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Fisiologia - Fígado e vias biliares

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Beatriz Machado de Almeida 
Fisiologia – Fígado e vias biliares 
Fígado e vias biliares 
• Segundo maior órgão; 
• Cerca de 1,5Kg; 
• Interface entre sistema 
digestivo e o sangue: os 
nutrientes que estão sendo 
absorvidos, diretamente 
alcançam o fígado. 
• Sangue proveniente da 
veia porta e artéria 
hepática: O fígado é 
bastante vascularizado, onde o sangue venoso 
chega via veia porta e o sangue arterial via artéria 
hepática. Tanto o sangue venoso quanto o sangue 
arterial são importantes para que o fígado exerça 
suas funções. Esse sangue sai do fígado e alcança 
a veia hepática e a veia cava, indo de volta ao 
coração. 
 
• 75% do fluxo de sangue que chega ao fígado é 
venoso, que chega através do sistema portal. 
➢ Proveniente de: estômago, pâncreas, intestino 
• 25% é sangue arterial (artéria hepática). 
Componentes do lóbulo hepático 
• Espaço porta 
➢ Ramo da veia porta (azul), da artéria hepática 
(vermelho), ductos biliares (verde) e vasos 
linfáticos (amarelo). O sangue que está chegando 
no fígado, seja o arterial (via artéria hepática) ou 
venoso (via veia porta), flui em direção aos 
sinusóides hepáticos. 
• Sinusóides hepáticos: recobertos por células 
endoteliais. O sangue passa pelos sinusoides em 
direção a veia central, veia hepática e depois veia 
cava. Sentido do fluxo do sangue: Periferia → 
centro. 
À medida que o sangue flui pelos sinusóides hepáticos, 
graças a pressão hidrostática e oncótica, a gente tem 
parte desse plasma e solutos dissolvidos nele sendo 
empurrados, passando pelas células endoteliais e 
alcançando o espaço de Disse (banha os hepatócitos). 
• Espaço de Disse (subendotelial) 
• Células de Kupfer: Depuração do sangue 
 
Os hepatócitos tem diversas funções, estando 
envolvidos na produção de proteínas, detoxificação, 
metabolismo de carboidratos. Essas células vão receber 
esse líquido que está banhando, nutrientes, 
metabólitos, água. Tudo que está sendo originado no 
sangue vai banhar os hepatócitos nessa região 
denominada espaço de disse. A parte líquida que 
excede a capacidade de utilização nos hepatócitos é 
drenada via vaso linfático - ducto linfático. Aos 
hepatócitos é fornecido tudo que é necessário para 
que eles possam realizar suas funções, como por 
exemplo, a produção e secreção da bile, que acontece 
em direção aos canalículos biliares. Cada hepatócito 
joga sua secreção biliar (sais biliares e produtos de 
detoxificação) → canalículos biliares → ducto biliar → 
vesícula biliar → secreção no duodeno. 
 
Sistema arterial e venoso chegam em um mix e 
desaguam nos sinusóides e depois para veia hepática 
central. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Fisiologia – Fígado e vias biliares 
Os canalículos biliares estão entre um hepatócito e 
outro. O espaço entre o sinusóide hepático e a 
membrana plasmática dos hepatócitos é denominado 
espaço de disse. Nesse espaço pode ter as células 
estreladas (proliferação celular, indiferenciação, 
regeneração do fígado). Caso lesionado (até 30% do 
fígado), é possível recuperar e não perder função 
hepática. Se excede esses 30%, acaba tendo 
comprometimento hepático. 
É comum que as doenças que acometam o fígado sejam 
doenças crônicas, justamente pela alta capacidade de 
regeneração do fígado, mas pode acontecer causas 
agudas, como por exemplo, hepatite fulminante. 
As células de kupfer fazem parte do sistema 
monocítico fagocitário. São macrófagos, células de 
defesa, que favorecem a eliminação de micróbios, 
patógenos, corpos estranhos que chegam até lá, sem 
causar prejuízo. Existem situações em que essas 
células, quando muito estimuladas, podem produzir 
muito colágeno – matriz extracelular-cicatrização no 
processo de reparo, podendo levar a uma perda de área 
funcional. Então, imaginando abuso de álcool, 
esquistossomose, a própria hepatite, pode causar lesão 
extensa e, com isso, muita deposição de colágeno – muita 
matriz extracelular – muita cicatrização, levando a uma 
perda de área funcional. 
A presença de ovos na esquistossomose pode levar a uma 
hipertensão portal, causada pelo acúmulo de tecido 
fibrótico. A H.portal faz com que a pressão 
hidrostática na artéria e veia seja muito alta, levando 
aa aumento da quantidade de líquido que extravasa 
desses vasos sanguíneos. No caso do fígado, uma parte 
desse líquido acaba extravasando para a cavidade 
abdominal, levando a ascite. 
Toda vez que você 
aumenta a pressão no 
sistema porta, você 
tem um risco associado 
de formação de 
coleção de líquido em 
cavidade abdominal. 
Quando a pressão hidrostática excede a pressão 
oncótica, você tem maior extravasamento de líquido 
para o espaço. 
Ascite → Sensação de água na barriga. 
 
Funções metabólicas 
Funções metabólicas: 
 Metabolismo dos carboidratos 
• Gliconeogênese (função tampão): Se você tem muita 
gordura e glicemia baixa, é possível, a partir do 
glicerol, produzir glicose e, com isso, regular a 
glicemia. Existem hormônios que regulam essas 
funções metabólicas do fígado, principalmente os 
hormônios pancreáticos - insulina e o glucagon. 
• Armazena a glicose sob forma de glicogênio: 
Quando você tem uma quantidade muito grande de 
glicose no fígado, ela é acumulada em forma de 
glicogênio. Mas se você tem uma demanda muito 
alta e uma oferta baixa de glicose, o fígado é capaz 
de pegar o glicogênio armazenado e transformar 
em glicose novamente, disponibilizando-a para o 
sangue. Isso é possível graças a presença de muitas 
enzimas no hepatócito. 
• Promove glicogenólise 
• Conversão da galactose e da frutose em glicose 
 
 
 Metabolismo de lipídios: possui muito retículo 
endoplasmático liso e muito retículo endoplasmático 
rugoso. O REL demonstra a quantidade de enzimas 
grandes relacionadas a oxidação dos AGL, a fim de 
suprir energia para outras funções corporais 
 Síntese de gordura, a partir das proteínas e 
carboidratos.Ex. jejum – situação em que não se tem 
oferta de glicose. Outra situação: se eu tenho muita 
glicose, carboidrato e proteína, o fígado consegue 
sintetizar gordura a partir desses nutrientes, 
sendo possível o armazenamento de gordura no 
fígado. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Fisiologia – Fígado e vias biliares 
 Sintetiza grandes quantidades de colesterol, 
lipoproteínas e fosfolipídios. 
 Armazenamento de vitaminas. 
 
Imagem – estado de jejum: O fígado consegue pegar o 
glicerol e converter em glicose no processo de 
gliconeogênese. Há uma participação na cetogênese, 
onde ele pega os ác.graxos que estavam armazenados 
no fígado como gordura e converte em acetil-coenzima 
A e formação de corpos cetônicos, que ajudam a 
fornecer energia pra o tecido nervoso -cérebro. 
• Cerca de 98-99% da energia do tecido nervoso é 
originada da oxidação da glicose e cerca de 1-2% 
conseguem ser obtida a partir de corpos cetônicos. 
Na condição de jejum, onde não tem a oferta de glicose, 
a formação de corpos cetônicos pelo fígado costuma ser 
importante. Acontece em situações de jejum muito 
intenso e situações de diabetes descompensado (quando 
se tem glicose e não tem disponibilização para os 
tecidos). 
• Produção de proteínas 
plasmáticas: albumina, 
angiotensinogênio, proteínas 
do complemento, fibrinogênio, 
lipoproteínas. 
• Desaminação dos aa: 
aminotransferases ou 
transaminases (AST/ALT); 
• Formação de ureia para 
remoção de amônia dos líquidos corporais. 
A principal proteína produzida pelos hepatócitos é a 
albumina (Quantitativamente mais produzida e mais 
presente no sangue), responsável pela regulação da 
pressão oncótica. Quanto maior o comprometimento 
hepático, menor a função do fígado e, 
consequentemente, menor a síntese de proteínas. 
Quando você diminui a albumina, você diminui a pressão 
oncótica, que é uma das causas de edema. 
Ex. Paciente com hipertensão, disfunção hepática ou 
outras causas relacionadas, tem diminuição da albuminacom o tempo, o que leva ao edema (região em que não tem 
cavidade, e sim tecido intersticial), a ascite 
(extravasamento de líquido que acaba alcançando a 
cavidade)... 
Tanto a ascite quanto o edema podem ser causados por 
aumento da pressão hidrostática e/ou pela diminuição 
da pressão oncótica. As coisas podem acontecer juntas 
ou separadas. 
Quando você aumenta muito a pressão hidrostática, 
você aumenta a passagem (extravasamento de líquido) 
para fora do vaso. No caso da ascite (ex. hipertensão 
portal – aumento da pressão nos vasos periportais), há 
um extravasamento de líquido para a cavidade 
abdominal. 
Se tiver disfunção hepática, além de ter uma 
hipertensão portal, vai ter menos albumina nesse 
sangue, o que facilita ainda mais o extravasamento de 
líquido. A diferença da ascite pro edema é que no edema 
o extravasamento de líquido não é para a cavidade, e 
sim para a cavidade intersticial. 
 
Fisiopatologia: Aumento da pressão hidrostática e 
diminuição da pressão oncótica. 
Normalmente os pacientes hepatopatas crônicos 
cursam com edema, podendo até apresentar anasarca 
(edema generalizado). Hipertensão arterial (aumenta 
muito a pressão hidrostática), insuficiência na 
drenagem linfática (parasitas, elefantíase), problema 
renal (lesão – perda de albumina na urina – diminuição da 
pressão oncática) podem levar ao quadro de edema. 
Causas do edema: aumento da pressão hidrostática, 
diminuição da pressão oncótica-osmótica, diminuição 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
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da drenagem linfática. Podem acontecer em associação 
ou separadas. 
Paciente do caso 3: Tem aparentemente lesão hepática 
e possivelmente diminuição na produção de proteínas. 
Detoxificação 
▪ Vários compostos são inativados por oxidação, 
metilação ou conjugação. 
▪ Conjugação com glucoronato, sulfato ou glutationa, 
a fim de tornar compostos hidrossolúveis. 
➢ Conjugação da bilirrubina tóxica e hidrofóbica 
originada da hemoglobina. 
 
A bilirrubina não tem uma toxicidade muito alta no 
adulto, mas não consegue ser eliminada de outra forma 
do nosso corpo, a não ser através do fígado. A 
bilirrubina é um produto endógeno, produzido pela 
hemólise das hemácias. Caso não seja detoxificada, a 
gente não consegue eliminá-la, e se ela permanece na 
circulação, acaba causando a icterícia. 
A principal função da detoxificação de moléculas (ex. 
álcool, drogas) é tornar o produto pronto para ser 
excretado. 
No hepatócito, a gente tem uma quantidade muito alta 
de enzimas importantes para o processo de 
metabolização, sendo possível vários tipos de reações. 
Vesícula biliar 
 
Os canalículos biliares desembocam nos ductos 
hepáticos, depois ducto cístico e na própria vesícula 
biliar, que armazena temporariamente essa bile. 
Quando mais tempo a bile ficar armazenada, mais 
concentrada ela fica, pois termina absorvendo muita 
água. Uma vez que haja estímulo, essa bile é secretada 
na 1º porção do intestino delgado - duodeno, passando 
pelo esfíncter de Oddi, onde há a passagem não só da 
bile como do suco pancreático também. 
Ácidos biliares primários 
são sintetizados nos 
hepatócitos a partir do 
colesterol. 
Várias reações 
enzimáticas acontecem 
para que seja possível o 
encaminhamento desses 
ácidos para a vesícula 
biliar. 
 
Síntese dos ácidos biliares 
 
Todos os sais biliares são produzidos nos hepatócitos 
e secretados nos canalículos. A organização histológica 
é importante para o encaminhamento dos sais biliares 
em direção ao ducto biliar e para que eles não 
desemboquem na veia hepática. 
Nos canalículos biliares vai ter secreção de ácidos 
biliares, fosfatidilcolina, bilirrubina conjugada (será 
excretada nas fezes) e xenobióticos. 
A bile vai ser importantíssima para o processo de 
emulsificação da gordura. Ex. o triglicerídeo não 
consegue atravessar a membrana plasmática dos 
enterócitos lá no intestino delgado, então é preciso 
emulsificar a gordura para que a lipase e a colipase possa 
atuar sobre esses triglicerídeos e levar a quebra deles 
como monoglicerídeos e ácidos graxos, possibilitando a 
difusão a partir dos enterócitos. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Fisiologia – Fígado e vias biliares 
Circulação entero hepática 
• Permanecem no lúmen do 
intestino até que sejam 
absorvidos ativamente no 
íleo terminal; 
• ASBT – transportador 
apical de sais biliares 
dependente de sódio. Vai 
reabsorver esses sais 
biliares, permitindo que a 
gente reaproveite. 
 
Estímulos que levam a secreção biliar: Estímulo de 
distensão de estômago e intestino. Com o reflexo vagal, 
há a liberação de acetilcolina, óxido nítrico e VIP. 
Acetilcolina promove contração da vesícula biliar. 
Óxido nítrico e VIP fazem relaxamento da musculatura 
lisa do esfíncter de Oddi. Além desse reflexo vagal a 
gente também tem o conteúdo estomacal estimulando 
essas células enteroendócrinas a produzirem secretina 
e em especial CCK (colescitocinina). Quanto maior o 
conteúdo gorduroso/lipídico desse alimento que está 
chegando até o intestino delgado, maior vai ser a 
secreção de CCK. 
CCK: 
• Função de contração da vesícula biliar; 
• Estímulo via vago da liberação de acetilcolina, de 
maneira que quanto mais gordura chega ao 
intestino, maior a secreção de bile, o que vai 
favorecer a absorção e a digestão de gordura. 
• Retardamento do esvaziamento gástrico para 
permitir que essa digestão de gordura possa 
acontecer (mais lenta que os outros nutrientes). 
 
Degradação das hemácias 
A bilirrubina é um pigmento endógeno produzido pelas 
nossas próprias células. As hemácias contêm grupo heme 
na sua composição, e uma vez que haja hemólise das 
hemácias (tempo de vida 90-120 dias) há uma perda de 
biliverdina (pigmento que é convertido em bilirrubina). A 
bilirrubina vai estar no sangue, chega até o fígado 
(hepatócito) pela artéria renal provavelmente. No 
hepatócito, a bilirrubina é conjugada pela enzima UDP-
glicorunil-transferase e consegue ser excretada na 
bile. 
Se você não tiver conjugação através dessa enzima, 
não é possível fazer a excreção. Não excretando, a 
bilirrubina aumenta no sangue, pois não é eliminada. 
• Captação: A bilirrubina é removida da albumina. 
• Conjugação: REL, catalisada pela UDP-glicuronil-
transferase. Insuficiência desta enzima no RN – 
icterícia fisiológica. Passa em 2-3 dias. 
• Secreção: Transporte ativo, encaminhado para os 
canalículos biliares. 
 
Paciente do caso 3: pode ter uma bilirrubina conjugada 
ou não conjugada aumentada. A não conjugada é aquela 
originada pela lise de hemácias. Se você tem algum 
problema no fígado ou na vesícula biliar que não está 
permitindo a excreção da bilirrubina pelas fezes, há 
um aumento da bilirrubina conjugada no sangue. 
Se tivesse uma lesão tamanha que acabasse 
intensamente com os hepatócitos, seria uma bilirrubina 
não conjugada. Mas por mecanismos de recuperação do 
fígado, o paciente provavelmente tem icterícia 
ocasionada por bilirrubina conjugada (problema na 
excreção). 
Fisiologicamente, os poucos hepatócitos que a gente 
tem, em situações de hemólise normal, são capazes de 
conjugar toda a bilirrubina que chega lá, mesmo que haja 
lesão.

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