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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE BIOFÍSICA E BIOQUÍMICA DOCENTES: MÁRCIA BARBOSA DA SILVA; SIMONE GARCIA MACAMBIRA; CLARISSA DE SAMPAIO SCHITINE DISCENTES: ALINE CARVALHO SILVA (P02) - MATRÍCULA: 217221089 ANNE CAROLIN HONÓRIO DE OLIVEIRA (P3) - MATRÍCULA: 218117372 THIAGO FONSECA GEANIZELLE FIGUEIREDO (P3) - MATRÍCULA 218117434 CURSO: BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM SAÚDE (TODOS) Atividade – Enigmas da Bioeletrogênese 1) As propriedades de permeabilidade iônica da membrana dependem das interações dos íons com a água, com a bicamada lipídica da membrana e com canais iônicos. Explique esta afirmativa e exemplifique. Células são sempre envolvidas por membranas que fazem a separação entre o meio intracelular e extracelular. Sua estrutura se trata de uma bicamada lipídica, constituída principalmente por fosfolipídios, sendo que essa bicamada atua como uma barreira moderadamente impermeável à maioria das moléculas hidrossolúveis. Ainda, existem proteínas que estão inseridas na bicamada fosfolipídica. A propriedade de barreira contra as moléculas hidrossolúveis é devido a função estrutural química dos lipídios: se trata de uma molécula com uma extremidade apolar e uma polar, onde existirão grupamentos carregados que irão conferir a peculiaridade que faz com que esses lipídios da membrana sejam anfipáticos. Por causa dessa estrutura, quando colocados em contato com a água, os lipídios acabam formando estruturas em bicamadas que fazem com que as caudas hidrofóbicas se voltem para o interior, enquanto a porção hidrofílica se expõe à água, fazendo com que as cadeias de hidrocarboneto interajam menos com a água (ALBERTS et al., 2017). Com relação às proteínas inseridas na bicamada fosfolipídica, é válido ressaltar que seu modo de associação pode ocorrer de diversas formas, classificando-as em periféricas ou integrais (transmembrana). São essas proteínas transmembranas que são controladoras da permeabilidade seletiva à diversos íons, como K+, Cl-, Ca++, Na+, entre outros íons. Essa estruturação permite que a célula concentre íons diferentes entre os meios intracelular e extracelular, graças ao transporte ativo através da membrana e à permeabilidade seletiva, aspectos essenciais no que diz respeito ao início do movimento de íons e transmissão de sinais elétricos (ALBERTS et al., 2017). As proteínas integrais de membrana são estruturas especializadas que formam os canais iônicos e permitem a passagem de íons. Esses canais apresentam propriedades comuns, que são: condutância; reconhecimento e seleção específica para íons e abertura e fechamento dos canais em decorrência da resposta a estímulos elétricos, químicos ou mecânicos (os canais gated). Entretanto, existem canais que não dependem de estímulo (nongated), importantes para gênese e manutenção do potencial de repouso da célula (ALBERTS et al., 2017). Em suma, as moléculas polares e com carga têm mais dificuldade em atravessar a membrana, interagindo com facilidade com sua face externa onde as cabeças carregadas negativas estão, possuindo dificuldade em atravessar o interior hidrofóbico. As moléculas de água, por exemplo, não atravessam rapidamente - mas em taxas lentas, por causa de seu tamanho e ausência de carga. Ademais, por vezes, mesmo quando íons possuem tamanhos adequados para serem transportados através da membrana, eles ainda sofrem influência por sua carga, como é o caso do sódio, potássio, cloreto e cálcio que não são capazes de atravessar a membrana por difusão simples, sendo transportado por meio de seus canais com afinidade específica. No caso de moléculas polares carregadas e de tamanhos maiores, como os aminoácidos, também há necessidade de utilização de proteínas para sua passagem eficiente através da membrana (ALBERTS et al., 2017). 2) Para que um estímulo cause a transição de um estado conformacional para outro, deve-se fornecer energia. Especificamente, no caso dos canais dependentes de voltagem, a energia é suprida pela movimentação de uma região carregada da proteína do canal, o sensor de voltagem, através do campo elétrico da membrana. Explique esta afirmativa e exemplifique. A membrana plasmática de todas as células apresentam excitabilidade, que será responsável pela geração de potenciais de ação, podendo modificar a permeabilidade iônica da célula, à medida em que um estímulo altera o potencial elétrico. Isso acaba ocasionando uma despolarização da membrana plasmática que gera uma alteração no potencial para um valor menos negativo em seu interior. Em células nervosas e musculoesqueléticas, um estímulo que cause despolarização ocasionará a abertura de canais de Na+ a favor do seu gradiente químico, tornando o potencial de ação dependente dos canais de sódio, portanto sendo caracterizados como controlados ou dependentes de voltagem (ALBERTS et al., 2017). Como mencionado anteriormente, o canal de sódio é ativado pela despolarização da membrana, permitindo a entrada de sódio e com isso ocorre a propagação do impulso nervoso. Esse canal é considerado uma glicoproteína, presente em axônios, células musculares dentre outras, sendo importante para determinar a especialização funcional de muitos tipos de células, como neurônios sensoriais e células cardíacas, principalmente em processos fisiológicos, como dor, inflamação e contratilidade. Foi também o primeiro canal desse tipo a ser clonado e seu estudo favoreceu ainda mais o desenvolvimento da técnica de patch-clamp, que permite a medida do potencial elétrico de canais isolados. É uma proteína seletiva aos canais de sódio, sendo compostas por uma subunidade alfa associada a 4 subunidades beta, com presença de quatro domínios transmembranares homólogos (canais de sódio e cálcio) ou quatro subunidades homólogas (canais de potássio) (ARAÚJO et al, 2008). Ainda segundo Araújo et al (2009), os canais de sódio devem ter surgido a partir da mutação de canais de cálcio que, por sua vez, evoluíram por duplicação da informação gênica dos canais de potássio. Desse modo, os canais de potássio e cálcio possuem similaridade com os de sódio. Com relação especificamente ao canais de potássio dependentes de voltagem, são canais iônicos que apresentam semelhanças, principalmente na região que compreende o poro condutor, diferenciando apenas na sequências de aminoácidos que lhes conferem velocidades diferentes, presentes em quantidades suficientes nas células excitáveis, podem facilitar a repolarização, desempenhando papéis fundamentais na regulação da excitabilidade celular, em que determina o tempo e a forma de potenciais de ação, com impactos sobre as atividades dos neurônios, e regulando a liberação de neurotransmissores (BASSETTO, 2016). Diante disso, pode-se constatar que esses canais- proteína, estão envolvidos nas características biofísicas de células excitáveis, em que podem determinar propriedades como velocidade de condução, o potencial de ação e o influxo de íons. 3) Os canais dependentes de transmissores (ativados por ligantes) e os dependentes de voltagem assumem estados refratários através de mecanismos diferentes. Os canais dependentes de transmissores através do mecanismo de dessensibilização e os canais dependentes de voltagem através do mecanismo de inativação. Explique esta afirmativa e exemplifique. A propagação de um estímulo pela abertura de múltiplos e sucessivos canais iônicos através da membrana é muito eficiente, então, o período refratário faz com que o estímulo não volte e não reative antes do tempo, sem necessidade, em trechos da membrana que já foram percorridos (ATTIAS; SILVA, 2010) Os canais ativados por ligantes possuem receptores que são responsáveis pela mediação direta e rápida da sinalização sináptica entre células excitáveis eletricamente. Esses canais são assim chamados devido a sua abertura e fechamento, que são controlados pela ligação de um neurotransmissor. Esse é um mecanismo que pode ser comparado ao que ocorre com os canaisresponsáveis pelo potencial de ação, que abrem e fecham em resposta a alterações ocorridas no potencial da membrana. Os canais controlados por ligantes, ainda, permanecem abertos independentemente do potencial de membrana, permitindo fluxos de corrente exceto quando em voltagens específicas, o potencial de inversão (KOEPPEN; STANTON, 2009). Normalmente os canais iônicos permanecem abertos por milissegundos. Entretanto, nos canais de ligantes, a ligação se desfaz rapidamente e esse canal passa ao seu estado refratário, onde não se abre mesmo com a presença de um estímulo específico (ATTIAS; SILVA, 2010). Exemplos de canais ativados por ligantes são os receptores AMPA e cainato: quando o glutamato se liga ao receptor, há abertura do canal e permissão do fluxo de corrente que gera um potencial pós-sináptico excitatório (KOEPPEN; STANTON, 2009). Os canais dependentes de voltagem utilizam do mecanismo chamado de inativação para permitir o período refratário e consequentemente um retorno ao potencial de repouso da célula. Dessa forma, esse período ocorre como uma resposta a despolarização da membrana ocasionada pela abertura desses canais, inativando eles até que a repolarização da membrana atinja um potencial próximo ao de repouso (KOEPPEN; STANTON, 2009). Assim, inativados os canais não poderão desencadear um novo potencial de ação independente do estímulo que for dado. Um exemplo desse mecanismo são os canais de Na+ dependentes de voltagem que após sua ativação pelos estímulos que desencadeiam a despolarização, consequentemente o potencial de ação, eles são inativados permitindo a repolarização da célula, com o auxílio dos canais de K+ dependentes de voltagem que são abertos, e só podem ser ativados novamente quando a célula está próxima ou no potencial de repouso (ALBERTS et al., 2017). Com isso, o período necessário para que os canais de sódio se recuperem dessa inativação até poderem participar de um novo potencial de ação é denominado de período refratário. 4) As resistências da membrana e do axoplasma afetam a eficiência da condução do sinal. Explique esta afirmativa e exemplifique. Segundo Costa (2009), a condução do sinal na membrana plasmática, é afetada de acordo com a quantidade de canais iônicos abertos na membrana, ou seja, de acordo com o diâmetro da membrana, uma vez que essa resistência, que seria o inverso da condutância, será diretamente proporcional à densidade de canais e a área da membrana. Com relação ao sistema nervoso, a parte central do citoplasma de um dendrito oferece uma resistência significativa ao fluxo longitudinal da corrente, já que sua secção transversal é relativamente pequena e os íons que fluem ao longo do dendrito se colidem com outras moléculas. Quanto maior for essa parte central citoplasmática, maior será a resistência, além do diâmetro do axônio influenciar diretamente na velocidade dos impulsos nervosos. Para que essa resistência possa ser amenizada, a propagação rápida do potencial de ação será decisiva através de dois mecanismos diferentes, contribuindo para o aumento da velocidade do sinal: aumento do diâmetro do axônio e mielinização do axônio. Nesse contexto, axônios de maior calibre têm o menor limiar para a corrente extracelular, ou seja, maior o diâmetro do axônio, menor será a resistência longitudinal para o fluxo longitudinal da corrente e maior será a velocidade de propagação, em consequência do maior número de transportadores de cargas (íons) por unidade de comprimento do axônio (KANDEL; SCHWARTZ; JESSEL, 2003). Entretanto, a questão do espaço para a capacidade do sistema nervoso é bastante limitada, um pequeno aumento do diâmetro dos axônios seria algo ineficiente para produzir altas velocidades de condução de impulsos em vertebrados de grande porte. (COSTA, 2009). Desse modo, para a resolução dessa questão, a evolução da bainha de mielina formada pela justaposição de numerosas camadas de membrana das células de Schwann ou oligodendrócitos, também irá influenciar na velocidade, de modo que sua estrutura funciona como um isolante, e como consequência o impulso não se propaga nessa área e sim “saltando”, propagando-se somente nos nódulos de Ranvier (MENDES; MELO, 2011). Ainda de acordo com COSTA (2009), essa condução é denominada de condução saltatória e como consequência aumenta a resistência e diminui a capacitância através da membrana axonal, como a maior parte da corrente elétrica flui ao longo de vias de menor resistência elétrica, o aumento da resistência transversal da membrana direciona maior quantidade de corrente ao longo do axoplasma. 5) Dois mecanismos distintos estão associados ao aumento da velocidade de propagação do potencial de ação. O primeiro é o aumento do diâmetro do axônio e o segundo é a mielinização do axônio. Explique estes dois mecanismos. Qual a consequência de doenças desmielinizantes como síndrome de Guillain-Barré e esclerose múltipla sobre a velocidade de condução do potencial de ação? Explique A velocidade de propagação do impulso nervoso é dependente da estrutura da célula. O primeiro mecanismo refere-se ao diâmetro do axônio que é inversamente proporcional à resistência imposta ao fluxo de íons dentro dele. A velocidade de condução é proporcional à raiz quadrada do diâmetro dos axônios, havendo uma redução na resistência de condução e aumentando assim a velocidade com que o potencial de ação será conduzido na célula (KOEPPEN; STANTON, 2009). A segunda estrutura é considerada uma evolução humana para alcançar maior velocidade nas ações provocadas pelo potencial de ação. Os axônios mielinizados são aqueles que possuem uma estrutura conhecida como bainha de mielina, estas apresentam interrupções que são denominadas como Nódulos de Ranvier. Assim, há uma redução da capacitância da membrana, restringindo a geração de potencial de ação a esses nódulos, que são ricos em canais de sódio (KOEPPEN; STANTON, 2009; ALBERTS et al., 2017). Esse impulso é conduzido através de “conduções saltatórias" que fazem com que o caminho realizado de um nódulo a outro, assim tendo um dispêndio de energia metabólica menor. Dessa forma, a propagação do potencial de ação pode ser de até 50 vezes mais veloz do que em células não mielinizadas (IBRAHIM, 2008). Nas doenças desmielinizantes ocorre uma deterioração da bainha de mielina. Um exemplo delas é a esclerose múltipla, onde o sistema imunológico destrói as bainhas em alguns pontos do sistema nervoso central. Outro exemplo é a Síndrome de Guillain Barré, é uma doença autoimune e desencadeia uma desmielinização dos nervos motores e sensitivos através de uma inflamação aguda deles. Essas perdas resultam em uma redução da constante de comprimento (gerada pela mielinização) e consequentemente uma redução da amplitude do potencial de ação durante a propagação entre um nódulo de ranvier para outro (ALBERTS et al., 2017). Daí, esse potencial pode chegar no próximo módulo sem força suficiente para desencadear o potencial de ação e consequentemente torna o axônio incapaz de propagar os potenciais de ação (KOEPPEN; STANTON, 2009), fazendo com que a propagação seja considerada retardada, falha ou ausente, podendo gerar complicações neurológicas graves. REFERÊNCIAS: ALBERTS, B., et al. Biologia Molecular da Célula. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed. 1464p. ARAÚJO, R.D., et al. Anestésicos locais: interação com membranas biológicas e com o canal de sódio voltagem-dependente. Química Nova, vol.31, no.7. São Paulo, 2008. ATTIAS, M., & SILVA, N. (2010). Biologia Celular I. 4ª Edição ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ. BASSETTO, Z.A.C. Estudo da atividade bloqueadora de N-alquilsulfonamidas em canais iônicos, com ênfase em canais para potássio.Tese (Doutorado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, 2016. COSTA, G.C. Mecanismos neurais de controle da força muscular. Monografia de Especialização - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federalde Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009. KANDEL, E.R; SCHWARTZ, J. H; JESSELL, T. M. Princípios da neurociência. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2003. KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. (2009). Berne y Levy. Fisiología+ StudentConsult. Elsevier Health Sciences. MENDES, B,P.; MELO,R,S. Origem e Desenvolvimento da Mielina no Sistema Nervoso Central- Um Estudo de Revisão. Revista Saúde e Pesquisa, v. 4, n. 1, p. 93-99, jan./abr. 2011 - ISSN 1983-1870.
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