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Determinação Sexual A determinação sexual é o processo biológico através do qual será estabelecido o desenvolvimento de características sexuais masculinas ou femininas em um indivíduo. Trata- se de um processo complexo e que envolve muitos genes. Os cromossomos sexuais desempenham um papel determinante na especificação sexual primária, isto é, na definição das gônadas masculina ou feminina. Apesar de muitos desses genes se encontrarem nos cromossomos sexuais, alguns deles estão contidos também em cromossomos autossômicos. Portanto, no processo de diferenciação sexual estão envolvidos cromossomos sexuais e, também, cromossomos autossômicos. O sexo cromossômico (genético) determina sexo gonadal, e o sexo gonadal, por sua vez, determina sexo fenotípico. Se um testículo se desenvolve, o trato urogenital torna-se masculino em caráter, e se um ovário (ou nenhuma gônada) está presente, o trato urogenital é feminino em caráter. Então, em essência, existem três processos sequenciais, mas interdependentes: ● Estabelecimento de sexo cromossômico (genético) na fertilização, com XY como masculino típico e XX como feminino típico. Durante as primeiras seis semanas de gestação humana, os dois principais sexos se desenvolvem de forma aparentemente idêntica não binária, decorrente de uma origem comum, universal e pluripotente. ●Determinação do sexo gonadal com o desenvolvimento da gônada indiferente e sua subsequente diferenciação em um ovário ou um testículo, começando por volta da semana 6, seguida pela secreção de hormônios pelos testículos fetais. O ovário fetal é aparentemente hormonalmente silencioso. ●Desenvolvimento de fenótipos sexuais quando o trato urogenital se desenvolve em estruturas típicas masculinas ou femininas. Este processo é em grande parte concluído na semana 12ª semana no sexo masculino e um pouco mais tarde no feminino. ASPECTOS ANATÔMICOS Trato urogenital interno — Os tratos urogenitais internos surgem de gônados sexualmente indiferentes inicialmente não binários e dois conjuntos de dutos, os dutos de Wolff e de Muller, que estão presentes em embriões precoces, independentemente do sexo cromossômico. Nas fêmeas, os ductos de Muller dão origem aos tubos de falópio, útero e vagina superior, e os ductos de Wolff persistem em forma vestigial. No sexo masculino, os ductos de Wolff dão origem aos epidídimos, ductos deferentes, vesículas seminal e dutos ejaculatórios, e os ductos de Muller regridem. Genitália externa — A genitália externa nos sexos se desenvolve a partir de uma gônada bipotencial comum: o tubérculo genital, os inchaços genitais e as dobras genitais. ●No desenvolvimento feminino típico, o tubérculo genital torna-se o clitóris, os inchaços genitais tornam-se os grandes lábios, e as dobras genitais tornam-se os pequenos lábios. ●No desenvolvimento masculino típico, os inchaços genitais se fundem para se tornar o escroto, e as dobras genitais alongam e se fundem para formar o eixo do pênis e da uretra peniana, que termina no pênis glande formado a partir do tubérculo genital. Os botões prostáticos desenvolvem-se na parede da uretra proximal e alongam e arborizam para formar a próstata. A descida testicular ocorre na última parte da gestação. CROMOSSOMO Y Em comparação com autossomos e com o cromossomo X, o cromossomo Y é relativamente pobre em genes (contém apenas cerca de 50 genes). Mesmo assim, esses genes são responsáveis por funções de alta proporção, relacionadas ao desenvolvimento gonadal e genital. A chave para o dimorfismo sexual é o cromossomo Y. Grande parte dessa importância do cromossomo Y na determinação sexual vem do fato de ele conter o gene SRY, o gene determinante de testículos. O gene SRY (do inglês, Sex-Determining Region on the Y, ou seja, região determinante do sexo no Y) encontra-se no braço curto do cromossomo Y (Yp11), próximo à fronteira pseudoautossômica. Ele se expressa apenas brevemente no início do desenvolvimento, imediatamente antes da diferenciação dos testículos, nas células do cordão germinativo. Esse gene codifica a proteína SRY, uma proteína ligada ao DNA, que age como um fator de transcrição. Esse fator de transcrição, por sua vez, é responsável por iniciar uma cascata de ativação de outros genes, que determinarão o destino dos órgãos sexuais rudimentares. Se a proteína SRY está ausente, se estabelece o desenvolvimento feminino, enquanto sob a sua influência, ocorre o desenvolvimento masculino. A determinação sexual é um processo que ocorre em cascata, isto é, envolve diversos fatores, que são ativados e regulados uns pelos outros, sequencialmente. Essa cascata de regulação gênica leva a mudanças bioquímicas, fisiológicas e anatômicas. Dentre essa cascata de genes, destacam-se os genes DAX1, o SOX9, e o AZF. No cromossomo Y, além do importantíssimo SRY, temos o gene AZF. Ele está envolvido, principalmente, na espermatogênese. Deleções ou mutações na região desse gene estão intimamente ligadas à azoospermia (nenhum esperma detectado no sêmen) não-obstrutiva. OUTROS CROMOSSOMOS Genes importantes dessa cascata de regulação gênica que determina o desenvolvimento sexual são encontrados em outros cromossomos além do Y, como no cromossomo X e em cromossomos autossômicos. O gene DAX é um desses genes importantes da cascata. Ele localiza-se no braço curto do cromossomo X. Ele codifica um receptor nuclear que regula, por sua vez, a transcrição de outros receptores, entre eles, do SF-1. Além disso, o gene DAX também age como um gene anti-testículo, por agir de forma antagonista ao SRY. Ainda, o DAX1 tem um papel importante no desenvolvimento normal de vários tecidos produtores de hormônios, como a glândula adrenal, a hipófise e o hipotálamo. Também participa da regulação da produção hormonal nesses tecidos, depois de formados. Mutações nesse gene estão associadas à hipoplasia congênita de adrenal. O gene SF-1, localizado na porção mais distal do braço longo do cromossomo 9, codifica o fator esteroidogênico, outro fator de transcrição envolvido na determinação do sexo. Ele controla a atividade de genes relacionados às gônadas e à glândula adrenal, genes envolvidos, portanto, na biossíntese de esteroides. O gene SOX9 é ativado pelo SRY. Localiza-se no braço longo do cromossomo 17. Juntamente com o SF-1, ele age na regulação da transcrição do hormônio anti-mulleriano (AMH). Atua estimulando a produção desse hormônio pelas células de Sertoli, a fim de inibir o desenvolvimento sexual feminino. DESEVOLVIMENTO DO FENÓTIPO MASCULINO O sexo gonadal é traduzido para o sexo fenotípico masculino principalmente pela secreção de três hormônios dos testículos fetais: hormônio anti- mülleriano (AMH, também chamado de hormônio inibidor de mlleriano [MIH] e substância inibidora de mülleriano [MIS]), testosterona e dihidrotestosterona. O efeito líquido desses hormônios é a regressão dos ductos de Muller e a promoção do desenvolvimento do trato urogenital masculino típico e aparência genital externa. As células germinativas primordiais, por sucessivas mitoses, dão origem às espermatogônias. Elas se alojam nas paredes dos túbulos seminíferos, onde permanecem juntas com as células de Sertoli, de sustentação. Enquanto a testosterona, produzidas pelas células de Leydig, estimula os ductos mesonéfricos a formar os ductos genitais masculinos, as células de Sertoli produzem a substância inibidora mülleriana (MIS), um hormônio que suprime a formação dos ductos paramesonéfricos. Além da virilização dos dutos de Wolff durante a embriogênese, o complexo testosterona-receptor desempenha um papel na regulação do feedback da secreção do hormônio luteinizador (LH) pela pituitária e o componente andrógeno dependente da espermatogênese. A formação de dihidrotestosterona serve como um mecanismo de amplificação para a ação andrógena. Ele se liga ao receptorcom maior afinidade e ativa genes repórteres in vitro de forma mais eficiente do que a testosterona. DESENVOLVIMENTO DO FENÓTIPO FEMININO Na ausência do cromossomo Y e, portanto, do fator testículo-determinante, o desenvolvimento embrionário segue a rota de formação de ovários, a partir da oitava semana. As ovogônias começam a se desenvolverem em folículos, até que, por volta do terceiro mês de gestação, entram na meiose I. Contudo, o pro cesso de meiose é parado em dictióteno e assim permanece até a ovulação, que ocorrerá muitos anos depois. Na presença de estrogênio e na ausência da testosterona e do hormônio antimülleriano (nas mulheres ou em embriões com gônadas ausentes), os ductos mesonéfricos regridem, enquanto os ductos paramesonéfricos se desenvolvem no sistema de ductos femininos. A formação de ductos geralmente está completa por volta do terceiro mês de gestação. Da mesma forma, na ausência de testículos, a genitália externa feminina é formada. Isso ocorre mesmo que o ovário não esteja presente, evidenciando que a formação das características sexuais femininas depende apenas da ausência dos fenômenos desencadeados por genes do cromossomo Y. CLASSIFICAÇÃO DAS ANOMALIAS DA DETERMINAÇÃO SEXUAL São classificados como portadores de sexo reverso os pacientes nos quais o sexo genético, determinado pela presença ou ausência do cromossomo Y, não corresponde ao sexo gonadal. Neste grupo de pacientes estão incluídos aqueles com cariótipo 46, XX e desenvolvimento de gônada masculina (homens XX e hermafroditas verdadeiros 46, XX) e os pacientes com cariótipo 46, XY e presença de gônadas disgenéticas ou ausência de desenvolvimento gonadal (disgenesia gonadal completa (DGC), disgenesia gonadal parcial (DGP) e síndrome da regressão testicular embrionária). INTERAÇÃO DOS GENES ENVOLVIDOS NA DETERMINAÇÃO SEXUAL Vários genes localizados nos cromossomos sexuais e autossomos participam dos processos de determinação sexual. Uma complexa cascata gênica é formada por uma série de genes que interagem em fases restritas ou em diferentes momentos do desenvolvimento do tecido gonadal. Alterações nos mecanismos de ação e nas interações gênicas dão origem a diferentes graus de anormalidades no desenvolvimento gonadal, que resultam na formação de gônadas disgenéticas ou em agenesia gonadal. Anormalidades na dosagem dos genes envolvidos na determinação sexual, seja por insuficiência ou por excesso de expressão gênica, são também identificadas nos portadores de sexo reverso 46, XX e 46, XY. SÍNDROME DE INSENSIBILIDADE AOS ANDRÓGENOS O problema reside no receptor de andrógenos, uma proteína presente nas células de alguns tecidos, que ou não existe ou tem uma estrutura anômala que impede que se ligue com o andrógeno. O resultado é que o organismo não responde ao efeito masculinizante do hormônio testoterona, ou seja, apesar de o testículo a fabricar, é ineficaz Além disso, dentro da SIA há graus, o que multiplica a diversidade: Há a forma chamada completa (CAIS, em sua sigla em inglês), na qual não existe nenhuma resposta à testosterona, dando lugar a genitais externos femininos e desenvolvimento completamente feminino, mas na qual não existem ovários e também não costuma haver útero; e a forma parcial (PAIS, em sua sigla em inglês), na qual há alguma resposta à testosterona mas sem chegar a alcançar um aspecto totalmente masculino, e aqui ocorrem todos os graus possíveis: pode ser um homem com características masculinas, mas infértil, uma menina com genitais ambíguos ou um homem que desenvolve um pouco a glândula mamária. A incidência de síndrome completa de insensibilidade andrógena (CAIS) pode ser de até 1 em 20.000. Em um estudo, foi a terceira causa mais frequente de amenorreia primária (após gênese gonadal e ausência congênita da vagina). A CAIS frequentemente se apresenta em uma adolescente ou jovem mulher adulta que descobriu ter pouco ou nenhum pelo axilar e púbico. A apresentação clínica também pode ser ao nascer ou durante a infância para massas inguinais (contendo testículos) ou hérnias em uma criança do sexo feminino saudável. Mais recentemente, recém-nascidos do sexo feminino foram diagnosticados com CAIS quando a cariotipagem pré-natal identificou um cariótipo de 46, XY. Os lábios e o clitóris são inequívocos, e a vagina é um final curto e cego. Outras características incluem testículos de aparecimento normal, útero ausente e um cariótipo de 46 XY. No recém-nascido e no bebê, o diagnóstico laboratorial é bastante difícil. Os níveis hormonais são menos sugestivos de resistência quando os pacientes apresentam na infância. O hormônio luteinizante (LH) e os níveis basais de testosterona podem ser baixos, e a testosterona só aumenta após a estimulação com gonadotropina coriônica humana exógena. Os testículos podem estar localizados no abdômen, nos canais inguinais ou nos lábios maiores e ter a aparência histológica de testículos não diminuídos com um número normal ou aumentado de células Leydig e sem espermatogênese. O trato urogenital é caracterizado pela ausência ou quase ausência de estruturas müllerianas; raramente, remanescentes uterinos estão presentes. epidídimo e ductos deferentes geralmente estão ausentes, mas em um estudo, os epidídimo e ductos deferentes foram identificados histologicamente adjacentes aos testículos em 10 das 33 crianças afetadas (idade média de seis anos)
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