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Anna lillian canuto bittencourt Ideias gerais • É uma das doenças endócrinas mais comuns; • É definido como uma síndrome clínica e laboratorial decorrente de deficiência na ação periférica dos hormônios tireoidianos tri-iodoteronina (T3) e tiroxina (T4); - Resulta em lentificação generalizada do metabolismo. • O hipotireoidismo pode ser classificado em congênito ou adquirido; • Pode ser classificado, ainda, em: - Hipotireoidismo primário: há um comprometimento na glândula tireoide que leva a diminuição da produção e secreção de T3 e T4; >> Como a secreção de T4 livre está baixa, a hipófise passa a secretar mais TSH (então T4 baixo e TSH alto). - Hipotireoidismo secundário: há um acometimento da hipófise, com diminuição na secreção do hormônio estimulador da tireoide (TSH) e, consequentemente, sua ação na tireoide; >> Como está tendo baixa secreção de TSH por um problema na hipófise, há também uma queda na produção de T4 (T4 e TSH baixos). - Hipotireoidismo terciário: há diminuição de secreção de hormônio liberador de TSH (TRH). >> Como o TRH está sendo pouco secretado, há pouca produção de TSH e, consequentemente, de T4 (TRH, TSH e T4 baixos). • Os hipotireoidismos secundário e terciário podem ser chamados de hipotireoidismo central; • Pode acometer qualquer faixa etária, porém a etiologia e o quadro clínico são diferentes; • O hipotireoidismo congênito acomete 1/3000 a 1/4000 dos RN; >> Seu rastreamento deve ser feito de rotina através do Teste do Pezinho, realizado entre o 3-7° dia, sendo que seu tratamento precoce consegue prevenir grande parte das sequelas neurológicas, como retardo mental ou cretinismo. • O hipotireoidismo adquirido atinge em torno de 5% da população geral; • O hipotireoidismo primário representa mais que 90% dos casos; • Fatores de risco para hipotireoidismo: - Idade (>65 anos); - Sexo feminino (8:1); Hipotireoidismo Anna lillian canuto bittencourt - Puerpério; - História familiar; - Irradiação prévia de cabeça e pescoço; - Doenças autoimunes (como vitiligo, DM1, anemia perniciosa); - Drogas como amiodarona, lítio, tionamidas e INF-alfa; - Portadores de síndrome de Down e de Turner; - Dieta pobre em iodo; - Infecção crônica pelo HCV. Etiologia HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO: 01. Disgenesia tireoidiana: • São alterações no desenvolvimento da glândula tireoide; • Responsáveis por 60-70% das causas de hipotireoidismo congênito em áreas onde não há carência de iodo; • Mais comum em meninas, hispânicos, pacientes com síndrome de Down, portadores de doenças cardíacas congênitas e luxação congênita no quadril; • Compreende: - Ausência completa da tireoide (atireose); - Ausência parcial da tireoide (hemiagenesia); - Hipoplasia da glândula; - Defeito na migração das células tireóideas durante o período embriológico (ectopia). 02.Disormonogênese: • São erros inatos na formação dos hormônios tireoidianos; • Correspondem 10-15% dos casos de hipotireoidismo congênito; - É maior quando há consanguinidade. • Os defeitos podem ser classificados em: - Incapacidade de concentrar iodo; - Defeito na organificação do iodo por alteração da enzima TPO ou do sistema de água oxigenada; - Defeito na síntese e transporte da tireoglobulina; - Atividade diminuída da iodotirosina. HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO: 01. Carência de iodo: • Com a obrigatoriedade do sal iodado no Brasil, atualmente o hipotireoidismo causado por carência de iodo é raramente visto; - Nas áreas rurais, onde a ingestão de alimentos industrializados é menor, a insuficiência de iodo pode ser observada, Anna lillian canuto bittencourt mas sem causar hipotireoidismo grave até o momento. • OMS: o Brasil é considerado um país com excesso de iodo; • Em áreas de suficiência de iodo, a tireoidite autoimune é a causa mais comum de hipotireoidismo. 02. Tireoidite crônica autoimune (Tireoidite de Hashimoto): • Em adultos, é a causa mais frequente de hipotireoidismo em áreas com suficiência de iodo; • É uma doença autoimune assintomática nos primeiros meses ou anos de sua instalação; • Lentamente destrói o parênquima glandular, que resulta, na maioria dos casos, em falência tireoidiana progressiva; • Clinicamente, no momento do diagnóstico, o paciente pode estar: - Eutireoidiano (2/3 dos casos); - Franco hipotireoidismo (1/3); - Expressar sinais e sintomas de leve tireotoxicose (a chamada hashitoxicose). • Laboratorialmente, identifica-se o autoanticorpo anti-TPO (anti- tireoperoxidase), além de aumento do TSH; • O T4 livre pode estar alto, normal ou baixo, em função do estágio da doença. 03. Uso de substâncias: • Principalmente as que contêm grande quantidade de iodo em sua formação; • Substâncias que afetam a secreção dos hormônios tireoidianos: meios de contraste iodados, amiodarona, IFN-alfa, lítio; • Substâncias que inibem a secreção de TSH: glicorticoide, dopamina e dobutamina, agonistas dopaminérgicos, ácidos retinoicos. 04. Causas iatrogênicas: • Radioblação com iodo 131; • Tireoidectomia total; • Irradiação cervical. HIPOTIREOIDISMO CENTRAL: • É causado por doenças que acometem a secreção hipotalâmica de TRH (hormônio liberador de TSH), como craniofaringioma ou lesões granulomatosas; • Doenças que acometem a hipófise, como adenoma hipofisário, que diminui a secreção de TSH por destruição do tireotrofo; • As lesões que causam hipotireoidismo central também causam deficiência de outros hormônios secretados pela adeno- hipófise, principalmente o hormônio do crescimento (GH) e hormônio Anna lillian canuto bittencourt adrenocorticotrófico (ACTH) e também elevam a secreção de prolactina. Quadro clínico • Quanto maior a duração e a intensidade da carência hormonal, mais graves e numerosas serão as alterações; • Mudanças básicas que ocorrem na ausência do hormônio tireoidiano: - Lentificação generalizada dos processos metabólicos; - Acúmulo de glicosaminoglicanos no interstício de órgãos e tecidos. 01. Manifestações gerais: • Fadiga; • Lentificação da voz (que fica rouca) e dos movimentos; • Intolerância ao frio; • Ganho de peso, exceto obesidade mórbida; - É um ganho discreto devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos e água nos tecidos. • Apetite preservado. 02. Manifestações cutâneas: • Pele fria e pálida (redução local do fluxo sanguíneo); • Atrofia da camada celular da epiderme e hipertrofia da camada córnea (pele seca e quebradiça = hiperceratose); • Hipoidrose; • Cabelos e unhas secos e quebradiços; • Mixedema (casos graves = edema sem cacifo, principalmente periocular). 03. Manifestações hematológicas: • Tendência ao sangramento tipo “plaquetário”; • Anemia normocítica e normocrômica (hipoproliferativa); • Anemia megaloblástica em pacientes com gastrite atrófica associada (anemia perniciosa); • Anemia ferropriva em mulheres com menorragia (sangramento irregular). 04. Manifestações cardiovasculares: • Queda do débito cardíaco (baixo metabolismo = baixa demanda de oxigênio); • Bradicardia; • Hipocontratilidade (redução na síntese proteica miocárdica); Anna lillian canuto bittencourt • Hipercolesterolemia (menor expressõa do receptor de LDL, promovendo menor depuração do colesterol); • Hipertensão arterial sistêmica (aumento da resistência vascular periférica por deposição de glicosaminoglicanos na parede dos vasos, principalmente à custa da diastólica). 05. Manifestações respiratórias: • Rinite crônica;• Hipoventilação por miopatia da musculatura torácica, como dispneia aos esforços; • Apneia do sono (principalmente se houver macroglossia associada ao mixedema); • Derrame pleural. 06. Manifestações renais: • Redução da TFG, com discreto aumento da creatinina sérica; • Hiponatremia. 07. Manifestações gastrointestinais: • Constipação (Devido à hipoperistalse); - Se o paciente já era constipado, esse quadro agrava. • Hipogeusia (redução do paladar); • Ascite, mas é raro; • Há uma frequente associação entre hipotireoidismo e gastrite atrófica e doença celíaca. 08. Manifestações reprodutivas: • Redução da libido; • Disfunção erétil; • Ejaculação retardada e oligoespermia. 09. Manifestações neurológicas: • Déficit cognitivo; • Lentificação dos reflexos tendinosos profundos, como o de aquileu; • Ataxia cerebelar (alteração da marcha, coordenação motora e fala); • Síndrome do túnel do carpo (parestesia e dor na distribuição do nervo mediano – compressão pelo acúmulo de glicosaminoglicanos no punho); • Coma mixedematoso (raro, desencadeado por fatores precipitantes como trauma e infecções). 10.Manifestações musculoesqueléticas: • Artralgia; • Rigidez articular; • Mialgia; • Cãibra; • Aumento de CPK e fraqueza; Anna lillian canuto bittencourt • Maior incidência de hiperuricemia e gota. HIPOTIREOIDISMO NA INFÂNCIA • No hipotireoidismo congênito, poucos pacientes apresentam algum sinal ou sintoma que alerta o médico no período neonatal; - Isso é devido a passagem de razoáveis quantidades de T4 materno pela placenta, provendo níveis entre 25-50% do normal durante as primeiras semanas de vida; - Um dos sinais mais fidedignos encontrados a persistência da icterícia fisiológica. Anna lillian canuto bittencourt • Quando o paciente com hipotireoidismo grave não é tratado, ele apresenta um quadro clínico grave, caracterizado por: - Retardo mental (cretinismo); - Baixa estatura importante; - Macroglossia; - Hérnia umbilical; - Hipotonia; - Edemas generalizados; - Face típica de cretinismo. • O aparecimento de hipotireoidismo em crianças e adolescentes, com etiologia mais frequente sendo tireoidite de Hashimoto, causa atraso na velocidade de crescimento. Diagnóstico e exames complementares 01. Exames laboratoriais inespecíficos: • Pode cursar com anemia, sendo: - Normocítica/normocrômica: devido a hipoproliferação, já que existe um hipometabolismo generalizado; - Macrocítica: quando há gastrite atrófica e má absorção de B12 associada; - Microcítica/hipocrômica: devido a menorragia. • Apresentam com frequência dislipidemia, tanto por aumento de LDL quanto de triglicerídeos; • Devido à miopatia, pode haver elevação sérica de enzimas musculares, como CPK, aldolase, LDH e TGO; • O TRH quando muito elevado, devido à baixa concentração de T4, pode estimular a secreção de outros hormônios, além do TSH, como: - Prolactina; - Gonadotrofinas (FSH e LH). Anna lillian canuto bittencourt • Pode promover discreto aumento nos níveis de paratormônio (PTH) e vitamina D. 02. Hipotireoidismo primário: • Caracteriza-se por TSH elevado e T4 livre baixo; - O T3 também se encontra reduzido, mas não é habitualmente dosado. • Hipotireoidismo subclínico: num primeiro momento, ocorre elevação do TSH, com T4 livre normal; - Como a glândula é destruída aos poucos, a “reserva” tireoidiana é progressivamente requisitada, sendo necessário um nível relativamente mais alto de TSH para manter o T4 livre dentro da faixa normal. • É desnecessário dosar o T3 sérico, pois sua redução sempre sucede a do T4 livre. 03. Hipotireoidismo central: • O TSH encontra-se baixo ou inapropriadamente normal, enquanto que o T4 livre está sempre baixo; • Raramente o TSH está discretamente aumentado, devido à produção de uma molécula biologicamente inativa, porém imunologicamente ativa; • Após confirmação de hipotireoidismo de padrão central, é preciso realizar uma ressonância magnética da sela túrcica, para pesquisa de doenças que justifique, este achado (como tumor, lesão infiltrativa). 04. Anticorpos antitireoglobulina e antiperoxidase (TPO): • A presença dos autoanticorpos indica um processo autoimune; • Quase sempre é a tireoidite de Hashimoto. Tratamento • O objetivo do tratamento é manter o TSH dentro da faixa de normalidade, ou seja, entre 0,5 e 5,0 um/L; • O tratamento consiste na administração de dose única DIÁRIA de levotiroxina (T4); - De preferência pela manhã e com o estômago vazio (uma hora antes do café). Anna lillian canuto bittencourt • A levotiroxina tem meia-vida de sete dias, sendo, portanto, superior ao T3 para reposição, uma vez que ele tem meia- vida em torno de 24 horas; • A dose a ser administrada varia de acordo com o peso do paciente, idade e presença de comorbidades: Adulto jovem saudável 1,6 a 1,8 microgramas/kg/dia Pacientes > 60 anos Dose inicial menor de 50 microgramas/dia Cardiopatas grave Dose inicial de 12,5-25 microgramas/dia, com incremento de 12,5-25 microgramas a cada 2-3 semanas!!!! • Doses elevadas de levotiroxina em cardiopatas graves podem precipitar isquemia miocárdica, devido ao aumento do consumo miocárdico de oxigênio; • Quando o paciente tem TSH próximo ao limite superior da normalidade (0,5 e 5,0 mU/L), mas ainda assim apresenta sinais e sintomas compatíveis com hipotireoidismo, recomenda-se aumentar a dose de tiroxina de modo a manter o TSH na metade inferior da faixa de referência (entre 0,5 e 2,5); • Após iniciar o tratamento, deve-se dosar o TSH após 4-6 semanas; • No caso de hipotireoidismo central, o controle da dose de levotiroxina deve ser feito pelos níveis de T4 livre no sangue; • A levotiroxina é mais bem absorvida durante a noite, momento em que seria necessária uma dose menor do hormônio, porém, a administração noturna de levotiroxina pode causar insônia grave, devido ao pico plasmático que ocorre logo após a administração; - O medicamento é comumente prescrito pela manhã e em jejum (para reduzir a ligação às proteínas alimentares); - O ideal é que ela seja ingerida uma hora antes do café ou, quando isso não for possível, duas horas após a alimentação. • Efeitos adversos: sinais e sintomas de tireotoxicose, como taquicardia, palpitações, arritmias, elevação da pressão arterial e osteoporose; Anna lillian canuto bittencourt Referências BRENTA, Gabriela et al. Diretrizes clínicas práticas para o manejo do hipotiroidismo. Arq Bras Endocrinol Metab, v. 57, n. 4, p. 265-99, 2013. MEDCURSO. ENDOCRIONOLOGIA – Doenças da tireoide. vol. 1, 2019. WAJCHENBERG, Bernardo Leo; LERARIO, Antonio Carlos; BETTI, Roberto. Tratado de endocrinologia clínica . Grupo Gen-AC Farmacêutica, 2000.
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