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CASO PRÁTICO - DIREITO DO TRABALHO SEGURANÇA DO TRABALHO

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ANÁLISE DE CASO PRÁTICO 
 
Empresa que contrata autônomo deve adotar medidas para que o serviço seja 
executado com segurança 
 
 
Entendendo o caso 
 
 
A reclamante era viúva de um trabalhador autônomo que, como encarregado de 
manutenção, fazia reparos nas máquinas de produção da empresa ré, sempre que elas 
apresentavam defeitos. Em intervalos médios de três meses, o marido era solicitado para 
prestar seus serviços na empresa, onde permanecia por cerca de 15 dias. Até que um dia, 
quando estava na empresa reparando o motor de uma máquina de pré-moldados, ele 
sofreu um gravíssimo acidente: o motor despencou e o atingiu, ferindo-o gravemente. 
Chegou a ser hospitalizado, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. 
 
 
Esse o trágico cenário encontrado pelo juiz Valmir Inácio Vieira, em sua atuação na Vara 
do Trabalho de Itaúna-MG, ao analisar a ação ajuizada pela viúva do trabalhador 
autônomo contra a empresa que contratou os serviços do marido. Alegando a culpa da 
empresa no acidente, a reclamante pretendia que ela fosse condenada a lhe pagar 
indenização por danos materiais (sob a forma de pensão mensal, até a data em que o 
marido falecido completaria 75 anos de idade, a ser paga de uma só vez), além de 
indenização por prejuízos morais. E, em sua análise, o juiz deu razão à reclamante e 
deferiu os pedidos. 
 
 
Os dois lados da história 
 
 
Versão da reclamante - A esposa do trabalhador afirmou que, antes da morte do marido, 
foi necessário que se amputasse um dos seus pés, o que aumentou, em muito, o sofrimento 
de toda a família, que já não era pouco. Disse ainda que a empresa teve culpa no acidente 
que tirou a vida do trabalhador, tendo em vista que ele não usava qualquer equipamento 
de segurança quando se acidentou, fato que revela a negligência da empresa no 
cumprimento das normas de segurança do trabalho. Acrescentou que teve sua vida 
transformada com o acidente, pois tinha uma família tranquila e completa e, depois da 
morte do marido, passou a viver em constante estado de pânico e depressão, sendo 
obrigada a se sustentar com os parcos rendimentos de pensionista e a depender de favores 
de parentes e amigos, o que lhe traz enormes constrangimentos, totalmente ignorados pela 
empresa, a verdadeira culpada pelo infortúnio. 
 
 
Versão da empresa - Ao se defender, a ré contou sua versão: a relação com o marido da 
reclamante era apenas comercial, já que ele nunca foi seu empregado, mas apenas lhe 
prestou serviços em algumas oportunidades. Na época do acidente, a empresa estava 
mudando um maquinário de local (unidade hidráulica de bombeamento de concreto) e, 
para seu transporte e fixação, contratou uma empresa especializada (Ita Montagens). O 
marido da reclamante foi contratado apenas para fazer regulagem e implantação da 
máquina, o que deveria ser feito apenas depois da fixação do equipamento pela Ita 
Montagens. Mas, quando o reservatório da unidade já estava sendo parafusado, o 
trabalhador pediu que aguardassem, dizendo que precisava terminar um procedimento. 
 
 
Foi aí que o prestador de serviço se desequilibrou e se apoiou, por reflexo, numa das 
mangueiras do reservatório, quando este acabou caindo sobre ele - e isso só ocorreu 
porque o próprio trabalhador solicitou que o reservatório não fosse fixado. Ele foi 
removido consciente pelo serviço de emergência e permaneceu no hospital João XXIII, 
em Belo Horizonte, por 24 dias, vindo a falecer, de acordo com a própria família, em 
consequência de uma infecção generalizada. 
 
 
A empresa sustentou ainda que o trabalhador estava usando capacete, mas, pelo peso do 
reservatório, isso não impediu que ele se machucasse gravemente, inclusive na cabeça. 
Para a defesa, o acidente ocorreu por culpa exclusiva do trabalhador, que solicitou que o 
reservatório não fosse fixado e iniciou seu trabalho de instalação das mangueiras antes do 
combinado, assumindo pessoalmente um risco desnecessário. 
 
 
Por fim, argumentou que não teve qualquer culpa no acidente, pois contratou o marido da 
reclamante, justamente, pela sua vasta experiência nesse tipo de trabalho e também 
porque, por ser autônomo, ele assumiu a responsabilidade e os riscos de entregar o serviço 
pronto, sem necessidade de ingerência ou coordenação da empresa. Finalizou dizendo 
que, por todas essas razões, o caso deve ser resolvido de acordo com as regras do Código 
Civil sobre o prestador de serviços autônomos, que lhe atribuem a responsabilidade sobre 
os riscos do seu trabalho, devendo entregá-lo realizado à contratante, de quem não se 
pode exigir as mesmas obrigações do empregador, inclusive a de fornecer e cobrar o uso 
de EPIs. 
 
 
Enfim, a reclamada afirmou que marido da reclamante atuava como patrão de si mesmo, 
sem submissão aos poderes de comando da contratante, razão pela qual não havia como 
a empresa exigir que ele usasse EPIs. Além de tudo, para a responsabilização da ré seria 
necessária prova clara de seu dolo ou culpa no acidente, o que não existiu, já que o 
acidente ocorreu por culpa exclusiva da vítima. E disse mais: era obrigação do próprio 
trabalhador autônomo se precaver e se equipar no intuito de evitar qualquer acidente e, 
portanto, não se pode exigir qualquer indenização da empresa. 
 
 
Entendimento do julgador: regras de segurança no trabalho também se aplicam ao 
trabalhador autônomo 
 
 
Após examinar as provas, o magistrado notou algo que lhe chamou atenção: a empresa 
tem a prática de fornecer EPIs a todas as pessoas que entram em seu estabelecimento 
(capacete, óculos de segurança e botina), inclusive aos prestadores de serviços autônomos 
- como era, de fato, o caso do marido da reclamante. Segundo o juiz, o procedimento da 
empresa não traduz excesso de cuidado, mas está de acordo com o artigo 196 da 
Constituição da República Federativa do Brasil, segundo o qual: "A saúde é direito de 
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à 
redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação". Além disso, o artigo 2º da 
Lei 8.080/1990 dispõe que: "A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo 
o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício". E, nos termos do 
parágrafo 2º dessa norma, "O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das 
empresas e da sociedade". 
 
 
Com base nessas regras, o julgador concluiu que a saúde é um direito de todos e, dessa 
forma, também alcança os trabalhadores autônomos, existindo, nas palavras dele, 
um "inexorável entrelaçamento entre o direito à saúde e o direito à saúde no 
trabalho". Tanto é assim que o parágrafo 1º. do art. 19 da Lei 8.2.13/91 é claro ao dispor 
que: "A empresa é responsável pela adoção e uso das medidas coletivas e individuais de 
proteção e segurança da saúde do trabalhador",ressaltou. 
 
 
Em sua sentença, o juiz mencionou as seguintes normas previstas no Código de Saúde do 
Estado de Minas Gerais (Lei Estadual n. 13.317, de 24.09.1999): 
 
 
"Art. 57. Para os efeitos desta lei, entende-se como saúde do trabalhador o conjunto de 
atividades destinadas à promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde do 
trabalhador submetido a riscos e agravos advindos das condições de trabalho. 
 
Art. 58. Considera-se trabalhador aquele que exerça atividade produtiva ou de prestação 
de serviços no setor formal ou informal da economia". 
 
E, para o magistrado, todas essas normas legais mostram a intenção do legislador 
em "resguardar o mínimo existencial dos trabalhadores" - de todos eles, inclusive dos 
informais e autônomos - no que diz respeito à saúde e segurança no trabalho, o que fica 
ainda mais evidente pela obrigatoriedade da adoção de medidas preventivas de acidentes 
do trabalho, que guarda estreita ligação com a ética nas relações de trabalho e também 
como princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
 
Para reforçar seu entendimento, citando doutrina da área de ética e segurança no trabalho, 
o magistrado explicou que, no campo do direito, existe um dever básico, que é o de 
reconhecer a intangibilidade da vida humana, do qual decorre outros três: I - o respeito à 
integridade física e psíquica das pessoas; II - consideração pelos pressupostos materiais 
mínimos para o exercício da vida; III - respeito pelas condições mínimas de liberdade e 
convivência social igualitária (in artigo intitulado "Caracterização Jurídica da Dignidade 
da Pessoa Humana", Revista dos Tribunais, ano 91, volume 797, março de 2002. São 
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 19). 
 
 
Na sentença, também foram destacados os ensinamentos de Roldão Alves de Moura, 
segundo o qual a saúde é direito tutelado independentemente de vínculo empregatício 
(Ética no meio ambiente do trabalho. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004, p. 43). 
No mesmo sentido, ressaltou-se o pensamento de Lenir Santos: "Assim, o indivíduo em 
sua atividade de trabalho tem o direito de não ser submetido a riscos, pouco importando 
se a atividade é executada no mercado formal ou informal, com ou sem carteira de 
trabalho, em ambiente urbano ou rural etc." (in artigo intitulado "Saúde do Trabalhador e 
o Sistema Único de Saúde: Conflito de Competência. União, Estados e Municípios. 
Interface Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Saúde e Ministério da 
Previdência Social". Revista de Direito do Trabalho. Volume 99, São Paulo: RT. 2000, 
p. 123). 
 
 
Nesse contexto, o julgador não teve dúvidas sobre a obrigatoriedade de se observar a 
aplicação da Norma Regulamentadora n. 12 a todas as situações de trabalho que 
envolvam, no interior da empresa, as máquinas e os equipamentos, qualquer que seja a 
atividade econômica (conforme o item 12.1 da NR). E essa norma deve ser observada por 
todos, justamente diante da obrigação de se respeitar o mínimo existencial dos 
trabalhadores, incluindo os autônomos, como o era o marido da reclamante, frisou. 
 
 
"Não se trata, portanto, de liberalidade da ré o fato de a mesma dedicar cuidados 
preventivos aos trabalhadores que adentrem em suas dependências e, em decorrência 
desse acesso, estarão sujeitos aos perigos ali existentes. Tratam-se, semelhantes cuidados, 
nada mais do que dar cumprimento aos preceitos do ordenamento jurídico nacional que 
impõem o respeito ao mínimo existencial dos trabalhadores no tocante à saúde e à 
segurança no trabalho", destacou o magistrado. Por fim, ele acrescentou que, como 
gestora dos itens de segurança, a empresa tinha o poder e mesmo a legitimidade para 
exigir que os trabalhadores que entravam em seu estabelecimento, inclusive os 
prestadores de serviços autônomos, usassem os equipamentos de segurança e 
observassem as regras básicas de segurança no trabalho. 
 
 
Os fatos - As normas aplicáveis ao caso específico 
 
 
Em seu exame, o magistrado constatou que o acidente que tirou a vida do trabalhador 
autônomo ocorreu quando a empresa estava alterando a localização, ou seja, estava 
reinstalando o seguinte equipamento: bomba de concreto e o reservatório de óleo 
respectivo. E, conforme ressaltou, nesses casos, de instalação (ou reinstalação) de 
máquinas e equipamentos, a qual implica riscos ocupacionais de grande magnitude, a NR-
12 (que, à época da decisão, ainda não havia sofrido as alterações publicadas em maio 
deste ano) é bastante minuciosa quanto às medidas que devem ser tomadas para evitar 
acidentes do trabalho, entre elas: 
 
 
- As máquinas devem estar estabilizadas, de forma que não se desloquem 
intempestivamente por vibrações, choques ou outras forças externas (item 12.11); 
 
- A instalação deve observar os requisitos do fabricante ou projeto elaborado por 
profissional habilitado (item 12.11.1); 
 
- Devem ser elaborados procedimentos de trabalho e segurança específicos, 
padronizados, com descrição detalhada de cada tarefa, passo a passo, a partir da análise 
de risco (12.130); 
 
- Os serviços devem ser planejados e realizados conforme os procedimentos de trabalho 
e segurança, sob supervisão e anuência expressa de profissional habilitado ou 
qualificado (12.132) e, ainda, precedidos de ordens de serviço específicas 
 
- O projeto deve levar em conta a segurança intrínseca da máquina ou equipamento, por 
meio das referências técnicas indicadas na NR-12, que devem ser observadas para 
garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores (item 12.133). 
 
Em sendo assim, segundo o magistrado, antes que o trabalhador iniciasse os reparos no 
reservatório, o equipamento deveria estar estabilizado para que não se deslocasse 
acidentalmente, o que não foi feito, tanto que o reservatório, de fato, caiu e atingiu o 
trabalhador. Além disso, conforme ressaltado pelo juiz, já que o próprio fabricante do 
maquinário não providenciou os requisitos necessários para a reinstalação, a empresa 
deveria ter buscado um projeto elaborado por profissional legalmente habilitado para a 
realização do serviço, o que também não cuidou de fazer, descumprindo a NR-
12. "Constituía incumbência da ré, em observância à NR-12, ter providenciado o projeto 
de execução do serviço elaborado por profissional autorizado, em especial para a fixação 
do reservatório de óleo para os devidos ajustes. E essa medida preventiva obrigatória a ré 
não cumpriu", destacou o julgador. E mais. O perito do juízo informou que o serviço não 
foi precedido de projeto técnico de mudança do layout da unidade hidráulica. 
 
 
Todos esses fatos, na visão do magistrado, são suficientes para configurar a culpa da 
empresa no acidente, já que ela permitiu que um trabalhador atuasse em seu complexo 
industrial sem estar resguardado com toda a segurança possível e previsível. Em outras 
palavras, a empresa se omitiu quanto à observância das normas de segurança do trabalho. 
 
 
Isso porque, conforme registrado na sentença, para o tipo de serviço que seria realizado 
pelo trabalhador, a NR-12 exige projeto elaborado por profissional legalmente habilitado, 
considerado como tal alguém que tenha registro no conselho de classe, com formação 
específica, e que possa assumir essa responsabilidade técnica e emitir uma "Anotação de 
Responsabilidade Técnica". Dessa forma, não é suficiente a simples supervisão de 
profissional reconhecido na área, com experiência comprovada e capacitação, como, 
segundo afirmou a empresa, era o caso do marido da reclamante. 
 
 
Essas constatações, na visão do magistrado, afastam a alegação da empresa sobre a culpa 
exclusiva da vítima na ocorrência do acidente. "Diante da ausência de observância às 
medidas preventivas mínimas que constariam em projeto elaborado por profissional 
legalmente habilitado, as alegações da empresa sobre a culpa do trabalhador não passam 
de simples conjectura", frisou o magistrado. Ele também registrou que empresa não 
comprovou a existência do ajuste prévio no sentido de que o trabalhador apenas faria a 
instalação das mangueiras após a fixação do reservatório. Além do mais, não houve 
notícia sobre qual a orientação a empresa Ita Montagens teria a respeito. Dessa forma, 
para o juiz, as alegações da empresa de que o trabalhador teve culpa exclusiva no acidente, 
por não ter esperado um técnico experiente e seguido as regras de segurança, não passam, 
igualmente, de simples conjectura. "Portanto, não há como concluir que a empresa 
realmente observou todos os procedimentos de prevenção e segurança, como havia 
afirmado na sua defesa", ressaltou o juiz. 
 
 
Mas, o magistrado foi além. Na visão dele, ainda que se entendesse que todas as medidas 
de segurança para a execução do serviço, no momento do acidente, estivessem sob a 
batuta do trabalhador, dada a sua condição de autônomo, mesmo assim estaria presente a 
negligência da empresa no ocorrido. É que, para a segurançanaquele tipo de atividade, 
seria necessário adotar medidas preventivas mínimas, em especial uma prévia e séria 
análise de riscos, como determina a NR-12 (observância a normas da ABNT, inclusive), 
com a adoção de uma metodologia correta. E, ao contratar o serviço com o trabalhador 
autônomo, a empresa não exigiu dele o compromisso de seguir todos os parâmetros 
mínimos de segurança estabelecidos na NR-12, além de ter falhado na sua obrigação de 
fiscalizar a prestação de serviços para garantir, pelo menos, nas palavras do 
magistrado, "o mínimo observável, o mínimo existencial do trabalhador autônomo". 
 
 
Para finalizar, o juiz sentenciante registrou que, caso existisse cláusula contratual, 
expressa ou tácita, no contrato de prestação de serviços entre a empresa e o trabalhador, 
estabelecendo que ele assumiria prestar os serviços sem observar as medidas mínimas de 
prevenção a acidente do trabalho previstas na NR-12, estaríamos diante de uma clara 
cláusula infringente ao princípio da função social do contrato (art. 421 do Código Civil) 
e que, portanto, não poderia prevalecer. Isso porque a própria Constituição Federal 
condiciona a liberdade de iniciativa e o direito de propriedade à sua função social (artigos 
1º, III, 170, III, 182, § 2º, e 186). "E, de acordo com a Constituição, o Código Civil 
enaltece a função social do contrato, pela sua repercussão coletiva, impondo às partes 
contratantes a observância dos princípios da probidade e da boa-fé no exercício da 
autonomia, aspectos esses que têm alta relevância nas relações que envolvem 
trabalhadores autônomos", explicou o magistrado. "Ao Poder Judiciário incumbiria fazer 
prevalecer de modo diferente essa cláusula, com a aplicação dos artigos 187 ou 157, 
ambos do Código Civil, diante da caracterização de abuso de direito ou de 
lesão", arrematou. 
 
 
Por tudo isso, a conclusão do magistrado foi a de que os parâmetros mínimos de segurança 
estabelecidos na NR-12 não estavam sendo observados por ocasião da prestação de 
serviços do trabalhador acidentado, sendo a ré omissa nesse ponto, daí sua culpa no 
acidente do trabalho que tirou a vida do marido da reclamante. 
 
 
As indenizações 
 
 
Danos materiais - O julgador entendeu que, no caso, estão presentes os pressupostos da 
responsabilidade civil por danos (materiais e morais) decorrentes de acidente do trabalho, 
ou seja, o ato ilícito, consubstanciado no erro de conduta da empresa (omissão quanto ao 
respeito às regras mínimas de segurança do trabalho - NR-12), a ofensa a um bem jurídico 
ou dano (a morte do trabalhador e os prejuízos morais e materiais que isso trouxe à vida 
da reclamante) e a relação de causalidade entre a conduta ilícita e o dano causado. 
 
 
E, segundo o juiz, os prejuízos que o acidente causou à vida da reclamante, como esposa 
do trabalhador falecido, são evidentes, o que confere a ela o direito às indenizações 
pleiteadas. "O prejuízo financeiro decorreu da perda da ajuda financeira que o marido 
da reclamante dava à família", destacou o juiz. Mas, ele acrescentou que, de qualquer 
forma, conforme ensina Sebastião Geraldo de Oliveira, "...na pensão decorrente de ato 
ilícito, não se questiona sobre a necessidade ou não de alimentos por parte dos 
dependentes do morto porque o objetivo é reparar o prejuízo da perda da renda familiar. 
Ainda que os prejudicados tenham posses suficientes para manter o padrão de vida 
anterior ao óbito, o ressarcimento é devido como reparação do dano causado. O fato 
gerador da pensão é o ato ilícito ... e não a necessidade de prover alimentos" (in 
Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doenças Ocupacionais, São Paulo: Ltr, 2006, 
p. 213). 
 
 
Quanto ao nexo causal entre a conduta culposa da ré e os danos decorrentes do acidente, 
o julgador considerou ter sido claramente demonstrado pela prova documental, colocando 
uma pá de cal sobre as alegações da empresa de que uma suposta negligência do hospital 
pode ter ocasionado a morte do trabalhador, e não o ferimento em si. Isso porque o laudo 
de necropsia como da certidão de óbito registraram como "causa mortis" do trabalhador 
o "choque hipovolêmico" decorrente do trauma de face, crânio e tórax causados pelo 
acidente. Além disso, o Hospital João XXIII, onde o trabalhador permaneceu internado e 
veio a falecer, apresentou relatório médico contendo o histórico do paciente na unidade 
hospitalar, revelando que a infecção e posterior "sepse", são decorrentes das complicações 
e do manejo do paciente devido à condição em que ele se encontrava por causa do trauma. 
 
 
"De qualquer forma, o dever de indenizar não exige nexo de causalidade exclusivo, sendo 
que a presença de um só elemento de responsabilidade do réu a causar dano é suficiente 
ao reconhecimento do nexo causal e do dever de indenizar. No caso, a atitude omissa da 
ré atuou, à evidência, como concausa para o acidente do trabalho verificado, gerador 
dos danos à reclamante", destacou o juiz sentenciante. 
 
 
Ele concluiu que o dano material seria suficientemente remunerado com o pagamento de 
indenização, em cota única, de acordo com o art. 950, parágrafo único, do CPC, no valor 
de R$ 21.600,00 (R$ 400,00 mensais, correspondente a 2/3 da média dos valores que, 
razoavelmente, eram auferidos mensalmente pelo marido da reclamante, levando em 
conta o que ele recebia da ré e, também, das outras empresas para as quais prestava 
serviços). Esse valor foi multiplicado por 9 anos, conforme atual expectativa de vida que 
teria o trabalhador, segundo tabela do IBGE (108 meses), tudo dividido por dois, o que, 
para o juiz, se justifica porque o pagamento em cota única descapitaliza a empresa e, por 
outro lado, possibilita à reclamante efetuar aplicações financeiras que lhe trazem ganhos 
mensais correspondentes à pensão mensal. 
 
 
Danos morais - Quanto à indenização por danos morais, o magistrado frisou que o 
sofrimento psicológico da reclamante, decorrente da perda de um ente querido (esposo) 
oriunda do acidente do trabalho, não pode ser colocado em dúvida, sendo evidentes os 
reflexos altamente negativos para o seu bem-estar e paz interior. "No caso, o dano moral 
corresponde a essa lesão a interesses não patrimoniais da autora, sendo que embora se 
saiba que o sentimento do homem seja algo intangível, a despeito de não ser palpável, é 
tutelado pelo Direito (no art. 5º., V e X, da Constituição Federal, estão protegidos os 
valores da intimidade)",destacou, na decisão. 
 
 
Foi lembrado ainda que a necessidade da reparação nasce com o evento danoso e dispensa 
a comprovação do prejuízo, que deriva do próprio infortúnio. E, ressaltando que a 
indenização não pode servir de pretexto para o empobrecimento de um e enriquecimento 
de outro, mas que deve ser fixada da forma mais severa possível, atendendo às finalidades 
punitiva, preventiva e compensatória, o magistrado fixou em R$60.000,00 a indenização 
por danos morais a ser paga pela empresa à reclamante. 
 
 
O Recurso - A empresa recorreu da decisão, que ficou integralmente mantida pela 
Terceira Turma do TRT de Minas, inclusive quanto ao valor das indenizações. O relator 
do recurso, desembargador Luis Felipe Lopes Boson, fez questão de ressaltar que a perícia 
técnica realizada no processo detectou falhas no sistema de segurança da ré, no que tange 
à construção da plataforma, já que esta não possui sistema de proteção contra queda, 
conforme determina a NR-8.3.6. 
 
 
Ainda segundo pontuou o relator, "não há como prevalecer a tese defensiva de culpa 
exclusiva da vítima, tampouco de culpa concorrente, tendo em vista que as testemunhas 
apenas ouviram dizer que o reclamante teria pedido para que o reservatório não fosse 
parafusado". 
 
 
Assim, o julgador entendeu configurada a culpa da empresa pelo acidente, uma vez que 
este ocorreu pelos riscos existentes no local, conforme conclusão pericial, e pelo risco 
criado pela não fixaçãodo reservatório. Com isso, o relator afastou a tese, levantada pela 
ré, de que a sua condenação estaria fundada na responsabilidade objetiva, já que ficou 
demonstrada a culpa da empresa, decorrente da não observação das normas relativas à 
saúde e segurança no trabalho, as quais se estendem, sim, aos trabalhadores autônomos. 
 
 
Ele considerou irrelevante que familiares trabalhador falecido tenham informado que a 
morte decorreu de infecção generalizada: "Essa infecção, evidentemente, foi mera 
decorrência da causa principal, informada na certidão de óbito, conforme necropsia 
realizada pelo Instituto Médico Legal", pontuou. 
 
 
Por fim, corroborando o entendimento da sentença, o acórdão cita lição de Sebastião 
Geraldo de Oliveira, que vale registrar: 
 
 
O dever de redução dos riscos no local de trabalho previsto no art. 7º, XXII, da 
Constituição da República, não se restringe ao trabalhador empregado, mas beneficia a 
todos os trabalhadores urbanos e rurais. Aliás, nesse sentido há previsão expressa do 
art. 8.2 da Convenção 167 da OIT: 'Quando empregadores ou trabalhadores autônomos 
realizarem atividades simultaneamente em uma mesma obra terão a obrigação de 
cooperarem na aplicação das medidas prescritas em matéria de segurança e saúde que 
a legislação nacional determinar.'" 
 
 
[...] para os acidentes ocorridos com os trabalhadores autônomos ou eventuais, em 
princípio, não cabe atribuir culpa ao contratante pelos riscos inerentes aos serviços 
contratados, salvo se ficar caracterizada a sua culpa por ter criado, por ação ou omissão, 
um risco adicional que gerou o acidente (ou risco alheio aos serviços 
contratados)". (Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 7ª ed. - 
São Paulo: LTr, 2013, p. 445 e 446-verso). 
 
 
Processo: 0011685-18.2014.5.03.0062 - Sentença em: 28/08/2015 - Acórdão em: 
11/11/2015.

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