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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ FÍSICA DAS RADIAÇÕES CURSO DE FARMÁCIA Nome: Paula Vitória Russo de Oliveira RA: 100887 Plano de Estudo INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO NOS TECIDOS BIOLÓGICOS E SEUS EFEITOS PARA O SER HUMANO Maringá, 10 de Abril de 2021 2 1. INTRODUÇÃO A célula é a unidade estrutural, morfológica e funcional dos seres vivos, ela é formada por um conjunto de estruturas com funções especificas que atuam em conjunto para o funcionamento adequado do organismo, desde a respiração celular até mecanismos mais complexos. Elas podem ser prejudicadas por diversos fatores, físicos, químicos e biológicos. A radiação ionização pode afetar o funcionamento destas células, causando destruição (por meio do calor), ou até mesmo fragmentação (por meio da ionização). Esta ionização e fragmentação celular causam problemas a níveis genéticos, como a mutação, que pode ocorrer desde a gestação de fetos, que nascem prematuros ou, quando dentro do período de nove meses, nascem com graves problemas de má formação. As partículas radioativas (alfa, beta e gama) possuem um alto poder de energia cinética, ou seja, se movimentam com uma alta velocidade. Quando estas partículas atingem as células, provocam a ionização celular propriamente dita. 3 2. TECIDO BIOLÓGICO E METABOLISMO CELULAR As células possuem várias estruturas com diferentes funções fisiológicas, como membrana, citoplasma e núcleo. A membrana plasmática participa ativamente do metabolismo celular, selecionando substâncias que podem entrar e sair da célula, o citoplasma é o local onde estão inseridas as organelas, confere sustentação e movimentos celulares, síntese e armazenamento e transporte de macromoléculas (ribossomos, reticulo endoplasmático, complexo Golgi, lisossomos, peroxissomos, vacúolos) e metabolismo energético das células, por meio do citosol, cloroplastos e mitocôndria. A divisão celular nos eucariontes ocorre de duas formas, a meiose e a mitose, a mitose dá origem a células com o mesmo número de cromossomos tipo 2n (dois conjuntos cromossômicos), já a meiose da origem a 4 células com metade do número de cromossomos, o meio de produção se dá por meio da produção de gametas óvulo e espermatozoides (tipo N). O ciclo celular consiste em vários eventos bioquímicos responsáveis pela geração de duas células filhas, a partir de uma célula-mãe, importantes para o desenvolvimento embrionário; o crescimento do organismo; a regeneração ou a renovação tecidual; a reprodução assexuada, e a formação de gametas. Os eventos que sustentam este ciclo consistem em diversas etapas: crescimento celular, replicação do material genético (DNA), distribuição deste material genética (que formam os cromossomos) e a divisão celular (citocinese). Esses eventos são divididos em duas etapas distintas: interfase e mitose. Cada qual é caracterizada por diferentes eventos bioquímicos e fisiológicos, a interfase é dividida em três subfases: G1, S e G2. A mitose é dividida em prófase, pró-metáfase, metáfase, anáfase e telófase. G0 é quando a celular não está em nenhum processo de divisão. O tamanho e a forma da célula estão relacionados à sua função e são determinados por fatores extrínsecos e intrínsecos, como, por exemplo, pressões externas, organização do citoesqueleto, quantidade de citoplasma e de organelas e acúmulo de produtos de reserva ou secreção (HADLER, W. A.; SILVEIR), todas estas características dão origem a um tecido biológico, ou seja, o tecido biológico é totalmente influenciado pela forma e característica da célula que o compõe. 4 As células embrionárias possuem um ciclo celular extremamente curto, isto pode explicar porque a radiação ionizante pode ser tão prejudicial a estas células, justamente pela sua rápida multiplicação e importância que elas possuem na formação básicas e fisiológicas do feto. 3. INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM O TECIDO BIOLÓGICO A radiação ionizante tem energia suficiente para liberar elétrons de um átomo deixando, assim, o átomo carregado; já a radiação não ionizante como, por exemplo, ondas de rádio, luz visível, ou radiação ultravioleta, não possui energia suficiente para arrancar os elétrons. Ou seja, é a radiação ionizante que trará maiores consequências para as células e para o organismo. Existem átomos instáveis e estáveis, os átomos que possuem núcleo instável liberam energia em forma de radiação, denominados de radionuclídeos. Esta radiação pode interagir com outros átomos e ioniza-los (que é o que acontece com a células humanas). A radiação ionizante possui energia mais que suficiente para desemparelhar os elétrons de sua própria órbita, esta energia que transferida resulta na criação de átomos fortemente carregados, denominados de íons. A emissão de dois prótons e de dois nêutrons refere-se ao decaimento alfa, e a emissão de elétrons ao decaimento beta. Desta forma, um núcleo instável é tão energizado que a emissão de partículas não é suficiente para estabilizá-lo. Este, então, libera uma explosão de energia na forma de ondas eletromagnéticas como fótons, denominadas raios gama. A exposição a esta radiação pode resultar em diferentes consequências para o tecido biológico, isto irá depender da frequência da exposição, o tipo de radiação e a da proximidade com a mesma. Se a exposição ocorrer de maneira fracionada, ou apenas uma vez, como um tratamento radioterápico ou em certas rotinas de trabalho com material radioativo em instalações nucleares, por exemplo, as consequências ainda podem ser muito distintas, pois a exposição contínua ou periódica que o homem sofre da radiação cósmica, produz efeitos de difícil identificação, as consequências seriam bem maiores se o mesmo indivíduo fosse exposto com uma quantidade muito grande radiação apenas uma vez, o que poderia causar até morte. Outro fator diferencia e caracteriza os danos causados por radiação é o local onde a pessoa fica exposta a mesma, por exemplo, no tratamento de canceres, o 5 indivíduo recebe uma carga de radiação ionizante apenas no local onde o câncer está localizado, e consequentemente, a modificação na divisão celular irá ocorrer preferencialmente neste tecido alvo, com precisão e exatidão. O tipo de radiação também influencia totalmente no dano causado no organismo, a exposição a fótons por exemplo, provenientes de fontes de radiação gama ou geradores de raios X, causam danos biológicos diferentes conforme a taxa de dose, mas são altamente penetrantes, diferentemente das radiações do tipo alfa, que são fracamente penetrantes. Mas como ocorre este dano celular? Se a energia ionizante for muito alta e ultrapassar a energia de ligação dos átomos, pode gerar quebra das ligações químicas que compõe este átomo, o que consequentemente, irá causar mudanças moleculares no mesmo. Uma vez que esta mudança molecular ocorre, o funcionamento normal e natural da célula já está comprometido, estas alterações fazem com que célula produza radicais livres, íons e elétrons, prejudicando o tecido. Se a substancia que foi atingida possui um papel muito importante para o organismo, pode resultar até na morte celular. Os piores danos celulares são aqueles que alteram a estrutura do DNA, a exposição a este tipo de radiação podem quebrar as ligações simples e duplas da molécula, e também ligações cruzadas (entre DNA-DNA e DNA-proteínas), podem causar alterações nos açúcares ou em bases, deste substituições ou deleções. Naturalmente as células possuem mecanismos de reparos que são ativados quando ocorre alguma alteração na sequencia do seu material genético, porém, quando o erro não é corrigido, ou o reparo for ineficaz, pode dar origem a mutações, uma vez que mudança de apenas um códon (umasequência de três bases nitrogenadas) pode resultar em uma mutação, ou até morte reprodutiva da célula. A expressão dessas bases nitrogenadas e as sequências de códons dão origem a aminoácidos que em conjunto formam as proteínas, ou seja, qualquer alteração no DNA pode resultar na falta da produção de alguma proteína especifica (ou até mesmo essencial), ou na produção de alguma proteína irregular. As mudanças na molécula de DNA também podem resultar em uma transformação neoplásica. A célula modificada, mantendo sua capacidade reprodutiva, potencialmente, pode dar origem a um câncer. Estas células cancerígenas podem se multiplicar e atingir outros tecidos (metástase). 6 Em relação a morte celular, a célula precisa ser exposta a um nível elevado de radiação (vários Gy) para que este evento ocorra. Nem todas as células vivas possuem a mesma sensibilidade à radiação, algumas são mais radio sensíveis, células do ovário, dos testículos, da medula óssea e do cristalino são exemplos, pois são células que possuem maior atividade, ou seja, maior multiplicação. 4. ETAPAS DA PRODUÇÃO DO EFEITO BIOLÓGICO PELA RADIAÇÃO 4.1 Efeitos Físicos A produção de radicais e íons livres, que foram gerados a partir das quebras de ligação produz excitação de átomos e moléculas, gera uma energia que pode ser dissipada, no processo de de-excitação sob a forma de fótons. É possível analisar e definir algumas grandezas a partir dessa energia de radiação adicional transferida para um tecido, como, dose Absorvida e Kerma, que são medidos em gray (Gy). A relação entre a energia absorvida e a massa do volume de material atingido é a base da definição da grandeza Dose absorvida, já Kerma (kinectic energy released per unit of mass) é definido pela soma de todas as energias cinéticas iniciais de todas as partículas carregadas liberadas por partículas neutras ou fótons. 4.2 Efeitos químicos Uma vez que a célula é exposta a radiação ionizante, pode desencadear vários mecanismos químicos. Os radicais livres, íons e agentes oxidantes podem alterar moléculas e substâncias químicas importantes para o funcionamento da célula, inclusive substancias que estão presentes no cromossomo. Um exemplo é a interação da água com os raios ionizantes, que pode causar radiólise (dissociação de moléculas por radiação, clivagem de uma ligação química resultante da exposição a um fluxo de alta energia). Os elétrons livres também podem polarizar algumas moléculas que estão próximas da água, formando um elétron-hidratado. 4.3 Efeitos biológicos Como já foi descrito, os efeitos biológicos causando por este tipo de exposição irá depender de diversos fatores, como a Quantidade total de radiação recebida e a Intervalo de tempo durante o qual a quantidade total de radiação foi recebida. Por mais que a forma que célula reage a este tipo de agressão seja natural e adaptativo, 7 não implica necessariamente que o funcionamento da célula não será comprometido, os efeitos biológicos são visíveis, podendo causar desde morte prematura, impedimento ou retardo da divisão celular, até modificações permanentes e irreversíveis. 4.4 Efeitos orgânicos O efeito orgânico implica no surgimento de doenças, sintomas clínicos e mutações causados por este desequilíbrio químico, físico e biológico. Ou seja, o efeito orgânico refere-se a expressão deste conjunto de efeitos já citados. Quando ocorre o aparecimento de um tumor, por exemplo, significa que os reparos adaptativos celulares não foram suficientes para conter a propagação do câncer. O surgimento de leucemia nos japoneses, vítimas Hiroshima e Nagasaki é um exemplo bem característico. Há também efeitos orgânicos mais dramáticos, como a redução de tecido, perda de membro, queimaduras e aparecimento de bolhas, porém, estes podem levar até 6 meses para acontecer. 5. CLASSIFICAÇÃO DOS EFEITOS BIOLÓGICOS Existem cinco tipos de efeitos biológicos, efeitos estocásticos, determinísticos, somáticos, genéticos ou hereditários e efeitos imediatos e tardios. Eles recebem estas denominações de acordo com a função do valor da dose e forma de resposta, em função do tempo e do material biológico atingido. Os efeitos estocásticos são efeitos em que a probabilidade de ocorrência é proporcional à dose de radiação recebida. Doses pequenas que podem induzir tais efeitos, ou seja, sem a existência de limiar. Já os efeitos determinísticos são caracterizados pela irradiação total ou localizada do tecido, causando um grau de morte celular não compensada pela reposição ou reparo, ou seja, que causam efeitos prejudiciais ao tecido e órgão. Neste caso, existe um limiar de dose, logo, este efeito é produzido a partir da exposição a doses elevadas de radiação, além deste efeito variar com a dose, ele varia de acordo com a frequência exposta também. A principal diferença entre esses dois efeitos é que os efeitos estocásticos causam a transformação celular enquanto que os determinísticos causam a morte celular. 8 Quanto ao nível de dano, os efeitos podem ser somáticos, que acontecem na própria pessoa irradiada, que foi exposta a radiação, ou hereditários, os quais se manifestam nos filhos como resultado de danos causados nas células dos órgãos reprodutores da pessoa que foi atingida. Por fim, temos os efeitos em termos do tempo de manifestação, imediato ou tardio. Como o próprio nome já fiz, os efeitos imediatos são aqueles que em as manifestações aparecem poucas horas até algumas semanas após a exposição à radiação ionizante, como por exemplo a radiodermite (alterações da pele provocadas pela radioterapia), já os efeitos tardios são aqueles que aparecem depois de anos ou mesmo décadas após a exposição, como por exemplo, o câncer. 6. SINDROME DE IRRADIAÇÃO AGUDA 6.1 Exposições acidentais com altas doses Como já observamos, o dano causado pela radiação ionizante depende muito da exposição e da dose, podendo resultar em valores elevados da dose absorvida, podendo ser de algum tecido especifico ou do corpo todo. No caso de exposição acidentais em altas doses, que acontece em lugares onde há uma alta atividade de fontes radioativas ou feixes de radiação intensa, o individuo que é exposto a esta radiação desenvolve a uma serie de reações biológicas que podem se manifestar sob a forma de sintomas indicativos de alterações mais profundas provocadas pela radiação, que é denominada de Síndrome da radiação aguda. Um possível dano provocado por este tipo de radiação é a formação de aberrações cromossômicas. 6.2 Exposição externa localizada Tabela 1. Relação dose-efeito ocasionado por exposições localizadas. 9 Manifestações Clinicas Dose Absorvida (Gy) Lesões na pele eritema precoce, epiderme seca, epiderme exudativa, queda de pelos e cabelos, radiodermite, necrose 3 < D < 10 Gy 10 < D < 15 Gy 15 < D < 25 Gy Lesões no olho catarata D > 2 Gy D> 5 Gy Lesões nas gônadas Homem esterilidade temporária, esterilidade definitiva Mulher alterações provisórias na fecundidade esterilidade D > 0,15 Gy 3,5 < D > 6 Gy D > 2,5 Gy 3 < D < 6 Gy Lesão no Feto efeitos em função da dose e idade do feto 6.3 Exposição de corpo inteiro de um adulto Quando o indivíduo é exposto a radiação no corpo todo existe o risco de morbidez, que irá depender da dose absorvida, do tempo de desenvolvimento e do órgão/tecido que foi atingido. Tabela 2. Limiares estimados de doses absorvidas agudas gama para 1% de morbidez e mortalidade após exposição de corpo inteiro de uma pessoa. (ICRP 103, 2007). 10 6.4 Síndrome de Irradiação Aguda Segundo Bitelli(1) a Síndrome Aguda das Radiações é “o conjunto de sintomas e sinais clínicos consequente a uma irradiação de corpo total, desenvolvida em um curto período (segundos a minutos)”. As manifestaçõestambém vão depender da dose absorvida, da taxa de exposição (crônica ou aguda) e da forma de exposição (corpo inteiro ou localizada). Quanto menor for o intervalo de tempo entre a exposição e o início do quadro clínico mais graves serão os sintomas. Tabela 3. Síndrome de Irradiação Aguda. Forma (Gy) Manifestações clinicas Infra-clínica < 1 Ausência de sintomas, na maioria dos indivíduos Reações leves generalizadas 1 a 2 Astenia, náuseas e vômitos de 3 a 6 horas após a exposição. Efeitos desaparecendo em 24 horas. Síndrome Hematopoiética Leve 2 a 4 Depressão da função medular (linfopenia, leucopenia, trombopenia, anemia). Máximo em 3 semanas após a exposição e voltando ao normal em 4 a 6 meses. Síndrome Hematopoiética Grave 4 a 6 Depressão severa da função medular Síndrome do Sistema Gastrointestinal 6 a 7 Diarreia, vômitos, hemorragias Síndrome Pulmonar 7 a 10 Insuficiência respiratória aguda Síndrome do Sistema Nervoso Central >10 Coma e morte. Horas após a exposição. A dose letal média fica entre 4 e 4,5 Gy. Isto significa que, de 100 pessoas irradiadas com esta dose, metade morre. Sintomas e sinais no estágio prodrômico e síndrome de irradiação aguda em ordem aproximada de crescente gravidade são: Anorexia (perda de apetite), náusea vômito Debilidade e fadiga, prostração diarreia, conjuntivite, eritema (vermelhidão cutânea), choque (falência aguda da circulação periférica), oliguria (redução da excreção urinária), ataxia (perda da coordenação dos movimentos), desorientação, coma (alteração grave da vigilidade - encéfalo) e morte. 11 7. CONCLUSÃO Visto que apenas uma pequena alteração na molécula de DNA pode ser totalmente danosa para célula, a exposição à radiação ionizante se qualifica como um potencial agressor as mesmas, podendo gerar diversos tipos de manifestações clinicas e estruturais. Porém, nem sempre o desenvolvimento de canceres e doenças ocorrerá, uma vez que a célula possui vários mecanismos de reparo (por meio de enzimas) com a função de minimizar essas manifestações. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. THOMAS BITELLI., Dosimetria e Higiene das Radiações. São Paulo: Grêmio Politécnico, 1982 2. HADLER, W. A.; SILVEIRA, S. R. Histofisiologia dos epitélios: correlação entre a morfologia e a função dos epitélios. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1993. pp. 10, 13, 15. 3. UNSCEAR, Genetic and Somatics Effects of Ionizing Radiation, Report of the United Nations Scientific Committees on the Effects of Atomic Radiations, 1986. 4. Radioproteção e Dosimetria : Fundamentos (L.Tauhata, I.P.A . Salati, R. di Prinzio, A .R. di Prinzio) IRD/CNEN 5. The Basics of Film Processing in Medical Imaging (A . G. Haus, S. M. Jaskulski)