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1 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 AINES Histórico dos AINES • 1500 a.C → Papiro de Ebers: efeito antipirético e anti-inflamatório; • 400 a.C → Hipócrates; Uso de folhas de Salix alba • para dores e cicatrizar feridas; • 1763 → Reverendo Edmund Stone: Casca do salgueiro para febre; • 1828 → Johann Buchner; descobriu o princípio ativo da planta salicilina. • 1853 → Chales Gerhardt: Sintetizou o ácido salicílico; • 1893 → Hoffmann; adicionou o grupo acetil que diminuiu a toxicidade do ácido salicílico, transformando em ácido acetilsalicílico. • 1899 → Bayer lançou no mercado a Aspirina; frasquinho de vidro com rótulo; princípio ativo no interior. O paciente pegava a quantidade que ele precisava tomar, solubilizava na água e ingeria. • 1919→ Marca passa domínio público; • 1994→ Consumo de 50 mil toneladas; Descoberta do mecanismo de ação dos anti-inflamatórios não esteroidais Até 1971, sabia que os AINES tinham ação anti- inflamatória, analgésica e antipirética, mas não se sabia o mecanismo de ação. Isso era muito comum antigamente ... os fármacos eram comercializados sem saber exatamente como funcionavam. Nos dias de hoje, isso não acontece mais, pois para o fármaco ser lançado no mercado, obrigatoriamente tem que comprovar como funciona. O John Vane, publicou em 1971 que os AINES que ele estudou (indometacina, aspirina, salicilato de sódio) inibiam a síntese de uma substância chamada prostaglandina, e na época sabiam que as prostaglandinas eram importantes mediadores inflamatórios e sensibilizadores dos nociceptores. Então, ele descobriu que a inibição da síntese da prostaglandina estava relacionada com a diminuição do quadro inflamatório e dor do paciente. PRÊMIO NOBEL EM FISIOLOGIA OU MEDICINA 1982 Por conta disso, John Vane e outros dois pesquisadores suecos ganharam prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1982, “por suas descobertas a respeito das prostaglandinas e substâncias biologicamente ativas relacionadas.” Fisiopatologia da inflamação Definição ¨Uma sucessão de mudanças que ocorre num tecido vivo quando este for danificado, desde que a lesão não seja de tal grau, capaz de destruir sua estrutura e vitalidade¨. Pontos cardinais da inflamação: Dor, calor, rubor e tumor. Esses quadros se instalam devido a lesões teciduais por traumas, infecção, excesso de temperatura (provocados por tumores ou endotoxinas). Uma vez que esses sinais não são resolvidos, seja por questões intrínsecas do indivíduo, uma auto resolução ou por adição de medicamentos, esse tecido pode perder a função. Então, um processo inflamatório prolongado, sem resolução, leva uma perda de função dos tecidos. Um dos principais pontos cardinais de inflamação é a dor, pois, esta tem relação direta com a qualidade de vida e é sabidamente um dos sintomas que mais leva as pessoas a procurarem atendimento médico. Então, se o indivíduo tem dor aguda, a qualidade de vida e a atividade tendem a diminuir. Um estudo (antigo) de Sá colaboradores, realizado em Salvador, demostrou que 41,1% da população soteropolitana apresentavam algum tipo de dor crônica. Importante: o quadro inflamatório se estabelece, se mantém ou 2 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 se resolve baseado nos balanços dos mediadores inflamatórios. Existem mediadores pró inflamatórios e anti- inflamatórios, que sofrem uma self regulation. Assim, o próprio tecido (tecido ou células adjacentes migratórias) conseguem produzir um processo inflamatório para combater e controlar o quadro, assim como produzir, sintetizar e liberar mediadores e citocinas para resolver o quadro inflamatório. Esse balanço é responsável por regular a inflamação em si. Quando esse balanço pró inflamatório é exagerado e a auto resolução não é capaz de agir, o tecido vai ser lesionado e perder sua função. Então, a gente precisa atuar para regular a balança e estimular os mecanismos anti-inflamatórios ou inibir os pró inflamatórios. Esquema de inflamação causada por microrganismos e eventos citológicos que ocorrem: 1- Lesão tecidual libera histamina, aumenta fluxo sanguíneo. 2- A histamina provoca extravasamento dos capilares, liberando fagócitos e mediadores inflamatórios no meio; 3- Fagócitos englobam bactérias, células mortas e resíduos celulares; 4- Plaquetas se movem para fora dos capilares a fim de iniciar o processo de controle e reparo da lesão; Lesão tecidual → citocinas pró-inflamatórias → fosfolipídeos → Ácido araquidônico → Prostaciclinas – PCI (vasodilatação, inibição da agregação plaquetária); prostaglandinas - PGE (dor, febre, vasodilatação, inibição da secreção de ác. gástrico, aumento da secreção de muco gástrico; tromboxanos – TXA2 (agregação plaquetária, vasoconstrição). 1º - Lesão tecidual e liberação de citocinas inflamatórias. Essa lesão e essas citocinas liberadas são típicas da bicamada lipídicas, os fosfolipídios de membrana. Esses fosfolipídios são substratos da fosfolipase A2, que pega esses fosfolipídios e os converte em ácido araquidônico (AA), o qual é o substrato da famosa COX (cicloxigenase). A COX converte o AA em: prostaciclina, tromboxano e prostaglandina. • Prostaciclinas: tem função de vasodilatação e inibição da agregação plaquetária, facilitando a perfusão tecidual e a passagem das células da corrente sanguínea para o tecido inflamado. • Prostaglandinas: sensibiliza os nociceptores; estimula os processos dolorosos, induz febre ou calor no local, estimula vasodilatação, aumenta produção (?) de muco gástrico e inibição da secreção ácido gástrico. • Tromboxanos: exerce efeito antagônico à prostaciclina. Estimula a agregação plaquetária e a vasoconstrição. Quanto temos um fármaco que inibe a ação da COX, há o bloqueio da conversão do AA em Prostaciclina, Prostaglandina e Tromboxanos. Dessa forma, eu consigo, dentre outras coisas, diminuir os efeitos cardinais da inflamação (Ex. dor, calor e tumor). Objetivos do tratamento com AINES • Aliviar os sintomas e preservar a função; • Retardar ou deter a lesão tecidual. • Propriedades anti-inflamatórias, antipiréticas e analgésicas combinadas. Ex. diclofenaco. O Paracetamol e o Acetominofeno possuem atividades antipirética, analgésica e uma baixíssima atividade anti-inflamatória. A nimesulida também é um exemplo de AINES. Farmacocinética geral • Ácidos orgânicos fracos; • Biodisponibilidade oral não modificada pela presença de alimento; Há exceções! • Metabolismo hepático, principalmente pela CYP3A e CYP2C; • Excreção renal, podendo ocorrer alguma secreção biliar e recirculação. Cicloxigenase 1 e 2 Lembrar: A cox converte ácido araquidônico (AA) em prostaciclina, prostaglandina e tromboxano. Se há uma inibição dessa enzima, há também uma inibição da 3 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 produção desses mediadores inflamatórios, ajudando a resolução do quadro. Em um primeiro momento, pode-se dizer que os AINES são antagonistas da COX, tendo uma ação de inibição/bloqueio. Ele se liga a enzima e impede que o substrato, no caso descrito, o ácido araquidônico, tenha acesso ao sítio ativo. O AINE vai bloquear o acesso do agonista ao alvo, ou seja, vai bloquear a ligação do AA ao COX. Forma que o AINE se liga à COX 1 e COX 2: Os inibidores não seletivos, ou seja, os antagonistas da COX que se ligam tanto a COX 1 quanto a COX 2, se ligam de forma reversível (ligação não covalente; ligação com Van der Waals ou iônica). Porém, tem uma exceção - o ácido acetilsalicílico, que é um AINE não seletivo, que se liga tanto a COX 1 quanto a COX 2, porém de forma irreversível, se ligando covalentemente ao resíduo de serina número 530 da COX. Os fármacos que são seletivos à COX2 (se ligam apenas a COX 2) também se ligam de forma irreversível. Na imagem B: o fármaco seletivo para a COX 2, os Coxibs, representado na imagem o Celecoxib, representam um grupamento volumoso adicional. Esse grupamento que permite a seletividade dos Coxibs. A COX 2 possui um canal hidrofóbico mais largo do que a COX 1. Então, grupamentos volumosos conseguem acessar o canal de bloqueio da COX 2, sem acessar o canal de bloqueio da COX 1. Isso faz com que eles sejam seletivos. Descoberta acerca das atividades da COX 1 e da COX 2: num primeiro momento, acreditava-se que o estímulo fisiológico era responsável por induzir a COX 1 a produzir prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos. Acreditava-se que a COX 1 era constitutiva, ou seja, as prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos que exerciam suas funções fisiológicas nas plaquetas, endotélio, na mucosa gástrica e no rim; que tais substâncias eram produzidas unicamente pela COX 1 e, quando um quadro inflamatório se instaurava, a enzima responsável por produzir essas substâncias era outra enzima, a COX 2, por conta disso também passou a ser chamada de COX induzida. Ou seja, um processo inflamatório induzia a COX 2 a ser expressa, e induzia a produção de prostaglandinas e outros mediadores inflamatórios. Por muito tempo acreditava- se que isso acontecia. CICLOXIGENASE 1 • Rins: ➢ Prostaglandinas são importantes para a manutenção do fluxo sanguíneo dos rins. A ausência destas pode levar a falência cardíaca congestiva, cirrose hepática ou insuficiência renal; • Plaquetas: ➢ Nas plaquetas, apenas a isoforma COX-1 é detectada. Importante no tratamento de doenças tromboembólicas. • Gestação e parto: ➢ Importante para indução das contrações uterinas durante o parto; ➢ Manutenção de uma gravidez saudável; ➢ Importante para implantação do óvulo; No parto, a cicloxigenase 1 produz substâncias como ciclinas, glandinas, tromboxanos, que são importantes para indução e contração uterina, manutenção de uma gravidez saudável e para a implantação do óvulo. Logo, observa-se que a Cicloxigenase exerce funções fisiológicas que vão além do processo inflamatório. CICLOXIGENASE 2 Ativação de COX-2: em concentrações cerca de 10 vezes menores de substrato que o 4 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 necessário para ativar a reação de ciclo oxigenação na COX-1. O primeiro inibidor seletivo de COX 2 foi comercializado em 1999. Em 1994, estudava-se formas de comprovar que a COX 2 era expressada apenas em situações inflamatórias, o que está sendo mostrado na imagem acima, referente a um estudo. Esse gráfico de expressão 2, em percentual, pelo tempo após injeção intraplantar em roedores de uma substância chamada carragenina, que é uma substância pró-inflamatória, é um estímulo inflamatório. No tempo zero, observa-se mais expressão relativa de COX 2 e baixa na planta da pata do roedor. 3 horas após a administração do estímulo inflamatório essa expressão sobe para 70%. Então, aparenta que o conhecimento acerca da COX 2 está correto, um quadro inflamatório estimula a produção de COX 2. Ou seja, se apenas a COX 2 for bloqueada, é bloqueado apenas mediadores inflamatórios no local da inflamação, sem bloquear a COX 1 e sem atrapalhar os efeitos endógenos da produção de prostaglandinas pela COX 1. Esse foi o pensamento cientifico na época. Outra coisa que se descobriu é que para a COX 2 ser ativada, ou seja, para que ela comece a produzir prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos, é necessário 10x menos substrato do que é necessário para ativar a COX 1. Inibição diferencial da COX-1 e COX-2 O mesmo trabalho publicou a molécula capaz de inibir apenas a COX 2, que é essa molécula chamada de SC- 58125. Na primeira imagem, tem-se dois exemplos, dois resultados: o resultado de inibição da COX 1 e o resultado de inibição da COX 2 por duas moléculas: indometacina e SC- 58125. A indometacina, representada com a linha com quadradinhos, inibe tanto a COX 1 (conforme aumenta a dose da indometacina, diminui a atividade da cicloxigenase) quanto a COX 2. A indometacina apresenta afinidades diferentes para a COX 1 e para COX 2, mas no final inibe a COX 1 e a COX 2. Já o seletivo para COX 2, SC-58125 representado pela bolinha, por mais que sua dose tenha sido aumentada, a atividade da COX 1 permaneceu máxima. Porém, conforme aumenta a dose da SC diminui-se a atividade da COX 2. Com isso, foi comprovado que a molécula SC- 58125 tinha capacidade seletiva para inibir a COX 2 e não inibir a COX 1. Na outra imagem, observa-se o grupamento volumoso, exatamente esse grupamento faz com que a molécula tenha acesso ao canal de ligação, ao sítio de ligação da COX 2, porém que não consegue bloquear o canal da COX 1. Ou seja, o ácido araquidônico continua servindo de substrato para a COX 1 porque essa molécula não foi capaz de bloquear a atividade da mesma. O PORQUE DA SELETIVIDADE DE ALGUNS FARMACOS PARA A COX-2 Exemplo A: tem-se o fármaco não seletivo, que atua no ácido acetilsalicílico (?). Então, ele bloqueia tanto a COX-1 quanto a COX-2. Ela é uma molécula pequena e consegue ter acesso tanto ao canal do sítio ativo da 1 quanto da 2, interage com os aminoácidos e bloqueia o acesso do ácido araquidônico ao sítio ativo. Quando o ácido araquidônico não tem o acesso ao sítio ativo, não se tem a produção de prostaglandina, ciclinas e tromboxanos. Então, o não seletivo bloqueia o espaço do AA tanto do COX-1 quanto do COX-2. Exemplo B: tem-se o inibidor seletivo de COX-2 com o grupamento volumoso característico. Esse grupamento impede que o inibidor seletivo de COX-2 tenha acesso aos mesmos sítios que o não seletivo tem na COX-1, porém ele continua permitindo o acesso do AINE a COX-2. Além disso, esse grupamento permite uma interação adicional da COX-2, que não é possível na COX-1. Os aminoácidos das enzimas da região COX-1 são diferentes dos aminoácidos das enzimas COX-2. Então, tanto o volume maior quanto uma interação maior com os aminoácidos da COX-2 fazem com que eles tenham essa característica de seletividade. OBS. Não existe AINE seletivo para COX-1, mas existe quimicamente mais afim da COX-1 do que da COX- 5 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 2. Porém, isso não impede que ele se ligue, mas permite que se ligue muito menos com a COX-2 e muito mais com a COX-1. Cicloxigenase 2 • Rim: ➢ Expressa constitutivamente, ou seja, em situações fisiológicas, na mácula densa; ➢ O aumento da renina renal que ocorre depois da restrição de sódio na dieta, necessita de indução de COX-2. • Sistema gastrointestinal: ➢ O uso de seletivos COX-2 em animais com mucosa colônica inflamada resultou em bloqueio da síntese de PGs e aumento importante na severidade do dano na mucosa; ➢ O tratamento contínuo resultou em perfuração da mucosa e morte de 10% dos animais – papel protetor da COX-2; ➢ Animais que são incapazes de produzir COX-2 (ex. animais modificados geneticamente), tem uma resolução para úlcera gástrica diminuída. Então, até o momento, pode ser que a maioria esteja pensando que o fármaco seletivo para COX-2, o AINE seletivo para COX-2 seria um AINE perfeito porque o que foi mostrado até agora é que a COX-2 é basicamente expressa apenas no tecido inflamatório, ou seja, as funções constitutivas das prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos estariam garantidas pela não inibição da COX-1. Isso foi o que os pesquisadores pensaram com os resultados obtidos até a data anterior às novas descobertas, porém, hoje nós sabemos que a COX-2 também exerce funções fisiológicas, ou seja, inibir a COX-2 também leva a efeitos adversos oriundos da inibição de prostraglandinas em órgãos específicos. • Útero eovário: ➢ Facilita a ovulação, pois é importante na ruptura de folículo e implantação do embrião; ➢ Sua inibição previne a ovulação; ➢ Animais fêmeas que não expressam COX-2 não ovulam e possuem múltiplas deficiências no sistema reprodutor; ➢ COX-2 expressa no parto (momento da vida em que a síntese de prostaglandina está aumentada) → Tratamento de parto prematuro com inibidores seletivos para COX-2, pois se diminui as contrações quando a COX-2 é bloqueada e, consequentemente, a prostaglandina também. • Vasos sanguíneos: ➢ A produção de PGl2 (vasodilatadora e antitrombótica) endotelial em humanos saudáveis parece depender da COX-2. CICLOXIGENASE 3 ??? Provável isoforma da clicloxigenase encontrada no sistema nervoso central (devido a ação do paracetamol/acetaminofeno). • Modula a dor (ação analgésica) e febre (ação antipirética) no SNC. Tanto o paracetamol quanto a dipirona são 2 fármacos que não tem o seu mecanismo de ação completamente desvendado, existem algumas dúvidas acerca de como eles funcionam. AINES não seletivos contra COX-2 Outros AINES possuem efeitos analgésicos, como o diclofenaco, peroxicam, não por atividade do sistema nervoso central, mas atividade analgésica por diminuir a síntese de prostaglandinas e ciclinas no local da inflamação. Lembrando: A prostaglandina é um importante sensibilizador dos nociceptores, então prostaglandina, principalmente, diminui o potencial de ação dos nociceptores em um quadro inflamatório. Logo, quando eu inibo a síntese de prostaglandina a nível periférico, eu inibo a dessensibilização dos nociceptores. Slide: principais classes dos AINES não seletivos: os salicilatos, por exemplo, aspirina; os fármacos da classe do ácido propiônico, principalmente o ibuprofeno, que é o principal representante; dos ácidos acéticos nós temos os fenilacéticos, como é o caso do diclofenaco e temos os indolacéticos, como a indometacina. Temos a 6 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 classe do aminofenol representando o acetaminofeno, o do fenamato, representada pelo mefenamato; a classe das cetonas, representada por nabumetona e, por último, a classe do oxicam, representado por piroxicam. Classificação dos AINES Salicinatos Representando os salicilatos, temos o ácido salicílico, que basicamente não é utilizado mais como AINE e sim, bastante usado como emoliente via tópica. O ácido acetilsalicílico (AAS)- aspirina, esse sim ainda é um AINE. Por último o diflunisal. PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E U SO TERAPÊU TICO É UM AINE COMPLETO! • Analgesia; • Antipirese; • Efeito anti-inflamatório: é menor comparado com outros, mas acontece. • Efeito gastrointestinal: Dispepsia, erosão, anemia - sangramento gastrointestinal, ulceração; • Agregação plaquetária - contribui para aumento de tempo de sangramento; Isso, em doses menores, é utilizado como efeito colateral benéfico, como no caso do AAS, em que 100mg por dia é capaz de prevenir eventos trombóticos, causando uma cardioproteção. Lembrar: essa baixa dosagem não é capaz de provocar efeitos analgésicos, antipiréticos ou anti-inflamatórios, assim como não provoca efeitos gastrointestinais. Por esse motivo, é bem seguro utilizar ASS como antiagregante plaquetário. • Efeito renal: ➢ Homeostasia; ➢ Diminui a excreção de sódio; ➢ Ganho de peso; ➢ Edema periférico; ➢ Aumento da pressão sanguínea; ➢ Diminui a excreção de potássio – hipercalcemia; ➢ Hemodinâmica renal – Insuficiência renal aguda. FARMACOCINÉTICA E METABOL ISMO • Absorção: via oral; PKa x pH→ Ácido acetilsalicílico é rapidamente absorvido por via oral, um pouco no estômago e maior parte nas porções do intestino delgado. ❖ Solubilidade; ❖ Lipossolubilidade: colabora para sua absorção. • Ligação a proteínas plasmáticas: alto tempo de meia-vida. • Biotransformação hepática; • Excreção urinária - dependente e independente do PH. A modulação do PH urinário é uma boa ferramenta para acelerar ou retardar, propositalmente ou não, a eliminação de alguns fármacos. Potenciais interações medicamentosas ❖ Redução da secreção tubular: Probenicida. ❖ Drogas com eliminação renal: Metrotexato e lítio. Tais drogas diminuem a eliminação dos salicilatos. ❖ Deslocamento da ligação com proteínas plasmáticas: Varfarina, fenitoína e outros AINES. Induzem as proteínas plasmáticas a se ¨desligarem¨ dos salicilatos para se ligarem a esses fármacos. É importante lembrar que quando se desloca a ligação de uma proteína com um fármaco, você estimula que o direcionamento do fármaco ocorra tanto para os tecidos para se ligarem ao sítio ativo, quanto para ser metabolizado e eliminado. Quando um fármaco está livre, ou seja, não está ligado à proteína plasmática, ele tende a ser metabolizado e excretado mais rapidamente, pois há redução de sua meia-vida. ❖ Metabolismo hepático: Tolbutamida. Derivado para-aminofenóis: acetaminofeno EFEITOS TERAPÊU TICOS • Antipirético; • Analgesia; • Anti-inflamatória (?) 7 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 O acetaminofeno, também conhecido como paracetamol, possui atividade antipirética, analgésica e baixíssima atividade anti-inflamatória. PROVÁVEIS CARACTERÍSTICAS PARTICULARES E SEU MECANISMO DE AÇÃO ❖ Composto I: Forma ativa essencial, formada na presença de peróxidos ou radicais livres. ❖ Composto II: Forma inativa, reduzida. ❖ Fe (IV)tyre: A transferência de e’do Tyr para o Fe(IV) Inicia a atividade da COX. ❖ Acetaminofeno: Parece participar na redução do composto I e II, inibindo atividade da COX. A COX converte ácido araquidônico em prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos. Basicamente, é assim que ocorre enzimaticamente e molecularmente – transporte de elétrons de uma substância para outra, servindo de substrato para a COX exercer sua função. Acredita-se que o acetaminofeno (paracetamol) participa da redução do composto I para o composto II. A correlação encontra-se no fato de que esse mesmo composto I da peroxidase serve de substrato para a atividade da ciclo-oxigenase. Então, se o acetaminofeno reduz o composto I em composto II, quando há acetaminofeno em maior quantidade, há a redução do composto I e conseguinte redução da atividade da ciclo-oxigenase gerando a formação (?) de prostaglandinas, ciclinas e tromboxanos, teoricamente reduziria a inflamação, mas isso não ocorre. O acetaminofeno tem baixa atividade anti- inflamatória por causa de produtos da inflamação que reduzem sua ação. Em um local inflamado, os produtos da inflamação reduzem a atividade do acetaminofeno. O EC50 é a concentração de uma droga capaz de exercer 50% da capacidade. Já o IC50 é a concentração necessária para inibir 50% da atividade da enzima. Então, quanto maior o IC50 menor a potência. Por exemplo, se em um fármaco A há um IC50 de 5mM significa que é necessário 5mM para inibir 50% da atividade dessa enzima. Já em um fármaco B com IC50 de 0,5mM é necessário 0,5mM para inibir 50% da atividade dessa enzima. Então, o fármaco B é mais potente, já que é necessário menos para inibir o mesmo percentual da enzima. Tabela: representa o IC50 do acetaminofeno frente a COX- 1 e a COX-2 e em diferentes situações. O IC50 frente a COX- 1 sem glutationa peroxidase é 0,76mM e com a presença da glutationa peroxidase reduz para 0,033mM. Isso significa que quando um micro ambiente possui glutationa peroxidase, o acetaminofeno tem uma potência maior. A inflamação se correlaciona com essa explicação a partir do momento que em um ambiente inflamado há altas concentrações de peróxidos e de radicais livres, então a atividade da glutationa que visa neutralizar esses radicais não estará disponível para auxiliar na atividade do acetaminofeno, já que o acetaminofenonecessita da peroxidase para sofrer uma reação e assim ter seu metabólito ativo liberado no tecido. Pode-se dizer também, pela tabela, que ele atua mais na COX-1 do que na COX-2, por comparativo aos dados de IC50. Em resumo, o efeito inibitório do acetaminofeno é potencializado em ambientes com reduzida concentração de peróxidos. Particularmente, e possivelmente, o acetaminofeno possui efeito antipirético e analgésico por conta da ação da COX- 3. Na figura acima, nota-se a IC50 do acetaminofeno frente a COX-1, COX-2 e COX-3; Frente a COX- 1 e COX-2 é acima de 1000μM (baixa 8 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 afinidade). Já quando se trata da COX-3, esse valor é de 460μM, mostrando uma relativa afinidade com a COX-3. Esses fármacos AINES, apesar de serem não seletivos, possuem afinidades diferentes. Aspirina possui maior afinidade com o COX-1, o diclofenaco quase não tem diferença, o ibuprofeno possui uma afinidade duas vezes maior para a COX-1 em comparação com a COX-2. *Apesar da classe ser chamada “AINES”, alguns representantes dessa classe não possuem capacidade anti-inflamatória tão importante. No caso do acetaminofeno, apesar de ele não ter uma ação de redução do quadro inflamatório, ela auxilia na redução de sinais de sintomas que estão envolvidos na inflamação, como dor e febre. RISCOS ❖ Glicurinidação e sulfatação; ❖ Oxidação por CYP450: N-acetyl-p-benzo-quinone; imine (NAPQI); ❖ Hepatoxicidade aguda!; ❖ Necrose hepática aguda; ❖ CYP2D6 é polimórfica; ❖ Interação com etanol, carbamazepina, fenotoína e barbitúricos:aumento da toxicidade; ❖ Lesão TGI; ❖ Broncoconstricção. O principal risco do acetaminofeno é uma intoxicação. A principal via de metabolização do paracetamol é a hepática, sendo que ele pode ser metabolizado por três vias: conjugado com ácido glicurônico ou com sulfato, com a intenção de ser eliminado OU metabolização das enzimas CYP2E1 e CYP2A6. Quando o paracetamol ou sua fração, é metabolizado por essas enzimas, um metabólito tóxico é gerado, chamado N-acetyl-p-benzo-quinona imine (NAPQI). Esse metabólito é tão tóxico que faz com que o paracetamol seja o segundo fármaco mais utilizado em tentativa de suicídio nos EUA (o primeiro é a morfina). Felizmente, quando esse metabólito é gerado, o sistema glutationa redutase fica responsável por neutralizar moléculas tóxicas ao organismo humano (existem outros sistemas, porém esse é o principal); entretanto, a glutationa redutase neutraliza diversas moléculas tóxicas e o grande problema é o uso de paracetamol em altas doses (muito metabólito para pouca glutationa) ou a associação do paracetamol com outras moléculas que também competem com pelo efeito neutralizante da glutationa. Dentre essas moléculas, está o etanol (risco elevado para associação de paracetamol + álcool). A hepatotoxicidade provocada pela NAPQI leva a uma necrose hepática aguda por se ligar a proteínas dos hepatócitos e provocar sua desnaturação; em poucas horas, na ausência de um tratamento correto, o indivíduo vai ao óbito. Na suspeita ou confirmação de hepatotoxicidade por paracetamol, o tratamento acontece por aumento dos estoques de glutationa - administração de N-acetil-cisteína. Esse fármaco fornece o grupamento glutationa ao organismo, aumentando os estoques de glutationa e, consequentemente, aumentando a neutralização do NAPQI. DICLOFENACO • Analgésico; • Antipirético; • Anti-inflamatório. ❖ A absorção acontece por via oral. Existem comprimidos de diclofenaco que são revestidos por uma camada gastroresistente com a intenção de proteger o diclofenaco do ácido estomacal e aumentar a sua biodisponibilidade pós-passagem pelo estômago. ❖ A administração do diclofenaco após a alimentação retarda a absorção do próprio, porém a concentração final é semelhante, por demorar mais no estômago. ❖ Tem a capacidade elevada de se ligar a proteínas plasmáticas (99,7%) ❖ Biotransformação hepática. ❖ Excreção urinária: cerca de 60% da dose administrada será eliminada como molécula intacta + o ácido glicurônico e metabólitos + o ácido glicurônico. COXIBES 9 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 . Os inibidores seletivos da COX-2, também conhecidos como Coxibes, recebem esse nome porque os nomes dados aos seus representes terminam com “coxib” (Celecoxib, rofecoxib, valdecoxib etc.). O Rofecoxib e o Celecoxib foram os primeiros a serem comercializados como inibidores seletivos da COX-2, isso em 1999. Porém, em 2004 o Rofecoxib (Vioox®) foi retirado do mercado em função de aumentar em duas vezes o risco de problemas cardiovasculares em pacientes com câncer de cólon, como ataques cardíacos e AVC, quando comparados com os pacientes que não tomavam essa medicação. ❖ CELECOXIBE (representando mais famoso da classe dos coxibes). FARMACOCINÉTICA E METABOL SIMO • Absorção: via oral; A administração com alimentos (refeição rica em gorduras) retarda a absorção do celecoxibe, resultando em um Tmáx (aumentado de 2 para 4h) de cerca de 4 horas e aumenta a biodisponibilidade (aumenta a absorção) em cerca de 20%. • Biotransformação hepática: o metabolismo de celecoxibe é mediado principalmente pela via citocromo P4502C9. • Excreção hepática: O celecoxibe é eliminado predominantemente por metabolismo hepático, com menos de 1% da dose excretada inalterada na urina. (Normalmente, a excreção dos AINEs não seletivos é renal). Principais efeito adversos dos AINES COX 1 • Úlceras pépticas; • Sangramento TGI; • Problemas renais. COX 2 • Hipertensão; • Infarto do miocárdio; • Problemas renais. Os inibidores de ambos podem causar todos os efeitos. O sistema cardiovascular normalmente é envolvido com a COX 2 e os demais (TGI e renais) envolvidos com a COX 1. EFEITOS ADVERSOS ASSOCIADOS As células epiteliais da mucosa gástrica são responsáveis por produzir muco, além de produzir e liberar bicarbonato para neutralizar o ácido estomacal. Essa produção é diretamente proporcional a quantidade de prostaglandinas que essas células produzem. Se tem pouca prostaglandina na região vai ter pouca produção de muco e pouca produção de bicarbonato. Com isso, o ácido estomacal terá maior possibilidade de entrar em contato com as células da mucosa gástrica, levando a erosões, gastrites, perfurações gastrointestinais. Além disso, a ausência da prostaglandina diminui a oxigenação na região, porque ela é vasodilatadora. Se o AINE inibiu a produção da COX, terá menos prostaglandina e terá esses efeitos, levando a lesões gastrointestinais. Outro mecanismo importante de lesão gastrointestinal é a irritação tópica direta do AINE. RECOMENDAÇÃO PARA FÁRMACOS NO GERAL: se for por via oral, deve ser administrado com pelo menos 200 mL de água, porque se o paciente engole o comprimido apenas com a saliva ou com um volume reduzido de água, esse comprimido pode ficar retido no esôfago, por exemplo, causando uma irritação, um dano direto ao epitélio. 10 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – AINES – Aula 3 Tabela: As prostaglandinas são importantes no fluxo renal, uma vez que quando eliminada ou diminuída por meio do AINE, ocorrem esses efeitos adversos. Situações que proporcionam o aumento de vasoconstrictores (angiotensinas, catecolaminas, vasopressinas): Própria doença renal ou doença cardiovascular → redução do fluxo sanguíneo renal; Cirrose, nefrose, insuficiência cardíaca ou o uso de diuréticos → reduz o volume de sangue. Quando o paciente não é tratado por AINE, as prostaglandinas antagonizam os efeitos intrarrenais desses vasoconstrictores, havendo um balanço hemodinâmico que dificulta essas substâncias de causarem lesão renal. Quando o paciente estáem uso de AINE, nos rins, há inibição da síntese de prostaglandina e, consequentemente, a ação vasoconstritora vai afetar o rim. A vasoconstrição proporciona diminuição da taxa de filtração glomerular, isquemia por um tempo prolongado, necrose, nefrite e, posteriormente, insuficiência renal. Associação dos efeitos cardiovasculares e trombóticos principalmente, aos inibidores seletivos de COX2: • Prostaglandinas e tromboxanos exercem papéis antagônicos fisiológicos. • Tromboxanos: vasoconstrição e agregação plaquetária. • Prostaciclinas (um tipo de prostaglandina): vasodilatação e manutenção normal das plaquetas, sem ativá-las. Quando é utilizado um fármaco inibidor não seletivo, que inibe tanto a COX1 quanto a COX2, esse fármaco inibe tanto a produção de tromboxanos quanto de prostaciclinas. Então, no geral, esse balanço se mantém, reduzindo tanto os pró-trombóticos quanto os antitrombóticos. Quando um fármaco inibidor seletivo é utilizado, da COX2, é impedido apenas a atividade da COX2 no endotélio. Lembrar: não existe COX2 nas plaquetas. Então, a inibição da prostaciclina é a nível endotelial, ou seja, o ácido araquidônico não será convertido em prostaciclinas pelo endotélio, mas continuará a ser convertido em tromboxano pelas plaquetas, resultando no aumento da atividade tromboxanos em relação às prostaciclinas. Se não há prostaciclina no vaso para contrabalancear, haverá maior ativação plaquetária e terá uma vasoconstrição, que é ideal para formação de trombos. Por isso que indivíduos que fazem uso de inibidor seletivo de COX2 há uma chance maior de apresentar eventos cardiovasculares como infarto agudo e AVC. Escolha do fármaco adequado • Eficácia; Custo-eficiência; Segurança; • Outros fatores: medicamentos associados (efeitos sinérgicos entre medicamentos) e adesão ao tratamento (ex. menor frequência por dia e a preferência de alguns pacientes). O fenoprofeno possui praticamente a mesma afinidade para COX1 e COX2. Do ibuprofeno para cima, os fármacos são mais seletivos para COX1 e do peroxicam para baixo, fármacos mais seletivos para COX2, o que não significa que não há inibição para o COX1 e sim que a afinidade é maior para a COX2. • O naxoprofeno é utilizado na pediatria. • A nimesulida é da classe dos ácidos acéticos (indometacina, sulindaco, tolmetina). • O diclofenaco é ácido acético, parente do sulindaco. • Quando os nomes do fármaco terminam de forma parecida, pertencem a mesma classe.
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