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Assunto pra prova V1 HISTÓRIA da justiça do brasil

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DESCRIÇÃO 
Apresentação dos conceitos sobre a justiça no Brasil e a Nova República, assim como sobre o 
papel do Supremo Tribunal Federal e seu ativismo judicial, além dos direitos fundamentais e 
da credibilidade do Poder Judiciário. 
PROPÓSITO 
Compreender o funcionamento da justiça no Brasil, o papel do Supremo Tribunal Federal como 
árbitro do conflito entre os Poderes no contexto atual com temas centrais, além da 
judicialização da política, do ativismo judicial e da crise de credibilidade do Poder Judiciário. 
 
PREPARAÇÃO 
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos a Constituição da República 
Federativa do Brasil (CRFB) de 1988 para consultar os dispositivos constitucionais 
mencionados. 
OBJETIVOS 
MÓDULO 1 
Reconhecer a construção do papel do Supremo Tribunal Federal como árbitro dos conflitos 
entre os Poderes 
MÓDULO 2 
Identificar o conceito de ativismo judicial dentro do contexto de judicialização da política 
MÓDULO 3 
Descrever a causa e o contexto da crise de credibilidade do Poder Judiciário 
INTRODUÇÃO 
Como você já deve ter imaginado, a história do Brasil, com atenção especial aos governos 
militares, encaminhou a nação para a promulgação da CRFB de 1988, a chamada “Constituição 
Cidadã”, já que esses fatos estimulavam uma preocupação com a construção de um sistema 
constitucional efetivo. 
Se a ideia era justamente proteger o povo, o território e o país, nada seria mais justo do que 
eles contarem com o auxílio de uma jurisdição constitucional. Sendo assim, esse papel central 
ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF). 
ESSE ÓRGÃO, AOS POUCOS, GANHOU PROTAGONISMO NAS DEMANDAS QUANTO À 
PROTEÇÃO E À PROMOÇÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
No entanto, nos últimos anos, algumas críticas foram surgindo diante do ativismo judicial cada 
vez mais presente em um contexto de judicialização excessiva e perda de credibilidade do 
próprio Poder Judiciário. Tendo isso em vista, estabeleceremos neste tema um panorama de 
três assuntos centrais relativos a tal quadro. 
Em primeiro lugar, no módulo 1, faremos uma abordagem de aspectos relacionados à 
separação dos Poderes e à jurisdição constitucional. 
COM ISSO, COMPREENDEREMOS UM DOS PAPÉIS FUNDAMENTAIS DO STF NA DEMOCRACIA 
BRASILEIRA: SER UM ÁRBITRO DOS CONFLITOS ENTRE OS PODERES. 
O primeiro módulo se divide em três partes. Na primeira, conheceremos a separação dos 
Poderes, sua origem e alguns arranjos decorrentes dela na Constituição de 1988. Na segunda, 
abordaremos o desenvolvimento e a legitimidade da jurisdição constitucional, assim como a 
função do STF como Corte Constitucional. 
Na terceira parte, por fim, delinearemos um panorama histórico do papel do STF até a Nova 
República a fim de consolidar, na CRFB/1988, seu papel como árbitro dos conflitos dos 
Poderes. 
JÁ NO MÓDULO 2, ENTENDEREMOS O CONTEXTO QUE PROPICIOU UMA ATUAÇÃO JUDICIAL 
ATIVISTA. 
Em primeiro lugar, veremos a doutrina da efetividade e os aspectos relacionados à 
normatividade dos direitos fundamentais. Após isso, faremos um panorama do processo de 
judicialização da vida e da política. Por último, conceituaremos o ativismo judicial e 
mencionaremos algumas repercussões literárias do tema. 
Por fim, no terceiro e último módulo, destacaremos... 
AS CRÍTICAS CENTRAIS A UM MODELO DE SUPREMACIA JUDICIAL E O PROCESSO DE PERDA DE 
CONFIANÇA NA ATUAÇÃO JUDICIAL. 
O terceiro módulo também está dividido em três partes. Na primeira, descreveremos a teoria 
da supremacia judicial. No decorrer disso, trataremos dos problemas centrais dessa teoria e do 
processo de judicialização excessiva, tendo em vista principalmente o STF e o seu modelo 
deliberativo. 
Por último, listaremos algumas pesquisas empíricas a fim de constatarmos uma crise de 
credibilidade do Judiciário na sociedade, tendo em conta uma crescente falta de confiança na 
instituição. 
MÓDULO 1 
Reconhecer a construção do papel do Supremo Tribunal Federal como árbitro dos conflitos 
entre os Poderes 
 
RESPOSTA 
Eles deveriam ser aplicados pela possibilidade de colisão com outros princípios e pelo 
atendimento aos preceitos da ponderação (adequação, necessidade e proporcionalidade em 
sentido estrito). A aplicação judicial seria feita segundo essa lógica, ou seja, quando houvesse 
uma demanda relacionada a direitos fundamentais. 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: O ÁRBITRO DOS CONFLITOS DOS PODERES 
SEPARAÇÃO DOS PODERES 
É importante frisar que a CRFB/1988 consagra a separação dos Poderes em seu artigo 2º. 
Ademais, em seu artigo 60, §4º, III, ela confirma sua importância ao instituí-la como cláusula 
pétrea, configurando, portanto, um limite material ao poder de reforma constitucional. 
Foto: Shutterstock.com 
Em outras palavras, isso significa dizer que, além de ser uma marca essencial do Estado 
brasileiro, a separação dos Poderes é um princípio indissolúvel. Segundo Luís Roberto Barroso 
(2013, p. 196-198), ela ordena a divisão das funções estatais, cada qual dotada de autonomia, 
e o controle recíproco entre elas com o intuito de evitar excessos de poder. 
A separação de Poderes, como já deve ser de seu conhecimento, é uma consequência de 
influências histórico-filosóficas diversas. Suas origens remontam à Independência dos Estados 
Unidos da América (1776) e à Revolução Francesa (1789), assim como a seus respectivos 
processos antecedentes. 
 
Para Prieto Sanchís (2013, p. 32-65), podemos inferir dessas heranças, sejam elas a norte-
americana ou a europeia (que deriva principalmente dos estudos de Locke e Montesquieu), 
que a estrutura dos Estados formados a partir desses processos históricos considerou como 
preocupação central a consolidação de limitações ao poder estatal e a proteção de direitos 
individuais. 
SEU GRANDE INTUITO SEMPRE FOI PREVENIR O ARBÍTRIO, ALÉM DE EQUILIBRAR O EXERCÍCIO 
DO PODER POLÍTICO. 
No Brasil, a estrutura estatal com Poderes separados, destaca Barroso (2013, p. 197), culmina 
em dois corolários destacados pela literatura: “a especialização funcional e a necessidade de 
independência orgânica de cada um dos Poderes em face dos demais”. 
 
Justamente daí resulta a seguinte organização dos três Poderes: 
 
EXECUTIVO 
LEGISLATIVO 
JUDICIÁRIO 
CHECKS AND BALANCES 
Traduzida como “sistema de freios e contrapesos”, essa teoria foi desenvolvida pelo francês 
Montesquieu, cujas ideias, por sua vez, foram divulgadas por filósofos anteriores, como, por 
exemplo, Locke. Na visão de freios e contrapesos, destaca Bonavides (1988), estabelecem-se a 
autonomia e os limites para que os Poderes possam atuar em segurança com o objetivo de 
impedir autoritarismos e tiranias. 
 
Eles são dotados de competências privativas e de independência quanto aos demais. No 
entanto, não pense que há um modelo rígido. Pelo contrário: ele é flexível, com influências e 
controles recíprocos, além de estar pautado na ideia de checks and balances. 
 
De toda forma, conforme as disposições constitucionais, as funções típicas de cada Poder são 
as seguintes: 
 
PODER LEGISLATIVO 
PODER EXECUTIVO 
PODER JUDICIÁRIO 
Exerce a competência de legislar (artigos 44 a 75, CRFB/1988). 
 
Exerce a competência de administrar ou governar (artigos 76 a 91, CRFB/1988). 
 
Cabe a função jurisdicional ligada ao processo e ao julgamento de conflitos jurídicos (artigos 92 
a 126, CRFB/1988). 
 
Ainda há funções atípicas relacionadas ao sistema de freios e contrapesos. Podemos ilustrar 
isso com o artigo 62 da CRFB/1988, já que ele estabelece a possibilidade de o presidente da 
República editar normas por meio de medidas provisórias. 
 
O artigo 49, V, da CRFB/1988 também pode servir de exemplo, pois ele dispõe sobre a 
hipótese de o Congresso Nacional sustar atos normativos do Executivo que exorbitem seu 
poder regulamentar ou os limites impostos por via de delegação legislativa. 
 
Voltemos agora nosso olhar para o Judiciário, que é o tema central do presente estudo. Ele 
tem como funçãoprecípua, portanto, interpretar e aplicar o direito. 
 
Essa função, como sabemos, possui diversos vieses. Vejamos dois deles: 
 
PROTEGER VALORES CONSTITUCIONAIS 
CONTRIBUIR NA CONCRETIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO 
Ele o faz especialmente por meio do controle jurisdicional de constitucionalidade dos atos e 
omissões do poder público. 
 
Este módulo tem o intuito de, no contexto apresentado, definir como se dá a relação do STF 
com os demais Poderes segundo a lógica de freios e contrapesos. Por conta disso, 
apresentaremos os debates sobre o surgimento do controle de constitucionalidade, 
apontando as finalidades dele e sua legitimidade, além de sua consolidação no Brasil. 
 
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL 
Com tal viés, é importante perceber que, em sua origem, a separação dos Poderes não 
contemplava uma função de controle de constitucionalidade pelos tribunais. O que havia era a 
ideia de que o juiz tinha um papel de mero “boca da lei”, ou seja, sua função era extrair 
decisões do conteúdo da lei em um processo silogístico. 
 
Para entender a origem dessa ideia, devemos recorrer à literatura especializada. Ela nos 
remete à construção do modelo relativo ao caso “Marbury versus Madison (1803)”, pois deriva 
daí a possibilidade de controle difuso de constitucionalidade das leis. 
 
EXEMPLO 
À época, houve uma importante fundamentação de Marshall, então ministro da Suprema 
Corte norte-americana, segundo a qual a constituição visaria a controlar os Poderes do Estado 
em um conflito entre os atos normativos e a Constituição. Por uma questão de hierarquia, 
considerou-se que esta deveria prevalecer. 
 
No caso específico que estamos verificando, não foi reconhecida a competência da Corte. No 
entanto, ficou estabelecido o precedente de possibilidade do controle de constitucionalidade e 
a autoridade dela para revisar os atos do Congresso. 
 
No Brasil, a Constituição Federal consolidou a expansão do controle de constitucionalidade e a 
sistematização de um modelo misto de controles difuso e concentrado. O primeiro é exercido 
por juízes e tribunais perante um caso concreto; o segundo, independentemente de um caso 
do tipo, busca a invalidação da lei para garantir a segurança jurídica das relações. 
 
O fato é que o STF, como instância máxima do Judiciário brasileiro, possui competência 
explícita atribuída constitucionalmente para julgar a constitucionalidade — ou 
inconstitucionalidade — de leis e atos normativos. Isso ocorre independentemente de caso 
concreto ou em tese, havendo, conforme assevera o artigo 120 da CRFB/1988, a consequência 
de sua manutenção ou suspensão da ordem jurídica. 
 
OCORRE ESPECIALMENTE NESSE PONTO A RELAÇÃO DO STF COM OS DEMAIS PODERES, JÁ 
QUE OS ATOS EMITIDOS PELO LEGISLATIVO E PELO EXECUTIVO SÃO JUSTAMENTE O OBJETO 
DE JULGAMENTO. 
A legitimidade da jurisdição constitucional decorre da supremacia da Constituição. Segundo 
esse princípio, as normas constitucionais devem prevalecer em detrimento das demais, pois 
são elas que estabelecem os valores fundantes do Estado. 
 
O QUE SE QUER DIZER COM ISSO? 
RESPOSTA 
A resposta é simples: as normas constitucionais estabelecem valores essenciais que precisam 
permanecer independente das maiorias transitórias do processo político. 
 
Para parte da literatura, em que pese o Judiciário não ser composto por membros eleitos pelo 
voto popular, sua legitimidade para controlar a constitucionalidade dos atos normativos deriva 
de dois fatores: independência e autonomia. 
 
Além disso, a possibilidade de controle garante a pacificação dos conflitos, tendo em vista que 
os julgamentos se dão, em última instância, com efeito vinculante para que haja estabilidade e 
harmonia social. 
Foto: Shutterstock.com 
PUBLIC CHOICE 
A escolha pública, afirma Butler (2015), é o ramo da teoria econômica aplicado à política e aos 
serviços públicos. Segundo esta teoria, o político é um servidor humanístico, priorizando seu 
autointeresse. 
 
A Corte Constitucional ainda teria como característica seu isolamento político e sua 
estabilidade interna. Ambos possibilitariam melhores julgamentos e uma vinculação à 
CRFB/1988. 
 
Tal argumento é reforçado diante dos estudos de análise econômica do direito. Podemos 
entender por qual motivo, segundo essa literatura especializada, os processos deliberativos, na 
prática, passam por distorções nas democracias contemporâneas. 
 
Segundo a teoria da public choice, o processo político — de discussão e aprovação das leis, as 
quais, em regra, são propostas pelo Executivo e votadas pelo Legislativo — sofre influências de 
motivações de grupos de interesse. 
 
Guiados por uma lógica econômica de maximizar seus interesses ou visando à reeleição, eles, 
portanto, guiariam suas decisões políticas de acordo com demandas privadas, desvirtuando o 
que é de interesse público. 
 
O PROCESSO LEGISLATIVO, PORTANTO, ACABARIA LIGADO AO FAVORECIMENTO DE GRUPOS 
DE INTERESSE E GERARIA NORMAS A PARTIR DE DEBATES ENVIESADOS. 
No Brasil, um exemplo desse problema seria o presidencialismo de coalizão, que demarca uma 
lógica de atuações do Executivo e do Legislativo. 
 
1 
O presidente da República exerce um controle de agenda sobre o Congresso Nacional. 
 
Esse controle gera a necessidade de uma coalização a fim de implantar projetos políticos. 
 
2 
3 
Isso produz custos para a aprovação de projetos. 
 
Além disso, abre margem para que os interesses privados penetrem nas escolhas públicas. 
 
4 
Diante de problemas substanciais e concretos que afetam o processo legislativo, podemos 
então vislumbrar uma saída necessária: recorrer ao Judiciário a fim de garantir a aplicação e a 
efetivação da Constituição Federal. 
 
A jurisdição constitucional seria, pontua Cyrino (2016, p. 82), um “mecanismo poderoso de 
garantia do procedimento democrático representativo brasileiro”. Já seu limite estaria 
consubstanciado no exame de proporcionalidade. 
 
Desse modo, você pode verificar que a possibilidade de recorrer à jurisdição constitucional 
seria positiva por três aspectos centrais. Jeremy Waldron (2006. p. 1376), com o intuito de 
realizar uma análise crítica de seus argumentos, os divide da seguinte maneira: 
 
PRIMEIRO 
As questões julgadas seriam tidas em contextos específicos por meio de ações propostas sobre 
objetos definidos. 
 
SEGUNDO 
A abordagem dos tribunais estaria vinculada ao texto constitucional e aos direitos nela 
preconizados. 
 
TERCEIRO 
As lógicas de raciocínio e fundamentação judiciais estariam, ainda que diante da dificuldade 
contramajoritária, inseridas em uma tentativa de deliberação racional. 
 
O processo de controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos conta com a 
participação dos demais Poderes no sistema brasileiro. Ele assim opera pelo fato de tanto o 
Executivo — na figura do presidente da República — quanto o Legislativo, além da mesa do 
Senado Federal e a da Câmara dos deputados, possuírem legitimidade para propor ação no STF 
(artigo 103, incisos I, II e III, CRFB/1988). 
 
Infere-se então que o presidente também pode realizar um juízo de constitucionalidade a fim 
de fazer um controle de projeto de lei por meio do veto (artigo 66, §1º, CRFB/1988), o qual, 
inclusive, pode ser rejeitado pelo Congresso Nacional com quórum qualificado (artigo 66, §4º, 
CRFB/1988). 
 
 
Foto: Shutterstock.com 
Notemos ainda que o Legislativo conta com a Comissão de Constituição e Justiça, que avalia a 
constitucionalidade de leis antes de levá-las à votação (art. 58, CRFB/1988). 
 
Tais mecanismos reduziriam a dificuldade contramajoritária da jurisdição constitucional. Em 
linha contrária, parte da literatura argumenta que o controle jurisdicional de 
constitucionalidade seria um mecanismo inapropriado de decisão final em sociedades 
democráticas. 
 
Esse argumento está centrado na dificuldade contramajoritária. Segundo essa linhade 
pensamento, as questões constitucionais, ao serem resolvidas por uma Corte Constitucional, 
ficariam alheias à vontade dos cidadãos e prejudicariam os ideais democráticos. 
 
Para Waldron (2006, p. 1376), os argumentos a favor da jurisdição constitucional teriam falhas 
intrínsecas: 
 
 
Imagem: Shutterstock 
As questões tratadas em sede de constitucionalidade nos tribunais são abordadas em termos 
gerais — e não individuais. A legislação é o local mais apropriado para esse tipo de questão, 
tendo em vista seu caráter geral e abstrato. 
 
 
Imagem: Shutterstock 
Ainda que o Judiciário esteja vinculado a uma carta de direitos estabelecida 
constitucionalmente, ele pode ficar preso a formalismos rígidos, sem considerar a existência 
de novos direitos e sujeito a distorções do raciocínio, ao incluir determinados direitos ou omiti-
los. 
 
 
Imagem: Shutterstock 
O raciocínio e a fundamentação das decisões tomadas são refinados no caso do Legislativo, 
uma vez que a deliberação é feita por representantes eleitos e possui a possibilidade de 
participação popular, além de não estar restrita a precedentes. 
 
Nesse ponto, entendemos que a ilegitimidade da jurisdição constitucional estaria atrelada ao 
fato de que o Judiciário não deveria ter a capacidade de anular atos normativos. O motivo é 
simples: eles foram aprovados por uma instância legitimada pelas eleições segundo a lógica da 
representação democrática e o princípio majoritário. 
 
Por sua vez, a legitimidade dos ministros se daria tão somente de forma indireta — por meio 
da indicação do Executivo — e não acarretaria responsabilização. Afinal, não existe o incentivo 
da reeleição para as tomadas de decisão de acordo com o interesse público e a vontade 
popular. 
 
Em que pesem as discordâncias teóricas, a Constituição Federal estabelece que compete ao 
STF a guarda da Constituição. É inequívoco seu papel de árbitro dos conflitos à medida que a 
função dele na democracia brasileira está atrelada à verificação das ações dos demais Poderes, 
tendo como norte a Constituição Federal. 
 
AINDA ASSIM, DEVEMOS RESSALTAR A PREMISSA DE QUE AS LEIS E OS ATOS NORMATIVOS 
SÃO PRESUMIVELMENTE CONSTITUCIONAIS, UMA VEZ QUE, APESAR DO PAPEL DO SUPREMO, 
TODOS OS PODERES MANTÊM O DEVER DE GUARDAR A CONSTITUIÇÃO, SENDO TAL 
PRESUNÇÃO RELATIVA. 
De qualquer modo, a atuação dos ministros tem de ser de relativa deferência, ou seja, de 
respeito às decisões tomadas pelas outras esferas de poder, na medida em que os legisladores, 
pelo princípio democrático, são as autoridades que detêm o batismo do voto popular. 
 
A demanda, portanto, é por uma postura relativamente autocontida, pois o intérprete deve 
limitar a si mesmo a fim de preservar as decisões tomadas – desde que não estejam eivadas 
pelo vício de inconstitucionalidade – pela autoridade do legislativo ou pelo chefe do Executivo. 
 
 
ATÉ A NOVA REPÚBLICA: A CONSTRUÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ÁRBITRO 
DOS CONFLITOS 
Uma última questão diz respeito ao contexto brasileiro específico que levou o Judiciário a 
ganhar importância e se tornar um árbitro dos conflitos entre os Poderes na Nova República. 
 
ESSE PERÍODO SE INICIA COM O FIM DA DITADURA MILITAR E TEM COMO MARCO A 
PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988, QUE BUSCAVA CONSOLIDAR A DEMOCRACIA E 
PROMOVER OS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
Até 1988, como destaca Rodrigo Brandão (2012), as condições fáticas não contribuíam para a 
expansão do poder político do Judiciário: 
 
1824 
A respeito do Império, a Constituição de 1824 não previa o controle de constitucionalidade. O 
modelo norte-americano republicano, influente à época, não era compatível com a tradição 
imperial. Desse modo, essa Constituição delegava uma série de competências ao poder 
moderador, enquanto a função de protegê-la permanecia delegada ao Parlamento. 
 
1891 
Posteriormente, em 1889, com a Proclamação da República, D. Pedro II, ciente da crise 
política, buscou resolver os problemas de conflitos entre os órgãos estatais. Ele inclusive 
chegou a enviar juristas para os Estados Unidos a fim de que eles estudassem o modelo de 
controle de constitucionalidade norte-americano. 
 
Já era de se esperar que a Constituição de 1891, sofrendo essas influências, adotasse o 
presidencialismo, o bicameralismo e a divisão entre as justiças Federal e Estadual, além de 
estabelecer alguns direitos fundamentais. 
 
Como podemos observar, nesse contexto, diante de um desrespeito evidente às normas da 
Constituição na República Velha, foi desenvolvida a doutrina do habeas corpus. Tal medida foi 
ampliada pelo Supremo Tribunal com o propósito de garantir outros direitos além da liberdade 
de locomoção. 
 
EMBORA A PROTEÇÃO DE LIBERDADES FUNDAMENTAIS AINDA FOSSE INCIPIENTE, ALGUMA 
POSIÇÃO DE DESTAQUE FOI DADA AO SUPREMO. 
1930 
Em 1930, com o advento da Revolução Tenentista e o estabelecimento do Estado Novo, houve 
o rompimento com a legalidade anterior. Após algum avanço com a última Carta, houve uma 
regressão no modelo de controle diante da supressão da magistratura e do afastamento dos 
ministros não alinhados ao governo. Ademais, os atos do governo provisório instaurado na 
ocasião não eram passíveis de controle de constitucionalidade. 
 
1934 
A Constituição de 1934 manteve as influências do modelo norte-americano, mas tentou 
resolver problemas revelados por um transplante acrítico — ocorrido na experiência anterior 
— para o Brasil. Com isso, não havia unicidade da interpretação constitucional, de modo que 
os precedentes não vinculavam. 
 
Para tanto, atribuiu-se competência ao Senado Federal para revogar leis declaradas 
inconstitucionais pelo Supremo por meio de um mecanismo de requisição. Além disso, 
instituiu-se a reserva do plenário; com ela, a maioria absoluta dos membros do STF deveria se 
manifestar para que houvesse a declaração de inconstitucionalidade de uma lei. 
 
Por fim, foi criada uma modalidade de controle concentrado. As ações de 
inconstitucionalidade somente poderiam ser julgadas pelo Supremo. 
 
1937 
Após a Intentona Comunista e os rumores sobre o Plano Cohen, a Constituição da Polaca foi 
instituída com o intuito de corroborar o governo autoritário. O Legislativo deixou de funcionar. 
 
Foi então que Getúlio Vargas concentrou em si as funções dos Poderes Executivo e Legislativo, 
tendo ainda a faculdade de suspender, caso quisesse, uma decisão de declaração de 
inconstitucionalidade do Supremo. Nesse contexto, a Corte não podia tratar de questões 
políticas no âmbito de seus julgamentos. 
 
1946 
Após Getúlio Vargas ter sido deposto no ano anterior, a Constituição de 1946 reestabeleceu os 
institutos da Constituição de 1934. 
 
1967 
Com o golpe militar em 1964 e, em seguida, a promulgação da Constituição de 1967, foi 
estabelecido um controle judicial concentrado, abstrato e repressivo da constitucionalidade. 
No entanto, o contexto não favoreceu um fortalecimento e expansão do Supremo. 
 
É fácil compreender que isso ocorreu porque a maioria dos ministros era a favor do regime. 
Além disso, a legitimação para a propositura de ações diretas de inconstitucionalidade estava 
restrita ao procurador-geral da República, que poderia ser discricionariamente retirado do 
cargo se propusesse ações contrárias às ideias do Executivo. 
 
1988 
Por fim, a Constituição de 1988 consolidou a expansão do controle de constitucionalidade e a 
sistematização de um modelo misto de controle difuso e concentrado. 
 
Algumas características centrais possibilitaram que, na Nova República, o STF se tornasse um 
árbitro do conflito entre Poderes: 
 
 
Crédito editorial: Diego Grandi. Foto: Shutterstock.com 
Em primeiro lugar, houve o aumento do número de legitimados para a propositura das ações 
de inconstitucionalidade — entre os quais constam as mesas do Senado e da Câmara dos 
Deputados, além do presidente da República 
 
 
Foto: Shutterstock.comPara os casos de inconstitucionalidade por omissão dos poderes políticos que firam os direitos 
fundamentais, dois instrumentos foram viabilizados: a ação direta de inconstitucionalidade 
(ADI) por omissão e o mandado de injunção. 
 
 
Foto: Shutterstock.com 
Para consolidar a legitimidade democrática do controle de constitucionalidade, como citamos 
anteriormente, foram estabelecidos mecanismos de participação do Legislativo e do Executivo. 
 
Quanto à participação dos Poderes majoritários, vale destacar alguns aspectos centrais de sua 
relação com o controle exercido pelo Supremo. 
 
O Executivo possui, de acordo com o artigo 103, I, da CRFB/1988, legitimidade para propor 
dois tipos de ação direta: de inconstitucionalidade e constitucionalidade. O Legislativo possui 
as mesmas prerrogativas, informam as alíneas II e III do mesmo artigo. Por fim, há a 
possibilidade de promulgação de emenda constitucional em contrariedade a uma decisão do 
STF — exceto se houver violação de cláusulas pétreas. 
 
Além dos mecanismos já citados, que influenciam o funcionamento dos Poderes e acirram sua 
relação, eles podem, caso haja conflitos, recorrer ao STF para a resolução e a resguarda da 
Constituição. Para isso, foram criados outros instrumentos relevantes. 
 
O advogado-geral da União (AGU) recebeu o papel de defender o interesse da União nos 
processos de controle de constitucionalidade. Como forma de fiscalizar, por sua vez, foi 
instituída a obrigação do procurador-geral da República (PGR) de se manifestar nesses casos. 
 
Em adição ao desenho institucional e às disposições constitucionais ditas variáveis exógenas, 
há entendimentos, como o de Diego Werneck Arguelhes (2018), de que o protagonismo atual 
do STF se desenvolveu também pelo seu comportamento — ora mais autocontido, ora mais 
expansivo. 
 
Para Arguelhes e Ribeiro (2018), embora fatores como... 
 
DESENHOS INSTITUCIONAIS 
DEMOCRATIZAÇÃO 
DEMANDAS SOCIAIS 
COMPORTAMENTO DOS ATORES POLÍTICOS 
... Sejam relevantes na consolidação e na expansão do Supremo, ainda existe a necessidade de 
consideração acerca das preferências dos ministros do STF sobre como exercer o poder e 
quanto deve ser exercido. 
 
Para Arguelhes (2018, p. 29), em um primeiro momento, após a promulgação da Constituição 
de 1988, o STF adotou mecanismos de interpretação judicial restritivos, reconfigurando-os 
“para menos poderes de que dispunham segundo o texto da Constituição de 1988”. 
 
AS CONSTRUÇÕES JURISPRUDENCIAIS, NO INÍCIO DOS ANOS 1990, TERIAM RESTRINGIDO A 
LEGITIMAÇÃO ATIVA PARA SE PROPOR ADI E QUAIS QUESTÕES PODERIAM SER OBJETO DE 
CONTROLE DIRETO E ABSTRATO. 
Ainda segundo o ponto de vista de Arguelhes, observamos que as interpretações restritivas 
operaram como forma de canalizar parte da pauta do Supremo para mecanismos mais lentos 
de controle (no caso, incidental e concreto) via recurso extraordinário – e não 
necessariamente a fim de restringir radicalmente o poder da própria instituição. 
 
As causas desse primeiro momento de restrição estariam ligadas à composição do STF, que se 
manteve praticamente intacta durante a redemocratização. Além disso, aponta Arguelhes 
(2018), ocorreu uma ação estratégica em um momento em que as regras do jogo democrático 
ainda eram recentes e por conta do receio de que houvesse uma explosão de litígios. 
 
NO ENTANTO, APÓS OS ANOS 1990, O COMPORTAMENTO DOS MINISTROS DO STF SOFREU 
UMA MUDANÇA DE PREFERÊNCIA. SEGUNDO ARGUELHES (2014), ISSO POSSIBILITOU O 
CONTEXTO DE JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E EXPANSÃO DO PODER DO SUPREMO. 
Além dos desenhos institucionais, as preferências dos ministros que compõem a Corte são 
cruciais para entendermos seu protagonismo atual. No contexto de 1988, frisa Oscar Vilhena 
Vieira (2018), havia uma desconfiança da democracia e uma incerteza quanto ao texto e à 
estrutura constitucional que estava sendo moldada. 
 
Esse ambiente fez com que os constituintes adotassem uma dupla estratégia de proteção 
contra as incertezas do futuro. Inicialmente, eles entrincheiraram diversos direitos com o 
objetivo de resguardá-los das maiorias futuras. 
 
Em seguida, os constituintes... 
 
ATRIBUÍRAM AMPLOS PODERES AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA BLOQUEAR DECISÕES 
FUTURAS DO SISTEMA REPRESENTATIVO QUE VIESSEM A AMEAÇAR ESSES MESMOS 
INTERESSES, PRIVILÉGIOS OU DIREITOS, AINDA QUE POR INTERMÉDIO DE EMENDAS À 
CONSTITUIÇÃO; PARA JULGAR AS PRINCIPAIS AUTORIDADES, ENTRE AS QUAIS OS PRÓPRIOS 
MEMBROS DO PARLAMENTO; E PARA RESOLVER OS CONFLITOS ENTRE OS PODERES. 
VIEIRA, 2018, p. 165. 
 
Vieira destaca ainda três fatores institucionais que contribuiriam para a expansão do Supremo: 
 
HIPERCONSTITUCIONALIZAÇÃO DE DIREITOS 
SUPERPOSIÇÃO DE ATRIBUIÇÕES 
AMPLIAÇÃO DO ACESSO AO TRIBUNAL 
Tais fatores, pontua Vieira (2018), não foram respondidos imediatamente com uma atuação 
expansiva. 
 
O AMBIENTE DE REDEMOCRATIZAÇÃO PROGRESSIVAMENTE TORNOU POSSÍVEL A 
CONSOLIDAÇÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL E A EXPANSÃO DA ATUAÇÃO DO STF. 
Foram estabelecidos constitucionalmente diversos instrumentos de participação dos demais 
Poderes a fim de reduzir a dificuldade contramajoritária e estabelecer um mecanismo de freios 
e contrapesos que funcionasse de acordo com o princípio de separação entre eles. 
 
Com o intuito de atender às finalidades e aos valores constitucionais, o Supremo foi se 
consolidando como instância de resolução de conflitos entre Poderes e se legitimando – 
especialmente pela proteção dos direitos fundamentais. 
 
 
STF COMO ÁRBITRO DOS CONFLITOS ENTRE PODERES 
Estabeleceremos neste vídeo uma discussão aprofundada sobre o funcionamento do Supremo 
como um árbitro dos conflitos entre os três Poderes. 
 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. EM RELAÇÃO ÀS CONSTITUIÇÕES ANTERIORES, A DE 1988 REFORÇOU A JURISDIÇÃO 
CONSTITUCIONAL. PARA RESOLVER O PROBLEMA DA DIFICULDADE CONTRAMAJORITÁRIA, NO 
ENTANTO, ELA ESTABELECEU MECANISMOS DE PARTICIPAÇÃO DOS OUTROS PODERES NO 
PROCESSO DE AVERIGUAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS. TODOS ESSES 
MECANISMOS ESTÃO ELENCADOS A SEGUIR, EXCETO: 
A legitimidade do presidente da República para propor ações no STF. 
 
A legitimidade das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado para propor ações no STF. 
 
O controle presidencial de leis por meio de veto e pautado em um juízo de 
constitucionalidade. 
 
A possibilidade de o Congresso Nacional rejeitar vetos presidenciais com quórum simples. 
 
O auxílio da Comissão de Constituição e Justiça como órgão do Congresso Nacional que avalia 
a constitucionalidade de leis antes de sua votação. 
 
2. SABE-SE QUE A HISTÓRIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA LEVOU À AFIRMAÇÃO DA 
NECESSIDADE DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL, CONSOLIDANDO PROGRESSIVAMENTE O STF 
COMO ÁRBITRO DOS CONFLITOS ENTRE OS TRÊS PODERES. ASSINALE A SEGUIR A 
ALTERNATIVA QUE APRESENTA BENEFÍCIOS DA GESTÃO DA MUDANÇA. SÃO MARCAS 
FUNDAMENTAIS DESSE PROCESSO: 
I. O AUMENTO DO NÚMERO DE LEGITIMADOS PARA A PROPOSITURA DE AÇÕES DE 
INCONSTITUCIONALIDADE. 
II. A PREVISÃO CONSTITUCIONAL DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR 
OMISSÃO E DO MANDADO DE INJUNÇÃO PARA O CASO DE OMISSÕES DO PODER PÚBLICO 
QUE FIRAM DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
III. AS PREFERÊNCIAS DOS MINISTROS QUE COMPÕEM A CORTE, A QUAL, ANTES DOS ANOS 
1990, ERA ORIENTADA POR UMA POSTURA MAIS PROATIVA E EXPANSIVA EM QUESTÃO DE 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. 
I 
 
II 
 
I e II 
 
II e III 
 
I, II e III 
 
GABARITO 
1. Em relação às constituições anteriores, a de 1988 reforçou a jurisdição constitucional. Para 
resolver o problema da dificuldade contramajoritária, no entanto, ela estabeleceu mecanismos 
de participação dos outros Poderes no processo de averiguação da constitucionalidade de 
normas. Todos esses mecanismos estão elencados a seguir, exceto: 
 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
O veto presidencial somente pode ser rejeitado mediante o voto da maioria absolutados 
deputados e senadores, informa o artigo 66, § 4º, da CRFB/1988. 
 
2. Sabe-se que a história constitucional brasileira levou à afirmação da necessidade da 
jurisdição constitucional, consolidando progressivamente o STF como árbitro dos conflitos 
entre os três Poderes. Assinale a seguir a alternativa que apresenta benefícios da gestão da 
mudança. São marcas fundamentais desse processo: 
I. O aumento do número de legitimados para a propositura de ações de inconstitucionalidade. 
II. A previsão constitucional da ação direta de inconstitucionalidade por omissão e do mandado 
de injunção para o caso de omissões do poder público que firam direitos fundamentais. 
III. As preferências dos ministros que compõem a Corte, a qual, antes dos anos 1990, era 
orientada por uma postura mais proativa e expansiva em questão de controle de 
constitucionalidade. 
A alternativa "C " está correta. 
 
 
Levando em conta a evolução da história constitucional brasileira, são marcas fundamentais 
desse processo tanto a previsão da ação direta de inconstitucionalidade por omissão e do 
mandado de injunção para os casos de omissão do poder público que firam direitos 
fundamentais da CRFB/1988 quanto as preferências dos ministros que compõem a Corte. 
 
MÓDULO 2 
Identificar o conceito de ativismo judicial dentro do contexto de judicialização da política 
 
 
ATIVISMO JUDICIAL E DIREITOS FUNDAMENTAIS 
Atualmente, é cada vez mais comum haver discussões acerca do ativismo judicial. Perguntas 
como “até que ponto o Poder Judiciário deve agir?” já estão vindo à tona. 
 
Em primeiro lugar, é importante saber que tal fenômeno não está restrito ao Brasil. 
 
ALÉM DISSO, PODE-SE DIZER QUE O ATIVISMO OCORRE POR HAVER LACUNAS NA LEI, 
PRINCIPALMENTE AQUELAS RELATIVAS A NOVOS E POLÊMICOS TEMAS. 
Diante da função de interpretação constitucional à luz de princípios, o STF acaba decidindo 
sobre essas questões, gerando inconformismo naqueles que consideram essa atuação 
exacerbada. Se pararmos para refletir sobre a linha histórica constitucional até chegarmos à 
Constituição de 1988, teremos como destaque a questão dos direitos fundamentais. 
 
Esses direitos são representados, em grande parte, pelo estado democrático de direito. Ele, 
por sua vez, está estritamente ligado à posição que o Poder Judiciário deve ocupar e à própria 
separação dos Poderes. 
 
NÃO SE DEVE ESQUECER QUE O JUDICIÁRIO É O GUARDIÃO CONSTITUCIONAL E QUE ELE 
SEMPRE DEVE ZELAR PELOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E PELA DEMOCRACIA. 
DOUTRINA DA EFETIVIDADE E NORMATIVIDADE DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
No contexto da promulgação da Constituição de 1988 e da superação do regime militar 
anterior, uma de suas preocupações centrais era a construção de um sistema constitucional 
que fosse, de fato, efetivo. 
 
Já dotada de normatividade, a Constituição Cidadã passou a contar com a aplicabilidade direta 
pelos tribunais, o que abriu margem para o desenvolvimento da jurisdição constitucional. 
 
 
Foto: Shutterstock.com 
Assim, ao longo da década de 1990, tendo em vista o papel de destaque do Judiciário na 
consolidação constitucional, foi desenvolvida na literatura a doutrina brasileira da efetividade. 
 
Tendo como pano de fundo o contexto de uma Constituição garantidora de direitos 
fundamentais, um regime democrático e a existência — conforme visto no módulo anterior — 
da jurisdição constitucional, a doutrina da efetividade buscava, em síntese, conferir às normas 
constitucionais uma aplicabilidade direta e imediata. 
 
CONSOLIDAVA-SE ASSIM A POSSIBILIDADE DE SE RECORRER À JURISDIÇÃO PARA EXIGIR DO 
PODER PÚBLICO A TUTELA DE DIREITOS CONTEMPLADOS CONSTITUCIONALMENTE. 
Esses direitos chamados fundamentais também eram dotados de normatividade, como 
defendia a teoria dos princípios pautada principalmente nos estudos de Ronald Dworkin e 
Robert Alexy. 
 
Em outras palavras, enquanto as regras se aplicam em uma lógica de tudo ou nada, de modo 
que ela incidirá desde que tenha ocorrido o fato descrito na regra, os princípios possuem uma 
dimensão de peso. Eles são mandados de otimização. 
 
OS PRINCÍPIOS DEVERIAM SER APLICADOS LEVANDO QUAIS PONTOS EM CONSIDERAÇÃO? 
RESPOSTA 
Todos os direitos fundamentais estabelecidos constitucionalmente podem ser exigíveis, 
inclusive por via judicial. 
 
Ainda nos casos de descumprimento pelos Poderes majoritários quanto a preceitos e valores 
constitucionais, a jurisdição constitucional pode ser acionada e atuar para conferir efetividade 
e concretude à Constituição. Já a dificuldade contramajoritária, que permeia a jurisdição 
constitucional, tem como contra-argumento a necessidade de proteção de direitos 
fundamentais e de manutenção das regras do jogo democrático. 
 
 
JUDICIALIZAÇÃO DA VIDA E DA POLÍTICA 
Podemos dizer que houve progressivamente um aumento da judicialização de demandas e o 
consequente crescimento da atuação judicial. Isso opera de forma concomitante e contínua 
aos processos de busca de efetividade da Constituição e de conferência da normatividade aos 
direitos fundamentais, tendo como parâmetro uma Carta Magna como a nossa, ou seja, 
analítica e com um denso catálogo de direitos. 
 
Nos últimos anos, se verificou uma intensa judicialização de diversos aspectos da vida 
brasileira, sejam eles econômicos, sociais e políticos. Embora isso seja um fenômeno, em certa 
medida, mundial, existem aspectos particulares ao Brasil. 
 
Quantitativo 
 
Em primeiro lugar, houve, em sentido quantitativo, uma explosão de litigiosidade, ou seja, um 
aumento considerável de demandas judiciais acerca de diversos aspectos da vida. 
 
Qualitativo 
 
Em seguida, a judicialização qualitativa se deu à medida que, explica Barroso (2018, p. 23), as 
questões de relevância nacional, em diversas matérias, “passaram a ter o seu último capítulo 
perante os tribunais”. 
 
ESSE AUMENTO PROGRESSIVO DE AÇÕES JUDICIAIS, EMBORA POSSA DENOTAR ASPECTOS 
CONSTITUCIONAIS IMPORTANTES, COMO A EFETIVAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E A 
CREDIBILIDADE DO SISTEMA JUDICIAL PARA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS, REVELOU, POR 
OUTRO LADO, PROBLEMAS QUANTO À EFETIVIDADE DA REALIZAÇÃO DE FUNÇÕES DOS 
PODERES MAJORITÁRIOS. 
Quanto mais vezes o Judiciário for acionado para resolver conflitos legais e constitucionais, 
mais demonstrado estará que os demais Poderes não estão sendo eficientes na entrega de 
suas competências. Nesse sentido, pontua Barroso (2018, p. 24), “a judicialização evidencia, 
assim, uma deficiência grave no funcionamento da política majoritária, que é aquela conduzida 
pelos órgãos eletivos – Legislativo e Executivo”. 
 
O fenômeno da judicialização da vida surgiu em concomitância com a própria judicialização da 
política e a expansão do STF. 
 
MAS VOCÊ SABERIA EXPLICAR O QUE, DE FATO, SIGNIFICA ISSO? 
RESPOSTA 
Na seara política, tal fenômeno seria, aponta Brandão (2013, p. 177), “o processo pelo qual as 
Cortes e os juízes passam a dominar progressivamente a produção de políticas públicas e de 
normas que antes vinham sendo decididas (ou, como é amplamente aceito, que devem ser 
decididas) por outros departamentos estatais, especialmente o Legislativo e o Executivo”. 
 
TEORIAS DA EXPANSÃO DO PODER JUDICIÁRIO 
Brandão (2013) explica que, de modo geral, há três teorias acerca do processo de expansão do 
Poder Judiciário: 
 
1 
CONCEITUALISTAS 
A judicialização da política existe em decorrência de uma formulação no conceito de 
democracia. Em outras palavras, isso se dá porque ao abarcar, além do princípio majoritário, 
os direitos das minorias, as constituições passaram a conter um extenso rol de direitos 
fundamentais positivados. Além disso, o pluralismo decorrente da democracia revelaria uma 
série de atores políticos dotados de direitos potencialmente demandáveis por meio da via 
judicial. 
 
FUNCIONALISTAS 
Essa judicialização decorre de um aspecto estrutural vinculado ao federalismo e a uma 
separação dos Poderesexcessivamente rígida. Essa estrutura teria gerado mecanismos de veto 
e conflitos entre entes federativos e Poderes do Estado que culminariam no Judiciário, tendo 
em vista sua função de dirimir tais conflitos, especialmente aqueles relativos à sede de 
controle da constitucionalidade. 
 
2 
3 
ESTRATÉGICAS 
Para as teorias estratégicas, o foco são outros fatores, como, por exemplo, a atuação 
estratégica de grupos políticos a fim de judicializar direitos em prol do seu interesse. Também 
se menciona a incerteza quanto ao futuro político a partir da ideia de seguro político de 
Ginsburg, segundo a qual os atores institucionais, eventualmente perdedores dos processos 
políticos, estabelecem limites para a atuação das maiorias do futuro. 
 
Por conta disso, completa Ginsburg (2008), havendo incerteza eleitoral, os grupos políticos 
perdedores poderiam incentivar a constitucionalização de alguns temas a fim de estabelecer 
limites à atuação dos grupos eleitos. 
 
Como cabe ao Judiciário a função de dirimir os conflitos entre Poderes — e em meio a entes, 
partidos políticos e outros atores sociais —, o estímulo à judicialização no contexto brasileiro 
advém de diversos aspectos do sistema jurídico como um todo. 
 
Entenderemos melhor agora a visão de Rodrigo Brandão (2013) sobre o assunto. O autor 
destaca quatro condições políticas e institucionais para a expansão do Judiciário no contexto 
brasileiro: 
 
FRAGMENTAÇÃO DO PODER POLÍTICO DECORRENTE DO SISTEMA DE GOVERNO 
PRESIDENCIALISTA 
SISTEMA PROPORCIONAL DE LISTA ABERTA PARA O LEGISLATIVO E O FEDERALISMO 
PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO 
ATRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DELEGADAS AO EXECUTIVO 
A partir desse entendimento de Brandão, verifica-se ainda a existência de condições 
institucionais consubstanciadas na extensão do catálogo de direitos constitucionalmente 
estabelecidos. 
 
Listaremos a seguir quatro condições: 
 
1 
Acesso amplo ao controle de constitucionalidade abstrato por grupos de interesse e partidos 
de oposição por intermédio da legitimidade para a propositura de ações. 
 
2 
Possibilidade de modulação dos efeitos das decisões em sede de jurisdição constitucional. 
 
3 
Emenda Constitucional Nº 3/1993, que deu um efeito vinculante às decisões com efeitos erga 
omnes que se aplicam não somente aos destinatários da norma, mas também aos órgãos 
administrativos e judiciais. 
 
4 
Constitucionalização abrangente. 
 
Esses quatro fatores – assim como outros – culminaram na judicialização de atividades 
legislativas e administrativas. 
 
 
O QUE É O ATIVISMO JUDICIAL? 
Descreveremos neste vídeo as características do ativismo judicial. 
 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. DOTADA DE NORMATIVIDADE, A CONSTITUIÇÃO DE 1988 PASSOU A SER APLICADA 
DIRETAMENTE PELOS TRIBUNAIS. NESSA BUSCA POR EFETIVIDADE, REGISTROU-SE 
PROGRESSIVAMENTE UMA EXPANSÃO DA ATUAÇÃO JUDICIAL, O QUE CULMINOU EM DOIS 
FENÔMENOS: JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E ATIVISMO JUDICIAL. SOBRE ESSA 
JUDICIALIZAÇÃO, É CORRETO DIZER QUE: 
Trata-se de um modo proativo e expansivo de atuação judicial independentemente da 
expansão de demandas em juízo para a resolução de conflitos e a discussão de direitos 
fundamentais. 
 
Segundo a teoria conceitualista, ela seria uma decorrência do conceito de democracia, já que, 
além do princípio majoritário, existe um extenso rol de direitos fundamentais positivados 
potencialmente demandáveis por meio da via judicial. 
 
Para a teoria funcionalista, ela decorre da flexibilidade do federalismo e da separação dos 
Poderes, atenuando o conflito entre os entes e os Poderes. 
 
Conforme as teorias estratégicas, a atuação tática de grupos políticos para judicializar 
demandas é restrita, uma vez que já há limites consubstanciados na Constituição para as 
maiorias futuras, criando um cenário de certeza e segurança jurídica. 
 
As condições institucionais e políticas no Brasil não contribuíram para a expansão do Judiciário, 
não havendo, assim, um terreno propício para uma atuação proativa dos tribunais, 
especialmente do STF. 
 
2. CONFORME DESCREVE LUÍS ROBERTO BARROSO (2018, P. 139), “A IDEIA DE ATIVISMO 
JUDICIAL ESTÁ ASSOCIADA A UMA PARTICIPAÇÃO MAIS AMPLA E INTENSA DO JUDICIÁRIO NA 
CONCRETIZAÇÃO DOS VALORES E FINS CONSTITUCIONAIS, COM MAIOR INTERFERÊNCIA NO 
ESPAÇO DE ATUAÇÃO DOS OUTROS DOIS PODERES”. A ESSE RESPEITO, AFIRMA-SE QUE: 
I.O OPOSTO DO ATIVISMO JUDICIAL É A AUTOCONTENÇÃO, MODO DE COMPORTAMENTO EM 
QUE O JUDICIÁRIO TEM UMA POSTURA DE MAIOR DEFERÊNCIA AOS PODERES MAJORITÁRIOS 
E ÀS SUAS DECISÕES POLÍTICAS. 
II.AS TRÊS PRINCIPAIS CRÍTICAS FEITAS AO ATIVISMO JUDICIAL SÃO AQUELAS RELATIVAS ÀS 
CAPACIDADES INSTITUCIONAIS DOS TRIBUNAIS, ÀS LIMITAÇÕES AO DEBATE PÚBLICO E AO 
FATO DE O STF, COMPOSTO POR 11 MINISTROS, SER UMA INSTÂNCIA TRADICIONALMENTE 
CONSERVADORA DO STATUS QUO. 
III.OS PAPÉIS CONTRAMAJORITÁRIO, REPRESENTATIVO E ILUMINISTA DO STF NÃO PODEM SER 
EXERCIDOS POR INTERMÉDIO DE POSTURAS ATIVISTAS, POIS ELES DEMANDAM UMA MAIOR 
DEFERÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS INSTÂNCIAS POLÍTICAS. 
A RESPEITO DAS PROPOSIÇÕES: 
Apenas o item I está correto. 
 
Apenas o item II está correto. 
 
Os itens I e II estão corretos. 
 
Os itens II e III estão corretos. 
 
Todos os itens estão corretos. 
 
GABARITO 
1. Dotada de normatividade, a Constituição de 1988 passou a ser aplicada diretamente pelos 
tribunais. Nessa busca por efetividade, registrou-se progressivamente uma expansão da 
atuação judicial, o que culminou em dois fenômenos: judicialização da política e ativismo 
judicial. Sobre essa judicialização, é correto dizer que: 
 
A alternativa "B " está correta. 
 
 
Este é o conceito preconizado pela teoria funcionalista, aponta, entre outros autores, Rodrigo 
Brandão (2013). 
 
2. Conforme descreve Luís Roberto Barroso (2018, p. 139), “a ideia de ativismo judicial está 
associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e 
fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação dos outros dois Poderes”. A 
esse respeito, afirma-se que: 
I.O oposto do ativismo judicial é a autocontenção, modo de comportamento em que o 
Judiciário tem uma postura de maior deferência aos Poderes majoritários e às suas decisões 
políticas. 
II.As três principais críticas feitas ao ativismo judicial são aquelas relativas às capacidades 
institucionais dos tribunais, às limitações ao debate público e ao fato de o STF, composto por 
11 ministros, ser uma instância tradicionalmente conservadora do status quo. 
III.Os papéis contramajoritário, representativo e iluminista do STF não podem ser exercidos 
por intermédio de posturas ativistas, pois eles demandam uma maior deferência em relação às 
instâncias políticas. 
A respeito das proposições: 
 
A alternativa "C " está correta. 
 
 
A autocontenção é a postura de maior deferência aos Poderes majoritários. Ela constitui, 
portanto, um oposto do ativismo, que se traduz como uma postura mais ativa das instâncias 
judiciais. As principais críticas ao ativismo, com efeito, gravitam em torno da legitimidade 
democrática dos tribunais, bem como de suas capacidades institucionais. 
 
MÓDULO 3 
Descrever a causa e o contexto da crise de credibilidade do Poder Judiciário 
 
 
A CRISE DE CREDIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO 
SUPREMACIA JUDICIAL 
Analisado anteriormente, o contexto de judicialização da vida e da política, combinado com o 
ativismo judicial, levou a uma exacerbação da atuação judicial. A ausência de comedimento e 
deferência nas decisões judiciais, principalmente do STF — embora enaltecida pelo valor e pela 
proteção conferidos aos direitos fundamentais —, passou a sofrer críticas severas devido à 
suposta deturpação da separação dos Poderes. 
 
COM ISSO, ALGUNS AUTORES PASSARAM A LEVANTAR A HIPÓTESE DE UMA TRANSIÇÃO DA 
JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL – POR VIA DA JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA E DO ATIVISMO 
JUDICIAL – PARAA JURISTOCRACIA. 
Para que você entenda isso da melhor forma possível, faremos, em primeiro lugar, uma análise 
da supremacia judicial. Em seguida, apresentaremos seus problemas e distorções, 
consolidando, por fim, as causas da crise de credibilidade do Judiciário atual. 
 
O debate sobre a jurisdição constitucional e a possibilidade de controle dos atos normativos 
por uma instância judicial propiciaram a discussão acerca da seguinte questão: quem detém a 
última palavra sobre o significado da Constituição? 
 
Doutrinariamente, podemos ressaltar que parte da literatura argumenta que... 
 
A CORTE CONSTITUCIONAL TERIA ESSA ÚLTIMA PALAVRA, TENDO EM VISTA SUA FUNÇÃO DE 
PACIFICAR CONFLITOS ENTRE PODERES E DE GARANTIR DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
Para os defensores da supremacia judicial, existem evidências práticas que justificam a sua 
necessidade, mesmo que haja divergências históricas entre os países que adotam tal modelo. 
 
Nesse sentido, Larry Alexander e Frederick Schauer (2000), pensando no caso da Suprema 
Corte norte-americana, propõem quatro linhas de defesa da supremacia judicial: 
 
1 
 
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Em primeiro lugar, existe um argumento lógico que reside no fato de que há uma autoridade 
inerente à Suprema Corte para a resolução de algumas questões. Essa soberania deriva da 
aceitação da sociedade quanto à vigência e à produção de efeitos dessas decisões. Ou seja, a 
própria aceitação geral confere legitimidade às decisões proferidas. 
 
O segundo argumento está centrado na função pacificadora e no ponto ótimo das decisões 
judiciais. Apesar dos argumentos contrários, afirmando que a interpretação constitucional 
retira o foco da deliberação pública, os autores acreditam que a interpretação pela Suprema 
Corte não elimina o desacordo subjacente. 
 
Ela, por outro lado, garante a estabilidade e a harmonia social em relação à supremacia do 
próprio texto constitucional. Ademais, a Suprema Corte seria a melhor instituição para exercer 
tal competência por conta de seu isolamento político e do alto grau de estabilidade interna e 
procedimental. 
 
 
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2 
3 
 
Foto: Shutterstock.com 
 
Em terceiro lugar, os autores defendem a ideia de que o Supremo é um intérprete das 
demandas levadas a ele. Essa visão atribui valor ao arranjo institucional, à ordenação dos 
órgãos e à estabilidade entre eles. Assim, a Corte teria como função atribuída 
constitucionalmente dizer o que é a norma constitucional, embora tenha de respeitar o 
princípio da inércia da jurisdição. 
 
Por fim, em quarto lugar, ambos argumentam que o entendimento do significado da 
Constituição é uma condição necessária de sua legalidade. Por isso, uma multiplicidade de 
órgãos atuando na função interpretativa aumentaria o número de conflitos. Desse modo, é 
necessário haver uma supremacia judicial, considerando que o Judiciário possui as restrições 
institucionais necessárias para uma maior consistência interpretativa. 
 
 
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4 
Como podemos ver, essa linha de argumentação responde a alguns pontos fundamentais. Em 
primeiro plano, a supremacia judicial não violaria a prioridade legislativa na construção 
normativa. Mas somente podemos inferir isso porque a separação dos Poderes, quando 
incorporada pela Constituição, cria espaços específicos de atuação de cada poder. 
 
Dentro da lógica de freios e contrapesos, a CRFB/1988 formula mecanismos de interferência 
recíproca entre Poderes. Além disso, para que houvesse atuação judicial, os legitimados para a 
propositura de ações de constitucionalidade teriam de postular judicialmente. 
 
Além disso, se considerarmos os problemas de representatividade atuais, veremos que nem 
sempre a atuação legislativa é vinculada ao interesse público. Portanto, pode haver distorções 
nas leis. 
 
Sendo assim, o caminho do meio seria reconhecer: 
 
De um lado... 
 
O valor democrático procedimental das eleições dos Poderes majoritários. 
 
E de outro... 
 
Que o Judiciário pode atuar em prol de valores democráticos substantivos relacionados à 
proteção e à promoção dos direitos fundamentais. 
 
A despeito da defesa consistente desse viés analítico, diversas críticas à supremacia judicial 
têm surgido nos últimos anos diante do contexto – descrito no módulo anterior – de uma 
progressiva judicialização da vida e da política. 
 
Essa situação se deu especialmente no Brasil, considerando a seguinte transição radical 
ocorrida na Nova República: de uma falta de efetividade para uma judicialização excessiva. 
 
ESSE AMBIENTE OCASIONOU UMA SITUAÇÃO NÃO SÓ DE EXPANSÃO DA ATUAÇÃO JUDICIAL, 
MAS TAMBÉM DE ULTRAPASSAGEM DE LIMITES DE AUTOCONTENÇÃO E DE PROPAGAÇÃO DA 
POSTURA ATIVISTA. 
A judicialização excessiva criou uma necessidade de se encontrar alternativas para um modelo 
de supremacia judicial em que somente o Judiciário detém a última palavra sobre o significado 
constitucional. 
 
OS PROBLEMAS DA SUPREMACIA JUDICIAL, A JUDICIALIZAÇÃO EXCESSIVA E A CRISE DE 
LEGITIMIDADE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
Fabiana Luci de Oliveira e Luciana Gross Cunha (2017, p. 277) destacam que existe no Brasil um 
desrespeito endêmico à lei. Para elas, a “percepção geral é de que, no país, há baixo respaldo 
da sociedade às regras e às autoridades responsáveis pela sua aplicação, havendo, portanto, 
um problema de enforcement”. 
 
Essa talvez seja a causa central de uma judicialização excessiva, a qual, conforme 
demonstramos anteriormente, está aliada à necessidade de tornar efetivos os preceitos 
constitucionais. A questão é que, embora o Judiciário pudesse ser uma instância fornecedora 
de soluções para os conflitos, outros problemas surgiram no meio do caminho. 
 
Em primeiro lugar, o Judiciário, por uma questão de capacidade institucional, não tem a visão 
de políticas públicas necessária para efetivar os direitos fundamentais em larga escala. Tal 
questão pode ser demonstrada no âmbito da judicialização do direito à saúde. 
 
 
Foto: Shutterstock.com 
Embora a determinação judicial, por exemplo, para que a administração pública forneça 
medicamentos em diversas hipóteses tenha o intuito legítimo de universalizar a saúde, essa 
atuação causa disfunções. 
 
Como sabemos, em alguns casos, a administração pública fica condenada a arcar com valores 
irrazoáveis de tratamentos ou mesmo de medicamentos sem eficácia comprovada. Em outros, 
ocorrem problemas federativos sobre qual ente deveria ser responsabilizado nesses processos. 
 
Existe ainda um excesso de demandas ao Judiciário, as quais, como postula Barroso (2008, p. 
4), põem “em risco a própria continuidade das políticas de saúde pública, desorganizando a 
atividade administrativa e impedindo a alocação racional dos escassos recursos públicos”. 
 
Como você pode ver, isso interferiria na própria lógica das funções atribuídas aos três Poderes 
à medida que ações judiciais fossem afetando negativamente o funcionamento de políticas 
coletivas com o propósito de promover o direito fundamental à saúde. 
 
Em segundo lugar — e não é nenhuma novidade —, o problema da morosidade da justiça no 
Brasil é algo grave, como podemos observar em um estudo realizado pelo Conselho Nacional 
de Justiça (CNJ) em 2000. 
 
 
O relatório do CNJ (2000, p. 112) demonstra que a taxa de congestionamento, responsável por 
medir o percentual dos processos judiciais que permaneceram sem solução, oscilou, 
comparado ao total em trâmite no período de um ano, “entre 70,6%, no ano de 2009, e 73,4%, 
em 2016”. Embora tenha havido uma queda em 2019 — último ano analisado até o presente 
momento —, a taxa ainda permanecia no valor de 68,5%, sendo relativamente alta. 
 
Já a respeito do índice de atendimento à demanda, que revela se os tribunais baixaram 
processos em números equivalentes às novas demandas, verifica-se que ele vem crescendo 
desde 2016. Uma explicação para isso são as diversasações do CNJ no sentido de acelerar o 
julgamento dos processos. 
 
COMENTÁRIO 
Esse índice precisa permanecer acima do valor de 100% a fim de que não sejam acumulados 
novos casos. 
 
Embora revele uma notícia positiva para resolver os problemas de morosidade, a taxa deve ser 
mantida em crescimento para que se possa chegar a um ponto ótimo e contribuir com a 
diminuição da taxa de congestionamento (ainda uma das mais altas do mundo). 
 
Em terceiro lugar, parte da literatura acredita que a judicialização excessiva gerou uma 
distorção da supremacia judicial e da separação dos três Poderes. No meio acadêmico, o 
contexto de ativismo judicial exacerbado gerou críticas incisivas ao Judiciário, minando sua 
credibilidade. 
 
Hélio Pinheiro Pinto define a juristocracia como a... 
 
EXPANSÃO CRESCENTE DO PODER JUDICIÁRIO E DO PROTAGONISMO JURÍDICO, SOCIAL E 
POLÍTICO DE SEUS JUÍZES AOS QUAIS PASSA A SUBSTITUIR OS PODERES EXECUTIVO E 
LEGISLATIVO NA RESOLUÇÃO DOS GRANDES DILEMAS COLETIVOS DA VIDA NACIONAL, 
OCUPANDO ESPAÇOS QUE ANTES ERAM EXCLUSIVAMENTE DOMINADOS PELOS AGENTES 
POLÍTICOS ELEITOS PELO POVO. E QUE, COM ISSO, PERDERAM PROGRESSIVAMENTE 
AUTONOMIA INSTITUCIONAL E IMPORTÂNCIA POLÍTICO-SOCIAL, DEFLAGRANDO-SE UM 
PROCESSO DE ENFRAQUECIMENTO LENTO E GRADATIVO DO REGIME DEMOCRÁTICO. 
PINTO, 2018, p. 54. 
 
Em uma linha parecida, Oscar Vilhena Vieira (2008), ao estudar a expansão da autoridade do 
Supremo e dos tribunais, elenca três correntes como causas desse fenômeno. 
 
A juristocracia, que é sua primeira teoria, afirma que a causa central desse fenômeno seria a 
expansão do neoliberalismo e da globalização, gerando a noção de que os tribunais seriam um 
locus de maior estabilidade e segurança jurídica que o Legislativo. 
 
De acordo com uma segunda linha de pensamento, essa causa estaria alinhada a uma retração 
do sistema representativo. Esse sistema seria incapaz de cumprir as promessas constitucionais 
e democráticas de igualdade e justiça; portanto, ele teria aberto margem para a ampliação do 
Poder do Judiciário. 
 
Além da juristocracia, Vieira (2008, p. 444-445) estabelece que, no Brasil, se deu o fenômeno 
da supremocracia. Tal termo se refere a dois aspectos: 
 
1 
2 
“À expansão da autoridade do Supremo em detrimento dos demais Poderes.” 
 
“À autoridade do Supremo em relação às demais instâncias do Judiciário.” 
 
Embora não faça um julgamento de valor em relação a esse fenômeno, o autor revela os 
problemas de representatividade. Isso esclarece a necessidade de uma geração de debates 
sobre a racionalização da jurisdição constitucional e a lapidação do processo deliberativo a fim 
de reduzir possíveis tensões políticas geradas. 
 
Outra linha crítica da literatura brasileira centra-se no modelo deliberativo do STF e em seus 
impactos na legitimidade desse tribunal. 
 
NESSE CAMPO, CONFORME DESTACAM DIEGO WERNECK ARGUELHES E LEANDRO MOLHANO 
RIBEIRO (2018), UM PROBLEMA CENTRAL É A ASCENSÃO DA MINISTROCRACIA. 
Os autores Arguelhes e Ribeiro (2018, p. 13-14) entendem esse fenômeno como uma 
influência considerável da ação individual dos ministros do STF sobre o status quo legislativo. 
Por isso, “o poder judicial foi exercido individualmente por ministros do STF sem participação 
relevante do plenário da instituição ou até mesmo contra ele”. 
 
Desse modo, três mecanismos práticos da ministrocracia possibilitariam que as ações 
individuais de ministros influenciassem o processo decisório da Corte como um todo: 
 
MECANISMO 1 
A tomada de decisão feita por intermédio, principalmente, de liminares individuais e decisões 
monocráticas. 
 
MECANISMO 2 
Os pedidos de vista a fim de controlar a agenda do tribunal. 
 
MECANISMO 3 
As declarações ou sinalizações públicas sobre decisões futuras. 
 
Você já deve ter percebido que, dessa forma, tais ações prejudicariam a deliberação da Corte e 
revelariam posições individuais no lugar das coletivas e institucionais – como elas, aliás, 
deveriam ser. 
 
Além da supremocracia, Arguelhes e Ribeiro (2018) revelam um problema mais específico em 
relação à atuação do STF. Para os autores, ele denota uma crise de legitimidade interna e tem 
implicações externas. 
 
QUANDO A AÇÃO DE UM ÚNICO MINISTRO É SUFICIENTE PARA IMPEDIR MAIORIAS 
LEGISLATIVAS EVENTUAIS DE APROVAR MUDANÇAS NO STATUS QUO — SEJA DIRETAMENTE, 
NO CASO DE “JUDICIAL REVIEW INDIVIDUAL” PELO RELATOR, SEJA INDIRETAMENTE POR MEIO 
DE AMEAÇAS E SINALIZAÇÕES NA IMPRENSA —, TERÍAMOS UM “FALSO POSITIVO” NO 
EXERCÍCIO DO PODER JUDICIAL. ISTO É, CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE SEM UMA 
MAIORIA DE VOTOS DOS MEMBROS DO TRIBUNAL. 
ARGUELHES, RIBEIRO, 2018, p. 29. 
 
A atuação judicial seria, assim, “duplamente contramajoritária” e minaria a legitimidade da 
Corte. 
 
Ainda sobre os problemas deliberativos do STF, Virgílio Afonso da Silva (2009, p. 217), ao tratar 
da origem do modelo de constitucionalidade brasileiro — e das influências dos modelos norte-
americano e europeu —, aborda algumas características centrais da deliberação no Supremo: 
 
Em primeiro lugar, haveria uma “quase total ausência de trocas de argumentos entre os 
ministros”. 
 
Em segundo, a “inexistência de unidade institucional e decisória”, de modo que o tribunal não 
decide de maneira coletiva e institucional, e sim por meio da “soma dos votos individuais de 
seus ministros”. 
 
Por fim, existe uma “carência de decisões claras, objetivas e que veiculem a opinião do 
tribunal”. 
 
Diante desse e de outros problemas, Silva (2013) menciona a necessidade de se incrementar a 
interação e o diálogo entre os ministros. Além disso, realiza um estudo sobre a prática 
deliberativa do STF, revelando que algumas regras e práticas internas dificultam a ocorrência 
de uma deliberação entre os membros da Corte. 
 
Dessa maneira, esse conjunto de situações prejudica a legitimidade do tribunal. O modelo de 
deliberação é puramente agregativo, uma vez que cada ministro dá o seu voto e que cada um 
deles é publicado com suas razões específicas. 
 
PARA SILVA (2013, P. 568, GRIFOS NOSSOS), “NÃO HÁ OPINIÃO DO TRIBUNAL, MAS APENAS 
UMA SÉRIE DE ONZE OPINIÕES ESCRITAS”. 
Silva (2013) lista as três principais regras que possuem um efeito negativo nas deliberações do 
STF: 
 
 
Imagem: Shutterstock 
Em primeiro lugar, há um papel quase irrelevante do relator, considerando que sua escolha é 
arbitrária e que seu voto somente é revelado na sessão plenária. Isso inviabiliza uma discussão 
prévia — ainda mais se considerarmos que todos os demais ministros apresentam seus votos 
prontos na sessão. 
 
 
Imagem: Shutterstock 
Em segundo, a forma de comunicação entre os ministros por meio de leitura de votos em uma 
determinada ordem. 
 
 
Imagem: Shutterstock 
E, por fim, a possibilidade de interromper uma sessão plenária antes que os ministros tenham 
tido a oportunidade de expressar sua opinião sobre o caso em questão também prejudica o 
debate e diálogo. 
 
Algumas práticas consuetudinárias também são prejudiciais a uma deliberação de fato. 
 
1 
Em primeiro lugar, os ministros adotam estratégias advocatícias a fim de convencer os outros 
membros da Corte, como, por exemplo, a divulgação de teses e informações somente 
favoráveis ao voto. 
 
Haveria certo individualismo judicial decorrente da emissão de votos individuais, o que 
acarreta uma ausência de interação e consenso, sendo reforçado ainda pela ideia de que o juiz 
tem de convencer seu “auditório”. 
 
2 
3 
Uma publicidade extrema já agravada pelas transmissões de julgamento pela TV Justiça e pelos 
perfis do STF no Twitter e no Youtube. Por outro lado, podemos entender que isso possibilita 
transparência e controle social, além de contribuir para que os ministros não mudem de 
opiniões e para que o teste de argumentos fique restrito, evitando perda de prestígio diante 
da visibilidade. 
 
Apesar de poder melhorar o processo decisóriopor meio da consideração das discordâncias e 
trazer transparência, a publicação dos votos dissidentes não leva a um diálogo real nem à troca 
de opiniões com votos escritos. Ele acaba por ser uma mera formalidade de publicação. 
 
4 
5 
Os impasses gerados para a separação dos Poderes e a democracia geraram críticas à 
supremacia judicial. Somando-se a isso, surgiram objeções específicas ao modelo de 
deliberação do STF. 
 
Os diversos problemas analisados então passaram a minar a legitimidade e a credibilidade da 
Corte Constitucional brasileira. Contudo, esse movimento de perda de credibilidade do 
Judiciário vai além dos exames literários. Ele, na verdade, perpassa a confiança da sociedade 
ao longo dos anos tanto para a proteção e promoção dos direitos fundamentais quanto para a 
própria democracia. 
 
A CRISE DE CREDIBILIDADE E A FALTA DE CONFIANÇA NO JUDICIÁRIO 
Um ponto central para se avaliar a crise de credibilidade do Judiciário diz respeito à confiança 
que a população tem nas instâncias judiciais, especialmente o STF, que, conforme apontamos, 
tem um papel de destaque no contexto brasileiro não somente por ser sua última instância, 
mas também pelo protagonismo que vem ganhando nos últimos anos. 
 
 
Crédito editorial: Patricia dos Santos Foto: Shutterstock.com 
Analisaremos agora as pesquisas empíricas do Índice de Confiança na Justiça Brasileira 
(ICJBrasil) referente aos anos de 2012 a 2017 e a relação estabelecida entre o STF e a 
sociedade. Para isso, nos basearemos nos estudos realizados tanto por Joaquim Falcão e 
Fabiana Luci de Oliveira no ano de 2013 quanto por três entidades em 2019: Associação de 
Magistrados Brasileiros (AMB), Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto de Pagamentos 
Especiais de São Paulo (Ipespe). 
 
O ICJBrasil tem como intuito realizar um levantamento qualitativo a fim de acompanhar o 
sentimento da população em relação ao Judiciário. Para tanto, esse levantamento se subdivide 
em dois índices: 
 
De percepção 
 
Avalia a opinião dos cidadãos sobre a Justiça e a prestação de direitos. 
 
De comportamento 
 
Analisa se a população recorre ao Judiciário para a resolução de conflitos. 
 
A pesquisa do ICJBrasil é realizada em sete estados e no Distrito Federal. Apresentaremos a 
seguir os índices relativos ao Relatório ICJBrasil (2017): 
 
Quanto à confiança nas instituições, 24% dos entrevistados afirmaram em 2017 que confiavam 
ou confiavam muito no Poder Judiciário. Esse percentual era maior que o do Congresso 
Nacional (7%), dos partidos políticos (7%) e do governo federal (6%). 
 
Um fato curioso é que ele ficou aquém da confiança nas Forças Armadas, na Igreja Católica, 
nas redes sociais, na imprensa escrita, nas emissoras de TV, nas grandes empresas, no 
Ministério Público e na polícia. O percentual, no entanto, estava no mesmo patamar da 
confiança no STF. 
 
Verifica-se na pesquisa do ICJBrasil (2017, p. 13) que a confiança no Judiciário caiu 10 pontos 
entre 2013 e 2017, passando de 34% a 24%. 
 
Talvez um aumento no percentual, ainda que pequeno, entre os anos de 2014 e 2015 tenha se 
dado graças ao desenrolar da Operação Lava Jato (iniciativa de combate à corrupção e à 
lavagem de dinheiro que teve início em março de 2014, gerando uma visibilidade maior à 
atuação judicial e ao Ministério Público). 
 
 
Crédito editorial: Massis – Foto: Shutterstock.com 
No entanto, como destacamos anteriormente, entre os anos de 2013 e 2017, o grau de 
confiança da população na atuação judicial caiu em número considerável, o que representa um 
descrédito da instituição. 
 
A pesquisa do ICJBrasil (2017, p. 16-17) também revelou que menos de um quarto da 
população brasileira confiava no STF. A causa desse descrédito era atribuída, em geral, à 
morosidade da Justiça, tendo 81% dos entrevistados respondido que havia uma lentidão nos 
julgamentos. O mesmo percentual alegou que o custo de acesso à justiça seria alto. 
 
Conforme menciona o estudo realizado, os índices são ainda mais preocupantes quanto às 
dimensões de honestidade, competência e independência da instituição. 
 
EM 2017, 78% DOS ENTREVISTADOS CONSIDERARAM O PODER JUDICIÁRIO NADA OU POUCO 
HONESTO, OU SEJA, A MAIORIA DA POPULAÇÃO ENTENDEU QUE ESSA INSTITUIÇÃO TEM 
BAIXA CAPACIDADE PARA RESISTIR A SUBORNOS. ALÉM DISSO, 73% DOS RESPONDENTES 
CONSIDERARAM QUE O JUDICIÁRIO É NADA OU POUCO COMPETENTE PARA SOLUCIONAR OS 
CASOS; E 66% ACREDITAM QUE O JUDICIÁRIO É NADA OU POUCO INDEPENDENTE EM 
RELAÇÃO À INFLUÊNCIA DOS OUTROS PODERES DO ESTADO. 
RAMOS et al., 2017, p. 16-17. 
 
Com base nesses dados e em outros avaliados ao longo da pesquisa, o relatório do ICJBrasil 
(2017, p. 7) obteve dois resultados importantes. 
 
QUAIS RESULTADOS FORAM OBTIDOS? 
EM PRIMEIRO LUGAR... 
Houve uma queda na avaliação da Justiça, com subíndices sofrendo uma baixa significativa 
entre os anos anteriores e o de 2017 (data da pesquisa). 
 
EM SEGUNDO LUGAR... 
Ocorreu uma queda na confiança nas instituições de forma geral. 
 
Para os pesquisadores, isso demonstra uma insatisfação quanto aos problemas de corrupção. 
Outros resultados relevantes revelam que, apesar da má avaliação do Judiciário, as pessoas 
ainda recorrem a ele para a resolução de conflitos e que variáveis como escolaridade e idade 
não influenciam na confiança na instituição. 
 
Em 2019, foi a vez de outro estudo propor um diagnóstico estatístico sobre a imagem do 
Judiciário. Desta vez, ele foi realizado por três instituições: FGV, AMB e Ipespe. 
 
O ESTUDO DA IMAGEM DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO REVELOU QUE O JUDICIÁRIO POSSUI UM 
ÍNDICE DE DESCONFIANÇA DE 44%. 
Ainda que ele seja menor que os índices dos demais Poderes, representados pelo presidente 
da República (66%) e pelo Congresso Nacional (79%), esse percentual se revela alto. 
 
Daí também se conclui um relativo descrédito da instituição, ainda mais se levarmos em conta 
que o grau de confiança nos Estados Unidos (NCSC, 2019), por exemplo, quase alcança os 70% 
quando se trata da Suprema Corte. Ainda assim, devemos ressaltar que, lá, os números de 
confiança caíram de 2018 para 2019. 
 
Apesar de ser a instância que ainda permanece com legitimidade, na opinião dos 
entrevistados, maior que a dos outros dois Poderes majoritários para definir questões políticas 
relevantes, parece evidente haver uma maior demanda por participação popular. 
 
Além disso, mesmo que não possa haver uma percepção pública sobre a interferência do STF 
na competência dos outros Poderes, as pesquisas revelam um grau de discordância e 
desconfiança considerável em relação às decisões do Supremo. 
 
 
Foto: Shutterstock.com 
Ainda que não haja um resultado definitivo, se combinarmos os resultados das duas pesquisas 
analisadas (as de 2017 e 2019), veremos que, ao longo dos anos, tem havido uma perda de 
credibilidade popular do Judiciário – e notadamente do STF. 
 
Sendo assim, além das críticas da literatura sobre a atuação expansiva da Corte Constitucional, 
cujos fundamentos são mais estruturais, estando ligados à separação dos Poderes, aos valores 
democráticos e ao processo deliberativo, o grau de confiança popular no Judiciário 
definitivamente caiu nos últimos anos. Essa queda é uma variável relevante na estruturação 
democrática das instituições. 
 
Está clara a ocorrência de um processo de perda da credibilidade. Isso gera discussões 
complexas sobre quem deve ter a última palavra acerca das questões constitucionais e sobre a 
legitimidade da jurisdição constitucional para a tomada de decisões políticas relevantes no 
cenário brasileiro atual. 
 
 
CAUSAS DA CRISE DE CREDIBILIDADE DO JUDICIÁRIO 
Apontaremos neste vídeo as causas para a crise de credibilidade do Poder Judiciário. 
 
 
ALTERNATIVA À SUPREMACIA JUDICIAL: A TEORIA DOS DIÁLOGOS CONSTITUCIONAIS 
Com o surgimento de problemas por conta da propagação das demandas judiciais e do 
ativismo judicial, além da retiradade temas importantes da ação dos Poderes majoritários, 
começaram a ser construídas, na literatura, alternativas para o modelo de supremacia judicial. 
 
SERIA DE FATO JUSTO QUE AS CORTES CONSTITUCIONAIS TENHAM A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE 
A INTERPRETAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO? 
Nesse sentido, abordaremos neste subtópico o modelo proposto pelas teorias dialógicas 
(apesar de haver outras concepções alternativas). Estamos cientes de que existem 
controvérsias entre autores sobre os aspectos específicos de várias linhas de diálogos 
possíveis, porém tal viés não será analisado neste tema. 
 
Nosso tratamento será realizado de forma ampla. O intuito é estabelecer a compreensão da 
lógica geral da teoria dos diálogos constitucionais como uma alternativa ao modelo de 
supremacia judicial. 
 
Para Christine Bateup (2006), as teorias dialógicas enfatizam o fato de que o Judiciário não 
possui o monopólio sobre a interpretação constitucional. Portanto, deve haver um processo 
dialético e interativo de construção dos significados constitucionais para preencher uma 
lacuna de legitimidade da jurisdição constitucional. 
 
A autora concilia as teorias dialógicas que privilegiam a dialética entre os Poderes de Estado 
com a ideia de constitucionalismo popular. Seu intuito, com isso, é: 
 
GUIAR UM DESVIO DE FOCO DO JUDICIÁRIO PARA OUTRAS INSTÂNCIAS DELIBERATIVAS. 
PROMOVER A PARTICIPAÇÃO POPULAR NA CONSTRUÇÃO DA INTERPRETAÇÃO 
CONSTITUCIONAL. 
Já a ideia de Bateup (2006) diz respeito a uma compreensão abrangente do diálogo 
constitucional. Segundo o autor, isso resultaria em uma concepção de equilíbrio e parceria 
entre diversos mecanismos possíveis de dialética. 
 
O papel judicial seria o de facilitador e fomentador da discussão constitucional na sociedade 
como um todo. Para resolver o problema contramajoritário, completa Bateup (2006), isso 
abarcaria a possibilidade de haver contribuições institucionais na própria interpretação 
constitucional. 
 
Ademais, as teorias dialógicas, como destaca Rodrigo Brandão, vislumbram... 
 
O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE NÃO COMO UMA BARREIRA INTRANSPONÍVEL ÀS 
INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS, MAS COMO INSTRUMENTO CATALISADOR DE UM DIÁLOGO 
ENTRE AS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS SOBRE A MELHOR FORMA DE HARMONIZAR AS 
LIBERDADES INDIVIDUAIS E OS INTERESSES DA COLETIVIDADE. 
BRANDÃO, 2012, p. 273 
 
Desse modo, as maiorias eventuais do Poder Legislativo teriam a prerrogativa de reverter 
decisões sobre a inconstitucionalidade de determinada matéria. 
 
O POTENCIAL DE TAIS TEORIAS ESTÁ NO FATO DE ELAS RESOLVEREM DE FORMA SATISFATÓRIA 
O PROBLEMA DA DIFICULDADE CONTRAMAJORITÁRIA DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. 
O mecanismo tradicional que conduziria as possibilidades da teoria dos diálogos no exemplo 
brasileiro é a Emenda Constitucional prevista no artigo 60 da CRFB/1988. Digamos que ela 
teria o condão de potencialmente superar uma jurisprudência do STF acerca da 
inconstitucionalidade de determinada matéria. 
 
Vale destacar que, segundo as alíneas I, II e III desse artigo, as emendas constitucionais podem 
ser propostas tanto pelo chefe do Executivo Federal quanto pelo Legislativo, tendo, portanto, 
a participação dos Poderes majoritários. Além disso, elas são processadas pelo Legislativo, 
enquanto a sua aprovação, por dois turnos, depende de um quórum qualificado (artigo 60, § 
2º, CRFB/1988). 
 
Esse desafio entre os Poderes requer um trabalho em duas fases: 
 
Primeiro 
 
Emenda superadora de decisões de inconstitucionalidade do STF... 
 
Segundo 
 
Possibilidade de controle de emendas pelo STF inerente às teorias dos diálogos 
constitucionais... 
 
Geraria... 
 
Maior interação, debate público e busca de pontos de equilíbrio entre os Poderes dentro da 
lógica de freios e contrapesos. 
 
O ponto central aqui é que, diante das falhas da supremacia judicial e dos problemas práticos 
de um ativismo judicial exacerbado e da judicialização crescente, alternativas são possíveis. 
 
Na lógica de freios e contrapesos do princípio de separação dos Poderes, buscam-se os meios 
de estabelecer maior diálogo entre as instituições judiciais, legislativas e executivas. Espera-se 
que, como reforço da ideia de democracia representativa, sejam promovidas tanto a abertura 
de canais de participação popular quanto a construção de um significado constitucional 
dialético e democrático. 
 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. COMBINADAS COM O ATIVISMO JUDICIAL, AS JUDICIALIZAÇÕES DA VIDA E DA POLÍTICA 
LEVARAM A UMA EXACERBAÇÃO DA ATUAÇÃO JUDICIAL. NO ENTANTO, ALGUNS AUTORES, 
AINDA ASSIM, DEFENDEM A SUPREMACIA JUDICIAL COMO NECESSÁRIA À DEMOCRACIA. SÃO 
EXEMPLOS DESSAS DEFESAS AS SEGUINTES SENTENÇAS, EXCETO: 
A autoridade das Cortes Constitucionais para a resolução de algumas questões é inerente na 
medida em que ela deriva de uma aceitação da própria sociedade quanto à vigência e à 
produção de efeitos das decisões em sede de controle constitucional. 
 
As Cortes Constitucionais possuem uma função pacificadora, sendo necessárias para a 
estabilidade e a harmonia social; além disso, há um ponto ótimo das decisões judiciais que 
deriva do isolamento político e da estabilidade interna da Corte. 
 
A função de intérprete das Cortes Constitucionais deriva do arranjo institucional, que busca 
manter a ordenação e a estabilidade entre os órgãos. 
 
Para a manutenção e a estabilidade da legalidade, é necessário existir uma segurança jurídica 
quanto ao significado da Constituição. Se houvesse uma multiplicidade de intérpretes, o 
número de conflitos na sociedade aumentaria drasticamente. 
 
As Cortes Constitucionais, em geral, possuem legitimidade representativa devido à sua 
composição, que é feita de membros eleitos pelo voto popular. 
 
2. PROGRESSIVAMENTE, NO DESENVOLVIMENTO DA NOVA REPÚBLICA APÓS A 
PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988, FORAM PERCEBIDOS ALGUNS PROBLEMAS DA 
ATUAÇÃO EXPANSIVA DO STF. ENTRE AS CRÍTICAS TECIDAS NA LITERATURA BRASILEIRA 
ACERCA DA ATUAÇÃO DO SUPREMO, DESTACAM-SE: 
I. O JUDICIÁRIO, POR UMA QUESTÃO DE CAPACIDADE INSTITUCIONAL, NÃO TEM A VISÃO DE 
POLÍTICAS PÚBLICAS NECESSÁRIA PARA EFETIVAR EM LARGA ESCALA OS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS E OS PRECEITOS CONSTITUCIONAIS. AÇÕES NESSE SENTIDO CAUSAM 
DISFUNÇÕES NO SISTEMA DE SEPARAÇÃO DOS PODERES À MEDIDA QUE PÕEM EM RISCO A 
CONTINUIDADE DE POLÍTICAS PÚBLICAS CONDUZIDAS PELOS PODERES MAJORITÁRIOS. 
II. A SUPREMOCRACIA, QUE REVELA A AUTORIDADE DO STF EM RELAÇÃO ÀS DEMAIS 
INSTÂNCIAS JUDICIAIS E SUA EXPANSÃO EM DETRIMENTO DOS DEMAIS PODERES, TRAZ UMA 
REVELAÇÃO SOBRE UM PROBLEMA DE REPRESENTATIVIDADE DA DEMOCRACIA BRASILEIRA. 
III. QUANTO AO ASPECTO DELIBERATIVO DO STF, A MINISTROCRACIA SE APRESENTA COMO 
UM PROBLEMA GRAVE AO EVIDENCIAR UMA INFLUÊNCIA CONSIDERÁVEL DA AÇÃO 
INDIVIDUAL DOS MINISTROS SOBRE AS PAUTAS LEGISLATIVAS SEM A PARTICIPAÇÃO DO 
PLENÁRIO. NESTE CASO, A ATUAÇÃO JUDICIAL É DUPLAMENTE CONTRAMAJORITÁRIA. 
IV. DO PONTO DE VISTA DELIBERATIVO, A CORTE BRASILEIRA É DOTADA DE UMA ESTRUTURA 
REFINADA QUE PERMITE TANTO A ARGUMENTAÇÃO E O DEBATE ENTRE MINISTROS QUANTO 
A CONSIDERAÇÃO DE DIVERSOS PONTOS DE VISTA POR MEIO DA LEITURA DE VOTOS E DA 
TRANSPARÊNCIA E PUBLICIDADE (DERIVADAS DA TRANSMISSÃO DOS JULGAMENTOS PELA TV 
JUSTIÇA). 
ESTÃO CORRETAS AS ASSERTIVAS: 
I e II 
 
II e III 
 
I, II e III 
 
II, III e IV 
 
I. II, III E IV 
 
GABARITO 
1. Combinadas com o ativismo judicial, as judicializações da vida e da política levaram a uma 
exacerbação da atuação judicial. No entanto, alguns autores, ainda assim, defendem a 
supremacia judicial como necessária à democracia. São exemplos dessas defesas as seguintes 
sentenças, exceto: 
 
A alternativa "E " está correta. 
 
 
Os integrantes das Cortes Constitucionais, como regra, são nomeados isolada ou 
conjuntamente pelo Poder Executivo e/ou pelo Legislativo. 
 
2. Progressivamente, no desenvolvimento da Nova República após a promulgação da

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