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ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA (APS) DE ANÁLISES TOXICOLÓGICAS E AMBIENTAIS 
ATIVIDADE 1: O aluno deverá ler os textos propostos, discutir em grupos de até 4 pessoas, responder as questões e postar as respostas no fórum de discussão, na data solicitada. 
Texto introdutório: A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais da metade de todos os medicamentos é prescrita ou dispensada de forma inadequada, além do fato de metade dos pacientes não usar esses produtos corretamente. Com o crescimento da indústria farmacêutica e, consequentemente, da disponibilidade de medicamentos, a sociedade passa a ter maior acesso a tratamentos, no entanto, o acesso indiscriminado a medicamentos, induz o paciente a se expor a produtos não adequados para a sua situação patológica e/ou fisiológica ou em quantidades excessivas, situação capaz de ocasionar uma intoxicação medicamentosa. 
ATIVIDADE 2: Responder as questões. 
1. Quais são as principais causas de intoxicação por medicamentos? 
As principais causas de intoxicação por medicamentos foram as acidentais (38,8%) e as tentativas de suicídio (36,5%), enquanto as causas relacionadas ao uso terapêutico representaram 17,7% dos casos. As classes de medicamentos mais presentes em todas as causas foram os analgésicos e anestésicos. 
2. Escolha um dos princípios ativos da tabela 3 do artigo e descreva sua utilização clínica e seu DL50. 
Princípio ativo escolhido: Diazepam. 
O Diazepam pertence ao grupo dos benzodiazepínicos. Sua utilização clínica é destinada ao tratamento de transtornos de ansiedade, espasmos musculares, crises convulsivas, crises epiléticas e sedação, necessitando assim de um diagnóstico e uma indicação médica. 
DL50 do Diazepam: 
· DL50 (oral) em ratos: 1200mg/kg 
· DL50 (oral) em cães: 1000mg/kg 
· DL50 (oral) em camundongos: 700mg/kg 
3. No Brasil, os medicamentos são vendidos em quantidades superiores as recomendadas para o tratamento. Na sua opinião, esta situação pode colaborar para a ocorrência de intoxicação, acidental ou não, de crianças e adolescentes? Justifique. 
Sim, pois uma porcentagem significativa da nossa população não possui conhecimento suficiente sobre dose segura e, em grande parte dos casos, não procuram ler a bula que acompanha o medicamento para obter mais informações sobre o mesmo, ainda que o Brasil tenha um controle melhor da venda de medicamentos sem prescrição (realizado pela ANVISA) se comparado a outros países. 
4. Defina: 
a) Substância tóxica: é a substância capaz de provocar danos à saúde humana ou até a morte se for ingerida, inalada ou por contato com a pele, independentemente da quantidade. 
b) Xenobiótico: é o composto químico estranho ao organismo humano, podendo ser de origem humana (através da atividade industrial) ou de origem natural (através de vegetais e fungos). 
c) Medicamento: produto farmacêutico tecnicamente obtido ou elaborado com finalidade diagnóstica, profilática, curativa ou paliativa, sendo produzido com rigoroso controle para atender às especificações determinadas pela ANVISA. 
5. Por que um medicamento pode ser tóxico ao organismo? 
Medicamentos são substâncias químicas que têm o poder de interferir e alterar várias funções do organismo humano, gerando resultados benéficos e maléficos. Os fatores que determinam a toxicidade de um medicamento são a dose e o grau de exposição. A quantidade de medicamento administrada em uma única dose, por exemplo, pode causar intoxicação, danificando determinados órgãos, alterando sistemas enzimáticos ou processos bioquímicos e até causando a morte do paciente. Além disso, interações medicamentosas (medicamento-medicamento, medicamento-alimento) e fatores de risco do indivíduo também são pontos que devem ser considerados, uma vez que, devido a eles, pode haver intoxicação também. 
ATIVIDADE 3: Estudos de Caso 1 e 2 – Em grupo, estudar o caso e responder as questões. Postar no Fórum de discussão. 
Estudo de caso 1: C. A., feminino, 18 anos, estudante, solteira, nascida em Bristol (sudoeste da Inglaterra). Foi encontrada pela equipe de resgate desmaiada em cima de um banco de praça e transportada imediatamente para um pronto socorro, sendo necessário uso de ventilação artificial. Ao lado da paciente encontrava-se um pacote plástico com alguns comprimidos, identificados como benzodiazepínicos e também uma pistolinha de brinquedo contendo vestígios de vodka. O estado constatado era de anestesia, hálito alcoólico, incapacidade de coordenação dos movimentos musculares voluntários e insuficiência respiratória grave. 
Questões Norteadoras – Estudo de Caso 1 
1. As sintomatologias associadas aos dados da cena permitem suspeitar de intoxicação etanoica associada ao uso de benzodiazepínicos? Inclua na sua resposta o mecanismo de ação central do álcool e dos benzodiazepínicos. 
Os benzodiazepínicos agem seletivamente nos receptores GABAA, e num sítio alostérico ao do ácido gama - aminobutírico (GABA). Essa ação facilita a abertura desse canal ao aumentar a frequência de abertura do mesmo, o que leva ao influxo de cloreto e, consequentemente, à hiperpolarização neuronal. De maneira semelhante, o etanol também age deprimindo o SNC, ao agir sobre os receptores GABA A e potencializar a ação do ácido gama – aminobutírico. Entretanto, o etanol atua em um sítio diferente e seu efeito é menor (RANG et al., 2011). 
Benzodiazepínicos são considerados seguros quando usados sozinhos. Entretanto, tornam-se bastante perigosos quando utilizados com outros depressores do SNC, como o etanol. Um dado bastante relevante deste trabalho foi o fato de 76% dos usuários de benzodiazepínicos relataram consumir etanol durante o tratamento. O desfecho dessa interação tornase perigosa uma vez que as substâncias possuem ações farmacológicas similares e, nesse caso, o efeito depressor e/ou sedativo dos benzodiazepínicos é potencializado pelo etanol. Os riscos desse tipo de intoxicação vão desde a diminuição da coordenação muscular, fraqueza, fala arrastada, até casos de perda da consciência, depressão respiratória grave, coma e morte, causadas pela intensificação do efeito depressor (RANG et al., 2011; GARCIA et al., 2008). 
2. A administração de lavagem gástrica foi realizada no caso, porém sem sucesso na reversão do caso. Por que isto ocorreu? 
Porque a lavagem gástrica funciona com até 2h ou 4h da administração do medicamento. Passado esse tempo já ocorreu a absorção, distribuição, metabolização e interação do fármaco com o sistema biológico. 
3. Flumazenil foi administrado e a insuficiência respiratória é revertida. 
Explique o mecanismo de ação deste antídoto. 
O Flumazenil, um derivado da imidazo-benzodiazepina, é um antagonista benzodiazepínico que bloqueia especificamente, por inibição competitiva, os efeitos centrais das substâncias que agem via receptores benzodiazepínicos. Em estudos em animais de laboratório, os efeitos de compostos que apresentam afinidade para os receptores de benzodiazepínicos foram bloqueados. Em voluntários sadios, flumazenil administrado por via endovenosa antagonizou a sedação, amnésia e alterações psicomotoras produzidas pelos agonistas benzodiazepínicos. 
Estudo de caso 2: R.C.L. 34 anos, é preso por suspeita de furto, seguido de morte. A suspeita é de crime facilitado por drogas. O indivíduo foi encontrado 4 dias após o relato de latrocínio, em pronto-socorro apresentando pressão de 168X95 mmHg, FC 180 bpm, pupilas em midríase, temperatura em 39⁰C, rigidez muscular. Paciente em quadro eufórico, agitado, delirante e com tremores. No pronto-socorro o paciente entre em convulsões. A convulsão é controlada com diazepam 0,2 mg/Kg iv. Apresentava malformações nasais e resíduo de pó branco nas fossas nasais. As suspeitas são de intoxicação por: cocaína e crack, uma amostra de urina e cabelo são coletadas. 
 
Figura 1 - Cromatograma branco contaminado com 10ng/mg de cocaína, benzoilecgonina e cocaetileno analisada por cromatografia gasosa e espectrofotômetro de massa. 
 
 
 
Figura 2 - Cromatograma do caso sobreposto ao branco 10ng/mg de cocaína, benzoilecgoninae cocaetileno analisada por cromatografia gasosa e espectrofotômetro de massa. 
 
Benzoilecgonina urinário: negativo 
 
Questões Norteadoras – Estudo de Caso 2 
1. Porque se deve fazer a descontaminação da matriz de cabelo como prétratamento? 
A descontaminação da amostra que antecede a análise assume particular atenção devido a dois fatores. Em primeiro lugar, dado que a presença de resíduos de produtos de tratamento do cabelo (como ceras e shampoos), sujidade depositada no cabelo, sebo e suor (que podem veicular o xenobiótico), contribuem para um aumento das interferências e afeta a exequibilidade do resultado analítico. Segundo, devido á deposição de xenobióticos no cabelo resultante da exposição ambiental que se encontram absorvidas por ligações fracas á superfície do cabelo, podendo deste modo ser removido através da lavagem das amostras (Pragst e Balikova, 2006). Na análise de não existe, atualmente, consenso e uniformidade nos procedimentos de descontaminação para amostras de cabelo em análises toxicológicas. A SoHT recomenda que o processo de lavagem inclua uma lavagem inicial com solvente orgânico de modo a remover os compostos contaminantes insolúveis em água, uma segunda água ou solução tampão que permite a turgescência do cabelo e difusão dos compostos contaminantes para a solução de lavagem e, por último, uma lavagem com solvente orgânico. Amostras que tenham entrado em contato com fluidos corporais implicam nos procedimentos adicionais de lavagem (Cooper et al., 2012). 
2. Porque se deve realizar a digestão das fibras do cabelo com uréia e tiooglicolato antes de realizar a extração metanoica? 
Numa análise toxicológica em amostras de cabelo, a quantidade de amostra disponível bem como a concentração de xenobióticos e metabolitos existentes no cabelo é muito reduzida. Desta forma, as amostras devem ser submetidas a um pré-tratamento através de soluções adequadas para um determinado grupo de compostos, permitindo, deste modo, concentrar os compostos incorporados após a libertação dos memos da matriz do cabelo (Kintz, 1996). 
O pré-tratamento da amostra pode ser realizado através da incubação do cabelo em determinadas soluções sem que estas o danifiquem, ou através da digestão da matriz do cabelo (Cooper, 2011). O tratamento com ureia e tioglicolato, bem como o uso de fluidos supercíiticos, encontram-se igualmente mencionados na literatura (Pragst e Balikova, 2006). 
3. O paciente tem confirmado a intoxicação por cocaína e seus metabólitos benzoilecgonina e cocaetileno? 
Sim, pois analisando as figuras 1 e 2, podemos perceber os seguintes valores: Cocaína 0,5ng/mg, Benzoilecgonina 0,5ng/mg e Cocaetileno 0,5ng/mg, ou seja, se 1 ng = 0,001mcg, então 50000ng = 50mcg. 
4. Por que o resultado na urina deu negativo? 
Porque tais metabólitos só são detectáveis na urina de 1 a 4 dias. 
 
 
 
 
 
	Para entender melhor o caso: 
O sangue não é uma matriz de escolha de preferência na toxicologia forense devido a sua curta janela de detecção, além de ser invasivo e exigir o preparo da amostra. Apesar da saliva e da urina serem matrizes que não requerem nenhuma preparação de extração e enriquecimento da amostra, são matrizes de fácil adulteração com uma janela de detecção de poucos dias, entre dois a quatro dias. Assim, deve ser realizada a coleta de cabelo para determinação da presença de drogas de abuso em HLPC. De fácil coleta, de fácil confirmação para um re-teste e de difícil adulteração. O cabelo incorpora bioativos por longo tempo de exposição, indicando se tratar de um possível usuário crônico da droga. Inicialmente a amostra de cabelo sobre um pré-tratamento de descontaminação com solvente combinada com lavagem com água e sabão seguido de digestão da fibra do cabelo com uréia e tioglicolato, que rompe as pontes dissulfeto da estrutura capilar. Posteriormente passar pelo processo de extração com solventes, normalmente metanol acidificado em sonicação. O extrato metanoico é submetido ao HPLC. A toxicologia para validação do método analítico se utiliza de valores cut-off. Valores abaixo dos cut-off são considerados não detectáveis, acima positivos. 
Sugestão de valores cut-off 
Cocaina 0,5 ng/mg 
Benzoilecgonina 0,05 ng/mg 
Cocaetileno 0,05 ng/mg

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