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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 1. INTRODUÇÃO Lesões musculoesqueléticas, embo ra comuns em pacientes com trauma, raramente representam uma ameaça imediata à vida. O trauma esqueléti co pode ser fatal quando resulta em perda significativa de sangue, ex ternamente ou dentro do membro ou pélvis. As lesões do sistema muscu loesquelético correspondem a 85% dos traumas. São as fraturas, luxa ções, entorses e amputação. Ao enfrentar um paciente em es tado grave, o prestador de cuida dos pré-hospitalar deve ter três considerações primárias sobre le sões nos membros: • Manter prioridades de avaliação. Não se distrair com lesões mus culoesqueléticas dramáticas e não fatais; • Detectar lesões musculoesqueléti cas potencialmente fatais; • Identificar o mecanismo de lesão e a força que resultaram em lesões musculoesqueléticas e o potencial para outras lesões fatais causadas pela transferência de energia. Figura 1. Alguns ferimentos nos membros, embora espetaculares em sua aparência, não são fatais. Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 4 Se uma lesão potencial ou real amea çadora for descoberta durante a revi são primária, o tratamento secundá rio não deve ser iniciado. Quaisquer problemas encontrados durante a revisão primária devem ser corrigi dos antes de passar para o secun dário. Isso pode significar atrasar a revisão secundária até que o paciente esteja a caminho do hospital, ou mes mo em alguns casos, esperando para chegar ao pronto-socorro (DE). Pacientes com traumatologia crítica podem ser protegidos ou transporta dos em talas de coluna longa para facilitar seu movimento e permitir a ressuscitação e tratamento de suas lesões, críticas e não críticas. O uso de uma tala longa da coluna permi te a restrição do movimento de todo o paciente e suas lesões, quando apropriado, e, se necessário, mover ou mobilizar o paciente em um único movimento coordenado para não al terar a posição das talas. O prestador de cuidados pré-hospi talares deve considerar o risco de atrasar o transporte em relação aos benefícios de imobilizar os membros com dor e sem deformidade óbvia ou estalo. Em geral, qualquer deformi dade nos membros deve ser levada para a posição anatômica ou, de ou tro ponto de vista, alinhada, em geral, e então imobilizada para o transporte. É improvável que o provedor de transporte pré-hospitalar transmi ta mais força ou cause mais lesões do que foi sofrido durante o momento do trauma, e há desvantagens substan ciais de deixar um membro em uma posição severamente deformada por um longo tempo. 2. CONCEITOS IMPORTANTES Fraturas Se um osso é fraturado, sua imobi lização pode diminuir a dor. A ener gia transmitida no momento da lesão para causar uma fratura causa mais danos e ferimentos do que qualquer coisa que um prestador de cuidados pré-hospitalar pode fazer para reali nhar um membro e imobilizá-lo com uma tala ou por tração. Em geral, as fraturas são classifica das como fechadas ou abertas. Em uma fratura fechada, a pele não per de sua continuidade através do osso, enquanto na fratura aberta o osso é funcionalmente exposto ou mesmo manifestado pela ruptura da pele. Or topedistas podem classificar as fra turas por seus padrões (ex. galho verde, cominutiva), não tem como di ferenciar sem radiografia, e o conhe cimento do padrão não altera o trata mento no campo. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 5 Figura 2. Fratura exposta e fratura fechada. Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 8ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2017 Figura 3. Tipos de fratura: fechadas oblíqua, cominutiva e espiral e fratura aberta. Fonte: Atendimento Pré-Hospitalar. Treinamento da Brigada de Emergência do Suporte Básico ao Avançado. 1ª ed. Márcia Vilma G. de Moraes, 2010 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 6 Fraturas fechadas Fraturas fechadas são fraturas em que um osso é fraturado, mas o pa ciente não tem perda de integrida de da pele relacionada. Os sinais de uma fratura fechada in cluem dor, hipersensibilidade, de formidade, hematomas, edema e estalo. Em alguns pacientes, no en tanto, dor e hipersensibilidade podem ser as únicas manifestações. Pulsos, cor da pele e função sen sorial distal e motora devem ser avaliados no local da suspeita de fratura. Nem sempre é válido que um membro não seja fraturado porque o paciente pode movê-lo voluntaria mente, e no caso de um membro in ferior, mesmo caminhando com ele; a adrenalina de um evento traumático pode motivar os pacientes a resistir à dor que normalmente não tolerariam. Além disso, alguns têm uma tolerân cia à dor visivelmente alta. Figura 4. Fratura fechada do fêmur. Observe a rotação interna e o encurtamento do membro inferior esquerdo. Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 7 Fraturas abertas Geralmente ocorrem quando a extre midade cortante de um osso penetra a pele de dentro para fora, ou, menos frequentemente, quando um trauma ou um objeto lacera a pele ou o mús culo em um local de fratura (de fora para dentro). Quando uma fratura está aberta ao ambiente externo, as extremidades do osso afetado são contaminadas com bactérias da pele adjacente ou por con taminação ambiental, o que pode levar a uma séria complicação da infecção ós sea (osteomielite) e pode interferir na consolidação da fratura. Embora a pele da ferida relacionada a uma fratura exposta muitas vezes não tenha ligação com sangramento sig nificativo, sangramento persistente no ducto ósseo, ou descompressão de uma contusão profundamente localizada nos tecidos, pode ocorrer. Os sinais e sintomas presentes na fratu ra aberta são: fácil identificação (às ve zes), dor intensa, deformidade local, incapacidade funcional, hemorragia visível, crepitação óssea. Qualquer ferimento perto de uma fratu ra requer ser considerado uma fratura aberta e tratado como tal. Em geral, um osso que se projeta ou um de seus fins não deve ser intencionalmente reduzido; no entanto, os ossos às vezes retornam a uma posição quase normal quando re alinhados para a imobilização de talas. Fraturas abertas podem nem sempre ser fáceis de identificar em um pacien te com trauma. Embora o osso que se projeta de uma ferida seja óbvio, lesões de tecido mole próximas a uma fratura/ deformidade podem ser resultantes de uma extremidade óssea que passou para o exterior através da superfície da pele, apenas para então recuar dentro dos tecidos. Figura 5. Fratura exposta da tíbia. Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 8 SAIBA MAIS! A embolia gordurosa (EG) é a oclusão de pequenos vasos por gotículas de gordura, geral mente originadas nas fraturas do fêmur, tíbia e bacia, e nas artroplastias do joelho e quadril. Normalmente não causa danos aos órgãos atingidos, a menos que seja maciça. Em poucos casos a EG evolui para a “síndrome da embolia gordurosa” (SEG) a qual afeta principalmente os pulmões e o cérebro, embora qualquer órgão ou estrutura do organismo possa ser afetada. Luxações As articulações são mantidas juntas por ligamentos. Os ossos que for mam uma articulação se ligam aos seus músculos usando tendões. O movimento de um membro é alcan çado pela contração (encurtamento) dos músculos, que puxa os tendões ligados ao osso em uma articulação. Uma luxação é a separação de dois ossos na articulação, resultado de uma alteração significativa dos li gamentos, que normalmente cons tituem sua estrutura de suporte e estabilidade. Uma luxação, semelhante a uma fra tura, produz uma área de instabi lidade que o prestador de cuidados pré-hospitalares precisa seguir. As luxações podem causar grande dor e podem ser difíceis de distinguir de uma fratura clinicamente sem um raio-X, podem ser associadas (fratu ra-luxação). A deformidade de uma articulação fornece uma chave para o local e adireção da luxação. Os sinais e sintomas mais comuns de uma luxação são dor intensa, deformidade grosseira no local da lesão e a impossibilidade de movimentação. Figura 6. Luxação é a separação de um osso da sua articulação. Luxação de ombro típico anterior. Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019 TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 9 A descrição adequada para dar ao prestador de cuidados hospitalares deve ser baseada no segmento mais distal ao descrever a luxação. Por exemplo, uma luxação do joelho é baseada na direção que corre ao lon go da tíbia em relação ao fêmur. Uma luxação posterior do joelho significa que a tíbia está atrás do fêmur. Figura 7. Luxação anterior de joelho direito com a tíbia sobreposta ao fêmur. Nota que a tíbia (segmento distal) des viado na frente do fêmur (segmento proximal). Fonte: PHTLS Atendimento Pré-hospitalizado ao Traumatizado. 9ª ed. Jones & Bartlett Learning, 2019 Indivíduos com luxações prévias têm ligamentos mais frouxo do que o normal e pode ser propenso a deslocamentos mais frequentes, a menos que o problema seja corrigido cirurgicamente. Ao contrário da luxa ção de primeira vez, esses pacientes muitas vezes conhecem sua lesão e podem ajudar na sua avaliação e estabilização. Aqueles que sofrem de deslocamen tos crônicos ou frequentes não pre cisam de uma tentativa de redução no campo. Levá-los ao hospital com TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 10 articulações deslocadas quando não podem chegar, muitas vezes é menos perigoso e melhor tolerado do ponto de vista da dor e do desconforto, do que nos pacientes é com desloca mentos pela primeira vez. Entorses Uma entorse é uma lesão na qual os ligamentos são distendidos ou rompidos. As entorses são causadas por torção súbita da articulação, além da faixa normal de movimento. Ca racterizam-se por dor significativa, edema e possivelmente contusão. Externamente, entorses podem simu lar uma fratura ou luxação. A diferen ciação definitiva entre uma entorse e uma fratura é alcançada apenas pelo estudo de raio-X. No contexto pré- -hospitalar é razoável imobilizar um membro diante da suspeita de uma entorse em caso de fratura ou luxa ção. Uma bolsa de gelo ou gelo pode ajudar a aliviar a dor. O uso de anal gésicos narcóticos geralmente não é necessário ou desejável e pode ser reservado para casos com dor signifi cativa que não responde à imobiliza ção, elevação e gelo. Contusões A contusão ocorre quando determina do músculo se submete a uma for ça de compressão repentina, como um golpe ou quedas, por exemplo. Esse tipo de lesão é muito comum em atletas, porém, pode atingir qualquer pessoa. Em relação à gravidade, ela pode ser leve, moderada ou intensa. O traumatismo direto desencadeia um processo inflamatório imediato, com dor localizada, edema, presen ça ou não de hematoma, limitação de força e mobilidade articular, rigidez e dor ao alongamento passivo. Os mús culos mais frequentemente acometi dos por contusões são: quadríceps e gastrocnêmios. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 11 FLUXOGRAMA - TIPOS DE LESÕES . TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO 12 3. EPIDEMIOLOGIA Admite-se que o trauma atingiu o pri meiro lugar como etiologia de morbi mortalidade na população de 0 a 39 anos de idade. Segundo dados da literatura, 60 mi lhões de traumatismos ocorrem por ano nos Estados Unidos, sendo que destes 30 milhões necessitam de atendimento médico. O trauma é res ponsável por cerca de 150.000 mor tes por ano. No Brasil, segundo dados do Minis tério da Saúde, ocorreram 724.584 internações hospitalares por cau sas externas no ano de 2003. No ano de 2001, 120.819 mortes estavam diretamente relacionadas ao trauma, sendo 80% desses pacientes foram atendidos em hospital de emergência. Por mais expressivos que sejam esses dados, o verdadeiro custo para a so ciedade só pode ser avaliado quando lembramos que o trauma atinge es pecialmente indivíduos mais jovens e potencialmente produtivos. As lesões do sistema musculoes quelético, frequentemente, se apre sentam de forma dramática e ocorrem em até 85% dos pacientes vítimas de trauma fechado e, apesar de ra ramente causarem risco eminente de vida, torna-se essencial a realização de intervenções para a prevenção de lesões que possam pôr em perigo o membro afetado. Outro fator prepon derante é que a presença de graves lesões do sistema musculoesquelé tico infere traumas de grande ener gia que podem ter atingido outros órgãos, pondo a vida do paciente em risco
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