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LITERATURA Resenha Literária: Obra - A Revolução dos Bichos Autor: George Orwell Editora: Companhia das Letras Ano: 2007 Tradução: Heitor Aquino Ferreira O romance em forma de fábula foi escrito antes de outra grande obra de George Orwell “1984” e remete aos anos de 1917 a 1945, abordando a Revolução Russa, mas, não apenas ela. A obra reitera, seguidamente, a sua atualização, revelando uma leitura atual e universal. A obra através de suas referências históricas se contextualiza em um apelo para que o leitor reflita sobre atitudes e condutas das lideranças políticas, que conquistam seus postos através da manipulação dos ideais nobres, do desejo soberania popular e melhores condições de igualdade nacionais. E também, alerta para a boa fé de grande parte da população desassistida e inculta, que delega poderes e é usada por essas lideranças, que ao final, irão subjugar a sociedade com a desculpa de ajudá-la. A REVOLUÇÂO DOS BICHOS A história se passa perto de Willingdon, na Inglaterra em um espaço rural de uma granja de animais. O Sr. Jones é o proprietário da Granja do Solar, Nesta granja vivem todos os animais personagens do romance. O Sr. Jones é um homem severo e com um temperamento difícil, ele cuida dos bichos da fazenda, e os explora e os abandona à fome, muitas vezes. Um velho porco chamado Major, que era uma celebridade por já ter sido premiado em uma exposição, inicia um movimento de resistência contra os abusos do fazendeiro, afirmando que todos os animais ali viviam em condições de escravidão e extrema pobreza. Todos os animais aderem ao seu discurso e começam os preparativos para uma rebelião contra o Sr. Jones. De noite, os animais se reúnem em um celeiro e ouvem o velho Major contar o sonho que ele teve sobre um mundo em que todos os animais viveriam livres da tirania dos humanos. O velho Major morre logo depois da reunião, Mas, os animais movidos pelo ideal sonhado por ele, planejam uma rebelião contra Jones, seguindo a sua Filosofia do Animalismo. Segundo os sete princípios da Filosofia do animalismo definidos pelos animais na reunião, todos os animais estão obrigados a viver no Pátio da fazenda e a seguir os sete Princípios do Animalismo, a seguir: 1º - Todas as duas pernas são inimigas. 2º - Todos de quatro patas ou com asas são amigos. 3º - Os animais não devem usar roupas. 4º - Os animais não devem dormir na cama. 5º- Os animais não devem beber álcool. 6º- Os animais não devem matar outros animais sem motivo. 7º- Todos os animais são iguais. Os encarregados de comandar a rebelião são dois porcos, Bola de Neve e Napoleão, Eles que planejam a insurreição. A Revolução começa quando Jones se esquece de alimentar os animais. Os unidos expulsam o Sr. Jones e seus ajudantes da granja e mudam o seu nome para A Granja dos Bichos. A rebelião foi um sucesso. Os animais trabalham colheita e se reúnem aos domingos para discutir a nova política agrícola. É feita a divisão do trabalho pelos porcos que são os novos dirigentes da fazenda. Napoleão, no entanto, desvirtua a função do poder, quando “rouba” o leite das vacas e várias maçãs para alimentar não apenas a si, mas outros porcos. Quando tudo parecia estar organizado e com bom andamento na granja, o dono Sr. Jones tenta reaver a sua propriedade. Bola de Neve, o porco estrategista, reúne os animais e derrota os adversários, em uma batalha que ficou conhecida como a Batalha do Estábulo. No inverno, Mimosa, uma égua vaidosa e preguiçosa, acaba sendo atraída para fora da fazenda por outro humano. E Bola de Neve começa a planejar um moinho de vento para fornecer eletricidade e diminuir o trabalho dos animais que teriam mais tempo para o lazer. Mas, Napoleão se opõe a esse projeto, justificando que, o tempo gasto na construção do moinho de vento faria com que perdessem tempo na produção de alimentos. Os porcos dirigentes divergem e, no domingo em que a proposta do moinho de vento iria à votação, Napoleão convoca uma matilha de cães ferozes para atacar e expulsar Bola de Neve, que é acusado de deslealdade. Napoleão justifica a acusação com o seguinte pronunciamento: “A lealdade e a obediência são mais importantes. E quanto à Batalha do Estábulo, acredito, tempo virá em que verificaremos que o papel de Bola de Neve foi muito exagerado. Disciplina, camaradas, disciplina férrea! Esse é o lema para os dias que correm. Um passo em falso, e o inimigo estará sobre nós. Por certo, camaradas, não quereis Jones de volta, hein?” Os animais consideraram o argumento indiscutível. Os bichos não desejavam a antiga vida de servir a um senhor. E Sansão (o cavalo, incansável trabalhador), refletiu sobre essa inaceitável possibilidade e proclamou o sentimento geral: “Se o diz o Camarada Napoleão, deve estar certo”. Foi adotada a máxima ”Napoleão tem sempre razão”, E Sansão acrescentou-a ao seu lema particular “Trabalharei mais ainda”. Quando Bola de Neve é expulso da granja, Napoleão promulga que não haverá mais debates aos domingos e nem qualquer outro dia. Roubando a ideia ele de Bola de Neve, determina a construção do moinho de vento. Bola de Neve é usado como bode expiatório e responsabilizado pelos sofrimentos dos animais da granja. Ele contrata um advogado para negociar com todas as fazendas vizinhas, contradizendo os princípios do Animalismo. Quando uma tempestade derruba o moinho recém-construído, Napoleão culpa Bola de Neve e ordena que os animais reconstruam o moinho. O gosto pelo poder faz com que Napoleão vá se transformando em um ditador totalitário. Para se manter no poder sem risco, ele adota medidas extremas e força confissões de animais inocentes, condenando e fazendo com que cães os matem na frente de todos os animais da granja. Napoleão e os outros porcos se mudam para a casa de Jones e dormem em camas contrariando o principio fundante do Animalismo. Os porcos ficam visivelmente mais gordos, enquanto os demais animais recebem a cada dia, menos comida, Todos os princípios originais do Animalismos são desvirtuados sob o governo dos porcos e a corrupção é amplamente instalada, quando Napoleão começa a negociar a compra de madeira com notas falsas com o vizinho Jones Frederick. Em retaliação Frederick e seus homens explodem o moinho. Mas, acabam sendo derrotados pelos animais. A Filosofia do Animalismo é totalmente reformada para atender a vontade e as novas necessidades dos porcos. Com isso, os princípios do Animalismo são deturpados de forma a prover a sua legitimidade diante dos outros animais, como uma escolha coletiva e não imposição tirana. E os porcos passam a agir contrariamente a essa ideologia, desvirtuando-a totalmente. O tempo passa e Napoleão aumenta os seus domínios comprando as terras de Pikington. Oposta à vida dos porcos, a vida dos outros animais se torna muito dura. Os porcos passam a adotar as qualidades do opressor humano. Morar em casas, dormir em camas, andar sobre as patas traseiras, consumir álcool e a executar sumariamente, os animais rebeldes ou que não têm utilidade para a prosperidade da granja. E a Filosofia do Animalismo é reduzida à apenas uma lei: “Todos os animais são iguais, mas uns são melhores que os outros”. No final da história Pinkington, dono da granja Foxwood, bebe com Sr, Jones na casa da granja. Napoleão renomeia o lugar com o seu antigo nome - Granja do Solar. E os outros animais assistem à cena do lado de fora da janela e não conseguem diferenciar os porcos dos humanos. A história continua atual e convida à reflexão sobre todo o processo, que transforma os anseios humanos libertários em tirania, desvirtuando-se totalmente os ideais iniciais, pela condução destes, através de manipulações pontuais e retóricas. Paulo Freire, indiretamente aborda tais questões cruciais em sua obra Pedagogia do Oprimido, onde contextualiza o processo e pontua as situações em que o oprimido setransforma em opressor.
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