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BRUNA C. GONÇALVES CONTEÚDO E METODOLOGIA DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA AULA 2 A história da História e da Geografia enquanto disciplinas escolares A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E AS DISCIPLINAS ESCOLARES A educação formal no Brasil começou com a chegada dos jesuítas, juntamente com o primeiro governador geral, Tomé de Souza. Logo, a principio e educação ficou a cargo das ordens religiosas, principalmente dos jesuítas. A base de estudos nos colégios jesuítas não englobava disciplinas específicas de História e Geografia, pois estavam mais interessados em estudos literários e canônicos. Com a Reforma Pombalina, aconteceram algumas mudanças no cenário da educação, mas foi um momento bastante tumultuado ainda assim, e apenas receberá maior atenção com a chegada da família real ao Brasil em 1808. Foi durante o reinado de Dom Pedro II que novas disciplinas começaram a ser introduzidas nas e escolas, e entre elas a História e a Geografia. A FAMÍLIA REAL E A EDUCAÇÃO A família real trouxe para o Brasil uma grande riqueza cultural, além de proporcionar a construção de espaços que fomentaram a educação, e abrir cursos superiores, que até então não existiam no país. Museus, bibliotecas, etc, vieram com a família real, e a Escola de Artes e Ofícios foi inaugurada anos mais tarde com a chegada da missão artística francesa, que enriqueceram nossa cultura e ampliaram os espaços arquitetônicos da cidade. Museu Nacional Antigo museu real – com objetos trazido pela família real Fachada do prédio do Museu Nacional da UFRJ (Palácio Imperial de São Cristóvão), antigo Museu Real do Rio de Janeiro, localizado na Quinta da Boa Vista. Foto: UFRJ Imagem Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios - Atual localização da fachada frontal do primeiro prédio da AIBA (Academia Imperial de Belas Artes), no Jardim Botânico do Rio de Janeiro; - Hoje funciona em outro local e é conhecida como Escola de Belas Artes da UFRJ. Biblioteca Nacional Gabinete de leitura de língua portuguesa HISTÓRIA E GEOGRAFIA NAS ESCOLAS BRASILEIRAS No século XIX, a História e a Geografia passam a fazer parte do rol de disciplinas a serem ensinadas aos jovens. Foram inicialmente introduzidas no Colégio Pedro II, que servia como modelo e parâmetro para os outros colégios do país. AS DISCIPLINAS DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA O Brasil, assim como outras colônias europeias, possui um contexto próprio e característico de formação do Estado Nação. A independência de Portugal constituiu-se no início do processo de formação da identidade nacional, não mais atrelada ao governo português, e de constituição do Estado. Esse processo culminará com a instauração da República em 1889, sem as amarras monárquicas. O período de consolidação do Estado e da nação no Brasil coincide com o período de sistematização da história e da geografia enquanto ciência, e sua consolidação enquanto disciplina escolar. Longe de uma coincidência, esse momento está relacionado com uma série de transformações profundas ocorridas na sociedade que impulsionaram estes acontecimentos não só no Brasil, mas no mundo. O processo de independência não ocorreu isoladamente, e muito menos sem conexão com o que a Europa estava passando. Os processos de independência aconteceram ao mesmo tempo que as ideias iluministas e da Revolução Francesa se propagavam pelo mundo. Guerras, novos panoramas ideológicos, sociais e mesmo culturais movimentavam a corte e a sociedade europeias e, conjuntamente, a América recebeu essas influências. Foi também no século XIX d.C. que a filosofia positivista ganhou força e espaço. Os ideais positivos adentraram em diferentes áreas, inclusive na História e na Geografia, colocando-as na categoria de ciência. Assim, elas se reorganizaram em métodos próprios e adentram as escolas com o título de ciência. A HISTÓRIA A História e a Geografia enquanto disciplinas escolares surgiram no Brasil a partir do século XIX, abrangendo parte do período imperial e o início da República. Inspiradas no modelo francês, pautavam-se na formação cultural das elites, privilegiando feitos e herois, os conteúdos também abordavam as práticas cotidianas, como os ritos cívicos: festas, desfiles e eventos de culto aos símbolos da Pátria. E também do conhecimento da geografia local, através do estudo cartográfico, entre outros. A implantação dessas disciplinas aconteceu após a independência brasileira e a formação do Estado Monárquico brasileiro, que trouxe algumas inovações. Percebe-se, assim, uma necessidade de consolidação da identidade nacional. Concomitantemente, novas ideias apareciam na Europa, principalmente na França. Embora o Colégio Imperial Pedro II, primeiro que introduziu essas disciplinas, fosse o modelo escolar a ser seguido, ainda estava voltado para as elites e não era uma educação popular e aberta a todos. Somente na década de 1930 que ações foram tomadas para que as disciplinas de História e Geografia fossem consolidadas, justamente com a criação dos respectivos cursos na Universidade de São Paulo, uma das primeiras a ser estruturada no país. Até então, as disciplinas de História e Geografia eram ensinadas por profissionais de áreas afins. Com a criação dos cursos superiores de História e Geografia da USP, percebemos uma preocupação com a formação do profissional que iria ministrar as aulas dessas disciplinas nas escolas. “As transformações econômicas e culturais pelas quais o Brasil passou influenciaram diretamente a educação e consequentemente o ensino de História e Geografia, movimentos como da Escola Nova influenciaram o ensino da história, fazendo surgir outras possibilidades metodológicas, dentre elas a preocupação em despertar hábitos de investigação, crítica e raciocínio lógico, pretendiam preparar o aluno para uma vida ativa e atuante por meio dirigido, ou seja, o aluno recebia um caderno com questões e respostas, consultava a resposta correta para cada questão e testava seus conhecimentos adquiridos em pesquisas e experiências, dessa forma ele seria agente do seu conhecimento.” (NEMI & MARTINS, 1996) “No âmbito mundial, a Geografia, a partir de sua inserção na escola, passa a ter uma função: mostrar através de descrições, mapas com contorno do país e da observação direta do meio circundante o próprio Estado-Nação, valorizando-o e criando laços de respeito e dedicação à imagem da pátria, para que, se fosse preciso, se lutasse/guerreasse por ela. Assim, a Geografia oficializou-se nas escolas formando o futuro soldado, e/ou, o cidadão. Tornou-se uma Ciência anos mais tarde porque chegou à universidade com a incumbência de formar professores para lecioná-la.” No Brasil, o ensino do “amor à pátria” (por meio da História e da Geografia), talvez um pouco menos carregado de valores militares, teve o intuito de “inculcar o nacionalismo patriótico.” A difusão das escolas públicas voltadas para um grande contingente de pessoas gratuitamente começou no século XIX na Europa e, posteriormente, nos Estados Unidos. Esse ideial só se concretizou no Brasil depois de 1930, com a expansão urbana, a efetiva formação do mercado nacional, a diversificação do processo de industrialização e a nova exigência de trabalhadores alfabetizados e instrumentalizados. NOVAS ABORDAGENS DAS DISCIPLINAS Tanto a História quanto a Geografia passaram por renovações metodológicas ao longo de sua trajetória, o que influenciou as disciplinas aplicadas na escola. O positivismo sofreu várias críticas, e com isso novas perspectivas filosóficas e metodológicas ganharam visibilidade e as disciplinas de humanas passaram a ser vistas com outro olhar. A História ganha uma nova gama de documentações, não só as oficiais, mas diários, jornais, revistas, ampliandotambém o contato e a relação com as outras disciplinas, como a arqueologia, a antropologia, a geografia, a filosofia, a sociologia, a biologia, entre muitas outras. A Geografia, da mesma forma, ganhou novas características e espaços, ampliando seus saberes e áreas de atuação conforme a sociedade se modificava. E também ampliando seu contato com as outras áreas do conhecimento, como a própria história, a sociologia, entre outras. Quanto aos objetivos do ensino de História, nessa última década, além da preocupação com a cidadania, existe também o objetivo de contribuir para a construção de identidade, não só nacional, mas global. Da mesma forma, a Geografia também ganhou novos objetivos, dentro os quais a formação do cidadão através do conhecimento do espaço habitado e integrado à humanidade. REFLEXÕES FINAIS O ensino da história e da geografia, portanto, é um processo em contínua transformação e adaptação à realidade dos alunos e da sociedade como um todo. Neste processo, é indispensável que o professor acompanhe as transformações e procure continuamente se adaptar às novas demandas do ensino. CONHECENDO ALGUNS TERMOS São consideradas categorias essenciais da ciência geográfica: espaço geográfico, paisagem, território e lugar, por permitirem a interpretação dos fenômenos que nos rodeiam. 1 - Espaço geográfico: definiremos a partir da proposição de Henri Lefebvre (1991), em que representa o produto das relações sociais de produção e reprodução e, simultaneamente, o palco dessas relações. Sendo assim, é no espaço que ocorre a vida social, que não deve ser entendido apenas como espaço físico, criado pela natureza, visto que essa é apenas a sua base, transformada pelo trabalho produzido pelo ser humano. 2 - Paisagem: constitui o que é visível no espaço, mas também perceptível através de outros sentidos. Está em constante transformação, visto que é adaptada em função das atividades sociais processadas no espaço. 3 - Território: parte do espaço que recebe as ações de posse, está ligado à concepção econômica e social das nações. Na geopolítica, o território é o espaço nacional ou área controlada por um estado-nacional: é um conceito político que serve como ponto de partida para explicar muitos fenômenos geográficos relacionados à organização da sociedade e suas interações com as paisagens. O território é uma categoria importante quando se estuda a sua conceptualização ligada à formação econômica e social de uma nação. 4 - Lugar: tem relação com a afetividade, deixando de ser um espaço produzido ao longo de um processo histórico, para tornar-se um conceito repleto de simbolismos, sentimentos, referências e experiências vividas pelos que o habitam, incrementando a noção de pertencimento e identificação com o meio. Resulta, portanto, das relações entre o homem e o meio. (BRASIL, 1997: 75) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998. MOREIRA, R. O que é Geografia. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. GODOY, PRT., org. História do pensamento geográfico e epistemologia em Geografia [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. 289 p. ISBN 978-85-7983-127-0. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>. JUNIOR, Marcílio Souza; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História das disciplinas escolares e história da educação: algumas reflexões. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 391-408, set./dez. 2005
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