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1 MATERIAL DIDÁTICO PRÁTICA PEDAGÓGICA II – EDUCAÇÃO FISICA CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 3.445 DO DIA 19/11/2003 Impressão e Editoração 31 3667-2062 www.faved.com.br 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................... 3 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ................................................... 5 2 – AS DIRETRIZES PARA O PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO FÍSICA ..................................................................... 8 2.1 - Concepção integral do Corpo na docência em Educação Física11 2.2- Linguagem através das práticas corporais ................................. 12 3 – EDUCAÇÃO FÍSICA: SIGNIFICADOS E ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS .......................................................................... 16 4 – ORIENTAÇÕES E CONCEPÇÕES DIDÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA ......................................................................... 19 4.1- O papel do professor .................................................................. 21 4.2- Educação Física: Controle, gestão e manejo das práticas de ensino .......................................................................................................... 24 4.3 - O planejamento de ensino nas aulas de Educação Física ......... 25 5 – A AVALIAÇÃO E A EDUCAÇÃO FÍSICA ................................... 27 5.1- O que avaliar em Educação Física? ........................................... 29 5.2- Objetivos da avaliação em Educação Física .............................. 30 5.3- Agentes da avaliação em Educação Física ................................ 30 5.4- O tempo da avaliação em Educação Física ................................ 30 5.5- Educação Física: Como avaliar? ................................................ 31 6 – CONTEÚDOS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ........ 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 38 REFERÊNCIAS ................................................................................. 40 3 INTRODUÇÃO Enquanto parte integrante da Educação Básica, a Educação Física está comprometida com a construção de uma escola como tempo e espaço de vivência sociocultural, aquisição de conhecimentos e desenvolvimento do indivíduo, a partir da diversidade das potencialidades humanas, enfatizando a identidade, os sentimentos e as múltiplas linguagens. O ambiente escolar estabelecido nesse contexto vai além das propostas intelectuais e, através da Educação Física, busca estratégias para considerar a corporeidade como elemento da formação humana. Nesse sentido, torna-se possível depreender que o corpo, enquanto recurso pedagógico principal desse componente curricular, poderá e deverá permitir acesso aos bens culturais, ao conhecimento, buscando a autonomia em relação ao corpo e ao exercício da cidadania. A proposta da matriz de competências e habilidades para a Educação Física Escolar, assim estruturada na Educação Básica, está embasada na visão de uma Educação ampla capaz de formar cidadãos verdadeiramente reflexivos, críticos e participativos. Considerando uma educação plena, a docência da Educação Física escolar compreende muito mais do que as aulas da disciplina Educação Física. Este componente curricular obrigatório propõe em seu programa de ensino todas as ações educativas que atentam para a importância da corporeidade no desenvolvimento humano e a presença do corpo e do movimento nas mais variadas ações pedagógicas do cotidiano escolar, dentro e fora da sala de aula. Nessa perspectiva, o professor de Educação Física precisa assumir o lugar de protagonista das ações que objetivam incorporar e integrar o corpo e o movimento na proposta pedagógica da escola, o que exige diversas qualidades e competências profissionais como: capacidade de planejamento, de avaliação, de trabalhar em equipes multidisciplinares e também competências de mediação comunitária, dentre outras. Considerando os currículos das escolas regulares, é importante destacar que a Educação Física escolar integra-se à área de Linguagens e trata pedagogicamente os conteúdos da Cultura Corporal exteriorizados pela expressão corporal dos diferentes grupos sociais. Assim, a linguagem corporal é compreendida 4 como a capacidade humana de compartilhar sentidos e conceitos manifestados através do corpo e dos sentidos a ele atribuídos. Como resultado e produção cultural, a linguagem corporal caracteriza determinados grupos sociais e suas concepções, representando a herança social que favorece aos sujeitos identificarem a si mesmos e aos demais ambientes. Os conteúdos previstos nas práticas da Educação Física escolar levam os alunos a fazerem, sentirem e pensarem os significados culturais da linguagem corporal. Além disso, permitem perceber os valores, conhecimentos e técnicas que compõem tais práticas corporais. Contribuem ainda para que os alunos tomem consciência sobre seus corpos, a fim de viver a própria corporeidade com autonomia. Nesse sentido, na estruturação de um programa consistente para a Educação Física escolar deve-se perseguir uma matriz de competências e habilidades que possibilite uma reflexão profunda sobre o papel acerca de um currículo que vá ao encontro das necessidades educativas no âmbito da Cultura Corporal para o cidadão atual. Assim devem ser formuladas questões que desenvolvam as competências gerais a serem trabalhadas na área de Educação Física, seguidas da definição das habilidades a serem trabalhadas nos diferentes níveis da Educação Básica, enfatizando o conhecimento de corpo e a cultura corporal. Assim como base legal para essa proposta, é importante destacar os documentos normativos que legitimam a prática atual da Educação Física, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996 e os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (PCNs, 1997 e 1998) e o Conselho Federal de Educação, os quais propõem a organização da Escola em ciclos (RESOLUÇÃO Nº 3 CNE/CEB, 2006). Tais documentos oficiais ressaltam que a decisão sobre os ciclos de aprendizagem fundamenta-se na visão de desenvolvimento humano como processo que não se realiza de maneira linear e 5 1 – EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Ao ser considerada área do conhecimento, a Educação Física deve tratar das práticas corporais elaboradas no decorrer dos tempos. Não obstante, não se deve relacionar qualquer prática ou movimento, mas daqueles que se apresentam sob a forma de esporte, ginástica, jogos, brincadeiras, dança, movimentos expressivos, dentre outros. Tais conteúdos, acrescidos de conceitos, sentidos e significados são legitimados em documentos oficiais/legais e devem ser implementados e problematizados em todos os níveis da Educação Básica. Frente a esse contexto, a Educação Física amplia a sua importância nos currículos escolares, já que contribui para um desenvolvimento pessoal e social harmonioso, considerando a aquisição de hábitos e atitudes saudáveis. Além disso, também se compromete com a prática e formação de valores como: a solidariedade, a cooperação, a tolerância, a inclusão e o respeito pelo outro. Estes aspectos são essenciais à formação dos alunos e devem ser repassados por meio de uma Educação Física bem orientada, alicerçada no conhecimento científico, na qualidade técnica, na ética, no compromisso social dos docentes e no envolvimento com a comunidade escolar. No que se refere aos Parâmetros Curriculares Nacionais, o qual constitui um documento norteador com as orientações curriculares da Educação Física no Brasil, a mesma é considerada uma área de conhecimento que permite ao aluno relacionar a sua cultura à cultura do movimento humano. Tal proposta tem o fito de educar para a formação de cidadãoscapazes de instrumentalizar e expressar a sua cultura através dos jogos, esportes, danças, lutas, ginástica, convergindo em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Nesse documento oficial do Ministério da Educação, a Educação Física na escola deve ser constituída de três blocos relacionados entre si e que com possibilidades de serem, ou não, implementados em uma mesma aula. São, pois: - jogos, ginásticas, esportes e lutas – propõem atividades como ginástica artística, ginástica rítmica, voleibol, handebol, basquetebol, futsal, atletismo, capoeira, judô, dentre outros; - atividades rítmicas e expressivas – compreendem atividades que se relacionam à expressão corporal, danças, entre outras; 6 - conhecimentos sobre o corpo – relacionam as reflexões sobre o corpo, indo desde a sua estrutura anatômica até às diferentes formas culturais de lidar com esse instrumento. Outro documento que normatiza a Educação Física nas escolas brasileiras e que ao ser regulamentado na década de 1990 muito contribuiu com os avanços pedagógicos de área do conhecimento foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, nº 9394/1996), a qual asseverou, em seu artigo 26: “A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica, ajustando-se às faixas etárias e às necessidades da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos” (BRASIL, 1996). Tal documento normativo teve esse artigo alterado, por meio da Lei nº 10.328, de 12 de dezembro de 2001, e, em seguida, em 1º de dezembro de 2003, pela Lei, passando a ter a seguinte redação: Art. 3º. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; - maior de trinta de anos de idade; - que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; - amparado pelo Decreto-Lei nº 1.044, de 21 de outubro de 1969; - que tenha prole. Além desses, outro documento oficial que legitimou a Educação Física com o mesmo valor ao dos outros componentes curriculares, foram as Diretrizes Curriculares Nacionais, outorgadas pelo Conselho Nacional de Educação. Tal documento ampliou o significado da Educação Física, atribuindo à mesma maior intencionalidade educativa. Assim, garantiu-se à Educação Física horário na grade curricular e igual valor aos demais componentes curriculares. Posto isso, resta claro a grande e fundamental importância da Educação Física escolar para a educação no século XXI, frente à proposta da UNESCO, redimensionando suas finalidades a partir dos quatro pilares previstos, os quais foram delimitados em: aprender a conhecer e a perceber; aprender a conviver; aprender a viver; aprender a ser. No que tange a aprender a conhecer e a perceber, a Educação Física de forma permanente e contínua, deve possibilitar ao aluno, o conhecimento e 7 percepção do seu corpo, suas limitações, com previsões de superá-las, e suas potencialidades, para que sejam desenvolvidas de maneira autônoma e responsável. Considerando o aspecto afetivo-social, a Educação Física deve também favorecer a convivência consigo, com o outro e com o ambiente que o cerca e do qual faz parte. Assim, através das vivências corporais e interativas, alicerçadas em valores éticos, as aulas de Educação Física podem e devem contribuir para que o aluno desenvolva sua identidade a partir de práticas corporais e do conhecimento do próprio corpo. Além disso, também permitir a articulação de interesses próprios com os demais, com os quais convive, conhecendo mais sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. É possível também através dessa prática, ampliar no aluno a capacidade de ouvir e dialogar, de trabalhar em equipe, de conviver com o incerto e o diferente. Nessa perspectiva, educa-se para se tornar cidadão consciente, crítico, autônomo, criativo, responsável a ponto de transformar positivamente o meio ambiente e, também preservá-lo. Consiste ainda a prática da Educação Física escolar, a aquisição plena da corporeidade, de forma lúdica, objetivando a qualidade de vida, a promoção e a manutenção da saúde. 8 2 – AS DIRETRIZES PARA O PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM DA EDUCAÇÃO FÍSICA O percurso histórico pelo qual transcorreu a Educação Física, aponta, segundo Carreiro da Costa (2012), que as práticas objetivavam a preparação do corpo humano com vistas aos desenvolvimentos físico e sociocultural, já que sempre foi implementada com vistas à integração social. No que diz respeito à Educação Física escolar, observam nesse transcurso pontos que se relacionam com apropriação do corpo como instrumento de suas práticas e as inúmeras representações como componente curricular. Nesse sentido, atualmente, a docência em Educação deve priorizar a progressiva aplicação dos conteúdos, permitindo aos alunos compreenderem a elevação do nível de dificuldades dos mesmos, sem comprometer os índices satisfatórios de aprendizagem. Frente a esse contexto motor, interativo, criativo e estimulador do pensamento crítico, as atividades propostas nos programas de ensino da Educação Física, devem fundamentar em alguns aspectos, conforme destacados a seguir, por Catunda et al. (2012, p.19): estímulo ao raciocínio, quando os alunos participam de experiências dinâmicas que envolvem a tomada de decisão, estratégia, organização de ideias e atitudes com objetivos definidos; vivência de conflitos, pelo fato de divergências de ideias e comportamentos serem constantes e de forma salutar vividas com a intermediação do professor que utiliza esses momentos para educar para a convivência; experiências práticas do cotidiano, ao possibilitar que aluno e professor façam as devidas conexões com o que se ensina e aprende na escola e a aplicação para a vida, criando atmosfera real à aprendizagem significativa; concentração e participação, fato constatado quando o interesse pela atividade se evidencia na motivação da turma, causando pouca dispersão e sentimento de autoeficácia no aluno com reflexos no bom andamento e participação efetiva nas aulas; prazer no aprendizado, vivenciado em ambiente lúdico que alimenta as aulas de Educação Física proporcionando o aprendizado de forma prazerosa, contemplando orientações pedagógicas eficientes para o ensino, não podendo ser confundida com passatempo ou brincadeira. incorporação de hábitos saudáveis, quando promove mudanças de atitude em sintonia com os efeitos fisiológicos do exercício e sua relação com suas próprias condições físicas, despertando a consciência de que um estilo de vida ativo e saudável é fundamental 9 para níveis aceitáveis de saúde e bem-estar.(CATUNDA et al., 2012, p. 19). Nesse contexto, e a partir das reflexões anteriores sobre a Educação Física escolar, seus documentos norteadores, regulamentadores e legais, a prática docente deve fundamentar-se em princípios pedagógicos e de equivalência. Assim, espera-se através da mesma permitir aos alunos a aquisição das competências e habilidades necessárias à vivência de atividades físicas e esportivas no cotidiano das escolas, em outros ambientes, a ponto de favorecer a adoção de hábitos mais saudáveis e, consequentemente, mudanças em seus comportamentos. Entretanto, os currículos de Educação Física e seus conteúdos vêm apresentando propostas curriculares com suas finalidades redefinidas e com objetivos educacionais mais amplos e de longo prazo. Nesse contexto, observam-se atualmente, ainda práticas que enfatizam os conteúdos esportivos renegando em segundo plano, outras experiências corporais, como dança e jogos. O que resta claro na verdade, na maioria das escolas brasileiras,e até no mundo, é a presença de um discurso político a favor de um currículo mais amplo, porém confrontado com uma prática pedagógica em que prevalecem atividades físicas esportivas focadas em performances e em resultados. É sabido que as propostas pedagógicas que fundamentam grande parte dos currículos das escolas brasileiras conquistaram avanços significativos em relação à configuração da Educação Física enquanto componente curricular com papel ativo no processo educativo. Todavia, existem muitos pontos ainda em discussão e debates, já que em números consideráveis de espaços, nem se pratica uma Educação Física tradicional, esportivizada, como nas décadas de 1970 e 1980, e muito menos é possível perceber uma perspectiva crítica da Educação Física consolidada com base na cultura de movimentos. Diante disso, é preciso salientar que há concepções contrárias aos princípios pedagógicos previstos nos PCN’s, fundamentados na cultura corporal, os quais alegam em contraponto que as críticas à esportivização da Educação Física escolar reduziram consideravelmente o aspecto prático desse componente curricular. Na mesma medida, apontam ainda, que as possibilidades de democratização do acesso ao esporte dos alunos das escolas públicas foram igualmente reduzidas, não apresentando, sobretudo, uma alternativa consolidada para substituí-la. Tal fato, de 10 acordo alguns estudiosos, vem descaracterizando o aspecto prático da Educação Física, comprometendo a sua identidade, ou seja, o que ensinar e como ensinar. A retórica atual acerca dos objetivos da Educação Física escolar a considera como disciplina importante na formação integral do aluno, extrapolando a ideia de esportivação e de formação de atletas. Todavia, faz-se imprescindível estruturar uma concepção consistente e convincente, nos discursos e nas práticas, sobre o verdadeiro papel da Educação Física. A comunidade escolar precisa adquirir maior significado sobre as contribuições próprias desse componente curricular para o exercício da cidadania. E em função disso, continua como desafio para as propostas político-pedagógico das escolas adquirir maior clareza sobre as especificidades das aprendizagens de corporeidade possibilitadas pela Educação Física. Considerando tais concepções, é imprescindível destacar a educação em seu sentido amplo, deve-se oferecer uma Educação Física escolar também comprometida como desenvolvimento humano em todas as suas dimensões, conforme já mencionadas anteriormente. Assim, propõe-se uma Educação Física escolar que extrapola em seus planejamentos a dimensão biológica e que seja capaz de valorizar o protagonismo dos sujeitos envolvidos através de ações educativas que promovam a autonomia, o conhecimento e uma formação plena de direitos e de deveres. Assim, a partir dessa perspectiva, faz-se mister para a prática pedagógica eficiente da Educação Física escolar, compreender o sentido das experiências corporais nas aulas, pois, são através dessas que os sujeitos se relacionam com o mundo, expressam sentimentos, emoções, entre outros. Para tal, é necessário então abandonar as concepções dicotômicas entre corpo e mente, ainda presentes nas escolas. Tal contexto se mantém, porque o movimento, principal conteúdo das aulas de Educação Física, ainda é entendido rotineiramente do ponto de vista mecânico e da relação eficiente e dependente do consumo energético. Assim, ao se conceber as práticas nas aulas de Educação Física com vistas à educação corporal, deve-se paralelamente objetivar com intencionalidade pedagógica, a expressão de emoções e atitudes pautadas pela ética e pelo desenvolvimento de recursos assertivos para resolução de problemas, através de experiências corporais significativas. Nesse sentido, além de propor vivências pedagógicas de movimentos aos alunos, cabe à Educação Física escolar garantir experiências corporais que 11 estimulem o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais ao processo educativo, como: criatividade, autonomia, comunicação, solidariedade, raciocínio lógico, criticidade, dentre outros. Resta claro, dessa maneira, que para a Educação Física escolar interessar a prática corporal, a qual vai além de movimento, e o utiliza acrescido de sentido individual, coletivo, implicações culturais, sociais. O movimento, então assim reconhecido, ultrapassa a dimensão biológica e biomecânica, trazendo consigo inúmeros significados e sentidos. Assim, verdadeiramente, a Educação Física como componente curricular se torna capaz de cumprir seu papel efetivo para a Educação Integral, a partir do reconhecimento da importância das vivências corporais para o desenvolvimento das capacidades expressivas e comunicativas dos alunos. Tal situação permite aos mesmos, através das aulas de Educação Física, enriquecer o repertório de linguagens corporais imprescindíveis nas diversas situações de leitura e de compreensão de si e dos outros. 2.1 - Concepção integral do Corpo na docência em Educação Física Compreender o corpo de forma integral significa conceber o indivíduo a partir da indissociabilidade de seus aspectos biológico, afetivo, cognitivo, histórico, cultural, estético, lúdico, linguístico, dentre outros. Compreende também perceber que o ser humano representa um todo indivisível que pensa, sente e age, simultaneamente. Além de conceber o corpo na sua totalidade, torna-se necessário entender que a maneira como os indivíduos relacionam com o corpo varia conforme a sua construção social e é resultante de significativos processos históricos. Ou seja, as concepções que os sujeitos desenvolvem a respeito de seu corpo e dos modelos de se comportar corporalmente, dependem de influências sociais e culturais. Nesse sentido, o nosso corpo revela nossas peculiaridades e identifica nossa cultura. E ainda, o corpo é uma composição social, cultural e até mesmo política, construído durante o percurso da vida. Portanto, ao considerar as questões relativas à corporeidade, a Educação Física necessita responsabilizar por esse aspecto no contexto educacional. É tarefa da Educação Física, estudar e problematizar conhecimentos sobre o corpo e as 12 mais diversas manifestações a ele relacionadas e produzidas culturalmente, tendo em vista a busca da qualidade de vida e a sua vivência plena. 2.2- Linguagem através das práticas corporais Como já discutido anteriormente, o conhecimento acerca do corpo e experimentado no corpo nos permite compreender nossa existência no mundo. É através do corpo que elaboramos significados, relacionamos, posicionamos, interagimos e nos afirmamos com nossas características individuais e de grupos. As linguagens são observadas no cotidiano dos sujeitos sob as mais variadas expressões. E na escola moderna é esperado dos alunos experiências e domínio dos diversos tipos de linguagens: orais, gestuais, virtuais, escritas, dentre outras. Os docentes, em suas aulas de Educação Física, necessitam construir estratégias de ensino que contribuem para o desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita, interpretação, raciocínio lógico, através da instrumentalização do corpo, ou seja, jogando, dançando, lançando, correndo, brincando, entre outros. Torna-se necessário salientar que no contexto educacional, as linguagens escrita e oral vêm sendo o foco principal das intervenções pedagógicas, em detrimento a outros tipos de linguagens que também são importantes na formação integral do ser humano. Em função disso, a escola, através das aulas de Educação Física, deve valorizar além da escrita e da oralidade, a linguagem corporal no esporte, nas brincadeiras e jogos motores, no ritmo, na dramatização, e nas mais diversas manifestações corporais. Assim, o brincar, o jogar, entre outros, construídos historicamente como linguagem própria do ser humano, devem pedagogicamente ser prioridadenas aulas de Educação Física através de: brincar de diferentes formas e em diferentes tempos e espaços; construir e reconstruir regras e brinquedos; utilizar diferentes objetos durante os jogos e brincadeiras; vivenciar diferentes modalidades esportivas, dentre outros. Todas as atividades supracitadas devem ser realizadas de maneira adaptável ou não, ressignificando e criando múltiplas formas de discutir, criar ou alterar as regras dos esportes, dos jogos, das brincadeiras, das danças, da ginástica, entre outras. 13 Todas essas práticas corporais permitem que várias ações colaborativas ocorram durante as aulas de Educação Física. Através dessas vivências é que alunos têm a oportunidade de aprenderem a atuar em conjunto respeitando potenciais e limites corporais dos colegas e a estabelecer contatos e relações corporais saudáveis e éticas. As práticas corporais também possibilitam a expressão de ideias e reflexões. Assim, tornam-se a forma materializada dos alunos externarem as capacidades de raciocínio e pensamento crítico. Nesse sentido, no momento em que tais práticas apresentam-se como problemas corporais a serem solucionados, instala-se um enorme campo para que os alunos coloquem em prática suas competências para a tomada de decisão necessária para resolver ou concluir uma boa jogada no esporte, em um jogo ou em outra situação inerente à aula. As relações sociais estabelecidas através das práticas corporais nas aulas de Educação Física permitem a democratização do pensamento, dos pontos de vistas e das opiniões. Frente a isso, os alunos compreendem a necessidade de exercitar o respeito diante dos combinados, usando o diálogo para ofertarem novas propostas e alterações, caso necessário. As atividades pedagógicas da Educação Física, principalmente as coletivas, oportunizam espaços extremamente ricos para essas experiências. Porém, torna-se necessário que o professor incentive a participação e o envolvimento dos alunos nos momentos de negociação de regras, bem como alterações das mesmas, sugestões de atividades, sempre valorizando o protagonismo de todos os envolvidos. A partir do momento que o docente estimula a expressão de ideias e reflexões nos alunos, as práticas corporais transformam-se na forma materializada para que os mesmos demonstrem a capacidades de raciocínio e pensamento crítico e, em seguida, tais vivências apresentam-se como problemas corporais a serem solucionados. Podem ser citados como exemplos, momentos decisivos na tomada de decisão fundamental para concluir uma boa jogada no esporte ou mesmo em um simples jogo recreativo; e/ou ainda, quando os alunos analisam um caso de violência ou má fé no jogo e contestam tal comportamento. 14 O que se observa no cotidiano das aulas de Educação Física pedagogicamente orientadas, é uma constante necessidade de resolver problemas advindos do movimento, realizar adaptações de regras, materiais e espaços, a fim de atender as diferentes práticas da cultura corporal, e nesse sentido, permite-se também o desenvolvimento da capacidade criativa dos alunos. Tais situações são materializadas através da enorme variação das maneiras em que crianças e adolescentes idealizam para elaborar atividades com materiais diversos, principalmente com a bola. Dessa forma, torna-se evidente a importância do professor de Educação Física no sentido de estimular, discutir e ampliar as soluções criativas para viabilizar as mais diferenciadas atividades da Cultura Corporal na Escola e na comunidade na qual os alunos estão inseridos. O convívio no grupo possibilita a descentralização do pensamento e das relações, permitindo que os educandos percebam a necessidade de respeitar os combinados e dialogar para transformá-los, quando necessário. Os jogos e esportes vivenciados nas aulas de Educação Física criam cenários extremamente ricos para esta vivência, desde que o professor estimule a participação e expressão de todos os alunos no debate sobre as regras e combinados de aula e das práticas corporais estudadas na disciplina. Ao estimular que os alunos expressem ideias e reflexões, as práticas corporais transformam-se na forma materializada dos alunos demonstrarem sua capacidade de raciocínio e pensamento crítico quando tais práticas apresentam-se como problemas corporais a serem solucionados, a exemplo da tomada de decisão necessária para concluir uma boa jogada no esporte ou quando os alunos analisam um caso de violência ou trapaça no jogo e repudiam tal comportamento. A constante necessidade de solucionar problemas corporais, adaptar regras, materiais e espaços para vivenciar diferentes práticas da Cultura Corporal também permite que os alunos desenvolvam capacidades criativas. Bons exemplos são as inúmeras formas que crianças e adolescentes inventam para jogar futebol com qualquer tipo de material como bola, traves e linhas de demarcação. Jogam bola até em ladeiras e terrenos acidentados. Ao professor de Educação Física cabe estimular, discutir e ampliar as soluções criativas para viabilizar as mais 15 diferenciadas atividades da Cultura Corporal na Escola e na comunidade na qual os alunos estão inseridos. 16 3 – EDUCAÇÃO FÍSICA: SIGNIFICADOS E ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS As orientações pedagógicas para as aulas de Educação Física estão fundamentadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, as quais pressupõem: - princípios éticos: autonomia, responsabilidade, solidariedade e respeito; - princípios políticos: direito à cidadania, exercício da criatividade e respeito aos valores da sociedade democrática; - princípios estéticos: sensibilidade, criatividade, ludicidade e liberdade de expressão. À luz desse documento normativo, a compreensão de corpo ganhou uma nova concepção. Parte-se do princípio de que a dimensão fisiológica e instrumental do corpo deve ser superada e a representação da relação de cada sujeito com o mundo de ser através da corporeidade. Nessa mesma linha de raciocínio, a corporeidade propõe uma nova abordagem das relações sociais entre os indivíduos e o mundo, na qual o corpo não é um simples instrumento de interação, significando a totalidade do que somos expressa através da relação corpo-sujeito. Assim, as vivências permitidas através da Educação Física possibilitam um diálogo constante dos sujeitos com o mundo. As aulas de Educação Física permitem então reconhecer a importância das interações sociais ocorridas no ambiente escolar decorrentes da linguagem corporal, as quais, além da expressão verbal compreende a totalidade do ser em movimento. Para a efetivação pedagógica dessa proposta, a Educação Física deve precisa implementar experiências interdisciplinares, a fim de possibilitar a apropriação dos conhecimentos da cultura corporal voltados para os temas relevantes da contemporaneidade. Diante disso, as orientações pedagógicas para a Educação Física escolar pressupõem que as vivências corporais envolvam um conjunto de saberes configurados a partir de uma leitura de mundo, ultrapassando a ótica limitada de uma Educação Física que oferece simplesmente a recreação a instrumentaliza a preparação do corpo. 17 Para uma prática pedagógica significativa de Educação Física escolar, a intencionalidade da mesma deve ultrapassar o limite da simples realização de movimentos corporais; e sim desenvolver competências fundamentais para que tais movimentos adquiram sentidos nas experiências individuais e coletivas. Posto isso, basicamente, as aulas de Educação Física abrangem os aspectos da consciência corporal, através de atividades que estimulam a percepção e compreensão de cada um e dos limites e potencialidades do próprio corpo. Além disso, a linguagem corporal assume destaque nos conteúdos dessas aulas com os conteúdos das diversas formas de expressão, contribuindo para a experimentaçãocorporal, com a qual é possível vivenciar a interação, permitindo o conhecimento e a percepção do mundo através dos significados atribuídos ao movimento do corpo. Igualmente às demais disciplinas, o processo ensino-aprendizagem na Educação Corporal, por meio das aulas de Educação Física, deve estar permeado por experiências capazes de estimular os sentidos sensoriais do corpo humano. O ato de aprender, nesse sentido e nos demais espaços, deve acarretar sensações relacionadas a tais sentidos, como aquelas relacionadas ao som, cheiro, textura, entre outras. Diante disso, a Educação Física escolar assume grande importância ao permitir que os alunos utilizem a linguagem corporal para elaborarem seus discursos, revelando sua identidade, através da expressão e da comunicação do corpo. Todavia, isso só torna-se possível quando se atribui ao corpo a função de expressão da subjetividade humana, extrapolando a visão unicamente mecânica e biológica. Neste sentido, as aulas de Educação Física levam os alunos a sentir e pensar os significados culturais da linguagem corporal. Além disso, permite aos mesmos perceberem os valores, compreenderem técnicas que compõem tais práticas corporais. Enfim, contribuem ainda para que tomem consciência sobre seus corpos a fim de viver a própria corporeidade com autonomia. Espera-se frente a esse contexto, que a Educação Física conquiste e assuma verdadeiramente seu espaço curricular, no qual os alunos possam dar novos sentidos e recriem a Cultura Corporal, adquirindo competência para o exercício da cidadania e desfrutando dos bens sociais e culturais que compõem a linguagem corporal. Á luz de uma proposta pedagógica consistente para a Educação Física, a pluralidade de experiências Corporais na Escola deve possibilitar que os alunos vivenciem práticas significativas para seus projetos pessoais, considerando que a 18 qualidade de nosso projeto intencionado para a vida está intimamente relacionada com o nosso equilíbrio e bem-estar corporal. Nas últimas décadas, o transcurso Educação Física Escolar caracterizou- se pela busca de sua identidade como disciplina escolar. Atualmente, seu objeto de estudo é a Cultura Corporal, mas tratá-la como disciplina isolada das demais, compartimentada e descontextualizada das demais aprendizagens do currículo escolar, é uma escolha pouco sábia e equivocada. A relação e interação da Educação Física com os demais componentes curriculares permite que os alunos percebam a cultura corporal de forma ampla e transformadora. Isto pode acontecer por meio de projetos de aprendizagem que, por serem contextualizados em práticas sociais, tornam o ensino da Educação Física significativo. Nesse sentido, a concepção mais pedagógica e consistente de Educação Física propõe um programa de ensino, o qual possui como eixo central a cultura corporal, contemplando práticas com significações, conteúdos históricos, ideológicos, entre outros, através das mais variadas estratégias metodológicas do currículo escolar. 19 4 – ORIENTAÇÕES E CONCEPÇÕES DIDÁTICAS PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA Inicialmente, torna-se necessário remeter ao termo “cultura”, antes de abordar as questões da Didática, embora o a expressão “cultura corporal”, já tenha sido apresentada nos parágrafos anteriores. As questões culturais vêm sendo, atualmente, discutida como as variadas trajetórias que levaram à evolução, a mudanças no comportamento dos sujeitos e da sociedade. Portanto, ao se propor uma prática inovadora da Educação Física, há de se considerar as questões culturais e compreender o sentido desse termo no programa de aulas desse componente curricular. No que diz respeito à concepção de cultura relacionada à Educação Física, Bracht e Caparroz (2007), propõem que o termo deve ser entendido, a partir do momento em que se estabeleça uma relação didático-pedagógica mais reflexiva capaz de subsidiar o programa de ensino da Educação Física escolar. Nessa perspectiva, tais autores julgam relevante perceber a necessidade da prática pedagógica não estar fundamentada em modelos prontos, universais e limitada em verdades únicas. Nesse sentido, os autores supracitados consideram que o saber proposto pela Educação Física deve perpassar por uma construção humana e considerar os aspectos históricos e culturais. A ação pedagógica assim estruturada torna-se reflexiva e valoriza as práticas numa perspectiva dinâmica e sempre pronta a ser reconstruída. À luz dos autores referenciados no parágrafo anterior, a prática pedagógica significativa nas aulas de Educação Física deve ir além de modelos instrumentais e que não consideram a realidade dos sujeitos envolvidos. Ao contrário, tal prática deve fundamentar-se no ideal de um indivíduo com as mais variadas dimensões: biológica, social, afetiva, cultural, ética, política, dentre outras. Nesse sentido, o conhecimento produzido será amplo, rico e repleto de significados. Prosseguindo na discussão acerca das concepções didáticas relacionadas à Educação Física, faz-se necessário destacar alguns pontos relevantes destacados por Souza (2007). Na lógica dessa autora, a compreensão da cultura é inerente na relação entre a Didática da Educação Física e a ciência, já que de acordo com essa 20 autora, o processo ensino-aprendizagem expressa através dos aspectos didáticos, os sentidos postos entre o conhecimento e a realidade. Frente a essa análise, tal autora reflete e critica o programa pedagógico da Educação Física, fundamentado apenas no aspecto competitivo, sem enfatizar a construção humana e suas várias dimensões. Assim, renega-se tais práticas direcionadas para objetivos formais, as quais acabam formando indivíduos incapazes de refletir suas práticas sociais, tão pouco protagonizarem no processo de construção do conhecimento. Como já destacado anteriormente, atualmente, torna-se desafiador implementar uma prática na Didática da Educação Física que vai além da estratégias pautadas na racionalidade técnica e instrumental. Além disso, é igualmente importante e ao mesmo tempo complexo, sensibilizar os profissionais acerca da necessidade de repensarem constantemente suas ações pedagógicas com o fito de respaldá-las no conhecimento científico. Tal contexto pedagógico ideal permitirá assim que os professores sejam capazes de considerar a realidade dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, sem perder de vista os fundamentos teóricos que sustentam as suas ações pedagógicas. A Didática, assim concebida, configura a execução de um programa de ensino de Educação Física, baseado na ação-reflexão-ação. O que se espera na verdade, é uma Educação Física repleta de práticas didáticas expressivas, nas quais o aluno seja capaz de realizar diferentes leituras de mundo através do movimento. Além disso, comunicar-se amplamente consigo mesmo, com o outro e com o ambiente que o cerca extrapolando padrões de movimentos pré-fixados e, dessa maneira, permitir um ambiente pedagógico criativo, dinâmico, capaz de transcender a sua própria prática. O programa didático da Educação Física escolar pautado nas concepções já discutidas, propõe a todos os sujeitos vivenciarem ações que incorporem de movimentos significativos, sem dissociarem das significações conceituais, de mundo, e de suas culturas. Assim, a Didática de ensino da Educação Física, a partir da sistematização do conhecimento, deve considerar a realidade do aluno e ultrapassar os limites físicos da escola. Nessa perspectiva, as aulas de Educação Física permitirão que o exercício do pensamento crítico estabeleça relação direta com o dinamismo e mudanças históricas e sociais dos entornos escolares. 21 A Didática da Educação Física a partir desses pressupostos, necessita por parte dos professores considerarem a relação filosófica e histórica existente entre o desenvolvimento e a cultura corporalde movimento. Além disso, enquadrarem a Educação Física como área do conhecimento tendo a ciência como elemento da composição histórica do ser humano. Nesse sentido, tal fato requer que a Didática assim concebida, exija que a Educação Física e seus professores apropriem das diferentes áreas conceituais que sustentam e fundamentam o fazer pedagógico dessa área do conhecimento, como: a Psicologia, a Sociologia, a Fisiologia, a Biomecânica, dentre outros. 4.1- O papel do professor O professor de Educação Física assume enorme importância na implementação de todo e qualquer programa de ensino. É ele que dinamiza as ações e dá vida às atividades propostas. Considerando tal contexto, um excelente programa de ensino, fundamentado na mais conceitual Didática, não garante por si só uma aprendizagem significativa. Daí a importância de um profissional bem formado e que esteja sempre atento às necessidades do processo ensino- aprendizagem. Não obstante, os pontos que fragilizam as propostas pedagógicas de Educação Física em práticas nas escolas, atualmente, estão diretamente relacionados também à qualificação profissional dos responsáveis por essa área do conhecimento. Observa-se, nos mais diferentes espaços escolares, uma atuação profissional generalista em toda a Educação Básica, desprovida de investimentos em programas regulares de formação continuada. Evidente que um professor com características generalistas poderá implementar atividades pedagógicas e garantir aprendizados relacionados ao corpo. Todavia, é preciso admitir que seus recursos conceituais são insuficientes para garantir uma aprendizagem ampla em relação aos aspectos físico e motor, e ao mesmo tempo promover os conhecimentos que integram a Cultura Corporal, bem como suas possibilidades didáticas. O professor ao instrumentalizar a Educação Física, exercendo apenas um conjunto de atividades práticas, permite que tal área do conhecimento seja utilizada 22 por qualquer outro professor apenas para favorecer outros conteúdos, perdendo de vista a sua relevância e seus objetivos pedagógicos. Diante disso, o programa de ensino da Educação Física reveste-se de significados, quando o professor compreende de maneira consciente a importância social dessa disciplina no processo ensino-aprendizagem. Mais do que isso, ainda quando o professor identifica que o seu comprometimento com uma prática de qualidade pedagógica interfere diretamente no contexto educacional de todos os envolvidos. Sobretudo, quando o professor reconhece que suas atribuições são fatores relevantes para a transformação dessas práticas no cotidiano da escola. Considerando o importantíssimo papel do profissional de Educação Física no que diz respeito à qualidade das aulas e também à valorização dessa área do conhecimento, destaca-se algumas recomendações, conforme elencadas abaixo: o professor de Educação Física deve refletir continuamente acerca de sua prática, atentando-se ao aspecto dinâmico dos planejamentos pedagógicos; deve estar atento às novas abordagens didático-pedagógicas e buscar novos conhecimentos, através da pesquisa que qualifica e fundamenta a sua prática; incorporar a cultura avaliativa e utilizar os recursos da avaliação para subsidiar e redirecionar as ações pedagógicas; planejar previamente as aulas, bem como os recursos materiais necessários, considerando a realidade estrutural da escola; otimizar a carga horária das aulas, optando por estratégias metodológicas que favoreçam o aspecto dinâmico das atividades e possibilitem uma maior participação ativa e simultânea dos alunos; considerar todas as dimensões (motora, cognitiva, social, afetiva, ética, cultural, ente outras), implícitas do processo ensino-aprendizagem nos diferentes momentos avaliativos; disponibilizar os resultados avaliativos à equipe administrativa e pedagógica e também aos alunos, através de registros realizados com organização e lisura; 23 incluir em seus planejamentos conteúdos que se relacionam com os temas transversais previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais e outros de relevância social e atual; oportunizar vivências práticas significativas fundamentadas no conhecimento científico e que incentive o protagonismo dos alunos; atentar-se continuamente aos diversos aspectos da cultura local e da formação humana, considerando as características e necessidades dos alunos; promover a interdisciplinaridade com outras áreas do conhecimento, através de projetos pedagógicos bem planejados e consistentes, capazes de alterar positivamente o comportamento dos alunos no que se refere à saúde, qualidade de vida, meio ambiente, sexualidade, dentre outros; garantir uma prática da Educação Física revestida de significados com vistas à valorização da disciplina e sua importância no currículo da Educação Básica das escolas públicas e privadas; demais ações que contribuam e defendam os interesses da Educação Física escolar. Posto essas questões relacionadas aos professores de Educação Física, faz-se necessário destacar a importância desses frente ao desafio de se justificar a importância dessa área do conhecimento em todos os níveis da Educação Básica, sustentando a sua relevância educacional. Tal fato faz sentido, já que a obrigatoriedade prevista em documentos legais, por si só não garante a permanência da Educação Física no contexto educacional. Daí a importância do papel do professor para contribuir e legitimar a garantia da mesma. Ademais, a Educação Física, enquanto área do conhecimento deve ocupar função de grande importância no contexto pedagógico das escolas. Nesse sentido, a figura do professor ao conduzir as aulas com competência é essencial para justificar a importância do trabalho com a corporeidade na formação dos alunos. Assim, estruturar um planejamento que proponha vivências de atividades físicas pautadas na criatividade, no prazer, no conhecimento significativo, respaldadas em princípios éticos e morais, entre outros, constitui meio fundamental 24 na formação do aluno. Cabe ao professor também garantir que a Educação Física exerça o seu papel educativo, no que concerne à adoção de comportamentos ativos, saudáveis alicerçados na saúde emocional, em uma reeducação alimentar, em relações sociais equilibradas, enfim, em todas as aprendizagens que favoreçam também os aspectos atitudinais dos alunos. Enfim, a busca constante por novos conhecimentos, a atenção com sua postura ética, o zelo com a qualidade dos diálogos que estabelece nos espaços escolares, a participação ativa nas mais diversas ações pedagógicas (Conselhos de Classes, Colegiados, Gestão, Reuniões Pedagógicas e Administrativas, Eventos previstos nos calendário escolar, entre outros), conferem ao professor de Educação Física mais respaldo, prestígio e credibilidade no cotidiano escolar. 4.2- Educação Física: Controle, gestão e manejo das práticas de ensino Um dos pontos muito importante da prática pedagógica em Educação Física é a perfeita apropriação do controle e gestão das aulas. Nesse sentido, deve-se atentar continuamente à organização das atividades, materiais, espaços, entre outros, considerando as características das atividades propostas e as estratégias metodológicas utilizadas. Assim, o professor a partir de um planejamento prévio será capaz de optar por maneiras adequadas de realizar os mais diversos tipos de agrupamentos dos alunos nas atividades pedagógicas, realizando uma gestão eficaz do tempo. Tal controle, permitirá ao processo pedagógico da Educação Física escolar, que os alunos vivenciem as tarefas respeitando os respectivos ritmos de aprendizagem. Além disso, o professor de Educação Física deve ser capaz de ter uma visão ampla da aprendizagem no que se refere à otimização do tempo necessário à realização das atividades pedagógicas. Nos temposatuais, planejamentos com atividades nas quais, os alunos desperdiçam tempo em longas esperas para a realização de atividades, tornaram-se obsoletos e de pouca eficiência pedagógica. Assim, exige-se competência do professor para envolver ativamente o maior número possível de alunos durante as aulas, nas mais diversificadas oportunidades de aprendizagens. 25 Também, relacionam-se a uma boa gestão das aulas de Educação Física, comportamentos do professor que garantam a sua autoridade e que facilite a comunicação dos alunos. Nessa perspectiva, é esperada desse profissional a capacidade de estabelecer boas relações sociais com os alunos, resguardando os momentos oportunos para externar elogios, críticas, reforços, os quais contribuirão para a aprendizagem dos mesmos. O professor também deve optar sempre por uma liderança democrática, que favoreça o compartilhamento dos processos de tomada de decisão com os alunos. Tal postura permite aos sujeitos envolvidos responsabilizar por suas escolhas e se reconhecerem como parte integrante do processo ensino- aprendizagem. Assim, o ambiente para a prática possibilita ações avaliativas com claras evidências de limites e possibilidades sem que o professor faça as comparações de desempenhos, ainda tão presentes nas escolas. Prosseguindo nas bases da gestão do ensino, o professor deve também ser capaz de subsidiar igualmente o desempenho dos alunos, evitando direcionar mais a sua atenção para os alunos habilidosos. Portanto, não se deve exagerar nos elogios aos alunos que demonstrem mais facilidades de aprendizagem, nem nas correções aos que têm maiores dificuldades. É tarefa do professor, equilibrar os elogios e as retificações, engrandecer os sucessos e propor alternativas para as readequações necessárias ao melhor desempenho dos alunos. Nessa ótica, as aulas tornam-se mais prazerosas, os alunos mais motivados e o professor mais realizado com o seu trabalho. 4.3 - O planejamento de ensino nas aulas de Educação Física Dentro das concepções de Luckesi (1992), o planejamento em seu sentido amplo requer uma intencionalidade do sujeito de forma a definir os meios para se chegar a um fim. Nesse sentido, tal autor discute que a ação de planejar contradiz à realizada de qualquer maneira sem a devida clareza de quais objetivos necessitam ser definidos para se atingir os respectivos resultados esperados. Seguindo o raciocínio, ainda de Luckesi (1992), o planejamento pedagógico constitui uma ação fundamental no norteamento do trabalho do professor e necessita em sua estrutura contemplar os objetivos, as estratégias metodológicas, os conteúdos a serem 26 desenvolvidos, bem como as alternativas avaliativas; todos distribuídos em uma ordem cronológica das ações. Veiga Neto (1993) assevera acerca da importância das permanentes reflexões, nas quais devem perpassar todas as etapas de um planejamento de ensino. Nesse sentido, tal autor sinaliza para uma postura crítica e participativa, articulando para que todos os envolvidos participem ativamente do processo. Nesse mesma ótica, Luckesi (1992) destaca que o planejamento de ensino numa visão política e institucional não deve ser puramente formal, e sim, não obstante, de características práticas e significativas. Assim, o planejamento pedagógico assume um aspecto processual, dinâmico, sempre construído e reconstruído com o objetivo de fomentar qualitativamente o trabalho do professor e, consequentemente, todo o processo educativo. Frente a essas questões discutidas acima, faz-se necessário evidenciar que um planejamento pedagógico bem estruturado e exitoso deve considerar a realidade escolar, principalmente dos alunos envolvidos diretamente. Em seguida, a definição dos objetivos deve ser feita com base nesse estudo inicial, para que se tenha clareza dos conteúdos a serem ensinados, os recursos necessários, as estratégias metodológicas, as formas da avaliação e a constante retroalimentação da ação docente. O planejamento de ensino, de acordo com Luckesi (1992), deve ainda apresentar características de flexibilidade, participação, operacionalidade, dentre outros. Recomenda-se ainda, que o mesmo priorize a aprendizagem dos alunos, seja resultado de discussões entre os envolvidos, ser fundamentados na Proposta Político-Pedagógica da escola, e que seja monitorado para possível redirecionamento em sua estrutura. As aulas de Educação Física devem ser fundamentadas em planejamentos pedagógicos nos moldes supracitados e, conforme Coletivo de Autores (1992), devem contemplar os conteúdos previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Nesse sentido, o papel do professor é de fundamental importância na responsabilidade em garantir que o planejamento dessas aulas estejam voltados às metas educacionais da instituição, mas que também considere as necessidades dos alunos, seus conhecimentos prévios, ou seja, sua realidade. 27 5 – A AVALIAÇÃO E A EDUCAÇÃO FÍSICA A seguir será feito uma breve abordagem a despeito da prática avaliativa nas aulas de Educação Física. Inicialmente, é necessário salientar que a avaliação de maneira geral requer uma análise intencional de uma determinada situação, fato ou pessoa. Em se tratando da avaliação nos espaços escolares, tal julgamento requer uma apreciação criteriosa de determinada qualidade diretamente relacionada ao processo ensino-aprendizagem. Evidente que tal prática, fundamenta-se nos critérios, valores, teorias e intenções do avaliador. Nesse sentido, comumente é observado pareceres e conclusões distintas de determinados avaliadores, e até mesmo contraditórios acerca de um mesmo assunto, pessoas, processo, entre outros. Numa sociedade pautada pela competição exacerbada, pela intolerância ao diferente e pelo espírito excludente mascarado pela ideia de neutralidade, fica fácil constatar a incidência dessa postura avaliativa no cotidiano escolar. Nessa perspectiva, observa-se ainda nesses espaços, ações que retratam bem esse cenário, como por exemplo: a incessante busca por turmas homogêneas, a pré-determinação dos conteúdos a serem trabalhados desconsiderando os interesses dos alunos, a avaliação que elimina a subjetividade, buscando apenas a classificação dos alunos em relação aos resultados previstos. Logicamente que para os espaços e sociedade em geral que extrapolam os muros da escola em muito interessa o ato de quantificar. Todavia, o que precisamos ficar atentos, é que avaliação educativa é muito mais do que isso e não deve resumir-se apenas aos números, gráficos e dados estatísticos. Nos espaços escolares, quando a atenção do avaliador está centrada nos processos interativos, nas relações e trocas sócio-cognitivas, nas construções das aprendizagens, a avaliação irá se compor de novos significados e uma variada rede interpretativa e explicativa se estrutura permitindo ricos significados e informações. Para implementar tal metodologia avaliativa, cujo o objetivo é a análise do processo de aprendizagem, torna-se necessário considerar os conhecimentos prévios dos sujeitos envolvidos, afim de favorecer e desafiar os alunos em direção às novas relações e estruturações de conceitos. Frente a essa prática, o ato de ensinar consiste em oportunizar a manifestação de ideias, a interação, as diversas 28 expressões manifestadas para poder debater, propor e formalizar novas aprendizagens. Assim, estabelece uma rede avaliativa sistemática, na qual perpassam e entrelaçam as autoavaliações e as avaliações do grupo. Em se tratando do processo ensino-aprendizagem, a avaliação constitui uma das etapas mais importantes. A avaliação é, também, de fundamental importância para estabelecer uma rede valorosa entre os planejamentos de ensino previstos na proposta pedagógica da escola e seus resultados concretos. Através de uma avaliação fundamentada em princípios éticos, torna-sepossível dimensionar e redirecionar os planos de ensino subsidiando as novas ações pedagógicas. De acordo com Darido (1999), a avaliação em Educação Física escolar está enquadrada em quatro tendências: abordagem tradicional, abordagem baseada em objetivos de ensino, abordagem humanista e abordagem crítica. Em se tratando da abordagem tradicional, as avaliações, assim realizadas, consideravam apenas os aspectos físicos (capacidades físicas), configurando através dos testes físicos, uma avaliação quantitativa, classificatória e até mesmo punitiva. Com o passar dos anos, a Educação Física escolar passou a ser implementada através do foco nos objetivos de ensino. A Educação Física também valorizava os métodos quantitativos. A avaliação assim realizada se pautava em comportamentos observáveis e previstos através dos objetivos de ensino, como: números de arremessos convertidos, quantidade de saques, distâncias atingidas nos saltos e arremesso, entre outros. O que mensuravelmente interessava eram os comportamentos relacionados à dimensão motora da aprendizagem. No caso da perspectiva crítica da avaliação, o que interessa é o processo da aprendizagem e, ainda, como as práticas da Educação Física promovem a aproximação ou não das propostas curriculares que direcionam o fazer pedagógico da escola. Nos ambientes escolares, o que se observa atualmente, de maneira geral, é uma mistura dessas quatro abordagens, as quais trazem em suas concepções pontos restritivos e também pontos propulsores. É tarefa do professor sensibilizar para perceber em qual momento, ou com qual predominância deve-se usar cada uma das abordagens supracitadas. 29 Certo é que o ato de avaliar exige dos sujeitos envolvidos, o estabelecimento de critérios e competências que disponibilizem dados para analisar a aprendizagem dos alunos e de todos os demais envolvidos ao ato de aprender. Diante dessa concepção, é impossível haver aprendizagem sem incorrer em erros. Por causa disso, é necessário ao professor considerar todo o processo de construção do conhecimento e não apenas aos resultados quantitativos. Assim, a avaliação ocupa lugar de destaque nos processos pedagógicos da Educação Física escolar, pois serve a vários objetivos para toda a comunidade escolar, incluindo: alunos, professores, coordenadores, gestores, demais funcionários, familiares, entre outros. Portanto, os resultados obtidos nos processos avaliativos devem servir, realimentar e redirecionar as práticas pedagógicas. 5.1- O que avaliar em Educação Física? Antecedendo a essa pergunta, é ter clareza de quais conhecimentos, competências e habilidades, valores, entre outros, o aluno deverá desenvolver no período proposto. Daí a importância de formalizar a intencionalidade da prática educativa, a qual orientará a definição de objetivos, conteúdos, metodologias e recursos, bem como estratégias avaliativas necessárias ao processo ensino aprendizagem. Considerando essa análise, é preciso considerar a proposta de ensino da Educação Física, contendo seus objetivos, princípios, conteúdos, metodologias, recursos materiais, estrutura, entre outros. Além disso, a competência do professor para atrelar as estratégias metodológicas aos conteúdos propostos, fundamentando-se nas necessidades dos alunos e na responsabilidade com a qualidade do ensino. Também deverá ser dada total atenção aos quesitos relacionados aos aspectos atitudinais dos alunos, como: interesse, frequência, assiduidade, pontualidade, competências motoras, sociais, éticas, entre outros. 30 5.2- Objetivos da avaliação em Educação Física Avalia-se para conhecer os alunos, suas necessidades e seus interesses, para diagnosticar suas limitações e potencialidades, para saber se está ensinando de forma correta, para redirecionar os planejamentos de ensino, para detectar ao longo do processo os avanços conquistados. Nessa perspectiva, a avaliação está comprometida com o constante aperfeiçoamento de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. A consciência acerca dos limites e potencialidades dos alunos e docentes facilita e permite a tomada de decisões, promovendo de forma efetiva a satisfação pessoal e coletiva. Também se avalia em Educação Física, para diagnosticar níveis de aprendizagem, sugestões de ações a serem implementadas a favor do processo de ensino e, claro, para verificar em que medida os alunos desenvolveram as competências e habilidades esperadas. Nesse sentido, a avaliação também permite ser utilizada para classificar grupos de alunos com vistas a participação de eventos esportivos. Todavia, a avaliação, assim configurada, acaba por selecionar e excluir, e ainda para aprovar e reprovar. 5.3- Agentes da avaliação em Educação Física Partindo da concepção de que a avaliação é parte integrante do processo ensino-aprendizagem, todos os envolvidos nesse são corresponsáveis pelas várias etapas e formas avaliativas. Espera-se assim que alunos, professores, gestores, familiares e demais membros da comunidade que estejam comprometidos com a qualidade do ensino, participem ativamente da avaliação. É muito importante que o professor de Educação Física, além da avaliação específica desse componente curricular, participe também de todos os foros da avaliação coletiva. 5.4- O tempo da avaliação em Educação Física É imprescindível que a avaliação nas práticas de ensino da Educação Física escolar, seja uma constante ao longo de todo o processo educativo. Orienta-se que, inicialmente, os professores façam um diagnóstico, a fim de detectar os conhecimentos prévios dos alunos, o que eles precisam aprender e 31 quais são de fato suas necessidades. Prosseguindo essa etapa, a avaliação será de forma contínua, com o fito de acompanhar e favorecer a trajetória de aprendizagem do aluno, durante as aulas, sem perder de vista a intencionalidade das ações pedagógicas previstas no cronograma: curto, médio e longo prazo. 5.5- Educação Física: Como avaliar? As estratégias avaliativas em Educação Física são similares àquelas utilizadas nos demais componentes curriculares. São utilizadas as coletas de dados e informações relacionadas ao processo ensino-aprendizagem. Para tal recurso avaliativo, pode-se utilizar os seguintes instrumentos: observações sistemáticas registradas em relatórios e outros formulários próprios; entrevistas escritas e orais através das aulas dialogadas, rodas de conversa e debates; questionários, vídeos, testes, avaliações escritas, autoavaliação, seminários, dentre outros. Evidente que os instrumentos supracitados possuem especificidades quanto aos seus fins. Há de se ter o cuidado para que os dados não se acumulem sem significados, intencionalidades e fins práticos. Uma vez coletados, os dados necessitam submeterem ao devido tratamento, para que sejam interpretados, e realizadas as devidas leituras críticas dos seus significados, sempre a favor do processo pedagógico da escola. Nessa perspectiva, a análise dos dados deve ser realizada sob a ótica dos referenciais previamente estabelecidos, em coerência com os objetivos estruturados na Proposta Político-Pedagógica da escola. Uma vez analisados tais critérios (desempenho, conduta, atitude, entre outros), os mesmos servirão para subsidiar um julgamento valoroso do desempenho dos alunos e também do professor. A partir daí, essas informações obtidas contribuirão efetivamente na tomada de decisão do professor em relação ao nível de aprendizagem dos alunos e ao redirecionamento das suas ações pedagógicas. A partir desse contexto avaliativo, será possível obter informações acerca do que os alunos aprenderam, qual foi o nível de aprendizagem, quais pontos ainda necessitam serem desenvolvidos, como foi o trabalho do professor, em que aspecto precisa melhorar sua prática, e quais as necessidades de adaptações no processoensino-aprendizagem. 32 A utilização das estratégias avaliativas, conforme destacado anteriormente, dependerá dos objetivos pedagógicos sistematizados nos planejamento de ensino. Dessa maneira, numa aula de Educação Física, se o objetivo é identificar a performance de um aluno em relação à turma, utiliza-se um instrumento. Por outro lado, se a intenção é verificar se o aluno melhorou em relação ao seu próprio desempenho, utiliza-se outros critérios avaliativos. Em qualquer que seja o processo avaliativo, o diagnóstico inicial é um ponto de partida para em seguida verificar os avanços conquistados. 33 6 – CONTEÚDOS CURRICULARES DA EDUCAÇÃO FÍSICA A Educação Física, enquanto componente curricular, deve contemplar em suas práticas pedagógicas os seus conteúdos, assegurando a uma aprendizagem progressiva e pautada nos diferentes graus de dificuldades. Assim, fazem parte do currículo da Educação Física Escolar, os seguintes conteúdos: esporte; jogos e brincadeira; atividades rítmicas e expressivas; ginásticas; danças; lutas e conhecimentos sobre o próprio corpo. Todos esses, legitimados sistematicamente nos Parâmetros Curriculares Nacionais. Para implementar tais conteúdos nos planejamentos de ensino, faz-se necessário considerá-los sobre três dimensões, conforme destaca Zabala (1998): Procedimental: inclui os conteúdos que se referem aos fazeres e vivências das diferentes práticas educativas: jogar, dançar, realizar diferentes exercícios físicos, dentre outras. A aprendizagem desses conteúdos implica, assim, a realização de ações e a reflexão sobre a atividade, tendo em vista a consciência da atuação e a sua utilização nos diferentes contextos; Atitudinal: diz repeito aos conteúdos relacionados à aprendizagem de valores, princípios éticos, atitudes e normas que contemplam padrões ou regras de comportamento de acordo com determinado grupo social. Nesse sentido, tais conteúdos são observáveis ou não, através dos conteúdos cognitivos e procedimentais e são assim exemplificados: respeito mútuo, cooperação, solidariedade, autonomia, adoção de hábitos saudáveis, todos aprendidos, percebidos e praticados de forma coerente frente a uma situação concreta; Conceitual: são os conteúdos relacionados a conceitos e informações básicas presentes na estrutura das ações pedagógicas. São ideias e fundamentos necessários à aprendizagem dos motivos, da importância das possibilidades ou não, das vivências corporais. Nesse sentido, inclui- se os conceitos de corpo, saúde, esporte, técnica, tática, qualidade de vida, entre outros. A aprendizagem desses conteúdos se mostra quando o aluno demonstra a capacidade de utilizá-los para a interpretação, 34 compreensão, exposição, análise e avaliação de uma determinada situação. Dessa maneira, os conceitos são dinâmicos, são reconstruídos historicamente, considerando os avanços das áreas do conhecimento. Os conteúdos, nas aulas de Educação Física, devem ser implementados de forma articulada, a partir dessas três naturezas descritas acima, favorecendo a compreensão do que se ensina e instrumentalizando a aprendizagem ao ponto de capacitar os alunos para a resolução de problemas e tomada de decisão ao longo da vida. A fim de promover uma aprendizagem efetiva desses conteúdos, é preciso considerar também os conhecimentos prévios dos alunos. Assim, é importante que o professor de Educação Física esteja atento ao conjunto de experiências manifestadas na escola pelos alunos, as quais são vivenciadas em seu cotidiano familiar. Nesse sentido, conforme já salientado em discussões anteriores, os temas transversais previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Educação para o trânsito, saúde, sexualidade, educação ambiental, dentre outros), os quais assumem enorme importância no processo educativo amplo dos alunos. Em seguida, será descrito detalhadamente, conforme documento emitido pelo Conselho Federal de Educação Física – CONFEF (2014, p. 24 a 31), os conteúdos de ensino da Educação Física escolar e suas recomendações: Em relação ao esporte O esporte é um fenômeno social em expansão no mundo contemporâneo. Tomou dimensões sociais que buscam atender não somente a performance, mas à educação e ao lazer. Portanto, a importância do esporte na sociedade pode ser evidenciada pela sua capacidade de produzir satisfação e prazer, além do seu caráter político-participativo e transformador. Desse modo, cabe a Educação Física Escolar o importante papel de disseminadora dos seguintes conteúdos: conhecer aspectos históricos, geográficos e políticos do esporte e paradesporto enquanto elementos da cultura humana; relacionar aspectos do esporte com os jogos; vivenciar aspectos básicos dos fundamentos (movimentos + regras) de esportes coletivos e individuais trabalhados como conteúdo específico; compreender as diferenças entre esporte de rendimento, esporte como lazer e esporte como meio para promoção da saúde; conhecer as características dos esportes e sua relação com o ambiente; identificar, analisar e compreender a influência da mídia nos esportes; conhecer o contexto social e econômico de diferentes esportes; compreender as dimensões do esporte e suas relações no âmbito da escola e fora dela; identificar e interpretar o esporte e sua apropriação pela indústria cultural; compreender as relações entre esporte e trabalho; 35 conhecer os processos de organização de eventos esportivos e sistemas de disputas; compreender o fenômeno esportivo e aspectos relativos à competição esportiva; ressignificar as práticas esportivas, considerando as limitações físicas e intelectuais das pessoas com deficiência. Em relação aos jogos e brincadeiras As estratégias lúdicas favorecem o processo de aprendizagem, obtendo-se a atenção do aluno na execução do movimento de forma prazerosa, sem, no entanto, desconsiderar que além da brincadeira, proporciona um momento de interação social e cultural. Por outro lado, observa-se que, atualmente, os jogos eletrônicos tornaram-se meios lúdicos de forte adesão, em substituição aos jogos e brincadeiras tradicionais. Portanto, o professor contemporâneo tem o grande desafio de resgatar os jogos e brincadeiras tradicionais, incorporando concomitantemente as novas tecnologias dos games por meio das seguintes estratégias: conhecer a origem dos jogos, brincadeiras e cantigas de roda, trabalhados como conteúdo específico; vivenciar experiências de criação e recriação dos jogos e brincadeiras; apropriar-se da flexibilização quanto às regras oferecidas nos jogos, vivenciando, experimentando e criando diferentes formas de jogar; reconhecer e apropriar-se dos jogos considerando: o outro, seus objetivos, resultados, consequências e motivações; construir o conhecimento por meio dos Jogos e brincadeiras tradicionais, bem como dos jogos atuais; conhecer as novas tecnologias de jogos eletrônicos, refletindo sobre as possibilidades de contribuição para o processo ensino/aprendizagem. Em relação à ginástica Na atualidade, a ginástica tem sido pouco praticada no ambiente escolar. Essa preocupação é corroborada por vários estudiosos sobre a temática da Educação Física. Para tanto, é necessário um novo olhar no sentido de reposicioná-la a partir de uma nova perspectiva teórico-metodológica, que amplie o leque de possibilidades vivenciais e corporais, uma vez que a ginástica é um importante fio condutor de manifestações culturais na medida em que permite ao aluno experimentar, conhecer, problematizar e compreender seus próprios limites e criar alternativas de superação. Portanto, a ginástica deve abordar os seguintes temas: conhecer o contexto histórico-conceitual da ginástica (métodos e modalidades); conhecer e vivenciar as modalidades de ginástica (rítmica, artística, acrobática, circense, laboral,localizada, academia, aeróbica); identificar as modalidades de ginástica e seu desenvolvimento até os dias atuais; vivenciar movimentos de transferência de peso, deslocamento, salto, giro, torção, equilíbrio, desequilíbrio, inclinação, expansão, contração, entre outros; reconhecer a influência da mídia nos padrões de comportamento do/no corpo; compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural nas práticas corporais; aplicar conteúdos nos quais os alunos vivenciem e aprendam a executar elementos referentes à ginástica; propor conteúdos que abordem a cooperação, a participação e a inclusão. 36 Em relação à dança A dança, uma das principais expressões corporais, favorece o desenvolvimento de habilidades e harmonização entre o corpo e a mente. Essa linguagem corporal é um relevante instrumento educativo, pois possibilita o reconhecimento do potencial do aluno de forma lúdica, criativa e prazerosa por meio do movimento. Nessa perspectiva, devem-se considerar os seguintes fatores: conhecer o conceito, contexto e origem de dança; conhecer os aspectos culturais atrelados à origem e à permanência das danças folclóricas; vivenciar os movimentos básicos das danças trabalhadas como conteúdo específico: -ampliar repertório pessoal de movimento; -experimentar formas variadas de se mover; -vivenciar experiências de criação e recriação da dança; -reconhecer e inovar movimentos; -conhecer e compreender a dança como manifestação cultural; -conhecer e compreender elementos estéticos. compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural no âmbito da dança; identificar, interpretar e se posicionar a respeito da apropriação da dança pela indústria cultural: -vivenciar processos coreográficos, elaboração e produção. compreender aspectos relativos a apresentações, festivais e concursos de dança. Em relação às lutas Esse conteúdo da Educação Física Escolar está presente no cotidiano social de forma concreta, sobretudo, pelo forte apelo midiático das lutas de competição. Nesse contexto, emerge um grande leque de oportunidades para o desenvolvimento de valores, potencialidades, limites e disciplina, além de manifestações socioculturais que permitem ao aluno vivenciar experiências motoras, contato corporal, elaboração de estratégias e troca de informações. Para tanto, propõe-se: conhecer os aspectos históricos, filosóficos e origem das lutas trabalhadas como conteúdo específico; apresentar os diversos tipos de lutas e seus desdobramentos na atualidade; vivenciar movimentos característicos das lutas trabalhadas em outras práticas corporais; vivenciar as relações corporais de peso e espaço consigo mesmo e com o outro; diferenciar formas de apresentação das lutas; compreender a influência da mídia, ciência e indústria cultural no âmbito das lutas; identificar, interpretar e se posicionar a respeito da apropriação das lutas pela indústria cultural; vivenciar modalidades e características peculiares de diferentes lutas; compreender aspectos relativos a apresentações, festivais e competições de lutas; ampliar repertório pessoal de movimentos. Em relação à saúde A escola é o ambiente ideal para a construção de conhecimentos relacionados à promoção da saúde na perspectiva do desenvolvimento de 37 um estilo de vida ativo. Neste sentido, a Educação Física é o principal componente curricular a abordar essa temática, ao incentivar os alunos a prática de atividades físicas como elementos motivadores de uma vida saudável, propondo-se a: -entender os significados atribuídos ao corpo; -analisar e refletir sobre o corpo e os movimentos; -conhecer limites e possibilidades de movimentação do corpo; -reduzir as condições para o desenvolvimento de doenças crônico- degenerativas provocadas pelo estilo de vida sedentário, tais como: a obesidade, a hipertensão arterial, diabetes, hipercolesterolemia, as doenças do aparelho respiratório e cardiovasculares, entre outras; -promover experiências positivas associadas à prática de atividades físicas que se caracterizem no desenvolvimento de habilidades, atitudes e hábitos que auxiliem futuramente na adoção de um estilo de vida fisicamente ativo na idade adulta; -discutir temas relacionados à alimentação saudável, ao uso de álcool e drogas, violência, higiene e sexualidade. (CONFEF, 2014, p. 24 a 31) Ao professor de Educação Física, cabe a tarefa de fundamentar a sua prática junto ao contexto pedagógico da instituição de ensino, com o fito de resguardar a identidade desse componente curricular e ocupar lugar igualitário de credibilidade diante das demais áreas de conhecimento. É também de sua responsabilidade enriquecer as práticas corporais, diversificando as aulas e lutando continuamente para melhorar cada vez mais as condições estruturais para implementá-las. Como foi possível constar, os conteúdos propostos para a Educação Física escolar são diversificados, ricos e possibilitam amplo desenvolvimento da corporeidade dos sujeitos envolvidos. A Educação Física assim vivenciada configura a sua responsabilidade e a sua função social para uma educação que forma sujeitos críticos, reflexivos e participativos, capazes de vivenciarem efetivamente os legítimos direitos e deveres previstos nos documentos normativos. 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Educação Física escolar obteve grande avanço a partir da década de 1980. O aparecimento das variadas concepções pedagógicas dessa área do conhecimento configurou a conquista de novos espaços da Educação Física, no fazer pedagógico da escola. Tal cenário conferiu a essa prática pedagógica vários significados, os quais estruturaram o desenvolvimento metodológico da Educação Física implementada nos dias de hoje. Mais do que a instrumentalização do movimento, interessa à Educação Física a corporeidade e as vivências das práticas corporais, considerando as várias dimensões do corpo, além da biológica. A corporeidade permite o uso de inúmeras linguagens, a expressão de ideias, sentimentos, ou seja, permite ao indivíduo comunicar-se consigo, com o outro e com o mundo que o cerca. Torna-se desafiador implementar uma prática na Didática da Educação Física que vai além da estratégias pautadas na racionalidade técnica e instrumental. Além disso, é igualmente importante e ao mesmo tempo complexo, sensibilizar os profissionais acerca da necessidade de repensarem constantemente suas ações pedagógicas com o fito de respaldá-las no conhecimento científico. Diante disso, o programa de ensino da Educação Física reveste-se de significados, quando o professor compreende de maneira consciente a importância social dessa disciplina no processo ensino-aprendizagem. Mais do que isso, ainda quando o professor identifica que o seu comprometimento com uma prática de qualidade pedagógica interfere diretamente no contexto educacional de todos os envolvidos. Nesse sentido, a avaliação requer igual atenção de todos os profissionais que lidam com a Educação Física escolar, em especial do professor. As estratégias avaliativas permitem a esse profissional a obtenção de dados que subsidiarão a sua prática e orientando as direções do seu plano de ensino. Assim, o professor ao realizar uma avaliação constante e revestida de significados poderá e deverá contribuir no processo educativo. São vários os conteúdos previstos em documentos oficiais que orientam a prática da Educação Física escolar. Os planejamentos pedagógicos ao assumirem características dinâmicas poderão enriquecer tais práticas diversificando as 39 vivências corporais no cotidiano das escolas e oportunizando aos alunos de forma procedimental, atitudinal e conceitual,
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