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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL - UEMS CURSO DE DIREITO JEFERSON CÁSSIO DIAS DIREITO DO TRABALHO GREVE PARANAÍBA 2018 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por finalidade apresentar um dos diversos direitos trabalhistas existentes no ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, o assunto a ser analisado diz respeito ao instituto da greve. Desse modo, serão analisados alguns conceitos doutrinários e legais, bem como analisar a evolução histórica, entre outras características. ASPECTOS HISTÓRICOS De acordo com Carla Teresa Martins (2018, p.977), o Brasil considerou vários aspectos em relação à legalidade da greve ao longo da história do direito do trabalho na legislação brasileira, sendo assim, a doutrinadora acima mencionada, pontua três fases da greve: a primeira se dá pela greve ser considerada uma delito, nesse sentido, se acaso alguma pessoa realizasse a greve, esta seria punida, tanto na área penal quanto na área trabalhista; o segundo aspecto é considerado algo lícito, prevendo sanções apenas trabalhistas para aqueles que aderissem à greve; e, por fim, tem-se aquela que é utilizada no atual ordenamento jurídico, qual seja, o direito à greve sendo que, aqueles que a praticarem, não serão punidos, desde que a fizerem de acordo com o regulamentado em lei. A greve foi aceita no ordenamento jurídico brasileiro apenas na Constituição Federal de 1946. No entanto, vale ressaltar que, nos períodos antecedentes a essa data, ela passou por diversas mudanças, sendo que, em 1900, ela foi considerada uma liberdade para os trabalhadores, sendo que não havia nenhuma restrição quanto ao exercício da greve. Posteriormente, em 1947, houve um retrocesso com relação aos direitos trabalhistas e ela foi considerada um recurso nocivo ao interesse social e prejudicial à economia (TEREZA, 2018, P. 977). Por fim, a CF de 67 reafirmou o direito à greve e trouxe algumas limitações com relação ao seu uso. Direitos estes que estão garantidos até hoje na atual Constituição Federal. 2 CONCEITO DOUTRINÁRIO De acordo com Carla Tereza (2018 p.977), “Entende-se por greve a paralisação temporária de trabalho, decidida por uma coletividade de trabalhadores, motivada por um conflito e com a finalidade de pressionar o empregador na defesa de seus interesses”. Outro conceito sobre a greve por Maurício Godinho (2017, p.1617) [...] “Seria a paralisação coletiva provisória, parcial ou total, das atividades dos trabalhadores em face de seus empregadores ou tomadores de serviços, com o objetivo de exercer-lhes pressão, visando à defesa ou conquista de interesses coletivos, ou com objetivos sociais mais amplos.” Pode-se observar, diante dos conceitos apresentados, que há uma nítida semelhança entre eles. Em ambos os conceitos falam sobre a paralisação dos trabalhos exercidos pelos empregados com o objetivo de requerer alguns direitos, ou seja, defender seus interesses. CONCEITO E AMPARO LEGAL A constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, traz em seu art. 9º e seus parágrafos a possibilidade de se fazer greve e suas consequências para os trabalhadores. Nesse sentido, assim dispõe o referido artigo: “É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.” No entanto, seus parágrafos trazem alguns detalhes que merecem ser observados, a fim de garantir a licitude do referido instituto. Desse modo, o parágrafo primeiro fala sobre os serviços essenciais da sociedade, os quais não podem ser totalmente paralisados, e o parágrafo segundo limita a atividade de greve, falando que, caso haja algum abuso, os excedentes serão devidamente responsabilizados. Com relação às atividades essenciais que dispõe o § 2 do art. 9º, da Constituição Federal, a Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, que dispõe sobre o exercício do direito à greve, entre outros, traz um rol de artigos que regulam todos os assuntos relacionados ao instituto. Desse modo, o art 10º da referida Lei, define quais são as atividades consideradas essenciais: 3 Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI compensação bancária. Após a análise dos serviços considerados essenciais, observa-se que todos os serviços acima mencionados dizem respeito às questões de sobrevivência e saúde pública. QUEM PODE ADERIR À GREVE Como o direito à greve é um direito trabalhista, obviamente que esse direito é exclusivo dos trabalhadores celetistas. Na verdade não, a Constituição Federal garante também aos servidores públicos da Administração direta e indireta a realização da greve. Para regulamentar essa questão o art. 37, inciso VII, dispõe que o direito à greve será exercido pelos termos da legislação específica. No entanto, não há uma legislação específica para regular esse assunto. Sendo assim, o STF decidiu que a Lei da greve é utilizada como parâmetro para amparar e legitimar o servidor público a fazer tal manifestação. Por outro lado, esse entendimento do STF não se aplica aos militares das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e nem aos policiais e bombeiros militares dos estados e do Distrito Federal, conforme dispõe os arts. 142, IV, CF e 42, § 1º, CF, respectivamente. 4 REQUISITOS, DIREITOS E DEVERES DOS GREVISTAS. De acordo com a legislação específica alguns requisitos são necessários para dar início a uma greve. Nesse sentido, segundo Maurício Godinho, são quatro os requisitos a serem considerados: o primeiro requisito diz respeito à uma tentativa de negociação anterior, obviamente que, se essa negociação for frustrada dará continuidade à realização da greve; o segundo requisito é a aprovação da assembleia dos trabalhadores, onde serão respeitados o estatuto de cada uma; o terceiro requisito é o aviso prévio ao empregador de no mínimo 48 horas paras as atividades comuns, e para as atividades essenciais, esse aviso se dará com antecedência mínima de 72 horas, onde deverão avisar, também, além dos empregadores, toda a comunidade; por fim, o quarto e último requisito é exatamente cumprir o dever de respeitar as atividades de caráter essenciais previstos na legislação. Com relação aos direitos dos grevistas os artigos 6º e 7º, da Lei da greve, traz um imenso rol de direitos aos aderentes da greve: Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos: I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à greve; II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento. § 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem. § 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento. § 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa. Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14. Por outro lado, não é só dedireitos que a mencionada Lei dispõe, ela indica também quais são os deveres que os grevistas devem observar para que a sua manifestação coletiva seja válida. Para melhor entender esses detalhes, o Doutrinador Maurício Godinho (2017, p.1631, ) indica quais são os deveres acima mencionados: 5 Os deveres dos trabalhadores grevistas já podem ser inferidos pelas próprias limitações que a ordem jurídica fixou para os movimentos paredistas. Sinteticamente, seriam eles: assegurar a prestação de serviços indispensáveis às necessidades inadiáveis da comunidade, quando realizando greve em serviços ou atividades essenciais (acrescendo-se que o Poder Público poderá suprir tal atendimento); organizar equipes para manutenção de serviços cuja paralisação provoque prejuízos irreparáveis ou que sejam essenciais à posterior retomada de atividades pela empresa; não fazer greve após celebração de convenção ou acordo coletivos ou decisão judicial relativa ao movimento (respeitada a ocorrência de fatores que se englobam na chamada cláusula rebus sic stantibus); respeitar direitos fundamentais de outrem; não produzir atos de violência, quer se trate de depredação de bens, quer sejam ofensas físicas ou morais a alguém. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, além de tudo que foi exposto neste trabalho sobre o instituto da greve, existem diversos conceitos doutrinários, os quais não foram aqui expostos para que este trabalho não ficasse tão extenso. No entanto, com base no conteúdo demonstrado, acredita-se que o objetivo tenha sido alcançado, o qual seja, a apresentação do instituto da greve, bem como seus conceitos doutrinários e legais. Por fim, vale considerar que, o caminho percorrido por este instituto ao longo dos anos foi difícil, porém, com a CF/88, definitivamente se concretizou como direito trabalhista. 6 REFERÊNCIAS BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, DE 05 Out. 1988. Planalto, 1988. BRASIL, LEI Nº 7.783, DE 28 DE JUNHO DE 1989. Dispõe sobre o exercício de greve. Planalto, 1989. DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 16. ed. revisto e ampliado.São Paulo: Editora LTR, 2017. ROMAR, Carla Teresa Martins. Direito do trabalho / Carla Teresa Martins Romar ; coordenador Pedro Lenza. – 5. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.
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