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Perícia psicológica e social na esfera judicial

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Perícia psicológica e social na esfera judicial: 
aspectos legais e processuais. 
 Questões introdutórias
Com o desenvolvimento dos povos e a reestruturação das sociedades, e posteriormente, os governos, tomaram para si o poder de dizer o direito, o chamado estado de direito. No estado de direito, os poderes são exercidos por meio de funções pelas quais o estado reparte suas atividades; seus órgãos são encarregados de desempenhar as diversas funções do poder. O estado brasileiro é constituído por três poderes: executivo, legislativo e judiciário. 
O poder judiciário é institucionalizado para o julgamento dos interesses e litígios entre os cidadãos brasileiros. Segundo o Código de Processo Civil, o juiz é a autoridade que representa o Poder Judiciário, encarregado de prestar a jurisdição, independente em que instância atua. Então, o magistrado, no exercício da judicatura, em se tratando de material civil, geralmente segue as regras dispostas no Código de Processo Civil. 
Para auxiliar o juiz em seu trabalho, elenca o Código de Processo Civil uma série de profissionais designados “auxiliares da justiça”, entre eles o escrivão, o oficial de justiça e os peritos judiciais. Além disso, o magistrado tem o dever de apreciar qualquer questão em litígio envolvendo cidades e/ou pessoas jurídicas. 
Para o julgamento das questões, se vale de provas, às vezes apresentadas pelas partes, às vezes requeridas por elas ou pelo representante do Ministério Público. Conforme o Código de Processo Civil, dentre as provas possíveis de serem produzidas estão: prova documental, a prova testemunhal e a prova pericial. A prova documental é representada pelos documentos que são juntados pelas partes ao processo, e que serão analisados pelo magistrado. 
Quando não é possível demonstrar ou apurar os fatos articulados pelas partes através de documentos, a lei facilita que seja produzida a prova testemunhal. A prova testemunhal consiste em ouvir pessoas sobre o assunto. É realizada em juízo, através de audiências, podendo, em casos excepcionais, ser colhida em outros locais, como hospitais e até mesmo na casa da pessoa. E a prova pericial é elaborada por profissional especialista em alguma área do conhecimento humano, com o objetivo de assessorar o juiz no esclarecimento de questão em litígio. 
É imprescindível que todos os profissionais que são chamados a desenvolver o relevante trabalho de perito judicial tenham conhecimento técnico e ético sobre o assunto de que vão se ocupar. Entre os profissionais do conhecimento científico, está o psicólogo e o assistente social, cujas profissões, devidamente reconhecidas e regulamentadas, há muito vem contribuindo com a Justiça, desenvolvendo uma série de trabalhos, entre eles o de perícia psicologia e social. 
A Perícia
 
Perícia remete a um campo de estudo que não é restrito. A mesma remete a habilidade, destreza e, em um entendimento moderno e contemporâneo, deve ser operada por pessoa com conhecimento técnico especializado. Além disso, é um trabalho técnico-profissional ou artístico, elaborado por quem tem conhecimento sobre o assunto, o qual debate servir para elucidar uma questão obscura ou duvidosa. 
Segundo Figueiredo (1999, p. 55) “a expressão ‘perícia’ é originária do latim peritia, que significa ‘conhecimento’, que por sua vez é adquirido pela experiência”. 
Um dos elementos qualificadores da perícia é o conhecimento de um determinado assunto, deve este advir da experiência. 
Atualmente, a habilidade exigida de um perdido deve advir não somente da experiência, mas também, e principalmente, pelo conhecimento científico. Os serviços da perícia tem por objetivo elucidar situações, fazer averiguações e assim por diante. Segundo Ferreira (2007), pode-se realizar a perícia através de vistoria e exame. Deve-se considerar que ela pode se operalizar em diversos campos da atividade humana e cumprindo os mais diferentes papéis, conforme a necessidade que se apresenta. A mesma é exercidas por especialistas da sociedade em geral, que conforme interesse, a desenvolverem para esclarecer as mais diversas situações. 
Rangel (1997) explica que há diversos tipos de perícias, tais como a perícia judicial, administrativa, extrajudicial, arbitral e interprofissional. A realização da perícia é comum em nossa sociedade, tendo esta o fim de constituir-se em um documento capaz de embalar decisões. Além disso, a mesma por ser feita tanto na esfera judicial, a critério do juiz e a serviço do processo, com o campo extrajudicial, com o propósito de construir-se em um documento, a serviço de quem a solicitou, para elucidar uma questão de interesse próprio ou administrativo.
A perícia judicial 
A perícia é um instrumento utilizado para examinar situações ou fatos que serão apresentados no processo judicial. Seu objetivo é fornecer informações ao juiz,que não são de conhecimento jurídico, onde apenas este pode designar o perito sobre a questão em discussão , que será alguém de sua confiança, especializado e imparcial , com um conhecimento técnico ou científico. Essa solicitação ocorre quando o juiz não tem conhecimento específico em determinada matéria técnica, fugindo do direito.
Mesmo o perito sendo solicitado apenas pelo juiz ,as provas judiciais podem ser requeridas tanto pelo réu , quanto pelo ministério público,podendo ser usadas em defesa do réu ou para confirmar as alegações da parte autora dentro de um processo. Sendo assim ,é de extrema relevância no âmbito judiciário , pois, mesmo que não seja utilizada como principal meio de prova, ela pode confirmar fatos duvidosos e influenciar a decisão judicial.
A perícia psicológica e social 
Como visto anteriormente, o trabalho da perícia se dá através da solicitação do juiz , que solicita um especialista da profissão sobre a questão em discussão. A perícia psicológica e social atuará dessa forma quando solicitado para estudo ou avaliação psicológica ou social, afim de coletar respostas jurídica específicas, fazendo uso de instrumentos psicológicos científicos , tendo maior importância nos últimos anos nos campos relacionais, morais e econômicos.
Para a realização da perícia, o profissional utiliza toda ferramenta técnicas de estudo psicológico, no entanto quando o diagnóstico do profissional de psicologia tem como objetivo formar prova para auxiliar decisões conflituosas deixa ser ser apenas um estudo psicológico e passa a ser perícia psicológica.
É possível ainda a realização de uma perícia multiprofissional, onde vários especialistas trabalham em comunhão.Isso ocorre quando o caso em questão necessita de profissionais de áreas distintas , sendo o trabalho desses profissionais feitos em conjunto.No entanto, cada um fica responsável por sua área ,não interferindo laudos de outros profissionais, ou seja,mesmo que as coletas de dados e observações sejam realizadas em
Conjunto, o laudo é individual sendo também redigido por cada profissional separadamente.
Questões legais da perícia judiciária com enfoques dirigidos perícia psicológica e social.
Independente do profissional que vá exercer a tarefa de perito, as regras serão as mesmas e devem ser conhecidas e estudadas assim como as implicações legais. Não basta estar atento apenas aos seus conhecimentos profissionais, mas também às regras do processo.
Nomeação do perito / Manifestação do perito
A nomeação do perito é feita pelo juiz, e somente por ele. As partes, assim como o promotor de justiça, podem requerer ao juiz essa nomeação no início ou durante o processo. E essa escolha deve ser feita entre profissionais de nível universitário e inscritos em seus respectivos órgãos. Porém, se não houver profissionais habilitados o juiz pode recorrer a alguém de sua confiança, porém não é o mais indicado. O juiz não precisa consultar o perito previamente, ele irá fazer a nomeação e fixar o prazo para a entrega do laudo, e então o perito poderá manifestar a aceitação ou recusa justificada.
Questões que acarretem em impedimento são de ordem objetiva, como em processos em que o juiz, promotor, perito eoutros foram ou são parte; também quando parentes de até terceiro grau do profissional forem partes do processo. Em caso de suspeição as questões são de ordem subjetiva, ligadas à afetividade. Como amizade íntima entre as partes ou inimizades. Fatos que possam interferir na imparcialidade do profissional no momento da perícia.
Caso o pedido de suspeição ou impedimento seja aceito, o juiz terá que nomear outro profissional. Caso não seja aceito, que não é comum, o perito deverá exercer a função com maior isenção possível. Se deixar de manifestar a recusa ou não entregar o laudo no prazo, sem justificativa, o perito será punido conforme o dano causado.
Quesitos dirigidos ao perito
Uma vez nomeado o perito o juiz determina a intimação das partes para que apresentem os quesitos, e estes devem se manifestar dentro de 5 dias. Esses quesitos são perguntas feitas ao perito ou assistente técnico e delimitam as funções dos mesmos, e são escritas e articuladas com relação ao fato a ser periciado. Também podem surgir os “quesitos suplementares” que podem ser formulados no decorrer da perícia caso sejam deferidos pelo juiz. As respostas, dadas pelo perito ou assistente, objetivam elucidar da melhor forma a causa.
Porém, o perito não deve ficar limitado aos quesitos, principalmente se se tratar de uma perícia psicológica e social, nas quais podem surgir fatos novos. Nesse caso pode levar aos autos tudo aquilo que considerar relevante e que possa contribuir para o julgamento. 
Prazo para entrega do laudo
O perito tem como dever a entrega do laudo dentro do prazo, caso contrário, ao invés de auxiliar o juiz, estará prejudicando as partes. Porém, caso haja motivo justificado, o juiz poderá prorrogar o prazo.
Honorários do perito
Quanto aos honorários, o juiz, ao nomear o perito, já solicita a sua proposta, que deve ser apresentada logo na primeira manifestação. E em casos onde o perito precise cobrir despesas relativas à sua tarefa, esse valor será pago pela parte que requer o exame, ou pelo autor, quando o requerimento for de ambas as partes, ou determinado pelo juiz. Em caso de ser funcionário público não há honorários uma vez que a remuneração vem mensalmente pelo órgão público.
Assistente técnico 
O assistente técnico é indicado pelas partes, se assim desejarem. Então o perito é um auxiliar da justiça, exercendo atividade pública, e o assistente técnico é de confiança da parte, exercendo atividade privada. Por não ser considerado auxiliar da justiça, as partes não podem levantar impedimento ou suspeição. O perito, ao final do seu trabalho, apresentará o laudo, sobre o qual o assistente realizará um parecer. 
O assistente não poderá ser alguém com menos conhecimento profissional que o perito, como um estagiário, por exemplo. O mesmo deverá apresentar o parecer no prazo comum de dez dias após a apresentação do laudo. Irá se apresentar concordando ou não com as conclusões através do parecer, que não necessita ser realizado em uma estrutura padrão, como o laudo. Mas é importante ressaltar que em nenhuma hipótese o técnico poderá interferir ou atrapalhar a investigação realizada pelo perito.
Antigamente era possível a manifestação conjunta do perito judicial e o assistente, porém, com a nova lei isso não é mais possível. O laudo é apresentado e só após o juiz manda intimar as partes para que se manifestem sobre o assistente técnico.
Em um mesmo processo podem atuar um profissional que elaborou um serviço técnico no qual o parecer foi acrescentado; o perito nomeado pelo juiz; e também pode haver um terceiro, o assistente técnico da parte. É importante ressaltar que esse assistente técnico deve ser tratado com cortesia pelo perito judicial, pois ainda que represente o interesse de uma das partes, ele também busca elucidar a questão a ser examinada pelo juiz.
 Perícia Informal 
Na perícia informal os elementos técnicos, são válidos como provas verdadeiras dos fatos apresentados que servirão para análise do juiz, esses dados são entregues via depoimento. Dessa forma fica permitido que o juiz solicite apenas a opinião dos técnicos oralmente, sem necessidade de um laudo.
Ainda que a perícia possa ser realizada na audiência, o perito deve ser intimado com antecedência, para que possa ficar por dentro e analisar os autos. 
A audiência informal foi criada com intuito de resolver caso de urgências, que não demandam tanta formalidade, mas não deixam de ser válidos.
É importante ressaltar que a manifestação do perito através do termo de audiência (depoimento) tem a mesma veracidade do laudo.
Substituição do perito
Antes ou durante a perícia judicial pode ocorrer a substituição do perito. O juiz pode substituí-lo a seu critérios ou obedecendo ordem do Ministério Público.
A falta de conhecimento técnico e científico desabilita a pessoa para o serviço, pessoas que ainda estão em formação ou não tem conhecimento sobre a área sem propriedade precisa, não estão aptos. 
Outro fato que acarreta substituição é o profissional que apresenta incapacidade para a função, não sendo útil ao caso. É imprescindível que o laudo tenha dados suficientes para uma exposição clara e adequada para avaliação do juiz.
Uma perícia elaborada com desatenção às regras processuais ou quando o perito deixa de cumprir o prazo estipulado pelo juiz, também são fatos que geram remanejamento.
Perícia por carta
Nem sempre os atos processuais acontecem onde ocorreu a ação, principalmente quando se trata de pessoas residentes em diferentes cidades. Diante disso, o juiz pode solicitar a perícia via carta precatoria. Onde o perito vai fazer seu estudo e mandar seu laudo via carta.
Esclarecimento em audiência
As vezes faz-se necessário prestar esclarecimentos sobre o laudo feito pela perícia, devendo os interessados formularem perguntas para os peritos e técnicos responsáveis pelo parecer, os mesmos podem tomar conhecimento dessas questões antes da audiência. Entendendo que essas respostas colhidas têm importância igual ao laudo que foi entregue anteriormente. 
Importância da Perícia Judicial
Entendemos que um processo judicial ocorre com uma sequência de documentos denominados “peças processuais”, documentos que são analisados pelo juiz que profere a sentença. O juiz deve ler todas as peças do processo, não deve sustentar suas decisões sobre uma única prova, podendo se dizer que o veredicto é fruto do somatório de tudo. 
A prova pericial, apesar de ser feita por um especialista capacitado e de confiança do juiz, não deve ser determinante na decisão do mesmo. Apesar disso, nada impede que o juiz o tenha como principal fundamento de sua convicção. 
A nova perícia e a segunda perícia
Segundo Pizzol é caso haja um desentendimento ou insuficiência de provas já apuradas para ser contemplada. É um.procedimento normal, lembrando que essa nova perícia, segundo o artigo 438 do código de processo Civil não desconsidera as provas iniciais e, sim uma maneira de complementar os recursos de dados, a qual o juiz irá avaliar a primeira e segunda remessa de provas para que não haja substituição.
Impedimento e suspeição
No campo jurídico, impedimento possui um significado de limitar a liberdade de ação no processo jurídico. Enquanto suspeição é o sinônimo de suspeita é dúvida. A utilização dessas ferramentas são em casos, a qual uma interferência na imparcialidade durante o processo jurídico e isso prejudique a neutralidade e cause constrangimento, abusos no serviço jurídico. Isso pode se encaixa, por exemplo, em casos de parentalidade próximo ou colateral de até segundo grau. 
Se houver alguma ligação do juiz com alguma das partes e comprovada pode ter a suspeição do juiz . Segundo Pizzol, no caso de impedimento tem uma perspectiva objetiva, ou seja, possui uma ação mais direta de bloqueio, porque está atrelado ao sistema processual.Já nos casos de suspeição passa pela barreira subjetiva porque necessita de um arcabouço de provas mais diretivas para que ocorra o afastamento de qualquer servidor do ministério público.No entanto, o perito está coberto pelo artigo 146 e 138do código penal Civil para que tenha uma isenção no processo judicial.
Citações
“...na atividade de perito judicial, não basta estar-se atento somente aos conhecimentos profissionais, é preciso ter atenção também às regras processuais.” (p. 31)
“...Vendrame (1997, p. 209) esclarece: “Quesito são perguntas escritas e articuladas relativas aos fatos a serem periciados, formuladas ao perito e aos assistentes técnicos .” (p. 33)
“Considera-se importante destacar que o perito não deve ficar adstrito aos quesitos formulados. Principalmente em se tratando de perícia psicológica e social, em que podem surgir fatos novos, o profissional pode e deve levar aos autos tudo o que considerar interessante e que possa contribuir para um julgamento mais adequado.” (p. 33)
 “ … O profissional deve atuar com devido zelo independentemente de que o processo esteja tramitando ou não em sua comarca….” (p. 37) 
" a prova pericial tem por objetivo esclarecer os fatos a ótica técnico-profissional e é dirigida ao juiz, ainda que as partes tenham interesse e sobre ela possam se manifestar" (pg.39)
“Aquino considera (1987) “ A perícia judicial é instrumento trazido ao processo para revelar ao juiz a verdade de um fato, ou em outras palavras, elemento que direta ou indiretamente pode justificar os fatos que se investigam; elemento através do qual se adquire o conhecimento de um objeto de prova.” (p.28)
“Greco Filho(2003) aponta que a parte pode juntar pareceres técnicos extrajudiciais, mas estas peças não pertencem a perícia, nem são perícia. São apenas para encaminhar o pensamento do juiz”
Comentário
O texto apresenta de maneira detalhada e elaborada como se dá a estrutura da perícia de modo geral, em termos judiciais e todos os seus aspectos. O que facilita o entendimento do todo e de como funciona a engrenagem, para assim esclarecer como e em que termos se dá a atuação desse psicólogo no âmbito judicial. É um texto denso, que utiliza palavras não usuais para nós. Apesar do autor se dedicar e ser bastante específico, não foi tarefa conseguir assimilar como um todo.
Referência
DAL PIZZOL, Alcebir. Perícia psicológica e social na esfera judicial: aspectos legais e processuais. Psicologia jurídica: perspectivas teóricas e processos de intervenção, p. 23-44, 2009.

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