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Sérgio D orenski Nathalia D ória Ellber Albuquerque Organizadores PEDAGOGIA DOS ESPORTES cOncEITOS, POSSIbIlIDADES E ExPERIêncIAS PEDAGóGIcAS Florianópolis, 2019 PEDAGOGIA DOS ESPORTES: conceitos, possibilidades e experiências pedagógicas 1ª Edição – 2019 © Copyright by Sérgio Dorenski, Nathalia Dória, Ellber Albuquerque Projeto gráfico, diagramação e capa: Rita Motta EDITORA TRIBO DA ILHA Rod. Virgílio Várzea, 1991 – S. Grande Florianópolis-SC – CEP 88032-001 Fones: (48) 3238 1262 / 9-9122-3860 editoratribodailha@gmail.com www.editoratribo.blogspot.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É proibida a reprodução parcial ou integral desta obra, por quaisquer meios de difusão, inclusive pela internet, sem prévia autorização dos organizadores. Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 P371 Pedagogia dos esportes: conceitos, possibilidades e experiências pedagógicas Sérgio Dorenski, Nathalia Dória, Ellber Albuquerque, organizadores. – Florianópolis: Observatório da Mídia Esportiva: Tribo da Ilha, 2019. 184p., fotos. Inclui referências ISBN: 978-65-80478-06-4 1. Educação física – Estudo e ensino (Superior) – Sergipe. 2. Esportes – História e crítica. 3. Formação profissional. 4. Prática de ensino. I. Ribeiro, Sérgio Dorenski Dantas. II. Dória, Nathalia. III. Albuquerque, Ellber. CDU: 796 PREFÁcIO O Esporte na atualidade tem sido tema de muitos “encontros” seja no lazer, na família, na criação de identidades, mobilizando di- versos povos, sendo objeto de estudo e também, de interesses ideo- lógicos de Estado entre outros, mas, percebemos incisivamente a sua forma hegemônica a partir dos meios de comunicação que ampliam esta dimensão ao fetichizá-lo em seu aspecto espetáculo numa forma peculiar de mercadoria. Com isso, urge a necessidade de que o esporte seja tema cons- tante no âmbito acadêmico, nos cursos de formação, principalmente na Educação Física, pois, por ser um bem historicamente fruto da cria- ção humana deva ser compreendido, tensionado, criticado e praticado de forma lúdica e prazerosa, principalmente no âmbito escolar. As experiências apontadas nesta obra evidenciam esta “Ação” em tornar o esporte um conteúdo temático que proporcione um olhar crítico para as dimensões de poder que estão por trás deste “fe- nômeno”, mas, também, os autores apontam experiências e análises críticas da prática docente que é um aspecto necessário na produção do conhecimento e na elaboração de propostas pedagógicas para o ensino do esporte. Nesse sentido, o Centro de Desenvolvimento de Pesquisa em Politicas de Esporte e Lazer do Estado de Sergipe – CDPPEL/SE, da REDE CEDES, ligado à Secretaria Especial do Esporte, que tem entre seus objetivos fomentar estudos e pesquisas para o desenvolvimento do esporte e lazer, vem apoiar essa valiosa obra que será sem dúvida importante para o debate nessa área. Aracaju, 07 de junho de 2019 Prof. Dr. Ailton Fernando Santana de Oliveira Coordenador do CDPPEL/SE UMA APRESEnTAÇÃO InTRODUTóRIA Esta obra, antes de tudo, é o resultado de um trabalho co- letivo. De um trabalho indissociável entre professor, alunos e o ambiente escolar, assim constitui-se em um estimulante desafio no campo acadêmico em que as relações com ensino, pesquisa e extensão estiveram imbricadas no processo de formação no qual fomos todos contagiados. Colocamos em pauta o Esporte. Significa dizer que seu aspec- to multifacetado foi exposto e posto à tona desde sua historicização – deixamos claro que trabalhamos com a ideia do esporte ser uma cria- ção moderna, ou seja, o esporte moderno – suas características, sua institucionalização, a aproximação com a mídia, a espetacularização e mercadorização, até as suas possibilidades pedagógicas de ensino. As Disciplinas Pedagogia dos Esportes I e II são ofertadas no 4º e 5º períodos, respectivamente, do curso de Licenciatura em Educação Física, do Departamento de Educação Física (DEF), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e tem como metas: propor- cionar aos acadêmicos uma visão “possível” do esporte no âmbi- to escolar; estabelecer uma relação entre o conhecimento (UFS) e prática (escolar); conhecer a realidade escolar; diferenciar o espor- te enquanto instituição e o “educacional”; construir/elaborar uma experiência acadêmica (Trabalho Científico) a partir da realidade escolar; interagir com as diversas possibilidades (abordagens didáti- co-pedagógicas) do ensino do esporte na escola; refletir/agir sobre/ com compromisso profissional, ético e moral na formação/atuação docente entre outros. Neste sentido, principalmente, de 2014 até o prezado momen- to, tencionamos este período cronológico em que houve uma exacer- bação do esporte por conta dos Megaeventos esportivos que aconte- ceram no Brasil, especialmente a Copa do Mundo de Futebol – que para os brasileiros representa um momento único do esporte – e as Olimpíadas, que representam, no cenário mundial, o maior even- to esportivo em que transitam não só as performance dos atletas, a plasticidade e estética dos movimentos, mas, sobretudo, os aspectos políticos, econômicos e sociais que estes eventos trazem em seu “ras- tro luminoso”. Dizemos isso, pois o fetiche provocado por eles atinge de modo instantâneo e violento o ambiente escolar o que implica na formação de opiniões, gostos, desejos, etc., e que, a partir dos meios de comunicação, isto é multiplicado em maior dimensão. A Disciplina em seu percurso transita por estabelecer uma crítica a estes aspectos do Esporte Moderno, mas também, em outra medida, tenta construir uma proposta pedagógica para o esporte, uma vez que a crítica ao modelo espetáculo do esporte, afastou a Educação Física de propostas (pedagógicas) compromissadas com a formação humana. O desafio, portanto, foi estabelecer a crítica, pensar na construção do conhecimento no âmbito acadêmico e ela- borar uma proposta pedagógica para formação humana conhecendo e vivenciando a realidade escolar. Assim, encontraremos no Capítulo 1 as bases conceituais que deram suporte para a reflexão crítica e para as intervenções no âm- bito pedagógico. Aqui, os autores elaboraram uma síntese dos prin- cipais conceitos que subsidiaram a formulação de uma proposta pe- dagógica para o esporte. No Capítulo 2 os autores procuram entender as diferenças ba- silares entre o esporte no aspecto mais de rendimento, com ênfase no treinamento desportivo e o esporte no aspecto mais pedagógico voltado para o ambiente escolar. Tomaram como objeto de análise a equipe de Basquetebol da UFS preparando-se para o Jogos Universi- tários Brasileiros e a perspectiva de ensino da Disciplina Pedagogia do Basquetebol do DEF/UFS. Os Capítulos 3, 4 e 5 são experiências, a partir da construção de uma proposta pedagógica para o esporte, tendo como objeto central o ensino do Basquetebol e o Voleibol no âmbito escolar. Aqui, o importante foi, sem perder o sentido da modalidade em si, adaptar-se à realidade escolar. Os Capítulos 6 e 7 apresentam uma síntese da experiência com o Futebol e o Handebol. O primeiro como fenômeno nacional e que possui uma representatividade no contexto brasileiro inigualável à outras modalidades esportivas, mas que aqui, foi redimensionado para realidade escolar adaptando-se ao espaço físico, ao número de alunos, material, ou seja, as condições físicas da realidade escolar. O mesmo acontece com o Handebol numa perspectiva pedagógicano espaço escolar. Trazendo possibilidades de ensino do Esporte na Educação Física em que a Escola foi palco principal. No Capítulo 8, a título de síntese da obra, traçamos algumas reflexões sobre o Badminton e o Futsal, pois, assim como o Judô e o Tênis essas modalidades esportivas não são eleitas como objetos de es- tudos pelos alunos em todos os períodos. Portanto, elas também, pro- puseram a reflexão crítica e se constituíram em momentos formativos. Boa leitura! Aracaju/SE, Junho de 2019. Sérgio Dorenski Nathalia Dória Ellber Albuquerque (Organizadores) SUMÁRIO ESPORTE: ASPEcTOS cOncEITUAIS, HISTóRIA, cRÍTIcAS E cOnSTRUÇÃO PEDAGóGIcA 9 Sérgio Dorenski Nathalia Dória Oliveira Ellber Rodrigo Santos Albuquerque Mateus Henrique S. Santos Janisson Santos Luís Henrique Calazans dos Santos Rodrigo de Souza Santos O bASQUETEbOl nA UFS: do alto rendimento à possibilidade pedagógica 84 Mateus Henrique Silva Santos Enéas Soares Neto Manoel Messias Xavier dos Santos O bASQUETEbOl cOMO POSSIbIlIDADE PEDAGóGIcA nO EnSInO DA EDUcAÇÃO FÍSIcA nA EScOlA 104 Ellber Rodrigo Santos Albuquerque VOlEIbOl nAS AUlAS DE EDUcAÇÃO FÍSIcA EScOlAR 115 Airra de Oliveira Santos Alexandre Oliveira Nascimento Santos Gardilene Cardoso de Jesus UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O EnSInO DO VOlEIbOl nA EScOlA 128 Nathalia Dória Oliveira Hudson Leonardo Cordeiro de Moura Monike Rayane Silveira de Menezes FUTEbOl nO cOnTExTO EScOlAR: UMA ExPERIêncIA FORMATIVA 143 Karine dos Anjos Santos Luis Henrique Calazans dos Santos Hericles da Rosa Matos Wendell Santos Matos PEDAGOGIA DOS ESPORTES: UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O HAnDEbOl 165 Rodrigo de Souza Santos Sérgio Dorenski FEcHAnDO OS POnTOS: Uma síntese das construções pedagógicas 175 Sérgio Dorenski SObRE OS AUTORES 183 • 9 ESPORTE: ASPEcTOS cOncEITUAIS, HISTóRIA, cRÍTIcAS E cOnSTRUÇÃO PEDAGóGIcA Sérgio Dorenski Nathalia Dória Oliveira Ellber Rodrigo Santos Albuquerque Mateus Henrique S. Santos Janisson Santos Luís Henrique Calazans dos Santos Rodrigo de Souza Santos Neste capítulo apontamos o caminho conceitual no tocante ao entendimento do esporte na modernidade, bem como, a construção de uma proposta pedagógica para o ensino de uma modalidade es- portiva em que a Disciplina Pedagogia dos Esportes esteve imersa. Para tanto, estabelecemos um corte temporal naquilo que se confi- gurou enquanto Esporte Moderno (BRACHT, 1997) e assim discuti- mos: sua origem; seu caráter instituição e sua expansão pelo mundo; seu processo de espetacularização e mercadorização (SILVA, 1991) e também, suas críticas e apropriações (PIRES, 1998). Além desta perspectiva, traçamos um caminho de sua possibilidade de ensino, principalmente no âmbito escolar (PIRES e SILVEIRA, 2007), assim não apenas condená-lo, mas procurando estabelecer laços em que o processo formativo estivesse em pauta. Para construção de uma proposta pedagógica para o esporte, a princípio, enveredamos por uma discussão acerca do que vem a ser um Projeto Político Pedagógico (PPP) a partir de autores como (LIBÂNEO, 1994; SAVIANI, 1996, 1997; GADOTTI, 1979; LUC- KESI, 2001 entre outros) e algumas matrizes teóricas do ensino da 10 • pedagogia dos esportes Educação Física – Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992) e Crítico-Emancipatória (KUNZ, 1994) – que subsidiaram as propostas de ensino. Por fim, elaboramos uma síntese das modalidades esportivas desenvolvidas no âmbito da Disciplina (Basquetebol, Voleibol, Fute- bol, Handebol e Futsal) no tocante à sua história, seus fundamentos e suas regras básicas. A cRIAÇÃO MODERnA DO ESPORTE: Alguns Apontamentos! No âmbito da Disciplina Pedagogia dos Esportes, do Curso de Educação Física (Licenciatura), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) iniciamos nosso debate sobre o esporte instigando os alunos a pensarem, a princípio, em seu caráter instituição. Assim, fomos levados a discutir aspectos críticos e reflexivos que têm ligação direta com o cotidiano das pessoas e as consequências explícitas e implíci- tas que refletem na sociedade e no contexto escolar. Tomamos como base das discussões a obra “Sociologia Crítica do Esporte: Uma intro- dução” do Professor Valter Bracht e dialogamos com outros autores estabelecendo uma Roda de Conversa entre si. Para Bracht (1997) o esporte originou-se no seéculo XVIII, na cultura europeia (especialmente na Inglaterra) e depois expandiu para o resto do mundo. De forma sintética, pode-se dizer que ele possuía caráter competitivo e que foi resultado da evolução e mo- dificação dos jogos populares da época. Ou seja, os jogos estavam perdendo sua função primária, de celebração, influenciado pela transformação social provocada pelo processo de industrialização e urbanização o qual estava ocorrendo, implicando em mudanças ati- tudinais e de atribuição de significados. A partir do processo de urbanização e industrialização os chamados jogos populares foram tendo outras perspectivas mais atraentes condizentes com as características da sociedade capitalis- ta e passaram a assumir as características: competição, rendimento físico-técnico, record, racionalização e cientificização do treinamen- to. Portanto, o esporte moderno “desenvolve-se a partir do sécu- lo XVIII em estrita relação com o desenvolvimento da sociedade esporte • 11 capitalista inglesa esta, por sua vez, desenvolve-se enquanto forma específica do que mais genericamente denomina-se sociedade mo- derna” (BRACHT, 1997, p. 95). Neste sentido, o desenvolvimento e expansão do esporte acon- teceu tendo como pano de fundo o processo de modernização dos séculos XIX e XX, processo que compreende industrialização, urba- nização, tecnologia dos meios de transporte e comunicação, aumen- to do tempo livre, surgimento dos sistemas nacionais de ensino, etc. Esses aspectos, por sua vez, estão inseridos no processo mais amplo de secularização e racionalização que caracterizam a sociedade mo- derna, tornando-se uma prática de diversão das classes dominantes no seu tempo livre (Op. Cit.,). A partir deste processo de modernização surgem também, na Inglaterra, os clubes e federações que irão promover vários tipos de competições em nível nacional e regional, com isso, o esporte passa a ter caráter comercial e a partir dos eventos esportivos surge o pro- fissionalismo. O interesse comum pela prática do esporte cria entre as classes o chamado associacionismo que por sua vez dará origens aos clubes e federações (PIRES, 1998). Segundo Oliveira (2001) existem duas advertências básicas para explicar o esporte moderno, na qual não se deve considerá-lo como resultado de um processo linear de desenvolvimento, tampou- co como uma instituição completamente autônoma. O esporte moderno, aquele que hoje conhecemos, é normal- mente tratado na historiografia tradicional da área como o re- sultado de um processo linear de desenvolvimento. Quando se fala na história do futebol, para citar um exemplo, é comum fazer-se referência ao “guioco dei cálcio” na Itália do século XVI [...] e ao kemari, um jogo japonês com bola, originário da China por volta de 2600 a. C. (BRACHT, 2005, p. 95). Portanto, é muito comum ver o esporte ser abordado, na his- toriografia da Educação Física, como produto de um processo linear de desenvolvimento, ou seja, ver-se o esporte como uma evolução natural das práticas corporais antigas, que aos poucos foi se trans- formando até atingir o patamar que temos hoje. Podemos visualizar isso, quando analisamos o futebol, os jogos gregos, em especial, os 12 • pedagogia dos esportes que eram praticados na antiguidade. Esses teoricamente teriam apre- sentado uma continuidade originando-se dessa forma o que classi- ficamos hoje como esporte. Além disso, esta linearidade pautava-se em características que se perpetuariam com o tempo. Em outras pa- lavras, naqueles jogos já podiam ser percebidos traços elementares que definiriam uma identificação com o esporte. Como podemos observar essas identidades? Bracht (1997,p. 92) aponta para a “movimentação de uma bola com os pés e, as mãos; a existência de campos específicos de jogo; um confronto entre dois ou mais grupos sendo decidido através do esfor- ço físico-corporal”. As características vistas acima, não são suficientes para definir que as práticas corporais antigas teriam evoluído e se tor- nado esporte. Isso porque, para que tal fato ocorra, faz-se necessário uma organização econômica, social e urbana que possibilite a existên- cia de uma prática esportiva. Além, é claro da necessidade de se ter tempo livre para essa prática. Outro fato que em si é insuficiente para caracterizar o esporte como uma evolução das práticas antigas é o fato do homem ter a condição ao jogo. Por este prisma o esporte é uma materialização dos jogos, este, apresenta-se como “comportamento básico/elementares e universal do homem” (idem p. 92). A esta com- preensão acerca da origem do esporte, possivelmente seja confronta- da, por uma não linearidade/descontinuidade, podendo também ser considerado uma ruptura. Este fato, não é uma completa negação da continuidade, e sim, que há traços centrais novos. Neste sentido, compartilhamos com Bracht (1997) também a ideia de que o esporte é filho da modernidade. Isso quer dizer que, o sentido que a sociedade tradicional dava ao jogo é distinto do que se dá ao esporte na modernidade. No contexto da sociedade tradi- cional antiga, o jogo tinha como objetivo a celebração aos deuses, no caso da Grécia, uma forma de homenageá-los. O jogo e a religião apresentavam uma estreita ligação. Isto na modernidade é rompido, o esporte é secular, ou seja, a ligação não existe, ou não é tão acen- tuada, o sentido que orienta o esporte difere dos jogos antigos. Nes- tes, seus praticantes não objetivavam a quebra de uma marca, não careciam de ser quantificados, ser burocrático, não carecia também de que seus praticantes apresentassem papéis especializados e uma cientifização de seus movimentos. esporte • 13 O Professor Valter Bracht, exemplificou essa relação, anali- sando a pelota dos Mayas, que a princípio se fosse considerada suas formas de movimento, esta prática se assemelharia ao Voleibol e ao Basquete. Entretanto, se analisarmos o sentido do jogo, notaríamos que pouco se assemelham com estas modalidades esportivas. A pelo- ta, assim como os demais jogos antigos, estava ligada profundamente à religião. Sendo esta, a instituição que gerava na sociedade antiga os sentidos e significados. Ou seja, Fazendo parte de um ritual que culminava com sacrifício humano, próprio dos rituais de fecundidade/fertilidade, de manutenção e preservação da vida, como demonstra o fato de que após o jogo um participante era sacrificado, sendo seu coração pulsante perfurado para que jorrasse sangue (WIES, 1979, p. 103 apud BRACHT, 1997, p. 93). A pelota, portanto, apresentava um caráter sagrado, diferente do caráter competitivo que se tem no esporte moderno. Portanto, para as sociedades antigas as práticas corporais estavam vinculadas às instituições religiosas e militares, funcionando sob o prisma des- sas. Na sociedade moderna, o esporte surge de maneira independen- te das instituições, “este processo, é claro, se dá em íntima relação com o advento da própria sociedade moderna” (BRACHT, 1997, p. 94). Agora, a lógica que impulsionava as práticas corporais não mais está relacionada a estas instituições, ela transitou para o próprio esporte tornando-se com isso uma instituição. O desenvolvimento do esporte a partir do século XVIII, esteve entrelaçado à evolução da sociedade capitalista inglesa (BRACHT, 1997). Isso porque foi na Inglaterra que o modelo industrial de pro- dução surgiu e com o passar do tempo foi se desenvolvendo. Foi também na Inglaterra que o esporte veio se organizando, precipua- mente, como consequência de práticas da esfera do entretenimento das camadas sociais como a nobreza e a meritocracia em desenvol- vimento, no seu tempo de lazer, bem como as atividades da classe mais popular. Percebe-se que ao passar dos anos, cada vez mais, as regras das atividades esportivas foram sendo normatizadas e unificadas pelas 14 • pedagogia dos esportes entidades que as dirigiam. Além dos “cavalheiros” (gentlemen1), que introduziram essas atividades esportivas em suas realidades, em seus clubes, regrados, e sem a presença das apostas, regidas pelo tão co- nhecido fair-play. Dessa forma, o sportman, veio a se tornar equiva- lente do ser gentlemen. A partir disso, no começo do século XIX “os filhos destes gentlemen ocupavam parte de seu tempo livre nas esco- las públicas com a prática do remo, críquete, corridas, e “futebol” que depois foram estendidas às universidades” (BRACHT, 1997, p. 96). Aqui vai se configurando um aspecto crucial para a evolução do es- porte, ou seja, origem dos clubes, que possibilitavam a continuidade da vida esportiva aos que queriam, mesmo depois de ter completa- do a vida estudantil, na escola e na universidade. O crescimento e a ampliação do esporte, ocorreu tendo como esboço o sistema “de modernização dos séculos XIX e XX, progresso que compreende: in- dustrialização, urbanização, tecnologização dos meios de transporte e comunicação, aumento do tempo livre, surgimento dos sistemas de ensino” (Op. Cit.,). O caráter instituição do esporte vai sendo consolidado, pois, os clubes começaram a se organizar formando, com isso, as primei- ras federações, promovendo assim, os primeiros torneios, campeo- natos em nível de região e entre nações. É nessa configuração que surge também um conflito social havendo uma distinção entre ama- dorismo, atividade realizada sem interesse e o profissional geralmen- te praticado pela burguesia e aristocracia reforçando a criação das ligas amadoras e ligas profissionais. O surgimento de novas modali- dades esportivas vai se expandindo o que materializa o processo de esportivização. Não demorou muito para que essas práticas fossem exploradas comercialmente, originando com isso, o profissionalismo (BRACHT, 1997). Atrelado também à sua descontinuidade histórica, Bracht (1997) apresenta dois esquemas para abordar e diferenciar o esporte: esporte de alto rendimento ou espetáculo e esporte enquanto ativi- dade de lazer. O esporte de alto rendimento ou espetáculo possui um 1 Na literatura encontramos alguns significados ao termo como Cavalheiro, De- licado, Pessoa Fina, Homem Gentil e Educado, uma pessoa com Honra e digna entre outros esporte • 15 núcleo de formação de atletas, bem como a contribuição do Estado para a busca por esses atletas, geralmente possuem atletas seleciona- dos e uma massa consumidora na qual investe nesse esporte-espe- táculo. Pode-se perceber também que o esporte de alto rendimento tende a assumir características de mercadoria, sendo cada vez mais necessário a profissionalização dos envolvidos e uma ciência atuante. Numa outra perspectiva, mas, sem perder de vista o esporte de alto rendimento, Bracht (1997) aponta para o esporte como ativida- de de lazer ainda que se manifesta a propiciação da socialização para o consumo do esporte e com isso, encontramos os locais e aparelhos da prática de alto rendimento para a realização de outros esportes. Assim, dissociar o esporte de alto rendimento ou espetáculo para o esporte de lazer constitui-se numa tarefa difícil, pois, em suma o primeiro circunscreve-se no mundo do trabalho suas ações sendo pautadas pela vitória ou derrota, a maximização do rendimento e a racionalização dos meios. Enquanto o segundo circunscrevem-se no mundo do não trabalho e é pautado pelo lazer, questões de saúde e a sociabilidade, estando presente em toda mídia, principalmente, esta lógica perpassa, enquanto fetiche, para o restante da sociedade. Como explica Pires (1998), o esporte passou a ser um produto que precisou ser comercializado e adaptado para os meios de comunica- ção em massa. Como vimos, o esporte trouxe a marca da sociedade capita- lista, que a criou com as característicasexpostas por Bracht (2005) como secularização, igualdade de oportunidades (meritocracia), es- petacularização de papéis, organização burocrática, quantificação (e busca do recorde) é percebido enquanto instituição, principalmente, nos dias de hoje, arraigado ao meios de comunicação. Pires (1998) explica que o esporte consolidado como um ele- mento da cultura e economia globalizadas sendo hoje organizado para ser difundido prioritariamente pelos meios de comunicação eletrônica. Nesse sentindo, o esporte mercadorizado precisou ainda espetacularizar-se, ou seja, adotar a linguagem visual da televisão, de modo que a mensagem publicitária veiculada por seu intermédio seja sempre e cada vez mais contundente com o público consumidor. A Televisão (TV), por sua vez, mesmo com o avanço da inter- net, tornou-o um de seus produtos principais. Betti (2002) explica 16 • pedagogia dos esportes que a rigor não existe um esporte na mídia e sim, um esporte da mídia, já que a mídia não enfoca questões como cooperação, auto- conhecimento e sociabilização, com isso, o binômio vitória-derrota, recompensa extrínseca e questões de violência. O esporte da mídia é na maioria das vezes controlado por quem tem interesses naquele meio, é justamente por isso que a televisão é considerada como a mídia mais importante e relevante, já que ela tem o maior poder de propagação de informações, atingindo de uma maneira mais fácil a população. Betti (1998) expõe que de fato, o esporte não teria alcan- çado a importância política, econômica e cultural de que desfruta hoje se não fosse sua associação com a televisão, associação esta, que criou uma “realidade textual autônoma”: o esporte telespetáculo. Betti (2002) divide as características do esporte da mídia em cinco, sendo elas: a ênfase na falação esportiva – conta histórias de partidas, cria expectativas, faz previsões, promete vitórias ou gols, cria polêmicas e constrói rivalidades, critica os envolvidos no “espe- táculo”, elege ídolos e dramatiza; a monocultura esportiva – refere-se basicamente ao futebol, já que no Brasil é uma tendência e as empre- sas enxergam esta modalidade com uma ótima relação custo-bene- fício; a sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo – ocorre quando a mídia nos transmite algo diferente do que realmente está acontecendo, buscando atingir a emoção do torcedor e não a razão. Assim, a TV faz do telespectador uma vítima de ilusão e que exis- tem diferenças absurdas entre assistir um jogo no estádio e um jogo na TV; superficialidade – retrata o esporte de uma forma breve e descontínua, prejudicando principalmente aquelas pessoas que não possuem um letramento e acabam por acreditar em tudo que leem e assistem (superficialidade); A prevalência dos interesses econômicos – acontece quando o interesse da mídia em lucros e visibilidade se coloca acima dos interesses dos telespectadores que têm de “engolir” aquilo que a TV acha que eles querem. Neste cenário, Pires (1998) explica que a espetacularização adota a linguagem visual da televisão de modo que a mensagem pu- blicitária seja cada vez mais contundente, pois só assim serão man- tidos e ampliados os níveis de lucro. Para tanto, mudanças acontece- ram para tornar-se mais adequado ao veículo da mídia e atraente ao mercado consumidor mediado pela indústria midiática. Como por esporte • 17 exemplo: mudanças de regras relacionadas ao tempo para aumentar o dinamismo da disputa; paradas técnicas para que possam ser vei- culadas mensagens comerciais dos patrocinadores; convívio de siste- mas esportivos paralelos às federações e às confederações, para pos- sibilitar o maior número de espetáculos oferecidos e garantir-lhes mais qualidade técnica, etc. O consumidor (espectador), por sua vez, tem não só o seu gosto manipulado pela influência do mercado, mas também sua própria capacidade perceptiva alterada [...]. A imagem que um espectador tem das arquibancadas é global e subme- tida a sua própria vontade. Já a do telespectador é parcial e dependente de outros. A subdivisão das imagens, imposta pela própria técnica de reprodução do espetáculo, é um com- ponente fundamental que independe da vontade do telespec- tador e foge da sua capacidade de alterar a situação, refor- çando a passividade que se expande gradativamente (SILVA, 1991 apud PIRES, 1998, p. 33). A cultura esportiva baseada na capacidade de venda deixa de ser manifestação cultural e passa a ser mercadoria com valor de troca para se manter eficaz como veículo de divulgação comercial o espor- te experimenta a espetacularização. Ao longo da história vimos o quanto o esporte atendeu aos interesses dominantes sendo apropriado para fins específicos. O Professor Giovani Pires classifica em Processos de Apropriação Social do Fenômeno Esporte que são: funcionalização, sociabiliza- ção, ideologização, mercadorização e espetacularização do esporte (PIRES, 1998). O processo de Funcionalização é a busca do esporte pela efi- cácia e produtividade, principal objetivo é a performance. O esporte nesse processo assemelha a uma empresa em que existe uma hierar- quia na qual cada um tem função, buscando sempre o aperfeiçoa- mento dos gestos, maximização do rendimento, minimização dos gastos, o homem reificado. É a utilização do esporte como estratégia para a busca de eficácia e produtividade no trabalho. Vinnai apud Pires (1998, p. 27) “afirma que a lógica do aparato de produção do modo capitalista funda-se em categorias que podem ser aprendidas 18 • pedagogia dos esportes e treinadas no esporte: maximização do rendimento, minimização dos gastos, adequação do homem à função (coisificação) etc”. Nesse sentido, o atleta/trabalhador precisa atender a estas exigências fun- cionais alienando-se ao mundo do trabalho produtivo no sentido capitalista. Sociabilização, neste processo de apropriação o esporte é usa- do como instrumento manipulador para manutenção do status das classes em suas determinadas posições, sem permitir a transição ver- tical de uma classe para outra, ocorrendo a manutenção da ordem capitalista. Assim, a sociabilização através do esporte se dá: [...] pelas regras das competições, o esporte imprime no comportamento as normas desejadas da competição e da concorrência [...]; as condições do esporte organizado ou de rendimento são simultaneamente as condições de uma socie- dade de estruturação autoritária [...]; o ensino dos esportes nas escolas enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras, e dá a estas um caráter estático e inquestionável, o que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim ao acomo- damento, [...] forja um ‘conformista feliz e eficiente’; o apren- der as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas (BRACHT apud PIRES, 1998, p. 29). Os valores enraizados são os valores dominantes, a socializa- ção reproduz, principalmente, as desigualdades sociais. Nesta pers- pectiva que criticamos o esporte sem com isso, querer o seu fim, mas sim, a sua reformulação e pedagogização nas Escolas. No processo de Ideologização o esporte é utilizado como meio de divulgação das ideologias propagando o modelo liberal e capitalista, esse processo tem uma íntima ligação com o da sociabi- lização do esporte, servindo muitas vezes para o controle da massa. Há a utilização do esporte como veículo de propaganda ideológica e marketing político. Por exemplo, uma medalha olímpica significa- va a consolidação de um determinado regime seja ele democrático ou ditatorial, exemplo típico das Olimpíadas de Berlim (1936) em que Hitler queria mostrar para o mundo a soberania da raça ariana, como também, durante o período de “Guerra Fria” entre Rússia e Estados Unidos, respectivamente, às Olimpíadas de Moscou e Los esporte • 19 Angeles em que o esporte estava a serviço dos interesses políticos- -ideológicos e, em evidência os sistemas comunista e capitalista (PI- RES, 1998). A Mercadorização do esporte é sua transformação em merca- doria (espetáculo),aqui percebemos que se perdeu um pouco da ideia política de fortalecimento de um determinado sistema e focalizou na mercadoria enquanto bem maior a ser explorado e direcionado para o consumo. Funcionando assim, as empresas criam uma necessida- de para o consumo dos produtos esportivos ampliando o mercado, isto é, não só o jogo em si, mas, os gestos, os produtos gerados pelo esporte, os ídolos esportivos, ou seja, tudo vira mercadoria. Um exemplo explícito trata-se do Basquetebol em que as con- tribuições da Professora Ana Márcia Silva em sua Dissertação (Espor- te Espetáculo: A Mercadorização do Movimento Corporal Humano) apontaram as modificações que o esporte passou “seus objetivos e ca- racterísticas ao longo do tempo, consolidando-se desde sua criação, como fruto da sociedade industrial moderna” (SILVA, 1991, p. 5). Com isso, a mercadorização vai se configurando na transfor- mação (através do movimento corporal humano) do esporte em um produto (mercadoria) a ser consumido. Silva (1991) aponta para o uso das ciências e da tecnologia, em especial, as ciências aplicadas que têm por função usar o conhecimento para a resolução de pro- blemas e também, de forma determinante, para os meios de comu- nicação de massa. Enfim, o propósito e intencionalidade daquilo que entendemos como instituição é “materializar o esporte e assim, alte- rar suas características básicas para melhor atingir sua forma de es- petáculo”, alterando suas regras, seus gestos técnicos, suas táticas de ataque e defesa e sua forma de treinamento, com isso, vai garantindo um público consumidor (SILVA 1991, p. 5). Por fim, o processo de Espetacularização está ligado direta- mente ao de mercadorização do esporte. Como uma mercadoria o esporte precisou de um meio para espetacularização, algo que contri- buísse com uma nova linguagem visual, dando início a uma grande parceria entre a mídia e o esporte e que, por meio dessa, foi possível alcançar ampliação nos níveis dos lucros. A mídia ainda alterou a es- trutura do esporte para atrair o mercado consumidor, entre algumas mudanças estão: alteração de regras, tempo, paradas estratégicas entre outros. É notório que esses processos de apropriação do esporte 20 • pedagogia dos esportes mantêm uma relação de dependência entre si. Então, não é possível desassociar um dos outros ou apenas analisar o esporte em um único processo, a funcionalização está ligada ao processo de sociabilização e ambos têm como objetivos manter a hierarquia que por sua vez estão ligados à ideologização transmitindo ideais que perpassa por um viés de mercadoria que se converte em sua forma de espetáculo. Mesmo com esta prevalência do mundo da mercadoria e da espetacularização, acreditamos que o ser humano, ao entender o es- porte com estas características, esteja apto, exatamente, para reverter este processo. O esporte é o que se faz dele. Ele pode ser um instru- mento tanto de transformação como também, ser objeto de interesse políticos, ideológicos e econômicos. Por isso, temos que expandir seu entendimento e não reduzi-lo a formas de movimento pré-estabelecidas, baseado em regras e com- petição, que o classifica em categorias e exige aptidão à prática espor- tiva. Pode ser entendido em todas as suas dimensões, principalmente como meio educativo pode contribuir para o crescimento das pes- soas como seres autônomos, criativos e com valores éticos. cOnSTRUInDO UMA PROPOSTA POlÍTIcO PEDAGóGIcA PARA O ESPORTE Após a apropriação crítica do esporte perpassando por uma discussão sociológica, passamos para uma segunda etapa, a elabora- ção de propostas pedagógicas para o esporte, conhecendo a realida- de escolar a qual iremos intervir. Nesta fase o primeiro pressuposto é discutir, construir, conhecer o que é e o que vem a ser um Projeto Político Pedagógico (PPP). Assim, para desenvolver o conhecimento e experiênciá-lo, re- quer sistematização, organização, e ter claro o que irá ser transmitido. Neste sentido, o papel do professor é inquestionável, pois, é ele quem ligará este conhecimento aos alunos, tornando-o mais acessível nos vários níveis de ensino que compõe o sistema educacional, seja do in- fantil ao superior, e suas respectivas especializações. Com isso posto, apresentaremos uma discussão, que foi basilar à Disciplina Pedagogia dos Esportes e que traz elementos constitutivos do planejamento esco- lar, dos objetivos, dos conteúdos, do método e da avaliação, tomando esporte • 21 como base a obra “Didática” de José Carlos Libâneo (1994), dialogan- do também com outros autores.Tendo em mente que a prática educa- tiva é o meio pelo qual o conhecimento desenvolve o indivíduo e que o contato deste com o conhecimento historicamente acumulado irá capacitá-lo para atender as determinações sociais, “a prática educacio- nal se orienta, necessariamente, para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e sistemática” (LIBÂNEO, 1994, p. 120). Ao pensarmos uma sociedade crítica que saiba se posicionar frente aos acontecimentos políticos, sociais, a prática educativa da na- ção, caminhará para esta intenção. [...] os objetivos antecipam resultados e processos esperado do trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados de acordo com as exigências metodológicas (ní- vel de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de ensino e características do processo de ensino e aprendi- zagem) (LIBÂNEO, 1994, p. 119). Da mesma forma, se quiséssemos uma sociedade técnica, no que se refere a produção industrial, a prática educacional será exercida para atingir o objetivo proposto ou (pelo menos se espe- ra) tornando o indivíduo apto, qualificado para “as lutas sociais de transformação da sociedade”. Assim não podemos pensar a prática educacional afastada de um objetivo, pois, toda prática educacional direciona o indivíduo para uma finalidade. Faz-se necessário, portanto, o entendimento de que a educação é um fenômeno social que ocorre independente do espaço escolar. Ela acontece nas relações pessoais, espaços sociais, na família, ciclos de amizade e diálogos, porém o seu objetivo no espaço não-formal resulta na aprendizagem de uma forma assistemática. Já a educação escolar é um processo que acontece em uma instituição específica, com caráter sistêmico, organizada através do trabalho pedagógico e de maneira intencional onde é esboçado qual tipo de sujeito que- remos formar e o seu horizonte de atuação social (FREITAS, 1995). Segundo Freitas (1995), a organização do trabalho pedagógico é uma ação desenvolvida por todos que fazem à escola, no processo 22 • pedagogia dos esportes de escolarização. Neste sentido, devemos ter como objetivo de estu- do a interpenetração de métodos e conteúdos de diversas discipli- nas para trabalhar em conjunto e assim, possibilitar uma construção qualitativa do saber. Toda prática educacional atua no desenvolvimento individual e social dos indivíduos, na medida em que proporciona os meios necessários para a apropriação de conhecimentos e experiências acumuladas pelas gerações. Porém, o neoliberalismo impõe uma di- visão de classe, demarcando assim que a escola capitalista não é para todos. É uma escola de classe que tem duas funções principais na sociedade: qualificação necessária ao funcionamento da economia e a elaboração de métodos para um controle político. Assim, a escola traduz as desigualdades econômicas em desigualdades educacionais (FREITAS, 1995). Para o Coletivo de Autores (1992), o currículo escolar é vin- culado a um projeto político-pedagógico, pois a escola é entendi- da como parte constituinte das condições da existência humana. As pedagogias surgem da crise originada do conflito entre interesses antagônicos e diferentes entre as classes e são entendidas como dis- ciplinas capazes de suprir a complexidade, globalidade, o conflito e especificidade da educação. Para Libâneo (1994) existem trêscaracterísticas presente nos objetivos: valores e ideias proclamados na legislação educacional; os conteúdos básicos da ciência; as necessidades e expectativas de formação cultural exigidos pela população majoritária da socieda- de. Assim, na primeira característica observamos que toda política educacional anuncia valores e ideais para a sociedade, tendo claro, o ser humano que se quer formar. Na segunda, refere-se aos conteú- dos básicos da ciência, que foram produzidos historicamente, o qual constituirá o ser humano que se quer formar. Por fim, os objetivos devem contemplar a formação cultural do indivíduo. ObJETIVO GERAl: primeiros passos Ao pensarmos a organização do trabalho pedagógico de ime- diato pensamos em objetivos. Os objetivos e a avaliação são categorias esporte • 23 que se opõem na sua unidade. Com isso, os objetivos são o ponto de partida e a avaliação incorpora os objetivos, apontando uma direção, pois são elementos chaves para a transformação daquela realidade social, já que a partir deles é que serão definidos os conteúdos/méto- dos que se encaixam melhor no interior da realidade escolar. Dessa forma, a prática educacional é orientada com o intuito de alcançar determinados objetivos, por meios de ações intencionais sistemati- zadas (FREITAS, 1995). Reforçando este pensamento Libâneo (1994, p. 122) expli- ca que “os objetivos são o ponto de partida, as premissas gerais do processo pedagógico”. Esses objetivos revelam e refletem a posição política e pedagógica do agente educativo, sendo vinculados pelo sis- tema escolar, pela escola e pelo professor, do mais amplo ao mais es- pecífico. Assim, a Escola “estabelece princípios e diretrizes de orien- tação do trabalho escolar com base num plano pedagógico-didático que represente o consenso do corpo docente em relação à filosofia da educação e à pratica escolar” (Op. Cit., p. 123). Concatenado com o objetivo do professor que concretiza em suas aulas a visão de educa- ção e sociedade que se almeja. O objetivo não é o ponto final, ele é o início do processo de ensi- no. Por essa ótica “representam as exigências da sociedade em relação à escola, ao ensino, ao aluno e, ao mesmo tempo, refletem as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos em face das contradi- ções sociais existentes na sociedade” (LIBÂNEO, 1994, p. 122). Libâneo (1994) define seis objetivos-base para planejar o ob- jetivo geral, são eles: 1 – colocar a educação escolar no conjunto de lutas pela democratização da sociedade, instrumentalizando os alu- nos das condições materiais, sociais, políticas e culturais para tornar sujeitos ativos da sociedade; 2 – garantir a todas as crianças sem dis- criminação de classe social, cor, religião ou sexo o desenvolvimen- to de suas capacidades físicas, mentais e espirituais; 3 – assegurar a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de suas poten- cialidades; 4 – formar nos alunos a capacidade crítica e criativa no ensino apreendido através de métodos de raciocínio, de investigação e de reflexão; 5 – atender as funções educativas de ensino, ou seja, a formação de convicções para a vida coletiva; 6 – todas as pessoas que direta ou indiretamente se envolvem com a escola, como pais, 24 • pedagogia dos esportes diretor, funcionários, professores, devem ter propósitos em comum para desenvolver o trabalho pedagógico escolar. Por fim, segundo Veiga (2007) o objetivo geral é aquele objeti- vo previsto para um determinado grau ou ciclo, uma escola ou uma certa área de estudo e que serão alcançados em longo prazo. Diferen- ciado a partir do contexto e necessidades de cada lugar, planejando assim o objetivo mais amplo para ser alcançado na escola ou projeto. ObJETIVOS ESPEcIFÍcOS: destrinchando o Objetivo Geral Os objetivos específicos particularizam a relação escola/so- ciedade, de maneira destacada, qual a função da matéria de ensino. Além disso, eles mostram, pois, o que o professor espera que os alu- nos aprendam durante o processo de ensino, apresentando caracte- rísticas pedagógicas, pois, “explicitam o rumo a ser imprimido ao trabalho escolar, em torno de um programa de formação” (LIBÂ- NEO, 1994, p. 126). Os objetivos específicos devem estar atrelados ao geral, sem deixar de lado a realidade escolar, dos alunos e da matéria. Neles também devem estar claros os conhecimentos, habilidades, e capacidades, tidas como fundamentais para assimilação dos alunos que possam ser aplicadas na vida prática, observamos uma sequência lógica, em que os conceitos e habilidades estejam inter-relacionadas. Os objetivos devem ser expressos de maneira clara, “dosar o grau de dificuldades” de modo que expressem desafios, problemas e questões estimulantes e viáveis (LIBÂNEO, 1994). Estes devem ser projetados com metas a serem alcançadas e que sejam alcançáveis. Para se cumprir os objetivos gerais é preciso delimitar metas mais específicas dentro do trabalho, pois, são elas que, somadas, conduzi- rão ao desfecho do objetivo geral. Com isso, “particularizam a com- preensão das relações entre a escola e sociedade e especialmente do papel da matéria de ensino. Eles expressam, pois, as expectativas do professor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do proces- so de ensino” (LIBÂNEO, 1994, p. 126). Segundo Veiga (2007) o objetivo específico é aquele defini- do especificamente para uma disciplina, uma unidade de ensino ou uma aula, consiste no desdobramento e operacionalização dos esporte • 25 objetivos gerais. O objetivo específico é, às vezes, também chama- do de comportamental ou instrucional, porque ele é formulado de modo a indicar os comportamentos observáveis no aluno. Portanto, Libâneo (1994) aponta algumas recomendações ne- cessárias para elaborar os objetivos específicos, são elas: especificar os conhecimentos, habilidades, capacidades que sejam fundamen- tais para serem assimiladas e aplicadas em situações na escola e na vida; observar uma sequência lógica, de forma que os conceitos e habilidades estejam inter-relacionados; expressar os objetivos com clareza, de modo que seja compreensivo para os alunos, para que os mesmos contribuam com novos objetivos; formular os objetivos, sempre que possível, com os resultados a atingir, facilitando o pro- cesso de avaliação diagnóstica e de controle; e, como norma geral, indicar os resultados do trabalho dos alunos. OS cOnTEÚDOS: escolha social e política O ensino é a atividade peculiar da escola, que tem a aprendi- zagem ocupando o lugar central. Nesse sentido, “se perguntarmos a professores de nossas escolas o que são os conteúdos de ensino, provavelmente responderão: são os conhecimentos de cada matéria do currículo que transmitimos aos alunos; dar conteúdo é transmi- tir a matéria do livro didático” (LIBÂNEO, 1994, p. 127). De certo modo, esse entendimento não é totalmente equivocado, pelo fato de que o ensino se pauta em três elementos: a matéria, o professor e o aluno. Os professores compreendem essa ordem de maneira linear, sem perceber o feedback oriundo do movimento dessas três catego- rias, um movimento dinâmico, que não obedece uma linearidade. Entendemos o conteúdo como “o conjunto de conhecimentos, ha- bilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagogicamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua vida prática” (LIBÂNEO, 1994, p. 128). Assim, os conteúdos retratam a experiência social da huma- nidade no que se refere a conhecimentos e modos de ação, trans- formando-se em instrumentos pelos quais os alunos assimilam, compreendem e enfrentam as experiências da vida. Os diferentes 26 • pedagogia dos esportes conteúdos são organizados em matérias de ensino e dinamizados pela articulação objetivos-conteúdos-métodos e formas de organi- zação do ensino, nas condições reais em que ocorre o processo de ensino (Op. Cit.,). Outro aspecto importante é que a escolha dos conteúdos parta de princípios que revelem intrínsecarelação entre o conhecimento e prática social. “Os conhecimentos e modos de ação surgem da práti- ca social e histórica dos homens e vão sendo sistematizados e trans- formados em objetos de conhecimento, assimilados e reelaborados, são assim instrumentos de ação para atuação na prática do social e histórica” (Op. Cit., p. 130). Assim, segundo Haidt (2001) conteúdo é tudo aquilo que é passível de integrar um programa educativo com vistas à formação das novas gerações. Um conteúdo pode referir-se a conhecimentos, atitudes, hábitos, etc. Conforme Libâneo (1994) os conteúdos se compõem de quatro elementos: conhecimentos sistematizados, são a base da instrução e do ensino; habilidades, são qualidades intelec- tuais necessárias para a atividade mental no processo de assimila- ção de conhecimentos; atitudes e convicções, referem-se ao modo de agir, de sentir e de se posicionar frente as tarefas da vida social; capacidades cognitivas que correspondem aos processos psíquicos da atividade mental. O MÉTODO: caminho para formação Para construção de uma proposta pedagógica para o ensino, o entendimento e apropriação do método é fator determinante e es- sencial. Nesse sentido, o método constitui-se como caminho de aná- lises críticas, perspectivas e sobretudo, de formação em que alunos, professores estão imersos de modo indissociáveis. Com isso, ao re- fletirmos sobre o método temos que analisar a relação entre objetivo/ conteúdos. Como explica Libâneo (1994, p. 149): Os métodos são determinados pela relação objetivo-conteú- do, e referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e es- pecíficos do ensino, ou seja, ao ‘como’ do processo de ensino, esporte • 27 englobando ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos para atingir os objetivos e o conteúdo. Isso porque o método de ensino vai ser escolhido e movimen- tado a depender do que se queira atingir e qual conjunto de conhe- cimentos se quer ensinar. Ou seja, “as ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos, para atingir os objetivos e conteúdo” (LIBÂ- NEO, 1994). Dessa forma, tem-se como características do método a orientação para o objetivo, uma sucessão planejada e sistematizada de ações, tanto do professor quanto do aluno. Assim, o método “é o caminho para atingir um objetivo”. Assim, cabendo aos métodos a dinamização das condições e modos de realização do ensino, que influenciam na reformulação dos objetivos e conteúdos. Em síntese é o conjunto de ações utili- zadas para alcançar os objetivos de acordo com os conteúdos apre- sentados no planejamento. Sendo atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permitem alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do Professor. AVAlIAÇÃO: meio e não fim A avaliação segundo Libâneo (1994) tem como finalidade ava- liar o trabalho docente que deve ser realizado a todo o momento no processo de ensino e aprendizagem. É diante da avaliação que o pro- fessor terá consciência de como a turma está respondendo aos seus métodos, pois é através da avaliação que o docente irá observar se o objetivo foi alcançado e assim poder orientar as novas decisões em relação às atividades didáticas seguintes. É, portanto, um processo de coleta e análise de dados, quantitativos e qualitativos, e na sua interpretação com base em critérios previamente definidos. Assim, entendemos que a avaliação não se constitua com fim em si mesma, mas como meio de entender o processo de ensino e aprendizagem. Para Luckesi (2001), o ato de avaliar implica na disposição de acolher, avaliar um educando implica, antes de mais nada, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir 28 • pedagogia dos esportes o que fazer. A avaliação implica em dois processos articulados e in- dissociáveis: diagnosticar e decidir. Nesta perspectiva, o processo de diagnosticar se constitui de uma constatação e de uma qualificação do objeto da avaliação, para isso é preciso de dados relevantes, instrumentos e a utilização dos instrumentos. O primeiro passo, é coletar dados relevantes, que con- figurem o estado de aprendizagem do(s) educando(s), é preciso co- letar os dados essenciais para avaliar aquilo que se pretende avaliar. São os dados que caracterizam especificamente o objeto em pauta da avaliação. Dados essenciais são aqueles que estão definidos nos planejamentos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e que foram traduzidos em práticas educativas nas aulas. Isso implica que o planejamento de ensino necessita ser produzido de forma cons- ciente e qualitativamente satisfatória, tanto do ponto de vista cientí- fico como do ponto de vista político-pedagógico (Op. Cit.,). Os instrumentos de acordo com Luckesi (2001) devem ser adequados para coletar os dados que necessitamos para configurar o estado de aprendizagem do nosso educando, quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste, redação, monografia, dramatização, exposição oral, arguição, etc. – necessita manifestar qualidade satis- fatória como instrumento para ser utilizado na avaliação da aprendi- zagem escolar, sob pena de estarmos qualificando inadequadamente nossos educandos e, consequentemente, praticando injustiças. A constatação oferece a base material para a segunda parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto que está sendo avaliado. Essa quali- ficação é estabelecida a partir de um determinado padrão, de um determinado critério de qualidade que temos, ou que estabelecemos, para este objeto. Segundo Luckesi (2001), a prática da avaliação da aprendi- zagem, para manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e não voltada para a seleção de uns poucos, como se comportam os exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso mesmo, democrá- tica e amorosa. Por ela, por onde quer que se passe, não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas sim liber- dade. Não há medo, mas sim espontaneidade e busca. esporte • 29 A avaliação do eixo curricular é o fundamental norteador do projeto pedagógico que se materializa nas aprendizagens dos alunos. A avaliação é determinada pelo processo de trabalho pedagógico re- lacionado dialeticamente com tudo o que a escola assume, corpori- fica, modifica e reproduz e que é próprio do modo de produção da vida em sociedades capitalistas dependentes e periféricas (COLETI- VO DE AUTORES, 1992). Nesse sentido, a avaliação deve evidenciar “o nível de qualida- de do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos” (LIBÂ- NEO, 1994, p. 195). Por esta ótica a avaliação irá refletir o trabalho das três partes que compõe o processo de ensino: escola, aluno e pro- fessor. Para o Professor Cipriano Luckesi “a avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendiza- gem que auxilia o professor a tomar a decisão sobre o seu trabalho” (LIBÂNEO apud LUCKESI, 2001, p. 196). Em outras palavras, é atra- vés da avaliação que a aprendizagem pode ser verificada. Isso porque é o retorno que o aluno dá no processo avaliativo que possibilita ao Professor rever ou não o método, a didática desenvolvida na aula, o encadeamento dos conteúdos, dando assim movimento ao processo ensino-aprendizagem na escola. É função da avaliação: 1 – a verifi- cação, 2 – qualificação e 3 – apreciação. O primeiro termo refere-se aos dados coletados, por meio de provas, atividades avaliativas, um meio de observar o desenvolvimento do aluno. O segundo termo, é o confronto dos dados recolhidos com os objetivos e por fim, o terceiro termo, que se refere a análise dos resultados. Neste sentido, que a avaliação na constituição do PPP consti- tui-se um elemento importante para uma reflexão crítica das ações elaboradas. Porém, a avaliação escolar e asmodalidades avaliativas usadas em sala de aula têm sido tema de grandes debates, instigando pesquisadores, educadores e especialistas da área da educação a dis- cutirem as diferentes abordagens que são utilizadas na avaliação da aprendizagem. Essa tendência tradicional é herdada da educação je- suítica, e no contexto da história da educação foi a pedagogia vigente do século XVI, no período colonial, com resquícios até os dias atuais. Temos clareza de que nem sempre os resultados encontrados refletem a aprendizagem do aluno. Uma vez que no momento em que está sendo avaliado, diversos fatores podem “atrapalhar”, seja um problema de ordem psicológica, pessoal, física Ainda, há àqueles 30 • pedagogia dos esportes que têm dificuldades em transcrever para o papel as ideias quando avaliados por meio de uma prova escrita. Esta pode acarretar num desempenho ruim, ou abaixo do que se espera. Portanto, estamos diante de um elemento de grande complexidade e dificuldade de compreensão, mas, que se constitui parte necessária e imprescindível na constituição do Projeto Político Pedagógico (PPP). InTRODUÇÃO DA EDUcAÇÃO FÍSIcA/ESPORTE AO PPP: uma reflexão necessária! A partir deste plano discursivo que envolveu os aspectos ge- rais do PPP, entrelaçamos a Educação Física, juntamente com o con- teúdo esporte, na constituição de uma proposta pedagógica. Segun- do Libâneo (1994), em relação ao atendimento da função educativa do ensino, a Educação Física ocupa um lugar importante no desen- volvimento integral da personalidade por proporcionar oportuni- dades de expressão corporal, autoafirmação, formação de caráter e desenvolvimento de coletividade. Pois a principal tarefa da escola é a democratização dos conhecimentos, garantindo uma cultura de base para todos os alunos. As aprendizagens decorrentes das práticas pedagógicas da Educação Física devem ampliar a compreensão dos alunos em re- lação as práticas corporais e a sua própria cultura de movimento. Assim, organizar didaticamente os seus conhecimentos pedagógicos é assimilar a necessidade de sistematização dos seus conteúdos para possibilitarmos uma aprendizagem mais ampla e abrangente, pois os alunos não se apropriam de um conhecimento específico em uma única aula, uma vez que a aprendizagem é um processo gradativo. Sendo assim, para o Coletivo de Autores (1992) o projeto po- lítico-pedagógico representa uma intenção, ação deliberada e estra- tégica. É político porque expressa intenção em determinada direção e é pedagógico porque realiza a reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicando suas determinações. O projeto se realiza na escola e se manifesta no currículo. O conteúdo deve possuir princípios metodológicos, da lógica dialética, que devem ser organizados, sistematizados e fundamentados, esporte • 31 e assim, serem selecionados como constituinte curricular. São prin- cípios: a relevância, a contemporaneidade, a adequação às possibili- dades sócio cognoscitivas do aluno e a provisoriedade do conheci- mento (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Para estes autores, a Educação Física trata do conhecimento de uma área denominada cultura corporal configurada em temas corpo- rais como o jogo, o esporte, a luta, a ginástica e a dança, e que expressa um sentido/significado nos quais se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/objetivos da sociedade. Assim, os conteúdos que partem desse objeto de estudo devem ser selecionados em função de sua contemporaneidade, sendo dialógica, comunicativa, produtivo-criativa e participativa. A partir dessas discussões, pensando numa relação que envol- va a Educação Física, o Esporte e o Projeto Político Pedagógico, nós enquanto professores, devemos desvelar interesses políticos ideo- lógicos, resgatando outros papéis sociais possíveis ao esporte, seja como conteúdo escolar ou enquanto opção de lazer. Com isso, que- remos dizer que o esporte na perspectiva educacional possui uma reflexão e entendimento maior, já que o esporte é um elemento de grande importância no entendimento da sociedade contemporânea e se manifesta sobre diferentes dimensões sendo o alto rendimento a que mais é percebida pela sociedade, tendo em vista o poder de disseminação dos meios de comunicação de massa. De acordo com Pires e Silveira (2007) acerca do esporte edu- cacional parte de duas teses distintas sobre esta vertente do esporte. A primeira tese afirma que ele não existe, manifestando-se que o es- porte visa apenas o rendimento ou aquele vivenciado no tempo li- vre, não havendo possibilidade de ser educacional. Já a segunda tese parte do pressuposto de que todo esporte é educacional, afirmando que sempre é possível aprender alguma coisa com o esporte, seja de forma intencional ou não. Obviamente, para compreender o papel do esporte no ambien- te escolar, faz-se necessário compreender a influência determinante que foi o período educacional – dentro das instituições de ensino – durante a ditadura militar no Brasil. Neste regime o esporte foi amplamente difundido como único método de ensino da Educação Física, sempre baseado na lógica do rendimento e explorando todo 32 • pedagogia dos esportes seu potencial alienante. Isso fez com que o esporte fosse mal visto por muitas pessoas durante o período de redemocratização. Durante o período de redemocratização – pós ditadura mili- tar – apesar de trazer grandes contribuições teóricas para o debate sobre o esporte educacional, na prática não promoveu grandes al- terações na forma como ele vinha sendo tratado, pois, se continuou reproduzindo a lógica do rendimento e a escola nunca deixou de ser uma ferramenta para a formação de atletas quando na verdade deve- ria ser o contrário (PIRES e SILVEIRA, 2007). Entendemos que de fato o esporte, enquanto conhecimen- to cultural elaborado pela humanidade, não pode ser negado aos alunos, independente da forma como se apresenta é condição sine qua nom garantir a inclusão de todos os cidadãos na cultura espor- tiva tornando-os autores e produtores de sua própria relação com o mesmo (PIRES e SILVEIRA, 2007).A prática do esporte deve ir além dos seus fundamentos. É necessária uma transformação didá- tico-pedagógica dos esportes, como citado por Kunz (2001, p. 126) “essas transformações devem ocorrer, acima de tudo, em relação as insuficientes condições físicas e técnicas do aluno para realizar com certa perfeição a modalidade em questão”. Essa transformação deve propiciar uma reflexão no trabalho pedagógico. Muitos outros con- teúdos devem ser propostos pelos professores para motivar seus alu- nos à participação. Portanto, o PPP representa aqui uma proposta inclusiva na qual possibilite a participação de todos na aquisição da aprendizagem dos conteúdos das aulas de Educação Física, nesse caso o Esporte. AS MODAlIDADES ESPORTIVAS EM PAUTA: uma síntese possível! Na proposta da Disciplina Pedagogia dos Esportes buscamos o entendimento acerca do Esporte (em seus aspectos conceituais, his- tóricos e pedagógicos); do Projeto Político Pedagógico (aproprian- do-se dos conceitos elementares acerca do que ele significa para a sociedade); bem como, das modalidades esportivas escolhidas pelos alunos (aqui, discorremos sobre a história da modalidade, seus fun- damentos básicos e suas regras). esporte • 33 No campo empírico possibilitamos a construção de três ver- tentes para uma proposta pedagógica do esporte. A primeira em que os alunos constroem sua proposta conectando-a ao PPP; a segunda, com a possibilidade de reconstrução, ou seja, aquilo que, hegemo- nicamente, já está constituído, como o esporte espetáculo, há então, um redimensionamento de seus conteúdos, métodos etc.; e a terceira que se constitui na perspectiva do Fundamento-jogo. Fundamento-jogo2 – consiste em desenvolver o aprendizado de qualquer modalidade esportiva numa sequência gradativa – do mais simples para o mais complexo – em que o fundamento básico da modalidade é o temacentral da aula associado ao jogo. Não sig- nifica dizer que no final da aula o professor realizou um jogo, mas, a preocupação principal é observar como aquele fundamento apreen- dido aparece no jogo e com isso posto, sempre problematizá-lo. Por- tanto, requer tempo de apropriação, requer um olhar atento para poder parar a aula, discutir, problematizar, reiniciar (ação-reflexão- -ação), criar estratégias metodológicas para que todos participem, preocupando-se com a segurança da prática e gradativamente ir co- locando as regras básicas do jogo. Tomaremos o Basquetebol para exemplificação do Funda- mento-jogo: Para 1ª aula – conhecemos o espaço, os alunos; siste- matizamos a sequência dos fundamentos básicos (Controle de Cor- po, Manejo de Bola, Recepção, Passe, Drible, Arremesso, Rebote e Posição Básica de Defesa) e iniciamos o processo. A primeira aula cujo tema é controle de corpo e manejo de bola. O objetivo é propor- cionar o aprendizado dos fundamentos e sua relação com o jogo de Basquetebol; realizamos a sequência pedagógica com corridas para frente e para trás, frente à frente, desviando um dos outros, paradas bruscas etc; bem como, o manejo da bola, sua posição inicial, a pe- gada na bola; atividades que envolvam os dois fundamentos, brin- cadeiras etc. Dividimos a turma para o jogo – metade para um lado e metade para outro – independentemente do número de alunos. A princípio, a ideia é jogar (como quiser) a bola para que entre na cesta; cada grupo deve ficar numa área restritiva e, somente ai, pode 2 O Fundamento-jogo é uma criação no âmbito da Disciplina Pedagogia dos Es- porte elaborada pelo professor Sérgio Dorenski/DEF/UFS. 34 • pedagogia dos esportes tentar tomar a bola da outra equipe, não podendo sair dessa área. Mas, quem ataca pode entrar. Na transição da área defensiva para a ofensiva não pode tomar a bola. Essas regras iniciais ajudam a evitar acidentes, bem como, proporcionam a pessoa ter mais tranquilidade para ficar com a bola sem medo de alguém tomá-la. O olhar do professor será para verificar se o fundamento prin- cipal da aula está em evidência, se os alunos estão realizando-os durante o jogo e, sempre que possível, o professor deve intervir e problematizar, solicitar que explorem todo espaço, que aproveitem a bola e o corpo, brinquem, enfim que comecem a se “soltar”. Para 2ª aula com os fundamentos recepção e passe o profes- sor deve recuperar a aula anterior, no tocante aos fundamentos com atividades como jogos e brincadeiras e insere os novos fundamentos. Primeiro seu conceito, como deve ser os movimentos e propõem ou- tras atividades sequenciais, principalmente em deslocamento e in- cluindo o ritmo binário. Divide-se a turma e prepara-se para o jogo. Recupera-se as regras anteriores, incluindo outras, principalmente no tocante ao espaço de jogo e não poderá correr com a bola fixa, po- dendo dar apenas dois passos segurando a bola, caso ultrapasse terá que driblar ou dar o passe. O olhar do Professor será para os novos fundamentos e sua relação com os anteriores e sempre que possível orientar os alunos que procurem realizá-los. Para marcar o ponto, o aluno ainda pode jogar a bola à cesta de qualquer jeito, no entanto, pode utilizar da maneira que aprendeu a pegar e passar a bola. Para 3ª aula incluiremos o drible. Este é um fundamento bas- tante rico e estimulante que pode ser usado o tempo todo. Os alunos apreendem em sua forma inicial, gesticulando sem a bola, depois incluindo-a, parado, em movimento, mudando de direção. Aqui também são ilimitadas as sequências pedagógicas para seu apren- dizado com brincadeiras, corridas, pega-pega etc., mas, principal- mente articulando atividades que envolvam os fundamentos ante- riores. No jogo faz o resgate das regras anteriores e incluindo novas, principalmente, com relação ao drible, pois, agora só será possível executando-o com uma mão e caso pare o movimento do drible, de- verá passar a bola ao colega ou tentar fazer o ponto, mas, não mais pode driblá-la. Para 4ª aula o fundamento central é o arremesso. Iniciaremos com atividades didáticas que envolvam os fundamentos anteriores esporte • 35 (passe, recepção, drible em deslocamento, etc.). Dando continuida- de, conceituamos o arremesso, experimentamos sua forma, com e sem bola, parado, em suspensão e com o ritmo binário. No jogo, solicitamos que agora tentem fazer o ponto (cesta) com o arremesso apreendido. Ainda com a regras anteriores, incluímos outras como, ao passar para o ataque a bola não pode voltar à defesa entre outras. Para 5ª aula destinamos para o rebote e a posição básica de defesa. Nessa aula fechamos o ciclo dos fundamentos básicos (sem- pre com atividade que envolvam todos os fundamentos anteriores – passe, recepção, drible e arremesso) e o jogo agora com o posi- cionamento na área restritiva em que os menores (altura) ficam na frente da área e os maiores atrás. Caso seja possível, podemos expe- rimentar “soltar” os alunos, ou seja, não haverá mais limites a área restritiva, o jogo deve fluir com um grupo atacando e outro defen- dendo e vice-versa. O número de jogadores também diminui para cinco em cada equipe. Caso tenha uma turma, por exemplo, com vinte ou mais alunos, pode-se fazer o rodízio. Divide-se em quatro grupos (A, B, C e D) com cinco alunos cada. A jogará com B e C com D ficarão respectivamente fora (fundo) da quadra, sempre que um grupo atacar e voltar para sua defesa ele sai da quadra enquanto o outro entra e assim por diante. O importante disso é que todos os alunos participem o tempo todo da aula e passem a obter uma noção de posicionamento ao jogo respeitando suas características físicas e associando no seu movimento corporal para o jogo, todos os funda- mentos apreendidos. Nas aulas seguintes é importante instigar as variações dos fun- damentos, ou seja, as “famílias3”. Por exemplo, no passe temos vários tipos, assim como no drible, arremesso entre outros, então, pode-se pensar atividades que envolvam o passe picado com o passe por cima da cabeça, giro com pé de apoio e arremesso tipo jump, rebote de- fensivo e ofensivo, etc., enfim, a família do passe, une-se a família do drible, do arremesso e assim, sucessivamente. 3 Famílias representam os tipos de cada fundamento e aqui elaboramos atividades envolvendo-os entre si. O Passe existe suas variações como Passe Picado, Por Cima da Cabeça, Gancho etc; O Drible existe o Drible Alto, Baixo, Com Mudan- ça de Direção etc.; O Arremesso existem o Arremesso Parado, em Suspensão (Bandeja, Jump), Tipo Gancho etc. 36 • pedagogia dos esportes Destaca-se que o aspecto técnico do fundamento em si não é desprezado, no entanto, ele não é único. É importante que o alu- no saiba como é tecnicamente, pois, isso facilitará seu aprendizado, mas, que isso não vire obsessão e que paire sobre o imaginário dos alunos que somente assim pode-se jogar. A técnica é um meio facili- tador e não o fim em si mesma. Portanto, resumidamente, foi explicitado como seria uma se- quência pedagógica do aprendizado do esporte na perspectiva “Fun- damento-jogo” o que poderá ser elaborado para outras modalidades esportivas. Apresentaremos agora, uma síntese das modalidades esporti- vas (Basquetebol, Voleibol, Futebol, Futsal e Handebol) tematizadas na Disciplina no tocante à História, seus Fundamentos Básicos e suas Regras Básicas. bASQUETEbOl » História do basquetebol A história do Basquetebol é repleta de nuances que o diferen- cia de outras modalidades esportivas. A começar por ser uma moda- lidade conscientemente inventada para um determinado fim (SILVA, 1991). Isto rompe, em certa medida, em relação a outros esportes em que há uma evolução e mudança com relação ao seu tempo histórico, exemplo explícito do Futebol. Assim, o Basquetebol foi criado em 1891 na cidade de Spring- field, Massachutts (EUA) por um Professor de Educação Física com o intuito de suprir a necessidade de atividades físicas no inverno. Dessa forma surge a partirde uma série de condições relativas ao mundo moderno, tais como: uma alternativa de substituição aos mé- todos ginásticos europeus, a partir da organização das cidades, do sistema escolar e da existência de tempo livre para utilizar na prática esportiva. Além disso, deveria ser competitivo para ter boa aceitação, também ser científico para ser mais aceito pelos adultos, dessa forma o Basquetebol já inicia sua trajetória histórica com a marca de algumas características da ordem econômico-social capitalista (SILVA, 1991). esporte • 37 O Basquetebol foi criado àquela época, principalmente, devi- do às condições climáticas, pois, o inverno rigoroso impossibilitava a prática de esportes ao ar livre, sendo que as práticas físicas em locais fechados se limitavam à ginástica que pouco despertava o interesse dos alunos. A partir disso, Luther Halsey Guillik, diretor do Collége Internacional da Associação Cristã de Moços solicitou ao Professor James Naismith a seguinte tarefa: criar um jogo que despertasse os alunos no período do inverno e que também possibilitasse sua práti- ca no verão em locais abertos (SILVA, 1991). Encontramos na história do Basquetebol, na formulação do jogo em si, que era necessário um alvo fixo com certa dificuldade, que fosse jogado com uma bola, cujo tamanho superasse os de uma bola de futebol e que quicasse bastante. Ainda, que o jogo não pode- ria apresentar os níveis de violência do futebol americano e que a sua essência fosse à coletividade, seguindo o princípio cristão do amor ao próximo (CBB, 2018). Neste ínterim, outra questão importante foi instigada caso a bola fosse jogada com os pés, pois o choque ainda existiria. Com isso, o Professor James Naismith optou pelo uso das mãos no jogo. No entanto, a bola não poderia ser segurada por muito tempo, além de não poder ser batida com os punhos fechados, para que fosse evi- tado algum soco acidental nas disputas dos lances (CBB, 2018). A localização que seria atingida pela bola seria de 10 pés4, mas, primeiro ele pensou em posicionar um alvo no chão, porém já existiam esportes (o hóquei e o futebol), por isso, ele decidiu posi- cionar o alvo a 3,05m de altura, medida oficial até hoje. O Professor imaginou que nenhum jogador de defesa fosse capaz de parar a bola que fosse arremessada para o alvo e que também, dificultaria o jogo como era desejo do diretor da escola (SILVA, 1991; CBB, 2018). Além dessa questão de onde seria o melhor lugar para colocar o alvo, também, precisou-se pensar como seria esse alvo, qual seria 4 Pé (ou pés no plural; símbolo: ft ou ′ ) é uma unidade de medida de comprimen- to. Um pé corresponde a 12 polegadas e três pés são uma jarda. Esse sistema de medida é utilizado atualmente no Reino Unido, nos Estados Unidos. Esta medida é amplamente usada na aviação e atualmente equivale a 30,48 centíme- tros. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9_ Acesso em: 03 de Dez. 2018. 38 • pedagogia dos esportes sua aparência. Garimpando a história do Basquetebol encontramos resíduos em que James Naismith solicitou ao zelador do colégio uma caixa com medidas de oito polegadas (45x72cm). Assim, o zelador foi no depósito, quando voltou trazia consigo dois cestos de pêssego. Após alguns ajustes ele posicionou os cestos na parte superior das pilastras, que ele imaginou ter mais de três metros de altura, uma em cada lado da quadra, conforme Foto 1 e Foto 2 nas quais ilustram este momento histórico (CBB, 2018). Foto 1 – Primeira quadra de Basquetebol no Springfild College. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas- quetebol#/media/File:Firstbasketball.jpg Foto 2 – Professor James Naismith com a primeira bola e o cesto de pêsse- go que iniciará o Jogo de Basquetebol. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Basque- tebol#/media/File:Dr._James_Naismith.jpg O Professor James Naismith pensou rapidamente nas regras, pelo menos as primeiras, que continham treze itens, conforme abai- xo (CBB, 2018; SILVA, 1991): 1 – A bola pode ser arremessada em qualquer direção com uma ou com ambas as mãos; esporte • 39 2 – A bola pode ser tapeada para qualquer direção com uma ou com ambas as mãos (nunca usando os punhos); 3 – Um jogador não pode correr com a bola. O jogador deve arremessá-la do ponto onde pegá-la. Exceção será feita ao jo- gador que receba a bola quando estiver correndo a uma boa velocidade; 4 – A bola deve ser segura nas mãos ou entre as mãos. Os braços ou corpo não podem ser usados para tal propósito; 5 – Não será permitido sob hipótese alguma puxar, empur- rar, segurar ou derrubar um adversário. A primeira infração desta regra contará como uma falta, a segunda desqualificará o jogador até que nova cesta seja convertida e, se houver in- tenção evidente de machucar o jogador pelo resto do jogo, não será permitida a substituição do infrator; 6 – Uma falta consiste em bater na bola com o punho ou numa violação das regras 3, 4 e 5; 7 – Se um dos lados fizer três faltas consecutivas, será marca- do um ponto a mais para o adversário (Consecutivo significa sem que o adversário faça falta neste intervalo entre faltas); 8 – Um ponto é marcado quando a bola é arremessada ou tapeada para dentro da cesta e lá permanece, não sendo per- mitido que nenhum defensor toque na cesta. Se a bola estiver na borda e um adversário move a cesta, o ponto será marcado para o lado que arremessou; 9 – Quando a bola sai da quadra, deve ser jogada de volta à quadra pelo jogador que primeiro a tocou. Em caso de disputa, o fiscal deve jogá-la diretamente de volta à quadra. O arremesso da bola de volta à quadra é permitido no tempo máximo de 5 segundos. Se demorar mais do que isto, a bola passará para o adversário. Se algum dos lados insistir em re- tardar o jogo, o fiscal poderá marcar uma falta contra ele; 10 – O fiscal deve ser o juiz dos jogadores e deverá observar as faltas e avisar ao árbitro quando três faltas consecutivas forem marcadas. Ele deve ter o poder de desqualificar joga- dores, de acordo com a regra 5; 11 – O árbitro deve ser o juiz da bola e deve decidir quando a bola está em jogo, a que lado pertence sua posse e deve con- trolar o tempo. Deve decidir quando um ponto foi marcado e controlar os pontos já marcados, além dos poderes normal- mente utilizados por um árbitro; 40 • pedagogia dos esportes 12 – O tempo de jogo deve ser de dois meio-tempos de 15 minutos cada, com 5 minutos de descanso entre eles; 13 – A equipe que marcar mais pontos dentro deste tempo será declarada vencedora. Em caso de empate, o jogo pode, mediante acordo entre os capitães, ser continuado até que outro ponto seja marcado. Assim, com 18 alunos na aula, foram escolhidos dois capitães que lhes fora solicitado que escolhessem um dos lados da quadra e seus colegas para compor as equipes. Após isso, ele escolheu dois dos alunos mais altos para disputarem a bola no alto, tinha-se então, o primeiro jogo de Basquetebol. Outro aspecto importante foi que não se preocuparam em registrar a data do jogo, o que se sabe é que foi em dezembro de 1891, pouco antes do natal (CBB, 2018). Ficou explícito nessas 13 regras que, para James Naismith, havia uma preocupação em evitar acidentes e o contato físico mais violento entre os jogadores, no entanto, constatou-se um número de faltas foi muito elevado o que levou a incluir ato punitivo aos jogadores que as cometiam, os quais ficassem na linha lateral da quadra até que a próxima cesta fosse convertida. Durante o jogo foi detectada uma limitação, quando o arremesso era efetuado o jogador tinha que pegar a bola na cesta. Para resolver o problema o fundo da cesta foi cortado, o que possibilitou uma rápida retomada do jogo. Depois que o diretor aprovou o jogo, a primeira partida oficial foi marcada para o dia 11 de março de 1892, nesta ocasião os alunos venceram os professores por 5 a 1, presenciaram esta partida 200 pessoas (CBB, 2018). O Basquetebol se difundiu rapidamente a partir da Associa- ção Cristã de Moços (ACM)
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