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Nathália Gomes Bernardo Sistema Digestório dos Ruminantes Casuística=> Conjunto de casos pregressos e/ou prevalentes para um local, região ou contexto maior, a partir das quais são elaboradas analogias, comparações com novos casos e assuntos temáticos correlacionados, passíveis de investigação. “prevalência” Ex: erliquiose em Uberlândia A casuística varia e depende muito com a produção. Quanto mais intensifica a produção, mais provável haver casuística do sistema digestório. Uma vaca a pasto, por exemplo, tem menos casuística quando comparada com uma de confinamento na questão de competição por alimento, movimentação e estresse. Anatomia: • Região de diastema, espaço entre os incisivos e os pré-molares, é onde seguramos para avaliar a boca; • Não possuem incisivos superiores; • Hemiarcada: pinça, primeiro médio, segundo médio e canto (4 dentes por hemiarcada; 8 dentes no total). Dentição revela idade aproximada do animal. Nascem na ordem pinça-> primeiro médio -> segundo médio -> canto, e também caem nessa ordem; • Incisivos dos bovinos possuem certa (baixa) mobilidade, pois diferente de muitos animais, bovinos quase não utilizam estes dentes para apreensão; • Utilizam a língua para apreensão de alimentos; • Dentição primária (temporária) é menor e, por isso, um pouco espaçada; e secundária, um pouco mais escuros. Pelo tamanho da para saber quais são os dentes permanentes e quais não. ! Em fêmeas, além de dentição, também se olha o carimbo de vacinação de brucelose – machos não são vacinados- para avaliar idade. Exame Clínico: Identificação • Raças e função: algumas raças são mais susceptíveis, e o tipo e intensidade de produção também devem ser levados em consideração; • Idade: animais recém nascidos tem rúmen e retículo ocupando 30% e já o omasso e abomaso ocupando 70%, enquanto animais adultos tem rúmen (mais importante) e retículo com cerca de 70-75% do conteúdo digestivo total; A nutrição estimula o crescimento dos compartimentos: o feno/capim aumenta o compartimento enquanto a ração/concentrado (estímulos químicos) aumenta o tamanho de parede, promovem o desenvolvimento da mucosa e das papilas ruminais que são responsáveis pela capacidade absortiva; • Sexo: no periparto (3 semanas antes e 3 depois da gestação) do estágio final o feto desloca o rúmen crânio-dorsalmente (empurra o rúmen para frente e o levanta do assoalho do abdome) e o abomaso ocupa este espaço da porção ventral (fator que pode causar deslocamento de abomaso); • Peso; • etc Exame Físico Específico • Crânio- caudal. Cavidade oral: boca, língua, palato duro, palato mole, dentição, região de orofaringe. Contenção do anima-> uso de abre boca e abaixador de língua. Inspeção É importante avaliar a apreensão e mastigação do animal (pode-se fornecer alimento e avaliar a força com que o animal puxa o feno); Mastigação do ruminante é utilizando pré-molar e molar, sendo lateralizada. Mastigação: ocorre lateralização da cabeça durante a mastigação. Os ruminantes realizam mastigação produtiva e mastigação improdutiva; Improdutiva: não é uma mastigação completa, não reduz o suficiente o tamanho da fibra/ partículas (isso predispõe os bovinos a engolirem corpos estranhos e causar reticulites) e então esse material permanece no rúmen; Produtiva: O animal faz o movimento retrógado, o material que se encontra no rúmen retorna a boca e então é realizada a mastigação completa, reduzindo o material a partículas suficientemente pequenas para conseguirem passar pelo óstio retículo-omasal. ! Uma grande importância da mastigação produtiva é estimular a salivação; a saliva tem ação tamponante (rúmen) e auxilia a deglutição. Preensão de alimento: bovinos utilizam principalmente a língua; equinos, ovinos e caprinos utilizam os lábios e os dentes incisivos, além de realizam movimento brusco com a cabeça quando necessário arrancar/puxar o alimento. É importante avaliar a presença de saliva: • Sialorreia x Ptialismo: Ptialismo é a produção excessiva de saliva pelas glândulas salivares, enquanto sialorreia é a presença excessiva de saliva na cavidade oral que pode se apresentar no canto exterior da boca; Nem sempre quando há ptialismo há demonstração disso através da sialorreia porque o animal pode simplesmente engolir a saliva. Pode haver sialorreia sem que haja ptialismo, por exemplo, por dificuldade de deglutição (disfagia) ou alteração neurológica. Picada de cobra causando edema de glote que dificulta bastante a deglutição: há sialorreia sem que haja ptialismo. • Pode-se abrir a boca do animal de forma manual (região de diastema ou pressionar o palato duro com polegar) para analisar de forma mais rápida, ou através de abre bocas específico e abaixador de língua (avaliação de orofaringe) quando mais criterioso (lesões, inflamações, corpos estranhos, fraturas). - Actinobacilose: (partes moles) “língua de pau” É causado por um agente bacteriano e é conhecido por “língua de pau” por deixar a língua do animal com este aspecto; isso prejudica a ingestão de alimentos, pois a língua tem papel importante na salivação (causa ptialismo) e, nos bovinos, na apreensão; - Actinomicose: (partes duras) pode afetar toda parte óssea, causando aumentos; movimentos rígidos. • Na inspeção mesmo, ao abrir a boca do animal, avaliar presença de alimentos na região da bochecha- entre os pré-molares e o canto da boca, pois pode haver excesso de alimento. • É importante ver (de longe) o animal ruminando (do lado esquerdo->esôfago cervical lateralizado), pois se ele rumina é porque não há obstrução esofágica e há processo neurológico funcionando. ! Alguns termos: - polifagia: apetite voraz ou excessivo; normalmente relacionado a distúrbios neurológicos; - normorexia/ normofagia: apetite normal; - inapetência/ hiporexia: ingestão de quantidades menores de alimento ou apetite parcial; - anorexia: ausência total da ingestão alimentar; - parorexia/ pica/ alotriofagia: apetite pervertido. Ex.: Ruminantes ingerindo osso, que leva ao quadro de botulismo por apresentarem Clostridium Botulinum, por deficiência de fósforo. Ex.: bezerros lambendo urina do chão por falta de água, isso ocorre pelo não for fornecimento adequado de água a estes animais pela crença que se deve fornecer apenar o leite. Palpação e Olfação: são importantes na cavidade oral. ! Suspeita de envolvimento de alterações em pares cranianos (alterações neurológicas) Esôfago: Dividido em três porções: • Cervical: Localizado lateralizado à esquerda; É possível fazer inspeção direta, observar aumento de volume, presença de solução de continuidade, etc; palpação; • Torácica; • Abdominal. É possível ocorrer obstrução tanto esofágica quando da faringe por ingestão de alguma fruta => animal apresenta timpanismo gasoso e pode morrer por dificuldade respiratória (rúmen dilata e comprime diafragma, atrapalhando a inspiração, causando dispneia inspiratória torácica que pode se apresentar em 2 tempos e também há taquipneia). Inspeção direta Inspeção indireta: endoscopia (exame complementar); Palpação direta: cavidade bucal, orofaringe, etc (ANIMAL BEM CONTIDO) A inspeção e palpação direta é apenas da porção cervical. Palpação indireta: sonda orogástrica (avaliar obstrução por exemplo) sendo no bovino preferencialmente oral, mas também pode ser nasal. Tomar cuidado com rupturas de esôfago durante esse procedimento. Ao avaliar ruminação, aproveitar para já avaliar o esôfago-> dor ao engolir ou regurgitar. Obstrução em qualquer porção do esôfago, além de tosse e sialorreia (por dificuldade de deglutição) , irá apresentar timpanismo gasoso por não conseguir realizar eructação. Rúmen: • Cárdia: comunicação entre esôfago e estômago; onde desemboca o esôfago. • O rúmen ocupa a porção esquerda da cavidade abdominal em grande parte (7ª-8ª costela até a região de pelve) e uma pequena porçãodireita desta cavidade • Prega ruminoreticular; • A serosa de retículo está intimamente próxima do pericárdio; • Transição final entre abomaso e intestino delgado é a região pilórica (costuma ser comum ter torção nessa região); • Do antímero direito do bovino encontra-se, no sentido crânio caudal, retículo, omaso e o abomaso; Inspeção Analisar o contorno abdominal, em posição atrás e obliquo ao animal dos dois lados • No terço final da gestação o feto desloca o rúmen cranialmente e eleva do assoalho, enquanto o abomaso ocupa essa porção ventral no fim da gestação-> isso pré dispõe o deslocamento de abomaso no pós parto -> modificação de sintopia (relação entre os órgãos). O feto diminui o espaço do rúmen. • Síndrome de Hoflund ou Indigestão Vagal animal com conformação/ contorno “maçã pera” que tem como causa principal reticulites ou reticulo peritonite. • É importante buscar aumentos de volume que podem ser unilateral ou bilateral. Palpação • Palpação abdominal: atrás de 13ª costela na região do flanco com o punho fechado analisar sensibilidade e frequência. - Contrações ruminais; - Força de contração; - Consistência (ponta dos dedos); - Sucussão/ baloteamento: Estratificação do rúmen: (baloteamento: um leve soco na região medial do rúmen-> avaliar resistência que dá informações sobre a estratificação; a resistência aumenta no sentido dorso ventral) - região dorsal ou de Cúpula Gasosa: presença de gás. Em situação fisiológica o gás encontra- se livre, situação de gás aprisionado são chamadas de timpanismo gasoso; - líquido ruminal – ambiente anaeróbico- (bactérias aneróbicas, protozoários, algumas algas/fungos e alguns vírus) + partículas. Algumas doenças afetam essa estratificação, como, por exemplo, a acidose ruminal e desidratação. • Palpação retal: consegue-se palpar a porção mais caudal e dorsal do rúmen Auscultação ➢ Ruído! Faz-se em dois pontos: na fossa paralombar esquerda ( possível avaliar frequência, força de contração e se o movimento é completo ou incompleto) –região do flanco- e nos últimos espaços intercostais (do 12º ao 9º espaço intercostal) a força de contração é menos audível desse ponto; Neste último ponto espera-se, em condições normais, auscultar o rúmen, mas é comum que o abomaso se desloque para a esquerda e, por isso, o rúmen encontra-se mais interno (menos audível) sugerindo o deslocamento. É necessário auscultar 3 minutos e espera-se de 4-7 movimentos. ➢ O ruído que se ouve (movimento ruminal) é crescente e decrescente e corresponde a mistura das partículas do alimento fibroso que roçam na parede pilosa do rúmen Movimentos Ruminais: • Ciclo Primário ou da mistura: movimento horário que termina próximo a prega ruminureticular; misturar as fibras e concentrados com bactérias e protozoários para que haja uma fermentação efetiva; Esse movimento faz com que as partículas menores se direcionem para o omaso (movimento reticular- > orifício reticulo-omasal-> omaso-> abomaso-> intestino delgado-> intestino grosso...); É mais audível nas fossas paralombares. ! Tanto o movimento ruminal quanto reticular são importantes para a absorção; Uma das causas de fibras longas/grandes nas fezes são doenças no retículos, principalmente reticulites. • Ciclo Secundário: movimento anti-horário que se inicia no saco dorsal caudal; É eructação (eliminação de gases metano e CO2); Não é possível visualizar esse movimento, mas se não há detecção de timpanismo é porque o funcionamento está adequado. Os ciclos primários e secundários estão intimamente ligados, se um estiver com funcionamento comprometido, muito provavelmente, irá afetar o outro. • Ciclo Terciário ou da Ruminação: o animal no tempo final da inspiração, faz uma leve e repentina parada, realiza contração abdominal e relaxa a cárdia para que ocorra movimento retrógado para que o bolo alimentar retorne a cavidade oral para ser mastigado – mastigação completa- ! Os ciclos primário e secundários são involuntários e dependentes do tipo de alimentação. Já o ciclo terciário é voluntário e o animal apenas realiza quando está tranquilo e se sente seguro. Exames Complementares • Coleta e avaliação de sulco ruminal: sonda orogástrica que possui uma das extremidades – que adentra o rúmen- de metal e com furos/orifícios para ser mais pesada e assim conseguir captar o sulco ruminal que se encontra na porção ventral do rumén. O ideal é desprezar os primeiros 200-400 Ml de sulco ruminal, pois há possibilidade de estar contaminado com saliva já que um dos principais parâmetros a ser analisados é o Ph. Os parâmetros, na rotina, a serem analisados é o Ph (6,2-7,2 mas abaixo de 5,5 considera-se acidose ruminal, Ph abaixo de 5 requer tratamento porque o animal não conseguirá recuperar), coloração e sedimentação de partículas. Retículo: • Função de selecionar as partículas menores para que continuem o processo; • Localizado ente a 6-8 costela (enquanto o coração está da 3-5 costela) sendo mais à esquerda da linha alba e praticamente todo protegido pelo gradil costal e sua porção ventral localizado a cima do processo xifoide; • Na inspeção e na palpação não é possível identificar alterações e a percussão (som mate ou macilo) e a auscultação raramente. Há muitos problemas de reticulite porque o movimento do ciclo primário faz com que os corpos estranhos ingeridos- bovino é pouco seletivo- cheguem ao retículo que possui mucosa em favos de mel e, portanto, favorece o aprisionamento do corpo estranho e, além disso, realiza movimento bifásico a cada 40- 60 segundos que tem finalidade em direcionar o líquidos e partículas menores para omaso através do orifício reticulo-omasal; dificilmente o corpo estranho irá migrar do retículo. O movimento bifásico compreende uma primeira contração suave, uma curta fase de relaxamento e uma segunda contração mais intensa e completa que é acompanhada pelo fechamento da cárdia e abertura do orifício reticulo-omasal. Na presença de corpo estranho no retículo, durante a segunda contração pode ocorrer perfuração desde compartimento, podendo até ocasionar retículo peritonite – perfura o retículo e chega até o peritônio- formando grande abcesso ou retículo pericardite caso o corpo estranho vá no sentido diafragma-coração. O animal pode adotar posição antálgica, como subir no cocho de água para ficar em posição mais alta e aliviar a dor. ! Para avaliar o retículo: auxílio de ultrassonografia. Em caprinos corpos estranhos geralmente causam obstrução. Ex.: saco plástico. Exames Complementares: • Provas de sensibilidade: (dor) - Prova de Cernelha; - Prova do bastão; - Percussão dolorosa; - Palpação dolorosa; - Subir e descer morro; - Prova de Kalchschmidt. • Ultrassonografia: geralmente não se vê o corpo estranho, porque costuma ser metálico, mas vê-se a lesão causada; • Radiografia; • Detector de metais: o problema é que, por exemplo, se o animal tiver ingerido um objeto metálico, mas que não cause problemas relevantes/ perfuração irá indicar da mesma forma; • Punção abdominal; • Hematologia; • Laparo-rumenotomia Omaso: • Localizado na porção ventral, a direita da linha alba, entre 7-11 costela; • Realiza um pouco de fermentação, porque ainda não houve redução drástica de pH, e absorção de líquidos (água) e ácidos graxos líquidos (acético, propiônico, butirico). • É de difícil acesso e, como não costuma causar grandes problemas/ enfermidades – baixa casuística-, não avaliamos; • O exame complementar que pode auxiliar é laparotomia exploratória. Abomaso: Estrutura alongada e ventral, entre o rúmen e o omaso, localizado entre o 9-10 espaços intercostais do lado direito. Função: digestão química; pH ácido (matar bactérias). As principais enfermidades que acometem o abomaso são: • Dilatação simples do abomaso: ex.: acúmulo de gás devido a fermentação de bactérias(as bactérias no abomaso, em condições normais, já estariam mortas devido ao ambiente ácido) que pode ser devido a nutrição, quando há diminuição da quantidade de fibras e aumento de concentrado, e o alimento passa mais rapidamente pelo sistema digestório do animal -> comum em vacas pós parto com dieta rica em carboidratos; • Dilatação com deslocamento a esquerda (DAE): (cirúrgico) Durante o periparto, como já mencionado, o abomaso fica localizado mais ventralmente - feto empurra rúmen crânio-dorsalmente e, por isso, o abomaso se desloca ventralmente- mas após o parto o rúmen “cai” de forma consideravelmente intensa e o abomaso deve então voltar para sua localização comum (abomasso possui certa motilidade); situações pós parto a vaca pode ter hipocalcemia subclínica juntamente com excesso de gás – dilatação- que afeta a motilidade do abomaso e este pode acabar se deslocando para a esquerda quando o “rúmen cai”; • Dilatação com deslocamento a direita (DAD) com ou sem torção: ocupa grande porção do flanco em casos severos. • Geossedimentação: areia e pedra sedimentam no abomaso de ruminantes que bebem água corrente, como em riachos; • Parasitismo: Haemonchus (pequenos ruminantes e bovinos jovens); • Ulcera de abomaso: apenas em vacas leiteiras. ! Os deslocamentos podem ser leve, moderado ou grave. Exame Físico Específico: Inspeção: Apenas em casos severos será possível visualizar alguma alteração (leve arqueamento do gradil costal); Palpação: A palpação direta nos espações intercostais não traz muitas informações; o DAE geralmente não causa dor no animal, enquanto o DAD com torção traz dor/ sensibilidade; Úlcera de abomaso também causa sensibilidade. Na palpação retal só é possível alcançar o abomaso caso esteja em grave caso de deslocamento; Percussão: Não é muito utilizado, mas em condições normais tem som sub-maciço/ maciço; quando deslocado, o som é hipersonoro. Auscultação: Associar percussão com a auscultação: som metálico; Não é possível definir o movimento do abomaso. Percussão auscultatória: estetoscópio+ cabo de martelo pleximetro. Ruído metálico. Baloteamento: Alças Intestinais: • Encontra-se do lado direito; • É comum ocorrer dilatação com ou sem torção de cecal: Inspeção: geralmente não há aumento de volume em casos de dilatação com ou sem torção de ceco; Palpação: Na palpação direta pode ser que se encontre sinais de sensibilidade quando há torção; Na palpação retal/ as cegas é possível identificar; Percussão auscultatória: Durante a percussão pode-se notar um som metálico; • Também é comum ocorrer diarreia, que é um dos motivos de analisar as fezes; Avaliação das Fezes: avaliar presença de sangue mal digerido (melena) ou ‘vivo’ (hematoquezia), parasitas, muco, alteração da coloração e ressecamento, etc Disquezia= dor durante a defecação
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