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LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 1 | P á g i n a Sumário Introdução ........................................................................................Erro! Indicador não definido. Aula 01 – Introdução ao Direito Processual. ............................................................................ 2 1. Introdução ........................................................................................................................... 2 2. Aplicação da Lei Processual Penal ..................................................................................... 4 3. Interpretação Extensiva e Aplicação Analógica da Lei Processual Penal .......................... 5 Exercícios ................................................................................................................................ 15 Aula 02 – Busca e Apreensão. .................................................................................................. 17 2. Espécies de Busca .............................................................................................................. 18 Exercícios ................................................................................................................................ 24 Aula 03 – Prisão. ........................................................................................................................ 27 1. Casos de Prisão. ................................................................................................................ 27 Aula 04 – Prisão (Continuação). .............................................................................................. 33 1. Direitos e Garantias do Preso ............................................................................................ 34 2. Prisão de Magistrados e Membros do Ministério Público ................................................ 34 3. Cabimento do Habeas Corpus ........................................................................................... 40 Aula 05 – Provas. ....................................................................................................................... 44 1. Legalidade Das Provas ...................................................................................................... 44 2. Cadeia de Custódia das Provas ......................................................................................... 45 Aula 06 – Lei Nº 9.099/95 – Juizados Especiais Criminais .................................................... 50 Exercícios ................................................................................................................................ 51 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 54 file:///G:/SSEVP-Comum/Superintendência%20de%20Educação/2016/5_COORD_FORMAÇÃO/ATUALIZAÇÃO%20CURRICULAR/PMERJ/CFSD/Material%20Diagramado/LEG%20PROC%20PENAL%20COMUM%20-%20VANIA%20-%20ATUALIZADO.docx%23_Toc451181197 file:///G:/SSEVP-Comum/Superintendência%20de%20Educação/2016/5_COORD_FORMAÇÃO/ATUALIZAÇÃO%20CURRICULAR/PMERJ/CFSD/Material%20Diagramado/LEG%20PROC%20PENAL%20COMUM%20-%20VANIA%20-%20ATUALIZADO.docx%23_Toc451181201 file:///G:/SSEVP-Comum/Superintendência%20de%20Educação/2016/5_COORD_FORMAÇÃO/ATUALIZAÇÃO%20CURRICULAR/PMERJ/CFSD/Material%20Diagramado/LEG%20PROC%20PENAL%20COMUM%20-%20VANIA%20-%20ATUALIZADO.docx%23_Toc451181212 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 2 | P á g i n a Aula 01 – Introdução ao Direito Processual. 1. Introdução O ser humano é social e, portanto, não pode viver senão em sociedade. Sabe-se que desde os primórdios da humanidade existem agrupamentos sociais. Para a harmônica convivência dos integrantes de determinado grupo, é necessária a imposição de normas de conduta. Com a evolução das sociedades, o controle das relações sociais passou a ser formalmente exercido pelo Direito. Assim, as normas jurídicas surgem para regular a relação entre os integrantes de uma sociedade e também as relações entre os indivíduos e o próprio Estado. Aquele que desrespeita uma norma de conduta está sujeito à sanção estatal. Existem normas, contudo, que dizem respeito ao interesse de toda a coletividade, ou seja, à ordem social. Um homicídio, por exemplo, intranquiliza a sociedade. Logo, por seu alcance, não poderia tal ilícito ficar unicamente na esfera de interesse do autor do fato e da vítima, ao contrário do que ocorre com um acidente de automóveis, onde ocorra somente dano material. Neste A garantia do processo penal Uma das garantias mais importantes que nos foram legadas pelas declarações universais dos direitos é, inegavelmente, a do devido processo legal para imposição de penas criminais. O sistema constitucional brasileiro não só estabelece tal garantia, mas também a cerca de requisitos básicos importantíssimos, como a ampla defesa e o contraditório. A ordem jurídica atribui ao indivíduo à liberdade de agir, de modo que só em virtude de lei alguém poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. As restrições da liberdade decorrentes de sanção penal, além da prévia cominação da pena e da descrição típica do delito, há necessidade de que seja a pessoa submetida ao devido processo legal. (Greco Filho, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2010, fls. 41/42). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 3 | P á g i n a caso, apenas os dois envolvidos possuem interesses na lide. Os bens cuja proteção importa a toda a coletividade recebem a tutela do Estado, o que significa ter como reação à sua violação a mais grave das sanções, que e a pena – podendo ser privativa de liberdade -. Desta forma, quando um ilícito penal é praticado, surge para o Estado o direito de punir – jus puniendi - o autor do ilícito. Cometido o crime e surgido o jus puniendi para o Estado, nasce uma relação jurídica de direito penal, isto é, de um lado, o órgão estatal investido do poder de punir – Estado - juiz – e do outro, aquele sobre quem recai a imputação de haver infringido a lei. 1.1 Conflitos de Interesses Instaura-se, deste modo, um conflito de interesses entre o Estado e o indivíduo - ou, em casos excepcionais, a pessoa jurídica (Lei nº 9.605/98). Trata-se de conflito entre o direito de punir e o direito de liberdade da pessoa - jus libertatis. É certo que nas infrações penais de maior potencial ofensivo o direito penal se utiliza da privação de liberdade como sanção. Ao interesse de o Estado impor a sanção penal denominou pretensão punitiva. No instante em que uma parte se opõe à pretensão punitiva estatal, gera a lide penal. Francesco Carnelluti (2015) ensina que: lide “é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida e insatisfeita.” Já Fernando da Costa Tourinho Filho esclarece que ocorre a lide, quando o sujeito de um dos interesses em conflito encontra resistência do sujeito do outro interesse. (Manual de Processo Penal, São Paulo: Saraiva, 2009, pág. 2). Tal conflito de interesses não pode permanecer sem solução. De fato, de nada adiantaria o Direito estabelecer regras de conduta para a melhor convivência entre as pessoas se um conflito permanecesse sem solução; a ordem social estaria comprometida do mesmo modo. É preciso, então, utilizar-se de mecanismo dotado de regras e garantias destinadas aos sujeitos nele envolvidos. O instrumento estatal destinado a solucionar a lide penal é o Processo Penal. Tourinho Filho, citando José Frederico Marques, conceitua Processo Penal como sendo o "conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação jurisdicional do Direito Penal objetivo, a sistematização dos órgãos de jurisdição e respectivos auxiliares, bem como da persecução penal" (Manual de Processo Penal, São Paulo: Saraiva, Processo Penal, 2009, pág. 13). LEGISLAÇÃOPROCESSUAL PENAL COMUM 4 | P á g i n a 2. Aplicação da Lei Processual Penal 2.1 Lei Processual Penal no Espaço Em conformidade com o Art 1° do Código de Processo Penal - CPP (Decreto- Lei n o 3.689, de 3 de outubro de 1941), os processos em regra serão regidos pelo próprio Código - sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional -, exceto se houver lei especial regulando a matéria. Nestes termos, a lei processual penal brasileira só vale dentro dos limites territoriais brasileiros. Se o processo tiver tramitação no estrangeiro, ficará sujeito às leis processuais do respectivo país. Se o crime, apesar de cometido no exterior, desenrola-se no Brasil, é a lei processual brasileira que o regula. Devemos recordar que o Brasil se submete ao Tribunal Penal Internacional - DPI, criado pelo Estatuto de Roma em 1998. Sua incorporação se deu por meio do Decreto n. 4388/02, havendo disposição expressa também no Art 5°, § 4°, da Constituição Federal, sem que isto configure conflito jurisdicional, levando-se em conta que não se trata de jurisdição estrangeira, e sim de jurisdição internacional, à qual todos os signatários se submetem. Além disto, o TPI tem caráter subsidiário à jurisdição interna de um país, isto é, nos casos dos crimes de sua competência só deverá agir se o Estado-membro "não teve vontade" ou foi incapaz de levar adiante inquérito ou procedimento. São crimes da competência do TPI: genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra etc. 2.2 A Lei Processual Penal no Tempo A lei processual penal adotou o princípio da aplicação imediata das normas processuais - tempus regit actum - sem efeito retroativo, conforme inteligência do Art 2° do CPP: "A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo dos atos rea- lizados sob a vigência da lei anterior". Diante disto, a lei processual penal que entra em vigor passa a reger os atos processuais a partir de então. Os atos praticados sob a égide da lei anterior são considerados válidos. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 5 | P á g i n a 3. Interpretação Extensiva e Aplicação Analógica da Lei Processual Penal O Art 3° do CPP prevê que "a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito". Assim, dentre as várias formas de interpretar a lei, o processo penal autoriza expressamente a interpretação extensiva, isto é, ampliando o alcance da lei, extraindo-se de sua análise que o dispositivo disse menos do que pretendeu o legislador. Exemplo: onde se lê "réu", no Código, pode-se ler "indiciado". Da mesma forma, autoriza a aplicação analógica, que "significa o emprego da analogia, que é a aplicação da lei a casos semelhantes por ela regulados" (DAMÁSIO, 2007, pág. 04). 3.1 Prazo na Lei Processual Penal A contagem dos prazos processuais - ao contrário dos prazos penais -, não se computa o dia do começo e inclui-se o do final, nos termos do Art 798, § 1°, do CPP. Assim, se a parte for intimada em determinado dia para conhecimento de uma decisão, seu prazo somente começará a correr no dia seguinte, a menos que não haja expediente forense. Confira Súmula 310 do STF: "Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir". Caso o término do prazo ocorra no domingo ou feriado, será prorrogado até o dia útil imediato - Art 798, § 3°, do CPP -. Os prazos processuais passam a correr: - Art 798, § 5°, do CPP: a. Da intimação; b. Da audiência ou sessão de julgamento em que for proferida a decisão, estando presente a parte; c. Do dia em que a parte manifestar, nos autos, ciência da sentença ou despacho. Sobre prazo, a Súmula 710 do STF define: "No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem". 4. Princípios (Segundo Tourinho Filho, 2009). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 6 | P á g i n a Os princípios são enunciados que orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Podem ser explícitos, isto é, estampados em norma legal, ou implícitos, ou seja, extraídos da interpretação que se faz do conjunto de normas. No Brasil, tendo em vista a importância do bem jurídico em questão na discussão de uma causa penal - via de regra, a liberdade -, boa parte dos princípios informadores do processo penal está disposta na Constituição da República, entre os direitos e garantias individuais. A maioria deles, por seu turno, é repercussão da adesão do Brasil à Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, ratificada pelo País em 25 de setembro de 1992 e promulgada por meio do Decreto n. 678, de 6 de novembro de 1992. Não bastasse a inspiração, a própria Convenção pode vir a ganhar status de emenda constitucional se aprovada em cada Casa do Congresso, em dois turnos, por 3/5 dos votos, nos termos da redação do Art 5°, § 3°, da Constituição da República, acrescido pela Emenda Constitucional n. 45/2004. Vejamos quais são os mais importantes princípios informadores de nosso processo penal: 4.1 Princípio do Devido Processo Legal - CF, Art 5°, LIV. Estabelece a Constituição da República que "ninguém será privado de sua liberdade sem o devido processo legal". É a garantia de que só será considerada legítima a condenação de alguém se o processo for desenvolvido na forma que estabelece a lei, ou seja, observando-se as regras e os princípios processuais. É a consagração da impossibilidade de o Estado impor uma sanção a alguém, direta e arbitrariamente, tão logo tome conhecimento da prática de uma infração penal. Em relação ao Processo Penal, exige-se maior rigor na observância de formas legais, uma vez que ele é informado por inúmeras garantias constitucionais. Observar o devido processo legal é assegurar as garantias constitucionais das partes. Pode-se dizer que o devido processual legal também importa diretamente à sociedade, pois a eventual condenação com desrespeito às normas vigentes poderá vir a ser desconstituída, confrontando o interesse social, que é o da repressão do delito. Na realidade, o princípio em foco é a verdadeira reunião da observância de todos os demais aplicáveis ao processo penal. A propósito, indicando a incidência de regras LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 7 | P á g i n a processuais especificamente do campo penal, Tucci (2003) menciona a existência do devido processo penal, com as seguintes garantias: a. De acesso à Justiça Penal; b. Do juiz natural em matéria penal; c. De tratamento paritário dos sujeitos parciais do processo penal; d. Da plenitude de defesa do indiciado, acusado ou condenado, com todos os meios e recursos a ela inerentes; e. Da publicidade dos atos processuais penais; f. Da motivação dos atos decisórios penais; g. Da fixação de prazo razoável de duração do processo penal, e; h. Da legalidade da execução penal. 4.2 Princípio da Ampla Defesa - CF, Art 5°, LV. Consiste em o Estado proporcionar ao acusado todos os meios lícitos para se defender da imputação que lhe é dirigida. Em outras palavras, tudo o que não for contrário à lei pode ser utilizado, com o amparo estatal, pelo acusado para a promoção de sua defesa. A ampla defesa se perfaz pelo desdobramento de duas modalidades de defesa: a autodefesa - a pessoal - e a defesa técnica - por defensor. Não se pode olvidar que faz parte também da ampla defesa assegurar ao acusado hipossuficiente a assistência judiciária gratuita (Art 5°, LXXIV, da CF/88). A autodefesa se realiza notadamente no interrogatório,ato em que o acusado é ouvido a respeito da imputação que lhe é dirigida, mas se perfaz também com a participação na colheita da prova, precipuamente na participação em audiência. A defesa técnica é aquela exercida por profissional habilitado, ou seja, o advogado. Pode este ser constituído, ou seja, escolhido e nomeado pelo acusado, ou dativo, nomeado pelo juiz. A defesa técnica só atenderá ao princípio da ampla defesa se for eficiente. A respeito, a Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal - STF: "No processo penal, a falta de defesa consiste em nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prejuízo para o réu". Lembre-se de que a nomeação de defensor dativo ao acusado antes que ele possa constituir um de sua confiança fere o princípio em questão. A nomeação pelo juízo é sempre subsidiária. Cumpre ressaltar que no Júri, nos termos da Constituição da República/88, Art 5°, XXXVIII, vigora a plenitude de defesa, que alguns entendem ser ainda maior do que a LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 8 | P á g i n a ampla defesa garantida nos processos penais comuns, como será visto quando da análise do rito para apuração dos crimes dolosos contra a vida. 4.3 Princípio do Contraditório – CF, Art 5°, LV. O princípio basilar da sistemática processual estabelece que as partes devam ser ouvidas e ter oportunidade de se manifestar emigualdade de condições. O processo só atingirá seus fins se houver equilíbrio entre as partes. É conhecida a expressão "paridade de armas", pela qual alguns autores se referem ao contraditório. Ela condensa a ideia de que, no processo, as partes devem ter as mesmas oportunidades, não devendo uma ser mais "municiada" do que a outra. É o tratamento paritário dos sujeitos parciais da relação jurídica processual. O contraditório é essencial ao processo, porém dispensado no inquérito policial. Por essa razão, não se pode condenar um acusado baseando-se exclusivamente em provas colhidas na peça informativa. 4.4 Princípio da Presunção de Inocência- CF, Art 5°, LVII. Na redação constitucional, "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória". É também chamado de princípio da presunção de não culpabilidade, pois a Constituição da República não presume a inocência, mas diz que o sujeito não é considerado culpado, ou, ainda, de princípio do estado de inocência, uma vez que indica o estado jurídico do acusadodurante o processo. Diante da presunção de inocência e do enfoque constitucional que merece o processo penal, a prisão cautelar passou a ser medida de exceção em nosso sistema processual, ou seja, ela só deve ser imposta em caso de comprovada necessidade, como medida cautelar que é. Na mesma esteira, se o réu é presumidamente inocente, só poderá advir condenação se o julgador tiver plena convicção de sua culpa, bastando para a absolvição à dúvida. Se não foi possível afastar a presunção, deve-se absolver. Da mesma forma deve ser feita a valoração das provas: na dúvida, decide-se em favor do réu (princípio do favor rei, corolário da presunção de inocência). 4.5 Princípio da Verdade Real LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 9 | P á g i n a No processo penal, deve-se buscar recriar os fatos como se passaram na realidade, não devendo o juiz se conformar com a eventual verdade formal criada nos autos. Ainda que se saiba que tal tarefa é um tanto quanto difícil no caso concreto, deve-se buscar aproximar-se o quanto possível da realidade dos fatos. É a busca da "verdade verdadeira". Difere do processo civil, no qual vigora averdade formal, pois neste, para aplicar o direito, via de regra, basta ao juiz conformar-se com a verdade trazida aos autos; não há necessidade de buscar a verdade real. Tal princípio, contudo, comporta algumas exceções no processo penal, a saber: a. Impossibilidade de apresentar documentos no Plenário do Júri, sem ter dado ciência à outra parte, no mínimo, três dias antes (Art 479 do CPP); b. Impossibilidade de revisão criminal em favor da sociedade (Art 621 do CPP); c. Inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos (Art 5°, LVI, da CF); d. Transação penal (Art 76 da Lei n. 9.099/95); e extinção de punibilidade (Art 107 do CP). 4.6 Princípio do Juiz Natural – CF, Art 5°, LIII. Estabelece o princípio do juiz natural que o autor de uma infração penal só poderá ser processado e julgado perante o órgão jurisdicional competente, conforme previsão da Constituição Federal, ou seja, juiz natural é aquele conhecido anteriormente ao fato acontecer. Daí decorre que não haverá tribunal nem juízo de exceção (Art 5°, XXXVII, da CF/88), isto é, aquele criado para julgar fatos determinados, praticados anteriormente à sua existência, como ocorreu com o Tribunal de Nuremberg, na Alemanha, criado para julgar os crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, e, mais recentemente, com os tribunais de exceção na ex-Iugoslávia e em Ruanda. A título de ilustração, é válido lembrar que o Tribunal Penal Internacional consistiu na tentativa de acabar com os tribunais de exceção pelo mundo, buscando concentrar o julgamento de determinados crimes, basicamente quando o país envolvido não desenvolve o regular processo para sua apuração. Cumpre lembrar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal tem adotado, em suas decisões, o princípio do promotor natural, que segue o mesmo raciocínio do juiz natural, isto é, pelas regras de atribuição de funções, o membro do Ministério Público já deve LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 10 | P á g i n a ser previamente conhecido e não ser designado para um fato específico, após sua ocorrência. 4.7 Princípio da Motivação das Decisões- CF, Art 93, IX. As decisões judiciais precisam sempre ser motivadas para garantir as partes contra o arbítrio do julgador, que deve, assim, expor os motivos pelos quais decidiu de tal forma, ou seja, "por que" decidiu em determinado sentido. Tal princípio encontra grande exceção em nosso sistema processual no que diz respeito à decisão proferida pelos jurados, integrantes do Conselho de Sentença, no Tribunal do Júri. Os jurados decidem por íntima convicção, sendo impedidos de mani- festar as razões que os levaram a adotar um ou outro caminho na decisão da causa. 4.8 Princípio da Publicidade – CF, Arts. 5°, LX E 93, IX. Princípio que determina que os atos judiciais devam ser públicos, afastando, via de regra, o sigilo, que caracteriza os procedimentos inquisitivos. Tal princípio é verdadeiro instrumento de controle social, pois com a publicidade dos atos a sociedade se garante contra eventual arbítrio do julgador. A regra é que a publicidade seja ampla, porém comporta exceções. Ela será restrita nos casos em que a defesa da intimidade e o interesse social exigirem. Neste caso, a publicidade dar-se-á somente em relação às partes e aos seus procuradores ou somente em relação a estes. 4.9 Princípio da Duração Razoável do Processo – CF, Art 5°, LXXVIII. Presente na Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi adotado explicitamente pela Constituição da República, após a edição da Emenda Constitucional n. 45/2004. Estabelece que o Estado deve garantir a celeridade necessária para que o processo termine em "prazo razoável", ou seja, no tempo adequado para atingir a sua finalidade, sem constrangimentos inúteis. Especial atenção deve ser dada ao processo em que o réu esteja preso cautelarmente, evitando que perdure por longo tempo, pois, neste caso, além do natural constrangimento por responder a processo criminal por longo período, a liberdade cerceada pode trazer sérias consequências para o indivíduo, mormente se vier a ser absolvido. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 11 | P á g i n a 4.10 Princípio da Identidade Física do Juiz- CPP, Art 399, § 2°. Antes presente no processo penal apenasa título de exceção - no julgamento pelo Conselho de Sentença, no Júri - o princípio da identidade física do juiz surge como regra através da nova redação dada ao Art 399 e parágrafos, do Código de Processo Penal, pela Lei n. 11.719/2008. Estabelece que o magistrado que presidiu a instrução criminal é quem deve julgar o processo, ou seja, o juiz que tomou contato com a produção da prova é quem vai decidir a causa. 5. Ação Penal 5.1 Conceito É o direito de pedir a tutela jurisdicional representada pela aplicação da lei penal ao caso concreto. Ensinam Alexandre Cebrian A. Reis e Victor Eduardo R. Gonçalves, que AÇÃO PENAL é o procedimento judicial iniciado pelo titular da ação quando há indícios de autoria e materialidade a fim de que o juiz declare procedente a pretensão punitiva estatal e condene o autor da infração penal. Durante o transcorrer da ação penal será assegurado ao acusado pleno direito de defesa, além de outras garantias como a estrita observância do procedimento previsto em lei, de só ser julgado pelo juiz competente, de ter assegurado o contraditório e o duplo grau de jurisdição etc. (Direito Processual Penal Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2012, pág. 71). 5.2 Finalidade Através da ação penal o Estado exercita o direito de punirem face do agente da infração penal. O Estado, detentor do direito de punir (jus puniendi), concede o direito exclusivo da iniciativa da ação penal ao Ministério Público (129, I, da CF e Art 24 do CPP) ou à vítima (Art 30 do CPP), dependendo do tipo de delito cometido. Desta forma, para cada crime previsto na lei, o legislador estabeleceu previamente uma espécie de ação penal, ou seja, de iniciativa pública ou de iniciativa privada. Fundamento legal LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 12 | P á g i n a A Ação Penal tem previsão legal no Código Penal/CP, Art 100, Código de Processo Penal/CPP, arts. 24 a 62 e na Constituição Federal- CF, Art 5°, XXXV e LIX. 5.3 Classificação A ação penal pode ser pública ou privada, conforme a iniciativa. Pública = Promovida pelo MP (denúncia). Privada = Iniciada pelo ofendido (queixa). A ação penal públicadivide-se em incondicionada = a atuação do Ministério Público não está sujeita a nenhum tipo de condição -, e condicionada = o MP só pode agir se houver representação da vítima (exemplos Arts. 130, § 2º, 147, parágrafo único, etc., do CP) ou requisição do Ministro da Justiça (exemplo: Art 141, I, do CP - confira Art 145, parágrafo único do mesmo diploma legal). Na ação penal pública condicionada a titularidade é do Ministério Público que, todavia, só pode oferecer a denúncia se estiver no caso concreto à representação da vítima ou a requisição do Ministro da Justiça que contituem, assim, condições de procedibilidade. Na ação penal pública condicionada, o ofendido (ou seus sucessores = CPP, Art 24, § 1°), tem o prazo de seis meses, a contar da data em que souber quem é o autor do crime - Art 38, CPP -, para oferecer representação. Se não agir nesse período, ocorrerá a decadência = perda do direito de ação - e, consequentemente, provocará a extinção da punibilidade do autor do delito = CP, Art 107, IV. Por ser regra no processo penal, no silêncio da lei, a ação será pública incondicionada. Importante salientar que nos crimes em que se procede mediante ação penal pública, havendo indícios de autoria e materialidade colhidos durante as investigações, o oferecimento da DENÚNCIA - pelo MP - é obrigatório. Ação Penal Privada é aquela em que a iniciativa da propositura da ação é conferida à vítima. É certo que a peça inicial da ação se chama QUEIXA. Confira Art 145 1ª parte do CP “Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, [...]”. A ação penal privada divide-se em: Exclusiva = A iniciativa da ação penal é da vítima. Se a vítima for criança, adolescente ou incapaz, a ação poderá ser proposta pelo representante legal. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 13 | P á g i n a Na hipótese de morte da vítima, a ação poderá ser proposta por seus sucessores (cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão - Art 31 do CPP). Se a vítima morrer quando a ação já estiver em andamento, estes (sucessores) poderão prosseguir com a ação. A ação privada deve ser intentada no prazo de seis meses, a contar da data em que o oendido souber quem é o autor da infração penal - Art 38, CPP. Se nada for feito, ocorrerá a decadência = perda do direito de ação e extinção da punibilidade do autor do crime. Personalíssima = A ação só pode ser proposta pela vítima. No caso de morte da vítima a ação NÃO PODERÁ ser proposta pelos sucessores. Se já estiver sido proposta ação, esta será extinta na data do falecimento da vítima.(Confira Art 236, parágrafo único do CP). Subsidiária da pública = Nos casos em que a ação penal seja de iniciativa pública e o Estado, através do Ministério Público, não intenta a ação penal no prazo legal (cinco dias, em caso de indiciado preso e quinze dias, se estiver solto ou afiançado, conforme Art. 46, CPP), o ofendido ou seu representante legal poderão subsidiariamente, ajuizá- la. (Confira Art. 5º, LIX, da CF; Art. 29, do CPP e Art. 100, § 3º, do CP). A existência da ação penal privada susidiária da pública constitui garantia constituicional do ofendido contra possível desídia ou arbitrairedade do Estado (representado pelo MP). Esta deve ser ajuizada no prazo máximo de seis meses (Art. 38, parte final, CPP); se não o fizer, cabe apenas ao MP promovê-la, desde que a punibilidade não esteja extinta pelo decurso do prazo prescricional (Art. 109 do CP). 5.4 Condições Gerais da Ação Possibilidade jurídica do pedido Para que o pedido seja juridicamente possível é preciso ser endereçado ao juízo solicitando a condenação do réu a uma pena ou, se inimputável, a imposição de uma medida de segurança. É necessário que o fato descrito na denúncia ou na queixa seja típico, ou seja, que a conduta do agente se amolde a um tipo penal (crime ou contravenção) qualquer. Legitimidade para agir (Legitimatio ad causam) LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 14 | P á g i n a Para haver legitimidade para agir, se a ação for pública, só pode ser proposta pelo Ministério Público e, caso seja, de iniciativa privada, deverá ser proposta pelo ofendido ou seu representante legal. Interesse de agir (Interesse processual) No processo, para que a ação penal seja admitida é preciso que existam indícios suficientes de autoria e de materialidade para permitir sua propositura. É, também, necessário que não esteja extinta a punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa. SAIBA MAIS... A mídia e até mesmo alguns operadores de Direito costumam confundir o crime de Injúria Qualificada, também chamada de “Injúria Racial” previsto no Art. 140, § 3º, do Código Penal, com o delito de Racismo, esculpido no Art. 20, da Lei nº 7.716, de 05.01.1989. A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. Recentemente, a ação penal aplicável a esse crime tornou-se pública condicionada à representação do ofendido, sendo o Ministério Público o detentor de sua titularidade. Nas palavras de Celso Delmanto, "comete o crime do Art. 140, § 3º do CP, e não o delito do Art. 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas referentes à raça, cor, religião ou origem, com o intuito de ofender a honra subjetiva da vítima" (Código Penal comentado, 8ª ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 305). Já o crime de racismo implica em conduta discriminatória - por exemplo: impedir o exercício de cidadania - dirigida a um determinado grupo ou coletividade.Considerado mais grave pelo legislador, o crime de racismo é imprescritível e inafiançável, que se procede mediante ação penal pública incondicionada, cabendo também ao Ministério Público à legitimidade para processar o ofensor. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 15 | P á g i n a Exercícios 1- Caberá ação penal privada subsidiária da pública se o representante do Parquet (Ministério Público) a) excluir algum indiciado da denúncia. b) determinar o arquivamento do inquérito policial. c) determinar o arquivamento das peças de informações. d) Se mantiver inerte, não oferecendo a denúncia no prazo legal, sem motivo que justifique sua conduta. e) requisitar novas diligências a autoridade policial. 2- Marque a alternativa correta, no que tange ao princípio da presunção da inocência. a) Determina que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados. b) Determina que todos são iguais perante a lei penal. c) Determina que a pena não pode ser superior ao grau de responsabilidade pela prática do fato. d) Proíbe a adequação típica por semelhança entre fatos. e) Determina que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 16 | P á g i n a ACONTECEU... Adolescentes retirados de ônibus indo à praia Era por volta das 14h30m do dia 23/08/2015, quando 15 jovens, a maioria da periferia do Rio, se revezavam em um banco para quatro lugares no corredor externo do Centro Integrado de Atendimento à Criança e ao Adolescente (Ciaca), em Laranjeiras, após terem sido recolhidos pela Polícia Militar. O motivo? Estavam indo para as praias da Zona Sul do Rio. “Tiraram “nós” do ônibus pra sentar no chão sujo e entrar na Kombi. Acham que “nós” é ladrão só porque “nós” é preto” - disse X., de 17 anos, morador do Jacaré, na Zona Norte. Do grupo que havia sido retirado de um ônibus que chegava a Copacabana, só um rapaz era branco. Os outros 14 tinham o mesmo perfil: negros e pobres. Todos os jovens estavam em linhas que saem da Zona Norte em direção à orla. Nenhum deles portava drogas ou armas. Fonte: http://extra.globo.com/noticias/rio/pm-aborda-onibus-recolhe-adolescentes- caminho-das-praias-da-zona-sul-do-rio-17279753.html http://extra.globo.com/noticias/rio/pm-aborda-onibus-recolhe-adolescentes-caminho-das-praias-da-zona-sul-do-rio-17279753.html http://extra.globo.com/noticias/rio/pm-aborda-onibus-recolhe-adolescentes-caminho-das-praias-da-zona-sul-do-rio-17279753.html LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 17 | P á g i n a Aula 02 – Busca e Apreensão. A busca e apreensão constitui-se em uma medida de natureza cautelar, de caráter instrumental cuja finalidade é a de encontrar pessoas e bens - objetos, cartas, documentos, armas etc. -, que tenham utilidade ou função probatória, ou seja, interessem ao processo penal. Ensina Aury Lopes Jr. que “A sistemática do CPP não é, tecnicamente, a melhor, pois mistura uma medida cautelar com meios de prova e, ainda, sob a mesma designação, dois institutos diversos (busca de um lado e a aprensão de outro).” - Direito Processual Penal. 9ª ed. São Paulo: Saraiva 2012, pág. 701 -. Prosseguindo, o citado mestre, referindo-se aos ensinamentos de Cleonice B. Pitombo, in Da Busca e da Apreensão no Processo Penal. São Paulo: RT, 2005, pág. 102, afirma que há que se distinguir dois institutos: Busca: é uma medida instrumental – meio de obtenção da prova – que visa encontrar pessoas ou coisas. Apreensão: é uma medida cautelar probatória, pois se destina à garantia da prova (ato fim em relação à busca, que é do meio) e ainda, dependendo do caso, para a própria restituição do bem ao seu legítimo dono (assumindo assim uma feição de medida assecuratória). São institutos diversos, mas que foram tratados de forma unificada. Nem sempre a busca gera apreensão (pois pode ocorrer que nada seja encontrado) e nem sempre a apreensão decorre da busca (pois pode haver a entrega voluntária do bem). - idem, fls. 701/702 -. 1. Fundamentos da Busca e Apreensão Diante do seu carater cautelar, a medida de busca e apreensão exige a existência de risco de perda do bem ou do desaparecimento da pessoa, que se quer conservar, o que constitui o periculum in mora e da existência de indícios de que o objeto da busca tenha relação com o fato crimnoso, caracterizando, deste modo, o fumus boni iuris. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 18 | P á g i n a No dizer de Rogerio Greco: “A busca domiciliar, em veículos ou mesmo pessoal é uma constante na atividade policial. No entanto, não se tolera que seja arbitrária ou desnecessária.” (Atividade Policial. 6ª ed. - Niterói/RJ: Impetus, 2014, pág. 35.) Diante disto, o CPP relacionou as hipóteses em que pode ocorrer tal medida (busca e apreensão): Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal: § 1º proceder-se-a a busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizem, para: a. prender criminosos; b. apreender coisas achadas ou obtidas por meios fraudulentos; c. apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos; d. apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso; e. descobrir objetos necessários à prova de infração ou a defesa do réu; f. apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato; g. apreender pessoas vítimas de crimes; h. colher qualquer elemento de convicção. § 2º Proceder-se-á busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objeto mencionado nas letras b e f e letra h do parágrafo anterior. (Grifamos. 2. Espécies de Busca A busca, no processo penal, poderá ser pessoal ou domiciliar, conforme o caso. Ocorre busca pessoal quando houver indícios de que a coisa “buscada” pode estar em poder da pessoa ou nos objetos que esta carregue, enquanto, a busca domiciliar deverá ser realizada sempre que houver indícios de que o objeto da medida possa estar em domicílio determinado, ou do proprietário da coisa ou de seu detentor/possuidor. Importante salientar que a busca pessoal se diferencia da busca domiciliar porque enquanto a primeira recai sobre a própria pessoa, a segunda se realiza em locais como casas ou compartimentos de residência particular, de habitação coletiva, ou, ainda, nos locais onde alguém exerce profissão ou qualquer atividade, remunerada ou não. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 19 | P á g i n a 2.1 Busca Pessoal A busca pessoal é rotineiramente denominada de “revista pessoal”, sendo efetuada pela autoridade ou seus agentes, munidos ou não de mandado judicial. Na prática, é mais comum sua realização sem ordem judicial, quando estiver presente qualquer das condições previstas no Art. 244 do CPP, que permite a autoridade policial efetuar revista sem mandado judicial no caso de prisão ou, quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida, objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou, ainda, quando determinada no curso da busca domiciliar. Vejamos o texto legal: Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papeis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar. É salutar ter em conta que a Constituição Federal protege incondicionalmente, dentre outros, o direito de ir e vir, verbis: CF, Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paísa inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coia senão em virtude de le; [...] XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Diante disto, a autoridade ou seus agentes somente poderão realizar a busca pessoal motivada por fundada suspeita de que a pessoa a ser revistada está nas condições descritas no CPP, arts. 240/244, já mencionados, evitando, deste modo, a violação dos direitos indivíduais e a ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. Não resta dúvida de que a subjetividade da expressão fundada suspeita permite inúmeras interpretações, possibilitando a realização de condutas ofensivas aos direitos LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 20 | P á g i n a do cidadão, podendo caracterizar crimes de abuso de autoridade, conforme estatui os Art.s 3º e 4º, da Lei nº 4898/65. Cabe alertar, que a busca pessoal em mulheres, prevista nos Art.s 249 do CPP (e 183 do CPPM), deve ser efetuada preferencialmente por outra mulher, confira: Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência. Não havendo possibilidade de realização da busca por policiais femininas, o policial do sexo masculino encarregado da abordagem, deve evitar o constrangimento desnecessário limitando-se a prática das ações no mínimo possível desde que não comprometa a segurança e o sucesso da atividade policial, evitando, em última análise, o excesso. O assunto, por sua importância, tem sido objeto de inúmeras decisões nos tribunais superiores. Veja a jurisprudência: TRF-1 - APELAÇÃO CRIMINAL ACR 18394 GO 2006.35.00.018394-6 (TRF-1) Data de publicação: 04/04/2013 Ementa: PENAL E PROCESSO PENAL. MOEDA FALSA. BUSCA PESSOAL E RESIDENCIAL. ILEGALIDADE. APREENSÃO DE CÉDULAS FALSAS. ILICITUDE DA PROVA OBTIDA. 1. A busca pessoal ou residencial imprescinde de fundadas razões (Art. 240, §§ 1º e 2º), sob pena de nulidade e de ilicitude da prova obtida. São inadmissíveis no processo as provas obtidas por meio ilícito (Art. 5º , LVI - CF). 2. A busca pessoal e residencial realizada por policiais civis, por conta própria, na pessoa e na residência do agente, já que ali estavam em função de um suposto delito, não confirmado, de transferência ilegal de energia elétrica, afigura-se sem cobertura legal e, portanto, ilegal. As provas colhidas a partir dessa origem ilícita (apreensão de cédulas contrafeitas) revelam-se igualmente ilícitas (Art. 573 , § 1º - CPP). 3. Apelação desprovida. Sentença absolutória confirmada. TJ-DF - Apelação Criminal APR 20130310382278 (TJ-DF). Data de publicação: 27/04/2015 Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. CRIME DE MERA CONDUTA E DE PERIGO ABSTRATO. BUSCA PESSOAL LEGÍTIMA. ARMA PARCIALMENTE APTA PARA EFETUAR DISPAROS. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 21 | P á g i n a TIPICIDADE. FIXAÇÃO DA PENA AQUÉM DO MÍNIMO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 231, DO STJ. SENTENÇA MANTIDA. 1. O delito de porte de arma, tipificado no Art. 14 , caput da Lei nº 10.826 /03 é de natureza permanente, o que significa dizer que o estado de flagrância se protrai no tempo, tornando legítima a atuação policial. 2. A arma de fogo, ainda que defeituosa, pode caracterizar o crime de porte ilegal, por se tratar de crime de perigo abstrato, sendo irrelevante o perfeito funcionamento do artefato, especialmente quando os peritos conseguiram obter disparos operando em ação simples (com o engatilhamento prévio, seguido do acionamento do gatilho). 3. Ademais, no caso concreto, em poder do réu também foi apreendida munição, o que por si sóconfigura o tipo penal previsto no Art. 14, caput, da Lei 10.826 /2006. 4. O reconhecimento de atenuante não autoriza a redução da pena aquém do mínimo legal, conforme jurisprudência consagrada no enunciado da Súmula 231, do STJ. 5. Recurso conhecido e desprovido. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios-TJDFT: Processo: APR 20100410089483. Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS. Julgamento: 21/05/2015. Órgão Julgador: 2ª Turma Criminal. Publicação: DJE : 29/05/2015 . Pág.: 85 Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. DESOBEDIÊNCIA. SUBMISSÃO DE TODOS OS FREQUENTADORES DO LOCAL A BUSCA PESSOAL. NEGATIVA DO RÉU A PERMITIR A REVISTA. DÚVIDA ACERCA DA EXISTÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA PARA AUTORIZAR A BUSCA. DENÚNCIA ANÔNIMA. RECURSO PROVIDO. 1. A busca pessoal é um meio de prova previsto no Art. 240, parágrafo 2º, do Código de Processo Penal, cuja realização independe de mandado (Art. 244 do Código de Processo Penal), condicionada a fundada suspeita de que o sujeito oculte consigo arma proibida ou objetos ou papeis que constituam corpo de delito. 2. Em atenção ao aspecto invasivo e vexatório do procedimento, a própria lei reforça que a suspeita de que o indivíduo esteja ocultando consigo algum dos materiais previstos no dispositivo deve ser “fundada”, ou seja, é necessário que exista indício concreto de ocorrência de alguma das situações que autorizam a busca pessoal, evitando-se submeter pessoas aleatoriamente à revista pessoal. 3. Embora a suspeita de porte de substância entorpecente ilícita possa justificar a adoção dessa medida, não se pode considerar a comunicação genérica de que havia pessoas LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 22 | P á g i n a consumindo drogas em determinado bar como indício concreto de que o apelante estava nessa situação, pois não constam dos autos que tenham sido informadas características dos suspeitos para que os policiais pudessem identificar o recorrente como um deles. Tampouco há relato de que a equipe tenha realizado alguma diligência antes da abordagem a fim de que, diante dessa informação imprecisa, eles concluíssem que o apelante poderia ser uma daquelas pessoas que supostamente estariam consumindo drogas no bar. Também não há notícia de que havia poucos clientes no estabelecimento, reunidos numa mesma mesa, de modo que aquela comunicação não poderia ser referente a outros indivíduos, senão àquele único grupo ali reunido. 4. Uma vez que não existe nos autos prova suficiente de que havia suspeita fundada de que o apelante estava em alguma das situações que justificam a busca pessoal, há dúvida acerca da legalidade da própria ordem emanada pelos policiais, de modo que o recorrente deve ser absolvido com fundamento no Art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, em consonância com o princípio “in dubio pro reo”. 5. Recurso provido. 2.2 Busca Domiciliar A busca domiciliar é aquela realizada pela autoridade policial ou judiciária em residência ou em qualquer compartimento habitado, ou aposento ocupado de habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público no qual alguém exerce profissão ou atividade. Só pode ser realizada após a expedição da ordem judicial, como regra, conforme inteligência do Art. 5º, XI, da CF: Art. 5º. [...] XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nele podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; Excepcionalmente, poderá ser feita sem a ordem judicial: em casos de flagrante delito ou desastre, quando realizado pela própria autoridade judiciária ou com o consentimento prévio do morador. Por ser medida de caráter cautelar e excepcional a busca domiciliar, guarda relação com alguns direitos e garantias fundamentais, como já foi dito, em especial a garantia da inviolabilidade do domicílio (Art. 150, do CP). LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 23 | P á g i n a As buscas, bem como, a apreensão são importantes formasde coleta de provas no processo penal. Em muitos casos, as provas obtidas através de tais procedimentos constituem a sustentação da acusação, e delas depende o resultado da lide penal. 2.2.1 Conceito de domicílio O conceito de domicílio para o direito penal deve ser compreendido em sentido amplo como está contido no Art. 150, § 4º, do CP, ou seja, é considerado domicílio, além da casa, qualquer compartimento habitado, aposendo ocupado de habitação coletiva e o compartimento não aberto ao públlico, onde alguém exerce profissão ou atividade. Diante disto, estão incluidos no referido conceito, portanto, casas - incluindo suas dependências: garagem, quintal, etc., apartamentos, quartos de hotel ou motel, barracos de favela, etc, desde que devidamente habitados, além de escritórios, consultórios e a parte interna das oficinas. O mencionado Art. define que não estão incluídos no conceito de domicílio, as hospedarias, estalagens e habitações coletivas, desde que abertas ao público - ou seja, em atividade, além de tavernas, casas de jogos, bares, igrejas e estabelecimentos comerciais em suas dependências de acesso livre ao público. Os veículos não são considerados casa para efeito de proteção legal, salvo se houver parte destinada a moradia ou repouso, como nos trailers. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 24 | P á g i n a Exercícios 1- (Oficial da PMEMG-2013) – Sobre a busca e apreensão, marque a alternativa CORRETA: a) É meio de prova produzida desde o início sob o amparo do princípio do contraditório, com a participação de ambas as partes. b) Não é possível o emprego de força e o arrombamento em casos de ausência do morador ou de qualquer pessoa no local da realização da diligência, devendo neste caso, a autoridade certificar no mandado o ocorrido. c) A busca pessoal não depende de autorização judicial, ainda que haja violação ao direito constitucional à intimidade. d) No curso da diligência de busca domiciliar é proibido realizar busca pessoal. 2- (Del. Pol. SP-2008) – A diligência de busca efetuada em trailer rebocado por automóvel que se destina à habilitação do motorista: a) Prescinde de mandado judicial por se equiparar à busca pessoal. b) Prescinde de mandado judicial, porém necessita de ordem escrita da autoridade policial. c) Não prescinde de mandado judicial e simultaneamente de auto de busca policial. d) Não prescinde de auto policial de apossamento e constrição. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 25 | P á g i n a SAIBA MAIS... PM cumpre mandado de busca e apreensão e prende 4 em Bambuí Grupo é suspeito de tráfico de drogas no Município. Com eles a polícia encontrou mais de 10 porções de maconha. Quatro pessoas foram presas suspeitas de tráfico de drogas na Rua Vigário Protásio, no Bairro Cerrado, em Bambuí. A prisão ocorreu em cumprimento a um mandado de busca e apreensão da Polícia Militar nesta quarta-feira (29). Entre as pessoas presas está uma jovem de 19 anos e um de 18, que já era conhecido no meio policial quando era adolescente, além de outros dois jovens de 22 e 28 anos. Ainda segundo os militares, no local foram localizadas dois tabletes grandes de maconha e oito tabletes médios da droga, mais diversas porções prontas para o comércio. Os quatro presos e o material apreendido foram encaminhados a Delegacia de Polícia Civil de Bambuí. Fonte: Globo.com LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 26 | P á g i n a ACONTECEU... (Fato ocorrido em 17/01/2015) Policiais Militares do 8º Batalhão prenderam neste sábado duas mulheres portando uma escopeta e uma barra de maconha, no KM 25, da BR-364, sentido Rio Branco/ Sena Madureira. Viviane da Silva Pontes Dacal e Lígia Cristina Jerônimo Monteiro da Silva, ambas com 26 anos, seguiam na estrada em uma caminhonete modelo Toyota os PMs abordaram o veículo e encontraram uma escopeta calibre 12 de marca e numeração não identificada, uma barra de maconha e um pequeno volume acondicionado em papel também de maconha. Diante do flagrante de tráfico de entorpecente e porte ilegal de arma de fogo, foi dada a voz de prisão e as acusadas foram conduzidas para a unidade de Segurança Pública em Sena Madureira, juntamente com a arma e os entorpecentes. Ao chegarem à Delegacia de Policia Civil, foi solicitado que as policiais femininas de plantão efetuassem uma busca pessoal nas acusadas, sendo encontrado ainda em poder de Viviane uma trouxa de substância aparentando ser cocaína. Fonte: http://www.3dejulhonoticias.com.br/?p=42213 http://www.3dejulhonoticias.com.br/?p=42213 LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 27 | P á g i n a Aula 03 – Prisão. A prisão consiste na privação de liberdade de locomoção da pessoa, determinada por ordem escrita (mandado de prisão) da autoridade competente ou em caso de flagrante delito. Em matéria processual penal existem duas formas de prisão: A prisão pena, aquela decorrente de sentença penal condenatória transitada em julgado, sendo a única espécie de prisão definitiva. A prisão processual (sem pena), aquela decretada antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, nas hipóteses permitidas pela lei. É também chamada de prisão provisória ou prisão cautelar. 1. Casos de Prisão. São as seguintes as hipóteses de prisão processual: 1.1 - prisão em flagrante; 1.2 - prisão preventiva; 1.3 – prisão domiciliar e; 1.4 - prisão temporária. 1.1 Prisão em flagrante A expressão flagrante significa ardente, queimante, evidente, visível etc. Assim, o flagrante delito seria a infração que está sendo cometida ou acabou de sê-lo; permitindo, diante disto, a prisão do agente, mesmo sem autorização judicial (mandado), em virtude da certeza visual do crime. Compreendida a prisão em flagrante como uma medida de autodefesa da sociedade, podemos relacionar suas finalidades: a. Evitar a fuga do infrator; b. Auxiliar na colheita de elementos informativos; c. Impedir a consumação do delito, no caso em que a infração está sendo praticada, ou de seu exaurimento, nas demais situações. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 28 | P á g i n a 1.1.1 Hipóteses de prisão em flagrante O Art. 302 do CPP enumera as hipóteses de prisão em flagrante: Flagrante próprio (ou real) - abrange as situações descritas nos incisos I e II. De acordo com o inciso I, considera-se em situação de flagrância aquele que está cometendo o crime. Na hipótese do inciso II, o agente é flagrado quando acaba de cometer o crime, estando ainda no local; Flagrante impróprio (ou quase flagrante) - considera-se em flagrante quem é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer outra pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração. Se a perseguição for iniciada logo após a prática do crime, não existe prazo para sua efetivação, desde que seja ininterrupta; Flagrante presumido (ou ficto) - considera-se em flagrante quem é encontrado, logo depois do crime, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. Flagrante retardado (prolongado, prorrogado, etc.) - Hipótese prevista na Lei nº 12.850/13, Art. 3º, III (Organização Criminosa). Decorre da chamada ação controlada, onde o agente policial devidamente autorizado é infiltrado em uma organização criminosa e pode deixar de intervir quando presenciar a ocorrência do delito, desde de que mantenha a observação e o acompanhamento das ações, para efetuar a prisão no momento mais oportuno do ponto de vista da produção de provas. 1.1.2. Sujeitos do flagrante Sujeito ativo - conforme constante no Art. 301 do CPP, o flagrante obrigatório, é aquele em que as autoridades policiais e seus agentes têm o dever de prender quem se encontra em situação de flagrância, e o flagrante facultativo,onde qualquer pessoa pode prender quem se encontra em flagrante delito.Trata-se de mera faculdade, e não obrigação; Sujeito passivo - em regra, qualquer pessoa pode ser presa em flagrante; há, entretanto, algumas exceções: o Presidente da República (Art. 86, § 3º, da CF/88), os menores de 18 anos e os diplomatas estrangeiros, desde que haja tratado assinado pelo Brasil nesse sentido, não podem ser presos em flagrante, qualquer que seja o delito praticado. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 29 | P á g i n a Não podem ser presos em flagrante por crimes afiançáveis os deputados e os senadores, os juízes e promotores de justiça e os advogados, se o crime for cometido no desempenho de suas atividades profissionais. 1.1.3. Fases da prisão em flagrante A prisão em flagrante funciona como mero ato administrativo, dispensando-se autorização judicial. Inicia-se com a captura, seguida da condução coercitiva à presença da autoridade policial e posterior comunicação da prisão e do local onde o preso se encontra ao juiz, ao Ministério Público, à família ou à pessoa indicada pelo autor da infração. Depois, deve ser lavrado o auto de prisão em flagrante (Art. 304 do CPP), com posterior recolhimento do capturado ao cárcere, salvo nas hipóteses em que for cabível a concessão de fiança pela autoridade policial, ou seja, infrações penais cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a quatro anos, conforme disposto no Art. 322 do CPP. Ao preso, deve ser entregue nota de culpa, em até vinte e quatro horas após a captura (Art. 306, § 2º do CPP). Posteriormente, a prisão em flagrante converte-se em ato judicial, a partir do momento em que a autoridade judiciária é comunicada da detenção do agente, a fim de analisar sua legalidade, para fins de relaxamento, necessidade de conversão em prisão preventiva, ou acerca do cabimento de liberdade provisória, com ou sem fiança (Art. 310 do CPP). 1.2 Prisão Preventiva Cuida-se de espécie de prisão cautelar decretada pela autoridade judiciária competente, mediante representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, em qualquer fase das investigações ou do processo criminal (Art. 311 do CPP), sempre que estiverem preenchidos os requisitos legais (Art. 313 do CPP) e ocorrerem os motivos autorizadores listados no Art. 312 do CPP, e desde que se revelem inadequadas ou insuficientes às medidas cautelares diversas da prisão (Art. 319 do CPP). A prisão preventiva é cumprida por meio de mandado de prisão. Requisitos: O Art. 312 do CPP inicialmente prevê que a preventiva só é cabível quando há indícios de autoria e prova da materialidade do crime (fumus boni iuris). Esses são os chamados pressupostos da prisão preventiva. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 30 | P á g i n a O mesmo Art. 312 acrescenta que também deve estar presente ao menos um dos chamados fundamentos da preventiva (periculum in mora): a. Garantia da ordem pública; b. Conveniência da instrução criminal; c. Garantia da futura aplicação da lei penal; d. Garantia da ordem econômica. O Art. 313 do CPP traça as chamadas condições de admissibilidade da prisão preventiva. 1.3 Prisão Domiciliar A prisão domiciliar está prevista no Art. 318 do CPP, constituindo-se em uma forma alternativa de cumprimento da prisão preventiva, considerando que, ao invés de manter o preso em cárcere fechado, é inserido em recolhimento em seu domicílio, durante as vinte e quatro horas do dia. Trata-se de uma faculdade do juiz, atendendo às peculiaridades do caso concreto, desde que respeitado algum dos seguintes requisitos que foram alterados pela Lei 13.257/16: a. Ser o agente maior de 80 anos; b. Estar o agente extremamente debilitado por motivo de doença grave; c. Ser o agente imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de seis anos ou com deficiência; d. Ser gestante. (Redação dada pela nova lei 13.257, de 2016 onde não mais se exige tempo mínimo de gravidez nem que haja risco à saúde da mulher ou do feto.) e. Mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) f. Homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Segundo constante no parágrafo único do Art. 318, para deferir a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos no referido Art., em seus incisos I ao IV. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 31 | P á g i n a 1.4 Prisão Temporária É uma medida restritiva de liberdade de locomoção, decretada por tempo determinado, destinada a possibilitar a investigação de crimes considerados graves durante o inquérito policial. A prisão temporária está prevista na Lei nº 7.960/89. No Art. 1º da citada lei, encontramos os requisitos de tal medida cautelar. A prisão temporária somente pode ser decretada pelo juiz, dependendo da existência de requerimento do Ministério Público ou de representação da autoridade policial. O prazo de duração da prisão temporária é de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco dias, em caso de extrema e comprovada necessidade (Art. 2º). Nos casos de crimes hediondos e equiparados a hediondos (Lei nº 8.072/90), tal prisão poderá ser decretada por prazo de trinta dias, prorrogável por mais trinta dias. Assim como a prisão preventiva, a temporária também é cumprida por meio de mandado de prisão, expedido por autoridade judiciária competente. Terminado o prazo, o preso deve ser imediatamente solto, salvo se tiver sido decretada a prisão preventiva. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 32 | P á g i n a Exercícios 1- Assinale a alternativa INCORRETA. a) Considera-se em flagrante delito quem caba de cometê-la. b) Considera-se em flagrante delito apenas quem está cometendo a infração penal. c) Considera-se em flagrante delito quem é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração. d) Nenhuma das alternativas está incorreta. 2- Não será admitido o uso de força para efetuar a prisão, salvo: a) a indispensável no caso de resistência. b) a indispensável no caso de tentativa de fuga do preso. c) se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente d) Todas as alternativas estão corretas. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 33 | P á g i n a Aula 04 – Prisão (Continuação). Como vimos, a prisão consiste na privação de liberdade de locomoção da pessoa e só pode ser realizada nos casos da prática de infrações penais (crimes e contravenções) por ordem escrita (mandado de prisão) da autoridade competente (juiz) ou em caso de flagrante delito. Ressalvando-se, entretanto, as seguintes hipóteses, onde “não se imporá prisão em flagrante”: Nos casos de infração de menor potencial ofensivo (pena de até dois anos), ao autor do fato que, após lavratura do termo circunstanciado, for imediatamente encaminhado ao Juizado Especial Criminal ou assumir o compromisso de a ele comparecer (Art. 69, parágrafo único da Lei 9.099/95); Quando se tratar de conduta de porte de drogas para consumo pessoal, devendo o autor ser apresentado ao juizado competente ou assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se o termo circunstanciado (Art. 28, da Lei nº 11343/06); Ao condutor de veículo, conforme dispõe o Código de Trânsito Brasileiro, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima (fatal ou não), nem se exigirá fiança, se o motorista prestar pronto e integral socorro à vítima (Art. 301, caput, da Lei nº 9503/97). Obs: Não obstante a lei use a expressão “não se imporá prisão em flagrante”, deve-se entender que é perfeitamentepossível à captura e a condução coercitiva do agente até presença da autoridade policial, estando vedada somente a lavratura do auto de prisão em flagrante (APF) e o subsequente recolhimento ao cárcere. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 34 | P á g i n a 1. Direitos e Garantias do Preso O Art. 38 do CP prevê, verbis: O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral. É certo que a prisão cautelar evidencia um enorme conflito no Processo Penal, pois, ao mesmo tempo em que o Estado se vale de instrumento extremamente gravoso para assegurar a eficácia da persecução penal, deve também preservar o indispensável respeito a direitos e liberdades individuais que condicionam a legitimidade da atuação do próprio aparato estatal em um Estado Democrático de Direito. Assim, o Art. 5º, inciso XLIX da CF/88, declara: “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Ao assim proclamar, a Carta Magna garante ao preso a conservação de todos os direitos fundamentais reconhecidos à pessoa livre, à exceção, é claro, daqueles incompatíveis com a condição peculiar de uma pessoa presa. 2. Prisão de Magistrados e Membros do Ministério Público Magistrados bem como os membros do Ministério Público, de acordo com a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, têm como prerrogativas não serem presos senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo nas hipóteses de flagrante delito de crime inafiançável, casos em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do preso ao presidente do Tribunal a que esteja vinculado. Além disso, quando no curso da investigação houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação. O mesmo se aplica aos membros do Ministério Público, por força da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. No caso de flagrante de crime inafiançável, é possível a captura do magistrado ou membro do Ministério Público, porém o auto de prisão em flagrante não pode ser presidido por Delegado de Polícia. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 35 | P á g i n a Cabe salientar que as ocorrências que envolvem a prisão em flagrante de membros da Magistratura e do Ministério Público são raríssimas, contudo, vejamos os fundamentos legais: Prevê a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar à CF nº 35/79), que: Art. 33. São prerrogativas do Magistrado: II – não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do Magistrado ao Presidente do Tribunal a que esteja vinculado; III – ser recolhido à prisão especial, ou a sala especial de Estado Maior, por ordem e à disposição do Tribunal ou do Órgão Especial competente, quando sujeito a prisão antes do julgamento final; Parágrafo único: quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do Magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que se prossiga na investigação. A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.265/93) estatui: Art. 40 – Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, além de outras previstas na Lei Orgânica: III - ser preso somente por ordem judicial escrita, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará, no prazo máximo de vinte e quatro horas, a comunicação e a apresentação do membro do Ministério Público ao Procurador-Geral de Justiça; IV - ser processado e julgado originariamente pelo Tribunal de Justiça de seu Estado, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a exceção de ordem constitucional; LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 36 | P á g i n a V - ser custodiado ou recolhido à prisão domiciliar ou à sala especial de Estado Maior, por ordem e à disposição do Tribunal competente, quando sujeito a prisão antes do julgamento final. Art. 41 – Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: II - não ser indiciado em inquérito policial, observado o disposto no parágrafo único deste Art.. [...] Parágrafo único - Quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte do membro do Ministério Público, a autoridade policial civil, ou militar, remeterá imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração. É correto que o Art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar à CF nº 35/79, estabelece que: “se houver indício da prática de crime por parte de Magistrado ou Membro do Ministério Público, devem os autos ser remetidos de imediato, no caso do primeiro, ao Tribunal ou Órgão Especial, e, no caso do segundo, ao Procurador-Geral de Justiça, para que se prossiga na investigação”. Já a Lei 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), determina que “a autoridade policial ou militar remeterá imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração” (Art. 41, parágrafo único). Isso significa que, diante da prerrogativa de foro especial, inclusive a investigação deve ser conduzida pelo presidente do Tribunal ou procurador-geral de Justiça, cessando, desta forma, por determinação legal, a possibilidade de delegado de Polícia ou autoridade policial militar continuar a investigar magistrado ou membro do Ministério Público. Assim, não pode o auto de prisão em flagrante ser presidido por delegado de Polícia. Cabe alertar que prisão em flagrante em questão só pode ocorrer se o crime for inafiançável. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 37 | P á g i n a 2.1 Considerações Gerais Sobre a Prisão 2.1.1 Momento da prisão Conforme o Art. 283, §2º do CPP, a prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio. Além das restrições à inviolabilidade do domicílio o Art. 236, caput, do Código Eleitoral (Lei nº 4.737/65), proibe (veda) a prisão do eleitor nos cinco dias que antecedem as eleições, até quarenta e oito horas após o encerramento da votação. Essa norma não se aplica à prisão em flagrante, por expressa disposição legal. 2.1.2 Imunidades prisionais A regra geral é que toda e qualquer pessoa pode ser presa; no entanto, há exceções, a saber: O Presidente da República, nas infrações comuns, enquanto não sobrevier sentença condenatória, não estará sujeito à prisão (Art. 86,§3º da CF/88); Os chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas famílias, assim como funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA etc.) Gozam de imunidade diplomática, que consiste na prerrogativa de responder no seu país de origem pelo delito praticado no Brasil (Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas). Em virtude disso, tais pessoas não podem ser presas e nem julgadas pelas autoridades do país onde exercem suas funções (Art. 1º, I, do CPP). Quanto ao cônsul, este só goza de imunidade em relação aos crimes funcionais. Deve ser ressaltado que essa imunidade não impede que as autoridades policiais investiguem o delito praticado, colhendo as informações necessáriasreferentes à autoria e materialidade do ilícito, que deverão ser encaminhadas às autoridades do país de origem do agente; Senadores, deputados federais, estaduais ou distritais, desde a expedição do diploma, não poderão ser presos, salvo em flagrante delito de crime inafiançável (Art. 53,§2º da CF/88, c/c, Art. 27,§1º, da CF/88), nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa Legislativa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. A impossibilidade de se prender em flagrante os membros do Legislativo por crimes afiançáveis não significa que nada possa ser feito quando colhidos em situação de flagrância. Nesse caso, seja a autoridade policial, seja LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 38 | P á g i n a qualquer um do povo, poderão ser adotadas as medidas no sentido de interromper a atividade ilícita, registrando a ocorrência, mas não lavrando o auto de prisão em flagrante. Na hipótese de prisão em flagrante por crime inafiançável, a autoridade que presidir o auto deve encaminhá-lo à Casa respectiva para deliberação sobre a prisão. Vale ressaltar que vereadores, ao contrário, não gozam de incoercibilidade pessoal relativa; Supondo que um embaixador seja flagrado desferindo tiros contra uma pessoa, sua captura poderá ser efetuada, de modo a evitar a consumação do delito. No entanto, uma vez impedida à prática criminosa, o auto de prisão em flagrante delito não poderá ser lavrado. A ocorrência será registrada para efeito de se enviar provas ao seu país de origem. Magistrados e membros do Ministério Público, de acordo com a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, têm como prerrogativas não serem presos senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo em casos de flagrante delito de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao presidente do Tribunal a que esteja vinculado. Além disso, quando no curso da investigação houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação. O mesmo se aplica aos membros do Ministério Público, por força da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. No caso de flagrante de crime inafiançável, figura-se possível a captura do magistrado ou membro do Ministério Público, porém o auto de prisão em flagrante não pode ser presidido por Delegado de Polícia; Advogados, por motivo ligado ao exercício da profissão, somente poderão ser presos em flagrante em caso de crime inafiançável, assegurada a presença de um representante da OAB para a lavratura do auto respectivo; Menores de 18 anos. Deve ser diferenciada a situação da criança (até doze anos de idade incompletos) e do adolescente (com idade entre doze e dezoito anos incompletos). Cuidando-se de criança, segundo o ECA (Lei nº 8.069/90), não é possível a privação de sua liberdade em razão da prática de ato infracional, devendo a criança ser apresentada ao Conselho Tutelar para as devidas providências (Medida de Proteção). Quanto ao adolescente, nenhum será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, assim é possível sua apreensão. LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 39 | P á g i n a 2.1.3 Emprego de força Conforme o previsto no Art. 284 do CPP, não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga do preso (desde a captura até o recolhimento ao cárcere). O emprego de força é medida de natureza excepcional, devendo o agente limitar seu emprego àquilo que for indispensável para vencer a resistência ativa do preso ou sua tentativa de fuga. Agindo assim, não há que se falar em conduta ilícita por parte do responsável pela prisão, uma vez que sua ação está acobertada pelo estrito cumprimento do dever legal (se agente público) ou pelo exercício regular de direito (se particular), podendo, a depender do caso em concreto, caracterizar também legítima defesa (Art. 23 do CP). Na hipótese de resistência ativa por parte do preso, com a prática de agressão injusta ao responsável pela prisão, pode este agir amparado pela legítima defesa, desde que se valha dos meios necessários de maneira moderada e proporcional (Art.25 do CP), nessa hipótese, ocorrendo à morte do opositor, será lavrado o Auto de Resistência(atualmente com a nomenclatura de “homicídio decorrente de oposição à ação policial” ou no caso de lesão corporal “ lesão corporal decorrente de oposição à interveção policial”). Instaurado o competente inquérito policial para apurar as circunstâncias do fato e a conduta do executor. 2.1.4 Uso de algemas O CPP trata das algemas apenas ao regular a instrução e os debates em plenário do Júri, prevendo que seu uso será permitido somente em caso de absoluta necessidade à ordem dos trabalhos, à segurança das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes (Art. 474, §3º). Sobre a questão, o Supremo Tribunal Federal-STF editou a Súmula Vinculante nº 11, verbis: “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.” LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL COMUM 40 | P á g i n a 2.1.5 Medidas cautelares de natureza pessoal diversas da prisão O CPP em seu Art. 319 relaciona nove medidas cautelares alternativas à prisão, ou seja, medidas coercitivas que substituem o cárcere cautelar, com menor dano para a pessoa humana, porém com similar garantia da eficácia do processo. 3. Cabimento do Habeas Corpus A CF/88 prevê em seu Art. 5º, inciso LXVIII, que será concedido habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Diante disto, o habeas corpus destina-se a fazer cessar coação ou ameaça de coação a direito de locomoção da pessoa, por ilegalidade ou abuso de poder. São duas as espécies de habeas corpus: o preventivo, quando determinada pessoa corre o risco de ter seu direito de locomoção cerceado, e o repressivo ou liberatório, para quando a pessoa já está com a constrição de sua liberdade consumada. Este é o remédio para o caso de prisão ilegal, quando não for cabível o relaxamento de prisão previsto no Art 5º, XLV, da CF, sendo certo que uma medida não impede a outra. As partes em uma ação de habeas corpus são: impetrante, que pode ser qualquer pessoa, o paciente, que é a pessoa em nome de quem é impetrado o HC e a autoridade coatora, que é a pessoa responsável pela coação ilegal. O CPP prevê em seu Art 647 a concessão do habeas corpus e no Art. seguinte (648), enumera as hipóteses de coação consideradas ilegais que autorizam a sua concessão: a. Quando houver falta de justa causa (para a ação, prisão ou investigação); b. Quando alguém estiver preso por mais tempo do lque determina a lei; c. Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; d. Houver cessado o motivo que autorizou a coação; e. Quando não for algumém admitido a prestar fiança, nos caos em que a lei autoriza; f. Quando o processo for manifestamente nulo, e; g. Quando estiver extinta a punibilidade. A ordem será impetrada sempre perante o órgão judiciário imediatamente superior à instância da autoridade coatora, que poderá requisitar as informações desta. Não havendo prazo estabelecido para impetração do habeas
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