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Sérgio D orenski Nathalia D ória Ellber Albuquerque Organizadores PEDAGOGIA DOS ESPORTES cOncEITOS, POSSIbIlIDADES E ExPERIêncIAS PEDAGóGIcAS Florianópolis, 2019 PEDAGOGIA DOS ESPORTES: conceitos, possibilidades e experiências pedagógicas 1ª Edição – 2019 © Copyright by Sérgio Dorenski, Nathalia Dória, Ellber Albuquerque Projeto gráfico, diagramação e capa: Rita Motta EDITORA TRIBO DA ILHA Rod. Virgílio Várzea, 1991 – S. Grande Florianópolis-SC – CEP 88032-001 Fones: (48) 3238 1262 / 9-9122-3860 editoratribodailha@gmail.com www.editoratribo.blogspot.com Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É proibida a reprodução parcial ou integral desta obra, por quaisquer meios de difusão, inclusive pela internet, sem prévia autorização dos organizadores. Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 P371 Pedagogia dos esportes: conceitos, possibilidades e experiências pedagógicas Sérgio Dorenski, Nathalia Dória, Ellber Albuquerque, organizadores. – Florianópolis: Observatório da Mídia Esportiva: Tribo da Ilha, 2019. 184p., fotos. Inclui referências ISBN: 978-65-80478-06-4 1. Educação física – Estudo e ensino (Superior) – Sergipe. 2. Esportes – História e crítica. 3. Formação profissional. 4. Prática de ensino. I. Ribeiro, Sérgio Dorenski Dantas. II. Dória, Nathalia. III. Albuquerque, Ellber. CDU: 796 PREFÁcIO O Esporte na atualidade tem sido tema de muitos “encontros” seja no lazer, na família, na criação de identidades, mobilizando di- versos povos, sendo objeto de estudo e também, de interesses ideo- lógicos de Estado entre outros, mas, percebemos incisivamente a sua forma hegemônica a partir dos meios de comunicação que ampliam esta dimensão ao fetichizá-lo em seu aspecto espetáculo numa forma peculiar de mercadoria. Com isso, urge a necessidade de que o esporte seja tema cons- tante no âmbito acadêmico, nos cursos de formação, principalmente na Educação Física, pois, por ser um bem historicamente fruto da cria- ção humana deva ser compreendido, tensionado, criticado e praticado de forma lúdica e prazerosa, principalmente no âmbito escolar. As experiências apontadas nesta obra evidenciam esta “Ação” em tornar o esporte um conteúdo temático que proporcione um olhar crítico para as dimensões de poder que estão por trás deste “fe- nômeno”, mas, também, os autores apontam experiências e análises críticas da prática docente que é um aspecto necessário na produção do conhecimento e na elaboração de propostas pedagógicas para o ensino do esporte. Nesse sentido, o Centro de Desenvolvimento de Pesquisa em Politicas de Esporte e Lazer do Estado de Sergipe – CDPPEL/SE, da REDE CEDES, ligado à Secretaria Especial do Esporte, que tem entre seus objetivos fomentar estudos e pesquisas para o desenvolvimento do esporte e lazer, vem apoiar essa valiosa obra que será sem dúvida importante para o debate nessa área. Aracaju, 07 de junho de 2019 Prof. Dr. Ailton Fernando Santana de Oliveira Coordenador do CDPPEL/SE UMA APRESEnTAÇÃO InTRODUTóRIA Esta obra, antes de tudo, é o resultado de um trabalho co- letivo. De um trabalho indissociável entre professor, alunos e o ambiente escolar, assim constitui-se em um estimulante desafio no campo acadêmico em que as relações com ensino, pesquisa e extensão estiveram imbricadas no processo de formação no qual fomos todos contagiados. Colocamos em pauta o Esporte. Significa dizer que seu aspec- to multifacetado foi exposto e posto à tona desde sua historicização – deixamos claro que trabalhamos com a ideia do esporte ser uma cria- ção moderna, ou seja, o esporte moderno – suas características, sua institucionalização, a aproximação com a mídia, a espetacularização e mercadorização, até as suas possibilidades pedagógicas de ensino. As Disciplinas Pedagogia dos Esportes I e II são ofertadas no 4º e 5º períodos, respectivamente, do curso de Licenciatura em Educação Física, do Departamento de Educação Física (DEF), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e tem como metas: propor- cionar aos acadêmicos uma visão “possível” do esporte no âmbi- to escolar; estabelecer uma relação entre o conhecimento (UFS) e prática (escolar); conhecer a realidade escolar; diferenciar o espor- te enquanto instituição e o “educacional”; construir/elaborar uma experiência acadêmica (Trabalho Científico) a partir da realidade escolar; interagir com as diversas possibilidades (abordagens didáti- co-pedagógicas) do ensino do esporte na escola; refletir/agir sobre/ com compromisso profissional, ético e moral na formação/atuação docente entre outros. Neste sentido, principalmente, de 2014 até o prezado momen- to, tencionamos este período cronológico em que houve uma exacer- bação do esporte por conta dos Megaeventos esportivos que aconte- ceram no Brasil, especialmente a Copa do Mundo de Futebol – que para os brasileiros representa um momento único do esporte – e as Olimpíadas, que representam, no cenário mundial, o maior even- to esportivo em que transitam não só as performance dos atletas, a plasticidade e estética dos movimentos, mas, sobretudo, os aspectos políticos, econômicos e sociais que estes eventos trazem em seu “ras- tro luminoso”. Dizemos isso, pois o fetiche provocado por eles atinge de modo instantâneo e violento o ambiente escolar o que implica na formação de opiniões, gostos, desejos, etc., e que, a partir dos meios de comunicação, isto é multiplicado em maior dimensão. A Disciplina em seu percurso transita por estabelecer uma crítica a estes aspectos do Esporte Moderno, mas também, em outra medida, tenta construir uma proposta pedagógica para o esporte, uma vez que a crítica ao modelo espetáculo do esporte, afastou a Educação Física de propostas (pedagógicas) compromissadas com a formação humana. O desafio, portanto, foi estabelecer a crítica, pensar na construção do conhecimento no âmbito acadêmico e ela- borar uma proposta pedagógica para formação humana conhecendo e vivenciando a realidade escolar. Assim, encontraremos no Capítulo 1 as bases conceituais que deram suporte para a reflexão crítica e para as intervenções no âm- bito pedagógico. Aqui, os autores elaboraram uma síntese dos prin- cipais conceitos que subsidiaram a formulação de uma proposta pe- dagógica para o esporte. No Capítulo 2 os autores procuram entender as diferenças ba- silares entre o esporte no aspecto mais de rendimento, com ênfase no treinamento desportivo e o esporte no aspecto mais pedagógico voltado para o ambiente escolar. Tomaram como objeto de análise a equipe de Basquetebol da UFS preparando-se para o Jogos Universi- tários Brasileiros e a perspectiva de ensino da Disciplina Pedagogia do Basquetebol do DEF/UFS. Os Capítulos 3, 4 e 5 são experiências, a partir da construção de uma proposta pedagógica para o esporte, tendo como objeto central o ensino do Basquetebol e o Voleibol no âmbito escolar. Aqui, o importante foi, sem perder o sentido da modalidade em si, adaptar-se à realidade escolar. Os Capítulos 6 e 7 apresentam uma síntese da experiência com o Futebol e o Handebol. O primeiro como fenômeno nacional e que possui uma representatividade no contexto brasileiro inigualável à outras modalidades esportivas, mas que aqui, foi redimensionado para realidade escolar adaptando-se ao espaço físico, ao número de alunos, material, ou seja, as condições físicas da realidade escolar. O mesmo acontece com o Handebol numa perspectiva pedagógicano espaço escolar. Trazendo possibilidades de ensino do Esporte na Educação Física em que a Escola foi palco principal. No Capítulo 8, a título de síntese da obra, traçamos algumas reflexões sobre o Badminton e o Futsal, pois, assim como o Judô e o Tênis essas modalidades esportivas não são eleitas como objetos de es- tudos pelos alunos em todos os períodos. Portanto, elas também, pro- puseram a reflexão crítica e se constituíram em momentos formativos. Boa leitura! Aracaju/SE, Junho de 2019. Sérgio Dorenski Nathalia Dória Ellber Albuquerque (Organizadores) SUMÁRIO ESPORTE: ASPEcTOS cOncEITUAIS, HISTóRIA, cRÍTIcAS E cOnSTRUÇÃO PEDAGóGIcA 9 Sérgio Dorenski Nathalia Dória Oliveira Ellber Rodrigo Santos Albuquerque Mateus Henrique S. Santos Janisson Santos Luís Henrique Calazans dos Santos Rodrigo de Souza Santos O bASQUETEbOl nA UFS: do alto rendimento à possibilidade pedagógica 84 Mateus Henrique Silva Santos Enéas Soares Neto Manoel Messias Xavier dos Santos O bASQUETEbOl cOMO POSSIbIlIDADE PEDAGóGIcA nO EnSInO DA EDUcAÇÃO FÍSIcA nA EScOlA 104 Ellber Rodrigo Santos Albuquerque VOlEIbOl nAS AUlAS DE EDUcAÇÃO FÍSIcA EScOlAR 115 Airra de Oliveira Santos Alexandre Oliveira Nascimento Santos Gardilene Cardoso de Jesus UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O EnSInO DO VOlEIbOl nA EScOlA 128 Nathalia Dória Oliveira Hudson Leonardo Cordeiro de Moura Monike Rayane Silveira de Menezes FUTEbOl nO cOnTExTO EScOlAR: UMA ExPERIêncIA FORMATIVA 143 Karine dos Anjos Santos Luis Henrique Calazans dos Santos Hericles da Rosa Matos Wendell Santos Matos PEDAGOGIA DOS ESPORTES: UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O HAnDEbOl 165 Rodrigo de Souza Santos Sérgio Dorenski FEcHAnDO OS POnTOS: Uma síntese das construções pedagógicas 175 Sérgio Dorenski SObRE OS AUTORES 183 • 9 ESPORTE: ASPEcTOS cOncEITUAIS, HISTóRIA, cRÍTIcAS E cOnSTRUÇÃO PEDAGóGIcA Sérgio Dorenski Nathalia Dória Oliveira Ellber Rodrigo Santos Albuquerque Mateus Henrique S. Santos Janisson Santos Luís Henrique Calazans dos Santos Rodrigo de Souza Santos Neste capítulo apontamos o caminho conceitual no tocante ao entendimento do esporte na modernidade, bem como, a construção de uma proposta pedagógica para o ensino de uma modalidade es- portiva em que a Disciplina Pedagogia dos Esportes esteve imersa. Para tanto, estabelecemos um corte temporal naquilo que se confi- gurou enquanto Esporte Moderno (BRACHT, 1997) e assim discuti- mos: sua origem; seu caráter instituição e sua expansão pelo mundo; seu processo de espetacularização e mercadorização (SILVA, 1991) e também, suas críticas e apropriações (PIRES, 1998). Além desta perspectiva, traçamos um caminho de sua possibilidade de ensino, principalmente no âmbito escolar (PIRES e SILVEIRA, 2007), assim não apenas condená-lo, mas procurando estabelecer laços em que o processo formativo estivesse em pauta. Para construção de uma proposta pedagógica para o esporte, a princípio, enveredamos por uma discussão acerca do que vem a ser um Projeto Político Pedagógico (PPP) a partir de autores como (LIBÂNEO, 1994; SAVIANI, 1996, 1997; GADOTTI, 1979; LUC- KESI, 2001 entre outros) e algumas matrizes teóricas do ensino da 10 • pedagogia dos esportes Educação Física – Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992) e Crítico-Emancipatória (KUNZ, 1994) – que subsidiaram as propostas de ensino. Por fim, elaboramos uma síntese das modalidades esportivas desenvolvidas no âmbito da Disciplina (Basquetebol, Voleibol, Fute- bol, Handebol e Futsal) no tocante à sua história, seus fundamentos e suas regras básicas. A cRIAÇÃO MODERnA DO ESPORTE: Alguns Apontamentos! No âmbito da Disciplina Pedagogia dos Esportes, do Curso de Educação Física (Licenciatura), da Universidade Federal de Sergipe (UFS) iniciamos nosso debate sobre o esporte instigando os alunos a pensarem, a princípio, em seu caráter instituição. Assim, fomos levados a discutir aspectos críticos e reflexivos que têm ligação direta com o cotidiano das pessoas e as consequências explícitas e implíci- tas que refletem na sociedade e no contexto escolar. Tomamos como base das discussões a obra “Sociologia Crítica do Esporte: Uma intro- dução” do Professor Valter Bracht e dialogamos com outros autores estabelecendo uma Roda de Conversa entre si. Para Bracht (1997) o esporte originou-se no seéculo XVIII, na cultura europeia (especialmente na Inglaterra) e depois expandiu para o resto do mundo. De forma sintética, pode-se dizer que ele possuía caráter competitivo e que foi resultado da evolução e mo- dificação dos jogos populares da época. Ou seja, os jogos estavam perdendo sua função primária, de celebração, influenciado pela transformação social provocada pelo processo de industrialização e urbanização o qual estava ocorrendo, implicando em mudanças ati- tudinais e de atribuição de significados. A partir do processo de urbanização e industrialização os chamados jogos populares foram tendo outras perspectivas mais atraentes condizentes com as características da sociedade capitalis- ta e passaram a assumir as características: competição, rendimento físico-técnico, record, racionalização e cientificização do treinamen- to. Portanto, o esporte moderno “desenvolve-se a partir do sécu- lo XVIII em estrita relação com o desenvolvimento da sociedade esporte • 11 capitalista inglesa esta, por sua vez, desenvolve-se enquanto forma específica do que mais genericamente denomina-se sociedade mo- derna” (BRACHT, 1997, p. 95). Neste sentido, o desenvolvimento e expansão do esporte acon- teceu tendo como pano de fundo o processo de modernização dos séculos XIX e XX, processo que compreende industrialização, urba- nização, tecnologia dos meios de transporte e comunicação, aumen- to do tempo livre, surgimento dos sistemas nacionais de ensino, etc. Esses aspectos, por sua vez, estão inseridos no processo mais amplo de secularização e racionalização que caracterizam a sociedade mo- derna, tornando-se uma prática de diversão das classes dominantes no seu tempo livre (Op. Cit.,). A partir deste processo de modernização surgem também, na Inglaterra, os clubes e federações que irão promover vários tipos de competições em nível nacional e regional, com isso, o esporte passa a ter caráter comercial e a partir dos eventos esportivos surge o pro- fissionalismo. O interesse comum pela prática do esporte cria entre as classes o chamado associacionismo que por sua vez dará origens aos clubes e federações (PIRES, 1998). Segundo Oliveira (2001) existem duas advertências básicas para explicar o esporte moderno, na qual não se deve considerá-lo como resultado de um processo linear de desenvolvimento, tampou- co como uma instituição completamente autônoma. O esporte moderno, aquele que hoje conhecemos, é normal- mente tratado na historiografia tradicional da área como o re- sultado de um processo linear de desenvolvimento. Quando se fala na história do futebol, para citar um exemplo, é comum fazer-se referência ao “guioco dei cálcio” na Itália do século XVI [...] e ao kemari, um jogo japonês com bola, originário da China por volta de 2600 a. C. (BRACHT, 2005, p. 95). Portanto, é muito comum ver o esporte ser abordado, na his- toriografia da Educação Física, como produto de um processo linear de desenvolvimento, ou seja, ver-se o esporte como uma evolução natural das práticas corporais antigas, que aos poucos foi se trans- formando até atingir o patamar que temos hoje. Podemos visualizar isso, quando analisamos o futebol, os jogos gregos, em especial, os 12 • pedagogia dos esportes que eram praticados na antiguidade. Esses teoricamente teriam apre- sentado uma continuidade originando-se dessa forma o que classi- ficamos hoje como esporte. Além disso, esta linearidade pautava-se em características que se perpetuariam com o tempo. Em outras pa- lavras, naqueles jogos já podiam ser percebidos traços elementares que definiriam uma identificação com o esporte. Como podemos observar essas identidades? Bracht (1997,p. 92) aponta para a “movimentação de uma bola com os pés e, as mãos; a existência de campos específicos de jogo; um confronto entre dois ou mais grupos sendo decidido através do esfor- ço físico-corporal”. As características vistas acima, não são suficientes para definir que as práticas corporais antigas teriam evoluído e se tor- nado esporte. Isso porque, para que tal fato ocorra, faz-se necessário uma organização econômica, social e urbana que possibilite a existên- cia de uma prática esportiva. Além, é claro da necessidade de se ter tempo livre para essa prática. Outro fato que em si é insuficiente para caracterizar o esporte como uma evolução das práticas antigas é o fato do homem ter a condição ao jogo. Por este prisma o esporte é uma materialização dos jogos, este, apresenta-se como “comportamento básico/elementares e universal do homem” (idem p. 92). A esta com- preensão acerca da origem do esporte, possivelmente seja confronta- da, por uma não linearidade/descontinuidade, podendo também ser considerado uma ruptura. Este fato, não é uma completa negação da continuidade, e sim, que há traços centrais novos. Neste sentido, compartilhamos com Bracht (1997) também a ideia de que o esporte é filho da modernidade. Isso quer dizer que, o sentido que a sociedade tradicional dava ao jogo é distinto do que se dá ao esporte na modernidade. No contexto da sociedade tradi- cional antiga, o jogo tinha como objetivo a celebração aos deuses, no caso da Grécia, uma forma de homenageá-los. O jogo e a religião apresentavam uma estreita ligação. Isto na modernidade é rompido, o esporte é secular, ou seja, a ligação não existe, ou não é tão acen- tuada, o sentido que orienta o esporte difere dos jogos antigos. Nes- tes, seus praticantes não objetivavam a quebra de uma marca, não careciam de ser quantificados, ser burocrático, não carecia também de que seus praticantes apresentassem papéis especializados e uma cientifização de seus movimentos. esporte • 13 O Professor Valter Bracht, exemplificou essa relação, anali- sando a pelota dos Mayas, que a princípio se fosse considerada suas formas de movimento, esta prática se assemelharia ao Voleibol e ao Basquete. Entretanto, se analisarmos o sentido do jogo, notaríamos que pouco se assemelham com estas modalidades esportivas. A pelo- ta, assim como os demais jogos antigos, estava ligada profundamente à religião. Sendo esta, a instituição que gerava na sociedade antiga os sentidos e significados. Ou seja, Fazendo parte de um ritual que culminava com sacrifício humano, próprio dos rituais de fecundidade/fertilidade, de manutenção e preservação da vida, como demonstra o fato de que após o jogo um participante era sacrificado, sendo seu coração pulsante perfurado para que jorrasse sangue (WIES, 1979, p. 103 apud BRACHT, 1997, p. 93). A pelota, portanto, apresentava um caráter sagrado, diferente do caráter competitivo que se tem no esporte moderno. Portanto, para as sociedades antigas as práticas corporais estavam vinculadas às instituições religiosas e militares, funcionando sob o prisma des- sas. Na sociedade moderna, o esporte surge de maneira independen- te das instituições, “este processo, é claro, se dá em íntima relação com o advento da própria sociedade moderna” (BRACHT, 1997, p. 94). Agora, a lógica que impulsionava as práticas corporais não mais está relacionada a estas instituições, ela transitou para o próprio esporte tornando-se com isso uma instituição. O desenvolvimento do esporte a partir do século XVIII, esteve entrelaçado à evolução da sociedade capitalista inglesa (BRACHT, 1997). Isso porque foi na Inglaterra que o modelo industrial de pro- dução surgiu e com o passar do tempo foi se desenvolvendo. Foi também na Inglaterra que o esporte veio se organizando, precipua- mente, como consequência de práticas da esfera do entretenimento das camadas sociais como a nobreza e a meritocracia em desenvol- vimento, no seu tempo de lazer, bem como as atividades da classe mais popular. Percebe-se que ao passar dos anos, cada vez mais, as regras das atividades esportivas foram sendo normatizadas e unificadas pelas 14 • pedagogia dos esportes entidades que as dirigiam. Além dos “cavalheiros” (gentlemen1), que introduziram essas atividades esportivas em suas realidades, em seus clubes, regrados, e sem a presença das apostas, regidas pelo tão co- nhecido fair-play. Dessa forma, o sportman, veio a se tornar equiva- lente do ser gentlemen. A partir disso, no começo do século XIX “os filhos destes gentlemen ocupavam parte de seu tempo livre nas esco- las públicas com a prática do remo, críquete, corridas, e “futebol” que depois foram estendidas às universidades” (BRACHT, 1997, p. 96). Aqui vai se configurando um aspecto crucial para a evolução do es- porte, ou seja, origem dos clubes, que possibilitavam a continuidade da vida esportiva aos que queriam, mesmo depois de ter completa- do a vida estudantil, na escola e na universidade. O crescimento e a ampliação do esporte, ocorreu tendo como esboço o sistema “de modernização dos séculos XIX e XX, progresso que compreende: in- dustrialização, urbanização, tecnologização dos meios de transporte e comunicação, aumento do tempo livre, surgimento dos sistemas de ensino” (Op. Cit.,). O caráter instituição do esporte vai sendo consolidado, pois, os clubes começaram a se organizar formando, com isso, as primei- ras federações, promovendo assim, os primeiros torneios, campeo- natos em nível de região e entre nações. É nessa configuração que surge também um conflito social havendo uma distinção entre ama- dorismo, atividade realizada sem interesse e o profissional geralmen- te praticado pela burguesia e aristocracia reforçando a criação das ligas amadoras e ligas profissionais. O surgimento de novas modali- dades esportivas vai se expandindo o que materializa o processo de esportivização. Não demorou muito para que essas práticas fossem exploradas comercialmente, originando com isso, o profissionalismo (BRACHT, 1997). Atrelado também à sua descontinuidade histórica, Bracht (1997) apresenta dois esquemas para abordar e diferenciar o esporte: esporte de alto rendimento ou espetáculo e esporte enquanto ativi- dade de lazer. O esporte de alto rendimento ou espetáculo possui um 1 Na literatura encontramos alguns significados ao termo como Cavalheiro, De- licado, Pessoa Fina, Homem Gentil e Educado, uma pessoa com Honra e digna entre outros esporte • 15 núcleo de formação de atletas, bem como a contribuição do Estado para a busca por esses atletas, geralmente possuem atletas seleciona- dos e uma massa consumidora na qual investe nesse esporte-espe- táculo. Pode-se perceber também que o esporte de alto rendimento tende a assumir características de mercadoria, sendo cada vez mais necessário a profissionalização dos envolvidos e uma ciência atuante. Numa outra perspectiva, mas, sem perder de vista o esporte de alto rendimento, Bracht (1997) aponta para o esporte como ativida- de de lazer ainda que se manifesta a propiciação da socialização para o consumo do esporte e com isso, encontramos os locais e aparelhos da prática de alto rendimento para a realização de outros esportes. Assim, dissociar o esporte de alto rendimento ou espetáculo para o esporte de lazer constitui-se numa tarefa difícil, pois, em suma o primeiro circunscreve-se no mundo do trabalho suas ações sendo pautadas pela vitória ou derrota, a maximização do rendimento e a racionalização dos meios. Enquanto o segundo circunscrevem-se no mundo do não trabalho e é pautado pelo lazer, questões de saúde e a sociabilidade, estando presente em toda mídia, principalmente, esta lógica perpassa, enquanto fetiche, para o restante da sociedade. Como explica Pires (1998), o esporte passou a ser um produto que precisou ser comercializado e adaptado para os meios de comunica- ção em massa. Como vimos, o esporte trouxe a marca da sociedade capita- lista, que a criou com as característicasexpostas por Bracht (2005) como secularização, igualdade de oportunidades (meritocracia), es- petacularização de papéis, organização burocrática, quantificação (e busca do recorde) é percebido enquanto instituição, principalmente, nos dias de hoje, arraigado ao meios de comunicação. Pires (1998) explica que o esporte consolidado como um ele- mento da cultura e economia globalizadas sendo hoje organizado para ser difundido prioritariamente pelos meios de comunicação eletrônica. Nesse sentindo, o esporte mercadorizado precisou ainda espetacularizar-se, ou seja, adotar a linguagem visual da televisão, de modo que a mensagem publicitária veiculada por seu intermédio seja sempre e cada vez mais contundente com o público consumidor. A Televisão (TV), por sua vez, mesmo com o avanço da inter- net, tornou-o um de seus produtos principais. Betti (2002) explica 16 • pedagogia dos esportes que a rigor não existe um esporte na mídia e sim, um esporte da mídia, já que a mídia não enfoca questões como cooperação, auto- conhecimento e sociabilização, com isso, o binômio vitória-derrota, recompensa extrínseca e questões de violência. O esporte da mídia é na maioria das vezes controlado por quem tem interesses naquele meio, é justamente por isso que a televisão é considerada como a mídia mais importante e relevante, já que ela tem o maior poder de propagação de informações, atingindo de uma maneira mais fácil a população. Betti (1998) expõe que de fato, o esporte não teria alcan- çado a importância política, econômica e cultural de que desfruta hoje se não fosse sua associação com a televisão, associação esta, que criou uma “realidade textual autônoma”: o esporte telespetáculo. Betti (2002) divide as características do esporte da mídia em cinco, sendo elas: a ênfase na falação esportiva – conta histórias de partidas, cria expectativas, faz previsões, promete vitórias ou gols, cria polêmicas e constrói rivalidades, critica os envolvidos no “espe- táculo”, elege ídolos e dramatiza; a monocultura esportiva – refere-se basicamente ao futebol, já que no Brasil é uma tendência e as empre- sas enxergam esta modalidade com uma ótima relação custo-bene- fício; a sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo – ocorre quando a mídia nos transmite algo diferente do que realmente está acontecendo, buscando atingir a emoção do torcedor e não a razão. Assim, a TV faz do telespectador uma vítima de ilusão e que exis- tem diferenças absurdas entre assistir um jogo no estádio e um jogo na TV; superficialidade – retrata o esporte de uma forma breve e descontínua, prejudicando principalmente aquelas pessoas que não possuem um letramento e acabam por acreditar em tudo que leem e assistem (superficialidade); A prevalência dos interesses econômicos – acontece quando o interesse da mídia em lucros e visibilidade se coloca acima dos interesses dos telespectadores que têm de “engolir” aquilo que a TV acha que eles querem. Neste cenário, Pires (1998) explica que a espetacularização adota a linguagem visual da televisão de modo que a mensagem pu- blicitária seja cada vez mais contundente, pois só assim serão man- tidos e ampliados os níveis de lucro. Para tanto, mudanças acontece- ram para tornar-se mais adequado ao veículo da mídia e atraente ao mercado consumidor mediado pela indústria midiática. Como por esporte • 17 exemplo: mudanças de regras relacionadas ao tempo para aumentar o dinamismo da disputa; paradas técnicas para que possam ser vei- culadas mensagens comerciais dos patrocinadores; convívio de siste- mas esportivos paralelos às federações e às confederações, para pos- sibilitar o maior número de espetáculos oferecidos e garantir-lhes mais qualidade técnica, etc. O consumidor (espectador), por sua vez, tem não só o seu gosto manipulado pela influência do mercado, mas também sua própria capacidade perceptiva alterada [...]. A imagem que um espectador tem das arquibancadas é global e subme- tida a sua própria vontade. Já a do telespectador é parcial e dependente de outros. A subdivisão das imagens, imposta pela própria técnica de reprodução do espetáculo, é um com- ponente fundamental que independe da vontade do telespec- tador e foge da sua capacidade de alterar a situação, refor- çando a passividade que se expande gradativamente (SILVA, 1991 apud PIRES, 1998, p. 33). A cultura esportiva baseada na capacidade de venda deixa de ser manifestação cultural e passa a ser mercadoria com valor de troca para se manter eficaz como veículo de divulgação comercial o espor- te experimenta a espetacularização. Ao longo da história vimos o quanto o esporte atendeu aos interesses dominantes sendo apropriado para fins específicos. O Professor Giovani Pires classifica em Processos de Apropriação Social do Fenômeno Esporte que são: funcionalização, sociabiliza- ção, ideologização, mercadorização e espetacularização do esporte (PIRES, 1998). O processo de Funcionalização é a busca do esporte pela efi- cácia e produtividade, principal objetivo é a performance. O esporte nesse processo assemelha a uma empresa em que existe uma hierar- quia na qual cada um tem função, buscando sempre o aperfeiçoa- mento dos gestos, maximização do rendimento, minimização dos gastos, o homem reificado. É a utilização do esporte como estratégia para a busca de eficácia e produtividade no trabalho. Vinnai apud Pires (1998, p. 27) “afirma que a lógica do aparato de produção do modo capitalista funda-se em categorias que podem ser aprendidas 18 • pedagogia dos esportes e treinadas no esporte: maximização do rendimento, minimização dos gastos, adequação do homem à função (coisificação) etc”. Nesse sentido, o atleta/trabalhador precisa atender a estas exigências fun- cionais alienando-se ao mundo do trabalho produtivo no sentido capitalista. Sociabilização, neste processo de apropriação o esporte é usa- do como instrumento manipulador para manutenção do status das classes em suas determinadas posições, sem permitir a transição ver- tical de uma classe para outra, ocorrendo a manutenção da ordem capitalista. Assim, a sociabilização através do esporte se dá: [...] pelas regras das competições, o esporte imprime no comportamento as normas desejadas da competição e da concorrência [...]; as condições do esporte organizado ou de rendimento são simultaneamente as condições de uma socie- dade de estruturação autoritária [...]; o ensino dos esportes nas escolas enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras, e dá a estas um caráter estático e inquestionável, o que não leva à reflexão e ao questionamento, mas sim ao acomo- damento, [...] forja um ‘conformista feliz e eficiente’; o apren- der as regras significa reconhecer e aceitar regras pré-fixadas (BRACHT apud PIRES, 1998, p. 29). Os valores enraizados são os valores dominantes, a socializa- ção reproduz, principalmente, as desigualdades sociais. Nesta pers- pectiva que criticamos o esporte sem com isso, querer o seu fim, mas sim, a sua reformulação e pedagogização nas Escolas. No processo de Ideologização o esporte é utilizado como meio de divulgação das ideologias propagando o modelo liberal e capitalista, esse processo tem uma íntima ligação com o da sociabi- lização do esporte, servindo muitas vezes para o controle da massa. Há a utilização do esporte como veículo de propaganda ideológica e marketing político. Por exemplo, uma medalha olímpica significa- va a consolidação de um determinado regime seja ele democrático ou ditatorial, exemplo típico das Olimpíadas de Berlim (1936) em que Hitler queria mostrar para o mundo a soberania da raça ariana, como também, durante o período de “Guerra Fria” entre Rússia e Estados Unidos, respectivamente, às Olimpíadas de Moscou e Los esporte • 19 Angeles em que o esporte estava a serviço dos interesses políticos- -ideológicos e, em evidência os sistemas comunista e capitalista (PI- RES, 1998). A Mercadorização do esporte é sua transformação em merca- doria (espetáculo),aqui percebemos que se perdeu um pouco da ideia política de fortalecimento de um determinado sistema e focalizou na mercadoria enquanto bem maior a ser explorado e direcionado para o consumo. Funcionando assim, as empresas criam uma necessida- de para o consumo dos produtos esportivos ampliando o mercado, isto é, não só o jogo em si, mas, os gestos, os produtos gerados pelo esporte, os ídolos esportivos, ou seja, tudo vira mercadoria. Um exemplo explícito trata-se do Basquetebol em que as con- tribuições da Professora Ana Márcia Silva em sua Dissertação (Espor- te Espetáculo: A Mercadorização do Movimento Corporal Humano) apontaram as modificações que o esporte passou “seus objetivos e ca- racterísticas ao longo do tempo, consolidando-se desde sua criação, como fruto da sociedade industrial moderna” (SILVA, 1991, p. 5). Com isso, a mercadorização vai se configurando na transfor- mação (através do movimento corporal humano) do esporte em um produto (mercadoria) a ser consumido. Silva (1991) aponta para o uso das ciências e da tecnologia, em especial, as ciências aplicadas que têm por função usar o conhecimento para a resolução de pro- blemas e também, de forma determinante, para os meios de comu- nicação de massa. Enfim, o propósito e intencionalidade daquilo que entendemos como instituição é “materializar o esporte e assim, alte- rar suas características básicas para melhor atingir sua forma de es- petáculo”, alterando suas regras, seus gestos técnicos, suas táticas de ataque e defesa e sua forma de treinamento, com isso, vai garantindo um público consumidor (SILVA 1991, p. 5). Por fim, o processo de Espetacularização está ligado direta- mente ao de mercadorização do esporte. Como uma mercadoria o esporte precisou de um meio para espetacularização, algo que contri- buísse com uma nova linguagem visual, dando início a uma grande parceria entre a mídia e o esporte e que, por meio dessa, foi possível alcançar ampliação nos níveis dos lucros. A mídia ainda alterou a es- trutura do esporte para atrair o mercado consumidor, entre algumas mudanças estão: alteração de regras, tempo, paradas estratégicas entre outros. É notório que esses processos de apropriação do esporte 20 • pedagogia dos esportes mantêm uma relação de dependência entre si. Então, não é possível desassociar um dos outros ou apenas analisar o esporte em um único processo, a funcionalização está ligada ao processo de sociabilização e ambos têm como objetivos manter a hierarquia que por sua vez estão ligados à ideologização transmitindo ideais que perpassa por um viés de mercadoria que se converte em sua forma de espetáculo. Mesmo com esta prevalência do mundo da mercadoria e da espetacularização, acreditamos que o ser humano, ao entender o es- porte com estas características, esteja apto, exatamente, para reverter este processo. O esporte é o que se faz dele. Ele pode ser um instru- mento tanto de transformação como também, ser objeto de interesse políticos, ideológicos e econômicos. Por isso, temos que expandir seu entendimento e não reduzi-lo a formas de movimento pré-estabelecidas, baseado em regras e com- petição, que o classifica em categorias e exige aptidão à prática espor- tiva. Pode ser entendido em todas as suas dimensões, principalmente como meio educativo pode contribuir para o crescimento das pes- soas como seres autônomos, criativos e com valores éticos. cOnSTRUInDO UMA PROPOSTA POlÍTIcO PEDAGóGIcA PARA O ESPORTE Após a apropriação crítica do esporte perpassando por uma discussão sociológica, passamos para uma segunda etapa, a elabora- ção de propostas pedagógicas para o esporte, conhecendo a realida- de escolar a qual iremos intervir. Nesta fase o primeiro pressuposto é discutir, construir, conhecer o que é e o que vem a ser um Projeto Político Pedagógico (PPP). Assim, para desenvolver o conhecimento e experiênciá-lo, re- quer sistematização, organização, e ter claro o que irá ser transmitido. Neste sentido, o papel do professor é inquestionável, pois, é ele quem ligará este conhecimento aos alunos, tornando-o mais acessível nos vários níveis de ensino que compõe o sistema educacional, seja do in- fantil ao superior, e suas respectivas especializações. Com isso posto, apresentaremos uma discussão, que foi basilar à Disciplina Pedagogia dos Esportes e que traz elementos constitutivos do planejamento esco- lar, dos objetivos, dos conteúdos, do método e da avaliação, tomando esporte • 21 como base a obra “Didática” de José Carlos Libâneo (1994), dialogan- do também com outros autores.Tendo em mente que a prática educa- tiva é o meio pelo qual o conhecimento desenvolve o indivíduo e que o contato deste com o conhecimento historicamente acumulado irá capacitá-lo para atender as determinações sociais, “a prática educacio- nal se orienta, necessariamente, para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e sistemática” (LIBÂNEO, 1994, p. 120). Ao pensarmos uma sociedade crítica que saiba se posicionar frente aos acontecimentos políticos, sociais, a prática educativa da na- ção, caminhará para esta intenção. [...] os objetivos antecipam resultados e processos esperado do trabalho conjunto do professor e dos alunos, expressando conhecimentos, habilidades e hábitos (conteúdos) a serem assimilados de acordo com as exigências metodológicas (ní- vel de preparo prévio dos alunos, peculiaridades das matérias de ensino e características do processo de ensino e aprendi- zagem) (LIBÂNEO, 1994, p. 119). Da mesma forma, se quiséssemos uma sociedade técnica, no que se refere a produção industrial, a prática educacional será exercida para atingir o objetivo proposto ou (pelo menos se espe- ra) tornando o indivíduo apto, qualificado para “as lutas sociais de transformação da sociedade”. Assim não podemos pensar a prática educacional afastada de um objetivo, pois, toda prática educacional direciona o indivíduo para uma finalidade. Faz-se necessário, portanto, o entendimento de que a educação é um fenômeno social que ocorre independente do espaço escolar. Ela acontece nas relações pessoais, espaços sociais, na família, ciclos de amizade e diálogos, porém o seu objetivo no espaço não-formal resulta na aprendizagem de uma forma assistemática. Já a educação escolar é um processo que acontece em uma instituição específica, com caráter sistêmico, organizada através do trabalho pedagógico e de maneira intencional onde é esboçado qual tipo de sujeito que- remos formar e o seu horizonte de atuação social (FREITAS, 1995). Segundo Freitas (1995), a organização do trabalho pedagógico é uma ação desenvolvida por todos que fazem à escola, no processo 22 • pedagogia dos esportes de escolarização. Neste sentido, devemos ter como objetivo de estu- do a interpenetração de métodos e conteúdos de diversas discipli- nas para trabalhar em conjunto e assim, possibilitar uma construção qualitativa do saber. Toda prática educacional atua no desenvolvimento individual e social dos indivíduos, na medida em que proporciona os meios necessários para a apropriação de conhecimentos e experiências acumuladas pelas gerações. Porém, o neoliberalismo impõe uma di- visão de classe, demarcando assim que a escola capitalista não é para todos. É uma escola de classe que tem duas funções principais na sociedade: qualificação necessária ao funcionamento da economia e a elaboração de métodos para um controle político. Assim, a escola traduz as desigualdades econômicas em desigualdades educacionais (FREITAS, 1995). Para o Coletivo de Autores (1992), o currículo escolar é vin- culado a um projeto político-pedagógico, pois a escola é entendi- da como parte constituinte das condições da existência humana. As pedagogias surgem da crise originada do conflito entre interesses antagônicos e diferentes entre as classes e são entendidas como dis- ciplinas capazes de suprir a complexidade, globalidade, o conflito e especificidade da educação. Para Libâneo (1994) existem trêscaracterísticas presente nos objetivos: valores e ideias proclamados na legislação educacional; os conteúdos básicos da ciência; as necessidades e expectativas de formação cultural exigidos pela população majoritária da socieda- de. Assim, na primeira característica observamos que toda política educacional anuncia valores e ideais para a sociedade, tendo claro, o ser humano que se quer formar. Na segunda, refere-se aos conteú- dos básicos da ciência, que foram produzidos historicamente, o qual constituirá o ser humano que se quer formar. Por fim, os objetivos devem contemplar a formação cultural do indivíduo. ObJETIVO GERAl: primeiros passos Ao pensarmos a organização do trabalho pedagógico de ime- diato pensamos em objetivos. Os objetivos e a avaliação são categorias esporte • 23 que se opõem na sua unidade. Com isso, os objetivos são o ponto de partida e a avaliação incorpora os objetivos, apontando uma direção, pois são elementos chaves para a transformação daquela realidade social, já que a partir deles é que serão definidos os conteúdos/méto- dos que se encaixam melhor no interior da realidade escolar. Dessa forma, a prática educacional é orientada com o intuito de alcançar determinados objetivos, por meios de ações intencionais sistemati- zadas (FREITAS, 1995). Reforçando este pensamento Libâneo (1994, p. 122) expli- ca que “os objetivos são o ponto de partida, as premissas gerais do processo pedagógico”. Esses objetivos revelam e refletem a posição política e pedagógica do agente educativo, sendo vinculados pelo sis- tema escolar, pela escola e pelo professor, do mais amplo ao mais es- pecífico. Assim, a Escola “estabelece princípios e diretrizes de orien- tação do trabalho escolar com base num plano pedagógico-didático que represente o consenso do corpo docente em relação à filosofia da educação e à pratica escolar” (Op. Cit., p. 123). Concatenado com o objetivo do professor que concretiza em suas aulas a visão de educa- ção e sociedade que se almeja. O objetivo não é o ponto final, ele é o início do processo de ensi- no. Por essa ótica “representam as exigências da sociedade em relação à escola, ao ensino, ao aluno e, ao mesmo tempo, refletem as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos em face das contradi- ções sociais existentes na sociedade” (LIBÂNEO, 1994, p. 122). Libâneo (1994) define seis objetivos-base para planejar o ob- jetivo geral, são eles: 1 – colocar a educação escolar no conjunto de lutas pela democratização da sociedade, instrumentalizando os alu- nos das condições materiais, sociais, políticas e culturais para tornar sujeitos ativos da sociedade; 2 – garantir a todas as crianças sem dis- criminação de classe social, cor, religião ou sexo o desenvolvimen- to de suas capacidades físicas, mentais e espirituais; 3 – assegurar a todas as crianças o máximo de desenvolvimento de suas poten- cialidades; 4 – formar nos alunos a capacidade crítica e criativa no ensino apreendido através de métodos de raciocínio, de investigação e de reflexão; 5 – atender as funções educativas de ensino, ou seja, a formação de convicções para a vida coletiva; 6 – todas as pessoas que direta ou indiretamente se envolvem com a escola, como pais, 24 • pedagogia dos esportes diretor, funcionários, professores, devem ter propósitos em comum para desenvolver o trabalho pedagógico escolar. Por fim, segundo Veiga (2007) o objetivo geral é aquele objeti- vo previsto para um determinado grau ou ciclo, uma escola ou uma certa área de estudo e que serão alcançados em longo prazo. Diferen- ciado a partir do contexto e necessidades de cada lugar, planejando assim o objetivo mais amplo para ser alcançado na escola ou projeto. ObJETIVOS ESPEcIFÍcOS: destrinchando o Objetivo Geral Os objetivos específicos particularizam a relação escola/so- ciedade, de maneira destacada, qual a função da matéria de ensino. Além disso, eles mostram, pois, o que o professor espera que os alu- nos aprendam durante o processo de ensino, apresentando caracte- rísticas pedagógicas, pois, “explicitam o rumo a ser imprimido ao trabalho escolar, em torno de um programa de formação” (LIBÂ- NEO, 1994, p. 126). Os objetivos específicos devem estar atrelados ao geral, sem deixar de lado a realidade escolar, dos alunos e da matéria. Neles também devem estar claros os conhecimentos, habilidades, e capacidades, tidas como fundamentais para assimilação dos alunos que possam ser aplicadas na vida prática, observamos uma sequência lógica, em que os conceitos e habilidades estejam inter-relacionadas. Os objetivos devem ser expressos de maneira clara, “dosar o grau de dificuldades” de modo que expressem desafios, problemas e questões estimulantes e viáveis (LIBÂNEO, 1994). Estes devem ser projetados com metas a serem alcançadas e que sejam alcançáveis. Para se cumprir os objetivos gerais é preciso delimitar metas mais específicas dentro do trabalho, pois, são elas que, somadas, conduzi- rão ao desfecho do objetivo geral. Com isso, “particularizam a com- preensão das relações entre a escola e sociedade e especialmente do papel da matéria de ensino. Eles expressam, pois, as expectativas do professor sobre o que deseja obter dos alunos no decorrer do proces- so de ensino” (LIBÂNEO, 1994, p. 126). Segundo Veiga (2007) o objetivo específico é aquele defini- do especificamente para uma disciplina, uma unidade de ensino ou uma aula, consiste no desdobramento e operacionalização dos esporte • 25 objetivos gerais. O objetivo específico é, às vezes, também chama- do de comportamental ou instrucional, porque ele é formulado de modo a indicar os comportamentos observáveis no aluno. Portanto, Libâneo (1994) aponta algumas recomendações ne- cessárias para elaborar os objetivos específicos, são elas: especificar os conhecimentos, habilidades, capacidades que sejam fundamen- tais para serem assimiladas e aplicadas em situações na escola e na vida; observar uma sequência lógica, de forma que os conceitos e habilidades estejam inter-relacionados; expressar os objetivos com clareza, de modo que seja compreensivo para os alunos, para que os mesmos contribuam com novos objetivos; formular os objetivos, sempre que possível, com os resultados a atingir, facilitando o pro- cesso de avaliação diagnóstica e de controle; e, como norma geral, indicar os resultados do trabalho dos alunos. OS cOnTEÚDOS: escolha social e política O ensino é a atividade peculiar da escola, que tem a aprendi- zagem ocupando o lugar central. Nesse sentido, “se perguntarmos a professores de nossas escolas o que são os conteúdos de ensino, provavelmente responderão: são os conhecimentos de cada matéria do currículo que transmitimos aos alunos; dar conteúdo é transmi- tir a matéria do livro didático” (LIBÂNEO, 1994, p. 127). De certo modo, esse entendimento não é totalmente equivocado, pelo fato de que o ensino se pauta em três elementos: a matéria, o professor e o aluno. Os professores compreendem essa ordem de maneira linear, sem perceber o feedback oriundo do movimento dessas três catego- rias, um movimento dinâmico, que não obedece uma linearidade. Entendemos o conteúdo como “o conjunto de conhecimentos, ha- bilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagogicamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua vida prática” (LIBÂNEO, 1994, p. 128). Assim, os conteúdos retratam a experiência social da huma- nidade no que se refere a conhecimentos e modos de ação, trans- formando-se em instrumentos pelos quais os alunos assimilam, compreendem e enfrentam as experiências da vida. Os diferentes 26 • pedagogia dos esportes conteúdos são organizados em matérias de ensino e dinamizados pela articulação objetivos-conteúdos-métodos e formas de organi- zação do ensino, nas condições reais em que ocorre o processo de ensino (Op. Cit.,). Outro aspecto importante é que a escolha dos conteúdos parta de princípios que revelem intrínsecarelação entre o conhecimento e prática social. “Os conhecimentos e modos de ação surgem da práti- ca social e histórica dos homens e vão sendo sistematizados e trans- formados em objetos de conhecimento, assimilados e reelaborados, são assim instrumentos de ação para atuação na prática do social e histórica” (Op. Cit., p. 130). Assim, segundo Haidt (2001) conteúdo é tudo aquilo que é passível de integrar um programa educativo com vistas à formação das novas gerações. Um conteúdo pode referir-se a conhecimentos, atitudes, hábitos, etc. Conforme Libâneo (1994) os conteúdos se compõem de quatro elementos: conhecimentos sistematizados, são a base da instrução e do ensino; habilidades, são qualidades intelec- tuais necessárias para a atividade mental no processo de assimila- ção de conhecimentos; atitudes e convicções, referem-se ao modo de agir, de sentir e de se posicionar frente as tarefas da vida social; capacidades cognitivas que correspondem aos processos psíquicos da atividade mental. O MÉTODO: caminho para formação Para construção de uma proposta pedagógica para o ensino, o entendimento e apropriação do método é fator determinante e es- sencial. Nesse sentido, o método constitui-se como caminho de aná- lises críticas, perspectivas e sobretudo, de formação em que alunos, professores estão imersos de modo indissociáveis. Com isso, ao re- fletirmos sobre o método temos que analisar a relação entre objetivo/ conteúdos. Como explica Libâneo (1994, p. 149): Os métodos são determinados pela relação objetivo-conteú- do, e referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e es- pecíficos do ensino, ou seja, ao ‘como’ do processo de ensino, esporte • 27 englobando ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos para atingir os objetivos e o conteúdo. Isso porque o método de ensino vai ser escolhido e movimen- tado a depender do que se queira atingir e qual conjunto de conhe- cimentos se quer ensinar. Ou seja, “as ações a serem realizadas pelo professor e pelos alunos, para atingir os objetivos e conteúdo” (LIBÂ- NEO, 1994). Dessa forma, tem-se como características do método a orientação para o objetivo, uma sucessão planejada e sistematizada de ações, tanto do professor quanto do aluno. Assim, o método “é o caminho para atingir um objetivo”. Assim, cabendo aos métodos a dinamização das condições e modos de realização do ensino, que influenciam na reformulação dos objetivos e conteúdos. Em síntese é o conjunto de ações utili- zadas para alcançar os objetivos de acordo com os conteúdos apre- sentados no planejamento. Sendo atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permitem alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do Professor. AVAlIAÇÃO: meio e não fim A avaliação segundo Libâneo (1994) tem como finalidade ava- liar o trabalho docente que deve ser realizado a todo o momento no processo de ensino e aprendizagem. É diante da avaliação que o pro- fessor terá consciência de como a turma está respondendo aos seus métodos, pois é através da avaliação que o docente irá observar se o objetivo foi alcançado e assim poder orientar as novas decisões em relação às atividades didáticas seguintes. É, portanto, um processo de coleta e análise de dados, quantitativos e qualitativos, e na sua interpretação com base em critérios previamente definidos. Assim, entendemos que a avaliação não se constitua com fim em si mesma, mas como meio de entender o processo de ensino e aprendizagem. Para Luckesi (2001), o ato de avaliar implica na disposição de acolher, avaliar um educando implica, antes de mais nada, acolhe-lo no seu ser e no seu modo de ser, como está, para, a partir daí, decidir 28 • pedagogia dos esportes o que fazer. A avaliação implica em dois processos articulados e in- dissociáveis: diagnosticar e decidir. Nesta perspectiva, o processo de diagnosticar se constitui de uma constatação e de uma qualificação do objeto da avaliação, para isso é preciso de dados relevantes, instrumentos e a utilização dos instrumentos. O primeiro passo, é coletar dados relevantes, que con- figurem o estado de aprendizagem do(s) educando(s), é preciso co- letar os dados essenciais para avaliar aquilo que se pretende avaliar. São os dados que caracterizam especificamente o objeto em pauta da avaliação. Dados essenciais são aqueles que estão definidos nos planejamentos de ensino, a partir de uma teoria pedagógica, e que foram traduzidos em práticas educativas nas aulas. Isso implica que o planejamento de ensino necessita ser produzido de forma cons- ciente e qualitativamente satisfatória, tanto do ponto de vista cientí- fico como do ponto de vista político-pedagógico (Op. Cit.,). Os instrumentos de acordo com Luckesi (2001) devem ser adequados para coletar os dados que necessitamos para configurar o estado de aprendizagem do nosso educando, quaisquer que sejam os instrumentos – prova, teste, redação, monografia, dramatização, exposição oral, arguição, etc. – necessita manifestar qualidade satis- fatória como instrumento para ser utilizado na avaliação da aprendi- zagem escolar, sob pena de estarmos qualificando inadequadamente nossos educandos e, consequentemente, praticando injustiças. A constatação oferece a base material para a segunda parte do ato de diagnosticar, que é qualificar, ou seja, atribuir uma qualidade, positiva ou negativa, ao objeto que está sendo avaliado. Essa quali- ficação é estabelecida a partir de um determinado padrão, de um determinado critério de qualidade que temos, ou que estabelecemos, para este objeto. Segundo Luckesi (2001), a prática da avaliação da aprendi- zagem, para manifestar-se como tal, deve apontar para a busca do melhor de todos os educandos, por isso é diagnóstica, e não voltada para a seleção de uns poucos, como se comportam os exames. Por si, a avaliação, como dissemos, é inclusiva e, por isso mesmo, democrá- tica e amorosa. Por ela, por onde quer que se passe, não há exclusão, mas sim diagnóstico e construção. Não há submissão, mas sim liber- dade. Não há medo, mas sim espontaneidade e busca. esporte • 29 A avaliação do eixo curricular é o fundamental norteador do projeto pedagógico que se materializa nas aprendizagens dos alunos. A avaliação é determinada pelo processo de trabalho pedagógico re- lacionado dialeticamente com tudo o que a escola assume, corpori- fica, modifica e reproduz e que é próprio do modo de produção da vida em sociedades capitalistas dependentes e periféricas (COLETI- VO DE AUTORES, 1992). Nesse sentido, a avaliação deve evidenciar “o nível de qualida- de do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos” (LIBÂ- NEO, 1994, p. 195). Por esta ótica a avaliação irá refletir o trabalho das três partes que compõe o processo de ensino: escola, aluno e pro- fessor. Para o Professor Cipriano Luckesi “a avaliação é uma apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo de ensino e aprendiza- gem que auxilia o professor a tomar a decisão sobre o seu trabalho” (LIBÂNEO apud LUCKESI, 2001, p. 196). Em outras palavras, é atra- vés da avaliação que a aprendizagem pode ser verificada. Isso porque é o retorno que o aluno dá no processo avaliativo que possibilita ao Professor rever ou não o método, a didática desenvolvida na aula, o encadeamento dos conteúdos, dando assim movimento ao processo ensino-aprendizagem na escola. É função da avaliação: 1 – a verifi- cação, 2 – qualificação e 3 – apreciação. O primeiro termo refere-se aos dados coletados, por meio de provas, atividades avaliativas, um meio de observar o desenvolvimento do aluno. O segundo termo, é o confronto dos dados recolhidos com os objetivos e por fim, o terceiro termo, que se refere a análise dos resultados. Neste sentido, que a avaliação na constituição do PPP consti- tui-se um elemento importante para uma reflexão crítica das ações elaboradas. Porém, a avaliação escolar e asmodalidades avaliativas usadas em sala de aula têm sido tema de grandes debates, instigando pesquisadores, educadores e especialistas da área da educação a dis- cutirem as diferentes abordagens que são utilizadas na avaliação da aprendizagem. Essa tendência tradicional é herdada da educação je- suítica, e no contexto da história da educação foi a pedagogia vigente do século XVI, no período colonial, com resquícios até os dias atuais. Temos clareza de que nem sempre os resultados encontrados refletem a aprendizagem do aluno. Uma vez que no momento em que está sendo avaliado, diversos fatores podem “atrapalhar”, seja um problema de ordem psicológica, pessoal, física Ainda, há àqueles 30 • pedagogia dos esportes que têm dificuldades em transcrever para o papel as ideias quando avaliados por meio de uma prova escrita. Esta pode acarretar num desempenho ruim, ou abaixo do que se espera. Portanto, estamos diante de um elemento de grande complexidade e dificuldade de compreensão, mas, que se constitui parte necessária e imprescindível na constituição do Projeto Político Pedagógico (PPP). InTRODUÇÃO DA EDUcAÇÃO FÍSIcA/ESPORTE AO PPP: uma reflexão necessária! A partir deste plano discursivo que envolveu os aspectos ge- rais do PPP, entrelaçamos a Educação Física, juntamente com o con- teúdo esporte, na constituição de uma proposta pedagógica. Segun- do Libâneo (1994), em relação ao atendimento da função educativa do ensino, a Educação Física ocupa um lugar importante no desen- volvimento integral da personalidade por proporcionar oportuni- dades de expressão corporal, autoafirmação, formação de caráter e desenvolvimento de coletividade. Pois a principal tarefa da escola é a democratização dos conhecimentos, garantindo uma cultura de base para todos os alunos. As aprendizagens decorrentes das práticas pedagógicas da Educação Física devem ampliar a compreensão dos alunos em re- lação as práticas corporais e a sua própria cultura de movimento. Assim, organizar didaticamente os seus conhecimentos pedagógicos é assimilar a necessidade de sistematização dos seus conteúdos para possibilitarmos uma aprendizagem mais ampla e abrangente, pois os alunos não se apropriam de um conhecimento específico em uma única aula, uma vez que a aprendizagem é um processo gradativo. Sendo assim, para o Coletivo de Autores (1992) o projeto po- lítico-pedagógico representa uma intenção, ação deliberada e estra- tégica. É político porque expressa intenção em determinada direção e é pedagógico porque realiza a reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicando suas determinações. O projeto se realiza na escola e se manifesta no currículo. O conteúdo deve possuir princípios metodológicos, da lógica dialética, que devem ser organizados, sistematizados e fundamentados, esporte • 31 e assim, serem selecionados como constituinte curricular. São prin- cípios: a relevância, a contemporaneidade, a adequação às possibili- dades sócio cognoscitivas do aluno e a provisoriedade do conheci- mento (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Para estes autores, a Educação Física trata do conhecimento de uma área denominada cultura corporal configurada em temas corpo- rais como o jogo, o esporte, a luta, a ginástica e a dança, e que expressa um sentido/significado nos quais se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/objetivos da sociedade. Assim, os conteúdos que partem desse objeto de estudo devem ser selecionados em função de sua contemporaneidade, sendo dialógica, comunicativa, produtivo-criativa e participativa. A partir dessas discussões, pensando numa relação que envol- va a Educação Física, o Esporte e o Projeto Político Pedagógico, nós enquanto professores, devemos desvelar interesses políticos ideo- lógicos, resgatando outros papéis sociais possíveis ao esporte, seja como conteúdo escolar ou enquanto opção de lazer. Com isso, que- remos dizer que o esporte na perspectiva educacional possui uma reflexão e entendimento maior, já que o esporte é um elemento de grande importância no entendimento da sociedade contemporânea e se manifesta sobre diferentes dimensões sendo o alto rendimento a que mais é percebida pela sociedade, tendo em vista o poder de disseminação dos meios de comunicação de massa. De acordo com Pires e Silveira (2007) acerca do esporte edu- cacional parte de duas teses distintas sobre esta vertente do esporte. A primeira tese afirma que ele não existe, manifestando-se que o es- porte visa apenas o rendimento ou aquele vivenciado no tempo li- vre, não havendo possibilidade de ser educacional. Já a segunda tese parte do pressuposto de que todo esporte é educacional, afirmando que sempre é possível aprender alguma coisa com o esporte, seja de forma intencional ou não. Obviamente, para compreender o papel do esporte no ambien- te escolar, faz-se necessário compreender a influência determinante que foi o período educacional – dentro das instituições de ensino – durante a ditadura militar no Brasil. Neste regime o esporte foi amplamente difundido como único método de ensino da Educação Física, sempre baseado na lógica do rendimento e explorando todo 32 • pedagogia dos esportes seu potencial alienante. Isso fez com que o esporte fosse mal visto por muitas pessoas durante o período de redemocratização. Durante o período de redemocratização – pós ditadura mili- tar – apesar de trazer grandes contribuições teóricas para o debate sobre o esporte educacional, na prática não promoveu grandes al- terações na forma como ele vinha sendo tratado, pois, se continuou reproduzindo a lógica do rendimento e a escola nunca deixou de ser uma ferramenta para a formação de atletas quando na verdade deve- ria ser o contrário (PIRES e SILVEIRA, 2007). Entendemos que de fato o esporte, enquanto conhecimen- to cultural elaborado pela humanidade, não pode ser negado aos alunos, independente da forma como se apresenta é condição sine qua nom garantir a inclusão de todos os cidadãos na cultura espor- tiva tornando-os autores e produtores de sua própria relação com o mesmo (PIRES e SILVEIRA, 2007).A prática do esporte deve ir além dos seus fundamentos. É necessária uma transformação didá- tico-pedagógica dos esportes, como citado por Kunz (2001, p. 126) “essas transformações devem ocorrer, acima de tudo, em relação as insuficientes condições físicas e técnicas do aluno para realizar com certa perfeição a modalidade em questão”. Essa transformação deve propiciar uma reflexão no trabalho pedagógico. Muitos outros con- teúdos devem ser propostos pelos professores para motivar seus alu- nos à participação. Portanto, o PPP representa aqui uma proposta inclusiva na qual possibilite a participação de todos na aquisição da aprendizagem dos conteúdos das aulas de Educação Física, nesse caso o Esporte. AS MODAlIDADES ESPORTIVAS EM PAUTA: uma síntese possível! Na proposta da Disciplina Pedagogia dos Esportes buscamos o entendimento acerca do Esporte (em seus aspectos conceituais, his- tóricos e pedagógicos); do Projeto Político Pedagógico (aproprian- do-se dos conceitos elementares acerca do que ele significa para a sociedade); bem como, das modalidades esportivas escolhidas pelos alunos (aqui, discorremos sobre a história da modalidade, seus fun- damentos básicos e suas regras). esporte • 33 No campo empírico possibilitamos a construção de três ver- tentes para uma proposta pedagógica do esporte. A primeira em que os alunos constroem sua proposta conectando-a ao PPP; a segunda, com a possibilidade de reconstrução, ou seja, aquilo que, hegemo- nicamente, já está constituído, como o esporte espetáculo, há então, um redimensionamento de seus conteúdos, métodos etc.; e a terceira que se constitui na perspectiva do Fundamento-jogo. Fundamento-jogo2 – consiste em desenvolver o aprendizado de qualquer modalidade esportiva numa sequência gradativa – do mais simples para o mais complexo – em que o fundamento básico da modalidade é o temacentral da aula associado ao jogo. Não sig- nifica dizer que no final da aula o professor realizou um jogo, mas, a preocupação principal é observar como aquele fundamento apreen- dido aparece no jogo e com isso posto, sempre problematizá-lo. Por- tanto, requer tempo de apropriação, requer um olhar atento para poder parar a aula, discutir, problematizar, reiniciar (ação-reflexão- -ação), criar estratégias metodológicas para que todos participem, preocupando-se com a segurança da prática e gradativamente ir co- locando as regras básicas do jogo. Tomaremos o Basquetebol para exemplificação do Funda- mento-jogo: Para 1ª aula – conhecemos o espaço, os alunos; siste- matizamos a sequência dos fundamentos básicos (Controle de Cor- po, Manejo de Bola, Recepção, Passe, Drible, Arremesso, Rebote e Posição Básica de Defesa) e iniciamos o processo. A primeira aula cujo tema é controle de corpo e manejo de bola. O objetivo é propor- cionar o aprendizado dos fundamentos e sua relação com o jogo de Basquetebol; realizamos a sequência pedagógica com corridas para frente e para trás, frente à frente, desviando um dos outros, paradas bruscas etc; bem como, o manejo da bola, sua posição inicial, a pe- gada na bola; atividades que envolvam os dois fundamentos, brin- cadeiras etc. Dividimos a turma para o jogo – metade para um lado e metade para outro – independentemente do número de alunos. A princípio, a ideia é jogar (como quiser) a bola para que entre na cesta; cada grupo deve ficar numa área restritiva e, somente ai, pode 2 O Fundamento-jogo é uma criação no âmbito da Disciplina Pedagogia dos Es- porte elaborada pelo professor Sérgio Dorenski/DEF/UFS. 34 • pedagogia dos esportes tentar tomar a bola da outra equipe, não podendo sair dessa área. Mas, quem ataca pode entrar. Na transição da área defensiva para a ofensiva não pode tomar a bola. Essas regras iniciais ajudam a evitar acidentes, bem como, proporcionam a pessoa ter mais tranquilidade para ficar com a bola sem medo de alguém tomá-la. O olhar do professor será para verificar se o fundamento prin- cipal da aula está em evidência, se os alunos estão realizando-os durante o jogo e, sempre que possível, o professor deve intervir e problematizar, solicitar que explorem todo espaço, que aproveitem a bola e o corpo, brinquem, enfim que comecem a se “soltar”. Para 2ª aula com os fundamentos recepção e passe o profes- sor deve recuperar a aula anterior, no tocante aos fundamentos com atividades como jogos e brincadeiras e insere os novos fundamentos. Primeiro seu conceito, como deve ser os movimentos e propõem ou- tras atividades sequenciais, principalmente em deslocamento e in- cluindo o ritmo binário. Divide-se a turma e prepara-se para o jogo. Recupera-se as regras anteriores, incluindo outras, principalmente no tocante ao espaço de jogo e não poderá correr com a bola fixa, po- dendo dar apenas dois passos segurando a bola, caso ultrapasse terá que driblar ou dar o passe. O olhar do Professor será para os novos fundamentos e sua relação com os anteriores e sempre que possível orientar os alunos que procurem realizá-los. Para marcar o ponto, o aluno ainda pode jogar a bola à cesta de qualquer jeito, no entanto, pode utilizar da maneira que aprendeu a pegar e passar a bola. Para 3ª aula incluiremos o drible. Este é um fundamento bas- tante rico e estimulante que pode ser usado o tempo todo. Os alunos apreendem em sua forma inicial, gesticulando sem a bola, depois incluindo-a, parado, em movimento, mudando de direção. Aqui também são ilimitadas as sequências pedagógicas para seu apren- dizado com brincadeiras, corridas, pega-pega etc., mas, principal- mente articulando atividades que envolvam os fundamentos ante- riores. No jogo faz o resgate das regras anteriores e incluindo novas, principalmente, com relação ao drible, pois, agora só será possível executando-o com uma mão e caso pare o movimento do drible, de- verá passar a bola ao colega ou tentar fazer o ponto, mas, não mais pode driblá-la. Para 4ª aula o fundamento central é o arremesso. Iniciaremos com atividades didáticas que envolvam os fundamentos anteriores esporte • 35 (passe, recepção, drible em deslocamento, etc.). Dando continuida- de, conceituamos o arremesso, experimentamos sua forma, com e sem bola, parado, em suspensão e com o ritmo binário. No jogo, solicitamos que agora tentem fazer o ponto (cesta) com o arremesso apreendido. Ainda com a regras anteriores, incluímos outras como, ao passar para o ataque a bola não pode voltar à defesa entre outras. Para 5ª aula destinamos para o rebote e a posição básica de defesa. Nessa aula fechamos o ciclo dos fundamentos básicos (sem- pre com atividade que envolvam todos os fundamentos anteriores – passe, recepção, drible e arremesso) e o jogo agora com o posi- cionamento na área restritiva em que os menores (altura) ficam na frente da área e os maiores atrás. Caso seja possível, podemos expe- rimentar “soltar” os alunos, ou seja, não haverá mais limites a área restritiva, o jogo deve fluir com um grupo atacando e outro defen- dendo e vice-versa. O número de jogadores também diminui para cinco em cada equipe. Caso tenha uma turma, por exemplo, com vinte ou mais alunos, pode-se fazer o rodízio. Divide-se em quatro grupos (A, B, C e D) com cinco alunos cada. A jogará com B e C com D ficarão respectivamente fora (fundo) da quadra, sempre que um grupo atacar e voltar para sua defesa ele sai da quadra enquanto o outro entra e assim por diante. O importante disso é que todos os alunos participem o tempo todo da aula e passem a obter uma noção de posicionamento ao jogo respeitando suas características físicas e associando no seu movimento corporal para o jogo, todos os funda- mentos apreendidos. Nas aulas seguintes é importante instigar as variações dos fun- damentos, ou seja, as “famílias3”. Por exemplo, no passe temos vários tipos, assim como no drible, arremesso entre outros, então, pode-se pensar atividades que envolvam o passe picado com o passe por cima da cabeça, giro com pé de apoio e arremesso tipo jump, rebote de- fensivo e ofensivo, etc., enfim, a família do passe, une-se a família do drible, do arremesso e assim, sucessivamente. 3 Famílias representam os tipos de cada fundamento e aqui elaboramos atividades envolvendo-os entre si. O Passe existe suas variações como Passe Picado, Por Cima da Cabeça, Gancho etc; O Drible existe o Drible Alto, Baixo, Com Mudan- ça de Direção etc.; O Arremesso existem o Arremesso Parado, em Suspensão (Bandeja, Jump), Tipo Gancho etc. 36 • pedagogia dos esportes Destaca-se que o aspecto técnico do fundamento em si não é desprezado, no entanto, ele não é único. É importante que o alu- no saiba como é tecnicamente, pois, isso facilitará seu aprendizado, mas, que isso não vire obsessão e que paire sobre o imaginário dos alunos que somente assim pode-se jogar. A técnica é um meio facili- tador e não o fim em si mesma. Portanto, resumidamente, foi explicitado como seria uma se- quência pedagógica do aprendizado do esporte na perspectiva “Fun- damento-jogo” o que poderá ser elaborado para outras modalidades esportivas. Apresentaremos agora, uma síntese das modalidades esporti- vas (Basquetebol, Voleibol, Futebol, Futsal e Handebol) tematizadas na Disciplina no tocante à História, seus Fundamentos Básicos e suas Regras Básicas. bASQUETEbOl » História do basquetebol A história do Basquetebol é repleta de nuances que o diferen- cia de outras modalidades esportivas. A começar por ser uma moda- lidade conscientemente inventada para um determinado fim (SILVA, 1991). Isto rompe, em certa medida, em relação a outros esportes em que há uma evolução e mudança com relação ao seu tempo histórico, exemplo explícito do Futebol. Assim, o Basquetebol foi criado em 1891 na cidade de Spring- field, Massachutts (EUA) por um Professor de Educação Física com o intuito de suprir a necessidade de atividades físicas no inverno. Dessa forma surge a partirde uma série de condições relativas ao mundo moderno, tais como: uma alternativa de substituição aos mé- todos ginásticos europeus, a partir da organização das cidades, do sistema escolar e da existência de tempo livre para utilizar na prática esportiva. Além disso, deveria ser competitivo para ter boa aceitação, também ser científico para ser mais aceito pelos adultos, dessa forma o Basquetebol já inicia sua trajetória histórica com a marca de algumas características da ordem econômico-social capitalista (SILVA, 1991). esporte • 37 O Basquetebol foi criado àquela época, principalmente, devi- do às condições climáticas, pois, o inverno rigoroso impossibilitava a prática de esportes ao ar livre, sendo que as práticas físicas em locais fechados se limitavam à ginástica que pouco despertava o interesse dos alunos. A partir disso, Luther Halsey Guillik, diretor do Collége Internacional da Associação Cristã de Moços solicitou ao Professor James Naismith a seguinte tarefa: criar um jogo que despertasse os alunos no período do inverno e que também possibilitasse sua práti- ca no verão em locais abertos (SILVA, 1991). Encontramos na história do Basquetebol, na formulação do jogo em si, que era necessário um alvo fixo com certa dificuldade, que fosse jogado com uma bola, cujo tamanho superasse os de uma bola de futebol e que quicasse bastante. Ainda, que o jogo não pode- ria apresentar os níveis de violência do futebol americano e que a sua essência fosse à coletividade, seguindo o princípio cristão do amor ao próximo (CBB, 2018). Neste ínterim, outra questão importante foi instigada caso a bola fosse jogada com os pés, pois o choque ainda existiria. Com isso, o Professor James Naismith optou pelo uso das mãos no jogo. No entanto, a bola não poderia ser segurada por muito tempo, além de não poder ser batida com os punhos fechados, para que fosse evi- tado algum soco acidental nas disputas dos lances (CBB, 2018). A localização que seria atingida pela bola seria de 10 pés4, mas, primeiro ele pensou em posicionar um alvo no chão, porém já existiam esportes (o hóquei e o futebol), por isso, ele decidiu posi- cionar o alvo a 3,05m de altura, medida oficial até hoje. O Professor imaginou que nenhum jogador de defesa fosse capaz de parar a bola que fosse arremessada para o alvo e que também, dificultaria o jogo como era desejo do diretor da escola (SILVA, 1991; CBB, 2018). Além dessa questão de onde seria o melhor lugar para colocar o alvo, também, precisou-se pensar como seria esse alvo, qual seria 4 Pé (ou pés no plural; símbolo: ft ou ′ ) é uma unidade de medida de comprimen- to. Um pé corresponde a 12 polegadas e três pés são uma jarda. Esse sistema de medida é utilizado atualmente no Reino Unido, nos Estados Unidos. Esta medida é amplamente usada na aviação e atualmente equivale a 30,48 centíme- tros. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A9_ Acesso em: 03 de Dez. 2018. 38 • pedagogia dos esportes sua aparência. Garimpando a história do Basquetebol encontramos resíduos em que James Naismith solicitou ao zelador do colégio uma caixa com medidas de oito polegadas (45x72cm). Assim, o zelador foi no depósito, quando voltou trazia consigo dois cestos de pêssego. Após alguns ajustes ele posicionou os cestos na parte superior das pilastras, que ele imaginou ter mais de três metros de altura, uma em cada lado da quadra, conforme Foto 1 e Foto 2 nas quais ilustram este momento histórico (CBB, 2018). Foto 1 – Primeira quadra de Basquetebol no Springfild College. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bas- quetebol#/media/File:Firstbasketball.jpg Foto 2 – Professor James Naismith com a primeira bola e o cesto de pêsse- go que iniciará o Jogo de Basquetebol. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Basque- tebol#/media/File:Dr._James_Naismith.jpg O Professor James Naismith pensou rapidamente nas regras, pelo menos as primeiras, que continham treze itens, conforme abai- xo (CBB, 2018; SILVA, 1991): 1 – A bola pode ser arremessada em qualquer direção com uma ou com ambas as mãos; esporte • 39 2 – A bola pode ser tapeada para qualquer direção com uma ou com ambas as mãos (nunca usando os punhos); 3 – Um jogador não pode correr com a bola. O jogador deve arremessá-la do ponto onde pegá-la. Exceção será feita ao jo- gador que receba a bola quando estiver correndo a uma boa velocidade; 4 – A bola deve ser segura nas mãos ou entre as mãos. Os braços ou corpo não podem ser usados para tal propósito; 5 – Não será permitido sob hipótese alguma puxar, empur- rar, segurar ou derrubar um adversário. A primeira infração desta regra contará como uma falta, a segunda desqualificará o jogador até que nova cesta seja convertida e, se houver in- tenção evidente de machucar o jogador pelo resto do jogo, não será permitida a substituição do infrator; 6 – Uma falta consiste em bater na bola com o punho ou numa violação das regras 3, 4 e 5; 7 – Se um dos lados fizer três faltas consecutivas, será marca- do um ponto a mais para o adversário (Consecutivo significa sem que o adversário faça falta neste intervalo entre faltas); 8 – Um ponto é marcado quando a bola é arremessada ou tapeada para dentro da cesta e lá permanece, não sendo per- mitido que nenhum defensor toque na cesta. Se a bola estiver na borda e um adversário move a cesta, o ponto será marcado para o lado que arremessou; 9 – Quando a bola sai da quadra, deve ser jogada de volta à quadra pelo jogador que primeiro a tocou. Em caso de disputa, o fiscal deve jogá-la diretamente de volta à quadra. O arremesso da bola de volta à quadra é permitido no tempo máximo de 5 segundos. Se demorar mais do que isto, a bola passará para o adversário. Se algum dos lados insistir em re- tardar o jogo, o fiscal poderá marcar uma falta contra ele; 10 – O fiscal deve ser o juiz dos jogadores e deverá observar as faltas e avisar ao árbitro quando três faltas consecutivas forem marcadas. Ele deve ter o poder de desqualificar joga- dores, de acordo com a regra 5; 11 – O árbitro deve ser o juiz da bola e deve decidir quando a bola está em jogo, a que lado pertence sua posse e deve con- trolar o tempo. Deve decidir quando um ponto foi marcado e controlar os pontos já marcados, além dos poderes normal- mente utilizados por um árbitro; 40 • pedagogia dos esportes 12 – O tempo de jogo deve ser de dois meio-tempos de 15 minutos cada, com 5 minutos de descanso entre eles; 13 – A equipe que marcar mais pontos dentro deste tempo será declarada vencedora. Em caso de empate, o jogo pode, mediante acordo entre os capitães, ser continuado até que outro ponto seja marcado. Assim, com 18 alunos na aula, foram escolhidos dois capitães que lhes fora solicitado que escolhessem um dos lados da quadra e seus colegas para compor as equipes. Após isso, ele escolheu dois dos alunos mais altos para disputarem a bola no alto, tinha-se então, o primeiro jogo de Basquetebol. Outro aspecto importante foi que não se preocuparam em registrar a data do jogo, o que se sabe é que foi em dezembro de 1891, pouco antes do natal (CBB, 2018). Ficou explícito nessas 13 regras que, para James Naismith, havia uma preocupação em evitar acidentes e o contato físico mais violento entre os jogadores, no entanto, constatou-se um número de faltas foi muito elevado o que levou a incluir ato punitivo aos jogadores que as cometiam, os quais ficassem na linha lateral da quadra até que a próxima cesta fosse convertida. Durante o jogo foi detectada uma limitação, quando o arremesso era efetuado o jogador tinha que pegar a bola na cesta. Para resolver o problema o fundo da cesta foi cortado, o que possibilitou uma rápida retomada do jogo. Depois que o diretor aprovou o jogo, a primeira partida oficial foi marcada para o dia 11 de março de 1892, nesta ocasião os alunos venceram os professores por 5 a 1, presenciaram esta partida 200 pessoas (CBB, 2018). O Basquetebol se difundiu rapidamente a partir da Associa- ção Cristã de Moços (ACM)que tinha colégios por todo continente. Cinco anos depois da criação já havia atletas profissionais e em 1926 atingia 15 milhões de praticantes nos EUA (LOTUFO, 1953 apud SILVA, 1991). A partir da década de 30 esse esporte passa a ter sua aten- ção mais voltada para os espectadores e em particular uma situação provoca algumas mudanças. O boxe era um esporte muito popular e com várias arenas espalhadas pelo país, porém depois da crise de 1929 provocada pela queda da bolsa de Nova Iorque – New York (NY) ele perdeu muita popularidade e muitos de seus espaços – giná- sios – ficaram vazios, então, procurou-se outro esporte que pudesse esporte • 41 aproveitar os espaços sem muitas alterações, era uma tentativa de recuperar economicamente o setor, com isso, os jornalistas organi- zaram uma competição de Basquetebol e conseguiram reunir 16 mil espectadores (SILVA, 1991). A fundação da Federação Internacional de Basquetebol Ama- dor (FIBA) em 1932 também foi importante para difusão mundial desse esporte. Através da unificação das regras, possibilitou competi- ções internacionais entre os países que o conheciam e também, apre- sentando ao público que o desconhecia. Em 1936 foi oficialmente admitido nos Jogos Olímpicos Modernos de Berlim (SILVA, 1991). A associação com a mídia foi decisiva para sua popularização. Depois da grande identificação do público com o esporte nos anos 20, através da mídia impressa, na década de 30 com a mídia falada (o rádio), na década de 50 o Basquetebol, nos Estados Unidos e daí para o mundo, entra na era televisiva com a cobertura dos esportes e amplia sua aceitação o que vai marcar uma nova era em que os inte- resses comerciais se ampliam extrapolando os objetivos iniciais para qual esse esporte foi criado (SILVA, 1991). No final da década de 40, nos Estados Unidos, a Liga Nacional de Basquetebol (NBL) e a Associação de Basquetebol da América (BAA) foram fundidas, surgindo assim a Associação Nacional de Basquetebol (NBA) o que gerou maior apoio financeiro de empresas e com isso, a tornou uma instituição poderosa, economicamente, até os dias de hoje. O lado econômico ampliou mais ainda a espetacula- rização do Basquetebol o que fez aumentar o número de espectado- res (SILVA, 1991). Esse processo de difusão e mercadorização iniciado na década de 50 já era significativo, mas, ainda pequeno. É a partir de 1970 que há um grande investimento da televisão no Basquetebol já que nesta década o número de residências com televisores nos EUA era mas- sivo e nessa temporada o número de espectadores estimava-se em 150 milhões de americanos. Isso levou a um processo de espetacu- larização em que as mudanças estruturais no esporte (Basquetebol) foram determinantes como as mudanças nas regras, o surgimento e eficiência dos gestos técnicos esportivos, principalmente com auxílio da biomecânica e com isso, características corporais e padrões de de- sempenho foram alterados na busca de melhor aceitação do público (SILVA, 1991). 42 • pedagogia dos esportes » HISTÓRIA DO BASQUETEBOL NO BRASIL No Brasil o Basquetebol chegou através de Augusto Shaw, um norte-americano nascido na cidade de Clayville (NY), que comple- tou seus estudos na Universidade de Yale, em 1892 onde graduou-se como bacharel em artes e teve contato pela primeira vez com o Bas- quetebol. Dois anos depois, ele recebeu um convite para lecionar no Mackenzie College, em São Paulo, trazendo na bagagem uma bola de Basquetebol. Demorou um pouco até que o professor pudesse ver o Basquetebol adotado no Brasil. A nova modalidade, inicialmente, foi mais receptiva com as mulheres e isto, numa sociedade em que há um forte machismo, principalmente àquela época, mas, que ainda se faz presente em nossa sociedade atual – a exemplo de algumas modali- dades esportivas como é o caso da presença das mulheres no futebol e nas lutas – afastou sua prática entre os homens. Além disso, havia uma forte concorrência com o futebol, trazido em 1894 por Charles Miller e que se tornou o esporte hegemônico no Brasil da época entre os ho- mens. Quebrada a resistência ele conseguiu montar a primeira equipe masculina do Mackenzie College, em 1896 (CBB, 2018). Efetivamente a aceitação nacional do Basquetebol veio através de Henry Sims, então diretor de Educação Física da ACM, do Rio de Janeiro e do professor Oscar Thompson. Em 1913, a seleção chilena de futebol esteve no Brasil a convite do América Futebol Clube. Seus integrantes, membros da ACM da cidade de Santiago, passaram a frequentar o ginásio da chamada “Rua da Quintada”. Henry Sims, convenceu os dirigentes do América a introduzir o Basquetebol no clube da Rua Campos Salles, no bairro da Tijuca e para animá-los, arranjou um jogo contra os chilenos oferecendo uma equipe da ACM, com o uniforme do América que triunfou pelo placar de 5 a 4. Assim, o América foi o primeiro clube carioca a adotar o Basque- tebol (CBB, 2018). As primeiras regras em português foram traduzidas em 1915. Nesse ano a ACM realizou o primeiro torneio da América do Sul, com a participação de seis equipes. O sucesso foi tão grande que a Liga Metropolitana de Sports Athléticos, res- ponsável pelos esportes terrestres no Rio de Janeiro, resolveu adotar o basquete em 1916. O primeiro campeonato oficia- esporte • 43 lizado pela Liga foi em1919, com a vitória do Flamengo. Em 1922 foi convocada pela primeira vez a seleção brasileira, quando da comemoração do Centenário do Brasil nos Jogos Latino-Americanos, um torneio continental, em dois turnos, entre as seleções do Brasil, Argentina e Uruguai. O Brasil sagrou-se campeão, sob a direção de Fred Brown. Em 1930, com a participação do Brasil, foi realizado, em Montevidéu, o primeiro Campeonato Sul-Americano de Basquete (CBB, 2018, on-line). Em 1933 houve uma divisão no esporte nacional quando os clubes que adotaram o profissionalismo do futebol criaram entida- des especializadas de outros esportes. Dessa forma, nasceu a Fede- ração Brasileira de Basketball que foi fundada em 25 de dezembro de 1933, no Rio de Janeiro. Quase uma década depois, no dia 26 de dezembro de 1941, em uma assembleia foi aprovado um novo nome da entidade, passando a se chamar Confederação Brasileira de Bas- ketball que se mantém até os dias de hoje (CBB, 2018). Dentre os vários títulos da seleção brasileira de Basquetebol, destacam-se os Campeonatos Mundiais de 1959, no Chile e 1963, no Rio de Janeiro, Brasil, em que se tornou bicampeão mundial da modalidade. » FUNDAMENTOS BÁSICOS DO BASQUETEBOL5 Entre os fundamentos do Basquetebol destacamos: controle de corpo; manejo de bola; drible, recepção, passe, arremesso, rebote e posição básica de defesa. Com isso, o fundamento do controle de bola caracteriza-se pela capacidade de realizar movimentos e gestos específicos do Basquetebol exigidos pela dinâmica do jogo que são as corridas para frente, trás e laterais, corridas com mudança de di- reção, fintas, giros e as paradas bruscas, que são caracterizadas pela 5 Os conceitos dos fundamentos citados são baseados na obra: Ferreira, Aluísio; Xavier, Elias. Basquetebol: técnicas e táticas, uma abordagem didática peda- gógica. São Paulo: EPU, 1987. Apesar de haver outras literaturas relacionadas, escolhemos esta obra clássica pelo fato do autor abordar os fundamentos do basquetebol de maneira pedagógica e de fácil entendimento possibilitando aos iniciantes do esporte compreender e realizar cada gesto de maneira correta. 44 • pedagogia dos esportes interrupção do deslocamento para dificultar a ação da defesa. Já o manejo de bola é um fundamento que tem como objetivo melhorar a habilidade geral do aluno no contato com a bola nas diversas pos- sibilidades de movimentos com ela como rolar, tocar, quicar, segurar, lançar, enfim, permitir o manuseio nos diversos planos do corpo, criando uma intimidade com a bola a partir dos diversos modos de segurá-la (FERREIRA E XAVIER, 1987). O drible é um fundamento com a bola pela qual o alunose desloca pela quadra com a sua posse, sem infringir as regras do jogo. O drible é executado com movimentos coordenados de braço, an- tebraço, punho e mãos. A bola é empurrada de encontro ao solo, com um movimento de extensão do braço e ligeira flexão do punho ao seu final. A força empregada deverá ser tal que a bola retorne ao mesmo ponto de onde se originou o movimento, para que receba novo impulso. Os movimentos serão contínuos e o olhar se voltará à frente, e não para a bola. Seus tipos são: alto ou em velocidade, baixo ou de proteção e com mudança de direção (Op. Cit.,). O passe é um fundamento de ataque com a bola. Este funda- mento constitui uma maneira de levar a bola de um ponto a outro da quadra, sem infringir as regras do jogo de Basquetebol. Este fun- damento é executado mediante lançamentos da bola entre jogadores da mesma equipe, com o objetivo de conseguir um melhor posicio- namento na quadra, para maior facilidade na obtenção de uma ces- ta. Os passes podem ser executados com uma ou ambas as mãos. No primeiro caso podem ser citados os passes: picado ou quicado, à altura do ombro, por baixo e tipo gancho. No segundo podem incluir-se os passes: à altura do tórax, picado, acima da cabeça e baixo (Op. Cit.,). O arremesso é um fundamento de ataque realizado com o objetivo de se conseguir a cesta. Em uma partida de Basquetebol o atacante de posse de bola poderá executar um arremesso de di- versas formas, dependendo de sua posição na quadra, da posição do adversário mais próximo e de sua velocidade de deslocamento. Em função desses parâmetros surgem alguns tipos de arremessos mais utilizados. São eles: a bandeja, o arremesso com uma das mãos parado e o jump. Pode-se citar ainda o arremesso tipo gancho, muito utilizado pelos pivôs por sua localização próximo à cesta (Op. Cit.,). O rebote é um fundamento utilizado no Basquetebol, em que toda vez que houver uma tentativa de arremesso os jogadores deverão esporte • 45 se posicionar de tal forma que, se a cesta não for convertida, eles es- tarão em condições de conseguir a posse da bola. Portanto, o ato de recuperar a bola após um arremesso não convertido é denominado rebote. O rebote pode ser classificado como: rebote de defesa ou de- fensivo e rebote de ataque ou ofensivo (Op. Cit.,). Posição básica de defesa no Basquetebol é fundamento essen- cial para a dinâmica do jogo, pois, ele permite, além de defender sua área, impedindo os arremessos da equipe adversária, permite um olhar atento ao jogo, a recuperação da bola e consequente deslo- camento para o ataque. Consistem em posicionar-se com as pernas afastadas, semiflexionadas, cabeça erguida e olhar em direção à cin- tura do atacante e braços lateralmente à altura da cintura e ao lado do corpo (Op. Cit.,). Alguns autores como Stöcker (1983), considera o ritmo binário como fundamento básico. Este, se trata de uma situação em que, em projeção, o jogador pode, com a posse da bola, dar dois passos, pois, a regra não permite este tipo de movimento sem que haja o drible. » REGRAS BÁSICAS DO BASQUETEBOL6 O Basquetebol é um esporte muito dinâmico, principalmente, seu caráter espetáculo e da mídia, pois, até o último segundo da par- tida acontecem jogadas decisivas que podem influenciar o resultado do jogo. A FIBA é a organização internacional responsável pelas re- gras da modalidade, as suas determinações são válidas para todos os países onde o Basquetebol é jogado, com exceção da Liga Profissio- nal dos Estados Unidos, a NBA, que possui regras próprias. No ano de 1891, quando o professor canadense James Naismith idealizou o jogo, não imaginou que iria tomar tamanha proporção. Como forma de aperfeiçoar o esporte, as regras precisaram ser mo- dificadas, por isso, faremos um resumo das regras mais atuais do Basquetebol. O esporte é jogado em uma quadra retangular, medindo 28m de comprimento por 15m de largura. Nas duas extremidades da quadra, estão colocados as cestas a uma altura de 3,05m do solo. 6 As principais regras foram extraídas do endereço eletrônico: <http://www.cbb. com.br/a-cbb/o-basquete/regras-e-interpretacoes>. Acesso em: 20 out. 2018. 46 • pedagogia dos esportes O jogo consiste em 4 períodos de 10 minutos cada, sendo que entre o primeiro e o segundo período e entre o terceiro e o quarto período, ocorrem intervalos de 2 minutos. Já entre o primeiro e o segundo tempo, a pausa é de 15 minutos. O jogo só será iniciado quando as duas equipes estão na quadra com cinco jogadores em cada lado. A bola é jogada com as mãos. Não é permitido ao jogador andar mais de dois passos se estiver de posse da bola nem provocar o contato da bola com os pés ou pernas e muito menos, driblar a bola com as duas mãos, ao mesmo tempo nem é permitido driblar a bola, agarrá-la e driblá-la novamente. O drible é o ato de o jogador quicar a bola, no chão e, neste caso, quando de posse da bola, ele pode dar o número de passos que quiser desde que esteja driblando (quicando) a bola no chão. O jogador que estiver de posse da bola em sua zona de ataque não poderá recuá-la para sua zona de defesa. Em relação à posse da bola, a equipe tem 24 segundos para lançá-la na cesta adversária. Caso não efetue o arremesso, é marcada uma penalidade. A equipe que cometer um total de quatro faltas em um pe- ríodo sofrerá a penalização de dois lances livres em qualquer falta individual a seguir. Uma falta é uma infração as regras, levando em consideração contato pessoal ilegal com um adversário e/ou com- portamento antidesportivo. Não é permitido ao jogador bater, em- purrar ou tocar o adversário para se apossar da bola ou levar vanta- gem na jogada, o atleta tem o limite de cinco faltas individuais, sendo desqualificado da partida na quinta falta cometida. Cada time tem o objetivo de fazer com que a bola atravesse a cesta da equipe adversária. As cestas de campo valem dois pontos cada uma, enquanto as cestas provenientes do chamado lance livre valem um ponto. Na quadra de Basquete, existe uma demarcação chamada de “linha dos três pontos”. Quando a cesta é feita de trás dessa linha, ela vale três pontos. VOlEIbOl » HISTÓRIA DO VOLEIBOL Discorremos aqui acerca dos aspectos históricos do Voleibol, relacionando-o a sua intrínseca relação com o esporte moderno. esporte • 47 Diante disso, buscamos compreender melhor as características e apontar críticas a partir de seu marco histórico que tem raiz nos Es- tados Unidos. Segundo Ribeiro (2004), o prelúdio do Voleibol é duvidoso, visto que, jogos semelhantes eram realizados na América do Sul e América Central há um bom tempo atrás. Porém, consoante Marchi Junior (2001), o Voleibol teve início nos anos de 1895, na cidade de Holyoke, Massachusetts, quando William George Morgan diretor de Educação Física da Associação Cristã de Moços (ACM) improvisou uma atividade mais suave para motivar os associados (homens de negócios) com idade entre quarenta e cinquenta anos, que já não estavam interessados em praticar os exercícios calistênicos. De acordo com Bezault (2002), além de beneficiar tais profis- sionais, o jogo também foi concebido como uma forma de compen- sação que o peso das atividades escolares causavam, além de ter a intenção de ajudar a corrigir as posturas corporais curvadas que os indivíduos desenvolviam no decorrer das suas rotinas. Inicialmente, o nome do jogo apresentado por Willam Mor- gan foi o Minonette (ou Mintonette), o qual seu criador pensou em um jogo coletivo com as mãos em que a bola fosse jogada sem tocar ao solo, características essas que foram mantidas até os dias atuais e que passamos a conhecer como um desporto olímpico denominado Voleibol. Inicialmente consistia em um jogo de quadra em que não haveria contato físico, para que os associados mais antigos evitassem a fadiga rápida e se prevenissem de lesões que eram recorrentes nos outros esportes, a exemplo do Basquetebol, que foi criado poucos anos antes do Minonette. A partir do tênis William Morganpensou todas as caracte- rísticas do jogo e manteve a rede e a quadra. Inicialmente foi usada a bola de Basquetebol, porém era muito pesada, até que depois de alguns testes foi encomendada uma bola especifica para o Minonet- te. “Em sua estrutura original, o jogo era disputado em 9 pontos, realizado em uma quadra que era dividida por uma rede semelhante à do Tênis, com uma altura aproximada de 1,90 metros, sobre a qual rebatia-se uma câmara de bola de Basquetebol” (MARCHI JUNIOR, 2001, p. 73). O jogo foi se popularizando e se expandiu até chegar em Springfield, onde o Dr. A. T. Halstead sugeriu o nome Volleyball. 48 • pedagogia dos esportes A sua difusão foi tamanha que durante a I e II Guerras Mundiais há relatos de que era praticado durante o momento de lazer pelos soldados. A partir desses fatores o jogo foi se consolidando, a prin- cípio nos Estados Unidos da América do Norte sendo considerado um esporte e consequentemente, sendo reconhecido e incluído em campeonatos. Segundo os dados obtidos no site da Federação Paulista de Voleibol (FPV), o Voleibol foi rapidamente ganhando novos adeptos e crescendo vertiginosamente no cenário mundial no decorrer dos anos. De acordo com Ribeiro (2004), em 1900 o esporte chegou ao Canadá (primeiro país fora dos Estados Unidos), sendo posterior- mente desenvolvido em outros países como em: Cuba (1905), Filipi- nas (1908), Peru (1910), Uruguai (1912), China e Japão (1913) e na Inglaterra (1914). Na história do Voleibol percebe-se os esforços para organizar as entidades representativas e durante o período de 1925 a 1947 esses esforços culminaram com a criação de algumas organizações, fede- rações e confederações que serviriam para regulamentar e gerir o desporto. Dentre elas destaca-se, em 1947, a fundação da Federação Internacional de Voleibol (FIVB), fundada em Paris, sendo seu pri- meiro presidente o francês Paul Libaud e tendo os seguintes países fundadores: Brasil, Egito, França, Holanda, Hungria, Itália, Polônia, Portugal, Romênia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Estados Unidos e Uruguai. Este é um fato importante para a autonomia do Voleibol, pois, até então, participava somente de um comitê de Voleibol de- pendente da Federação Internacional de Handebol (RIBEIRO, 2004). O primeiro campeonato mundial foi disputado em Praga, na Tchecoslováquia, em 1949, onde a Rússia se consagrou como a primeira campeã mundial de Voleibol. Segundo Ribeiro (2004), as mudanças das regras e a realização dos campeonatos continentais e mundiais foram primordiais para a evolução técnico-tática do Vo- leibol, visto que, tais feitos proporcionavam experiências ímpares, permitindo que os jogadores e a comissão técnica tivessem contato com seleções singulares, remodelando as suas formas de jogar e con- sequentemente obtendo uma maior eficácia nos jogos posteriores. Segundo Marchi Junior (2004) em setembro de 1962, durante o Congresso de Sofia, o Voleibol foi admitido como esporte olímpico esporte • 49 e a sua primeira disputa foi na Olimpíada de Tóquio em 1964 com a presença de 10 países no masculino: Japão, Romênia, Rússia, Tche- coslováquia, Bulgária, Hungria, Holanda, Estados Unidos, Coréia do Sul e Brasil. A primeira seleção campeã olímpica de Voleibol mascu- lino foi a Rússia e, no feminino o Japão. Na América do Sul, o primeiro país a conhecer o Voleibol foi o Peru, em 1910, através de uma missão governamental que tinha a finalidade de organizar a educação primária do país. O primeiro campeonato sul-americano de Voleibol masculino e feminino, que teve o Brasil como campeão nas duas versões, foi realizado na cidade do Rio de Janeiro, especificamente no ginásio do Fluminense F.C., no período de 12 e 22 de setembro de 1951, tendo como patrocinador a entidade responsável pela modalidade na época, ou seja, a Confede- ração Brasileira de Desporto. » HISTÓRIA DO VOLEIBOL NO BRASIL Até os dias atuais há uma incógnita sobre como e quando o Voleibol chegou ao Brasil. Porém, existem duas hipóteses sobre a sua chegada. A primeira diz que ele começou a ser praticado aqui em 1915, no colégio Marista de Recife. Já a segunda, diz que foi em 1916 e 1917, graças à iniciativa da Associação Cristã de Moços (ACM) de São Paulo. Além disso, sabe-se também que o Fluminense F.C. foi o primeiro clube brasileiro a adotá-lo. Posteriormente, em 1951, esse mesmo clube em parceria com a Confederação Brasileira de Des- porto, realizou em seu ginásio, no Rio de Janeiro, o 1º Campeonato Sul Americano, no qual o Brasil ganhou seu primeiro campeonato internacional, vencendo tanto na categoria masculina quanto na fe- minina (MARCHI JUNIOR, 2004). No que diz respeito a profissionalização do esporte no país, o primeiro passo foi dado com a criação da Confederação Brasilei- ra de Voleibol (CBV) em 1954, e tinha como objetivo principal, o crescimento do Voleibol no Brasil, através da criação de escolinhas e cursos da modalidade em todo o país. Dez anos depois, o Brasil fez sua estreia nos jogos Olímpicos, em Tóquio 1964 e assim, como no futebol, em que o Brasil é o único país a participar de todas as Copas do Mundo, o Voleibol brasileiro (equipe masculina) participou de todas as edições dos Jogos Olímpicos (MARCHI JUNIOR, 2004). 50 • pedagogia dos esportes Posteriormente à criação da CBV, a primeira participação da seleção nacional de Vôlei em competições na Europa, foi em 1956, no Campeonato Mundial de Paris (França), em que a seleção mas- culina comandada pelo técnico Sami Mehlinsk terminou na 11ª colocação. Porém, mesmo com muitas participações do Brasil em jogos Olímpicos, a grande virada do Voleibol brasileiro só ocorreu em 1975, quando Carlos Arthur Nuzmam assumiu a presidência da Confederação. Ele idealizou para que o Brasil sediasse os mundiais masculinos e femininos da categoria juvenil em 1977. O mesmo, acreditava na parceria entre Marketing/esporte e atraiu a atenção das empresas para o Voleibol, conseguindo assim que nos jogos de Los Angeles fosse possível a criação de uma infraestrutura que permitiu o início da profissionalização dos atletas no começo da década de 80 (MARCHI JUNIOR, 2004). Chama-nos a atenção um fato ocorrido nas Olimpíadas de Moscou de 1980, no jogo entre o Brasil e Polônia (campeã olímpi- ca em Montreal, 1976) e que fora relatado pelo professor Wandeley Marchi Júnior, na obra “Sacando o Voleibol”. Expõe que a equipe brasileira perdia de 2 sets a 0 quando virou o jogo vencendo por 3 sets a 2. Assistindo a esse jogo, ao lado de Carlos Nuzmam, estava Antônio Carlos de Almeida Braga (Braguinha), amante do espor- te e executivo da companhia de seguros Atlântica Boa Vista (futuro patrocinador). Ao ver aquela partida, teve a curiosidade em saber o porquê daqueles jogadores de alto nível e grande performance joga- rem na Itália e não no Brasil, fato que inevitavelmente levaria a gran- des conquistas no cenário internacional. Carlos Nuzman, ao per- ceber a oportunidade, argumentou com Braguinha que se fosse de sua vontade, ele poderia propor ao Conselho Nacional de Desportos (CND) a entrada das empresas no Voleibol, assim como acontecia em outros países como Itália, Espanha, Alemanha, Japão, Corea do Sul (MARCHI JÚNIOR, 2004). Assim, iniciou-se uma campanha que durou cerca de um ano, uma vez que ia contra as normas estabelecidas do CND e, em 1981 foi deliberado o fim da proibição de empresas patrocinarem clubes ou entidades desportivas e exibirem em seus uniformes, como for- ma de propaganda, as marcas de seus patrocinadores (MARCHI JÚNIOR, 2004). esporte • 51 Esta foi a “deixa” na relação esporte/mídia e mercadoria/espe- táculo o que fez surgir as primeiras Associações Desportivas Clas- sistas, que garantiram salários e a permanência dos atletas no país, além, obviamente, de possibilitar melhores estruturas e disponibili- dade para os treinamentos. Esse processo cultural culminou com a participação dessas equipes em competições destinadas ao Desporto Comunitário7 (MARCHI JÚNIOR,2004). Por fim, duas medidas estratégicas foram tomadas por Carlos Nuzmam que garantiria seu projeto ambicioso de tornar o Voleibol referência internacional. A primeira foi que era proibida a saída de jogadores para outros países. O dirigente argumentou que os cam- peonatos locais, assim como o campeonato Argentino, não aconte- ciam por falta de jogadores que optavam por jogar em outros países, como na Itália por exemplo. A segunda medida foi que ele visualizou a necessidade de absorção de propostas administrativas externas que determinassem resultados positivos para o Voleibol nacional. Estas medidas, associadas ao capital e à mídia proporcionaram a ascen- são da modalidade em um espaço de tempo pequeno (MARCHI JÙNIOR, 2004). » FUNDAMENTOS BÁSICOS DO VOLEIBOL8 De forma consensual entre vários autores e profissionais da área da Educação Física e Ciências do Esporte, os fundamentos bá- sicos do ensino do Voleibol constituem-se: posição de expectativa, toque, manchete, saque, cortada e bloqueio. A posição de expectativa é a posição básica que introduz a execução dos demais fundamentos. Deve ser executada de tal forma 7 Desporto comunitário: desporto classista das competições destinadas aos clubes de fábrica, na década de 80, resumia-se nos confrontos entre as equipes da Pirelli, Atlântica-Boavista, o híbrido Fiat-Minas Tênis Clube e o Banespa. Essa inovado- ra estrutura empresarial para o Voleibol brasileiro fortaleceu, inevitavelmente, os campeonatos nacionais no que diz respeito à receptividade popular aos espetácu- los esportivos e à exposição de um novo produto no mercado televisivo com ex- pressividade em competições internacionais. (MARCHI JÚNIOR, 2004, p. 133). 8 Os conceitos dos fundamentos e as principais regras citadas foram baseadas na obra: Bojikian, João Crisóstomo Marcondes. Ensinando o voleibol. São Paulo. Ed. Phorte, 2005. 52 • pedagogia dos esportes que permita a ação do jogador, além de ser cômoda e favorecer des- locamentos rápidos em qualquer direção. O executante deve estar com as pernas em afastamento lateral (na largura aproximada dos ombros), semiflexionadas, estando ligeiramente à frente da outra. Centro de gravidade diminuída e braços semiflexionados com coto- velos afastados um pouco superior à largura dos ombros. No que se refere ao toque é o fundamento mais característico do Voleibol e é responsável, na maioria das vezes, pelo levantamen- to (passe). O movimento se dá com os braços semiflexionados, de modo a posicionar os cotovelos um pouco acima da altura dos om- bros, lateralmente em relação ao tronco. As mãos devem estar com os dedos quase que totalmente estendidos, mas de forma arredonda- da (como uma concha) para melhor acomodar a curvatura da bola. Os dedos polegares e indicadores formarão a figura aproximada de um triângulo. Quando for dado o toque na bola, todo o corpo par- ticipa. O contato será sutil, com a parte interna dos dedos e uma pequena flexão dos punhos. Os braços e pernas deverão se estender para provocar uma transferência do peso do corpo sobre a perna de trás para frente (BOJIKIAN, 2005). Quando nos referimos à recepção no Voleibol, logo nos re- ferimos à manchete, pois, é o fundamento mais utilizado para este fim. Além de ser essencial para a defesa de ataques, pois, o contato da bola se faz no antebraço, que é uma região que suporta melhor os fortes impactos provocados por ela nessas situações, principalmen- te quando comparado com os dedos que são utilizados no toque. As pernas devem estar semiflexionadas, afastadas lateralmente em um distanciamento semelhante à largura dos ombros e um pé ligei- ramente à frente do outro. Os braços estarão estendidos e unidos à frente do corpo e os dedos unidos de uma mão devem estar sobre- postos aos da outra, de forma que os polegares estendidos possam se tocar paralelamente. O saque é o fundamento utilizado para iniciar o jogo do Vo- leibol, dando-se um golpe na bola solta no ar pelo jogador que ocu- pa a posição que fica atrás da linha do fundo, o saque é realizado em qualquer lugar da linha do fundo, denominada linha do saque. O jogador não pode pisar na linha de saque antes de golpear a bola. Existem três principais saques, sendo eles: o saque por baixo, por cima e em suspensão. esporte • 53 A cortada é o fundamento que finaliza a maioria das ações ofensivas e visa enviar, por meio de um forte golpe dado durante o salto, a bola de encontro ao solo da quadra da equipe adversária. Constitui-se de cinco etapas: deslocamento, chamada, salto, fase aé- rea e queda. O deslocamento deve ser feito por três passadas com braços mantidos semiflexionados ao lado do corpo. Após o des- locamento, ambos os pés tocam no solo, com o esquerdo (para os destros) ligeiramente mais próximos da rede que o direito e com o afastamento lateral um pouco menor que a largura dos ombros. Os pés tocam o chão, ocorre o salto vertical e o lançamento vigoroso dos braços para cima e pela frente do corpo. Os braços já lançados para cima, vai golpear a bola. Por fim, a queda deverá ser feita pri- meiramente com a ponta dos pés e depois com o calcanhar, assim amortecendo e não causando lesões. O bloqueio é um fundamento que visa interceptar, junto à rede, a bola atacada pelo adversário. Essa habilidade de caráter de- fensivo pode se tornar ofensiva quando consegue enviar a bola con- tra o solo do atacante. Em posição de expectativa com os pés junto à rede, o bloqueador se posiciona em semiflexão dos joelhos, pés paralelos em afastamento lateral. O salto é feito vertical e as mãos invadem o espaço aéreo do adversário com os punhos voltados para baixo, afim de interceptar a bola. Podendo ser efetuado individual- mente, em duplas e em trios aumentando assim o ângulo de ação para dificultar o atacante adversário. » REGRAS BÁSICAS DO VOLEIBOL As regras básicas do Voleibol de acordo com Bojikian (2005) constituem-se atualmente da seguinte maneira: duas equipes, cada equipe composta por 12 jogadores, seis efetivos (sendo um líbero) e seis suplentes no banco de reserva; as equipes são separadas por uma rede no meio da quadra com uma altura de 2,43m para os homens e 2,24m para as mulheres; a quadra é retangular com dimensão de 18 metros de comprimento por 9 metros de largura. O jogo começa com o saque de um dos times. Logo depois do saque a bola deve ultrapassar a rede e seguir ao campo do adversário onde os jogadores tentam evitar que a bola entre no seu campo usan- do qualquer parte do corpo. O jogador pode rebater a bola para que 54 • pedagogia dos esportes ela passe para o campo adversário sendo permitidos dar três toques (por equipe, pois, cada jogador só poderá dar um toque) na bola an- tes que ela passe, sempre alternando os jogadores que dão os toques. O jogador não pode encostar na rede senão comete uma infração e o mesmo jogador não pode dar dois ou mais toques seguidos na bola, exceção no caso do toque de bloqueio. Cada partida é dividida em sets que terminam quando uma das duas equipes conquista 25 pontos. Deve haver também uma diferença de no mínimo dois pontos com relação ao placar do ad- versário – caso contrário, a disputa prossegue até que tal diferença seja atingida. Por exemplo: se no placar de uma jogo estiver 25x25, o jogo só finaliza quando um dos times tiver dois pontos de diferença, como 27x25. O vencedor será aquele que conquistar primeiramente três sets, portanto, o jogo só poderá ir no máximo a cinco sets. Se isto ocorrer, o último set recebe o nome de tie-break e termina quan- do um dos times atinge a marca de 15 pontos, mantendo a regra de diferença de dois pontos no placar caso ultrapasse a pontuação de 15 pontos, como por exemplo o placar de 17x15. A equipe de arbitragem é formada pelos árbitros, juízes de linha e apontadores. O primeiro árbitro é quem dirige a partida, comanda toda a equipe de arbitragem e ocupa a cadeira do árbitro. O segundo árbitro atua de pé, no lado oposto ao do primeiro árbitro. Havendone- cessidade, o segundo árbitro pode substituir o primeiro. A função dos juízes de linha é indicar, com a ajuda das bandeiras, quando uma bola tocou o chão dentro ou fora da quadra de jogo, auxiliando o trabalho do primeiro árbitro na checagem de irregularidades. Aos apontadores compete administrar as informações que devem constar na súmula, tais como marcar as substituições, anotar a formação inicial das equi- pes e as advertências recebidas por uma equipe. FUTEbOl » HISTÓRIA DO FUTEBOL O Futebol, no contexto brasileiro, ganha uma dimensão sim- bólica inigualável e é um dos que mais faz o “casamento feliz” entre esporte • 55 esporte e mídia, principalmente quando se percebe a “falação espor- tiva” e a monocultura esportiva (BETTI, 2002). Pois, constitui-se em uma modalidade que ganhou hegemonia pela sua prática, sua popularização, mas, também, por constituir-se em um bem cultural arraigado pelas relações antropológicas, sociais, econômicas que o ratificam seu status no Brasil e em alguns países do mundo. Conforme Flávia (2017), o Futebol teve sua origem na Europa, mais precisamente na Inglaterra pós-revolução industrial, logo ex- pandiu por todo o continente. O Futebol na atualidade se encontra em toda parte do mundo, possuindo grandes competições em diver- sos países como: Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, Brasil, além de contar com competições internacionais entre os clubes, como é o caso da Liga dos Campões da UEFA e da Copa Libertadores da Amé- rica. A maior atração do Futebol acontece a cada quatros anos, que é a “Copa do Mundo FIFA”, sendo um grande espetáculo. De acordo com Flávia (2017), o Futebol, com relação a ca- racterística principal que remete a sua funcionalidade, trata-se de um esporte competitivo que tem como objetivo a vitória sobre o ad- versário, tendo como alvo principal fazer o maior número de gols. Assim, um time de Futebol é constituído por onze jogadores que entram em campo no qual cada um tem sua função, sendo todos comandados por um técnico. As regras do Futebol são regidas por um árbitro, esse responsável por julgar todos os acontecimentos da partida. Entre as regras estão: infrações, impedimentos, bola fora de jogo e os fundamentos tais como: chute, passe, condução, cabeceio, recepção e drible. Quando nos deparamos sobre a história do Futebol encon- tramos relatos sobre a prática esportiva de jogos semelhantes a ele que foram levados para Inglaterra e praticado nos dias atuais. Es- ses relatos foram encontrados em civilizações como: a chinesa, ja- ponesa, grega e durante a Idade Média, variando apenas algumas características, todavia a essência continuava a mesma (FLÁVIA, 2017). Segundo o Portal de Pesquisas Temáticas e Educacionais (2017), na Itália da Idade Média foi criado um jogo chamado gioco del calcio, praticado nas praças e bastante violento, os pesquisado- res concluíram que ele saiu da Itália e chegou a Inglaterra por volta do século XVII. Na Inglaterra, o jogo ganhou regras diferentes, foi 56 • pedagogia dos esportes organizado e sistematizado. O importante desse achado é que nos remete a discussão realizada no capítulo I em que consideramos es- sas manifestações importantes, mas, que diferem, essencialmente, daquilo que estamos chamando de esporte moderno, pois, os obje- tivos são outros e remetem mais a uma relação de caráter religioso ou militar. No tocante a constituição do espaço para a prática do jogo, encontramos que as dimensões do campo eram 120 por 180 metros e nas duas pontas seriam instalados dois arcos retangulares chama- dos de gol, a bola era de couro e enchida com ar, as regras claras e objetivas. O Futebol começou a ser praticado por estudantes e filhos da nobreza inglesa e depois tornando popular por toda a Europa. Com a popularização do Futebol, surgiu a necessidade da criação de algumas regras, como: No ano de 1848, numa conferência em Cambridge, estabele- ceu-se um único código de regras para o futebol. No ano de 1871 foi criada a figura do guarda-redes (goleiro) que seria o único que poderia colocar as mãos na bola e deveria ficar próximo ao gol para evitar a entrada da bola. Em 1875, foi es- tabelecida a regra do tempo de 90 minutos e em 1891 foi esta- belecido o pênalti, para punir a falta dentro da área. Somente em 1907 foi estabelecida a regra do impedimento (PORTAL DE PESQUISAS TEMÁTICAS E EDUACIONAIS, 2017). Na fase anterior à chamada “esportivização”, os jogos eram realizados a partir de tradições locais, com isso, existiam variações de regras de uma localidade para outra, além de serem caracteriza- dos por extrema violência entre os participantes. Com isso, a nor- matização dos jogos na Inglaterra passou por diferentes estágios. Al- gumas pesquisas citam que existe algo na estrutura do Futebol, que parece ser independente do nível de desenvolvimento de cada país e da sua estrutura social, pois o seu crescimento desde o seu surgimen- to se deu independentemente das estruturas e desenvolvimento dos países (ESCHER; REIS, 2005). Embora o futebol seja uma invenção inglesa de fortes rela- ções com as mudanças na estrutura política daquele país, esporte • 57 principalmente no final do século XIX, a expansão desse es- porte pelo mundo se deu independentemente do desenvolvi- mento dos Estados-nações. Essas conclusões são de Murphy et al. (1994: 6), pois para estes: ‘[...] parece que existe algo na estrutura do futebol que lhe confere uma grande atração no moderno, uma atração que parece ser relativamente in- dependente do nível de desenvolvimento dos países e das características sócio-políticas dos respectivos governos” (ES- CHER; REIS, 2005, p. 2). O Futebol é o esporte com maior aceitação no mundo inteiro sendo até hoje o mais praticado, tendo também diversas competições de cunho nacional e internacional. Outro ponto a se ressaltar se deve ao fato do Futebol ter sua esportivização muito relacionada com as mudanças sócio-políticas que vinham ocorrendo na Inglaterra desde o final do século XVI. Nos anos intermediários entre o século 16 e a metade do século 19 havia muita violência na sua prática, se dan- do também pelo fato de problemas entre familiares e proprietários serem resolvidos na força física e ainda quando aconteciam perdas entre entes queridos, algo que após a implementação da Monarquia- -parlamentar começou a mudar, havendo espaços para discussões e defesas de forma mais civilizada, ou seja, sem o apelo da violência física (ESCHER; REIS, 2005). A normatização do Futebol acontece nas escolas públicas in- glesas entre os anos de 1845 e 1862, porém, seu marco como “esporte moderno” ocorre nos últimos meses do ano de 1863, quando é fun- dada a Associação de Futebol Inglesa. O Futebol ao ser esportivizado possibilitou que houvesse sua disseminação pelo mundo com regras, uniformes e organização própria, com isso, acabou sendo facilmen- te divulgado pelos seus praticantes (ELIAS; DUNNING, 1992 apud ESCHER; REIS, 2005). Apesar das escolas públicas inglesas, naquela época, serem somente frequentadas pela elite, não demorou muito para que o Fu- tebol passasse a ser praticado por membros da classe trabalhadora e a sociedade de modo geral, mesmo enfrentando a alta resistência da elite vigente, a sua profissionalização acabou acontecendo na Ingla- terra em 1885. Algo que acabou permitindo que esse esporte tivesse sua expansão para outros países europeus (ESCHER; REIS, 2005). 58 • pedagogia dos esportes A Fédération Internationale de Football Association (FIFA) foi fundada em 21 de maio de 1904 pelas federações nacionais de Futebol dos países: França, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Suécia, Suíça e Es- panha. Sendo assim, ela é a instituição máxima do Futebol mundial e a grande responsável pelo status que hoje esse esporte tem em todo o mundo, além de sua transformação em mercadoria global (Op.Cit.,). Os Jogos Olímpicos até os dias atuais são organizados pelo Co- mitê Olímpico Internacional (COI) e o Futebol se tornou um esporteolímpico em 1908. No entanto, as primeiras competições futebolísticas nos Jogos Olímpicos, realizadas em 1908 e 1912, foram reguladas pela Football Association da Inglaterra. Já as competições de Futebol nos Jo- gos Olímpicos de 1924 e 1928 foram organizadas pela FIFA, que tinha o interesse de reconhecer essas disputas como as primeiras edições da Copa do Mundo de Futebol. Entretanto, foi em 1930 no Uruguai que a FIFA realizou o que ela considera como o seu primeiro campeonato mundial de Futebol. Por conta das divergências da FIFA com o COI, ela desistiu de continuar organizando os Torneios Olímpicos de Fute- bol, com isso, existe uma “restrição” na participação de jogadores no Futebol olímpico (ESCHER; REIS, 2005). » HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL Embora existam referências à prática ocasional do Futebol no Brasil, de 1870 a 1880, a tradição afirma que o Futebol nasceu no bairro paulistano do Brás em que Charles Miller viajara para Europa ainda quando criança para estudar, foi lá que teve seu primeiro con- tato com o Futebol e de volta ao Brasil em 1894, trouxe juntamente consigo, uma bola e as regras do Futebol. Portanto, é considerado por muitos o precursor do Futebol no Brasil, sendo o São Paulo Athletic Club, o primeiro time constituído no Brasil em 13 de maio de 1888 (PORTAL DE PESQUISAS TEMÁTICAS E EDUACIONAIS, 2017). Outro importante personagem para a elaboração do Futebol no país foi Oscar Cox pioneiro no Rio de Janeiro, como Miller, Oscar Cox também foi estudar na Europa onde conheceu o Futebol e retor- nando de lá trouxe material esportivo e as regras. Depois de organizar partidas entre uma equipe criada por ele e o Rio Cricket and Athletic Association, de Niterói, Cox esporte • 59 tornou-se um dos líderes do movimento que resultou na fundação do Fluminense Futebol Clube, em 1902. De uma dissidência neste clube, nasceu, em 1911, o departamento de futebol do Clube de Regatas do Flamengo (FLÁVIA, 2017, on-line). Após sua implantação, o Futebol tanto em São Paulo, quanto no Rio de Janeiro estava crescendo. Em 1914, foi criada a Federação Brasileira de Sports e em 1916 a Confederação Brasileira de Despor- tos (CBD). Em 1919, o Brasil venceu o campeonato sul-americano contra o Uruguai. Os comandados brasileiros eram constituídos por jogadores do Rio de Janeiro e São Paulo e em 1922 foi realizado o campeonato de seleções estaduais (GASTALDO, 2002). Desde sua fundação no país, o Futebol era exercido por ama- dores: estudantes, empregados de fábricas, jovens de classe social elevada. Mas, em 1933 ocorreu a legalização do profissionalismo, até então realizado de forma disfarçada. Após um período de transição, em que os jogadores hesitaram em aceitar o novo regime, teve início a fase de afirmação do Futebol brasileiro, em 1938, ano da primeira Copa em que o Brasil chegou às semifinais e ficou em terceiro lugar, mas é a partir da Copa de 1958, na Suécia e depois em 1962, no Chi- le, após o bicampeonato mundial que coloca o Brasil no mesmo nível dos países europeus (GASTALDO, 2002). A conquista da Copa foi a principal responsável por ter au- mentado cada vez mais a paixão dos brasileiros pelo Futebol, fa- zendo com que surgisse um sentimento de amor pela modalidade e principalmente com a seleção foi criada uma “identidade nacional”. O Futebol conectou a cultura brasileira de maneira simbiótica, desde o mito de sua chegada ao País, a assimilação pela classe mais pobre e sua popularização após a conquista do bicampeonato, um impor- tante aspecto constituinte da cultura brasileira contemporânea é a apropriação social do Futebol como fato cultural (Op. Cit.,). A representação do Futebol e da seleção brasileira é tão forte que é notável como o país é transformado durante a Copa do Mundo, como ela é responsável por mudar a estrutura do cotidiano brasilei- ro. A nação entra em um tipo de rito, em transe, aos quais todos os pensamentos e atenção estão focados na seleção, em um único objetivo que é torcer, porque não é apenas uma partida de Futebol, a 60 • pedagogia dos esportes seleção representa o orgulho do povo brasileiro de ser o melhor, de ser o “País do Futebol”. No Brasil, o Futebol ganha um status que vai para mais de um esporte, representa-se como um fenômeno à sociedade e, ao longo da história, é visível em duas perspectivas: como meio de propagação ideológica e como propagação de manifestação de cultura. O Futebol é um elemento importante da cultura brasileira e através dele, a so- ciedade pode se expressar, manifestar-se, descobrir-se. A identifica- ção do Futebol com a cultura refere-se especialmente a subjetividade de suas relações, no que se encontra dentro do campo ou extra cam- po, transgressões das regras estabelecidas, da ordem e da desordem, da aproximação dos torcedores com o prazer e o lazer, representa momentos de paixão e de alegria (RINALDI, 2000). A modalidade esportiva Futebol, através da mídia televisiva, enquanto veículo de propaganda, ratifica seu caráter ideológico9 e o pensamento político da classe dominante, representada pelo gover- no institucional. Um exemplo a ser citado para exemplificar o Fute- bol enquanto meio de transmissão ideológica no Brasil, foi quando este esporte passou a ser utilizado com interesses políticos durante a Copa do Mundo de 70, em que os militares associaram o tricampeo- nato conquistado pela “seleção do povo”, com o grande desenvolvi- mento em que o Brasil vinha conseguindo no momento do “milagre econômico” (RINALDI, 2000). » FUNDAMENTOS BÁSICOS DO FUTEBOL10 No Futebol a finalidade principal é fazer o gol e, para isso, existem muitas maneiras, mas, obviamente, para que o jogador te- nha as condições ideais para fazê-lo são necessários a apropriação de outros fundamentos básicos que garantirão uma assimilação geral. Encontramos na literatura fundamentos básicos do futebol como: fi- nalização, chute, cabeceio, passe, controle ou domínio da bola, con- dução, drible, lançamento entre outros. 9 Para este aspecto, vide também, Pires (1998). 10 Os conceitos dos fundamentos citados são baseados na obra: Freire, João Batis- ta. Pedagogia do futebol. 3. ed. Campinas, SP: Autores associados, 2011. esporte • 61 A finalização é o fundamento mais decisivo no Futebol. Ela pode ser efetuada de diferentes formas, como através do chute, do cabeceio, do peito, da barriga, etc., com objetivo de fazer o gol. Com isso, para que a finalização seja bem sucedida todas as outras habili- dades devem ser bem desenvolvidas e com isso, facilitar o processo de ensino como correr, o equilíbrio, força de chute, velocidade de chute, que estão presentes neste fundamento (FREIRE, 2011). O passe é um dos fundamentos mais importantes, pois com o passar dos anos os sistemas de marcação e as condições físicas dos jogadores se desenvolveram, com isso, sobra pouco espaço para jo- gar, desta forma, os passes devem ser precisos e rápidos. O jogador que tem a posse de bola tem a opção de passar ou driblar o adversá- rio, mas quase sempre a atitude mais eficiente é passar a bola a um companheiro. Os passes são classificados quanto a distância (curto, médio, longo), quanto a sua trajetória (rasteiro e alto), quanto a sua execução (parte interna do pé, externa do pé, com o dorso do pé, ponta do pé, calcanhar, planta do pé, coxa, peito, ombro, cabeça). Existem diversas modalidades de passe, como os lançamentos e cru- zamentos, além da assistência que é um passe decisivo em que o jo- gador passa a bola para um companheiro fazer o gol (Op. Cit.,). O controle de bola é o fundamento em que o jogador deve dominar a bola quando esta chegar até ele a partir de um passe, cru- zamento, lançamento, ou quando a bola sobrar para o jogador e ele pode realizar isso através do peito, com partes diferentes dos pés, com a cabeça, com a coxa, etc., para assim, reter a bola em condições de se realizar uma jogada já que a bola pode chegar durante uma cor- rida, durante um salto, ou às vezes parado. Assim,o controle de bola é a condição base para a realização de qualquer jogada no Futebol. A condução permite ao jogador levar a bola de um ponto para outro do campo, sem perder o domínio da bola. É um fundamento difícil em virtude da rigidez dos sistemas de defesa, pois o marcador não visa apenas a bola, mas também o corpo do adversário com o objetivo de desequilibrá-lo, por exemplo. A condução exige um ex- celente domínio de bola e proteção, que é realizado utilizando todo o corpo. No Futebol moderno a condução deve ser realizada de forma veloz para se ter mais sucesso nas jogadas e ela pode ser realizada em 62 • pedagogia dos esportes linha reta ou com mudanças de direções, dependendo da situação, mas sempre mantendo a bola o mais próximo possível do corpo. O desarme é o principal recurso de defesa e o jogador que vai realizar este fundamento deve ser mais veloz que o seu adversário ou utilizar técnicas de desarme para desequilibrá-lo, por exemplo. O desarme também pode ser efetuado antecipando a bola antes que ela chegue ao jogador adversário, podendo ser um desarme por baixo com a utilização dos pés, bem como pelo alto utilizando a cabeça. O drible é a habilidade de evitar que o jogador adversário de- sarme o jogador que está em posse da bola ou enquanto a conduz. O drible é eficiente quando se livra da marcação adversária e coloca o jogador ou um companheiro da equipe em condições de finalizar ou dar seguimento a jogada. O drible exige velocidade de condução de bola para tirá-la do alcance do jogador adversário, ou mudar rapida- mente a direção do deslocamento. O lançamento é o ato de chutar a bola (passar) para um com- panheiro distante e constitui-se em um fundamento importante quando bem aplicado. Jogadores com bom controle de bola, noção de tempo e espaço, condução de bola, e com boa velocidade de chute se adaptam com mais facilidade para o Futebol. O cabeceio é o fundamento realizado tanto para atacar quanto para defender e é utilizado geralmente em bolas altas. Ele é ofensivo quando utilizado para finalizar a jogada ou passar a bola a um com- panheiro em condições de finalizar a bola para o gol e é defensivo quando utilizado para interromper uma jogada da equipe adversária. » REGRAS BÁSICAS DO FUTEBOL11 O Futebol é um esporte moderno com caráter competitivo que visa vitórias e conquistas dentro do campo e fora dele. O funcio- namento deste jogo requer uma série de regras, normas e condutas que vão desde as dimensões do gramado, a altura e comprimento da 11 As principais regras do Futebol foram extraídas do Livro de Regras (2017/18) disponível no site oficial da Confederação Brasileira de Futebol. No endereço eletrônico: <https://www.cbf.com.br/a-cbf/biblioteca/index/livro-de-regras-de- -futebol-2017-2018>. Acesso em: 01 dez. 2018. esporte • 63 trave, até o número de atletas que as equipes podem utilizar durante uma partida. Há também os aspectos relacionados à arbitragem, co- missão técnica, equipamentos e etc. O campo de jogo deve ser de superfície natural (grama), ou artificial (gramado sintético), sendo seu formato retangular e alinha- do com as linhas fundamentais, são elas: linha de fundo, linha late- ral, círculo central, meia lua da grande área ou semicírculo, marca do pênalti, marca do escanteio, pequena área e grande área. Assim, as dimensões do campo conforme a FIFA é de 105m de comprimento por 68m de largura e as das traves, por sua vez, é de 7,32m de com- primento por 2,44m de altura. A equipe deve conter 11 jogadores titulares e reservas que poderão ser utilizados no jogo. Assim, totalizando o número de 22 jogadores na equipe em algumas competições, incluindo os goleiros. Os equipamentos utilizados pelos jogadores são camisas de mangas, calção, meião, chuteira, caneleira e luvas para o goleiro, sendo as co- res dos fardamentos diferentes dos adversários. A bola é esférica e coberta de couro, ou outro material adequado, deve ter 68cm a 71cm de circunferência e pesar de 396g a 453g. O jogo é disputado sob o controle de um árbitro, sendo este a autoridade central no campo de jogo, cabendo a ele o cumprimento das regras. É necessário também o auxílio de bandeirinhas, que fica- rão responsáveis pelos impedimentos e marcação de algumas faltas que ocorram próximas a ele. Um quarto árbitro é essencial e ficará a cargo dele a observação do ambiente do jogo, da área técnica e subs- tituições. O jogo tem duração de 90 minutos, sendo dividido em dois períodos de 45 minutos cada, além de acréscimos quando necessário, ou das prorrogações que ocorrem em determinadas competições. Considera-se que a bola está fora de jogo quando ela atraves- sa inteiramente as linhas laterais ou de fundo, quando se marca um gol ou quando o juiz interrompe a partida por qualquer motivo. São punidas com tiro livre direto as faltas contra o adversário e o toque de mão ou braço na bola. O tiro livre indireto é cobrado após as obs- truções, jogadas que o juiz considere perigosas ou no tranco ilícito sobre o goleiro. 64 • pedagogia dos esportes FUTSAl » HISTÓRIA DO FUTSAL O Futsal, semelhante a outras modalidades esportivas, possui versões diferentes quanto ao seu surgimento e, com isso, acabou ge- rando uma disputa entre uruguaios e brasileiros para obter o título de inventor do Futsal. Uma das versões diz que o Futsal surgiu a partir dos brasileiros frequentadores da Associação Cristã de Moços (ACM), em São Paulo (SP) na década de 1940, pois naquela época existia uma grande dificuldade em encontrar campos de futebol li- vres para realização dos jogos e, com isso, começaram a praticar as partidas em quadras de basquete (CBFS, 2015). A outra versão que é considerada como a mais provável relata o surgimento do Futsal nos anos de 1930 na Associação Cristã de Moços de Montevidéu no Uruguai, pelo Professor Juan Carlos Ce- riani. Pois, naquele tempo, o Uruguai obteve inúmeras conquistas no futebol, como: a conquista do bicampeonato olímpico e a conquista do mundial em 1930; que fizeram do futebol o esporte mais pratica- do naquele país e, consequentemente, começaram a faltar espaços e campos para a sua prática, tendo como solução encontrada improvi- sar locais menores, e com isso, os espaços dos salões de baile foram escolhidos para a prática desse novo esporte, que passou a ser cha- mado de “indoor-foot-ball” ou futebol de salão. Portanto, como o es- paço era muito menor comparado a um campo de futebol, algumas adaptações foram necessárias no modo de jogar (COSTA, 2014). Segundo Lucena (2000) e Tenroller (2004), foi por volta de 1933 que as primeiras regras do Futsal foram redigidas pelo Profes- sor Juan Carlos Ceriani, da ACM de Montevidéu e foram fundamen- tadas a partir do futebol como a essência do jogo; do basquete com o tamanho da quadra; do handebol com as traves e áreas; e pelo polo aquático com as regras de goleiro (apud COSTA, 2014, p. 9). Além disso, neste período foi realizado um curso pelo Instituto da Fede- ração Sul Americana das ACM’s no Uruguai, e cópias dessas regras foram distribuídas para os seus representantes na América do Sul (VOSER, 1998). Em 1942 o futebol de salão já havia conquistado a simpatia dos uruguaios, sendo que inicialmente o esporte era uma exclusividade esporte • 65 das crianças e passou a ser o preferido dos adultos. Com isso, sur- giram alguns problemas, pois o gosto pelo futebol de salão entre os adultos era tão grande, que a sua prática passou a ser um problema disciplinar na maioria das ACM’s em toda a América do Sul e, com isso, surgiu uma recomendação a partir da Conferência dos Dire- tores de Educação Física das ACM’s, que a sua prática fosse limita- da somente aos menores de idade. Sendo que, a ACM de São Paulo continuou com a modalidade em seu programa para adultos e sem dúvida ajudou a divulgar o esporte no país (VOSER, 1998). No início do Futsal jogava-se com cinco, seis ou sete jogado- res, mas logo ficou definido o número de cinco jogadores para cada equipe.As bolas utilizadas nos jogos apresentaram o problema de saltarem muito e, com isso, constantemente saiam da quadra de jogo, pois eram confeccionadas de serragem, crina vegetal, ou de cortiça granulada, então se teve a ideia de reduzir o seu tamanho e aumentar o seu peso para solucionar este problema, por este fato o futebol de salão passou a ser conhecido como “esporte da bola pesada” (CBFS, 2015). Em 14 de setembro de 1969 foi fundada a Confederação Sul- -Americana de Futebol de Salão (CSAFS) em Assunção, Paraguai. A cerimônia contou com a presença do presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, também participou o presidente da Federação Paraguaia de Futebol, Luiz Maria Zubi- zarreta e o presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Carlos Bustamante Arzúa. Em São Paulo, na data de 25 de Julho de 1971 após uma iniciativa da CSAFS que havia sido recém inaugurada e da CBD, foi fundada a Federação Internacional de Futebol de Salão (FIFUSA), com a participação de representantes da Argentina, Bo- lívia, Brasil, Paraguai, Peru, Portugal e Uruguai. João Havelange foi o primeiro presidente da Federação e permaneceu no comando do conselho executivo no período de 1971 a 1975, porém devido aos seus diversos compromissos na CBD e na Federação Internacional de Futebol Associação (FIFA), foi o secretário geral Luiz Gonzaga de Oliveira Fernandes que dirigiu a FIFUSA neste período, até Waldir Nogueira Cardoso assumir a presidência em 1975 (CBFS, 2015). Januário D’Alécio iniciou sua gestão na FIFUSA em 1980 realizando o 1º Pan Americano de Futebol de Salão no México, 66 • pedagogia dos esportes competição esta que foi vencida pelo Brasil e contou com a participa- ção de países como: Argentina, Bolívia, Estados Unidos, México, Pa- raguai e Uruguai. Já em 1982 a FIFUSA organizou o 1º Campeonato Mundial de Futebol de Salão, no ginásio do Ibirapuera em São Paulo e contou com a participação do Brasil, Argentina, Costa Rica, Tche- coslováquia, Uruguai, Colômbia, Paraguai, Itália, México, Holanda e Japão. O Brasil conquistou essa competição vencendo o Paraguai na final por 1 a 0 (CBFS, 2015). Este primeiro mundial de futebol de salão foi um marco e com isso provocou o interesse da FIFA que passou a criar muitos obstá- culos para as competições patrocinadas pela FIFUSA, chegando a ameaçar nos jornais da época que iria redigir novas regras para o “fu- tebol de cinco” e patrocinar um campeonato mundial (CBFS, 2015). O 2º Campeonato Mundial de Futebol de Salão organizado pela FIFUSA foi realizado em 1985, na Espanha, e o Brasil novamen- te consagrou-se como campeão. O 3º Mundial foi realizado na Aus- trália em 1988, com o Paraguai sendo o novo campeão. Em setembro de 1988, o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Salão, Álvaro Melo Filho, diante das dificuldades da FIFUSA e almejando um futuro melhor para o futebol de salão, aceitou o con- vite arquitetado pelo dirigente do Bradesco, Ararino Sallum, para ir ao Rio de Janeiro iniciar as negociações com o então presidente da FIFA, João Havelange, e seu secretário geral, Joseph Blatter, que veio especialmente ao Brasil para tratar de Futsal, com o objetivo de que a FIFA anulasse a FIFUSA e passasse a comandar o esporte interna- cionalmente (CBFS, 2015). O Brasil havia perdido o último mundial da FIFUSA realizado em novembro de 1988, mas recuperou o título dois meses depois no primeiro mundial realizado pela FIFA, após Álvaro Melo Filho autorizar a equipe do Bradesco a representar o Brasil, na Holanda, na qual seria a 1º Copa do Mundo de Futsal da FIFA, e com isso obteve o título de campeão mundial. Depois do mundial, Álvaro Melo Fi- lho, contando com a aprovação e presença de Januário D’Alécio (en- tão presidente da FIFUSA), participou de diversas reuniões na FIFA ao longo do ano de 1989, sempre com atuação destacada, dentre ou- tros, do secretário geral da FIFA, à época, Joseph Blatter. Ao final das negociações foi acordado a fusão FIFA/FIFUSA, quando então foi esporte • 67 constituída, na FIFA, com previsão estatutária, a Comissão de Futsal (CBFS, 2015). Em 02 de maio de 1990 o Brasil se desligou oficialmente e le- galmente da FIFUSA através de uma carta escrita pelo presidente da CBFS, Aécio de Borba Vasconcelos, com a permissão das 26 Fede- rações filiadas à instituição. Desde então, passou a adotar as novas regras de jogo redigidas pela FIFA, que tem como objetivo principal desenvolver o Futsal no mundo e levar a modalidade a sua integrali- zação no programa dos Jogos Olímpicos (CBFS, 2015). » HISTÓRIA DO FUTSAL NO BRASIL Em 1957 no estado de Minas Gerais houve a tentativa de fundar a Confederação Brasileira de Futebol de Salão através de uma ata en- viada ao Conselho Nacional de Desportos (CND). Porém, o conselho não atendeu à solicitação da ata que foi registrada com o nº 2.551 no dia 30 de setembro de 1957, permanecendo assim até 1979, quando em 15 de junho foi realizada uma Assembleia Geral que deu origem a Confederação Brasileira de Futebol de Salão, tendo como presidente Aécio de Borba Vasconcelos para o período 1980 à 1983 (CBFS, 2015). Segundo a CBFS, o Futsal atualmente é o esporte mais prati- cado no Brasil e conta no mundo com a adesão de mais de 70 paí- ses, em quatro continentes, com destaque para a Austrália, Espanha, Itália, Paraguai, Portugal, Rússia, Ucrânia, entre outros. Os últimos campeonatos mundiais de Futsal demonstrou a grande evolução de outros países, que mostraram que estão mais organizados, estrutu- rados e principalmente, com uma melhor parte tática e técnica e ex- celente condição física e psicológica que já possuíam em anos ante- riores (CBFS, 2015). O nome que mais se destacou no início do futebol de salão foi o do professor Habib Maphuz, então professor da ACM de São Paulo e que nos anos cinquenta participou da elaboração de diver- sas normas para a prática de várias modalidades esportivas, sendo uma delas o futebol de salão, tudo isto no âmbito interno da ACM paulista. Além disso, ele fundou a primeira liga de futebol de salão chamada de: Liga de Futebol de Salão da Associação Cristã de Moços e foi o primeiro presidente da Federação Paulista de Futebol de Salão (CBFS, 2015). 68 • pedagogia dos esportes A Federação Metropolitana de Futebol de Salão, agora cha- mada de Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janei- ro foi fundada em 28 de Julho de 1954, sendo a primeira federação estadual do Brasil e seu primeiro presidente foi Ammy de Moraes. A Federação Mineira de Futebol de Salão também foi fundada em 1954; em 1955 fundou-se a Federação Paulista de Futebol de Salão, e com isso diversas federações surgiram por todo o Brasil. Em 1956 as Federações Baiana, Cearense, Gaúcha e Paranaense. Em 1957 a Ca- tarinense e a Potiguar, em 1959 a Sergipana. Na década de 60 foram fundadas as Federações do Distrito Federal, Paraíba e de Pernambu- co. Na década de 70 as Federações Acreana, a do Mato Grosso do Sul, Goiana, Piauiense, a Mato-Grossense, e a Maranhense. Na década de 80 foram fundadas as Federações Amazonense, a de Rondônia, a do Pará, a Alagoana, a do Espírito Santo e a Amapaense. E, por último, na década de 90 vieram as mais novas de Roraima e a Tocantinense (CBFS, 2015). Para Sanches e Borim (2010) no Futsal feminino, segundo da- dos oficiais da FIFA, são 55 países praticantes da modalidade, pois, até então, não existe um campeonato mundial. Mesmo assim, com um número reduzido em relação ao masculino, o Futsal feminino vem conquistando um maior espaço no Brasil e no mundo, tanto é que no nosso país a modalidade entre as mulheres conta com cam- peonatos semelhantes aos adotados no masculino, como a Taça Bra- sil e o Campeonato Brasileiro de Seleções. No Brasil a prática do futsal feminino foi oficializada em 08/01/1983 pelo extinto Conselho Nacional de Desportos (CND). [...] a prática do futebol de salão feminino foi auto- rizada pela FIFUSA (Federação Internacional de Futebolde Salão) em 23 de abril de 1983. A partir dessa autorização os campeonatos começaram a surgir em vários Estados. Ante- riormente a essa data, as competições eram organizadas sem o caráter oficial (SANCHES; BORIM, 2010, p. 1). Com isso, houve a necessidade de se expandir a prática do Futsal feminino no Brasil e foram surgindo as competições Estaduais e Nacionais o que, a cada temporada, há um número crescente de esporte • 69 participantes elevando a qualidade da competição e o interesse do torcedor (SANCHES; BORIM, 2010). A equipe brasileira é bicampeã sul-americana, nas edições realizadas aqui no Brasil, em 2005, e no Equador, em 2007 e pen- tacampeã mundial, nas edições 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. As jogadoras, assim como os homens, também ganharam o mundo. Nos campeonatos dos Estados Unidos, da Europa e da Ásia existem atletas do Brasil atuando (CBFS, 2015). » FUNDAMENTOS BÁSICOS FUTSAL12 Assim como no Futebol, há semelhanças dos fundamentos bá- sicos no Futsal, com isso, encontramos na literatura: Passe, recepção, chute, condução, drible entre outros. O passe é o ato de enviar a bola a um companheiro de equipe ou a um setor da quadra, mas com o objetivo de que ela chegue a um companheiro em deslocamento, para tanto, devem ser levados em consideração alguns aspectos como equilíbrio, precisão, cabeça erguida, intenção, objetivo, pé de apoio. O passe é classificado em di- versos aspectos em relação à distância percorrida pela bola, com isso, existem os passes curtos, médios e longos; também é classificado em relação à trajetória, assim temos o passe rasteiro, alto, parabólico, meia-altura; e classificado em relação a execução a partir do passe com a parte interna do pé, externa do pé, bico do pé, solado do pé e dorso do pé. Além disso, os passes também podem ser executados com a coxa, peito, cabeça, ombro e calcanhar (APOLO, 2007). A recepção é o fundamento que intercepta a trajetória de uma bola passada, seja ela por um companheiro ou adversário. Para tan- to, deve-se posicionar de acordo com a trajetória da bola para que se consiga ter o total domínio dela, e a recepção bem executada dá velocidade ao jogo, pois a partir dela temos condições de passar a bola, conduzir ou finalizar a jogada. Existem também classificações quanto ao tipo de recepção, como em relação à trajetória da bola em referência as trajetórias dos passes, com isso, temos recepções ras- teiras que são realizadas com a parte interna, externa e o solado dos 12 Os conceitos dos fundamentos citados são baseados na obra: APOLO, Alexandre. Futsal: metodologia e didática na aprendizagem. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2007. 70 • pedagogia dos esportes pés; a recepção a meia-altura realizada com a parte interna e externa dos pés, e também com as coxas; a recepção parabólica, realizada com o peito, cabeça, coxa, dorso e solado dos pés; e as recepções altas realizadas com a cabeça e o peito (Op. Cit.,). O fundamento do chute é semelhante ao do passe, somente difere na velocidade imprimida pelo pé na hora do toque ao bater na bola. Para se realizar um chute firme devemos encaixar o pé na bola tocando-a com o peito do pé, de modo que ela saia em uma trajetória baixa e violenta, este é o tipo de chute mais comum no Futsal. Os chutes são classificados de acordo com à sua trajetória e execução. Desta maneira, temos chutes em relação à trajetória clas- sificados como rasteiro, meia-altura e alto; e em relação a execução temos chutes simples, com a parte interna, com a parte externa e com o bico do pé, além do chute de primeira que é aquele dado antes que a bola chegue ao solo quando ela vem pelo alto. Outras partes do corpo também são consideradas na hora do chute, como o cabeceio, o toque de calcanhar, a coxa e o peito (Op. cit.,). A condução é o fundamento utilizado para se locomover com a bola pelo espaço de jogo através de toques sucessivos. A condução é classificada de acordo com à velocidade, assim temos conduções lentas e rápidas. Em relação à trajetória através de conduções retilí- neas em que o jogador segue em uma única direção, e as sinuosas, em que o jogador muda a trajetória da bola. Em relação a execução, a condução pode ser executada com a parte interna, externa e o solado dos pés (Op. Cit.,). O drible é o fundamento utilizado para ultrapassar o adversá- rio através de manobras individuais com a bola, tendo como intuito ganhar o espaço necessário para dar seguimento a jogada, podendo assim manter a posse da bola, passar para um companheiro ou finali- zar. De acordo com Apolo (2007), o drible é diferente da finta, apesar de muitos confundirem. Segundo este autor, a finta é o movimento que se faz com o corpo, estando ou não em posse de bola, no intuito de enganar o adversário para conseguir o drible ou conseguir o es- paço para se fazer uma jogada. Com isso, também pode-se “fintar” o adversário sem a posse de bola, quando por exemplo, ameaçamos correr para um lado e rapidamente saímos para outro. O drible pode ser classificado em relação ao tipo e à sua execução, com isso, temos esporte • 71 os dribles simples, que são as “puxadinhas”, com o solado, parte in- terna e externa dos pés; os dribles clássicos ou de habilidade, que são os elásticos, chapéu, meia-lua ou “drible da vaca”, bola por baixo da perna ou “canetas”, carretel (APOLO, 2007). » REGRAS BÁSICAS DO FUTSAL13 Desde o processo de institucionalização e esportivização ocorrido no esporte ao longo dos anos, as regras constituem-se em condição essencial para que as entidades possam realizar, principal- mente, as competições em caráter internacional. Com isso, todo es- porte precisa ter regras para organizá-lo e orientar o comportamento de cada equipe, promovendo uma competição dentro de critérios preestabelecidos e com o Futsal não foi diferente. Com o tempo, as regras sofreram algumas mudanças até se- rem aperfeiçoadas devido a aspectos históricos, já que as primeiras normas foram criadas pela FIFUSA que era quem organizava as com- petições da modalidade e hoje quem gere a modalidade é a FIFA, que desde então, passou a adotar as novas regras de jogo redigidas pela instituição. Portanto, listamos abaixo as principais regras do esporte. A quadra de jogo tem uma forma retangular com o compri- mento máximo de 42m e mínimo de 25m, e sua largura no máximo de 22m e mínimo de 16m. Em competições internacionais, tem entre 38m a 42m de comprimento no máximo e largura de 20m a 25m. Há linhas de marcação visíveis com oito centímetros de largura. A bola deve ser esférica, feita de couro macio ou outro material previamente aprovado e a sua circunferência tem o mínimo de 62cm e máximo 64cm nas categorias adultas, sub-20, sub-17 e sub-15. O seu peso não pode ter menos de 400g e ultrapassar 440g. Durante a partida, só poderá ser trocada com autorização prévia do árbitro. Um jogo de Futsal possui duas equipes com 05 jogadores cada, sendo que um deles é o goleiro. Se uma das equipes ficar com menos de três jogadores, a partida deverá ser cancelada. Uma equipe 13 As principais regras do Futsal foram extraídas do endereço eletrônico: <https:// futline.com.br/regrasdofutsal>. Acesso em: 08 out. 2018. As regras completas para a modalidade aprovadas pela FIFA estão disponíveis no site: <http://www. cbfs.com.br/2015/futsal/regras/livronacional.html>. Acesso em: 08 out. 2018. 72 • pedagogia dos esportes pode ter no máximo 09 jogadores reservas. As substituições podem ser feitas em qualquer momento do jogo e não possuem uma quan- tidade específica. A substituição deverá ser realizada pela linha da zona nos três metros correspondentes ao lado do banco de reservas e sempre após o atleta substituído ter ultrapassado a linha lateral. O jogador não pode usar nenhum objeto considerado perigoso pelo árbitro, exemplo: pulseiras, colares, anéis, alianças e brincos. Os jo- gadores devem usar: camisa de manga curta ou comprida, calção curto, caneleiras, tênis feitos de lona, pelica ou couro macio,meias de cano longo e caneleiras. Na entrada das equipes, os atletas devem ficar com a camisa dentro dos calções. O uniforme do goleiro deve ser em uma cor diferente dos outros. O capitão do time deverá usar uma braçadeira para poder ser identificado. O jogo tem um árbitro auxiliar e um árbitro principal. Além deles também existem o cronometrista e anotador trabalhando em uma mesa fora da quadra. O cronometrista acompanha e controla o tempo de jogo. Já o anotador trabalha examinando as fichas de identificação dos jogadores e comissão, registra as faltas cometidas pelas equipes, controla infrações, anota na súmula as ocorrências do jogo, etc. O árbitro cuida de todas as regras do jogo. Cabe a ele julgar e chamar a atenção quando ocorrer infrações, não podendo tomar decisões baseadas somente no favorecimento de uma determinada equipe. Uma partida oficial de Futsal tem duração de 40 minutos. São dois tempos de 20 minutos e 10 minutos para descanso (interva- lo). O tempo de jogo é marcado com um cronômetro e isso deixa a partida mais dinâmica. Cada equipe tem direito de 01 tempo técnico de um minuto em cada período de jogo. No início da partida, o jogador irá dar um chute no lado con- trário da quadra. Enquanto isso, os jogadores do time adversário de- vem permanecer a pelo menos três metros da bola e não poderão invadir o lado adversário da quadra até o pontapé inicial ser efetuado e a bola ser movimentada. O jogador que efetuar o pontapé inicial só poderá voltar a tocar na bola após outro jogador tê-la tocado. Além disso, a bola estará fora do jogo quando ultrapassar as linhas laterais ou de fundo, quando bater no teto e quando a partida for interrom- pida pelo árbitro. Será considerada em jogo em qualquer outra situa- ção, do começo ao final da partida. esporte • 73 Para que uma atitude seja considerada falta, deve-se consi- derar os seguintes aspectos: Ter sido cometida por um jogador em quadra ou reserva; Precisa ter sido realizada na superfície do jogo e enquanto a bola estiver em jogo. As faltas são penalizadas com o Tiro Livre Direto ou Tiro Livre Indireto. Não existe a regra de impe- dimento no Futsal. HAnDEbOl » HISTÓRIA DO HANDEBOL Os esportes coletivos são originários de jogos que, em algum momento histórico, foram institucionalizados e, portanto, recebe- ram o nome de esportes, com regras e determinações das organi- zadoras e federações. Isso significa que passaram a ter instituições responsáveis pela sua regulamentação, normatização, divulgação e supervisão da sua prática. Essas instituições são geralmente deno- minadas federações internacionais, no âmbito mundial, e federações ou confederações, no âmbito nacional, a qual fica responsável de reger as competições tanto no âmbito nacional como internacional (GRECO; ROMERO, 2012). Segundo Greco e Romero (2012), o Handebol tem sua ori- gem em diversos jogos que serviam de passatempo nos séculos XIX e XX, recebendo o nome de Handebol de salão, enquanto também existiu o Handebol de campo. Não se sabe exatamente em que país o Handebol se institucionalizou como esporte. Alguns pesquisadores, a exemplo de Ferreira apud Greco e Romero (2012), apontam que a Suécia foi o país que deu o passo inicial na evolução do esporte, criando na década de 1930 algumas regras que se assemelham aos dias atuais, acontecendo nos anos de 1931 e 1932 os primeiros cam- peonatos de Handebol. Outra versão de Coronado e González apud Greco e Romero (2012) apontam que o Handebol surge na Dinamar- ca, onde as regras foram aprovadas com a fundação da Federação Internacional de Handebol (IHF) em 1946. No que diz respeito às competições em nível mundial o Han- debol teve seu primeiro campeonato mundial realizado na Alema- nha em 1938, somente para a categoria masculina. Na categoria 74 • pedagogia dos esportes feminina, esse mundial só ocorreu em 1957, na Iugoslávia (CORO- NADO E GONZÁLES apud GRECO E ROMERO, 2012). A entrada do Handebol nos Jogos Olímpicos só aconteceu em 1972 (Munique) na categoria masculina e posteriormente em 1976 (Montreal) na ca- tegoria feminina. Durante várias fases da humanidade, jogos eram praticados com a utilização das mãos e uma bola, jogos estes que se assemelha- vam com o Handebol, a “Urânia” que era praticado na antiga Grécia, com uma bola do tamanho de uma maçã e sem baliza, citado por Homero na Odisseia, já os romanos jogavam “Hasparton”, segundo Cláudio Galero (130-200 d.C.). Na França, Rabelais (1494 – 1533) ci- tava uma espécie de Handebol (“esprés jouaiant à balle, à la paume”). Já em meados de 1848 o dinamarquês Holger Nielsen criou um jogo denominado “Haaddbold” determinando suas regras. Na mesma época dos tchecos existia um jogo semelhante denominado “Haze- na”. Fala-se também de um jogo similar na Irlanda, e no “Sallon”, do uruguaio Gualberto Valetta, como precursor do Handebol. Todavia, o Handebol como se joga hoje foi introduzido na última década do século passado, na Alemanha, como “Raftball”14. Durante a primeira Grande Guerra (1915 a 1918), o professor de ginástica Berlinense Max Heiser criou um jogo ao ar livre deriva- do do “Torball”. Em 1919, o Professor alemão Karl Schelenz reformu- lou o “Torball”, alterando seu nome para “Handball” para o jogo com 11 jogadores. No sentido de obter uma divulgação maior, enviou este trabalho, juntamente com as regras especiais do Handebol de campo, a países como: Estados Unidos, Irlanda, Itália, Suíça, França, etc. Foi assim que surgiu este esporte competitivo, que anteriormente, era mais praticado pelo sexo feminino, e posteriormente pelo sexo mas- culino, aumentando sua popularização e competição (CBHB, 2018). Por essa razão, na historiografia do Handebol que se rotula a Karl Schelenz como o criador (“pai”) do Handebol, já que foi ele quem adaptou o Torball para o Handebol, forçando assim, a popula- rização do jogo em toda a Europa. Este trabalho foi favorecido pelo fato de ter sido ele, professor da Faculdade de Educação Física de 14 Fonte: Disponível em: <http://www.brasilhandebol.com.br/noticias_detalhes. asp?id=27174>. esporte • 75 Berlim, onde havia muitos alunos estrangeiros, que levaram para seus respectivos países os conhecimentos ali obtidos (CBHB, 2018). No ano de 1925, foi realizada a primeira partida internacional de Handebol, entre as equipes da Alemanha e da Áustria. Neste jogo, os austríacos foram vencedores pelos placar de 6 a 3. Na reunião de agosto de 1927 do Comitê de Handebol da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) foram adotadas as regras alemãs como às oficiais, motivando que na 25º Sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI), realizado no mesmo ano, fosse pedida a inclu- são do Handebol no programa olímpico (CBHB, 2018). O COI decidiu, em 1934, que o Handebol seria um dos espor- tes da Olimpíada de Berlim, em 1936, o que realmente aconteceu com a participação de 6 dos 26 países então filiados, com a Alema- nha vencendo a Áustria no jogo final por 10 a 6, perante cem mil pessoas no Estádio Olímpico de Berlim. Dois anos mais tarde, tam- bém na Alemanha, foi disputado o primeiro campeonato mundial, tanto no campo (8 participantes) como no salão (4 participantes). Tão logo terminou a Guerra Mundial, os dirigentes de Handebol reuniram-se em Copenhague e fundaram a atual Federação Interna- cional de Handebol, com sede na Suécia, sob a presidência do sueco Costa Bjork. O Handebol vem realizando a cada quatro anos seus campeonatos mundiais e olímpicos, estes desde 1972 no masculino e desde 1976 no feminino (CBHB, 2018). » HISTÓRIA DO HANDEBOL NO BRASIL Em nosso país, o Handebol como modalidade de campo foi introduzido em São Paulo por imigrantes, principalmente da colô- nia alemã, no início da década de 30. O Handebol ficou restrito à São Paulo até a década de 60, quando o professor francês Augusto Listello, durante um curso internacional em Santos, apresentou a modalidade a professores de outros Estados. Esses professores intro- duziram oesporte em seus colégios e assim o Handebol começou a ser praticado em outros estados. Em 1971, o Ministério da Educação (MEC) incluiu o Handebol entre as modalidades dos Jogos Estudan- tis Brasileiros (JEBS) e Jogos Universitários Brasileiros (JUBS). Com isso, o Handebol disseminou-se em todo o território nacional, com vários Estados dividindo os títulos nacionais (CBHB, 2018). 76 • pedagogia dos esportes Em 1973, a antiga Confederação Brasileira de Desporto rea- lizou em Niterói o 1º Campeonato Brasileiro Juvenil para ambos os sexos. No ano seguinte, em Fortaleza, iniciou-se a competição para adultos. Em 1980, um ano após a criação da Confederação Brasileira de Handebol, foi disputada a 1ª Taça Brasil de Clubes, na cidade de São Paulo, então sede da entidade (CBHB, 2018). O Handebol teve grande aceitação nas escolas e faculdades e dessa forma se introduziu em diversos Estados brasileiros, onde foram constituindo federações, com isso, surgiu organizações de competições espalhadas por todos os Estados. Sergipe ganhou des- taque, pois alguns professores trouxeram o esporte para o Estado e realizaram intercâmbio com países em que o Handebol era esporte dominante, como a Roménia, com isso as táticas e estilo de jogo de quem melhor se jogava na época, foram apreendidos (CBHB, 2018). O Handebol caiu no gosto da população brasileira e logo se expandiu, passando a ser praticada no litoral brasileiro em estados como Rio de Janeiro, Sergipe, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba. Assim, apareceu também, o Handebol de areia que teve início na década de 90 na Itália com o intuito de fazer o jogo mais dinâmico e lúdico do que aquele praticado na quadra. Logo, a moda- lidade também foi institucionalizada com regras e competições pas- sando a se denominar Beach Handball, com o Brasil tendo resultados significantes nas competições mundiais. Hoje o Handebol de areia faz parte dos jogos World Games, que são realizados pelo Comitê Olímpico Internacional. Em Sergipe, segundo Nascimento (2013), o Handebol chega no ano de 1969 através do Curso de Atualização Técnico Pedagógico (CATP), com o apoio da divisão de Educação Física do MEC para di- vulgar a modalidade para os futuros professores de Educação Física do Estado. Em 1970 foi realizado o segundo CATP, ministrado por Homero José, grande influenciador da modalidade no Estado e com cursos de especialização em outros países. Assim, no mesmo ano, foi realizado o primeiro Jogos Estudantis Sergipano (JES), em que o Handebol obteve grande aceitação por partes dos alunos e da escola, com grande número de instituições e participantes na modalidade. De acordo com os estudos de Nascimento (2013), em 1974 foi fundada a Federação Sergipana de Handebol (FSHB). A partir de esporte • 77 uma filiação com a CBD em 1978, cursos técnicos foram realizados no Estado, desenvolvendo o esporte, tornando Sergipe referência. O sergipano Manoel Luiz foi presidente da Confederação Brasileira de Handebol, o que colocou Sergipe no centro do Handebol, pois, a sede da Confederação foi transferida para sua capital Aracaju. » FUNDAMENTOS DO HANDEBOL15 Na literatura do esporte e, em especial, quando fazemos refe- rência ao Handebol encontramos fundamentos básicos que mantêm similaridades, com algumas variações (tipos) mas, que resumida- mente podemos citá-los como: passe, recepção, arremesso, finta. Assim, o passe é um fundamento do Handebol no qual o jo- gador passa a posse de bola para outro jogador da sua equipe. No Handebol para que o passe seja mais eficiente é necessário ter uma boa empunhadura na bola, ou seja, a maneira correta de segurar a bola, pois esta deve estar acomodada na palma da mão que precisará estar um pouco côncava, e a ponta dos cinco dedos são utilizadas de modo que a bola fique bem segura e com fácil manuseio. Existem diferentes tipos de passes que variam em relação ao posicionamento e a distância entre os jogadores. Desta forma, exis- te o passe de ombro que é considerado o mais básico e o principal no Handebol, este é realizado com o cotovelo alinhado à altura do ombro e a perna contrária ao braço que realiza o movimento fica à frente. Também existem os passes por trás da cabeça, passe de costas, passe em pronação. A recepção é o fundamento em que a bola é dominada com segurança quando ela vem a partir de um passe de um companheiro de equipe ou quando ela sobra a partir de alguma jogada, sendo fre- quentemente realizada com as duas mãos, pois desta forma tem um maior cuidado para segurá-la com firmeza. Com suas variações de acordo com a altura da bola, podendo ser alta, média ou baixa. A alta é aquela que ocorre quando a bola é dominada acima da cabeça, com isso, o jogador pode saltar para auxiliar na execução do movimento. 15 Os conceitos dos fundamentos citados tem como base informações do ende- reço eletrônico: <https://blog.unisportbrasil.com.br/handebol-caracteristicas- -gerais-fundamentos-basicos-e-sistemas-de-jogo-2/>. Acesso em: 03 dez. 2018. 78 • pedagogia dos esportes A média é a mais comum no Handebol, pois a maioria dos passes são direcionados a zona média que corresponde ao peito do jogador. A forma mais correta de recepcionar a bola nesta posição é com o braço estendido em direção a bola e a palma da mão voltada para a frente. A baixa ocorre quando a bola é dominada abaixo da linha do quadril, ge- ralmente é resultado de um passe errado, nesta variação a mão assume posição de concha com a palma da mão virada para frente, e quanto mais baixa for a trajetória da bola, maior deve ser a flexão de joelhos. O arremesso ao gol é o fundamento em que o jogador joga a bola com as mãos em direção ao gol da equipe adversária, ten- do como objetivo marcar o ponto. No Handebol este movimento também é conhecido como chute, e ele geralmente é realizado na posição de ombro, citada no fundamento de passe. O arremesso é divido de três formas, sendo elas: o arremesso com salto que ocorre em suspensão e não há contato entre os pés do jogador e a quadra; o arremesso sem salto que acontece com apoio e é executado parado, em contato com a quadra; e o arremesso com queda após a execução do movimento em que o jogador projeta o corpo a frente para arre- messar e, após a execução, acontece a queda na quadra. É o arremes- so mais comum entre os pontas e os pivôs. A finta é o fundamento em que consiste o jogador em posse da bola ameaçar fazer determinado movimento e mudar de direção ao final dele procurando evitar a ação do defensor com o objetivo de con- fundir, desequilibrar e, principalmente, deixar o adversário para trás, desviando sua atenção. Para se realizar uma boa finta no Handebol é necessário que o jogador tenha deslocamento rápido, velocidade de reação, equilíbrio e agilidade. Além disso, ter boa visão de jogo, pois a finta é realizada com a bola andando e o jogador deve enxergar a qua- dra durante o movimento para escolher a melhor jogada. REGRAS BÁSICAS DO HANDEBOL16 No Handebol, oficialmente, a quadra de jogo é um retângulo com 40m de comprimento e 20m de largura, sendo duas áreas de 16 As principais regras foram extraídas do site da Confederação Brasileira de Han- debol (CBHB), disponíveis no endereço eletrônico: <http://www.brasilhande- bol.com.br/noticias_detalhes.asp?id=27182>. Acesso em: 20 out. 2018. esporte • 79 gol (cada gol com 3m de largura e 2m de altura). Os lados maiores são chamados de linhas laterais e os lados menores são chamados de linhas de gol (entre os postes da baliza) ou linhas de fundo (em am- bos os lados da baliza). Dentro da quadra de jogo existem também marcações para cobranças de tiro livres, como a linha de 9m e 7m, além da área do gol, restrita somente a essa figura das equipes, que fica entre a linha de fundo e a linha de 6m, que demarca essa área. Qualquer jogador que penetre essa área propositadamente em posse da bola será punido com o lance livre para o adversário. O jogador que invadir a área de gol, depois de ter lançadoa bola, não está sujei- to a qualquer punição, desde que isso não resulte em prejuízo para a ação do adversário (CBHB, 2018). A duração oficial de uma partida para todas as equipes com jogadores de idade igual ou acima de 17 anos é de 2 tempos de 30 minutos. O intervalo de jogo é normalmente de 10 minutos. Os in- tervalos dos jogos dos Campeonatos Mundiais são de 15 minutos. A duração normal da partida para equipes de adolescentes com ida- de entre 12 e 16 anos é de 2 tempos de 25 minutos, e no grupo de idade entre 8 e 12 anos são 2 tempos de 20 minutos. Em ambos os casos, o intervalo de jogo é de, normalmente, 10 minutos (Op. Cit.,). A partida de Handebol conta com 7 jogadores em cada equi- pe, sendo que cada equipe possui um goleiro e, somente ele, pode tocar com os pés na bola sem que seja considerada uma falta (so- mente dentro da sua área). Além de segurar a bola durante o tem- po máximo de três segundos mesmo ela estando no chão e executar o máximo de três passos com a bola na mão. É proibido conduzir ou manejar a bola com os pés. Um gol será marcado quando a bola ultrapassar completamente a linha de gol (Op. Cit.,). As sanções disciplinares no Handebol obedecem a uma or- dem progressiva. Faltas menos violentas, entrada ou saída irregular de um jogador, mau comportamento, faltas cometidas pelos jogado- res na área de gol, lançamento intencional da bola para sua área de gol, faltas do goleiro, execução ou conduta irregular nos lances de lateral, escanteio, tiro de meta e 7 metros. Ainda, atitude antides- portiva, acarretam em cobranças de tiros livres (o que deverão ser executadas atrás da linha de 9 metros) (Op. Cit.,). As faltas podem até resultar em uma punição de 2 minu- tos para o jogador que a comete, dependendo da interpretação da 80 • pedagogia dos esportes arbitragem com relação ao grau de violência da falta. Quem receber esta punição de 2 minutos e após podendo retornar ao jogo com permissão da mesa de arbitragem (Op. Cit.,). A partida de Handebol é dirigida por dois árbitros, assisti- dos por um secretário e um cronometrista. Os dois árbitros (juízes) atuam em conjunto tanto nos lances de defesa e ataque de ambos os times. O secretário fica sentado na mesa de arbitragem, em posse da súmula da partida, e deve computar todas as estatísticas do jogo, para auxiliar os juízes (tal como: número de gols; quem marcou o gol; número de cartões amarelos; dois minutos e faltas de cada joga- dor). Por fim, o cronometrista é quem controla o tempo da partida e também está sentado à mesa de arbitragem (CBHB, 2018). REFERêncIAS BEZAULT, P. O voleibol: As regras, a técnica, a táctica. Lisboa: Estampa, 2002. BETTI, M. Esporte na mídia ou Esporte da mídia? Revista Motrivivência, Florianópolis, SC, 2002. ______. A Janela de vidro: esporte, televisão e educação física. Campinas: Papirus, 1998. BOJIKIAN, J. C. Ensinando o voleibol. São Paulo. Ed. Phorte, 2005. BRACHT, V. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí: Unijuí. 2005. ______. ______. UFES: Vitória 1997. ______. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. CBB. O Basquete. 2018. Disponível em: <http://www.cbb.com.br/a-cbb/o- -basquete>. Acesso em: 03 dez. 2018. CBFS. O esporte da bola pesada que virou uma paixão. 2015. Disponível em: <http://www.cbfs.com.br/2015/futsal/origem/index.html>. Acesso em: 03 out. 2018. esporte • 81 CBHB. História do Handebol. 2018. 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Este é um desafio presente e constante, principalmente no âmbito da Educação Física quando discutimos o esporte ou mesmo, propomos processos pedagógicos que o tenham como tema cen- tral de análise. Tomemos o Basquetebol como exemplo. Hoje, em todo o mundo, é conhecida a Associação Nacional de Basquetebol, ou National Basketball Association (NBA) que é a Liga Profissional de Basquetebol dos Estados Unidos, em que as proezas das jogadas dos atletas, do espetáculo e das equipes, circulam nos mais diversos o basquetebol na ufs • 85 canais de comunicação e viram rito e mito nos mais diversos lugares: em casa, na rua, nos bares, nas escolas, nas universidades, enfim, parece-nos que somos bem próximos desse espetáculo o que implica em considerar a reprodução de sua manifestação no ambiente esco- lar, por exemplo. No entanto, quando nos reportamos a sua história, percebe- mos que ele fora criado para atender necessidades específicas de estu- dantes da pequena cidade de Springfield, no estado de Massachusetts nos Estados Unidos, em que o inverno rigoroso e a falta de adesão dos jovens pelas ginásticas fez com que o Professor James Naismith inventasse esse jogo como alternativa para as aulas de Educação Físi- ca e práticas esportivas daquele lugar, mas, ao passar dos anos em sua trajetória do Basquetebol passou do foco do praticante ao atleta, para mais tarde foco no espectador e atualmente no telespectador. Regras, gestos técnicos, características físicas dos atletas, marketing e muitas outras alterações foram (re)modelando o Basquetebol até chegar ao que vemos hoje (SILVA, 1991). Assim, com a espetacularização que atingiu ao Basquetebol e a força econômica e simbólica que este esporte de rendimento tem por meio das mídias, perdeu-se aos nossos olhos, de forma substan- cial, a ideia do uso como meio possível na aprendizagem escolar sem se preocupar com competição ou rendimento. Entendemos que ele é um bem cultural produzido historicamente por homens e mulheres e que, neste sentido, deveria ser conhecido e experimentado por to- dos, especialmente, pelos alunos da escola. Foi nesta contradição que fomos instigados a saber – a partir de nossa realidade, a universidade – que desafios são postos quando estamos diante da preparação de uma equipe para participação em campeonatos (material, tempo, patrocínio, etc.) e, também, o desafio em formular uma proposta pedagógica em que o Basquetebol seja inserido na escola. Portanto, este estudo tem por objetivo analisar a dicotomia entre o Basquetebol enquanto esporte de rendimento e enquanto possibilidade didático-pedagógica na Universidade Fede- ral de Sergipe (UFS). 86 • pedagogia dos esportes O Basquetebol como “rendimento”1 será exposto através da fala do Professor do Departamento de Educação Física (DEF) o qual um esteve à frente da equipe universitária de Basquetebol da UFS que participou dos Jogos Universitários Brasileiros (JUBS) de 2014 e o outro, com a proposta pedagógica, Professor ministrante da dis- ciplina de Pedagogia do Basquetebol do DEF/UFS do curso de Li- cenciatura. O importante desse estudo foi que ele deixou um diagnóstico inicial, através das falas dos Professores, sobre dois pontos de vista diferenciados: a preparação técnico-tática de uma equipe de Basque- tebol (universitária) e a perspectiva do ensino do Basquetebol no âmbito escolar. A EMPUnHADURA METODOlóGIcA Partindo do objetivo geral proposto, optou-se por tomar a UFS como lócus de observação e análise. Neste sentido, a pesquisa foi caracterizada como Descritiva, de abordagem Qualitativa em que envolveu “[...] obtenção de dados descritivos, obtidos no con- tato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto” (BOGDAN; BIKLEN, 1982 apud LÜDKER, 1986, p. 13). Ainda nesse sentido, aprofundamos as relações humanas não se opondo as questões muito particulares. O caráter qualitativo, se- gundo Minayo (1994, p. 22) “[...] corresponde a um espaço mais pro- fundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”. Com isso, este estudo esteve em consonância com aspectos esportivos, sociais e pedagógicos. A pesquisa descritiva exige do in- vestigador uma série de informações sobre o objeto de pesquisa. Esse 1 Deixamos uma inquietação no sentido do rendimento, pois, para nossa análi- se observamos uma equipe universitária de Basquetebol, de uma Universidade pública, com todas as dificuldades possíveis e reais como: disponibilidade para o treinamento integral; alimentação; preparação física; preparação psicológica, fatores, que certamente, caracterizam o esporte com este atributo, rendimento. o basquetebol na ufs • 87 tipo de estudo pretende descrever os fatos e fenômenos de determi- nada realidade. Os estudos descritivos exigem do investigador, para que a pesquisa tenha certo grau de validade científica, uma pre- cisa delimitação de técnicas, métodos, modelos e teorias que orientarão a coleta e interpretação dos dados. A população e a amostra devem ser claramente delimitadas, da mesma ma- neira, os objetivos do estudo, os termos e as variáveis, as hipó- teses, as questões de pesquisa etc (TRIVIÑOS, 1987, p. 112). A escolha por este campo de pesquisa – UFS – deu-se por se tratar de um ambiente que apresentava, à época, duas perspectivas visíveis e em caminhos opostos do ensino do Basquetebol: uma equi- pe sendo preparada para uma competição de caráter nacional e uma Disciplina que, dentro de sua proposta, estava o ensino do Basquete- bol no âmbito escolar. No tocante aos instrumentos para “colheita” dos dados utili- zou-se da entrevista semiestruturada. Para Lüdke e André (1986, p. 34) a entrevista é um instrumento que “[...] permite a captação ime- diata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos”. Após a fase de apropriação epistemológica e metodológi- ca, dois momentos importantes marcaram a pesquisa no tocante à apreensão e captura dos dados: o primeiro momento da pesquisa analisamos como é tratado o Basquetebol na visão de Esporte de “rendimento” no tocante ao treinamento, a escolha dos atletas e o desempenho da equipe da UFS no JUBS como também, em outras competições; O segundo momento foi abordado o Basquetebol com uma visão mais pedagógica voltada para sua inserção no meio esco- lar. Tendo em análise o processo de ensino-aprendizagem. Fecha- mos o ciclo de coleta de dados realizando as entrevistas de caráter semiestruturadas com os sujeitos da pesquisa (Professores das duas faces do ensino). A fase seguinte da pesquisa representou a Análise que, após a transcrição das entrevistas, reagrupamos os dadosdando sen- tido a eles a partir da perspectiva de Análise de Conteúdo (BAR- DIN, 2009), triangulando-os entre si (base teórica, metodológica, 88 • pedagogia dos esportes entrevistas) e analisamos o Basquetebol na UFS em suas duas faces, o “rendimento” e o pedagógico. Os Sujeitos protagonistas da pesquisa foram: Marcos Bezerra (BEZERRA) que é Professor do Departamento de Educação Física da UFS, possui Doutorado em Educação Física pela Universida- de Gama Filho/RJ, leciona na UFS desde 2006; e Sérgio Dorenski (DORENSKI), Professor do Departamento de Educação Física da UFS, possui Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e leciona na UFS desde 1998. Portanto, este processo de Análise de Conteúdo possibilitou gerar duas temáticas basilares que ajudaram entender os aspectos do esporte em perspectivas distintas que muitas vezes são desconheci- dos, mas, que são essenciais para formação profissional dos graduan- dos em Educação Física, seja na Licenciatura ou Bacharelado. A EQUIPE DE bASQUETEbOl DA UFS nOS JOGOS UnIVERSITÁRIOS bRASIlEIROS – JUbS Discutiremos aqui alguns aspectos, a partir da visão do entre- vistado, acerca da preparação/treinamento de uma equipe de Bas- quetebol cujo foco principal é a disputa numa competição de caráter nacional: Os Jogos Universitários Brasileiro (JUBS). Assim, a partir dos dados coletados, construímos uma narrativa em que esboça a visão do Professor Marcos Bezerra, então técnico da equipe de Bas- quetebol da UFS, o qual autorizou a exposição do seu nome para a pesquisa. Portanto, encontraremos seu olhar sobre como é tratado o Basquetebol na visão de esporte de rendimento, sobre o treinamen- to, escolha dos atletas e o desempenho da equipe da UFS nos JUBS como também em outras competições. O Professor Marcos Bezerra esteve à frente da equipe univer- sitária de Basquetebol da UFS em dois momentos. A primeira vez foi no período de 2008 a 2011 e afastou-se entre 2012 e 2013, por moti- vo da abertura do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe retornando assim, pela segunda vez, no ano de 2014 e seguiu com os treinamentos até a realização da pesquisa no ano de 2015. o basquetebol na ufs • 89 A equipe universitária de Basquetebol/UFS é constituída por alunos matriculados na Instituição o que difere, por exemplo, dos clubes em que podem inserir atletas de todos os lugares e, portan- to, este é um critério inicial para escolha e participação dos atletas. Como expõe: Isso é uma coisa bem interessante, é uma apresentação vo- luntária, porque para jogar no nosso time tem que ser aluno da universidade, diferentemente de qualquer outro time de basquete que você tenha por aqui, você chama o jogador que você quiser, aqui somente se você tiver matrícula na universi- dade é que você pode jogar [...] (BEZERRA, entrevista, 2015). Assim, primeiro ocorre um interesse, por parte dos alunos (voluntariamente), que se predispõem a fazer parte da equipe uni- versitária. Este é um aspecto importante, pois, a princípio demonstra a vontade em fazer parte de um grupo e isso gera uma sintonia entre todos os envolvidos, pois, ninguém está ali forçado. Para o Professor Marcos Bezerra o que é destacado nessa relação é oportunizar a esses alunos jogar em uma equipe e também, participar de competições com certa expressividade. As pessoas se apresentam voluntariamente, daí pra frente eu não faço um dia de teste. As pessoas ficam treinando, o que na minha concepção é muito mais interessante. Às vezes, ver o que você sabe hoje é ver o que você consegue assimilar ao longo do tempo, então, às vezes, hoje você não tem condições de participar efetivamente do time, mas com o tempo você percebe o quanto o cara está melhorando e o quanto ele está evoluindo, assim ele está se tornando eficiente para a equipe, então ele pode produzir bem. Então, eu deixo o pessoal trei- nar bastante tempo até que eu possa ter um real parecer sobre aquela pessoa [...] (BEZERRA, entrevista, 2015). Outro aspecto relevante é que a participação no aprendizado do Basquetebol não está limitada a equipe de treinamento da UFS para competições, então, para àqueles que nunca jogaram ou joga- ram bem pouco o Professor expõe que existe um “programa paralelo, 90 • pedagogia dos esportes que é o de iniciação esportiva tardia com o Basquetebol”. Segundo ele, são aulas de iniciação ao esporte que acontecem antes dos treinos da equipe, em que dois estagiários e uma aluna da graduação fazem todo processo de introdução ao Basquetebol. A preparação físico-tática da equipe que participou do JUBS foi outro aspecto importante, pois, pensando nas idiossincrasias de uma universidade pública, das diversas atividades que os discente têm, das Disciplinas que cursam, avaliação, trabalhos, paralisação de servidores e professores, entre outros, e sem contar com a vida pessoal, são muitos obstáculos. Além dessas dificuldades, existe um Estado – aqui na representação da Federação Sergipana de Basque- tebol – que pouco, ou quase nada, incentiva a prática da modalidade. Quase não acontece competições e não tem um calendário para uma preparação (físico, técnico-tático) adequada. Neste sentido, apesar do Professor Marcos Bezerra elaborar, já no início do ano, um planejamento das competições que iria parti- cipar, inclusive, dentro da Metodologia do Treinamento Desportivo em que elabora uma hierarquia priorizando as competições que con- sidera mais importantes, não há, na contrapartida, um planejamento por parte da entidade que organiza o Basquetebol em Sergipe. Com isso, há um descompasso nos treinamentos, pois, é sempre uma in- certeza se vai haver ou não a competição e isto prejudica qualquer planejamento. Mesmo com esta dissintonia, a preparação elaborada pelo Professor Marcos Bezerra surtiu efeito, pois, ele ganhou todos os campeonatos estaduais de 2008 a 2010 e isto também gerou uma in- quietação daqueles que há muito tempo mantinham-se no topo do Basquetebol em Sergipe gerando conflitos inevitáveis, principalmen- te com a Federação Sergipana: Eu tenho uma insatisfação muito grande com a mesma. Eu não pretendo disputar mais nada que tenha relação com a Federação, [...]. Mas, nós jogamos todos os campeonatos da Federação entre 2008 e 2010, ganhamos todos eles por sinal, e nitidamente isso causou um incômodo. A gente mexeu onde não devia. Havia umas pessoas que ganhavam tudo e pararam de ganhar, né? E isso acabou incomodando e geran- do uma série de coisas e hoje eu não sou bem vindo, mas o basquetebol na ufs • 91 respeito. [...] Então, a gente acabou em 2014 tendo muita pouca opção pra jogar (BEZERRA, entrevista, 2015). Consideramos importante este relato, pois, para àqueles que estão realizando um trabalho planejado, um trabalho sério e com responsabilidade, como é caso do Professor Marcos Bezerra, acha- mos uma incoerência do ponto de vista da própria competição des- considerar estes aspectos, uma vez que existe toda uma sequência no treinamento, iniciando numa fase mais leve, com mais volume de treinamento e menos intensidade, dando ênfase aos aspectos aeróbi- cos entre outros, e essas relações vão se invertendo ao aproximar-se da competição e que portanto requer uma periodização para que as equipes cheguem na competição em sua melhor forma. [...] No início do ano eu deixo o treino mais solto tendo em vista aqueles atletas novos que estão chegando, gente voltan- do de férias. Não adianta pegar muito pesado agora porque isso só vai induzir a dor muscular, lesões, então a gente deixa a coisa mais frouxa nesse início agora [...] estamos progra- mando uma bateria de testes para fazer um acompanhamen- to com esse pessoal ao longo do ano e no início muito fun- damento e preparação física. Botar a turma pra correr pra valer, aguentar principalmente a parte aeróbica, e aos poucos introduzir a parte anaeróbica também que é importante pra eles, por conta dos sistemas de jogo que nós trabalhamos(BEZERRA, entrevista, 2015). Percebemos que há uma preparação física e técnico-tático embasada na fisiologia, na metodologia do treinamento em que o professor se sustenta e isso reflete também no modo de jogar de sua equipe, prevalecendo a marcação com agressividade2 e que, portan- to, requer uma consciência coletiva dos jogadores, uma preparação física boa que vai consolidar seu estilo de jogo: 2 Agressividade é uma característica de algumas marcações no Basquetebol, tipo Sob Pressão em que dois ou mais defensores marcam o atacante em momentos específicos do jogo. Não significa, portanto, que seja uma agressão ao jogador e sim, uma forma de surpreender o ataque e requer muito preparo físico. 92 • pedagogia dos esportes [...] Toda a preparação física ela tem que ser pautada no estilo de jogo que você pretende adotar. Gosto de trabalhar com defesas bastante agressivas e começamos a implantar no final do ano passado, depois do JUBS, um sistema ofensivo que provavelmente aqui no Brasil ninguém usa (BEZERRA, en- trevista, 2015). Foto 1 – Professor Marcos Bezerra Fonte: CBDU Foto 2 – Equipe da UFS Fonte: Marcos Bezerra O que ficou claro desta preparação foi que os resultados co- meçaram a aparecer de forma expressiva em competições locais, re- gionais e nacionais e o ponto crucial foram os Jogos Universitários – JUBS – “[...] Então, o JUBS era uma competição bem legal de se jogar por serem equipes muito parecidas e niveladas” (BEZERRA, entrevista, 2015). Foto 3 – Prancheta utilizada durante a competição Fonte: Marcos Bezerra Foto 4 – Equipe da UFS Fonte: Marcos Bezerra o basquetebol na ufs • 93 Assim, fazendo uma reflexão acerca dos momentos de prepa- ração de uma equipe, o professor Marcos Bezerra esclarece que per- cebeu uma evolução da equipe de 2008 até 2011 (primeiro momento que esteve à frente da equipe da UFS), apesar de iniciar uma expe- riência de preparação e que um fator importante foi desconhecer a realidade que iria enfrentar, principalmente contra equipes de outros Estados, sem contar a falta de jogos preparatórios interestaduais en- tre outros, fez com que o Professor reorganizasse seu planejamento, envolvendo mais treinamentos, participação em mais competições e, consequentemente, mais jogos. [...] o que eu percebi foi que a primeira competição que eu participei aqui foi em 2008, que foi o JUBS lá em Maceió, e eu tomei um choque de realidade. Eu dava os treinos aqui duas vezes por semana e eu achava que o time estava muito bem. A nossa estreia foi contra a Universidade Católica de Brasília e nós perdemos com uma diferença de 70 pontos. Com isso, passamos a treinar mais vezes por semana, implantamos pre- paração física e tudo mais, e dali começamos a disputar mais competições. Eu acho que o grande diferencial do nosso time ao longo desses anos foi ter participado de muita competição. Isso fez com que tivéssemos condições de enfrentar muitas equipes de fora daqui do Estado, equipes melhores fisica- mente, mais fortes e mais altas e então isso exigiu bastante da gente. Com isso, eles aprenderam bastante e isso exigiu mais dos atletas [...] (BEZERRA, entrevista, 2015). Este processo culminou com seu segundo momento frente à equipe da UFS em 2014/2015, com outros jogadores, outras histó- rias, outras ideias, outras experiências, mas, que representou feitos históricos para o Basquetebol em Sergipe e da UFS, pois, inicia-se com a vitória da seletiva para o JUBS 2014, a qual foi a primeira vez que aconteceu e que, apesar do grupo ainda precisar de mais expe- riência, já demonstrara ser mais maduro: [...] o pessoal mostrou uma evolução muito grande, vários individualmente. Você percebe que muitos jogadores evoluí- ram muito, do time que foi pro JUBS, metade nunca tinha 94 • pedagogia dos esportes disputado JUBS na vida, era o primeiro campeonato como adulto na vida. Então, você sai daquele choque do que é um campeonato escolar para de repente você disputar uma com- petição com uns caras muito maiores, mais experientes. Sinto que dá pra fazer muito mais (BEZERRA, entrevista, 2015). Portanto, o ápice da preparação física, técnica e tático culmi- nou com excelentes resultados do Basquetebol da UFS3 que, desde 2008 até 2017 vem trazendo resultados significativos do esporte para o estado de Sergipe e ao nosso ver, o ano de 2014 foi um divisor para alavancar este cenário: 2014 foi um espetáculo! A gente pegou uma chave que não era uma chave razoável, nós jogamos contra o Amapá e Ama- zonas, eram times que eram inferiores ao nosso, mas que não se entregaram em nenhum momento, os jogos não foram fá- ceis. Fomos para semifinais e demos o azar de pegar a equipe de Goiás, que era o melhor time. Se tivéssemos enfrentado o Acre, que foi o time que enfrentamos na disputa de 3º e 4º, te- ríamos condições de ganhar, tanto que vencemos eles na dis- puta de 3º e 4º, eu acredito que teríamos vencido a partida e feito a final com Goiás, e ai o nosso objetivo estaria cumprido que era o de disputar a final. Mas, não saí desmotivado porque a forma como nós jogamos, nós perdemos, mas perdemos brigando do começo ao fim, criamos muita dificuldade. Foi o jogo mais difícil que Goiás teve aqui. Eu penso então que a nossa participação do JUBS foi muito boa esse ano e saímos muito motivados para 2015 (BEZERRA, entrevista, 2015). Percebemos que Professor Marcos Bezerra utilizou e utiliza uma metodologia diferenciada no seu trabalho em capacitação dos 3 Títulos Estaduais: Tricampeão em 2008, 2009 e 2010 e Campeão da I Taça TV Atalaia em 2010; Regionais: 3º Lugar na Copa Norte-Nordeste do SESC em 2008 e Vice-campeão da Liga de Desportos Universitário do Nordeste em 2016; Nacionais: Jogos Universitários Brasileiros (JUBS): 3º Lugar em 2011, 2014 e 2016, respectivamente, nas cidades de Campinas/SP, Aracaju/SE e Cuiabá/MT; Jogos das Universidades Federais: Campeão em 2014 em Maceió/AL; Vice-cam- peão em 2015 em Salvador/BA, Vice-campeão em 2017 em Recife/PE. o basquetebol na ufs • 95 atletas. Indo contra a ideia mais comum entre as equipes de ren- dimento, ele não usa o critério da habilidade atual do atleta, mas, coloca-os para treinar todos aqueles interessados em jogar. Com o tempo, o professor vai tendo uma percepção do “nível” em que cada atleta está. Aqueles que tiveram pouco ou nenhum contato com o Basquetebol são introduzidos ao esporte num outro grupo de alunos para que possam crescer na prática e no entendimento do esporte. Foto 5 – Equipe conquistou o 3º lugar nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs), que aconteceu entre os dias 3 a 13 de novembro, em Cuiabá/2016. “Cada vitória e cada derrota são cercadas de histórias edificantes. Viram exemplos bons e ruins e nos ajudam a passar essa experiência a quem vem depois”. Marcos Bezerra Fonte: http://www.ufs.br/conteúdo/54795-time-de-basquete-da-ufs-conquista-a- medalha-de-bronze-nos-jogos-universitarios-brasileiros. Acesso em: 11/12/2018. Esta perspectiva de deixar, no início do treinamento, os atle- tas mais soltos tem ajudado e com isso, eles vão se soltando mais e ganhando confiança, como também, evita uma sobrecarga desneces- sária a priori o que pode ocasionar lesões. Assim, com a adaptação ao treinamento, com testes avaliativos de aprimoramento das capa- cidades físicas e com o cuidado com os atletas, os resultados apare- cem de forma significativa o que implica em um profissionalismo e competência técnica com o processo. Mesmo com este compromisso e competência técnica que foi gestada por uma relação de philia ao Basquetebol pelo Profes- sor Marcos Bezerra, pois, além de muito trabalho, do ponto de vista 96 • pedagogia dos esportes financeiro, ele não ganha nada a mais. Para ele o que estar em jogo é a vontade política de fazer acontecer, do amor pelo esporte e o re- conhecimento por estas ações é que mais o engrandece. Fazendo um paralelo e pegando os JUBS como exemplo, a UFS disputa a terceira divisão no Basquetebol e quando verificamos quaisuniversidades es- tão na primeira divisão há um espanto, pois, todas são particulares. Portanto, percebemos que o quesito financeiro e estrutura se mostram como um dos pesos que influência nas disputadas/competições. Pare- ce-nos que estamos diante das contradições na relação de trabalho e capital e, com classes diferentes, pois, nas equipes das Universidades Federais há um equilíbrio entre elas, enquanto que quando compara- mos com as particulares há uma desigualdade gritante, pois, lá está alocado o capital, as condições materiais entre outros, por isso, con- sideramos o feito do professor, bem como dos atletas sergipanos da UFS, da equipe de Basquetebol, de verdadeiros campeões. POSSIbIlIDADES PEDAGóGIcAS – O bASQUETEbOl DO EnSInO-APREnDIZAGEM Aqui discorreremos acerca do Basquetebol com uma visão mais pedagógica voltada para sua inserção no meio escolar. Tendo em vista esse processo de ensino-aprendizagem foi feita uma entre- vista com o Professor Sérgio Dorenski – o qual autorizou a publici- zação de seu nome – do Curso de Educação Física da UFS e espe- cificamente, da Disciplina Pedagogia do Basquetebol, a qual será a principal fonte de discussão para esta temática. O Professor Sérgio Dorenski entrou na Universidade através do concurso cuja Matéria de Ensino era: Bases Pedagógicos dos Des- portos Coletivos e a Disciplina específica, Basquetebol. Com a re- forma curricular ela deixou de existir passando a ser Pedagogia dos Esportes (Disciplina obrigatória) e foi criada, tempos mais tarde, em caráter optativo, a Disciplina Pedagogia do Basquetebol. Então, só depois de seu retorno do Doutorado em 2014 que voltou a lecionar esta Disciplina. Na verdade quando eu voltei do Doutorado, já teria as dis- ciplinas que iria ministrar, eu já tinha trabalhado Pedagogia o basquetebol na ufs • 97 dos Esportes nesse novo currículo, então, não existia a disciplina do Basquetebol, ela começou a ser incrementada no currículo justamente depois da construção desse novo currículo. Então, o chefe do Departamento me perguntou se havia a possibilidade de trabalhar com a Pedagogia do Bas- quetebol, sendo que ela nunca tinha sido ofertada no currículo novo. Assim, eu me candidatei (DORENSKI, entrevista, 2015). O ensino do esporte é sem dúvida de suma importância nas aulas de Educação Física, pois através dele pode possibilitar ao pra- ticante um contato com experiências que estão entrelaçadas com o seu desenvolvimento. Em relação ao Basquetebol, acredita-se que sua prática no âmbito escolar pode representar mudanças signifi- cativas ao indivíduo, através de perspectivas de aplicação nas aulas (SEVERINO, 2009). Segundo o Professor Sérgio Dorenski, a ideia da Disciplina gira em torno da elaboração de uma Proposta Pedagógica (PP) para o Ensino do Esporte no âmbito escolar e, no caso, específico do En- sino do Basquetebol. Assim, em um primeiro momento os alunos se apropriam do conhecimento acerca do esporte e, neste aspecto, faz um recorte temporal enquanto produto da modernidade, seu con- ceito, seu lugar e data de nascimento, suas características, sua evolu- ção e transformação em mercadoria/espetáculo com o “casamento” com a mídia. Após esta primeira fase, expõe o Professor, os alunos entram na especificidade da modalidade, no caso o Basquetebol. Com isso, eles buscam sua história, seus fundamentos básicos, suas regras bá- sicas e, a partir daí, iniciamos um processo de aprendizado da mo- dalidade na perspectiva do Fundamento-jogo (vide capítulo I). Esta, então, constitui-se na segunda fase. A terceira fase é marcada pela elaboração de uma Proposta Pedagógica. Os alunos de posse desses conhecimentos a priori, am- pliam com uma nova inserção conceitual ao debruçarem-se acerca, do ponto de vista epistemológico, dos Objetivos educacionais, dos Conteúdos, do Método e da Avaliação na formulação do PP. Nesta fase, paralelamente a apropriação conceitual, os alunos realizam suas visitas ao ambiente escolar que, segundo o Professor, deve ser preferencialmente em escola pública. Essas visitas ajudam 98 • pedagogia dos esportes na construção e reconstrução do PP, pois, os objetivos traçados e a realidade escolar, podem provocar outras mudanças, por isso, con- sidera importante conhecer a realidade da escola, as condições, a estrutura física entre outros fatores relevantes para esse processo. A fase final constitui-se na intervenção escolar em que, os alunos fun- damentos na relação teoria e prática (que são indissociáveis), enfren- tam o desafio de ensinar o Basquetebol no âmbito escolar. [...] Segundo momento é elaborar a proposta pedagógica para aquela realidade, elaborar pensando no que você tem em mãos para desenvolver seu trabalho. Então, a proposta pedagógica para o Basquetebol passa por essa perspectiva, que eu chamo de redimensionamento dos conteúdos. Como a gente redimensiona os ensinamentos? Quando eu penso escola, eu penso que o aluno possa aprender jogando, que os fundamentos básicos sejam ensinados com competência, não vou privilegiar a técnica, mas eu tenho que saber como se constitui a técnica, utilizando de jogos simples a jogos mais complexos e acrescentando fundamentos mais difíceis de acordo com o desenvolvimento do aluno no jogo. Basica- mente é isso (DORENSKI, entrevista, 2015). Segundo o Professor Sérgio Dorenski muito das construções existentes na Disciplina, principalmente no tocante aos objetivos é fruto do diálogo aberto com os alunos, os quais apontam suas crí- ticas, sugestões e lacunas entre outras questões pertinentes de todo o processo ocorrido durante a Disciplina, que são basilares para sua reflexão com o intuito de repensar o planejamento futuro, ou seja, que se constitua no eterno devir. [...] Quando acabo a disciplina a minha reflexão é: Será que os alunos entenderam que é possível ensinar uma modali- dade esportiva, no caso especifico o Basquetebol, quando eles estiverem atuando em escola ou não, então eu trabalho dentro dessa perspectiva pedagógica, por isso que a gente faz leituras não só do esporte, mas também dos processos de aplicação pedagógica do conteúdo, da avaliação e também entendemos um pouco da realidade, como eu poderia ensi- nar o Basquetebol em uma realidade que a gente conhece? o basquetebol na ufs • 99 Escola que falta quadra, falta material [...]. Então, eu come- ço a preparar o meu plano de curso a partir dessas reflexões (DORENSKI, entrevista, 2015). Ratificando esta perspectiva de ensino entende-se que o Bas- quetebol e, consequentemente, os professores só alcançarão algum resultado no processo de ensino-aprendizagem somente se houver por parte dos educadores, uma interligação com a modalidade e uma preocupação com o ensino do esporte (SEVERINO, 2009). Nesta perspectiva, o Professor Sérgio Dorenski considera que o conhecimento da realidade e dos saberes, por parte do professor, devem dar condições de propor, em suas aulas, ações pedagógicas que proporcionem a construção de conhecimento, fazendo uso de metodologias que propiciem momentos de aprendizagem. Enfim, acredita que o docente deve promover espaços de aprendizagens sig- nificativas. O docente é um profissional que atua em um ambiente rela- cional, interativo, circunstancial e socialmente situado. Os in- teresses dos docentes e de outros sujeitos da ação pedagógica são compartilhados e também confrontados, fundamental- mente porque os desdobramentos da prática de um professor são capazes de produzir efeitos na prática de outro professor, vale dizer, também efeitos sociais (PEREIRA, 2011, p. 150). Percebemos, a partir da proposta de ensino idealizada pelo Professor Sérgio Dorenski para se ensinar um esporte nas aulas de Educação Física desde a Universidade até a Educação Básica, não necessita de destrezas e especificidades física, técnica e tática no jogo de Basquetebol. Viu-se que o professor enfatiza na criação de um ambiente, no qual, o professor construa possibilidades nas aulas para que o aluno se familiarizecom o jogo e tenha autonomia em sua construção. Neste contexto, pensa o ensino do Basquetebol na forma de possibilitar aos alunos a participação e o desenvolvimento de suas habilidades de forma espontânea. Nessa perspectiva, ele apresenta aos alunos, futuros Professores, o esporte em que os alunos reali- zem movimentos e fundamentos, não visando serem melhores que o outro, ou com o objetivo de maior rendimento, mas sim, de forma 100 • pedagogia dos esportes dinâmica e com maior motivação, assim facilitando o processo de aprendizagem. Neste aspecto, para o Professor Sérgio Dorenski o Basquetebol deve ser pensado, no ambiente escolar, com um trato pedagógico e como um espaço para uma prática docente consciente, crítica e construtiva, que auxilie na formação de um ser crítico e autônomo, enfatizando os valores educacionais, sociais e culturais. É nesta pers- pectiva que instiga os alunos do Curso de Educação Física a pensa- rem numa abordagem pedagógica para a autonomia, que vivenciem e construam competências que serão fundamentais para serem agen- tes de transformação da sociedade. Por fim, na entrevista foi pedido para que ele deixasse uma re- flexão sobre o que representa o Basquetebol na sua vida. Decidimos deixar na íntegra, pois cada palavra expressa à relevância da modali- dade na formação do “ser” dele como pessoa. Essa pergunta é grandiosa. Bom, o Basquetebol tem uma marca de vida muito pessoal, por exemplo, quando eu fui assistir esses jogos do JUBS que aconteceram aqui em Ara- caju foi uma verdadeira confraternização por rever colegas que hoje são técnicos, outros árbitros da Confederação de Basquetebol. Todas as vezes que vamos ver um jogo a gen- te rememora um momento que foi muito bacana. Então, o Basquetebol em minha vida e em minha formação tem um aspecto muito marcante. Além disso, eu tive um professor de Basquetebol que já faleceu, João Batista, ele para mim foi um divisor de águas. Quando estava todos naquela ânsia de competição, ganhar ou ganhar, ele deixava a gente muito li- vre, porque ele trabalhava numa perspectiva que valorizava nossas vivências enquanto “guris”. Ele nunca dava bronca, bastava olhar e a gente já sabia do que se tratava. Isso tudo me marcou e eu levei para minha vida, como também as rela- ções construídas, as atitudes éticas e formativas, uma vez sai do Basquete por relações éticas, pois eu jovem já via as pica- retagens da federação em favorecimento de grupos durante os jogos. No Basquetebol pude refletir meus valores éticos e morais, juntamente com a família, os professores que sem- pre contribuíram na minha trajetória, sem contar da entrada aqui no departamento como professor que foi graças ao Bas- quetebol (DORENSKI, entrevista, 2015). o basquetebol na ufs • 101 cOnSIDERAÇÕES FInAIS O Basquetebol fruto de uma preparação técnico-tática para fins competitivos apresenta um trato “pedagógico” que o leva com o objetivo final, ao rendimento. O trato pedagógico que se dá é com ênfase na prática, no técnico e tático, mas, obviamente, percebemos que outros valores estão em jogo. Percebemos que a relação profes- sor (técnico) e aluno pode ser decisiva para o aprendizado e também para ampliar a visão de mundo dos praticantes e o sentimento de amizade uns com os outros. Quando a gente participa dos campeonatos, sabemos que temos uma missão muito maior do que ganhar. Nós temos a responsabilidade de representar todos que fazem parte da UFS. Então, quando entramos em quadra jogamos por cada aluno e professor da instituição e, além disso, por cada ser- gipano que torce por nós. Em especial, jogamos por nossas famílias e isso inclui nosso técnico Marcos Bezerra e nossos auxiliares técnicos Edson e Thiago, destaca o jogador, que participou pela segunda vez do JUBs4. Este depoimento só reitera o que percebemos nesta investi- gação acadêmica, em que o professor torna-se também responsável por não só formar uma equipe competitiva e de rendimento, mas, também, preza pela vivência esportiva daqueles que querem praticar. Percebemos que o esporte, na perspectiva do rendimento, às vezes, nos deixa numa aporia, pois, queremos que haja aceitação e participação sem fazer distinção ou seleção de atletas, mas, ao mesmo tempo a instituição esportiva obriga-nos a selecionar e segregar, pois, pensando hipoteticamente, se tivéssemos disponíveis cem alunos/atle- tas em condições iguais (físico e técnica) ainda assim, teríamos que 4 Adler Lucas Pinheiro da Silva, 21, estudante de Ciências Econômicas, conta que por estar representando a UFS, o time não se sentia sozinho em quadra. Portal da UFS, em entrevista após a conquista da medalha de bronze no JUBS/2016. Disponível em: http://www.ufs.br/conteudo/54795-time-de-basquete-da-ufs- -conquista-a-medalha-de-bronze-nos-jogos-universitarios-brasileiros. Acesso em: 11 Dez. 2018. 102 • pedagogia dos esportes fazer um corte de quase noventa por cento, pois, não haveria espaços para todos no modelo de competição vigente. Do outro lado da “curvatura da vara”, se assim podemos di- zer, em relação ao Basquetebol como possibilidade pedagógica per- cebemos o trato para além de sua prática técnico-desportiva, pois, o foco está mais no processo do que no resultado. As experiências pedagógicas, nesta perspectiva, demonstram o aprendizado para além da eficiência técnica em si, pois, a preocupação recai na for- mação humana de modo geral. Para os acadêmicos que passam por essa construção a preocupação maior está em dominar a técnica da modalidade esportiva com o intuito do aprendizado e do processo pedagógico para uma futura ação docente. Assim, nesta abordagem a preocupação maior estava não em aprender as técnicas e táticas, mas em minimamente dominá-las e pedagogizá-las apropriando-se de um método de ensino, avalian- do desde espaços físicos até os alunos que serão o alvo dessa ação. O foco está mais na vivência e experiência do que no domínio com- pleto e perfeito da técnica, o que corrobora com a transformação didático-pedagógica citada por Kunz (2001) e que vem a refletir tan- to a prática quanto ao direcionamento no âmbito escolar. Não pretendemos neste trabalho fazer uma crítica ao esporte de rendimento e valorização do esporte como possibilidade pedagó- gica ou vice-versa. Apenas colocamos pontos de ambas as faces para uma maior reflexão acerca do Basquetebol na UFS, os seus objetivos, métodos e práticas, os quais são e serão importantes para a formação dos estudantes de Educação Física. Desse modo, consideramos que o objetivo de expor o Basquete- bol praticado na Universidade Federal de Sergipe, em suas duas faces – rendimento e pedagógico – foi atingido, mas, são necessários mais aprofundamentos e melhores diálogos e discussões a respeito do tema. REFERêncIAS BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. BRACHT, V. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução, UFES: Vitó- ria 1997. o basquetebol na ufs • 103 CBB. Confederação Brasileira de Basquetebol, disponível em: <http://www.cbb. com.br/PortalCBB/OBasquete/HistoriaOficial>. Acessado em: 20 jan. 2015. FERREIRA, A. E. X.; ROSA, D. J. Basquetebol: técnicas e táticas: uma abor- dagem didática-pedagógica. São Paulo: EPU: Ed. da Universidade de São Paulo. 1987. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. 4. ed. Ijuí: Unijuí, 2001. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 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Esse relato não traz apenas a vivência “prática” na escola, mas carrega em si uma discussão mais ampla acerca do que é o esporte, seus reflexos, relações e nexos na sociedade, suas transformações ao longo da história e o trato pedagógico desse conteúdo num espaço escolar (método, objetivos, conteúdo e avaliação). Nossa ação no âmbito escolar teve como objetivo geral vi- venciar a modalidade Basquetebol numa perspectiva crítica dentro da escola. Sendo assim, para esse texto, trazemos um recorte dessa 1 Parte desta discussão foi apresentada no VII Colóquio de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana: Ecomotricidade e Bem Viver; e publicada nos Anais do Evento. o basquetebol como possibilidade pedagógica no ensino... • 105 experiência analisando a aplicação de uma abordagem alternativa do Basquetebol numa perspectiva diferente dentro do âmbito escolar que muitas vezes é voltada ao esporte de alto rendimento, com isso, possibilitou experimentar o Basquetebol nas suas diversas fases (for- mas de jogo, lúdico, readaptação à realidade). Para tanto, elencamos conteúdos como: regras e história do Basquetebol, (des)construção do esporte, princípios técnicos, táticos e seus fundamentos básicos. Para o processo avaliativo optamos em fazê-lo de forma contínua durante a realização de cada aula, observando o comportamento dos estudantes, sua participação e estimulando seu poder criativo com a construção do jogo, do espaço do jogo, das regras entre outras. Conectado a este objetivo, procuramos também, identificar o nível de conhecimento dos estudantes em relação ao Basquetebol, já que essa modalidade nos possibilitava um campo de intervenção que vai desde a sua marginalização por parte dos professores de Educa- ção Física que esbarram nas limitações estruturais da escola (falta de tabela, aro, bola), do processo de espetacularização na contem- poraneidade através do Novo Basquete Brasil, até, principalmente, a influência de megaeventos esportivos que ocorreram aqui no Brasil como a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016. Assim, discorremos aqui uma breve introdução à questão educacional com o papel da escola e a Educação Física escolar. Por fim, apresentaremos os métodos e resultados com a nossa ação pedagógica: o diagnóstico da realidade do campo de ação, os caminhos adotados durante o projeto e as considerações finais acerca da experiência. O TRAbAlHO PEDAGóGIcO nA EDUcAÇÃO FÍSIcA É importante entendermos que a educação é um fenômeno social que ocorre independente do espaço escolar. Ela acontece nas relações pessoais, espaços sociais, na família, ciclos de amizade e diálogos, porém o seu objetivo no espaço não-formal resulta na aprendizagem de uma forma assistemática. Já a educação escolar é um processo que acontece em uma instituição específica, com caráter sistêmico, organizada através do trabalho pedagógico e de maneira 106 • pedagogia dos esportes intencional: onde é esboçado qual tipo de sujeito quero formar e o seu horizonte de atuação social (FREITAS, 1995). As aprendizagens decorrentes das práticas pedagógicas da Educação Física devem ampliar a compreensão dos alunos em relação as práticas corporais e a sua própria cultura de movimento. Assim, organizar didaticamente os seus conhecimentos pedagógicos é assimilar a necessidade de sistematização dos seus conteúdos para possibilitarmos uma aprendizagem mais ampla e abrangente, pois os alunos não se apropriam de um conhecimento específico em uma única aula, uma vez que a aprendizagem é um processo gradativo. Para o Coletivo de Autores (1992), o currículo escolar é vin- culado a um projeto político-pedagógico, pois a Escola é entendi- da como parte constituinte das condições da existência humana. É político porque expressa uma intervenção em determinada direção e é pedagógico porque realiza a reflexão sobre a ação dos homens na realidade. A Educação Física trata do conhecimento de uma área denominada cultura corporal configurada em temas corporais como o jogo, a luta, o esporte, a ginástica e a dança, e que expressa um sentido/significado nos quais se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade do homem e as intenções da sociedade. Assim os conteúdos que partem desse objeto de estudo devem ser seleciona- dos em função de sua contemporaneidade, sendo dialógica, comuni- cativa, produtivo-criativa, reiterativa e participativa. PROcESSOS E RESUlTADOS DA ExPERIêncIA cOM O ESPORTE O trabalho foi realizado durante as aulas de Educação Física do CODAP/UFS, cujos sujeitos da pesquisa foram 25 alunos do 1º ano do Ensino Médio que teve como principal objetivo verificar a concepção de esporte e do Basquete dos alunos em questão, no qual os resultados apresentaram uma forte tendência de conhecimento voltado ao esporte moderno (BRACHT, 2005; COLETIVO DE AU- TORES, 1992). Os resultados nos levam a questionar a necessidade da refle- xão sobre o papel da Educação Física na escola, cabendo ao professor o basquetebol como possibilidade pedagógica no ensino... • 107 envolver o aluno nas mais diversas modalidades de educação para que todos os alunos tenham acesso à cultura corporal e identifiquem a importância da Educação Física, não apenas como esporte de alto rendimento, mas também para seu desenvolvimento físico e mental, ou seja, a nossa intencionalidade central: que é a formação dos seres. Abaixo, de forma narrativa, relatamos o processo de captura dos dados fazendo uma reflexão, a partir dos resultados, com o re- ferencial teórico destacando os principais pontos. Os alunos/sujeitos foram classificados: A e um número sequencial (A1: Sexo masculino; A2: Sexo feminino; A3: Sexo masculino; A4: Sexo masculino). No início da coleta dos dados foi realizada uma observação da turma e da estrutura disponível para a realização da pesquisa, com isso, fomos informados que a quadra esportiva do colégio se encontrava interditada pois o teto corria o risco de cair. O que nos mostra algo comum em diversas escolas, que é a falta de estrutura e materiais apropriados para realização das aulas de Educação Física. Sendo as- sim, só nos reforçou ainda mais a ideia de fazer essa (re)construção do esporte junto à turma, que conhece a aula de Educação Física muito arraigada pela intensidade do esporte de alto rendimento ad- vindo dos meios de comunicação, principalmente a televisão. A primeira intervenção do trabalho foi realizada em sala de aula, no qual foramarremessadas bolinhas de papel aos alunos con- tendo “perguntas geradoras” sobre diversos aspectos do Basquetebol para assim podermos contextualizar o tema e o conhecimento pré- vio dos alunos. Todas as respostas e indagações foram transcritas no quadro como forma de chuva de ideias e colocadas em discussão para os alunos que tinham opiniões contrárias. Vejamos algumas de- las que selecionamos como principais questionamentos: A primeira pergunta realizada foi: (1) O que você entende por basquete? – Obtivemos como principal resposta: A1 – “O basquete é um esporte, que quica a bola, que tem que marcar ponto e possui regras”. Percebemos que os alunos possuem um conhecimento acer- ca da modalidade esportiva, pelo menos em algumas de suas espe- cificidades (gestos, regras). Mas, questionamos até que ponto esse 108 • pedagogia dos esportes conhecimento foi problematizado ou constituído a partir de uma prá- tica pedagógica? Ou mesmo, advindo da mídia que ratifica o esporte institucionalizado como alertam (BRACHT, 2005) e (PIRES, 1998). Em nossa experiência propusemos reconstruí-lo. Ou seja, independente de uma concepção já definida pelos alunos, experi- mentamos uma forma de jogar que interagisse entre si (alunos), bem como, aproveitando espaços e materiais alternativos isso, sem perder de vista o jogo de bola ao cesto. Neste aspecto, esta abordagem meto- dológica – registrado em nossas observações – possibilitou um pro- cesso de interação social mais amplo como demonstrado nas fotos (1 a 4 que estão no final deste trabalho). Em nosso estudo procuramos desmistificar alguns rótulos que são criados incessantemente e principalmente, pela mídia e que se referem a associar o esporte à saúde, a um biótipo ideal, entre outros, pois, no imaginário de alguns alunos, para praticar um determinado esporte, como o Basquetebol, faz-se necessário ter um corpo para tal. Com isso, foi realizada a seguinte pergunte aos alunos: (2) Será que existe um tipo físico ideal para a prática do basquete? – E foi gerada a seguinte discussão: A2 – sim [...] A3 – [...] qualquer um poderia jogar [...]; A2 – [...] por ser “gorda” não poderia jogar. Obviamente que reconhecemos as especificidades de deter- minadas modalidades esportivas, no entanto, a sua prática não está condicionada a uma forma corporal específica, ou seja, defendemos uma prática para todos. Talvez, a falta de oportunidades aos alunos de vivenciarem as diversas modalidades da cultura corporal, implica em um preconceito, pois, resulta em que o esporte da mídia (BETTI, 2001) seja o que prevalece no imaginário dos alunos. Outro aspecto que está intimamente ligado às práticas esporti- vas e que se constitui em um obstáculo para sua realização, refere-se às condições estruturais/materiais no âmbito escolar. Sendo assim, realizamos a seguinte pergunta aos alunos: (3) O que é necessário para se jogar o basquete? – E obtivemos como principal resposta: A4 – Pra jogar basquete precisa da quadra com uma cesta e a bola de basquete. o basquetebol como possibilidade pedagógica no ensino... • 109 Defendemos uma prática pedagógica em condições dignas no tocante aos equipamentos, espaço, materiais entre outros, no entanto, acreditamos que existem outras possibilidades que viabilizam a prá- tica esportiva, como foi constatado em nossa experiência. Com isso, os alunos passaram a reconhecer outra possibilidade de jogar e se re- conhecer neste ato, afastando-se do esporte de alto rendimento que necessita de uma estrutura para a realização da sua prática. Aqui, em nossa experiência, ficou evidente novas formas de socialização e prática do esporte nas suas diversas possibilidades. A questão da estrutura em algumas escolas é realmente preo- cupante, pois muitas não possuem um local apropriado e materiais para a prática da Educação Física. Ainda mais quando associamos a Educação Física escolar ao esporte de alto rendimento. A utiliza- ção de materiais “não convencionais” pode gerar discussões sobre o papel da escola na compra de materiais “apropriados” para a prática da Educação Física e algumas escolas não se responsabilizam pela aquisição, manutenção e renovação desses materiais. Com isso, um segundo momento do projeto de intervenção foi a construção coletiva (professores/pesquisadores e alunos) do jogo a partir de sua reconstrução e em especial, a reconstrução do Basquetebol a partir de materiais “não convencionais” e um espaço em um ambiente externo que foge daquele imaginário dos alunos voltado ao esporte de alto rendimento. No ambiente externo foi solicitado que os alunos adaptassem aquele espaço de maneira que possibilitasse a prática de um jogo próximo ao basquete, utilizando os materiais que foram disponibili- zados, sendo eles: cones, cordas, bambolês e um balde. As estratégias que os alunos utilizaram foram: amarrar um balde e um cone no co- queiro para simular as cestas, cones e cordas para simular a área do garrafão e o campo de jogo, e bambolês para simular a área do lance livre. Neste momento o Professor/pesquisador não interviu na cons- trução do espaço, apenas os auxiliou para realizarem as adaptações sugeridas pelos mesmos, como amarrar o balde no coqueiro. Para dar início ao jogo, foi definida três regras básicas: (1) Jogar com as mãos, (2) Todos deviam tocar na bola e (3) Acertar a cesta. Com isso, deixamos a atividade acontecer por mais alguns 110 • pedagogia dos esportes minutos até intervir e reunir os grupos para definir novas regras para a prática da atividade construída. Pois nesta concepção de Educação Física é importante trabalhar a resolução de conflitos que possam surgir com o esporte, aprender a compreender e discutir, passando até pela alteração de suas regras (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Um grupo de alunos sugeriu que a atividade fosse desenvol- vida com todos os alunos estáticos em uma posição e outro grupo sugeriu que só poderia tocar na bola 5 vezes. Sendo assim, desenvol- vemos a atividade em um primeiro momento seguindo a primeira sugestão de nova regra e posteriormente, seguindo a segunda su- gestão. Ao longo do jogo foram discutidas outras formas de jogos e regras, sendo algumas aceitas pela maioria, e outras recusadas. Com isso, foi realizado esse jogo construido em conjunto e encerrada a aula nesse ambiente externo adaptado nos dirigimos até o ginásio da Universidade Federal de Sergipe para dar sequência às outras ativi- dades planejadas. No ginásio (Foto 4) foi apresentado os elementos estruturais que constituem o jogo de Basquetebol institucionalizado (quadra, bola, aro, tabela e marcações) e foi realizado um paralelo com a ativi- dade que foi realizada anteriormente utilizando as mesmas caracte- rísticas do jogo. Observando a atividade, verificamos que as meninas eram pouco solicitadas na hora do arremesso final, sendo assim, in- serimos uma nova regra que só valeria ponto em arremessos realiza- dos pelas meninas. A atividade se deu por alguns minutos até que encerramos e fizemos uma roda de conversa final com a turma, que consistiu em debater o que foi vivenciado durante as aulas e buscar o nível de desenvolvimento atual dos alunos com suas novas perspectivas e propostas. No qual, questionamos se foi possível desenvolver uma prática próxima ao jogo do basquete nos dois ambientes (Ambiente externo e quadra esportiva) e os alunos responderam que sim. Com isso, como professores, não podemos ficar parados e devemos lutar por melhores estruturas, até lá, podemos realizar adaptações com os vários sentidos que os jogos proporcionam. o basquetebol como possibilidade pedagógica no ensino... • 111 Foto 1 – Construção do espaço de jogo Fonte: O Autor Foto 2 – Contrução do espaço e adaptação aos materiais do jogo Fonte: O Autor Foto 3 – Construção coletiva de novas regras Fonte: O Autor Foto 4 – Reconstrução do jogo com a regra de que só as meninas arremessam Fonte: O Autor O professor é visto muitas vezes como um superatleta e acaba gerandoum receio em executar outros tipos de atividades, pois exis- te uma insegurança em relação ao conteúdo que não dominamos, e com isso, trabalhamos apenas com o que temos afinidade. E mesmo que seja algum outro tipo de conteúdo, geralmente a aula é realizada na quadra, não utilizando espaços naturais e outros tipos de mate- riais reutilizáveis. No qual, segundo Betti (1999) a escola por si só desenvolve: Os códigos do esporte, tais como o rendimento atlético-des- portivo, a competição, comparação de rendimentos e recor- des, regulamentação rígida, sucesso esportivo e sinônimo de vitória, racionalização de meios e técnicas são utilizados pela Educação Física Escolar, e condicionam-se mutuamente, aca- bando a escola por desempenhar o papel de fornecer a “base” 112 • pedagogia dos esportes de uma pirâmide para o esporte de rendimento (BRACHT, 1992 apud BETTI, 1999, p. 26). O esporte é um fenômeno da cultura corporal e não pode- mos negar este aprendizado aos alunos (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Cabe ao professor mudar a forma como este conteúdo é pas- sado aos alunos, pois temos a função de transmitir o seu real sentido, passando pela compreensão e transformação do aluno, seja na qua- dra, na sala de aula, em ambiente externo entre outros, sem esquecer fatores importantes como conhecer as necessidades dos alunos, suas vivências culturais e seus objetivos com a prática. cOnSIDERAÇÕES FInAIS Entendemos que os objetivos de uma ação pedagógica não podem ser apenas avaliados numa relação perspectiva – alcance. Como toda ação humana, a ação pedagógica é fruto de diversas re- lações, esbarra-se numa realidade sócio-histórica, confronta-se com o outro e busca criar sínteses qualitativas dentro das mais diversas problemáticas. Nesse sentido, avaliamos quais foram os resultados deste trabalho. Este trabalho possibilitou um contato com a práxis social: onde conseguimos articular os elementos teóricos-metodológicos com o confronto real da prática, imersos no ambiente escolar na qual sujeito e objeto são indissociáveis. Além disso, foi importante para entendermos a necessidade de um planejamento sistematizado e intencional, além de nos colocar minimamente em contato com o nosso objeto de trabalho: a ação pedagógica. Sendo necessário que os professores possuam um pleno conhecimento das alternativas pedagógicas para serem utilizadas nas aulas de Educação Física, que passa por uma formação continuada. Outro elemento consiste no processo mais interno da organi- zação do trabalho pedagógico, entendendo as categorias (Objetivo, método, conteúdo, avaliação) como uma unidade, indissociável, ou seja, a sistematização dos elementos constitutivos de uma proposta pedagógica, são basilares para uma análise fidedigna da realidade: o basquetebol como possibilidade pedagógica no ensino... • 113 a apropriação do conteúdo a ser ensinado, os nossos objetivos, os caminhos que percorreríamos e como avaliaríamos isso. A relevância e o recorte social de suma importância com a localização do Esporte como um fenômeno social na modernidade para o entendermos como fruto das relações sociais. No qual, pode- mos analisar este fato com as respostas dos alunos da pesquisa que concebem o esporte como a prática de alto rendimento, relacionada às questão da socialização, ideologização, mercadorização e espeta- cularização do esporte (PIRES, 1998), sendo importante os profes- sores fazerem essa ressignificação da prática esportiva para ampliar o aprendizado respeitando o nível de desenvolvimento e aprendiza- gem do aluno. Toda essa perspectiva do trabalho foi enriquecedora, pois cada vez mais torna-se necessária a aproximação de nossa prática frente ao nosso campo de atuação: no campo escolar, com uma ação sistematizada, orientada, pensada metodologicamente e com um ob- jetivo focado na formação humana e profissional. Por fim, nos sentimentos satisfeitos e instigados para a exe- cução de nosso papel enquanto professores. Até porque toda ação intencional na realidade concreta nos faz não só refletir, mas princi- palmente nos coloca em vivência direta com o elemento central de nossa intencionalidade: que é a formação dos seres. REFERêncIAS BETTI, M. Esporte na mídia ou esporte da mídia?. Motrivivência, Floria- nópolis, v. 12, n. 17, p. 107-111, set., 2001. ______. Esporte e Sociologia. Motrivivência, Sergipe, v.1, n.2, p.7-11, 1989. BETTI, I. C. R. Esporte na escola: mas é só isso, professor? Motriz. Revista de Educação Física. UNESP, Rio Claro, v. 1, n. 1, p. 25-31, jun. 1999. BRACHT, V. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí: Unijuí. 2005. CBB. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BASKETBALL. O basquete no Brasil. Disponível em: <http://www.cbb.com.br/a-cbb/o-basquete>. Acesso em: 20 out. 2018. 114 • pedagogia dos esportes COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992. DAIUTO, M. Basquetebol: metodologia do ensino. São Paulo: Editora Braspal, 1983. FREITAS, L. C. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didá- tica. Campinas: Papirus, 1995. MINAYO, M. C. S. O desafio do Conhecimento: Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2007. PIRES, G. L. Breve introdução ao estudo dos processos de apropriação social do fenômeno esporte. Revista da Educação Física/UEM, v. 9, n. 1, p. 25-34, 1998. SILVA, A. M. Esporte-espetáculo: a mercadorização do movimento cor- poral humano. 1991. 152 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Floria- nópolis, 1991. • 115 VOlEIbOl nAS AUlAS DE EDUcAÇÃO FÍSIcA EScOlAR Airra de Oliveira Santos Alexandre Oliveira Nascimento Santos Gardilene Cardoso de Jesus InTRODUÇÃO A Educação Física, enquanto componente curricular da Edu- cação Básica, assume a tarefa de introduzir e integrar o aluno na cul- tura corporal do movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão físi- ca, em benefício da qualidade de vida. Neste aspecto, o Esporte enquanto um conteúdo da Educação Física proporciona diferentes olhares, mas, que em sua grande maio- ria são imperceptíveis. Através dele, muitos discursos foram sendo criados e estabelecidos como: no esporte há uma sociabilização, ou seja, aqui não haveria distinção de raça, status social, patrão e em- pregado etc.; também, o discurso da saúde em que quem o pratica é saudável e ainda, que respeitando as regras do jogo estaria prepa- rando para a sociedade. Discursos que ainda perpassam em nosso cotidiano, mas que já foram desconstruídos por autores da Educação Física (BRACHT, 1992, 1997, 2005; OLIVEIRA, 2001; PIRES, 1998, entre outros). Assim, o Esporte na contemporaneidade muitas vezes preci- sou de ser adjetivado no intuito de diferenciá-lo das dimensões pro- fissionais, amadoras, de lazer, educativas entre outras. Para Bracht 116 • pedagogia dos esportes (2005), embora reconheça este papel multifacetado do esporte, ele o classifica em esporte de alto rendimento ou espetáculo e esporte enquanto atividade de lazer. Assim, reconhece o poder atribuído ao primeiro, principalmente por sua transformação em mercadoria e a veiculação pelos meios de comunicação de massa. Esta característica que é dominante fornece assim, as manifestações existentes no outro e também, no ambiente escolar, ou seja, “a manifestação do esporte que ainda fornece o modelo para o esporte escolar é o de alto rendi- mento” (BRACHT, 1997, p. 12). A necessidade de ocupar-se com a questão da sociabilização e da aprendizagem social numa perspectiva didática da Educação Física resulta, por um lado, da análise da realidade social do esporte, como um campo no qual as relações e ações sociais são de impor- tância central; por outro lado, os problemas diários do Professor de Educação Física obrigam a considerar com mais profundidade as re- lações sociaisoferecidas ou influenciadas pela esporte institucionali- zado e, dependendo do caso, a procurar modificá-las. O ensino tradicional da Educação Física nas escolas é pautado na prática, sistematizada ou fracionada, das principais modalidades esportivas. As atividades contempladas variam de acordo com a re- gião, obedecendo às questões estruturais, culturais, logísticas e de interesse da escola e dos escolares. O Voleibol – considerado aqui como uma dimensão do Es- porte, enquanto modalidade e no âmbito da Educação Física – é uma das atividades requisitadas no desenvolvimento das aulas de Educa- ção Física (EF) escolar, devido à grande popularidade atingida pela modalidade que fez com que a sua prática fosse intensificada, atrain- do uma maior atenção dos jovens. Em curto prazo o Voleibol, de acordo com Marchi Júnior (2004) alcançou à condição de segunda modalidade esportiva na preferência dos espectadores brasileiros, ficando atrás somente do Futebol. Atendendo as classes distintas e formando um dos conteú- dos da EF escolar, o Voleibol teve sua trajetória, nas décadas especi- ficamente de 70 a 90 modificado, especializado, cientificado e espe- tacularizado. Neste sentido, utilizamos o Voleibol como um conteúdo para as aulas de EF escolar, sendo assim, este texto abordará aspectos rele- vantes do relato de experiência pedagógica que foram desenvolvidas voleibol nas aulas de educação física escolar • 117 com a turma do 1º ano do Ensino Médio do Colégio de Aplicação – CODAP, que fica situado na Universidade Federal de Sergipe (UFS), no Campus de São Cristóvão. Assim, esta experiência pedagógica objetivou estimular a do- cência por meio de práticas e intervenções pedagógicas intencionais, sistematizadas e com características lúdicas, a partir da modalidade esportiva Voleibol. Além de contribuir com atividades, com a finalidade de pro- porcionar a ampliação do repertório motor dos alunos, possibilitou também uma nova experiência na formação inicial para os professo- res em formação, que atuarão na Educação Básica. Oportunizando assim, um enriquecimento das ações docentes para futura atuação, pois entendemos que o processo ensino-aprendizagem precisa ser significativo e renovar-se constantemente. Nos próximos tópicos apresentaremos uma síntese acerca de uma Proposta Pedagógica para Educação e uma síntese da Proposta das Disciplina Pedagogia dos Esportes; um breve histórico da insti- tuição de ensino que oportunizou que as intervenções docentes fos- sem realizadas e a análise da experiência com o ensino do Voleibol na escola. PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA A EDUcAÇÃO Iniciaremos uma discussão sobre os objetivos, os conteúdos, os métodos de ensino e avaliação escolar (aqui, trazemos um pe- queno recorte, pois, no capítulo I estão as bases conceituais desses termos). Mediante esses processos de ensino que o docente organiza suas aulas e transmite aos alunos o conhecimento adquirido duran- te seu processo de formação, destacando o caráter educativo e críti- co desse processo de ensino, baseado acerca das visões de Libâneo (1994) que o professor tem o dever de planejar, dirigir e controlar esse processo de ensino, bem como estimular as atividades e compe- tências próprias do aluno para a sua aprendizagem. O principal meio de desenvolvimento intelectual dos alunos é o ensino, sendo possível adquirir conhecimentos e habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o docente transmite os 118 • pedagogia dos esportes conteúdos de forma que os alunos assimilem esse conhecimento, au- xiliando no desenvolvimento intelectual, reflexivo e crítico, podendo alcançar seu objetivo de aprendizagem. Os objetivos educacionais são metas que se deseja alcançar, para isso usa-se de diversos meios para se chegar ao esperado, tendo por finalidade, preparar o docente para determinar o que se requer com o processo de ensino, ou seja, prepará-lo para estabelecer quais as metas a serem alcançadas. De acordo com Libâneo (1994, p. 122), os objetivos de ensino “representam as exigências da sociedade em relação à escola, ao ensino aos alunos e, ao mesmo tempo, refletem as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos em face das contradições sociais existentes na sociedade”. Deste modo, os objetivos contêm a explicitação pedagógica dos conteúdos, que para Libâneo (1994, p. 128), “são um conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagogicamente e didaticamente [...]”. Esses conhecimentos são organizados de forma sistematizada e dependem de um método de ensino e aprendizagem para que seja assimilado. Neste sentido, os métodos de ensino são as formas que o do- cente organiza suas atividades de ensino e de seus alunos com a fina- lidade de atingir objetivos do trabalho docente em relação aos con- teúdos específicos que serão aplicados. Sendo assim, para a escolha e organização dos métodos de ensino, estes devem corresponder à essencial unidade objetivos-conteúdos-métodos e as formas de or- ganização do ensino, como também as condições concretas das si- tuações didáticas. Nesta perspectiva a relação objetivo-conteúdo-método para Libâneo (1994, p. 154), “tem como característica a mútua interde- pendência”. O método de ensino é determinado pela relação objeti- vo-conteúdo, mas pode também influir na determinação de objeti- vos e conteúdos. Ou seja, os métodos contribuem para direcionar o processo de ensino por parte do docente, tendo em vista a aprendi- zagem dos alunos. A fim de obter resultados, constatar progressos e dificuldades de aprendizagem dos alunos, recorremos a avaliação que reflete a qualidade do trabalho escolar, como também do docente e do aluno. Libâneo (1994, p. 195), define avaliação escolar como: voleibol nas aulas de educação física escolar • 119 Componente do processo de ensino que visa, através da verifi- cação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a cor- respondência destes objetivos propostos e, daí, orientar a to- mada de decisões em relações as atividades didáticas seguintes. Ou seja, a avaliação não se limita somente à atribuição de no- tas e/ou realizações de provas, mas também cumpre diversas funções como pedagógico-didáticas, de diagnóstico e de controle, sendo uti- lizada como instrumentos de verificação do rendimento escolar. Portanto, resumidamente, elaboramos para nossa intervenção no CODAP, como objetivo geral vivenciar os fundamentos e elemen- tos básicos da modalidade esportiva Voleibol, levando os alunos a experimentarem e identificarem as diferentes práticas corporais, de- senvolvendo o espírito de grupo e a superação de limites. Deste modo, pontuamos como objetivos específicos: conhecer os fundamentos, elementos e regras básicas do Voleibol; Praticar ati- vidades relacionadas a esta modalidade esportiva, explorando habi- lidades motoras básicas; Utilizar o Voleibol como forma de destacar a importância do trabalho em grupo; Desenvolver a modalidade de uma forma potencialmente lúdica, através de atividades que façam com que os alunos tenham afeição a modalidade. Como conteúdo recorremos a atividades relacionadas aos fundamentos e elementos básicos do Voleibol como o saque, o toque (levantamento) e a recepção (manchete), que, quando somadas com- põem o jogo como um todo. Utilizamos como método a exposição verbal, explicando os conteúdos de modo sistematizado e por demonstração. A avaliação foi processual, mediante a observação e participação dos alunos ao longo das aulas. DIScIPlInA PEDAGOGIA DOS ESPORTES: um olhar para a disciplina Os objetivos da disciplina Pedagogia dos Esportes, os quais nortearam a construção da nossa proposta de intervenção, foram estabelecidos numa relação entre as modalidades esportivas (Bas- quetebol, Voleibol, Handebol e Futsal/Futebol) e a realidade escolar, 120 • pedagogia dos esportes visando construir/elaborar uma experiência acadêmica neste am- biente formativo, interagindocom as diversas possibilidades (abor- dagens didático-pedagógicas) do ensino do esporte na escola; refle- tindo/agindo sobre/com compromisso profissional, ético e moral na formação/atuação docente. As unidades foram divididas em ciclos, sendo abordados em cada ciclo uma modalidade esportiva diferente (que girava em torno de quatro aulas por modalidade). O primeiro ciclo consistiu na ini- ciação ao aprendizado do Basquetebol, o segundo ciclo na iniciação ao aprendizado do Voleibol, o terceiro ciclo na iniciação ao Hande- bol e o quarto ciclo contemplou o aprendizado do Futsal/Futebol. Respectivamente, estes ciclos eram abordados na sequência: funda- mentos, história, regras básicas e o jogo e, entre os dois primeiros ciclos, havia uma avaliação, especificamente, a estes conteúdos. A metodologia utilizada no decorrer dos ciclos envolveu: au- las expositivas; aulas práticas; seminários e apresentações de filmes/ vídeos. Sendo as aulas práticas desenvolvidas no ginásio poliesportivo do Departamento de Educação Física da UFS; trabalhando a relação fundamento-jogo (como explicado no capítulo 1), que consistiu na forma de integralizar todos os fundamentos básicos apreendidos no decorrer da aula, na vivência de jogo, sendo este, adaptado ao longo das atividades de forma que contemplasse os fundamentos e as regras básicas, criando características diversas como a criação de regras em consenso coletivo e adequando ao longo dos conflitos, até que estas se aproximassem das regras oficiais da modalidade esportiva. Em cada aula foram abordados dois ou mais fundamentos básicos referentes à modalidade, sendo que o ensino desses fun- damentos seguiam o princípio de aprendizagem em que partia de atividades simples para atividades mais complexas, assim, nas qua- tros modalidades esportivas, foram trabalhados os fundamentos básicos. A vivência desses fundamentos foi organizada e dividida durantes as aulas, sendo que em cada aula executávamos e repetía- mos as atividades propostas de forma livre (individual), em duplas, trios e em grupos. As aulas foram construídas de forma que todos os alunos en- volvidos pudessem apreender tais fundamentos básicos, sendo es- quematizados passo a passo, até que todos os fundamentos básicos fossem apreendidos. Assim, as atividades foram finalizadas com o voleibol nas aulas de educação física escolar • 121 fundamento-jogo em que consistia na vivência dos fundamentos aprendidos na forma de jogo. Com isso, pudemos vivenciar os funda- mentos aprendidos na aula do dia, juntamente com os fundamentos das aulas anteriores, sendo estes agregados durante o jogo, com cons- truções de regras coletivas que posteriormente, com o decorrer das au- las, se aproximaram das regras básicas e oficiais de cada modalidade. Nesta perspectiva de ensino, fez-se necessário pensar no jogo como conectivo dos elementos da aula, como uma proposta que pos- sibilitasse ao aluno a desinibição, culminando assim, na maior pos- sibilidade de vivências das modalidades esportivas de forma mais proveitosa. Deste modo, o jogo se tornou um recurso pedagógico de ensino do Esporte, no qual foram realizados ajustes necessários e que estes ajustes respeitassem o nível de desenvolvimento e aprendi- zagem dos alunos, de modo a facilitar a inserção do aluno iniciante em cada modalidade esportiva. bREVE HISTóRIcO SObRE O cOlÉGIO DE APlIcAÇÃO No processo de ensino-aprendizagem escolhemos o Colégio de Aplicação para nossas intervenções didáticas, estando situado na Universidade Federal de Sergipe, no Campus de São Cristóvão. Assim, apresentaremos um pouco sobre a história do Colégio onde ocorreu as intervenções pedagógicas. O breve relato sobre o CODAP foi retirado do Portal da UFS, Colégio de Aplicação, Histórico do Colégio, disponível em: <http:// codap.ufs.br/pagina/21385-historico-do-colegio>, cujo acesso foi em: 13/12/2018 e o texto foi elaborado pelo Prof. Dr. Joaquim Ta- vares da Conceição que é Coordenador do Centro de Pesquisa, Do- cumentação e Memória do Colégio de Aplicação-UFS (CEMDAP). O Colégio de Aplicação, antigo Ginásio de Aplicação (G. A.), criado em 30 de junho de 1959, pertencia à Faculdade de Filosofia de Sergipe, com objetivo de servir como campo de estágio daquela Faculdade. Em 30 de dezembro de 1965, foi autorizado o 2º Grau com opções para o Clássico e o Científico, passando o Ginásio de Aplicação a denominar-se Colégio de Aplicação da Faculdade Cató- lica de Filosofia de Sergipe. 122 • pedagogia dos esportes Em 1968, foi criada a Universidade Federal de Sergipe que incorporou a Faculdade de Filosofia e o Colégio de Aplicação em sua estrutura administrativa e pedagógica. Em 1981, o Colégio de Aplicação transferiu-se para o Campus Universitário, passando a ser um órgão Suplementar, ligado diretamente à Reitoria e assumindo, além das funções do Ensino e Estágio, as atividades de Pesquisa e Extensão. Mantendo uma relação direta com o Centro de Ciências Humanas, propondo-se a ser campo de pesquisa, experimentação e prática pedagógica, além de servir como veículo de difusão de tecno- logias educacionais para a Comunidade de 1º e 2º Graus. A partir de 1993 o Colégio passou a ser vinculado pedagogi- camente à Pró–Reitoria de Graduação – PROGRAD a fim de obter um maior envolvimento com os Departamentos/UFS. Em 1994, o Colégio passou a funcionar em sua sede própria. Em 2006, o Colégio passa a ter representantes nos Conselhos Superiores da Universida- de. Atualmente funciona regularmente o Ensino Fundamental do 6° ao 9° ano e o Ensino Médio. Desenvolve projetos de Extensão e pro- jetos de Pesquisa em Iniciação Científica. Tem como objetivos: servir de campo de observação, pesqui- sa, experimentação, demonstração, desenvolvimento e aplicação de métodos e técnicas de ensino; Proporcionar a prática de ensino aos alunos do curso de Licenciatura e estágios supervisionados aos alu- nos dos demais cursos de graduação da Universidade Federal de Ser- gipe e de outras IES (Instituições de Ensino Superior); Desenvolver a Pesquisa científica e produzir conhecimentos, visando o aperfei- çoamento dos profissionais da Educação Básica; Instrumentalizar o educando para uma atuação crítica e produtiva no processo de trans- formação e construção consciente de uma sociedade justa, humani- tária e igualitária; Atuar na formação e desenvolvimento psicológico, social, cultural e afetivo do aluno, proporcionando conhecimentos e habilidades que lhe permitam prosseguir seus estudos. AnÁlISE DA PROPOSTA PEDAGóGIcA, ExPERIêncIA E O FUnDAMEnTO-JOGO As intervenções pedagógicas nas aulas de Educação Física fo- ram realizadas no Colégio de Aplicação, com alunos do 1º ano do voleibol nas aulas de educação física escolar • 123 Ensino Médio, em meados de outubro de 2016, no turno vespertino, com aproximadamente 30 alunos. Nos encontros pedagógicos trabalhou-se alguns dos funda- mentos básicos do Voleibol (saque, o toque e a recepção). A turma apresentava características mistas, no que se referia à participação, havia os alunos que participavam ativamente das atividades propos- tas e os que tinham aversão ao jogo, o medo de pegar na bola. Deste modo, foram utilizadas outras atividades para que esse grupo não ficasse disperso durante a aula, conforme mostra a foto 1, à medida que as orientações foram sendo explicadas, os alunos se organizaram para as atividades, como mostra a foto 2. Foto 1 – Momento em que ocorreu a dispersão no ginásio poliesportivo Fonte: Os autores Foto 2 – Momento em que se organizaram Fonte: Os autores Nas atividades, alguns alunos se destacavam pela liderança, pela forma como organizaram seu grupo, criando estratégias para ganharem o jogo, passando o comando do jogo para os demais, o que acabava diminuindo/restringindo a participação de algumas pessoas desse mesmo grupo. Devido a isto, uma regra foi posta, de- terminando que a bola deveria passar por todos os integrantes antes de lançar para o time adversário. As fotos 3 e4, mostram a organização dos alunos durantes as atividades, momento em que buscaram e criaram estratégias para resolverem as situações e conflitos presentes nas atividades, como também o destaque para os alunos que organizavam e lideravam os demais colegas durante toda a atividade. 124 • pedagogia dos esportes Foto 3 – Momento da busca de estratégias Fonte: Os autores Foto 4 – Momento em que se alguns alunos lideravam dos colegas Fonte: Os autores Reuníamos o grupo (roda de conversa) para uma reflexão sobre os fundamentos que foram desenvolvidos durante a aula e também para que os mesmos expusessem suas opiniões sobre as dificuldades encontradas nas atividades. Neste sentido, foi possí- vel perceber que os alunos mais aptos para a modalidade queriam o jogo institucionalizado, sendo que os demais não expressavam opinião. Percebemos que houve aprendizado pelos alunos como também, algumas dificuldades proporcionaram que melhorassem a postura de expectativa antes de executarem os movimentos per- tinentes à modalidade. A interferência que o docente exerce sobre o processo de aprendizagem e/ou desenvolvimento do aluno é considerada como intervenção pedagógica, que no momento dessa experiência de ensi- no apresentou problemas relacionados à aprendizagem e que o pro- cedimento escolhido interferiu no processo com o objetivo de com- preendê-lo, explicitá-lo e/ou corrigi-lo. Para isso, fez-se necessário inserir novos elementos para o aluno, levando-o a pensar e elaborar de uma forma diferenciada, para que mude padrões anteriores de relacionamentos com o meio em que vive. No entanto, a intervenção pedagógica, por si só, não garante o êxito na aprendizagem nem respectivos resultados constatadores das melhorias necessárias ou avanços alcançados. Existem inúmeros fatores implicadores (sociais, emocionais, culturais) que influenciam de forma direta e indireta as pessoas e processos observados. A intervenção pedagógica nesta perspectiva deve promover a organização do processo de forma que encontre as ferramentas voleibol nas aulas de educação física escolar • 125 essenciais ao confronto das dificuldades e/ou problemas diagnos- ticados na consolidação da aprendizagem do aluno, ainda que seja necessárias mudanças de paradigmas face à prática pedagógica, des- ta maneira, rever os meios e os fins utilizados no fazer pedagógico para alcançar um trabalho diferenciado e eficiente. A ação pedagó- gica precisa articular e prover todos os elementos necessários para o sucesso da aprendizagem do aluno, objetivo primordial, favorecer seu crescimento através dos diversos mecanismos que envolvem a construção do saber. Constatamos essa assertiva, no tocante à perspectiva de en- sino do fundamento-jogo, tendo o esporte como objeto de ensino, com ênfase nos esportes coletivos, na problematização da cultura corporal submetida aos processos de escolarização, na reflexão sobre os processos de transposição didática mediando a transformação do fenômeno sócio-histórico-cultural. cOnSIDERAÇÕES FInAIS As considerações relevantes nesta experiência pedagógica apontam, em primeiro instância de reflexão, enquanto acadêmicos de um curso de Licenciatura em Educação Física, para o impacto de se trabalhar com uma turma grande, constituída de aproximada- mente 30 alunos, pois, quando estamos ministrando aula para nós mesmos (acadêmicos) isto não é tensionado e, portanto, a experiên- cia viva e real nos provoca para repensar também, nossas ações e nossos planejamentos numa perspectiva da ação-reflexão-ação. Além disso, a experiência viva e vivida faz com que conheça- mos mais de perto os alunos da escola, com suas diferenças indivi- duais, seus conflitos, suas carências, atitudes, sentimentos, inibições entre outros fatores que se não forem levados em consideração frus- tra a prática docente. Com isto, consideramos que os objetivos propostos para rea- lização desse trabalho foram atingidos. Contudo, apesar de minis- trarmos poucas aulas, o que a priori implicaria em um prejuízo no aprendizado da modalidade específica, consideramos outros aspec- tos positivos em que priorizamos a prática do jogo Voleibol para 126 • pedagogia dos esportes além do âmbito escolar, com a construção da autonomia, tendo em vista uma relação de respeito mútuo entre os envolvidos. Uma das dificuldades que este trabalho apresentou foi na adequação das estratégias de ensino do Voleibol às características dos alunos envolvidos, sendo um processo contínuo de crescimen- to como pessoa e futuros docentes. Entendemos a relevância desse trabalho como fundamental para o processo de formação enquanto professor, promovendo uma aproximação entre professores e alunos o que contribui para um maior dinamismo do ensino-aprendizagem. Os objetivos/conteúdos da Educação Física, quando tratados pelos profissionais da área com compromisso e responsabilidade, podem ser de grande valia para a superação de muitas das dificulda- des dos alunos. Eles representam um recurso a mais capaz de auxiliar no processo de aprendizagem. Diante dos resultados constatados devemos considerar o fun- damento-jogo como um efetivo recurso pedagógico de ensino da modalidade esportiva, fazendo os ajustes e adequações conforme a necessidade e realidade encontrada, de forma que corresponda e respeite o nível de desenvolvimento e aprendizagem do aluno, otimizando atividades, inserindo brincadeiras através da utilização da ludicidade, por exemplo, que vai tornar o jogo prazeroso e ins- tigante, facilitando a inserção do aluno iniciante em cada modali- dade esportiva. REFERêncIAS BEZAULT, P. O voleibol. Lisboa: Estampa, 2002. BIZZOCCHI, C. O voleibol de alto nível: da iniciação à competição. Ba- rueri, SP: Manole, 2004. BRACHT, V. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí: Unijuí, 2005. ______. ______. Vitória/ES: UFES, 1997. ______. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. voleibol nas aulas de educação física escolar • 127 LIBÂNEO, J. C. Didática. 31. ed. São Paulo: Cortez, 1994. MARCHI JUNIOR, W. “Sacando” o voleibol. São Paulo: Hucitec; Ijuí: Unijuí, 2004. MARQUES JUNIOR, N. K. História do voleibol. 2012. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/237067331_Historia_do_volei- bol_parte_1>. Acesso em: 13 ago. 2016. OLIVEIRA, S. A. de. A reinvenção do esporte: possibilidade da prática pe- dagógica. Campinas/SP: Autores Associados, 2001. PIRES, G DE L. Breve introdução ao estudo dos processos de apropriação social do fenômeno esporte. Revista de Educação Física/UEM. Maringá- -PR, 1998. PRONI, M.W. e LUCENA, R. F. (Orgs). Esporte: História e Sociedade. Campinas/SP: Autores Associados, 2002. REGRAS OFICIAIS DO VOLEIBOL 2015 – 2016: Aprovadas pelo 34º Congresso da FIVB de 2014. Disponível em: <http://2016.cbv.com.br/pdf/ regulamento/quadra/RegrasOficiais deVoleibol-2015-2016.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2016. RIBEIRO, J. L. S. Conhecendo o Voleibol. Rio de Janeiro: Sprint, 2004. 128 • UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O EnSInO DO VOlEIbOl nA EScOlA Nathalia Dória Oliveira Hudson Leonardo Cordeiro de Moura Monike Rayane Silveira de Menezes InTRODUÇÃO Este trabalho se constituiu muito além do processo avaliativo da disciplina Pedagogia dos Esportes, considerando que tal tarefa se mostrou imprescindível para o processo de formação docente, no qual, tivemos como objetivo destacar a relevância da prática dos Es- portes (voleibol, futsal, futebol, handebol e basquetebol) nas escolas. A partir da compreensão de que o Esporte não pode adentrar nas escolas somente com o caráter técnico e institucionalizado, partimos da perspectiva de que o docente em exercício deve levar o aluno a compreender o Esporte também acerca dos seus processos histórico- -políticos, estimulando a cooperação e a coletividade dos mesmos, atribuindo assim vários sentidos e significados, visando um trato pe- dagógico para o Esporte escolar. Desde a década de 1980, a Educação Físicatransitou da condi- ção de mera atividade para a de componente curricular obrigatório e com vínculo com o projeto político pedagógico da escola, onde foi perceptível a sua maior efetivação no contexto escolar brasilei- ro a partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96), o que exigiu alterações significativas em seu status pedagógico, tornando-a uma disciplina de igual importân- cia às demais que compõem o currículo. Essa transição abriu novas uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 129 perspectivas curriculares, fazendo surgir uma preocupação mínima em relação a sua especificidade, ou seja, introduzir o aluno na cultu- ra corporal. Como os Esportes são parte integrante desse acervo de expressões corporais produzidos historicamente, nos é convidativo refletir essa perspectiva com objetivo de introduzir e integrar esse aluno nessa cultura, estimulando-o a usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais. Todavia o nosso trabalho propôs a prática do Esporte, especi- ficamente o Voleibol, desenvolvendo-o para além do gesto técnico, compreendendo sua construção histórico-política, seus fundamen- tos, apresentando outras representações culturais oriundas do Vo- leibol e o entendimento dos princípios sócio morais e da sua relação com os sujeitos no contexto social, estimulando uma perspectiva cooperativa e crítica, numa tentativa de contribuir para a formação da cidadania. A proposta desse trabalho foi compreender o processo histó- rico do esporte e mais especificamente o Voleibol, buscando redis- cutir e redimensionar o ensino dessa modalidade nas escolas, pondo na práxis a experiência de cinco aulas ministradas em uma Escola Pública, o que nos levou posteriormente a refletir acerca dessa inter- venção pedagógica. Assim, um primeiro momento foi apropriarmos e aprofundarmos a discussão acerca do Esporte na modernidade, suas características no sistema capitalista, o processo de espetacula- rização junto com a mídia e as possibilidades do seu ensino na esco- la o que culminou, no âmbito da Disciplina, em seminários, textos escritos entre outros, mas que para este recorte, não trouxemos uma vez que esta discussão está contemplada no Capítulo I e, portanto, a ênfase neste texto é o relato de experiência envolvendo o ensino do Voleibol na escola. No tocante à especificidade da modalidade Voleibol partimos para conhecer sua história, regras básicas e fundamentos o que nos levou a elaboração de um planejamento de uma proposta pedagó- gica para o ensino na escola em que, buscamos entender através da literatura da área pesquisada acerca de cada conceito e do seu propósito para o planejamento, sendo este último imprescindível para o trabalho docente, materializando e organizando a estrutura e funcionamento do projeto e da aula. Posteriormente elucidamos a 130 • pedagogia dos esportes proposta pedagógica do Voleibol nas escolas que teve como princípio a abordagem Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Neste sentido, tivemos como objetivos principais deste traba- lho: propor a prática do Voleibol, que se configura como um dos conteúdos específicos do Esporte que engloba o objeto de conheci- mento da Educação Física que é a Cultura Corporal, ou seja, os Jo- gos, as Danças, as Lutas, as Ginásticas e os Esportes. Assim, partimos da compreensão acerca da construção político-histórica do Voleibol estimulando uma perspectiva cooperativa e crítica de sua práxis e sua relação com os sujeitos no contexto social da escola. Temos clareza que conhecer a história do Voleibol possibilitou um olhar mais aguçado para sua história, para as relações sociais, principalmente, para as relações econômicas presentes em sua evo- lução até atualidade. Com isso, ao elaborarmos uma Proposta Pe- dagógica não desconsideramos estas relações, como também, nos estimulou a reflexão sobre a nossa realidade e da escola, visando uma apropriação crítica dos conteúdos de tal maneira que o aluno compreendesse a história e o porquê das mudanças ocorridas no Es- porte no decorrer do tempo desconstruindo assim, a visão natural do Voleibol midiático. Como também, apresentar os fundamentos básicos do Volei- bol como controle de corpo (posição de expectativa), toque, man- chete e saque de forma diferenciada, proporcionando a socialização e a cooperação foi um diferencial nesta proposta. Sabemos que por ser um Esporte essencialmente coletivo, o Voleibol apresenta um fa- tor sociocultural motivante e estimulante para a sua prática, criando assim oportunidades de aprendizagem através da maneira mais es- pecífica da técnica, porém tal prática não foi realizada de forma que descaracterizasse as potencialidades próprias de cada um, excluindo de tal maneira os possíveis sentimentos de fracasso e medo, visando à inclusão de todos. Como também, desenvolver situações de jogo que levassem os alunos refletirem a respeito dos princípios morais/ sociais, ampliando situações de complexidade durante as aulas para que os alunos pudessem desenvolver as habilidades motoras postas no jogo e possibilitar a reflexão estimulando a opinião crítica de cada sujeito sobre os valores e os aspectos sociais presente no jogo sendo decisivos para uma prática docente compromissada com a formação dos alunos. uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 131 No tocante à escolha dos conteúdos, partimos dos princípios que revelaram o seu intrínseco vínculo entre o conhecimento e prá- tica social. Por isso, os conteúdos possuem relação com “os conheci- mentos e modos de ação que surgem da prática social e histórica dos homens e vão sendo sistematizados e transformados em objetos de conhecimento, assimilados e reelaborados, são assim instrumentos de ação para atuação na prática do social e histórica” (LIBÂNEO, 1990, p. 130). Consoante Haidt (2001), conteúdo é tudo aquilo que é passí- vel de integrar um programa educativo com vistas à formação das novas gerações. Um conteúdo pode referir-se a conhecimentos, atitudes, hábitos, etc. Portanto, para nossa proposta de trabalho, os conteúdos selecionados foram: História do Voleibol; Fundamentos básicos do Voleibol, como posição de expectativa e movimentação (deslocamentos), toque, manchete e saque; Situações de jogo; Volei- bol sentado. No tocante à realização da avaliação, partimos do pressuposto de que representa uma etapa contínua que se manifesta na aula em todo o seu decorrer, por isso, as avaliações foram realizadas através de observações durante as atividades propostas, identificando os aspectos da sociabilização, do fazer coletivo, da apreensão e atuação autônoma e crítica dos alunos. Como também, em roda de conversa com os alunos ao final de cada aula com o intuito de colher dados de êxito e de não êxito das aulas, registrando assim, através do diário de campo todas as análises da interferência pedagógica, além de obter um registro escrito dos próprios alunos ao final das intervenções para que pudéssemos analisar e refletir acerca do feedback apresentado. AnÁlISE DA ExPERIêncIA As discussões sobre o Esporte é o ponto de partida para enten- dermos especificamente a modalidade Voleibol associado também, a compreensão do contexto histórico da sua criação aos dias atuais, bem como seus fundamentos e regras nos dão base para construir- mos o planejamento das aulas e elaboração do ensino do Voleibol nas escolas. 132 • pedagogia dos esportes A importância de irmos para a escola e materializar os planos de aula fez com que nos aproximássemos do nosso campo de atuação e de suas contradições. A elaboração das cinco aulas foram apenas uma amostra de planejamento, operacionalização e reflexão sobre o papel do docente da Educação Física e o caminho do ensino do Esporte com o trato pedagógico. O Esporte não pode adentrar na escola como forma acaba- da e única de movimento que visa a performance técnica e com o intuito de formar atletas.O Esporte deve ser planejado e trabalha- do pedagogicamente com o objetivo não só de vivenciar a técnica dos movimentos, mas também de conhecer a sua construção histó- rica e política, estimular a coletividade e socialização, permitindo que os alunos entendam que não é algo natural, e que pode e deve ser questionado, criticado e modificado de acordo com as necessi- dades do contexto. O tema Educação Física [...] é o movimento corporal – é o que confere especificidade à Educação Física no interior da Escola. Mas o movimento corporal ou movimento humano que é seu tema, não é qualquer movimento, não é todo mo- vimento. É o movimento humano com determinado signifi- cado/sentido, que por sua vez, lhe é conferido pelo contexto histórico-cultural (BRACHT, 1992, p. 17). As aulas foram ministradas na Escola Estadual Professora Neyde Mesquita, localizada na rua A, Q 10, Conjunto Lafayete Cou- tinho, Rosa Elze, na cidade de São Cristóvão – SE. A escola é pública e urbana, funciona em prédio próprio com água, energia elétrica, rede de esgoto da rede pública, coleta de lixo periódica e além disso, oferece alimentação escolar para os alunos. Em se tratando de suas dependências esta apresenta a seguinte estrutura: 7 salas de aula, 55 funcionários, sala de diretoria, sala de secretaria, laboratório de in- formática com internet banda larga, cozinha, biblioteca, banheiro, despensa, almoxarifado, pátio coberto e local descoberto bem amplo usado como quadra de esportes, com mato e muro consideravelmen- te médios em seu entorno. O chão dessa quadra é de cimento e des- regular, não possui proteção lateral e as árvores no seu entorno fa- zem sombra na quadra, possibilitando sua prática em horários mais uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 133 quentes. Não possui acessibilidade para pessoas com deficiência em sua entrada e nem em suas dependências1. A turma escolhida para intervenção foi o 7º ano do ensino fundamental com 30 alunos, devido à oferta do professor de Educa- ção Física da escola por estar lecionando também o Voleibol como tema no período da nossa ação. A princípio fomos observar a in- fraestrutura da escola, conhecer os funcionários e conversar com o professor de Educação Física para saber se haveria possibilidade de aplicarmos os planos de aula. O professor foi bastante solícito à proposta pedagógica e atuação na escola, mostrando disponibilida- de para acompanhar todo desenvolvimento das aulas e logo após, explicou para a turma sobre a nossa intervenção nas aulas. Diante disso, tivemos facilidade na aplicação das aulas com a colaboração do professor e dos alunos no envolvimento das atividades propostas. As aulas foram aplicadas em um local descoberto que é utili- zado como quadra de esportes. Como na escola não havia os postes para armar a rede do Voleibol, o improvisamos amarrando a rede com cordas nas árvores. Infelizmente muitas escolas públicas não possuem nem esse espaço aberto para o desenvolvimento das aulas de Educação Física, tendo que ficar restrito a corredores e sala de aula. No tocante aos materiais, utilizamos os que foram disponibi- lizados pela Universidade Federal de Sergipe, como bolas de Vôlei, rede, bambolês, cones, entre outros. Desenvolvemos os planos de aulas tendo como método a abordagem Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992), utilizando o recurso do fundamento-jogo, o qual cada aula encon- trava-se interligada umas nas outras, estimulando o conhecimento e oportunizando a prática do Voleibol. A primeira aula apresentou como um dos objetivos conhecer a turma, apresentar o grupo e o motivo pelo qual estaríamos dando as aulas, procurando nesse primeiro contato, uma maior aproximação com os alunos. O outro objetivo foi apresentar a história do Voleibol criando estratégias para que a aula não fosse monótona e desinteres- sante. Com isso, propusemos então dificuldades motoras e coletivas 1 Dados informados pelo site da Secretaria de Educação de Sergipe (www.seed. se.gov.br). Acesso em: 29 de novembro de 2018. 134 • pedagogia dos esportes para que ao solucionar fossem montadas figuras de quebra-cabeça, possibilitando a visualização do processo histórico do Voleibol. Esta primeira aula foi planejada procurando atender de forma coerente os objetivos da nossa proposta e o objetivo de aprendiza- gem. Como seu objetivo foi a compreensão da construção histórica- -política do Voleibol, percebemos que este foi alcançado, pois a me- todologia da aula, no tocante a resolução de problemas motivou os alunos durante a explanação da história, o que facilitou a compreen- são da mesma. Utilizamos atividades na qual a cooperação estivesse presente, usando materiais não usuais como toalhas. Foto 1 – A turma dividida em duplas tinha como objetivo passar a bola de meia pelas toalhas e ao chegar na última dupla correr até o início da coluna e virar uma peça do quebra-cabeça. E assim, sucessivamente. Ao completar a figura referente à história do voleibol obteve uma explicação sobre o marco histórico da imagem. Fonte: Os autores Foto 2 – Todos os alunos ficaram segurando um grande teciso e o objetivo era que a bola de Vôlei desse quiques no tecido sem parar até o ponto de chegada, ao conseguir tinha uma imagem com um marco histórico do voleibol. Fonte: Os autores uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 135 O nervosismo no primeiro contato foi sentida pelo grupo, po- rém com o estudo do plano de aula e consciência do nosso papel na escola, além do trato pedagógico que com a práxis vai amadurecen- do, deixa-nos mais confiantes e a vontade para intervir nas dificulda- des presentes do cotidiano. A segunda aula contemplou o objetivo dos fundamentos: po- sição de expectativa, movimentação e o toque. Mesmo com muitos objetivos em uma aula, o qual não é o ideal, procuramos iniciar com um jogo de pega-cadeira para instigar a posição de expectativa e movimentação. O jogo assemelhava-se ao pega-pega convencional, porém alguns alunos deveriam ficar com suas respectivas cadeiras sem soltar e o pega só poderia “colar” quando o aluno não estivesse sentado na cadeira, sendo que este não deveria ficar mais de cinco segundos sentado. Ao serem pegos, trocavam de posição com o pe- gador. Variações foram feitas diminuindo a quantidade de cadeiras e colocando vários pegadores, por exemplo. Foto 3 – Pega cadeira Fonte: Os autores Foto 4 – Fundamento-jogo, toque e manchete Fonte: Os autores O fundamento do toque foi ensinado através do movimen- to parado individual de empurrar a bola acima da testa utilizando os braços e pernas, e em seguida perfazendo o golpe na bola. Uti- lizamos duplas e trios para fazer o toque parado e em movimento, tendo o Professor auxiliando na técnica e suas variações. No final da aula utilizando o fundamento-jogo fizemos um jogo que abran- geu o toque, posição de expectativa e movimentação em que obser- vamos a utilização dos fundamentos nas situações de jogo. Assim, no final problematizamos as dificuldades encontradas e os avanços 136 • pedagogia dos esportes individuais e coletivos dos alunos. Inicialmente os alunos ficaram calados, receosos ou com vergonha, mas alguns se manifestaram possibilitando uma reflexão sobre nossas ações futuras. A terceira aula foi sobre o fundamento da manchete do Volei- bol. Iniciamos relembrando os fundamentos da aula anterior e fize- mos a dinâmica similar com o toque, em que iniciamos com a bola parada, depois fazendo o golpe com a dinâmica de duplas e trios. Du- rante o jogo, ampliamos as regras introduzindo a manchete e o saque, não dando destaque a este último fundamento. Como tinham muitos alunos na quadra, dividimos a turma em quatro grupos e fizemos o ro- dízio de forma que o grupo não ficasse muito tempo esperando, visto que toda vez que isso ocorria havia uma dispersão dos alunos. Como reflexão no final da aula os alunos apontaram a difi- culdade de fluir o jogo por uma deficiência técnica dos fundamen-tos, polarizando o jogo para aqueles alunos mais habilidosos. Isso fez com que refletíssemos em grupo e criássemos estratégias para minimizar essas dificuldades e possibilitar a participação de todos. Assim, na quarta aula que teve como objetivo de apren- dizagem o fundamento saque, realizamos o jogo assemelhando o movimento do saque por baixo utilizando bolas de meias e cones. O saque por baixo foi escolhido para essa aula porque tecnicamente é o fundamento mais básico e eficiente para se iniciar o jogo de Volei- bol. Nessa atividade devido a falta de proteção nas laterais da quadra, as bolas de meia acabavam caindo dentro dos matos e havendo certa dificuldade para encontrá-las, atrasando a dinâmica da atividade. Foto 5 – Jogo da bola de meia e os cones Fonte: Os autores Foto 6 – Alunos sacando com a bola de Vôlei Fonte: Os autores uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 137 O jogo foi realizado nessa aula unindo os fundamentos apreendidos anteriormente com o saque por baixo. O início do jogo se deu pelo saque por baixo, tendo nesse fundamento um olhar mais atento dos professores. No primeiro momento os alunos poderiam segurar a bola durante o primeiro toque e em seguida realizar o toque ou a manchete, a quantidade de toques na bola nesse momento era ilimitado. À medida que os alunos foram se familiarizando inserimos a regra em que no primeiro golpe da bola tinha que ser o toque ou manchete com o limite de um toque por pessoa e três toques por equipe. Na quinta aula tivemos como objetivo aproximar os alunos de outras representações culturais oriundas do Voleibol como o Mini Vôlei, o Voleibol sentado, o Biribol (Voleibol na água). O Voleibol é uma modalidade que representa um dos elementos clássicos da cultura esportiva, sendo uma das modalidades mais praticadas no mundo e influenciando outras manifestações que utilizaram seus principais elementos, como o Mini-Vôlei, Voleibol sentado, que fo- ram temas propostos nesta experiência pedagógica. Assim, foi possível aproximar os alunos de outras represen- tações culturais oriundas do Voleibol proporcionando ampliar seu acervo cultural a exemplo do Voleibol sentado que é um Esporte paraolímpico no qual participam pessoas amputadas, paralisados cerebrais, lesionados na coluna vertebral e com outros tipos de defi- ciência locomotora. O propósito foi fazer com que os alunos experi- mentassem a prática, aumentando o seu repertório cultural e motor, desenvolvendo uma consciência de independência em relação à ins- titucionalização do Esporte e sua adaptação diante à realidade. Para realização da sua prática foi necessário aplicá-lo no espa- ço da sala de aula devido às irregularidades do piso no espaço exter- no no qual é destinado às aulas de Educação Física já que os alunos deveriam estar dispostos no chão. No decorrer da aula expomos al- gumas figuras do Vôlei sentado e explicamos algumas regras básicas e sua contextualização histórica. Em seguida, pedimos para os alunos experimentassem a prá- tica e intervimos nos momentos de dificuldades dos mesmos. Foi interessante observar a dificuldade de locomoção e a percepção dos alunos diante das dificuldades do jogar sentado. 138 • pedagogia dos esportes Foto 7 – Quadro para a explicação do Vôlei e os alunos experimentando a prática Fonte: Os autores Na conversa final foi solicitado que os alunos fizessem analo- gia entre o Voleibol anteriormente apreendido e o Voleibol sentado. Durante a comparação, os alunos identificaram as principais dife- renças, facilidades e dificuldades encontradas entre uma modalidade e outra, e ainda apontaram possíveis estratégias de como facilitar a prática do Voleibol sentado. Embora tenhamos ficados satisfeitos com o feedback dos alu- nos, percebemos ausência de alguns deles no decorrer da aula. Isso nos levou a refletir o porquê de tal comportamento. Diante dessa rea- lidade, pensamos estratégias possíveis para provocar o envolvimento de todos os alunos. Um outro fator pensado foi que a Educação Física enquanto componente curricular carrega culturalmente a visão de não aula e sim de brincadeira e nós enquanto área de linguagens que te- matiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos e patrimônio cultural da humanidade. Assim, estamos devendo a sociedade no tocante ao esclarecimento de que as práticas corporais são textos culturais passíveis de leitura e produção que ocasionam um melhor conhecimento de si, do outro e do mundo, e como a escola ainda é lugar de mediação cultural, é de fundamental importância os saberes corporais neste espaço. Ao final, conversamos com a turma explicando que aquele se- ria o último encontro, agradecemos a atenção e a colaboração da instituição, do Professor e dos alunos, e pedimos para que eles escre- vessem algumas sugestões e/ou críticas sobre nossas intervenções na uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 139 escola e nas aulas tendo em vista a aprendizagem do Voleibol. Esse feedback escrito foi de extrema importância para o grupo no tocante ao pensar pedagógico e o despertar para a necessidade e importância das intervenções no ambiente escolar já que estas possibilitam de forma plena a articulação entre a escola e a Universidade. Ao analisar as mensagens escritas pelos alunos, percebemos que alguns nunca tiveram contato com o Voleibol e que poucos sa- biam da sua história, dos fundamentos e da existência de outras mo- dalidades oriundas dele. Portanto, consideramos que nossa presença na escola foi bastante proveitosa tanto para os alunos como para nós enquanto graduandos e futuros docentes, deixando um inesquecível aprendizado e experiência para todos. Destacamos algumas mensa- gens dos alunos: [...] Achei muito legal vocês terem vindo aqui no Colégio, ensi- nar coisas que eu nunca tinha ideia como era [...]; Eu gostei muito de aprender um pouco mais sobre o vôlei e também gostei de aprender a jogar; Eu amei as aulas, queria que eles ficassem mais tempo mas né! fazer o que o jeito que eles ensinaram é super legal que eles prestam atenção em tudo eles chegam a ser melhor do que o professor como estagiários mandaram muito bem. Eu nunca pratiquei vôlei mas agora irei saber mais sobre tudo que eles ensinaram; Eu gostei quando nós aprendemos a manchete e o toque e prin- cipalmente na aula quando nós jogamos o vôlei e a parte tam- bém na sala. Diante do exposto, julgamos que atingimos o objetivo tanto no que se refere ao estímulo do aprendizado dos alunos através de uma prática cheia de sentido e significado passível de leitura, pro- dução, e reprodução não se restringindo apenas ao gesto técnico do Voleibol enquanto Esporte institucionalizado, como também no provocar na escola um repensar na atuação pedagógica dos docen- tes em se tratando do ensino do Esporte, mais especificamente o 140 • pedagogia dos esportes Voleibol. Contudo, sabemos que apesar dessa experiência trazer uma carga de conhecimento bastante significativo para nossa vida pessoal e profissional, foi apenas a primeira que iremos levar e fomentar nas nossas atuações futuramente e continuar a aprender e refletir sobre os objetos de estudos, a escola e a sociedade. Destacamos como pontos de eficácia didático-pedagógicas, a roda de conversa ao final de todas as aulas para ouvir as considera- ções, sugestões e críticas dos alunos sobre a composição das mesmas, o uso e evidências metodológicas utilizadas para alcançar o objetivo de aprendizagem deixando todas as aulas amarradas, perfazendo um processo contínuo e por último, o planejamento que possibilitou em cinco aulas oportunizar a experiência do Voleibol. Neste sentido, uma proposta pedagógica para o ensino de uma modalidade esportiva deve valorizar aspectos da prática esportiva que ultrapassem a noção de rendimento e alcance elementos como a relação da modalidadecom o contexto social, a solidariedade entre os praticantes, o respeito ao próximo, o entendimento da sua histó- ria, evolução das normas, relação com a mídia, entre outros. A valorização destes aspectos menos tradicionais do ensino de uma modalidade não deve ser feita de maneira isolada ou me- ramente reflexiva, ao contrário, deve estar associada ao ensino dos fundamentos técnicos e com a prática do Esporte propriamente dita. Assim, não se pretende eliminar o ensino da técnica ou da tática do jogo, mas proporcionar um entendimento crítico do fenômeno es- portivo e uma independência quanto às maneiras de se apropriar dele enquanto patrimônio cultural. cOnSIDERAÇÕES FInAIS A Proposta Pedagógica do Voleibol aconteceu numa escola que se localiza em uma região periférica de difícil acesso e possui uma estrutura não adequada para a prática das aulas de Educação Física. Na intervenção, a quadra não havia postes de Voleibol, sen- do uma realidade de muitas escolas, por isso tivemos que adaptar e reestruturar os planos, aproveitando os espaços cobertos por árvo- res que dava sombra na quadra. Em relação aos alunos não tivemos uma proposta pedagógica para o ensino do voleibol na escola • 141 problemas, pois o método realizado pelo Professor de Educação Físi- ca da escola era similar a proposta do grupo e sempre que tínhamos algum problema o Professor estava junto para chamar a atenção, como por exemplo, conversar paralelamente com os alunos, evitar a dispersão, entre outros. A intervenção ocorreu no tempo previsto da aula de Educa- ção Física com a autorização do Professor e do Diretor da escola. É importante destacar que inicialmente fizemos observações da turma e dos espaços, e ao final de cada aula, no momento da avaliação, dis- pomos reflexões sobre as atividade propostas. No último dia de aula pedimos para os alunos escrevessem em um papel um feedback de nossa intervenção, podendo ser críti- cas, propostas, elogios, entre outros. Foi interessante observar que a maioria dos alunos relataram que não sabiam a história do Voleibol, sobre sua criação e evolução, pensava-os que sempre foi da maneira que viam na televisão. Então, essa desnaturalização e compreensão do processo histórico do Voleibol chamou a atenção dos alunos para um conhecimento em que, a partir daí, abre portas para diversas re- lações e ações com outros temas. Apesar das dificuldades encontradas conseguimos atingir os objetivos das aulas e do projeto pedagógico. Visando a perspectiva Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992), os alunos compreenderam a evolução do Esporte Voleibol em sua perspectiva coletiva, inclusiva e crítica, oportunizando o conhecimento sistema- tizado e acumulado da sociedade, contextualizado com a realidade da escola. O planejamento, aplicação das aulas e a reflexão, enfim, a prá- xis pedagógica, possibilitou a formação docente mais próxima do contexto escolar. Ampliando o nosso olhar para as diferentes pers- pectivas do exercício docente voltados para o interesse social e for- mativo dos cidadãos transformadores e críticos. REFERêncIAS BETTI, M. Esporte na mídia ou Esporte da mídia? Revista Motrivivência, Florianópolis, SC, 2002. 142 • pedagogia dos esportes BRACHT, V. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. Vitória: UFES, 1997 ______. A criança que prática esporte respeita as regras do jogo...capitalis- ta. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, 7(2),p. 62-68, 1986. BOJIKIAN, J. C. Ensinando o voleibol. São Paulo. Ed. Phorte, 2008. COLETIVO DE AUTORES. A metodologia do ensino de Educação Físi- ca. São Paulo: Cortez, 1992. Coleção Magistério 2° grau – série formação do professor. GONZÁLES, F.; SCHWENGBER, M. Práticas pedagógicas em Educação Física: espaço, tempo e corporeidade. Edelbra Editora Ltda, 2012. HAIDT, R. C. Curso de Didática Geral. 7ª edição. São Paulo. Ática, 2001. LIBÂNEO, J. C. Didática. Editora: Cortez. 1994. LUCKESI, C. C. Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2000. MARCHI JUNIOR, W. Sacando o voleibol: do amadorismo à espetacula- rização da modalidade no brasil (1970-2000).Tese de doutorado – Univer- sidade Estadual de Campinas, SP. 2001. MARCONI, M.; LAKATOS, E. Fundamentos de Metodologia Científica. 7ª edição. São Paulo. Atlas, 2010. PIRES, G. de L. Breve introdução ao estudo dos processos de apropriação social do fenômeno esporte. Revista da educação física/UEM. 9(1): 25-34, 1998. PIRES, G. de L.; SILVEIRA, J. Esporte educacional... existe? Tarefa e compromisso da Educação Física com o esporte na escola. In: SILVA, Mauricio Roberto (org.). Esporte, Educação, Estado e Sociedade. Chape- có: Argus, 2007. VEIGA, I. P. (Organizadora). Lições de Didática: Magistério, Formação e Trabalho Pedagógico. 2ª edição. São Paulo: Papirus, 2007. VolleyBall Federação Paulista: História do Voleibol. Disponível em: <http://www.fpv.com.br/historia_volleyball.asp>. Acesso em: 06 set. 2018. • 143 FUTEbOl nO cOnTExTO EScOlAR: UMA ExPERIêncIA FORMATIVA Karine dos Anjos Santos Luis Henrique Calazans dos Santos Hericles da Rosa Matos Wendell Santos Matos InTRODUÇÃO Como o esporte tem exercido grande influência sobre a socie- dade, observamos que não é diferente nas escolas. No caso do Brasil, o Futebol é o que ganha mais destaque em todos os campos, já que nos consideramos o “país do futebol”, dessa forma vemos que nas escolas não há um trabalho diferente do que se ver fora delas. Percebemos o quanto o Futebol é concebido com o viés téc- nico e como momento de lazer e distração na sociedade brasileira, como também a concepção de uma áurea mítica envolta da relação desse esporte com os brasileiros, no qual os craques “brotam” e que ainda cria-se a ideia que somos os melhores do mundo que os bra- sileiros têm um jeito especial de jogar como sua ginga, entre outros. Porém, tudo isso apenas revela uma carência pedagógica das verda- deiras relações que o Futebol exerce sobre a sociedade brasileira. Tais relações como a questão da espetacularização, criação dos heróis e como o Futebol explica o modo e jeito de ser brasileiro. Apesar de ser um esporte popular a sociedade não entende a modalidade. Assim o texto a seguir é resultado de uma experiência peda- gógica, vivenciada por graduandos em Educação Física, no qual tra- zemos um novo debate sobre o ensino do Futebol no âmbito escolar. 144 • pedagogia dos esportes Dessa forma, abordamos uma compreensão alternativa sobre o fe- nômeno do Futebol nas perspectivas sociais e históricas, contribuin- do na formação integral dos alunos. Logo a finalidade deste texto é apresentar os resultados obtidos com a intervenção na turma do 8º ano A, da Escola Estadual Professora Neyde Mesquita, localizada no município de São Cristóvão/SE, cujo os graduandos em Educação Física, Licenciatura Plena, ministraram aulas que abordaram o Fute- bol numa perspectiva crítica, histórica e social, relacionando aspec- tos como a influência da mídia e da cultura na prática do jogo, além do desenvolvimento de habilidades específicas do Futebol. Neste trabalho trazemos uma gama de conceitos importantes sobre metodologia, avaliação e conteúdo baseados na Abordagem Crítico-Superadora do Coletivo de Autores (1992), na qual a Educa- ção Física escolar é reconhecida como uma disciplina capaz de for- mar indivíduos críticos, autônomos e conscientes do seu papel em sociedade e do processo de formação. Com esse tipo de abordagem e perspectiva, a Educação Física escolar pode se desvencilhar e distan- ciar da visão e dos antigos métodos tradicionais, cuja as finalidades eram voltadas ao tecnicismo, empregado principalmente nas moda- lidades esportivas, reproduzidas até então, de forma acrítica. Cabe destacar que a utilização do esporte visto pelo prisma da corrente Crítico-Superadora, serve como meio de construção para se atingir a formação de um indivíduo pensante e potencializado. SObRE O PROJETO POlÍTIcO PEDAGóGIcO (PPP) Compreendemos que um PPP é o planejamento que definea intencionalidade e as estratégias do corpo escolar e que o profes- sor também estabelece os seus objetivos educacionais que têm como função orientá-los durante o processo de ensino-aprendizagem. As- sim, o nosso não poderia ser diferente, pois criamos um objetivo geral em que tivesse uma meta mais ampla para a escola. Também criamos objetivos específicos em que, através das atividades desen- volvidas durante cada aula, fosse possível ver nos alunos os possíveis resultados esperados. Vale ressaltar que, a princípio os objetivos por nós esta- belecidos não levou em consideração a realidade da escola, pois, futebol no contexto escolar • 145 primeiramente criamos o PPP e em seguida fomos conhecer uma escola em que pudéssemos aplicar/desenvolver nosso Planejamento. Numa segunda fase, redefinimos o Projeto de acordo com a realidade encontrada e ai sim, os objetivos entraram em sintonia com a reali- dade escolar. Sendo assim, o processo de ensino-aprendizado foi rico em sentido e significado para o aluno como seres autônomos, críticos, reflexivos, ou seja, seres humanos mais completos. Desse modo, nosso PPP fez com que, através do Futebol, os alunos discutissem situações em que eles se deparam durante seu cotidiano escolar e social e assim, eles adquirissem um senso crítico autônomo e reflexivo. Assim, o objetivo geral do nosso Projeto Político Pedagógico fez com que os alunos compreendessem o fenômeno do Futebol nas perspectivas sociais e históricas, dando-lhes uma maior contribuição para a sua formação. Pois percebemos que apesar desse Esporte fa- zer parte da identidade cultural dos brasileiros, muitos não possuem uma compressão total do fenômeno Futebol, levando-os a ilusão de que são conhecedores da modalidade, desde suas regras ao proces- so histórico. Mas apesar dessa ilusão compreendemos/julgamos que uma das causas desse conhecimento superficial sobre o Futebol, é de responsabilidade da mídia, pois muitos consomem as informações que são transmitidas por ela, e os sujeitos não se aprofundam (vão além) dessas informações. Desse modo, os objetivos específicos desse PPP foram pen- sados a partir do objetivo geral e das discussões em grupo. Assim, julgamos necessário levar para as aulas de Educação Física a proble- matização acerca da relação e influência da mídia no esporte (Fute- bol), já que a mídia é o principal meio de aproximação das pessoas para conhecer e assistir o esporte, visto que é cada vez mais raro, as pessoas se dirigirem a um estádio pra ver uma partida de Futebol ou fazer uma pesquisa mais aprofundada em livros de história ou de regras, a respeito desta modalidade esportiva. Também, compreendemos a importância de investigar como o Futebol influencia no desenvolvimento das habilidades motoras do aluno, pois julgamos que essa modalidade (recurso metodológico) é a mais usada durante as aulas de Educação Física, mesmo que não seja realizada no espaço correto (campo de Futebol). Por fim, um dos objetivos específicos foi levar os alunos a averiguar a relação do 146 • pedagogia dos esportes Futebol com os aspectos sociológicos, históricos e culturais, presen- tes na sociedade, em especial na sociedade brasileira, já que há uma alusão de que o Futebol representa identidade cultural dos brasilei- ros, como destaca (GASTALDO, 2002). Quando pensamos na relação Futebol e mídia perpassa tam- bém, a compreensão do fenômeno do Futebol nas perspectivas so- ciais e históricas, contribuindo na formação do Ser, levando os alu- nos a compreender o processo de surgimento desse Esporte e suas influências na sociedade, fazendo com que os alunos tomem cons- ciência do procedimento de globalização da modalidade desde sua origem burguesa até apropriação pelas classes mais pobres. Relacio- nando esses acontecimentos como fator formador da atual realidade do Futebol e sua influência na sociedade brasileira, refletindo como esse processo atuou na formação da identidade nacional e o fortale- cimento desse Esporte como paixão nacional. No Brasil e no mundo é notória a influência da mídia no Fute- bol. Os clubes de Futebol muitas vezes deixam a sua autonomia para seguir os padrões impostos pela mídia. Os jogos são transmitidos pela televisão, rádio, internet e torna-se o assunto comentado por grande parte da população, que muitas das vezes são influenciadas por comentaristas que narram esses jogos, tornando-se dependentes desses comentários para compreender o que se passa nos jogos. Assim outro fator que identificamos na relação do Futebol com a mídia é a formação de ídolos do Esporte, ao qual alguns joga- dores são tidos como heróis e indispensáveis nos times onde jogam. Esse fator gera a presença de grandes marcas patrocinando esses ti- mes, chamando a atenção para um Futebol espetacularizado, em que o ato de jogar fica praticamente em segundo plano, sendo dividido com as propagandas e interrupções durante o jogo. Por esta razão, entre outras, foi importante entender a dependência dessa modali- dade com a mídia, pois o Brasil torna-se cada vez mais um País de uma monocultura do esporte – Futebol – (PIRES, 2002), transfor- mando os jogos em um objeto do capitalismo no qual o importante é ficar famoso, ganhar dinheiro e ser de um grande time, deixando de lado outros esportes e até mesmo pequenos times de Futebol. Portanto, com esse objetivo nossa intenção foi que os alunos pudessem identificar essa relação da mídia com o Futebol, ao qual, futebol no contexto escolar • 147 eles ao verem o jogo não fossem meros telespectadores, mas, pelo contrário, fossem sujeitos críticos e que não fossem influenciados pelo o que a mídia transmite e sim, que eles mesmos pudessem ter suas próprias opiniões. Outro objetivo especifico foi investigar como o Futebol pode influenciar no desenvolvimento de habilidades motoras do aluno. Essa modalidade como conhecemos é um fenômeno mundial que tem características e está atrelada à sua prática uma alta competitivi- dade. Do ponto de vista do alto rendimento e sobrecarga muscular exigida, sua aplicação seria prejudicial e inviável na escola, embo- ra seja comum seu uso nas aulas de Educação Física escolar, porém na maioria das vezes de forma equivocada. Não é impossível o uso do mesmo nos aspectos educacionais, mas este necessita ser usado como meio e não apenas como “fim” (prática isolada). Desse modo, pudemos utilizar o Futebol através de dinâmicas que ajudaram aos alunos no desenvolvimento de habilidades especí- ficas deste jogo, como: chutar, passar, lançar e cabecear; e também, com habilidades elementares gerais, que puderam auxiliar na obten- ção das específicas, como: correr para chutar, saltar para cabecear, dentre outras. Com isso, o jogo do Futebol nas aulas de Educação Física não ficou apenas uma prática pela prática, mas sim, com um objetivo de desenvolver as habilidades motoras do aluno. Ainda, esclarecendo um pouco sobre os objetivos específicos elaborados, averiguamos a relação do Futebol com os aspectos socio- lógicos, históricos e culturais, presentes na sociedade. Pois, o esporte é considerado parte importante de várias culturas. No Brasil, este tem um papel social crucial na identidade do povo. Segundo Pereira (2000) tudo começou com a sua construção histórica com a chegada desse Esporte pelos pioneiros Charles Miller e Oscar Cox, aos quais divulgaram essa modalidade principalmente entre a classe refinada paulista e carioca, expandindo-se posteriormente para as mais des- favorecidas, quebrando barreiras sociais e gerando um diferencial entre os esportes praticados no País. Compreendemos, no contexto histórico brasileiro, que o Fu- tebol foi importante para várias mudanças políticas, econômicas, sociológicas e antropológicas no Brasil, desenvolvendo um laço de identidade arraigado sobre ele. Hoje, o Futebol está presente de 148 • pedagogia dos esportes Norte ao Sul e é um fenômeno de massas, uma verdadeira “paixão nacional” que une classes e etnias hierarquicamenteseparadas des- de os tempos da colonização. Com isso, foi possível levar esta pro- blematização/reflexão aos alunos, pois geralmente isso não é visto em outros espaços, já que é um conhecimento que necessita de pes- quisas aprofundadas e assim, instigamos a curiosidade dos alunos a irem buscar mais conhecimento sobre os esportes e, especificamente, sobre o Futebol. Em conexão com os objetivos esteve presente, em nossa Pro- posta Pedagógica, a abordagem metodológica Critico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 50) na qual o esporte represen- ta “uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, gi- nástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal” e que aborda três perspectivas para reflexão pedagógica: diagnóstica, judicativa e teológica. 1- Diagnóstica porque remete à constatação e leitura dos dados da realidade. Esses dados carecem de interpretação, ou seja, de um julgamento sobre eles. Para interpretá-los, o sujeito pensante emite um juízo de valor que depende da perspectiva de classe de quem julga, porque os valores, nos contornos de uma sociedade capitalista, são de classe. 2- Judicativa, porque julga a partir de uma ética que repre- senta os interesses de determinada classe social. 3- Teleológica, porque determina um alvo onde se quer che- gar, busca uma direção. Essa direção, dependendo da pers- pectiva de classe de quem reflete, poderá ser conservadora ou transformadora dos dados da realidade diagnosticados e julgados (COLETIVO DE AUTORES, 2012, p. 27). Desse modo, utilizamos esses conceitos para guiar nosso pro- jeto e a escolha desta abordagem pedagógica contribuiu para que, nesta pesquisa, o Futebol fosse trabalhado numa perspectiva em que os alunos compreendessem esse esporte nos contextos sociais e his- tóricos e assim, contribuindo para sua formação. Neste aspecto, os conteúdos, parte integrante ao PPP e que dentro da perspectiva Crítico-Superadora, são construções do futebol no contexto escolar • 149 conhecimento humano que são recontextualizados dentro da reali- dade social, fizeram conexões aos objetivos dando significado den- tro do contexto social histórico do aluno, pois, nesta abordagem a seleção dos conteúdos de ensino tem que dá relevância ao contexto social e levar em consideração seus sentidos e significados fazendo assim, uma reflexão pedagógica e esta deve estar relacionada à expli- cação da realidade social revelando meios que ajudem ao entendi- mento dos determinantes da condição social do aluno (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Assim, nesta abordagem os conteúdos devem ser contem- porâneos, ou seja, a seleção deve proporcionar o aluno o acesso ao conhecimento do que mais moderno existe, todavia, sem negar o conhecimento clássico. O conteúdo deve também ser adequado ao nível sócio-cognoscitivo do aluno. “Há de se ter, no momento da se- leção, competência para adequar o conteúdo à capacidade cognitiva e à prática social do aluno, ao seu próprio conhecimento e às suas possibilidades enquanto sujeito histórico” (COLETIVO DE AUTO- RES, 1992, p. 20). O conteúdo deve ser ensinado de modo simultâneo dentro da realidade do aluno, esse tipo de modalidade rivaliza com o tra- dicional meio de passar o conteúdo denominado etapismo, em que os conteúdos são classificados e separados por séries, passando um conhecimento fragmentado, dificultando o entendimento do todo e suas interações. “Esse tratamento, a forma de apresentá-lo, dificulta o desenvolvimento da visão de totalidade do aluno na medida em que trata os conteúdos de forma isolada, desenvolvendo uma visão fragmentada da realidade” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 21). Relacionado com o princípio da simultaneidade em que con- teúdo deve ser apresentado em sua totalidade garantindo ao aluno uma visão mais integral da realidade, está o da provisoriedade do conhecimento que é a ampliação da referência do pensamento do aluno, ou seja, por meio da sistematização do conhecimento, exter- minando assim, com a ideia da terminalidade, a partir da qual é de suma importância apresentar o conteúdo ao educando de forma que conecte à historicidade para que o mesmo se perceba enquanto su- jeito histórico. Permitindo ao aluno compreender como o conheci- mento foi constituído no decorrer da história pelo homem e o seu papel histórico nesse processo de produção. 150 • pedagogia dos esportes Os conteúdos abordados foram: História do Futebol, Relação da mídia com o Futebol, práticas e fundamentos do Futebol. Estes foram ensinados baseados nesta abordagem (Crítico-Superadora) em que o humano é componente fundamental no processo histórico diretamen- te ou por aquisição de gerações anteriores. Por isso, fez necessário que os alunos conhecessem a construção histórica da origem da modali- dade, de um esporte de elite, fazendo com que os alunos entendessem como funcionava a modalidade dentro da grande máquina capitalista, notando também, como o Esporte foi usado como meio de controle social e como um esporte de classe de elite se popularizou em classes mais pobres e mesmo com as contradições socioeconômicas existentes no Brasil, tudo isso passa inexistir na hora do gol. Por isto, foi importante entender o discurso midiático em re- lação ao Futebol, dentro do entendimento da concepção de luta de classe e do sistema vigente – “capitalismo”. Com isto, trazemos um olhar crítico-reflexivo aos alunos de como a mídia exerce grande in- fluência sobre o Futebol e que essa relação é recíproca, como tam- bém constrói heróis e vilões exaltando feitos, direcionando opiniões e dando upgrade no mercado da bola, principal responsável por tor- nar o Futebol em mercadoria e espetáculo. Por fim, mas, não de forma isolada e sim, conectada aos ob- jetivos, conteúdos, método e a avaliação. Constituiu-se também, em um processo preponderante no ensino e aprendizagem, pois foram os métodos avaliativos empregados que determinaram o grau de en- tendimento e absorção do conteúdo por parte dos alunos. Existem diversas formas de avaliar o desenvolvimento dos estudantes, que podem ser desde exercícios em classe, de forma individual ou em grupo, seminários e provas. Podemos, então, definir a avaliação escolar como um compo- nente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a corres- pondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas se- guintes (LIBÂNEO, 1990, p. 192). Sendo assim, a avaliação foi necessária para que nós futuros professores pudéssemos ter as dimensões daquilo que estava sendo futebol no contexto escolar • 151 feito e a partir daí, ter uma base sólida para poder prosseguir em direção às metas. Há diversas formas de avaliação e a mais utilizada na maio- ria das escolas e universidades, são as provas, pois, estas são mais diretas e incisivas para saber se o conteúdo foi apreendido e fixado na memória dos estudantes. Este tipo de avaliação é o mais tradi- cional e no Brasil sempre foi a maior referência, mas, nesta inter- venção ela constituiu-se em um processo contínuo e qualitativo, pois, compreendemos que ela é um processo complexo e delicado, no qual o professor tem que ter um profundo entendimento sobre os mecanismos a serem utilizados na hora de avaliar, todavia, é importante destacar que nem sempre os resultados são atingidos previamente, pois alguns fatores podem influenciar o aluno na hora da prova, por exemplo. Seguindo este raciocínio, é preciso que se- jam experimentados variados tipos de avaliações, não somente as tradicionais, pois, ter um leque de opções no meio deste processo é fundamental para obtenção dos resultados desejáveis. Assim, a avaliação na perspectiva Crítico-Superadora fez par- te de um processo importante e necessário para a observação do grau de aprendizagem. Avaliar não é apenas a aplicaçãode provas e testes, porém ao longo dos anos ela tem sido utilizada apenas como forma de seleção de alunos mais aptos. Na Educação Física em es- pecífico, a avaliação tem sido realizada com o intuito de selecionar “alunos atletas” para competições e jogos ou como mero cumpri- mento de burocracia institucional. As provas em Educação Física são realizadas observando a aptidão física ou aquisição de habilidades motoras. Todo esse processo de seleção gera rótulos que tendem a colocar como desenvolvidos aqueles que conseguem ter um grau de habilidades alto em determinado esporte ou prática, por sua vez gera o desinteresse por parte daqueles menos habilidosos nas atividades desenvolvidas. A ênfase na busca do talento esportivo e no aprimoramento da aptidão física vem condicionando, em parte, a aula e o processo avaliativo, transformando a educação física escolar numa atividade desestimulante, segregadora e até aterrori- zante, principalmente para os alunos considerados menos 152 • pedagogia dos esportes capazes ou não aptos, ou que não estejam decididos pelo ren- dimento esportivo (COLETIVO DE AUTORES, 2009. p. 97). Segundo a perspectiva Crítico-Superadora, a avaliação teria que passar por uma transformação na qual houvesse uma mudança das suas formas rígidas e burocráticas para uma outra na qual o sa- ber e as capacidades dos alunos fossem utilizados para a identifica- ção e solução de conflitos, sejam pessoais ou coletivos. Este tipo de avaliação na qual os alunos são mais autônomos e participantes no processo, faz com que haja a identificação de eventuais problemas relacionados às práticas educativas e que sejam mobilizados recursos para a superação dos mesmos. Foi nesta perspectiva avaliativa que partimos para imersão no ambiente escolar, entendendo todo processo de ensino-aprendiza- gem, a realidade da escola pública e dos alunos, do contexto da Edu- cação Física e suas contradições e pensando no aluno como um ator social capaz de mudar sua realidade. AnÁlISE DA ExPERIêncIA PEDAGóGIcA Pedagogia dos Esportes I e II são disciplinas obrigatórias do curso de Educação Física – Licenciatura da Universidade Federal de Sergipe (UFS) ministradas no quarto e quinto períodos, respec- tivamente. Dentre os objetivos a serem trabalhados durante os dois semestres, a meta principal foi a construção de um projeto em gru- po que teve por finalidade a elaboração de um PPP. Durante todo o tempo houve aulas de suporte para a elaboração deste trabalho acadêmico, cuja divisão se deu através dos Esportes: Futebol, Vôlei, Basquete, Futsal, Handebol e Badminton, no primeiro semestre da disciplina os graduandos deveriam ministrar aulas com um desses temas, numa escola pública de Sergipe. Entretanto, antes de nos direcionarmos às escolas para aplica- ção das aulas, fizemos aulas testes, pois durante um mês aplicamos as aulas entre os colegas da turma, sendo que cada grupo aplicava o Esporte ao qual ficou responsável. Após os testes nos reunimos em sala e fizemos um apanhado geral sobre as aplicações, no qual futebol no contexto escolar • 153 debatemos, como também, foram dadas sugestões para melhorar as atividades. Assim, após esta fase, partindo dos testes na UFS fomos à escola para aplicação das cinco aulas. O nosso grupo ficou responsável pelo Futebol e seus funda- mentos básicos e a proposta teve por objetivo a elaboração de ativi- dades teórico-práticas as quais pudessem discorrer sobre aspectos importantes deste Esporte na Educação Física escolar, sabendo que enquanto unidade temática sua utilização nos colégios serve como meio de apropriação dos conteúdos históricos e socioculturais, além da parte específica deste. A escola a qual ocorreu a intervenção foi o Colégio Estadual Professora Neide Mesquita, situada no bairro Rosa Elze em São Cristóvão/SE. Conta com um total de 375 alunos, divi- didos em 151 no ensino fundamental menor e 224 no fundamental maior. Fomos bem recepcionados desde a Coordenação até o Profes- sor, pois nos deram a confiança e o aval necessários para a realização das tarefas e a partir daí, nos dirigimos a turma do oitavo ano “A”, cuja faixa etária varia entre 12 a 14 anos com algumas exceções. Os alunos nos receberam muito bem e isso nos motivou ain- da mais. Ao chegarmos ao local para realizar a primeira aula, no- tamos que o espaço utilizado era uma adaptação feita num espaço livre anexo à escola que é descoberto, com piso de concreto irregular, acessível apenas por um portão. Apesar desse pequeno empecilho, o espaço não comprometeu a realização das atividades propostas, pois, nos atentamos também a esse detalhe e sugerimos atividades que pudessem “perfeitamente” serem realizadas ali. Na primeira aula, chegamos à escola em cima do horário da aula o que nos deixou um pouco eufóricos. O Professor nos levou até à turma para conhecermos os alunos, nos apresentamos e explica- mos o que iria acontecer na aula e pedimos a colaboração deles. Per- cebemos que estavam motivados para participar e assim o fizeram. Nosso grupo tinha como objetivo para essa primeira aula um apanhado geral sobre os fundamentos do Futebol. Assim, realiza- mos no primeiro momento com os alunos reunidos, apontamos os seis fundamentos escolhidos para aula (chute, passe, condução, re- cepção, drible/finta, cabeceio). Os alunos foram receptivos a estes ensinamentos, demonstrando assim, um conhecimento prévio sobre Futebol que tem relação direta com a cultura do nosso país, neste 154 • pedagogia dos esportes caso a monocultura do Futebol, modalidade esta, que está na pre- ferência dos brasileiros, pois este tornou-se algo tão grandioso que chega a ultrapassar os limites do próprio esporte, se tornando grande potência pelo fator econômico e apelo nos meios de comunicação. Percebendo-se que no Brasil o Futebol é um esporte majori- tário, num contexto de Copa do Mundo, a força desse apelo fazia com que textos abordando negócios do Futebol, naque- le período, fossem encontrados na editoria de esporte, em cadernos especiais sobre o Mundial de Futebol, mas também em economia, política, tecnologia, cultura, turismo e outras áreas dos veículos em análise (CAMPOS, 2016, p. 44). Desta maneira ficou evidente porque os alunos já tinham cer- to entendimento sobre os fundamentos citados anteriormente, pois este tipo de conteúdo circula naturalmente num País como o nosso e é algo que está arraigado na nossa sociedade, em nossa cultura, muito em função da mídia esportiva e espetacularização. Em um determinado momento separamos a turma em dois grupos, nos quais tivemos que fazer uma mistura de meninos com meninas, pois, eles não queriam interagir. Sentimos a necessidade da interação, pois esse fator nos pareceu uma questão social que não se deve ocorrer em um ambiente para o aprendizado. Ferraz (2002) explica esse fator como a forma que se manifesta os alunos, social e culturalmente, sendo assim, a identidade sexual dos indivíduos. Esse fator também é constitutivo das relações fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, fornecendo uma maneira de compreensão das complexas formas de interação humana. Após esse entendimento, os alunos se mostraram muito par- ticipativos e entenderam as atividades rapidamente o que facilitou o decorrer da aula, e ao final, os alunos reconheceram todos os seis fundamentos e toda turma mostrou satisfação com o trabalho dos grupos. Na parte final da aula permitimos que eles jogassem o Fute- bol com o conhecimento sobre o jogo que eles já tinham, o jogo foi rápido, pois era o último horário da aula e os alunos foram logo para suas casas, porém conseguimos vislumbrar o breve conhecimento que a turma tinha sobre o Esporte. futebol no contexto escolar • 155 Podemos dizer que para uma primeira aula os resultados fo- ram satisfatórios, pois mesmo com alguns empecilhos e nervosismo nosso em ensinar, podemos perceber o aprendizado dos alunos e o envolvimento deles em todos os momentos da aula, além do mais,o esporte é repleto de significados e por isso, devemos analisar seus aspectos fundamentais para que este sirva de instrumento de apren- dizado, ou seja, um esporte da escola e não um esporte na escola, como cita o Coletivo de Autores: O esporte como prática social que institucionaliza temas lú- dicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão comple- xa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser ana- lisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte da escola e não como o esporte “na” escola (COLE- TIVO DE AUTORES, 1992, p. 70). Desta forma, o aluno deve entender e ter consciência que o Esporte Moderno é um jogo institucionalizado com suas regras e normas e que este move milhões de pessoas, sendo altamente com- petitivo, servindo como espetáculo e profissionalizado ao máximo, mas que enquanto conteúdo deve refletir esses contextos. Em muitos países é tão forte que apesar das diferenças culturais, econômicas, étnicas/raciais, pessoas muito diferentes podem se misturar e de re- pente num momento lúdico, seja um gol, um drible bonito ou uma grande jogada esses aspectos são esquecidos. Na segunda aula, chegamos à escola e os alunos estavam em horário de intervalo, ficamos postos para começar a aula, pois nesse dia iriam ocorrer duas aulas seguidas e precisaríamos estar prepa- rados, pois o horário era corrido. Na primeira aula do dia, foram trabalhados os fundamentos passe e chute em que o objetivo era es- timular uma maior consistência nessas habilidades. No decorrer da aula vários tipos de chutes e passes foram executados, favorecendo assim, uma ampla possibilidade de prática dos alunos. Outro aspecto relevante foi o tempo de execução, pois por mais que alguns alunos evoluíssem, tinha outros que apresentaram dificuldades em executar os movimentos e dessa forma foi respeitado o tempo de cada aluno: 156 • pedagogia dos esportes “o esporte precisa ser questionado em suas normas, suas condições de adaptação à realidade social e cultural que o pratica, cria e recria” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 71). Durante toda aula relacionamos aspectos motores e cogniti- vos. Fizemos com que os alunos se estimulassem para executar os movimentos de forma adequada e passar para as atividades cogni- tivas, como um quebra cabeça executado no final de cada acerto em uma atividade. Com o auxílio do quebra cabeça formado com a imagem de jogadores envolvidos em momentos de racismo como: Arthur Friedenreich, jogador que atuava no Estado de São Paulo e alisava os cabelos para negar suas raízes africanas. O outro quebra cabeça era com o jogador Carlos Alberto do fluminense que prota- gonizou o episódio que ficou conhecido como “pó de arroz” (em que não era permitido negros jogarem nos clubes e ele precisou jogar pó de arroz no corpo para esconder sua cor). Assim, pudemos discutir aspectos como o racismo no Futebol e percebemos uma grande par- ticipação dos alunos sobre este assunto, ao qual eles faziam pergun- tas sobre os negros no Futebol e apresentavam suas opiniões sobre o racismo que existe nos dias atuais dentro do jogo. Na terceira aula, no último horário do dia, o objetivo dessa aula foi proporcionar maior consistência nos fundamentos condu- ção e drible associando juntamente à prática com o contexto his- tórico, conforme o objetivo da aula. De acordo com a metodologia proposta, segundo o Coletivo de Autores (1992) o ensino do Futebol dado na escola deve englobar alguns aspectos, entre eles seu contex- to histórico e suas multifaces, assim iniciamos com os fundamentos e depois uma reflexão sobre a origem e ascensão do Futebol. Após as atividades “práticas”, convidamos os alunos a reu- nirem-se numa roda de conversa e foi explicado a história do sur- gimento do Futebol na burguesia inglesa e sua chegada no Brasil e ainda, mostrando os dois precursores do esporte no nosso país, sua popularização nas classes menos favorecidas e sua influência na identidade nacional do povo brasileiro, e como citado por Pires (1998) sobre o processo de apropriação do esporte moderno e o seu poder de ideologização. Com isso, pelo que foi planejado, vimos que tanto os fundamentos quanto à história do Futebol, foram assi- miladas pelos alunos já que a participação e cooperação deles e do futebol no contexto escolar • 157 Professor de Educação Física foram significativos e cooperativos com a aula e na roda de conversa. Na quarta aula o objetivo foi dar ênfase aos fundamentos ca- beceio, recepção e a relação da mídia com o Futebol. Os dois primei- ros momentos da aula foram direcionados para os fundamentos e junto com essas atividades nós acrescentamos a resolução de proble- mas relacionados com o tema Futebol. A resolução de problemas foi através do jogo de caça palavras e de palavras cruzadas nos quais as respostas eram sobre as regras e fundamentos da modalidade. Para validar o nosso objetivo de intervenção seguimos a abor- dagem escolhida e demos continuidade ao plano de aula ao temati- zar a relação do Futebol com a mídia na escola, pois o contato que a maioria das pessoas tem (principalmente os alunos) é através da mídia e, portanto, suscetível ao bombardeio ideológico desses meios de comunicação. Foram inspiradores os textos de Betti (2001), Pires (1998) en- tre outros sobre o processo de apropriação social do esporte e que a espetacularização pode se associar também ao processo de mercado- rização do Futebol, tudo isso sobre a influência da mídia e seu poder sobre o esporte. Então, para revelar esta faceta da mídia aos alunos criamos um Quiz com perguntas sobre o Futebol e levamos a refle- xão de como conseguimos/adquirimos essas informações, demons- tramos assim o “poder” e a relação existente entre mídia e o Futebol e como muitas das vezes, as informações e notícias são manipuladas para controle da massa. Mas também, que essa relação não é apenas nociva, tendo, também, seus lados positivos. Na quinta aula frisamos o jogo de “Futebol”, pois o objetivo era propor a vivência e/ou experiência do jogo (ressaltando-se que a toda aula a perspectiva do jogo estava presente, mas, para esta aula era o tema central). Assim, separamos as equipes, passamos as regras básicas da atividade e demos prosseguimento a ela. Os alunos esta- vam participando até de forma muito veemente, pois a turma estava mais enxuta porque muitos faltaram nesse dia e assim o espaço, em- bora adaptado, pareceu maior do que realmente é. Durante as atividades houve diversas situações interessantes como podemos citar a participação de um de nós (do grupo Futebol) em um dos times no qual se direcionou ao gol de uma das equipes 158 • pedagogia dos esportes para igualar o número de participantes. O jogo começou mais restri- to com algumas regras criadas por nós discentes. Estas regras cria- das serviram para dar aos alunos um pouco mais de “igualdade” e participação, pois na turma se encontravam meninos e meninas de diversos níveis de habilidades. Assim ficou acordado que: somente as meninas poderiam chutar e fazer os gols; a bola teria que passar por todos antes de ser chutada entre outras. No fim, o jogo ficou livre, ou seja, retiramos as regras às quais tínhamos posto anteriormente, daí em diante as regras aplicadas foram basicamente as oficiais, porém por se tratar de um espaço na escola e não de um campo de Futebol adequado, houve adaptações de regras como por exemplo o lateral não era cobrado como de fato seria de forma oficial perpassando a bola por trás da cabeça. As regras mais aplicadas foram as básicas como faltas, toque de mão, escanteio e lateral. Retirando as regras criadas de início, pudemos notar ainda mais forte o lado lúdico, bastante acentuado naquele dia. Após o término das aulas nas escolas tivemos uma pequena discussão sobre a vivência da disciplina, para nós estava cada vez mais claro qual era nosso papeldentro da escola, pois cada dia está- vamos adquirindo novos conhecimentos e podendo relacionar o que tínhamos estudado durante toda a disciplina. No segundo período em que a disciplina foi ministrada, ou seja, em Pedagogia dos Esportes II, a dinâmica da disciplina aconte- ceu de maneira diferente do período anterior. Assim, foi apresentada outra proposta para o ensino do esporte. Para essas aulas o objetivo era o ensino dos fundamentos na prática e assim, exigia-se um co- nhecimento prévio dos alunos sobre cada modalidade apresentada. Desse modo, observamos que essas aulas visavam o Fundamento-jo- go, ao qual se faz necessário o conhecimento dos fundamentos bá- sicos para a sua prática, como também o conhecimento mínimo das regras e possíveis estratégias de jogo. Para tanto, vimos que é possível desenvolver aulas em que os alunos vivenciem o aprendizado da téc- nica dos fundamentos da modalidade, sem com isso incorrer numa apologia à técnica, mas, ela sendo um meio facilitador para o apren- dizado do movimento corporal que se estrutura nos fundamentos básicos de cada esporte apresentado. Assim, foi possível perceber, a partir dessas aulas práticas, como se articula a relação Fundamento-jogo em que este segue uma futebol no contexto escolar • 159 sequência dos fundamentos básicos de uma modalidade (no caso específico, o Futebol) e a materialização desses, no jogo. Aqui, fi- cou evidente que o ensino dos fundamentos básicos foram pensados e aplicados de maneira gradual e atentando para sua conceituação técnica, mas, respeitando a heterogeneidade dos alunos com graus de habilidades muito distintos uns dos outros. Portanto, nesta pers- pectiva o olhar do Professor volta-se para perceber como aqueles fundamentos apreendidos durante a aula estão se manifestando no jogo, por isso, há sempre uma intervenção do Professor para mediar a resolução dos conflitos que aparecem. Esta perspectiva que propõe o ensino dos fundamentos bá- sicos (sem negar sua técnica e também sem apologia a ela), das re- gras básicas (para funcionalidade do jogo, mas, que também podem ser redefinidas para outra realidade), da história da modalidade (em que são problematizados o contexto socioeconômico, os valo- res éticos que aparecem no esporte, na vida, no jogo entre outros) são abordagens formativas que alunos levarão consigo para a vida. Quando as aulas de Educação Física trazem uma visão diferente do habitual, quebra com o conceito existente e se elaboram novos conceitos com muito mais aproximação com a realidade que con- tribuem no desenvolvimento dos alunos e na formação não só dos alunos, mas, de professores, enfim, de todos. Com isso, percebemos como a seleção dos conteúdos podem contribuir na aprendizagem do aluno, já que: Todas as aprendizagens que os alunos devem alcançar para progredir nas direções que marcam os fins da educação numa etapa da escolarização, em qualquer área ou fora delas, e para tal é necessário estimular comportamentos, adquirir valores, atitudes e habilidades de pensamento, além de co- nhecimentos (SACRISTÁN, 1998, p. 150). Por fim, percebemos que esta construção realizada no âmbi- to da Disciplina Pedagogia dos Esporte, fez com que refletíssemos sobre nossas práticas docentes atuais e futuras. À medida em que a disciplina foi se completando fomos também, evoluindo progressi- vamente proporcionando assim, um entendimento maior de como trabalhar em sala com os esportes de maneira não mecânica em que 160 • pedagogia dos esportes o Professor implica diretamente na formação do sujeito. Vale desta- car que uma característica marcante do esporte que é a competição, permaneceu, mas, os conteúdos tiveram uma sistematização que di- ferem do padrão existente, trazendo uma nova compreensão para o ensino do esporte na escola, não para buscar talentos, mas, como meio para desenvolver um sujeito autônomo, crítico e reflexivo. As Fotos de 1 a 4 mostram momentos de ação e reflexão dos alunos e professores no processo de construção das aulas na escola em que a participação coletiva foi posta em pauta. Foto 1 Fonte: O Autor Foto 2 Fonte: O Autor Foto 3 Fonte: O Autor Foto 4 Fonte: O Autor cOnSIDERAÇÕES FInAIS O projeto em destaque ocorreu durante dois períodos do cur- so de Educação Física Licenciatura da UFS, durante as disciplinas Pedagogia dos Esportes I e II. Assim, foi uma elaboração realizada futebol no contexto escolar • 161 baseada nos aspectos educacionais e suas metas, pois toda institui- ção que sabe aonde quer chegar planeja suas ações em busca de um fim a ser alcançado e o PPP foi a “peça” fundamental neste cami- nho. Nosso enfoque foi o Futebol, tema gerador e multifacetado no contexto brasileiro, seus aspectos mais relevantes, sua compreensão do ponto de vista social, histórico, na formação do ser, seja no de- senvolvimento de habilidades motoras ou na apreensão de aspectos históricos, fazendo com que os alunos percebam que por trás do fa- zer (prática) há todo um apanhado histórico de evolução. Ainda, foi tratado (reflexão crítica) acerca da supervalorização do Futebol pela mídia, a construção de marcas registradas, a criação de ídolos. Fomos embasados conceitualmente, pela concepção de Edu- cação Física Crítico-Superadora do Coletivo de Autores (1992). Essa abordagem abrangeu as relações de autonomia crítica, indivíduo e meio. É importante destacar que houve todo um processo de concei- tuação do esporte moderno e o seu surgimento, para que fosse possí- vel entender os motivos das suas características. Foi explicitado como se constroem os conteúdos de ensino levando em consideração um contexto que engloba alunos, disciplinas e o conhecimento a ser trans- mitido, além do funcionamento da avaliação, tanto nos aspectos tra- dicionais como na visão Crítico-Superadora que aqui, trouxemos um recorte, uma vez que esta discussão está presente no capítulo I. Após esta fase de apropriação conceitual, vivenciamos a prá- tica da modalidade enquanto alunos, mas, com o intuito de pensar a prática docente. Isto foi importante quando realizamos/aplicamos nossa primeira aula na UFS com os alunos da turma que serviu como tema gerador e proporcionou uma roda de conversa em que os demais alunos da Disciplina puderam opinar, criticar, sugerir o que foi decisivo para pensarmos o passo seguinte: nossa intervenção na escola Neide Mesquita em São Cristóvão/SE. Durante nossas aplicações na escola tivemos a oportunidade de vivenciar o nosso primeiro contato com uma turma de adolescen- tes. Esse fator nos deixou empolgados e ao mesmo tempo com receio do que aconteceria, porém tivemos uma grande satisfação ao ver que o Professor de Educação Física da escola já trabalhava a disciplina com base na nossa metodologia apontada nesse trabalho o que facili- tou nossa aplicação das aulas durante todo tempo em que estivemos 162 • pedagogia dos esportes na escola. Outro fator relevante para nossa aceitação por parte dos alunos foi o conteúdo trabalhado, pois, como visto nesse trabalho, o Futebol tem um papel fundamental na identidade do brasileiro e isso não foi diferente na sala de aula. Assim, a relação de teoria e prática nos fez perceber a impor- tância de estarmos presente em sala de aula, pois, a cada elaboração dos planos o grupo pensava o que seria possível ou não na escola já que a estrutura da escola e as condições sociais dos alunos nos direcio- navam durante toda preparação dos conteúdos que seriam aplicados nas aulas. Com isso, estar em campo nos tornou mais conscientes e nos mostrou que mesmo depois de formados precisaremos continuar estudando para nos adequar às realidades existentes nas escolas. Metodologicamente a disciplina Pedagogia dos Esportes pos- sibilitou pensar, refletir, pensar de novo, refazer (uma práxis constan- te) tanto os conceitos discutidos em sala de aula, quanto na proposta pedagógica para o ambiente escolar e como esses conceitos se inter- cruzam. Assim, não foram desconsiderados os aspectostécnicos de cada modalidade em que foram vivenciados com os seus conceitos, regras e fundamentos, mas, pensando também, no ambiente escolar fazendo sempre uma adaptação para que todos pudessem participar da melhor maneira possível. Por fim, consideramos que esse trabalho teve um papel im- portante na formação tanto profissional quanto pessoal para todo o grupo, pois, durante o processo de construção tivemos conflitos que não nos atrapalharam em nosso crescimento profissional e na construção do trabalho e sim, nos fortaleceram para entendermos que, mesmo com problemas, devemos oferecer o melhor que temos para que as aulas sejam construtivas e proveitosas para os alunos e professores. REFERêncIAS ALBUQUERQUE, J.; SILVA, K. Formação Superior Tecnológica Em Gestão De Turismo: Um Estudo na Rede Federal de Educação em Pernambuco e Sergipe. Espaço e Tempo Midiáticos, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 42-58, jan. 2017. ISSN 2526-5725. Disponível em: <https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/ index.php/midiaticos/article/view/3007>. Acesso em: 18 fev. 2018. futebol no contexto escolar • 163 BARBIERI, A.; PORELLI, A. B.; MELLO, R. A. Abordagens, concepções e perspectivas de Educação física quanto à Metodologia de Ensino nos tra- balhos publicados na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (Rbce) em 2009. Motrivivência, v. 20, n. 31, p. 223-240, 2010. BETTI, M. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, Florianó- polis, v. 12, n. 17, p. 107-111, set., 2001. BRACHT, V. Sociologia Critica do Esporte: uma introdução. Vitória: UFES, 1997. CAMPOS. A. G. Quanto mais megaevento menos esporte: o Brasil e a década de ouro dos megaeventos esportivos. Disponível em: <www.seer. ufs.br>. Acesso em 02 mar. 2018. COLETIVO DE AUTORES. A metodologia do ensino de Educação Físi- ca. São Paulo: Cortez, 1992. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL. Regras de Futebol (2017/18). Disponível em: <https://www.cbf.com.br/arbitragem/regras>. Acesso em 17 dez. 2017. DARIDO, S. C. Diferentes concepções sobre o papel da Educação Físi- ca na escola. Universidade Estadual Paulista. Pró-Reitoria de Graduação. 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Metodologia do Ensino de Educação Física. ed 2. São Paulo: Cortez, 2012. • 165 PEDAGOGIA DOS ESPORTES: UMA PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O HAnDEbOl Rodrigo de Souza Santos Sérgio Dorenski InTRODUÇÃO O presente trabalho representa uma construção contínua que fez parte do processo da disciplina Pedagogia dos Esportes na Universidade Federal de Sergipe. Ele tem como objetivo principal a elaboração de uma proposta pedagógica para o esporte (Hande- bol). Pensando não somente a modalidade prática de desempenho e de competição, forma hegemônica nas escolas, e sim, em todo o seu campo de extensão, como forma de interação social, trabalho em equipe, construção de valores, regras e códigos proporcionados pela prática esportiva. Discutimos também, nesta Proposta, uma relação entre esporte e mídia. Apesar de no Brasil o fenômeno esportivo do Handebol não ser tão forte quanto outros esportes do ponto de vista midiático, faz-se necessário que os nossos alunos tenham consciência de que ele tam- bém perpassa pelo processo de espetacularização, adotando lingua- gem visual da televisão para que sua mensagem publicitária seja mais forte (PIRES, 1998). Sendo assim, se torna imprescindível uma abor- dagem mais específica desse fenômeno nas escolas, principalmente no estado de Sergipe em que, historicamente, o Handebol teve um grande acolhimento nas instituições públicas e particulares de ensino. A importância desse trabalho aparece fortemente a partir do momento em que pensamos o esporte como um processo que 166 • pedagogia dos esportes implique uma ação para o desenvolvimento de um aluno crítico e questionador. Enfim, quando lidamos com o aspecto formativo do esporte – deixando para trás o modelo convencional que é fruto de uma prática institucionalizada em que sua principal característica é a ênfase na competição, premiando a vitória em detrimento da derrota encontramos possibilidades de superação de modelo. Assim, dentro das diversas modalidades esportivas, utiliza- mos o Handebol para construção de uma proposta pedagógica para inserção no ambiente escolar. Esta escolha não foi à toa, mas, sim- boliza, principalmente no estado de Sergipe, uma relação muito pró- xima entre esporte e sociedade, pois, o Handebol em Sergipe possui algumas particularidades que sucinta reflexões importantes como ter instalado em seu território a sede da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), vários atletas sergipanos que participaram da seleção brasileira e disputaram campeonatos mundiais, olimpíadas entre outros. Além disso, o estado de Sergipe sempre foi destaque nacionalmente nas competições. Não pretendemos seguir este caminho que um dia o Handebol em Sergipe trilhou, mas, esses fatos ajudam-nos a buscar reflexões no sentido de estabelecer uma proposta objetivando formar um sujeito crítico e consciente que consiga identificar o significado do esporte na sua vida. Desta forma, elaboramos uma proposta pedagógica para embasar a nossa ação na escola e a seguir apresentaremos a análise da experiência. PROPOSTA PEDAGóGIcA PARA O HAnDEbOl A proposta pedagógica para o ensino do Handebol possui como pressuposto metodológico a abordagem Crítico-Superadora (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Esta escolha representa não só uma questão didática-metodológica-conceitual, mas, sobretudo, re- presenta uma visão de mundo em que a Educação Física trata com temas da cultura corporal que envolvem o jogo, a dança, a ginástica, as lutas e o esporte. Estes, portanto, são conteúdos que se manifes- tam, principalmente, no ambiente escolar. Com isso, “a metodologia aqui entendida como uma das formas de apreensão do conhecimento pedagogia dos esportes • 167 específico da Educação Física, tratado a partir de uma visão de tota- lidade [...]” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 20). Neste aspecto, o esporte dentro desta concepção deve ser um temaque possa, na prática social, provocar a reflexão crítica e sua apreensão (especificidades, modalidades, história, gestos, regras) pelos alunos, enfim, o esporte deve ser tratado pedagogicamente e sua relevância social possa auxiliar o aluno a ler a sua realidade, sua escola, a entender também o mundo. Foi nesta perspectiva que pensamos o Handebol como pos- sibilidade de ensino no âmbito escolar, cujo objetivo geral de nossa proposta foi “tematizar o Handebol como uma prática para refle- xão que envolve códigos, sentidos e significados de quem o prati- ca” (grifo nosso). Para Libâneo (1990) o objetivo geral é o ponto de partida para o processo pedagógico. Representa as exigências da so- ciedade em relação à escola, ao ensino, e aos alunos, além de refletir as opções políticas e pedagógicas dos agentes educativos em face das contradições sociais existentes na sociedade. Desta maneira, buscamos uma ruptura de paradigmas e for- mação de um sujeito crítico, que após o processo tenha o mínimo de evolução para uma mudança de pensamento e que tenha um pouco mais de autonomia para se posicionar em meio a inquietações que venham a ocorrer no seu cotidiano. Pois, é o nosso papel mostrar aos alunos que o esporte não é somente constituído de técnicas de execução. Existe por trás dele todo um processo de construção do jogo, regras, fundamentos e história. Sendo assim, buscamos ensinar todos esses conteúdos fazendo com que os alunos alcancem um sig- nificado para a vida deles, dando sentido aquilo que eles vão execu- tar nas aulas de Educação Física. No tocante aos objetivos específicos a ideia foi conectá-lo ao objetivo geral e as expectativas da proposta de ensino. De acordo com Libâneo (1990) os objetivos específicos particularizam a relação das compreensões entre escola e sociedade, especialmente do papel da matéria de ensino. Eles expressam as expectativas do professor so- bre o que ele deseja obter dos alunos no decorrer do processo de en- sino. Têm sempre um caráter pedagógico, porque vão ditar o rumo que o professor quer seguir durante todo o processo de ensino. Dessa forma, optamos por inicialmente apresentar aos alu- nos o contexto histórico do Handebol para que eles consigam 168 • pedagogia dos esportes compreender o esporte de uma maneira diferente, não apenas o que é transmitido pelas mídias, que se resume a vitória, derrota ou rendimento. Após isso, tratamos da questão de possíveis estereóti- pos da modalidade como o preconceito com relação às mulheres nesse esporte (MESQUITA e SILVA, 2014). Estimulando os alunos a quebrarem todos esses mitos impostos culturalmente. Posterior- mente, explanamos a importância da ampla participação de todos na prática do Handebol, mostrando que mesmo sem uma aptidão para tal é possível a sua inserção no jogo, além da forma como a mídia exerce a sua influência sobre o devido assunto. Após ser ex- postos aos alunos as questões culturais do Esporte, apresentamos os fundamentos básicos, como: passe, recepção, drible e arremesso. Também, apresentamos as regras para uma melhor familiarização deles com o Handebol, possibilitando uma futura prática da mo- dalidade entre eles, de uma forma que os alunos entendam as fun- cionalidades dessas regras e fundamentos, além do questionamento crítico sobre elas. Estes objetivos entraram em sintonia com os conteúdos numa assimetria entre objetivo-conteúdo-método de forma indissociável e garantido a assimilação de suas especificidades, mas, também, seu significado para formação humana, pois, estavam (os conteúdos) sendo pensados e tensionados a partir da realidade social viva e con- creta. Por isto, no processo pedagógico, foi necessária uma aproxi- mação com a escola e garantir, previamente, os conteúdos para este ciclo de aprendizagem. Conteúdos de ensino são os conjuntos de conhecimento, ha- bilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atua- ção social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, portanto: conceitos, ideias, fatos, processos, princípios, leis científicas, regras, habilidades cog- noscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudo, de trabalho e de convivência so- cial, valores, convicções e atitudes. São expressos nos progra- mas oficiais, nos livros didáticos, nos planos de ensino e de aula, nas atitudes e convicções do professor, nos exercícios, nos métodos e formas de organização do ensino (LIBÂNEO, 1990, p. 128). pedagogia dos esportes • 169 Desta maneira decidimos elencar conteúdos que expressas- sem a especificidade do planejamento (Handebol), como também, a partir da abordagem metodológica em questão, gerando conteúdos temáticos que foram importantes para a aprendizagem dos alunos e nossas reflexões. Os conteúdos de ensino escolhidos foram: Fun- damentos do Handebol, especificamente os tipos de passe, drible, arremesso. Aqui a reflexão foi no sentido que a técnica constitui-se um meio facilitador, mas, não seu fim e que podemos aprender tam- bém sem seu rigor; Regras do Handebol para tornarem os alunos aptos a realizarem uma partida de Handebol de uma maneira fluida e organizada, mas, principalmente, que as regras oficiais obedecem a uma instituição (esportiva) que regula, controla e dita como deve ser, mas, que na contramão, podemos criar nossas próprias regras mais condizentes com a nossa realidade; Sistemas ofensivos e defensi- vos, já que entendemos como algo essencial nos esportes de invasão. A temática gerou o pensar coletivo, o fazer coletivo, principalmente em um jogo de equipe em que uns depende dos outros, assim, afas- tamos o Eu e incluímos o Nós; História do Handebol; debate sobre o Esporte em geral e o Handebol que ajudou os alunos a entenderem o processo de ensino e apropriação do Esporte. Importante também, contextualizar sua evolução e como chegou ao Brasil e, em especial, em Sergipe que possui um diferencial em relação a outros Estados e também a outras modalidades. A cultura corporal está definida como temas ou formas de ati- vidades, particularmente corporais, nomeados: jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo. [...] O homem se apropria da cultura corporal dispondo sua inten- cionalidade para o lúdico, artístico, o agonístico, o estético ou outros, que serão representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social e que chamaremos de significações ob- jetivas (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62). Portanto, o que está posto é o entendimento da Educação Física por uma perspectiva crítica, promovendo a prática da teo- ria e teorizando a prática, utilizando a cultura corporal como área de conhecimento, buscando fazer com que os alunos contestem a realidade, enxerguem o real significado do Esporte e façam uma re- flexão acerca do papel pedagógico do mesmo. 170 • pedagogia dos esportes UM RElATO SObRE AS ExPERIêncIAS PEDAGóGIcAS cOM O HAnDEbOl As experiências com o Handebol enquanto tema gerador e problematizar, aconteceram respectivamente, no: Colégio Estadual Armindo Guaraná, localizado no Bairro Rosa Elze, São Cristóvão/ SE (2014), no entanto, devido a este Colégio não possuir uma qua- dra ou um espaço para a prática do Handebol, os alunos do 6º ano foram levados para o Ginásio de Esportes da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O procedimento para isso era, antecipadamente, dirigir-se ao Colégio, pegar os alunos e levá-los até a UFS e depois da aula, fazia-se o trajeto de volta. Como este Colégio fica ao lado da UFS foi possível a realização desta atividade; Colégio Estadual Ministro Petrônio Portela, localizado no Conjunto Augusto Franco, Bairro Farolândia, Aracaju/SE (2015); Colégio Estadual Professora Glorita Portugal, situado na rua 62, s/n, Conj. Eduardo Gomes, Bair- ro Rosa Elze, São Cristóvão/SE (2016). A primeira etapa constituiu-se de uma visita prévia aos Co- légios em que foi realizado um reconhecimentoda estrutura física, dos equipamentos, principalmente para aulas de Educação Física, espaço das aulas, número de professores, funcionários etc. Após esta fase voltou-se ao projeto político pedagógico (PPP) e foi realizado uma reorganização, principalmente quanto aos objetivos em sinto- nia com a realidade observada. A sequência pedagógica seguiu o planejamento em que, ini- cialmente, foi abordado os aspectos históricos do Esporte e do Han- debol e nas aulas seguintes, as especificidade do jogo no tocante à quadra e suas dimensões, fazendo com que os alunos se aproprias- sem da bola e do ambiente de jogo, os fundamentos básicos do Es- porte, a empunhadura e variações de passes do Handebol (o passe de ombro, o passe em pronação), o drible, o arremesso e seus tipos (suspensão, parado, giro e queda, queda para frente e rolamento) e a posição básica de defesa do Handebol para o jogo, realizando ativi- dades numa ordem progressiva de dificuldade (mais simples para o mais complexo). A cada aula acontecia um jogo cuja a finalidade envolvia os fundamentos apreendidos e também servia para observar as limita- ções individuais e em equipe o que gerava sempre uma discussão a pedagogia dos esportes • 171 partir dos conflitos existentes. Como também, alterava-se constante- mente as regras no intuito de promover a participação de todos. Este procedimento deu-se até o final do período de intervenção em que o jogo se caracterizasse mais próximo do que é jogado oficialmente, mas, também, a partir de outras construções referente à própria rea- lidade dos alunos da escola. Foto 1 – Aulas de Handebol realizadas no Ginásio do DEF/UFS Fonte: Os autores Foto 2 – Aulas de Handebol realizadas no Ginásio do DEF/UFS Fonte: Os autores Com isso, fica claro que a proposta metodológica ajudou a realizar as aulas com a junção da prática das especificidades do Han- debol com os debates nas rodas de conversas com os alunos o que gerou questionamentos acerca da história, da técnica dos fundamen- tos, do jogo entre outros e que supriu as dificuldades encontradas. Foto 3 – Aqui, na roda de conversa discutiam-se os conflitos e as possibilidades de superação Fonte: Os autores Outro aspecto importante foi da possibilidade em se trabalhar uma modalidade esportiva, sem negá-la, nem tampouco negar sua 172 • pedagogia dos esportes técnica, mas, sobretudo, envolvendo todos os alunos, sem exclusão. Assim, os acadêmicos, futuros professores, passaram por uma expe- riência formativa, na prática docente, que levarão para vida e para vida profissional. Isto esteve implicado ao planejamento, desde seu início, em consonância com a metodologia de ensino (Crítico-Supe- radora), visando também, a autonomia e a formação tanto de alunos da escola, quanto dos estudantes da UFS e, pensando na avaliação desse processo, o debate, o diálogo foram fatores essenciais para o processo de ensino-aprendizagem. Libâneo (1990) define a avaliação escolar como um componente do processo de ensino que visa, atra- vés da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação as atividades didáticas seguintes. cOnSIDERAÇÕES FInAIS O processo de construção desse trabalho foi de suma impor- tância para a formação acadêmica e rico em possibilidades e apren- dizados. Desde a elaboração do projeto até as fases de intervenção, constituiu-se em algo nunca feito antes pelos acadêmicos. Com isso, foi importante ver os objetivos serem alcançados como também, o processo metodológico em prática. O campo conceitual em que a disciplina Pedagogia dos Espor- tes esteve imersa, proporcionou tencionar nosso olhar para a elabo- ração de uma proposta para escola a partir de uma perspectiva crí- tica. Isso foi extremamente importante, pois, antes de lermos alguns artigos sobre o Handebol em geral, estávamos com dificuldade sobre como iniciar o projeto e planejar as aulas. Conseguimos colher infor- mações de uma forma mais confiável e clara a partir das literaturas disponibilizadas, como também, em sites na internet, o que nos dei- xou mais informados sobre o esporte na sociedade moderna, como de alguns aspectos da história do Handebol no mundo, no Brasil e em Sergipe. Uma dificuldade encontrada foi a disponibilidade de uma instituição escolar para a aplicação das aulas, com isso, acreditamos que a aproximação da Universidade com a Secretaria Estadual e pedagogia dos esportes • 173 Municipal de Educação seria interessante, pois assim, os laços esta- riam mais entrelaçados no processo de formação docente. Enfim, os gestores, secretários, administração em geral, precisam ter conheci- mento de que irão receber ao longo do ano letivo alguns professores em formação. Consideramos o trato pedagógico do Esporte como um con- teúdo essencial nas aulas de Educação Física e organizar uma pro- posta envolvendo uma determinada modalidade foi algo prazeroso e que nos identificamos bastante. Além disso, os alunos de modo geral (escola e Universidade) estão, em grande parte, devido ao poder do telespetáculo esportivo, condicionados a ver o Esporte somente pelo viés técnico. Conseguir fazer com que os alunos observem o outro lado do Esporte foi o nosso maior desafio como Professores. REFERêncIAS BETTI, M. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, Florianó- polis, v. 12, n. 17, p. 107-111, set., 2001. BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3.ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. ______. A criança que pratica esportes respeita a regra do jogo...capitalista, Revista Brasileira de ciências do esporte, São Paulo. v. 7, n, 2, p. 62-68, janeiro, 1986 COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo: Cortez, 1992. LIBÂNEO, J. Didática. São Paulo: Cortez. 1990. GRECO, P.; ROMERO, J. Manual de Handebol da iniciação ao alto nível. São Paulo: Phorte, 2012. MESQUITA, I.; SILVA, C. Representações de gênero no comando do han- debol brasileiro. Revista de Trabalhos Acadêmicos. Niterói, v. 2, n. 10, p. 1-10, 2014. Disponível em:<http://www.revista.universo.edu.br/index.ph p?journal=1reta2&page=article&op=viewArticle&path%5B%5D=1990>. Acesso em: 22 out. 2018. 174 • pedagogia dos esportes NASCIMENTO, R. Memórias da Evolução Histórica do Handebol em Ser- gipe/Aracaju, Atlas do Esporte em Sergipe, Aracaju, 2013. PEDAGOGIA do Handebol. Apresenta informações sobre procedimentos pedagógicos para o Handebol. Disponível em: <https://pedagogiadohande- bol.com.br>. Acesso em: 22 out. 2018. PIRES, G. Breve Introdução ao Estudo dos Processos de Apropriação Social do Esporte. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, 1998. PIRES, G. de L.; SILVEIRA, J. Esporte educacional... existe? Tarefa e com- promisso da Educação Física com o esporte na escola. In: SILVA, Mauricio Roberto (org.). Esporte, Educação, Estado e Sociedade. Chapecó: Argus, 2007. Regras Sports. Apresenta informações gerais sobre os esportes em geral. Disponível em: <https://sportsregras.com/fundamentos-handebol-histo- ria-regras/>. Acesso em: 22 out. 2018. • 175 FEcHAnDO OS POnTOS: Uma síntese das construções pedagógicas Sérgio Dorenski InTRODUÇÃO As experiências pedagógicas no trato com o esporte apre- sentados aqui nesta obra constituem-se em pequenos recortes que materializaram nossa imersão no ambiente escolar. Assim, o aspecto instigador é levar não só a discussão, mas, especialmente, o esporte e seu trato pedagógico no campo escolar. Muitas vezes somos provocados a ensinar o esporte, mas, es- sencialmente paira sobre nós a dúvida, a incerteza, o medo de en- frentar os obstáculos e principalmente, o desafio de optar, escolher e até propor abordagens metodológicas que situem o esporte e pro- voquem a reflexão, bem como, a formação daqueles que ensinam e dos que apreendem. Neste sentido, sem pensar numa receita, esta obra tencionou a relação universidade (enquanto um espaço profí- cuo para a elaboração e sistematizaçãodo conhecimento) e de forma indissociável, a escola (um espaço multifacetado, com todas as pro- blematizações da vida e do saber em pauta). É clássico a dicotomia esporte e escola no sentido de que o primeiro aliena, o qual está voltado para especialização, para rendi- mento e que se esvai numa relação de vitória e derrota entre outras críticas e que, portanto, não o cabe na escola. No entanto, acredita- mos que o ensino do esporte, aqui retratado nas modalidades, cons- titui em um potencial para não só aprender, como também, para ser transformador e motivador para a vida de quem ensina e aprende 176 • pedagogia dos esportes com este conteúdo. Essas experiências aqui apresentadas, demons- tram que negá-lo (o esporte) constitui-se em um grande erro e que sua hegemonia, no sentido de sua institucionalização no campo eco- nômico, político e social, deva ser problematizada de forma intensa como um “tema gerador” e que sua prática seja um exercício pleno de reflexões e ressignificações que possamos levar para a vida. Assim, como exposto no primeiro capítulo desta obra, os alu- nos da Disciplina Pedagogia dos Esportes, do Curso de Licenciatura do DEF/UFS passaram por um processo de apropriação conceitual no tocante ao conceito de esporte e também acerca da construção de um Projeto Político Pedagógico. Com isso, foram basilares para nossa reflexão, no tocante ao esporte, os estudos de Bracht (1992, 1997); Kunz (1994, 1991); Pires (1998) Pires e Silveira (2007); Olivei- ra (2001) entre outros e no campo da didática Freire (1987), Libâneo (1994), Saviani (1997, 1996), Luckesi (2001) entre outros. Este arca- bouço teórico possibilitou ler a realidade e intervir de modo com- promissado com a instância pública. Portanto, algumas modalidades que foram temas de experiên- cias no âmbito escolar como o Futsal, o Badminton, o Tênis e o Judô, também constituíram em temas geradores e instigaram os alunos a elaborarem propostas pedagógicas. Portanto, discutiremos algumas dessas modalidades esportivas que passaram pelo mesmo proces- so (construção do PPP e intervenção escolar), mas que não foram apresentadas nos capítulos anteriores, especificamente, o Futsal e o Badminton. FUTSAl cOMO UMA PERSPEcTIVA EScOlAR Vivemos no país em que há uma monocultura esportiva (PI- RES, 2002) do Futebol em que isto é reiterado na “Falação Esportiva” (BETTI, 2002), seja no dia a dia, nos programas de televisão, nas redes sociais, enfim, há um “tsunami” de informações que cria uma cultura do Futebol. Com isto, a tentativa de propor outras práticas no ambiente escolar esbarra neste poder simbólico exercido pelo Fu- tebol e talvez, como menos impacto o Futsal, pois, é a forma mais semelhante entre criador e criatura. fechando os pontos • 177 No entanto, mesmo apropriando-se dessa “deixa” perspecti- vamos o Futsal de modo a impactar na formação de pessoas críticas e criativas. Ou seja, objetivou-se fazer com que o conteúdo esporte/ Futsal pudesse gerar outras formas de conhecimento e principal- mente, que não perdesse de vista que o ensino dessa modalidade deveria ser além da prática dos gestos e do jogo em si, mas, princi- palmente motivar, despertar o senso crítico e dá sentido aos aspectos como cooperação, trabalho coletivo, autonomia, igualdade de chan- ces entre outros. Neste sentido, um primeiro pressupostos foi estabelecer uma diferenciação entre o entendimento do Futsal e do Futebol, mesmo entendendo que seu processo histórico advém deste e que, na escola, é quase inviável a prática explícita do Futebol tendo em vista as con- dições objetivas, como espaço adequado. Outro aspecto que consideramos importante foi a diferen- ciação daquilo que se configurou enquanto esporte-espetáculo, ou melhor, telespetáculo (BETTI, 1998) e a prática escolar, pois, o po- der simbólico advindo dos meios de comunicação chega com muita força em toda sociedade e especialmente, na escola e nas aulas de Educação Física. Com isso, ao jogar Futsal ou Futebol, os alunos da escola têm como espelho esta forma de jogar (espetáculo), então, a princípio foi preciso (re)significar este pensamento. Foi assim que instigamos os alunos da escola a pensarem sua realidade, seu espaço, os materiais como também, pensar o colega como um amigo e não como um adversário, que eles pudessem resolver os conflitos do jo- gos e também, colocar todos para participar e saber que sem o outro não haveria o jogo, tornando o espaço mais lúdico. Neste sentido, numa vivência enriquecedora, o Futsal em nos- sas experiências trouxe como marca a participação de todos, a ale- gria de estar em movimento consigo mesmo e com o outro, a vivên- cia lúdica, a espontaneidade (HUIZINGA, 2000) e o objetivo dentro da proposta pedagógica que seria a introdução do Futsal como uma prática de transformação, pôde ser evidenciado e materializado na experiência viva e vivida. Com isso, os acadêmicos do Curso de Educação Física/Licen- ciatura da UFS puderam experimentar abordagem metodológica em que evidenciava este conteúdo Futsal respeitando as características 178 • pedagogia dos esportes físicas (idade, sexo), socioculturais e as realidades dos alunos da es- cola pública. Envolvendo um processo em que introduziam a histó- ria do Futsal, seus fundamentos e suas regras básicas e tendo o jogo, na perspectiva do Fundamento-jogo (cap. I), como elemento chave para concretizar o aprendizado do jogo. Ainda, em todas as aulas era proporcionado uma roda de conversa com intuito de fazer o feedback do que aconteceu no dia, em um momento profícuo, dialó- gico e produtivo. Destaca-se, neste sentido, a abordagem Crítico-Superadora do Coletivo de Autores (1992) em que a cultura corporal proporcio- nou uma reflexão pedagógica sobre o acervo dos alunos da escola no tocante a sua representação de mundo e a sua construção histórica. Para a professora Maria Cristina de Freitas o homem não nas- ceu pulando, saltando, arremessando, balançando, jogando etc. essas atividades corporais foram construídas em determinadas épocas his- tóricas, como respostas a determinados estímulos, desafios ou neces- sidades humanas. Corroborando com Coletivo de Autores destaca que a metodologia Crítico-Superadora: [...] Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, esporte, exercícios ginásti- cos. Esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificados como forma de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e socialmente desenvolvidas (COLETIVO DE AU- TORES, 1992, p. 39 apud FREITAS, 2008, p. 14-15). Neste sentido, o que marcou a experiência na escola a partir desta concepção de ensino e tendo o Futsal como protagonista foi a garantia de que as camadas populares teve acesso a mais um bem da cultura que fora historicamente criado pelo homem e que, portanto, deve ser patrimônio de todos garantindo a solidariedade, a liberda- de, a cooperação potencializando o aluno para se emancipar. fechando os pontos • 179 UMA ExPERIêncIA cOM O bADMInTOn Uma outra modalidade que esteve presente em nossas experiên- cias foi o Badminton. A curiosidade sobre a modalidade e também, os cursos que os graduandos em Educação Física da UFS realizaram, proporcionaram uma interlocução direta com o ambiente escolar. Constitui-se ainda numa modalidade em ascensão, mas, que já impacta no estado de Sergipe no sentido do incentivo e das parce- rias entre Federação Sergipana de Badminton e o Governo de Esta- do, promovendo cursos de atualização para professores, bem como, na promoção de competições escolares. Numa busca à Confederação Brasileira de Badminton a mo- dalidade nasceu na Índia com o nome de Poona em que oficiais in- gleses a serviço neste país gostaram do jogo e levaram-no para a Eu- ropa. O Poona então, passou a ser chamado de Badminton quando, na décadade 1870, na propriedade de Badminton, em Gloucestershi- re, Inglaterra, que pertencia ao Duque de Beaufort’s, foi jogada uma nova versão do esporte (CBBd, 2011)1. No Brasil o Badminton chegou como esporte de competição em meados dos anos 1980, imigrantes chineses, belgas, in- gleses, indianos, canadenses, mexicanos, indonésios e norte- -americanos praticavam o esporte em clubes como a associa- ção chinesa, clube internacional de Badminton de Campinas e São Paulo Atlético Club. A modalidade passou a ser prati- cada de forma organizada em 1984. [...] Em 2007 nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro o Brasil conquistou sua primeira medalha na competição (OLIVEIRA, HAIACHI, 2011, p. 165). Em 1995 o Badminton foi incluído nos XII Jogos Pan-Ameri- canos de Mar Del Plata, Argentina, e foi jogado novamente, em 1999, nos XIII Jogos Pan-Americanos em Winnipeg, Canadá. Depois dis- so, a modalidade se firmou no evento sendo esporte que conta me- dalhas até hoje (CBBd, 2011). 1 Disponível em: <http://www.badminton.org.br/historiadobadminton>. Acesso em: 30 nov. 2018. 180 • pedagogia dos esportes Em Sergipe há registros da prática do Badminton em alguns contextos educativos e recreativos como nos jogos integrados estudan- tis em 2007, ocorridos na Escola Municipal José Antônio Costa Melo, na capital sergipana e sua prática sistematizada ocorreu na Universi- dade Federal de Sergipe, por alguns acadêmicos e professores do De- partamento de Educação Física (OLIVEIRA; HAIACHI, 2011). A experiência com Badminton no âmbito da Disciplina Peda- gogia do Esporte foi realizada numa Escola pública da Rede Estadual – Colégio Estadual Vinte e Quatro de Outubro – e, apesar de possuir uma boa estrutura no tocante ao espaço físico, pois possui quadra poliesportiva coberta, ainda não havia sido realizada uma experiên- cia com essa modalidade o que foi um desafio tanto para os alunos do Curso de Educação Física/DEF/UFS, quanto para os alunos da Escola, uma vez que a primeira reação foi a rejeição. Neste sentido, o objetivo principal da proposta pedagógica foi introduzir uma nova modalidade esportiva, o Badminton, a par- tir de um projeto pedagógico, evidenciando que novas modalidades esportivas devam ser socializadas e oportunizadas aos alunos uma vez que ainda encontramos enraizado uma cultura do “Futebol” na realidade brasileira e, principalmente nas aulas de Educação Física. A experiência com esta modalidade mostrou que há uma gama de possibilidades pedagógicas no processo de ensino-aprendi- zagem. Primeiro – apesar da resistência dos alunos da escola no iní- cio do processo – por que era “o novo”, o desconhecido e, portanto, constituiu-se em um desafio profícuo para o aprendizado; segundo, porque a especificidade da modalidade permitiu diversas interações metodológicas, como jogar individualmente, em duplas, em trios etc., além de que se pôde fazer adaptações para todo o contexto de uma turma por exemplo; terceiro, na escola ele foi facilmente adap- tado à realidade existente apesar de, em sua forma institucionaliza- da, requerer um espaço coberto, fechado, com pouca ventilação. Com isso “na mão” os alunos solidificaram a experiência formativa e do aprendizado no sentido da “mão dupla”, ou seja, tanto os acadêmicos do DEF/UFS apreenderam, quanto os alu- nos da escola a partir de um desafio proposto em que, para as au- las de Educação Física, as atividades devam ser propostas de forma sistematizadas com intuito de ampliar o acervo cultural dos alunos, instigar o senso crítico e a autonomia. fechando os pontos • 181 cOnSIDERAÇÕES FInAIS A Disciplina Pedagogia dos Esportes vem problematizando e instigando a crítica ao Esporte em seu caráter instituição, seja no âmbito global e local, mas, também, estimulando os acadêmicos do Curso de Educação Física (Licenciatura) a se aventurarem numa discussão conceitual acerca do esporte na modernidade, mas, prin- cipalmente, se aventurarem no trato pedagógico no âmbito escolar. Enfim, a máxima de “cheirar o chão da escola” nunca ficou tão evi- dente em nossas inspirações. Nem sempre damos conta de compatibilizar a relação Uni- versidade e escola de modo a materializar uma proposta pedagógica para o esporte e isto ocorre devido a vários fatores, mas, principal- mente, pela (des)sintonia do calendário acadêmico e o ano letivo escolar, pois, esta construção requer um período de apropriação conceitual, mas também, um período de “ler a realidade escolar”, pois, ao nosso ver não é só preparar plano e aplicar na escola, mas, sobretudo sermos cúmplices na formação cultural de todos. Com isso posto, nossos objetivos foram alcançados, pois, no mínimo, abrimos espaços para que a reflexão crítica acerca do Es- porte, da Educação, da Educação Física, das Políticas Públicas entre outros, fossem temas permanentes de diálogo/debate e que pairou sobre nós durante o processo de apropriação o que fez estabelecer uma mudança de olhar não só para nossa prática pedagógica, mas, também para a realidade escolar pública. REFERêncIAS BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. UFES: Vitória 1997. ______. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da educação física. Campinas: Autores Associados, 1992. FREITAS, M. Abordagens Pedagógicas no Ensino da Educação Física pós década de 1970. Paraná, Ed. Tapejara, 2008. 182 • pedagogia dos esportes FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1987. OLIVEIRA, A. F. S.; HAIACHI, M. C. Ciclo de debates em estudos olímpi- cos, megaeventos esportivos e seus impactos nos estados periféricos. São Cristóvão/SE:EDUFS, 2011. HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÌ, 1994. ______. Educação física: ensino & mudança. Ijuí: UNIJUÌ, 1991. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. ______. Democratização da escola pública: A pedagogia crítico-social dos conteúdos. 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Pesquisadora do Labora- tório e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LABOMÍ- DIA/UFS). Contato: airraos@gmail.com Alexandre Oliveira Nascimento Santos: Licenciado em Educação Física/UFS (2019). Professor da rede particu- lar de Aracaju. Pesquisador do Laboratório e Grupo de Estudos Obser- vatório da Mídia Esportiva (LABOMÍDIA/UFS). Contato: alexandreoliveirapv@yahoo.com Ellber Rodrigo Santos Albuquerque: Licenciado em Educação Física/UFS (2018). Pesquisador do Laborató- rio e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LABOMÍ- DIA/UFS). Mestrando em Educação Física . Estudante de Educação Física (Bacharelado)/UNIT Contato: ellberalbuquerque@hotmail.com Enéas Soares Neto: Licenciado em Educação Física/UFS (2018). Professor da Rede Particu- lar de Aracaju Contato: eneasneto2@gmail.com Gardilene Cardoso de Jesus: Licenciada em Educação Física/UFS (2018). Contato: gardilenecardoso@hotmail.com Hericles da Rosa Matos: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Contato: Hericles_fenix2000@hotmail.comHudson Leonardo Cordeiro de Moura: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Pesquisador bolsista em (PIBIC/UFS/FAPITEC/SE-2018/19) Contato: leocomgod@hotmail.com Janisson Santos: Licenciado em Educação Física/UFS, 2016, professor no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, Secretaria Municipal de As- sistência Social, graduando em Educação Física (Bacharelado/UNIT). Contato: santos_janisson@hotmail.com. 184 • pedagogia dos esportes Karine dos Anjos Santos: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Bacharel em Turis- mo/UFS. Contato: karine.anjoss@hotmail.com Luís Henrique Calazans dos Santos: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Pesquisador do La- boratório e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LA- BOMÍDIA/UFS) Contato: luishcalazans@gmail.com Manoel Messias Xavier dos Santos: Licenciado em Educação Física/UFS (2016). Professor da Rede Estadual da Bahia. Contato: manoelxavierpv@gmail.com Mateus Henrique Silva Santos: Licenciado em Educação Física/UFS (2017). Professor da Rede Privada de Ensino. Pesquisador do Laboratório e Grupo de Estudos Observató- rio da Mídia Esportiva (LABOMÍDIA/UFS) Contato: mateus.santos27@hotmail.com Monike Rayane Silveira de Menezes: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Atuou no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID). Contato: smonikerayane@yahoo.com.br Nathalia Dória Oliveira: Licenciada em Educação Física/UFS (2018) Pesquisadora do Labora- tório e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LABOMÍ- DIA/UFS) Contato: nathalia_doria@hotmail.com Rodrigo de Souza Santos: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Pesquisador do La- boratório e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LA- BOMÍDIA/UFS) Contato: rodrigoedfufs@hotmail.com Sérgio Dorenski Dantas Ribeiro: Licenciado em Educação Física/UFS. Mestre em Educação Física/ UFSC. Doutor em Educação/UFBA. Professor Departamento de Edu- cação Física/UFS. Coordenador e Pesquisador do Laboratório e Grupo de Estudos Observatório da Mídia Esportiva (LABOMÍDIA/UFS); Contato: dorenski@gmail.com Wendell Santos Matos: Estudante de Educação Física/UFS (Licenciatura). Contato: wenndellmatos@gmail.com