÓRIA DEFINITIVA 
NOVA INFRAÇÃO PENAL CONSEQUÊNCIA 
CRIME (Brasil ou Estrangeiro) CRIME REINCIDENTE 
(art. 63 CP) 
CRIME (Brasil ou Estrangeiro) CONTRAVENÇÃO PENAL REINCIDENTE 
(art. 7º LCP) 
CONTRAVENÇÃO PENAL 
(Brasil) 
CONTRAVENÇÃO PENAL REINCIDENTE 
(art. 7º LCP) 
CONTRAVENÇÃO PENAL 
(Brasil) 
CRIME MAUS ANTECEDENTES 
CONTRAVENÇÃO PENAL 
(Estrangeiro) 
CONTRAVENÇÃO PENAL 
(Brasil) 
MAUS ANTECEDENTESO art. 28 da Lei de 11.343/06 pune o comportamento do usuário de drogas com medidas 
alternativas e não com prisão. 
Embora não tenha havido descriminalização da conduta posse/porte de drogas para 
uso próprio, no ano de 2018, as duas Turmas do STJ afastaram a reincidência em 
virtude da condenação anterior por porte de drogas para consumo pessoal. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Em síntese, considerou-se que, não obstante a infração mantenha seu caráter 
criminoso, é desproporcional, diante da inexistência de sanção privativa de liberdade, 
sopesar a condenação para os efeitos de resistência. 
 
De acordo com a decisão proferida no HC 453.437/SP, não se justifica que a condenação 
por porte de drogas para consumo pessoal – ao qual não se comina sanção privativa de 
liberdade – agrave a pena pela reincidência porque sequer a condenação anterior por 
contravenção penal – à qual normalmente se comina prisão simples – tem esse efeito: 
“Cabe ressaltar que as condenações anteriores por contravenções penais não são aptas 
a gerar reincidência, tendo em vista o que dispõe o artigo 63 do Código Penal [e art. 7º. 
LCP] que apenas se refere a crimes anteriores. E, se as contravenções penais, puníveis 
com pena de prisão simples, não geram reincidência, mostra-se desproporcional o delito 
do artigo 28 da Lei de Drogas configurar reincidência. 
 
OBS: Art. 28 da Lei de Drogas – não tem reclusão, nem detenção, nem prisão simples, 
nem multa. Houve o entendimento (LFG) de que esse tipo não seria nem crime nem 
contravenção, e sim uma infração penal sui generis. Para o STF (pacífico), esse art. 28 é 
crime. Não houve descriminalização da conduta pela nova lei de drogas, ocorrendo 
apenas a despenalização no tocante à pena privativa de liberdade. Quem pratica esse 
crime não pode, em hipótese alguma, ser privado de liberdade em nenhuma das formas 
de prisão. O art. 28 não criou um novo conceito, mas sim um conceito específico, 
aplicável exclusivamente à conduta descrita em seu artigo. Para todos os crimes da lei 
aplica-se o conceito geral. 
 
- Para o STJ o artigo 28 da Lei de Drogas é menos que uma contravenção penal, é uma 
infração penal suis generis. 
A mesma Corte, contudo, revistando o tema, admitiu a configuração da reincidência 
específica, notadamente para fins do que disposto no § 4º do art. 28: 
“Em caso de reincidência (no próprio art. 28), as penas previstas nos incisos II e III do 
caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses”. 
 
Sendo reconhecido reincidente especifico, as penas de prestação de serviços e medida 
educativa deverão ser aplicadas pelo prazo de dez meses, ao invés dos cinco meses 
previstos no parágrafo 3º, prazo para os usuários não reincidentes. 
 
 
• Suspensão condicional do processo e sua revogação pela 
prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas 
 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Os parágrafos 3º e 4º do art. 89 da Lei 9.009/95 estabelecem, respectivamente, as 
causas de revogação obrigatória e facultativa do benefício da suspensão condicional do 
processo. 
 
De acordo com o parágrafo 3º, se o acusado, no período da suspensão do processo, vier 
a ser processado por outro crime, o benefício será necessariamente revogado pelo juiz 
e a persecução penal que se buscava evitar retomará o seu curso. 
De acordo com o parágrafo 4º, se o acusado vier a ser processado criminalmente por 
contravenção penal (e não crime), o juiz apreciará a possibilidade de revogar o 
benefício. É uma hipótese de revogação facultativa. 
 
- E se o beneficiário pela suspensão do processo, durante o período de prova, vier a 
ser processado pelo crime do art. 28 da Lei de Drogas (porte de drogas para uso 
próprio)? 
 
Na linha do que já vem decidindo quanto ao efeito da reincidência, o STJ reafirma a tese 
no sentido de que o art. 28 da Lei de Drogas, nas causas de revogação da suspensão 
condicional do processo, não merece o mesmo tratamento do crime, mas de 
contravenção penal ou infração penal “sui generis”: causa de revogação facultativa 
(REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado 
em 10/03/2020, DJe 26/03/2020). 
 
 
▪ Posse/porte de arma de fogo de uso permitido, mas com 
registro vencido 
 
A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça decidiu, no julgamento da Ação Penal n. 
686/AP, que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não 
caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a 
apreensão do artefato e aplicação de multa (APn n. 686/AP, relator Ministro João Otávio 
de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). 
 
Esse entendimento da Corte é para o caso da posse da arma, ou abrange também o 
porte? 
 
Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso 
permitido (art. 12 da Lei n. 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de 
arma de fogo (art. 14 da Lei n. 10.826/2003), muito menos ao delito de porte ilegal de 
arma de fogo de uso restrito (art. 16 da Lei n. 10.826/2003), cujas elementares são 
diversas e a reprovabilidade mais intensa (AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 28/04/2020, DJe 
08/05/2020). 
 
Ricardo Silvares, na obra Leis Penais Especiais-Estatuto do Desarmamento comentado, 
ed. Juspodivm, ensina o que segue: 
 
 “O encontro da arma nas condições daquele tipo penal, com o registro vencido, não 
configura o crime, pois registro existiu e o Poder Público tem conhecimento da 
existência da arma e de seu proprietário. Porém, aquele que permanece com a arma 
depois de negada a renovação do registro comete o crime do art. 12. 
A solução, contudo, não pode ser a mesma para o crime de porte ilícito de arma de fogo. 
É que a autorização para o porte de arma permite a seu titular que circule com a arma, 
o que incrementa a exposição do bem jurídico, bem ao contrário da simples mantença 
da arma em casa ou local de trabalho” 
 
 
• Lavagem de capitais. Afastamento do cargo em razão do 
indiciamento 
 
- Lei 9.613/98 
 
No âmbito de estudo da lavagem de dinheiro, a definição de quais seriam os bens ou 
interesses jurídicos tutelados tem sido tema de grande discussão doutrinária. 
 
Tutela-se a Administração da Justiça ou a Ordem Socioeconômica? 
 
Para uns, tutela-se a Administração da Justiça. As condutas da Lei 9.613/98 colocam em 
risco a Administração da Justiça, pois se se apresentam como forma de 
escamoteamento do produto do crime, o que dificulta a sua identificação. 
 
Outros autores apresentam como bem jurídico das normas de lavagem de dinheiro o 
mesmo bem jurídico do delito antecedente - O crime de lavagem é um crime parasitário 
ou acessório, pressupõe crime anterior (principal) -. 
 
A posição de Rogério Sanches é no sentido de que o bem jurídico primordialmente 
protegido pelas normas de lavagem de dinheiro é a ordem socioeconômica. 
 
Sujeito ativo do crime de lavagem de capitais: 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
O crime de lavagem de dinheiro é classificado como crime comum, podendo ser 
cometido por qualquer pessoa, não se exigindo nenhuma característica específica ao 
agente delitivo. 
 
A autolavagem é crime? 
Embora autônomo em relação à infração penal que lhe rende a matéria-prima para a 
sua prática, o delito de lavagem de dinheiro pode ser cometido tanto por pessoa 
distinta, quanto pelopróprio autor do injusto penal antecedente. 
A autolavagem (self laundering/autolavado) encontra atualmente amplo respaldo na 
doutrina e jurisprudência pátrias, logo a autolavagem é crime. 
 
Sujeito Passivo do crime de lavagem de capitais: 
O sujeito passivo do crime de lavagem de dinheiro é a coletividade, a própria sociedade 
que sofre os impactos negativos provenientes da prática do referido delito. Quando a 
ordem socioeconômica se vê violada, toda a coletividade é afetada, tendo de suportar 
os desequilíbrios financeiros e as nefastas consequências que a lavagem de dinheiro 
provoca. 
(Entendimento extraído da terceira corrente) 
 
São três as fases que compõem a lavagem de capitais: 
a) colocação; 
b) ocultação; e 
c) integração 
 
Na colocação, o agente criminoso, de posse do produto ou proveito da infração penal 
antecedente, inicia a prática de condutas visando à inserção dos valores espúrios na 
economia formal. 
 
A colocação pode ser efetuada das mais variadas formas, como, por exemplo, a 
conversão dos ativos em moedas estrangeiras, o depósito de valores em espécie em 
contas de terceiras pessoas e o envio dos recursos para o exterior, mediante a simulação 
de operações envolvendo novas pessoas físicas ou jurídicas 
 
Parece-nos que a doutrina estrangeira melhor batizou a segunda fase da lavagem de 
dinheiro. Ao invés de ocultação, usa a expressão layering. Sintetiza perfeitamente o que 
ocorre nessa fase: a criação de camadas, de cascas que dificultam a real identificação da 
essência. 
 
A fase de integração é o final do processo. É o momento no qual os recursos de 
proveniência ilícita, já com aparência de licitude, são reinseridos na economia formal 
totalmente dissociados de sua origem espúria. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Nesse momento, o agente criminoso passa a externar riqueza, mediante a realização de 
negócios e a aquisição de bens para ostentar o sucesso da empreitada por ele praticada. 
É nesse momento que ele coloca em xeque a efetividade da sua manobra de lavagem 
de dinheiro. 
 
Antes se seguir, vamos relembrar: 
 
Indiciamento 
Consiste na imputação a alguém, feita durante o inquérito policial, da prática de uma 
infração penal objeto da apuração. Havendo, pois, indícios de que determinada pessoa 
perpetrou o crime que é alvo da investigação, cumpre à autoridade policial proceder a 
seu formal indiciamento. 
 
Consequências do indiciamento 
Como destaca Sylvia Steiner, “o indiciamento formal tem consequências que vão muito 
além do eventual abalo moral que pudessem vir a sofrer os investigados, eis que estes 
terão o registro do indiciamento nos Institutos de Identificação, tornando assim público 
o ato de investigação. Sempre com a devida vênia, não nos parece que a inserção de 
ocorrências nas folhas de antecedentes comumente solicitadas para a prática dos mais 
diversos atos da vida civil seja fato irrelevante. E o chamado abalo moral diz, à evidência, 
com o ferimento à dignidade daquele que, a partir do indiciamento, está sujeito à 
publicidade do ato” (O indiciamento em inquérito policial como ato de constrangimento 
– legal ou ilegal. Revista Brasileira de Ciência Criminais, v. 24, 1998, p. 307). 
 
ATENÇÃO: Como regra, as consequências do indiciamento – graves por si só – se limitam 
às anotações lançadas nos dados sobre os antecedentes do indiciado. Porém, a Lei 
9.613/98, que trata da lavagem de dinheiro, prevê drástica consequência, ao dispor que 
“em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de 
remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em 
decisão fundamentada, o seu retorno” (art. 17-D). É dizer: o mero indiciamento, 
determinado pela autoridade policial, tem o condão de acarretar o afastamento do 
servidor público de suas funções até decisão judicial em sentido contrário. 
 
O art. 17-D da Lei de Lavagem de Capitais respeita a CF/88? 
 
A respeito deste dispositivo, a Associação Nacional dos Procuradores da República 
ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4911, sob o fundamento de que há 
usurpação de função pública, na medida em que a formação da opinio delicti, em crime 
de ação penal pública, é ato privativo do Ministério Público. Sustenta, ainda, que a regra 
malfere os princípios constitucionais do contraditório, da ampla defesa, da presunção 
da inocência e da inafastabilidade da jurisdição. 
A tese foi acolhida pela Corte Suprema! 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Principais julgamentos no STF e no STJ 
para o ano de 2021 
 
• STF e o procedimento do júri: a) novo júri de réu absolvido 
contra as provas dos autos; b) execução provisória da pena 
 
a) Novo júri de réu absolvido contra as provas dos autos 
 
A reforma do procedimento dos crimes dolosos contra a vida trazida pela Lei n. 
11.689/2008 introduziu um quesito genérico referente às teses absolutórias, com o 
objetivo de simplificar a quesitação, evitando que aos jurados fosse apresentado um 
infindável questionário, confuso para o juiz leigo e que, não raro, impedia um veredicto 
absolutório, mesmo quando havia maioria disposta a não condenar. Porém, como a 
pergunta passou a ser genérica – “o jurado absolve o réu”, conforme o § 2º do art. 483 
do CPP – passou-se a admitir que o jurado poderia acolher tese não sustentada pela 
defesa ou mesmo absolver por pura clemência. 
 
Fato é que o veredicto dos jurados exige maioria e nada mais, sendo mesmo vedada 
qualquer justificação por parte deles, o que impede saber exatamente o motivou cada 
voto. 
 
O veredicto absolutório do tribunal do júri admite apelação? 
Nos últimos anos ganhou corpo a tese de que o veredicto absolutório do tribunal do júri 
seria inapelável pelo mérito, pois, argumenta-se, uma vez que não se pode exigir dos 
juízes populares qualquer observância da lei ou das provas produzidas no processo, eis 
que julgam com base apenas em sua íntima convicção, e considerando a falta de 
motivação da decisão, que não permite estabelecer um nexo entre a razão de decidir e 
as provas produzidas, não haveria como se afirmar que o veredicto absolutório é 
manifestamente contrário à prova dos autos, tal como exige o art. 593, III, d, do CPP, 
para que se possa então sujeitar o réu a novo julgamento. 
 
O tema já foi apreciado pelo STJ, onde a tese contrária ao recurso da acusação não foi 
acolhida (HC 313.251-RJ, 3ª Seção, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, j. 28.02.2018). 
 
No STF há decisões em ambos os sentidos, razão pela qual foi agora afetado ao Plenário 
o julgamento do tema n. 1087 de repercussão geral: “Possibilidade de tribunal de 2º 
grau, diante da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri, determinar a realização de 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
novo júri em julgamento de recurso interposto contra absolvição assentada no quesito 
genérico, ante suposta contrariedade à prova dos autos”. 
 
Alguns buscam na soberania dos veredictos mais um argumento para petrificar a 
absolvição pelos jurados. Contudo, como veremos adiante, o conceito de soberania dos 
veredictos não deve ser entendido como um poder absoluto acima de qualquer outro. 
Assim, pode a decisão do Júri, quando prejudicial às partes, ser revista, ainda que para 
determinar novo julgamento 
Em suma, a soberania dos veredictos não é atingida, mas mitigada quando a lei permite 
que o Tribunal de Justiça mande o réu a novo Júri. 
 
Argumentos que defendem o recurso de apelação contra decisão absolutória no 
Tribunal do Júri: 
 
Todas as decisões de órgãos do Poder Judiciário são passíveis de controle! 
Por não havermotivação, a forma de controle das decisões do conselho de sentença 
mostra-se com contornos diversos daquela que envolve decisões de juízes togados. No 
júri, o controle somente poderá se dar pelo resultado, seja condenatório, com ou sem 
reconhecimento de todas circunstâncias imputadas na denúncia ou as apresentadas 
pela defesa no julgamento, seja absolutório, com acolhimento da negativa de autoria, 
negativa da materialidade ou do quesito genérico. 
 
Se é verdade que não se pode conhecer os motivos que levaram o júri a absolver ou a 
condenar, pode-se confrontar o resultado da votação com as provas coligidas ao longo 
da persecução penal, verificando-se, assim, o acerto ou erro dos jurados, determinando-
se a realização de novo julgamento, caso constatado o completo divórcio entre o 
veredicto e os fatos apurados. 
 
O Poder Judiciário não pode criar fatores de proteção deficiente a direitos 
fundamentais. 
A tese segundo a qual pode o jurado absolver um autor de homicídio com base em 
fatores culturais, ideológicos, raciais, dentre outros, e que, por conta da ausência de 
motivação e/ou do princípio constitucional da soberania dos veredictos essa decisão 
torna-se irrecorrível, representa afronta ao direito à vida. 
 
Se o Estado não pode obrigar o jurado a decidir de modo racional, com base no apurado 
durante a persecução, tem, por outro lado, o dever de assegurar que o resultado dos 
julgamentos pelo tribunal do júri corresponda ao resultado probatório. A impunidade 
admitida é somente aquela resultante da ausência de provas para a condenação. O 
Estado não pode permitir que considerações de outra ordem – a clemência, por exemplo 
– sirva de fundamento para livrar das sanções legais aquele que viola um dos direitos 
mais fundamentais, que é a vida. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
 
A vedação ao recurso contra decisão imotivada fere a Convenção Interamericana de 
Direitos Humanos. 
Recentemente, no caso Roche Azaña y Otros vs. Nicarágua, a Corte Interamericana de 
Direitos Humanos (CIDH) enfrentou caso trazido pela Comissão Interamericana em que 
ocorreu a absolvição de policiais acusados de matar cidadão equatoriano durante uma 
fiscalização. No caso, o julgamento se deu num tribunal popular, em que, tal como no 
Brasil, o veredicto é imotivado. 
 
A CIDH reconheceu em sua sentença que a falta de acesso e participação da vítima e 
seus familiares no processo configura violação ao devido processo, consubstanciado 
pelas regras dos arts. 8.1 e 25 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos, o que 
inclui o direito de ser ouvido e de recorrer ao Poder Judiciário para garantia de seus 
direitos. 
 
As conclusões da Comissão foram inequívocas: a impossibilidade de recurso das 
decisões do júri afronta a proteção aos direitos estabelecidos pela Convenção, na 
medida em que o procedimento não oferece garantias suficientes para o escrutínio dos 
veredictos e para assegurar que não foram arbitrários ou violadores de direitos e 
garantias judiciais e à proteção judicial das vítimas. 
 
Portanto, a adoção da tese de irrecorribilidade das decisões absolutórias pelo quesito 
genérico ferirá a Convenção Interamericana de Direito Humanos, fonte importante para 
o desenvolvimento de um processo penal democrático e verdadeiramente garantista. 
 
 
b) Execução provisória da pena no Tribunal do Júri 
 
Quando do julgamento do mérito das ADCs 43, 44 e 54, o STF decidiu que a pena só 
pode ser executada após esgotados todos os recursos, marco do trânsito em julgado. 
Ao final do julgamento, contudo, o presidente da Corte alertou que o julgamento 
realizado na oportunidade pelo STF não deveria abranger as decisões tomadas pelo 
Conselho de Sentença nos crimes dolosos contra a vida. 
 
Nos autos do HC n. 118.770/SP, de relatoria para acórdão do Eminente Ministro Luís 
Roberto Barroso, a Primeira Turma firmou a tese de que: “A prisão de réu condenado 
por decisão do Tribunal do Júri, ainda que sujeita a recurso, não viola o princípio 
constitucional da presunção de inocência ou não-culpabilidade”. 
 
Partiu-se da premissa de que, face à soberania que é inerente ao Tribunal do Júri, 
decorrente de expresso texto constitucional (art. 5º, inc. XXXVIII, “c”), deve ser admitida 
a imediata prisão do réu, assim que condenado pelo tribunal popular. 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Vê-se, portanto, que a execução antecipada da pena no caso dos crimes dolosos contra 
a vida tem fundamento mais amplo do que a execução nos demais casos, pois baseada 
no princípio constitucional de que a decisão tomada pelos jurados não pode ser 
desrespeitada. Mas, como se tratou de uma decisão tomada por maioria no âmbito 
restrito de uma das turmas do tribunal, é muito provável que o tema volte a julgamento 
no plenário. 
 
Com a nova Lei 13.964/19, sacramenta-se a possibilidade de execução provisória no 
júri, mas condicionada ao “quantum” da pena imposta na sentença. Somente no caso 
de condenação a uma pena igual ou superior a 15 anos de reclusão, o juiz presidente 
do Tribunal do Júri determinará a execução provisória das penas, com expedição de 
mandado de prisão, se for o caso. Nessa hipótese, eventual apelação interposta, em 
regra, não terá efeito suspensivo (§4º.). O juiz presidente poderá, excepcionalmente, 
deixar de autorizar a execução provisória das penas de que trata esta alínea “e” se 
houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal a quem competir o julgamento 
possa plausivelmente levar à revisão da condenação (§3º.) 
 
 
• STF e a (in)constitucionalidade da prisão temporária 
 
Introduzida pela Lei n. 7.960/89, a prisão temporária tem um caráter probatório, 
sobretudo em face do teor de seu inc. I, do art. 1º, que dispõe ser ela cabível “quando 
imprescindível para as investigações do inquérito policial”. A despeito das críticas que 
experimentou, essa espécie de prisão em nada se equipara à chamada prisão para 
averiguação, de manifesta ilegalidade. Esta, com efeito, prescindia de ordem judicial, 
não sofria a fiscalização do Ministério Público, não contava com a participação da defesa 
e se desenvolvia, de forma clandestina, nos porões da ditadura. Já a prisão temporária 
somente pode ser decretada por ordem judicial, em face da representação da 
autoridade policial ou de requerimento do “parquet”, submetendo-se a rígido controle 
do juiz que pode, inclusive, determinar a condução do detido à sua presença. 
 
O plenário do STF iniciou o julgamento de duas ações (ADIs 3.360 e 4.109) que tratam 
da validade constitucional da Lei de Prisão Temporária. 
 
No seu voto, a Min. Cármen Lúcia, relatora, ressalta que a prisão temporária é espécie 
de prisão cautelar e não contraria a CF/88. Contudo, se a prisão preventiva é medida 
excepcional, "a temporária é de ser excepcionalíssima". Para a relatora, a prisão 
temporária é cabível quando caracterizadas conjuntamente as hipóteses dos incs. I e III 
ou I, II e III, do art. 1º. da Lei 7.960/89, não sendo admissível a prisão temporária pela 
aplicação isolada dos requisitos legais. A ministra menciona no seu voto que há 
inconstitucionalidade de providência policial ou administrativa de qualquer natureza 
que exponha o preso, "seja qual for a circunstância, à divulgação pública, descumprindo 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
o seu direito de jamais servir à sanha de curiosos ou à vaidade dos agentes efetivadores 
da prisão de apresentar outro ser humano como troféu". 
 
O ministro Gilmar Mendes também votou. Julgou a medida constitucional, mas entende 
que a decretação da prisão temporária somente se justifica quando,cumulativamente: 
1) for imprescindível para as investigações do inquérito policial (art. 1º, I, Lei 
7.960/1989); 
2) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado nos crimes previstos 
no art. 1º, III, Lei 7.960/1989; 
3) for justificada em fatos novos ou contemporâneos que fundamentem a medida (art. 
312, §2º, CPP); 
4) a medida for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às 
condições pessoais do indiciado (art. 282, II, CPP), respeitados os limites previstos no 
art. 313 do CPP; 
5) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas, previstas nos arts. 319 
e 320 do CPP (art. 282, §6º, CPP). 
 
 
• STF e a (im)prescritibilidade do crime de injúria racial 
 
Injúria preconceituosa (racial) não se confunde com o delito de racismo, previsto na Lei 
7.716/89. Neste, pressupõe-se sempre uma espécie de segregação (marginalizar, pôr à 
margem de uma sociedade) em função da raça ou da cor. No caso do § 3º do art. 140, o 
crime é praticado através de xingamentos envolvendo a raça, cor, etnia, religião ou 
origem da vítima. A diferença tem relevância e repercussão prática. Vejamos. 
 
Xingar alguém fazendo referências à sua cor é injúria, crime de ação penal pública 
condicionada à representação da vítima, afiançável e prescritível; Já, impedir alguém de 
ingressar numa festa por causa da sua cor é racismo, cuja pena será perseguida 
mediante ação penal pública incondicionada, inafiançável e imprescritível. 
 
INJÚRIA QUALIFICADA PELO 
PRECONCEITO 
RACISMO 
Art. 140, §3º CP Lei 7.716/89 
Atribuir qualidade negativa Segregação ou incentivo À segregação 
Afiançável Inafiançável 
Prescritível Imprescritível 
Ação Penal pública condicionada à 
representação 
Ação Penal pública incondicionada (pena 
é buscada de oficio) 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Ex: Jogador chama o adversário de 
macaquito 
Ex: Empresário ser recusa contratar 
jogador negro 
 
O STJ, julgando agravo regimental no recurso especial nº 686.965/DF, considerou que a 
injúria racial está na seara dos crimes relativos ao racismo e é também imprescritível, 
pois tem sentido de segregação, somando-se às definições da Lei nº 7.716/89, que não 
traz um rol taxativo. 
 
O STF começou a discutir o tema no seio do seu Pleno 
 
Opinião de Rogério Sanches: A nosso ver, com o devido respeito, trata-se de imprópria 
analogia incriminadora, pois, como já destacamos, na injúria o agente lança mão de 
elementos raciais, não se confundindo com o racismo. A segregação ou a intenção de 
segregar que o racismo pressupõe é real, ou seja, utilizada com o intuito de criar, por 
meio de ações concretas, efetiva divisão dos cidadãos em categorias baseadas em 
preconceito de raça, cor, etc. Basta, para assim concluir, que sejam lidas as condutas 
tipificadas na Lei nº 7.716/89, que, quando não relacionadas diretamente ao 
impedimento de acesso a locais diversos (como os arts. 3º, 4º, 5º, 6º, entre outros), são 
relativas a atos que visam a produzir o mesmo efeito (como o art. 20, § 1º). 
 
Na injúria, de forma absolutamente diversa, a intenção é a ofensa moral, que, mesmo 
tendo como meio o abjeto preconceito de raça ou de cor, de nenhuma forma se 
equipara à conduta anterior. 
Ainda que neste caso se possa identificar, como menciona o acórdão, segregação, aqui 
o termo não tem, como no racismo, sentido literal. É evidente que se alguém profere 
uma ofensa utilizando elementos relativos a raça ou cor o faz convencido de que essa 
condição faz da vítima alguém menor, desigual, o que, de fato, evidencia um caráter 
segregativo. 
 
Não obstante, mesmo que na origem possamos identificar no racista e no injuriador 
racial a convicção de que há cidadãos que, por sua raça ou cor, devem ser discriminados 
(segregados), as formas como ambos exteriorizam essa convicção são legalmente 
tipificadas de formas completamente distintas, e não compete ao Poder Judiciário 
igualar duas situações que o legislador, ao menos até o momento, pretendeu 
claramente diferenciar. 
 
Há quem argumente no sentido de que o constituinte, ao se referir ao racismo como 
delito imprescritível, buscou abranger a injúria preconceito. 
Contudo, devemos alertar que a injuria preconceituosa foi acrescentada ao CP pela Lei 
nº 9.459/97. A figura criminosa não existia na promulgação da Constituição Federal. 
 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
Por fim, àqueles que discordam desta conclusão, pergunta-se: se a injúria qualificada 
pelo preconceito é imprescritível, como pode depender de representação da vítima, cuja 
inércia acarreta a decadência? 
 
 
• STF e a (in)constitucionalidade da revista íntima de preso 
 
Revista íntima: Trata-se, em síntese, de inspeção reservada em pessoas (notadamente 
familiares) que visitam os habitantes prisionais. Dessa revista não escapa ninguém, 
mulheres e homens, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultos ou idosos. Todos são 
inspecionados! 
 
Mas em que consiste tal revista (íntima)? Por que é tão criticada? 
De acordo com a praxe, os visitantes inspecionados são obrigados a se despir por 
completo e agachar três vezes sobre um espelho, abrir com as mãos o ânus e a vagina, 
contraindo os músculos para que servidores do estabelecimento penal possam verificar 
se estão carregando instrumentos ilegais (drogas, material bélicos, acessórios para 
celulares etc.) ou qualquer outro objeto proibido para dentro do presídio. 
 
É praticamente unânime a opinião dos estudiosos no sentido de que a revista íntima 
contraria não apenas a Constituição Federal, mas também Convenções Internacionais 
(em especial, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos). 
 
Temos corrente lecionando que submeter familiares do preso ao sistema de inspeção 
vexatória e humilhante é, de certa forma, fazer com que a pena do preso, mesmo que 
indiretamente, passe para terceiros, violando o art. 5º, XLV, da CF. 
 
Vale lembrar que a Argentina, por exemplo, já foi condenada pela Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos por ter submetido mulheres e crianças a 
procedimento similar. Trata-se de um caso envolvendo a Sra. X e sua filha Y, de 13 anos, 
que foram submetidas a “revistas vaginais”. 
 
A questão é objeto do Tema 998 de repercussão geral, pendente de julgamento, no qual 
o Ministro Edson Fachin reconheceu “controvérsia relativa à ilicitude da prova obtida a 
partir de revista íntima de visitante em estabelecimento prisional, por ofensa ao 
princípio da dignidade da pessoa humana e à proteção ao direito à intimidade, à honra 
e à imagem” (ARE 959.620 RG, j. 01/06/2019). Em seu voto, em 28.10.2020, o Ministro 
propôs a seguinte tese: 
"É inadmissível a prática vexatória da revista íntima em visitas sociais nos 
estabelecimentos de segregação compulsória, vedados sob qualquer forma ou modo 
o desnudamento de visitantes e a abominável inspeção de suas cavidades corporais, 
*Material elaborado por Beatriz Araujo com base nas aulas e material do curso gratuito do RSCOnline 
ministrado pelo professor Rogério Sanches 
e a prova a partir dela obtida é ilícita, não cabendo como escusa a ausência de 
equipamentos eletrônicos e radioscópicos". 
 
Mas seria possível, então, evitar a revista íntima? Quais mecanismos poderiam ser 
utilizados em substituição? 
 
Alguns estados já adotam a “revista íntima humanizada”. Funciona da seguinte maneira: 
logo ao chegar à unidade, a visitante faz um cadastro, onde os agentes identificam se 
essa pessoa está apta ou não a fazer a visita. A aptidão é avaliada levando-se em 
consideração características do apenado (comportamento, incidentes por atos de 
indisciplina, desacatos, ameaças, brigas internas etc.). Realizado esse procedimento 
preliminar,

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