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Gastroped - Dor abdominal

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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Dor abdominal crônica (DAC) ou dor 
abdominal recorrente 
Introdução 
• Comum na infância e adolescência. 
• Grande número de atendimentos ambulatoriais e 
de emergência; 
• Prevalência desconhecida (0,5% - 19%) a depender 
da idade e a definição; 
• Picos de ocorrência: 4-6 anos/7-12 anos. 
 
• DAC (>3 meses) geralmente é funcional: sem 
doença orgânica associada; Ou seja, a maioria dos 
pacientes não tem nenhuma lesão nem inflamação 
que justifique aquela dor. Então, depois a criança 
melhora e não vai sofrer tanto. 
• Difícil compreensão e recorrência: ansiedade nos 
envolvidos; Os pais, geralmente, chegam 
estressados, porque a dor atrapalha a dinâmica 
familiar, fazendo com que eles até faltem o trabalho 
pra cuidar da criança em casa. Importante acalmá-
los e explicar que a dor provavelmente é funcional. 
• Grupo heterogêneo: etiologia, fisiopatologia, 
sintomas e abordagem variadas. 
Vale lembrar que essas dores têm uma tendência de 
reincidência e às vezes acontece com frequência 
elevada. Não se sabe ao certo o mecanismo exato que 
gera a dor abdominal funcional, então explicar isso aos 
pais não é fácil. 
As dores abdominais recorrentes, apesar de mais de 
90% serem funcionais, podem ter causas orgânicas que 
variam bastante conforme diagnósticos, etiologia, 
tratamento. 
Definição 
• Primeiro conceito de DAC (Apley – 1958); 
❖ 3 ou mais episódios de dor abdominal; 
❖ Intensidade suficiente para interromper as 
atividades habituais; 
❖ Período superior a 3 meses. 
3 ou mais episódios em um período superior a 3 meses. 
Não é nos últimos 3 meses. 
Então, não adianta dizer que ¨teve uma dor de 1 minuto 
há uns 4 meses atrás e o menino continuou brincando¨. 
Isso não é dor recorrente!!! Tem que ter certa cautela, 
porque todo mundo tem dor uma vez na vida. 
AAP E NASPGHAN – subgrupos 
Academia Americana e Norte Americana de pediatria: 
• Dor abdominal crônica (DAC) – longa duração (> 
três meses), padrão contínuo ou intermitente; 
Quando olhamos ROMA IV, tem que ter pelo menos 4 
dias por mês de episódio – por pelo menos 2 meses. As 
definições clássicas são pelo menos 3 meses. 
• Dor abdominal orgânica (DAO) – associada a causa 
anatômica, inflamatória ou dano tecidual (5-10%); 
• Dor abdominal funcional (DAF) – ausência de causa 
anatômica, inflamatória ou dano tecidual (sem 
alterações macro ou microscópicas). 
90-95% são por causa funcional e 5-10% de causa 
orgânica por alguma inflamação, dano tecidual e pode 
ser dano microscópico e/ou macroscópico. 
• Desordens gastrointestinais funcionais (DGIFs) 
ROMA IV: 
❖ Dispepsia funcional; 
❖ Síndrome do intestino irritável; 
❖ Enxaqueca abdominal; 
❖ Dor abdominal funcional sem outra especificação. 
Às vezes, no primeiro momento, não é possível classificar 
nos 3 primeiros. Então, espera-se um pouco, reavalia e 
depois coloca como dor abdominal funcional. 
A principal causa de dor abdominal é funcional! Logo, 
dor abdominal funcional não é critério de exclusão. 
Então, se chega uma criança para vocês com dor 
abdominal, com boa anamnese e bom exame físico, sem 
sinal de alarme para doença de causa orgânica, a dor 
abdominal funcional entra como primeira hipótese 
diagnóstica. Não é para fazer como antigamente “exclui 
tudo e se não achar nada é funcional” – NÃO! A dor 
abdominal funcional tem que ser a primeira opção, se 
não tiver sinal de alarme nem outra doença que 
justifique o estado clínico da criança. 
Importante: Na avaliação diagnóstica da criança, a dor 
abdominal funcional por regra não precisaria de 
nenhum exame. Mas, uma avaliação básica é 
interessante (principalmente parasitose) por alta 
prevalência aqui no meio. Não tem estudo para dizer que 
no brasil a dor de parasitose é x e a funcional é y. De 
modo geral, o que predomina é dor abdominal funcional. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Fisiopatologia 
• Causa orgânica: lesão ou dano tissular (inflamação 
ou obstrução); 
• Funcionais: mecanismo complexo, multifatorial, não 
esclarecido; 
Se eu falo que a criança não tem lesão orgânica ou 
inflamação, por que que ela sente dor? 
➢ Eixo cérebro-intestino; 
Ex. algumas crianças, às vezes, fazem quadros 
infecciosos intestinais, particularmente por rotavírus. 
Esse processo inflamatório mínimo, que não é o 
principal da fisiopatologia, ou às vezes uma alteração 
de microbiota, faz com que ocorra uma alteração de 
regulação do eixo cérebro-intestino e a criança passa 
a ter uma maior hiperalgesia visceral, ou seja, uma 
menor percepção de estímulo doloroso, de estímulo que 
são enviados ao cérebro. 
Uma criança que diz que comeu um feijão, tem uma 
distensão mas não sente nada. Outra criança, que tem 
um distúrbio funcional, come um feijão e tem uma 
distensão que provoca uma dor muito intensa, 
justamente porque ela tem um menor limiar de 
percepção de dor que é enviado ao cérebro. Se essa 
criança tiver uma predisposição genética é pior. Se tiver 
fatores psicológicos que influencie nesse eixo cérebro-
intestino, o limiar de percepção de dor é pior ainda. 
Então, uma soma de fatores que vão levando uma 
hiperalgesia visceral. 
➢ Mecanismos de forma isolada ou associada. 
❖ Hiperalgesia (ou alodinia) visceral: menor limiar de 
percepção dos sinais do TGI enviado ao cérebro. 
➢ Distúrbios na motilidade; 
As vezes também a alteração no eixo cérebro-intestino 
desregula a motilidade, podendo levar a constipação, 
diarreia, produção de muco. Mas não é para ter 
nenhuma lesão orgânica, inflamatória, nenhum dano 
tissular que justifique o eixo cérebro-intestino sendo 
modulado por alguns fatores levando a alterações e a 
sensação de dor pela criança. 
➢ Inflamação de pouca intensidade; 
❖ Predisposição genética. 
O que se sabe é que a predisposição genética influencia, 
ou seja, pai que tenha síndrome do intestino irritável, 
as questões de microbiota alterada também 
influenciam nessa regulação. A questão do 
comportamento da criança. 
❖ Alterações na composição da microbiota intestinal 
(pós infecções bacterianas ou rotavírus); 
❖ Perfil psicológico da criança e estresse ambiental: 
quadro e evolução. 
Dedicar uma parte da anamnese para ver os aspectos 
psicossociais da criança, questões relacionadas com o 
estudo, a escola, a questão da dinâmica familiar. 
Essas crianças com alterações emocionais têm quadros 
mais proeminentes de dor funcional e a evolução às 
vezes não é tão boa em termos de terapêutica. É 
preciso avaliar muito e sempre perguntar por essas 
questões. Prestar atenção naquela criança muito 
agitada ou agressiva na consulta. 
Bullying é algo importantíssimo de se perguntar. 
Quando é adolescente, é possível dedicar uns minutos 
da consulta para conversar sozinho com o paciente, o 
que não é possível com criança menor. 
➢ Maior frequência de ansiedade, depressão e baixa 
autoestima; 
➢ Associação com eventos estressantes: desordens 
familiares, hospitalização, ¨bullying¨ e abuso. 
Diagnóstico 
• Desafio diagnóstico: principalmente no primeiro 
momento. 
• Diagnóstico diferencial: orgânica X funcional; 
• História clínica detalhada: 90-95% da consulta da 
criança com dor abdominal é anamnese. Os outros 
5-10% será dedicado para fazer a conduta 
terapêutica e diagnóstica para aquela criança. 
• Sinais e sintomas de alerta para doença orgânica: 
Importantíssimo! 
• Exame físico: busca por algum sinal que indique 
doença de causa orgânica. Tem que ser super 
completo, ̈ dos pés à cabeça¨ da criança. Não é pra 
avaliar só o abdômen! Tem que olhar saturação, 
mucosa, cavidade oral, pele. Tem algumas doenças 
da pele que são super características de doenças 
gastrointestinais. 
• Exames complementares: está em último porque se 
a maior parte da dor abdominal é distúrbio funcional, 
não haverá nada de alteração de exame. Então, não 
é preciso, num primeiromomento, pedir exame 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
para a criança, porque não vai mudar a suspeita 
diagnóstica. 
É importante explicar para os pais que o distúrbio 
funcional não quer dizer que a criança não tem nada. 
Ela tem alguma coisa, mas é alguma coisa que não tem 
lesão orgânica por trás. É só algo de desregulação 
mesmo - motilidade, sensibilidade visceral. 
Anamnese 
• Características da dor: localização, intensidade, 
frequência, periodicidade, relação com alimentação, 
dor noturna, interferência com as atividades 
habituais. 
FUNCIONAL 
❖ Periumbilical ou epigástrica/raramente irradia: é 
mais em linha média. 
❖ Duração: minutos a horas/intercalados por 
períodos de bem estar: muitas vezes, essas dores 
são aliviadas de forma espontânea, podendo ficar 
por até dias e voltar a sentir novamente. 
❖ Ocorrem durante o dia: Não geram despertar 
noturno. 
❖ Intensidade variável (classificar de 0 a 10 ou fazer 
a escala de carinha-emoctions): choro e interrupção 
das atividades habituais; É importante ressaltar 
que dor abdominal funcional não é uma dor fraca. 
A intensidade da dor não diferencia entre 
funcional ou orgânica. Pode-se ter dores intensas 
em distúrbios funcionais ou dores mais fracas em 
distúrbios orgânicos. Contudo, é essencial que se 
identifique a intensidade, a frequência (se há 
associação com os critérios de Roma IV), fatores de 
piora ou melhora (como o leite → intolerância a 
lactose). 
❖ Pode ter associação com sintomas neurovegetativos: 
palidez, sudorese, náuseas e vômitos; 
 
❖ Dor noturna (quando há despertar noturno por 
conta da dor) ou interrompe atividades 
prazerosas: orgânicas. Uma doença de causa 
orgânica, uma inflamação, acontece o dia todo e a 
criança pode apresentar dores constantes e 
acordar com dor. 
Uma criança com distúrbio funcional apresenta a 
regulação pelo eixo cérebro-intestino, com fatores 
estressantes, psicológicos. Então, quando a criança 
dorme, os fatores de estresse desencadeantes não se 
ativam e, por isso, não acorda com dor. 
Tanto dores funcionais como orgânicas podem 
interferir nas atividades habituais, como comer, 
assistir televisão. O que se deve tentar identificar? 
Deve-se observar se as atividades que a criança mais 
gosta de realizar são impedidas pela dor. Por exemplo, 
a criança adora brincar de casinha, mas quando alguém 
interrompe a atividade, a criança se estressa e começa 
a sentir dor. Ou seja, doença orgânica interrompe 
atividade prazerosas, já as doenças funcionais não, pois 
ao se fazer uma atividade prazerosa, o eixo cérebro-
intestino também está sendo “camuflado”; a lógica é 
parecida com a terapia cognitivo-comportamental, onde 
o foco da dor está sendo deslocado para outras coisas 
mais prazerosas. 
Lembrete: se tiver despertar noturno ou interrupção 
de atividades prazerosas → pensar em causas 
orgânicas. 
• Sintomas associados: devem ser observados na 
anamnese - pirose, saciedade precoce, empachamento 
pós-prandial, náuseas, vômitos (a criança pode ter 
vômito durante a dor, como sintoma neurovegetativo, 
mas nos episódios sem dor, a criança não tem vômito. 
Se tiver, deve-se ficar aleta), diarreia, constipação, 
tenesmo, sangramentos digestivos, icterícia. 
• Sinais/sintomas de outros sistemas: sintomas 
urinários, cefaleia, sonolência após as crises de dor, 
artralgias, artrites, tosse crônica, asma, respiração 
bucal; 
• Medicações em uso ou utilizadas: medicações que 
podem levar a lesão de mucosa gástrica - antibióticos, 
AINES, corticoesteroides. 
O inquérito alimentar é de suma importância, pois 
muitas vezes a alimentação é ruim, cheio de produtos 
que levam a fermentação, que irritam a mucosa 
gástrica e acabam sendo deflagradores, às vezes, em 
crianças que já tem uma hiperalgesia visceral. Então, 
deve-se perguntar se ingere muito leite e produtos 
lácteos (mesmo que a criança não tenha intolerância 
a lactose, se a alimentação for ricamente láctea, esse 
indivíduo vai ter distensão, diarreia osmótica, entre 
outros sintomas), sucos naturais e artificiais, bebidas 
gaseificadas, balas e chicletes, irritantes gástricos 
(alimentos industrializados, condimentos picantes), 
conteúdo de fibra na dieta. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
História familiar: deve ser voltada para doenças do 
TGI. Ex. doença ulcerosa, doença celíaca, doença 
inflamatória, doenças autoimunes; Questionar algum 
distúrbio funcional dos pais - enxaquecas, quadros 
depressivos, ansiosos, casos de tuberculose na 
família, alergias. 
Antecedentes médicos: é importante focar na parte de 
quadros infecciosos recentes, uso de antibióticos ou 
outro medicamento recentemente, trauma abdominal 
(em emergências é comum a criança com dor abdominal 
que sofreu alguma agressão na região da barriga e não 
relatou aos pais), intervenção cirúrgica prévia 
(pensando em possibilidade de brida cirúrgica e 
constipação). Por fim, mas não menos importante, 
observar o perfil psicológico e comportamental da 
criança (muitas sofrem de ansiedade). Deve-se focar 
bastante na possibilidade de bullying, na dinâmica 
familiar, na ansiedade e no humor da criança. 
Sinais de alarme para causa orgânica 
❖ História familiar de DII, doença celíaca ou 
péptica; 
❖ Dor persistente em QS ou QI direito (distante da 
região mesogástrica): Quanto mais afastado da 
linha mesogástrica, menor a chance de ser funcional. 
❖ Disfagia/odinofagia/lesões orais; 
❖ Vômitos persistentes: presença de vômitos fora do 
episódio de dor. 
❖ Sangramento TGI altos ou baixos: Hematêmese, 
melena, hematoquezia, enterorragia. 
❖ Anemia; 
❖ Doença perianal: abcessos, fístulas. 
❖ Avaliação antropométrica: Perda ponderal 
involuntária; desaceleração do crescimento linear; 
❖ Atraso da puberdade: realizar o estadiamento de 
Tanner. 
❖ Febre sem explicação: pensar em doença 
inflamatória, tuberculose intestinal. 
❖ Diarreia de repetição/dor noturna; 
❖ Artrites/artralgias: pensar - doença inflamatória. 
Exame físico 
• Avaliação antropométrica; 
❖ Peso, estatura, velocidade de crescimento; 
❖ Estágio puberal: em adolescente, deve-se pedir 
permissão para avaliar. Se não houver autorização, 
pede-se para ele classifique na tabela. 
❖ Exame abdominal detalhado: localização da dor, 
massas (ex. fezes em fossa ilíaca esquerda), 
fígado, baço (buscar esplenomegalia), loja renal 
(buscar aumento que sugira doença cística ou um 
sinal de Giordano); 
❖ Avaliação perianal (buscar abcesso, fístula, lesão 
estranha) e toque retal (pensando em causa 
orgânica/doença inflamatória). 
Exames complementares 
• Se não tiver sinais de alarme, exames são 
desnecessários: Lembrar – a causa mais comum de 
dor abdominal crônica na pediatria é funcional. 
Ex. uma criança que chega ao consultório que é 
acompanhada por pediatra, realiza as avaliações de 
rotina todo ano, com tudo normal, sem alterações na 
anamnese e exame físico, nenhum sinal de alarme → 
não é necessário realizar exames. 
Porém, nesses casos, se a criança não tem nenhum 
exame recente, pode-se solicitar exames laboratoriais 
básicos; possibilidade de triagem para doença celíaca 
(não obrigatório). 
Exemplo - criança com erro alimentar e ansiedade, sem 
sinais de alarme → não é necessário, em primeiro 
momento, que se realize a sorologia para doença celíaca. 
Em pacientes com dor abdominal não há indicação de 
USG de rotina, apenas se estiver pensando em causas 
orgânicas (ex. afastar doenças de via biliar, fígado, 
vesícula, pâncreas, até mesmo um espessamento de 
alças intestinais). 
• Avaliação laboratorial básica: HMG (hemograma) 
EAS (urina) e EPF (fezes); 
• Avaliar solicitação: VHS, PCR, função tireoidiana, 
amilase e lipase; 
• Sorologia para doença celíaca (ROMA IV): IgA 
total e antitransglutaminase/anti-TTG. Não é 
obrigatório. 
• Melhora dos sintomas com a exclusão dalactose: 
má absorção; 
• Exames de imagem (Ex. USG): somente se 
evidências clínicas de causa orgânica. 
 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Diagnóstico dos distúrbios funcionais 
• Distúrbios funcionais como primeira hipótese e não 
diagnóstico de exclusão; 
• ROMA IV. 
❖ Sem alteração ao exame clínico e testes 
complementares: Não é necessário realizar 
exames, pois além de não acrescentar nada na 
suspeita diagnóstica, sabe-se que não se exclui 
outras causas para dar o diagnóstico de distúrbio 
funcional. 
❖ Preencher os critérios de ROMA IV para cada 
problema; 
❖ Sinais e sintomas não atribuídos a outra doença. 
Se preencher os critérios para distúrbio funcional, a 
hipótese diagnóstica é distúrbio funcional. Dentre eles, 
temos: dispepsia funcional; síndrome do intestino 
irritável; enxaqueca abdominal e dor abdominal 
funcional sem outra especificação. 
Dispepsia funcional 
• Um ou mais dos sintomas ao menos 4 dias por mês. 
❖ Plenitude pós-prandial; 
❖ Saciedade precoce; 
❖ Dor epigástrica que não se associa à defecação; 
❖ Os sintomas não podem ser plenamente explicados 
por outra doença. 
Pode ser em intervalos variáveis e pelo menos 2 meses 
antes do diagnóstico. 
* Na SII, há melhora da dor com evacuação ou flatos. 
Então, se há dor epigástrica e alívio ao defecar, não se 
classifica mais como dispepsia funcional e sim como 
provável SII. 
1. Síndrome de dificuldade pós prandial: desconforto 
da plenitude pós-prandial ou saciedade precoce que 
impede o término da refeição regular. 
Critérios de suporte incluem distensão abdominal 
superior, náusea pós-prandial ou eructações 
excessivas. 
Nesse quadro, justifica-se o eixo cérebro-intestino, 
desencadeado por alguns fatores; deixa a motilidade do 
TGI mais reduzida/lenta. Então, o paciente fica 
empachado, com saciedade precoce, com ¨estômago 
alto¨. 
 
2. Síndrome de dor epigástrica: dor ou queimação 
epigástrica (pode interferir com as atividades). 
❖ Dor não generalizada e sem localização em outra 
parte do abdômen ou tórax; 
❖ Dor não é aliviada pela evacuação ou eliminação 
de flatos. 
Critérios de suporte: (a) dor tipo queimação não 
retroesternal; ((b) dor induzida ou aliviada pela 
ingesta, mas pode ser em jejum. 
Alguns estudos mostram que talvez esse subgrupo se 
beneficiaria ao uso de IBPs, pois haveria mais secreção 
de HCL, mas não que justifique a alteração de uma 
pHmetria em esôfago (? Entendi nada). Em crianças 
maiores, quando lembramos de DRGE e não temos 
associação de sinais de alarme pode-se tratar, mas se 
tratar e não melhorar deve-se realizar EDA, e se a 
endoscopia estiver normal, não respondendo ao IBP, 
deve-se correlacionar os sintomas com episódios de 
refluxo, a pHmetria. Nesse caso, como os sintomas não 
se associam ao aumento de secreção de HCl na 
pHmetria tem-se uma causa funcional. Porém, não é 
preciso fazer pHmetria para diagnóstico de dispepsia. 
Dor epigástrica, que não se associa com evacuação e 
flatos, não retroesternal, por exemplo. Lembrando que 
se há associação com evacuação deve-se pensar em SII. 
o Apresentação com predomínio do desconforto, de 
dificuldade pós-prandial, ou um subtipo com dor 
epigástrica → subtipos de dispepsia funcional. 
Dispepsia func – diagnóstico diferencial 
• Doença péptica (DRGE, gastrite erosiva, úlcera 
gástrica ou duodenal); 
• Efeito colateral de medicamento; 
• Doença de Crohn; 
• Tuberculose; 
• Infecções parasitárias: às vezes, parasitoses não 
geram sinais de alarme, além da dor abdominal. 
Por isso, às vezes, vale a pena fazer na avaliação 
básica um parasitológico de fezes e até mesmo 
tratar. 
Sempre buscar sinais de parasitose. 
• Doença celíaca: acomete principalmente duodeno. 
• Colecistite crônica; 
• Pancreatite crônica. 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Síndrome do intestino irritável 
• Todos os critérios: 
1. Dor abdominal ao menos 4 dias por mês associada 
com um ou mais dos seguintes sintomas: 
❖ Relação com evacuação e/ou 
❖ Alteração na frequência das fezes e/ou 
❖ Alteração na aparência das fezes; 
Obs. Podem ocorrer esforço ou urgência pra defecar, 
sensação de evacuação incompleta do reto, passagem 
de muco (alterações na quantidade de muco) e distensão 
abdominal. 
2. Constipação: dor pode não resolver com a 
resolução da constipação. Sempre surge uma 
dúvida: É a constipação que causa a dor abdominal 
ou a criança tem dor abdominal e constipação? Ele 
pode ser um constipado funcional, que tem dor 
abdominal, e ao iniciar o tratamento com 
polietilenoglicol tem melhora da dor e da 
constipação, ou seja, a melhora da constipação 
levou a melhora da dor → criança com constipação 
funcional. Porém, pode acontecer da criança chegar 
com os mesmos sintomas, iniciar o mesmo 
tratamento, conseguir uma melhora na 
constipação, mas o quadro de dor abdominal 
persistir → já não é um quadro de constipação 
funcional; isso é uma síndrome do intestino irritável 
com padrão de constipação. 
3. Sintomas não podem ser plenamente explicados 
por outra condição médica. 
Ocorrer pelo menos 2 meses antes do diagnóstico. 
• Subtipos: 
❖ SII com constipação (dor abdominal e constipação); 
❖ SII com diarreia (diarreia intermitente); 
❖ SII com constipação e diarreia (alternando): 
padrão clássico de intestino irritável. 
❖ SII não especificada. 
Em pediatria esses subtipos não são tão 
característicos, pois ainda não existem estudos 
confiáveis pra dizer o qual que predomina, mas o que 
se deve ser chamado atenção. 
Constipação funcional x SII 
A diferenciação pode ser difícil. Em caso de dor 
abdominal e constipação, inicia-se o tratamento para 
constipação funcional; caso a dor desapareça → 
constipação funcional. 
SII – diagnóstico diferencial 
• Retocolite ulcerativa; 
• Doença de Crohn; 
• Doença celíaca; 
• Doenças infecciosas; 
• Infecções parasitárias; 
• Infecções bacterianas; 
• Intolerância à lactose. 
As mesmas patologias base dos demais distúrbios 
funcionais (qualquer alteração que cause constipação, 
dor abdominal e diarreia). 
CONTINUAÇÃO - SII 
❖ Resultante da modulação bidirecional: cérebro-
intestino; 
❖ Fluxo sanguíneo, motilidade, secreção e 
imunidade; 
❖ Regulada por agentes hormonais, neurais e 
imunológicos; 
❖ Alteração na hipersensibilidade visceral 
relacionada a eventos psicológicos (estresse, 
depressão); 
❖ Aumento da atividade inflamatória na mucosa (SII 
pós-infecciosa); 
❖ Alterações no microbioma intestinal. 
A SII é bastante estudada em termos de 
fisiopatologia-tratamento. É possível notar bastante o 
envolvimento da modulação bidirecional cérebro-
intestino com fatores psicológicos e emocionais 
bastante relacionados com nossa hipersensibilidade 
visceral, motilidade e secreção do intestino. 
Enxaqueca abdominal 
• É uma condição nova, porém com um aumento na 
frequência (está se diagnosticando cada vez mais): 
em torno de 4% da população com dor abdominal 
tem enxaqueca abdominal; 
• Semelhante a uma crise de enxaqueca 
convencional: Dor abdominal de forte intensidade 
em crises; 
• Sintomas prodrômicos: mudança de comportamento 
e humor, fotofobia e sintomas vasomotores; 
• Alívio dos sintomas com o uso de medicamentos 
para prevenção de enxaqueca: reforço diagnóstico; 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
• Fatores desencadeantes: mesmos que o da 
enxaqueca comum: estresse, fadiga e obesidade; 
alimentos como chocolate (75%), queijo (48%), 
frutas cítricas (30%) e bebidas alcóolicas (25%). 
Pensa-se em enxaqueca abdominal ao ser preenchido 
todos os seguintes sintomas, ocorrendo ao menos dois 
episódios de dor por no mínimo 6 meses: 
1. Episódios paroxísticos de dor abdominal intensa, 
aguda e periumbilical, na linha média ou difusa, 
durando 1 hora ou mais (deve ser o sintoma mais 
grave e aflitivo); 
2. Episódiosintercalados por semanas ou meses; 
3. Dor é incapacitante e interfere com as atividades 
normais; 
4. Padrões estereotipados e sintomas 
individualizados para cada paciente. 
5. Dor associada a dois ou mais seguintes sintomas: 
anorexia, náusea, vômito, cefaleia, fotofobia, 
palidez; 
6. Os sintomas não podem ser plenamente explicados 
por outra condição médica. 
Dor abdominal funcional 
sem outra especificação 
Quando não se consegue classificar essa criança como 
SII e enxaqueca abdominal, o profissional dirá que o 
paciente tem uma dor abdominal funcional sem outra 
especificação. 
• Todos os seguintes sintomas ao menos 4X por mês. 
1. Dor abdominal episódica ou contínua que não 
ocorre exclusivamente durante eventos fisiológicos 
(ex. alimentação, menstruação, dismenorreia); 
2. Critérios insuficientes para outros distúrbios 
funcionais; 
3. A dor abdominal não pode ser plenamente 
explicada por outra condição médica. 
Ocorrer por pelos menos 2 meses antes do 
diagnóstico. 
Não consigo encaixar em nenhum distúrbio funcional + 
tem pelo menos 4 episódios por pelo menos 2 meses: 
dor abdominal funcional sem outra especificação. 
Diagnóstico diferencial 
• Doença de Crohn; 
• Má rotação com ou sem volvo; 
• Invaginação intestinal de repetição; 
• Aderências pós-cirúrgicas; 
• Linfoma de intestino delgado; 
• Tuberculose intestinal; 
• Parasitoses intestinais; 
• Desordens do trato urinários; 
• Dismenorreia. 
Os mesmos citados anteriormente; Chama atenção para 
os distúrbios do trato urinário e menstruais. Tem 
também linfoma e outras causas de abdome agudo 
cirúrgico. 
A criança chega com dor e o médico pergunta onde dói e 
a criança aponta para o umbigo; é a forma mais fácil 
de diagnosticar dor abdominal funcional sem outra 
especificação. 
Tratamento 
• Causa orgânica: terapêutica específica; 
• Funcionais: 
❖ Abordagens dietéticas; 
❖ Terapias farmacológicas; 
❖ Suporte psicológico; 
❖ Terapias suplementares; 
❖ Assegurar aos pais a benignidade do quadro. 
A abordagem de tratamento para as dores abdominais 
funcionais é múltipla. Algumas crianças podem precisar 
de abordagem dietética, outros vão precisar de uma 
terapia farmacológica, outros podem precisar de 
suporte psicológico, outros vão precisar associar todas 
as abordagens, outros precisam de terapias 
alternativas (acupuntura, homeopatia). 
Quando é uma causa orgânica se sabe qual é a etiologia, 
então é diferente, intervêm naquilo. Se é uma doença 
celíaca retira o glúten da dieta, se é uma doença 
inflamatória utiliza imunossupressores ou corticoide. 
Quando é distúrbio funcional tem que atirar para todos 
os lados para tentar chegar na melhora da dor do 
paciente. 
Seja qual for a abordagem terapêutica escolhida é 
preciso que tenha um bom vínculo com os pais, incluindo 
os pais no processo de tratamento. Primeiro deve-se 
conversar com eles, falar que se trata de um tratamento 
para distúrbio funcional, são benignos, que tendem a 
melhorar, não causam nenhuma repercussão no 
crescimento da criança, mas que podem interferir na 
qualidade de vida daquela criança. É importante dizer 
 
8 
Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
para os pais que essas crianças muitas vezes podem se 
tornar portadora de dor abdominal crônica na vida 
adulta (até 30%). A dor abdominal crônica na infância 
é fator de risco para SII na idade adulta. 
Então, individualizar sempre esse tratamento. A 
anamnese, o exame físico e essa conversa com os pais 
são determinantes para decidir qual linha de 
tratamento que será abordada. 
Abordagem dietética 
❖ Alguns alimentos aumentam distensão abdominal e 
sinalização dolorosa: piora dos sintomas. 
A abordagem dietética é feita para todos os 
pacientes. Difícil achar uma criança que não tenha 
erro alimentar no consultório. Alguns alimentos levam a 
um certo grau de distensão abdominal e as crianças 
que têm uma dor funcional as vezes é uma hiperalgesia, 
então essa grave distensão abdominal ativa a via de 
sinalização dolorosa e leva a piora dos sintomas. No 
entanto, é importante pedir aos pais que façam um 
diário dos sintomas e naquele dia que ele referiu um 
sintoma fazer um inquérito alimentar, o que teve de 
diferente da dieta habitual e que pode ter sido um 
gatilho para a dor. 
❖ Papel dos carboidratos fermentáveis não 
absorvíveis (FODMAPs – oligossacarídeos, 
dissacarídeos, monossacarídeos, fermentáveis e 
polióis) principalmente em SII. 
Esses alimentos fermentados não são absorvidos e as 
vezes causam uma distensão maior na criança que tem 
uma dor abdominal funcional. Ex.: frutose, lactose, 
sorbitol, frutooligossacarídeos, glucooligossacarídeos 
e manintol. 
Com o inquérito alimentar e com o diário dos sintomas, 
vai tentar identificar os alimentos que provocam os 
sintomas e o nutricionista vai oferecer opções 
equivalentes e substituição. Não pode sair tirando 
todos os alimentos, é necessário fazer junto com a 
nutricionista um cardápio. 
❖ Evidências para uso da dieta restrita de FODMAPs 
na infância ainda são restritas. 
 
• DAC com distensão abdominal, diarreia e relato 
de associação com leite: retirar temporariamente 
a lactose ou realizar teste. 
• Dispepsia funcional: evitar alimentos que agravem 
sintomas (cafeína, picantes, gordurosos) 
• Sensibilidade ao glúten → celíaca. 
• Aditivos alimentares. 
Outros alimentos funcionam também com um pouco de 
gatilho para aumentar a sinalização dolorosa como os 
aditivos alimentares naqueles alimentos ultra 
processados. Alguns pacientes podem ter também 
alguma sensibilidade ao glúten, uma sensibilidade não 
celíaca, quando ele come aumenta a distensão 
abdominal e acaba tendo dor abdominal. Ele pode comer 
o glúten, não tem problema. Os pacientes que retiram 
o glúten da dieta sem ter doença celíaca tem que ter 
muito cuidado, pois os alimentos com glúten são os que 
tem mais calorias. Paciente que não come nada de 
glúten aí naquele dia que comeu uma macarronada teve 
sintoma, ele pode ter uma sensibilidade não celíaca ao 
glúten. Então, nesse caso pode retirar da dieta, ver se 
melhora os sintomas e fazer um ajuste para ficar com 
um aporte calórico adequado. 
A mesma coisa com a lactose; se é identificado na 
história que aquela criança quando ingere coisas com 
leite tem diarreia, dor abdominal, distensão, fezes 
explosivas, pode também pensar na intolerância a 
lactose, mas isso seria em um caso orgânico de dor. 
Na verdade, não tem inflamação, é apenas pela redução 
da lactase; tem que colocar a intolerância a lactose 
como um limbo, não é algo funcional, mas também não 
é algo orgânico de doença. A primária é como se fosse 
um limbo. Já a secundária é secundária a outro 
processo inflamatório. 
Pode-se retirar a lactose da dieta para observar se 
melhora a sintomatologia ou pode realizar o teste de 
tolerância oral, ou de hidrogênio inspirado. Se tiver a 
associação causal importante. 
Mesma coisa para paciente com sintomas dispépticos → 
está pensando em dispepsia funcional, seja de dor 
epigástrica ou desconforto pós prandial → fazer 
investigação e observar se alguns alimentos 
específicos pioram os sintomas, como alimentos 
gordurosos (retardam o esvaziamento gástrico), 
chocolates, cafeínas e alimentos picantes. Às vezes se 
orienta de forma geral nos ambulatórios, mas tem que 
ser individualizado, por isso é indicado sempre buscar 
um nutricionista para ajuste adequado para a criança. 
 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Terapia farmacológica 
• Manutenção do microbioma intestinal: potencial 
alvo terapêutico; 
• Probióticos (pp na SII): lactobacillus rhamnosus GG, 
Lactobacillus reuteri DSM 17938 e o VSL #3 (não 
disponível no Brasil); 
• Diminuem a intensidade da dor; 
• Uso controverso; 
• Anticolinérgicos: sem evidência para controle da 
dor nas causas funcionais. 
Algumas crianças, àsvezes, mesmo que se faça o 
ajuste de dieta, não tem melhora da sintomatologia. 
Naquelas crianças em que se identifica que apenas o 
manejo terapêutico não é eficaz, ou que já tem dieta 
boa e não melhora, pode-se tentar o uso de probióticos. 
Probióticos 
Principalmente quando relacionado a SII (mais estudo 
e melhores resultados). No geral, os estudos de 
probiótico são bem controversos. Sobre o distúrbio 
funcional está sendo muito estudado o papel da 
microbiota na modulação das vias de sensitividade. 
Então, seu uso em alguns pacientes realmente melhora 
os episódios de dor. Porém não pode ser usado como 
tratamento de primeira linha ainda. 
Os probióticos estudados e que possuem melhor grau 
de evidência para distúrbio funcionais são o 
Lactobacillus reuteri, provance, o colidis que bebê usa. 
O Lactobacillus rhamnosus GG é novo no brasil. O VSL 
não tem no Brasil por enquanto. 
Se for utilizado no distúrbio funcional por 2 semanas 
e não haver melhora, não precisa mantê-lo, já que é 
caro. Mas como tentativa para SII pode tentar fazer. 
Em termo de evidência científica o floratil não é 
indicado para distúrbio funcional, mas sim para diarreia 
aguda. 
Anticolinérgicos 
Buscopan, antiespasmódicos. Não há evidência de 
controle de dor nos pacientes com distúrbio funcional, 
muitas vezes tem um efeito mais placebo do que 
eficácia. Lógico que alguns pacientes podem ter 
alteração de motilidade associada e nesse caso fazer 
algum efeito. 
 
Antidepressivos 
• Antidepressivos: benéficos na DAF; 
• Diminui o trânsito intestinal; 
• Trata a depressão (enquanto comorbidade); 
• Melhora a sono; 
• Induz analgesia; 
• Usar com cautela: efeitos colaterais; 
• Enxaqueca abdominal: tratamento medicamentoso 
profilático (ciproheptadina, amitriptilina, 
propranolol, pizotifeno e flunarizina). 
Pacientes em que se tenta o manejo dietético, testa-
se o probiótico, além do suporte psicológico e ainda 
assim mantem a dor, é interessante tentar fazer o uso 
de antidepressivos, principalmente se já identifica 
comorbidade na história como transtorno de humor, 
depressão. 
A maioria não é indicado para menores de 12 anos, 
pois tem muito efeito colateral. Então, não tem 
recomendação de qual é o melhor antidepressivo. Os 
mais usados são os tricíclicos, amitriptilina, mas não há 
uma recomendação em termo de qual é o de escolha. 
Geralmente encaminha-se para psiquiatra para que ele 
escolha a melhor medicação para aquele determinado 
paciente. 
Profiláticos 
São bastantes estudados e mostram ser bem benéficos 
em pacientes com enxaqueca abdominal: Propanolol, 
flunarizina e amitriptilina (mais usados na pediatria). 
❖ Dispepsia funcional: antagonistas (H2) ou IBP: por 
quatro semanas em crianças maiores e 
adolescente. 
❖ Baixas doses de antidepressivo tricíclico e 
ciproheptadina em casos difíceis. 
❖ Náuseas, distensão e saciedade precoce são 
sintomas mais difíceis de tratar: procinéticos 
podem ser prescritos. 
Nos pacientes com mais sintoma de dispepsia 
funcional, com quadro de dificuldade pós prandial são 
mais difíceis de tratar e podem se beneficiar do uso 
de procinéticos, por um tempo mais curto, mas para 
aumentar a motilidade. Em pacientes com 
empachamento, saciedade, talvez aumentando o 
trânsito intestinal isso melhore um pouco – NÃO SÃO 
TODOS OS PACIENTES QUE RESPONDEM. 
 
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Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Já nos pacientes com dor epigástrica talvez se 
beneficie com uso de IBP. Por que uso de IBP pode 
melhorar o distúrbio funcional? Não é que ele tenha 
aumento de secreção e refluxo de maneira orgânica, 
mas ele tem uma sensibilidade maior à secreção 
gástrica. Ao fazer pHmetria nesse paciente (não é 
indicado, mas caso fizesse), seria como em paciente com 
refluxo com o índice de fluxo normal, mas com dor 
epigástrica. Então, reduzir um pouco essa secreção 
talvez melhore. Mas alguns pacientes não respondem a 
essa terapêutica. 
Em SII em adultos, existem várias opções de 
tratamento, a depender do padrão – antidiarreicos, 
medicamentos para episódios de dor... não existe muita 
experiência quanto a isso em pediatria. Apesar de dor 
abdominal funcional ser a principal causa de dor 
abdominal em ped, esses subtipos de classificação do 
Roma IV não são tão frequentes de diagnosticar e 
acabam ficando como dor abdominal não especificada. 
Não há tanto trabalho de eficácia desses medicamentos 
em pediatria. 
Suporte psicológico 
• Estabelecimento de uma boa relação médico-
paciente-família; 
• Fatores psicológicos efetivas: suporte familiar, 
terapia cognitivo comportamental (TCC) e 
psicoterapia. 
Essencial no tratamento de pacientes com distúrbio 
funcional. É uma terapia não só para a criança, mas 
também todas as pessoas que fazem parte do convívio 
da criança – não adianta a criança ir à terapia e ao 
chegar em casa a família proporcionar um ambiente 
tóxico. Trabalhar em conjunto criança X família. Os 
fatores psicológicos podem piorar o quadro da 
criança, agravar e piorar o prognóstico de melhora da 
criança. 
A terapia cognitiva comportamental é a que se mostra 
mais efetiva, mas pode tentar psicoterapia ou terapia 
familiar. 
• TCC é mais efetiva: focar em outro pensamento ou 
imagem = bloqueia ou diminui percepção da dor – 
ativação do sistema opioide e não-opioide de 
supressão dolorosa. 
• Práticas comportamentais: amenizam tensão 
muscular e/ou comportamentos restritivos, 
impulsos sensoriais inadequados e aumento da 
percepção dolorosa. 
• Modificam comportamentos no paciente e nos 
cuidadores, que iniciam, mantêm e/ou exacerbam 
a dor. 
• Exemplos: exercício físico, relaxamento e 
condicionamento operante. 
A TCC é como se tentasse mudar o padrão de 
comportamento e oferecer estratégias para que a 
criança mude o foco da dor, para que a sinalização não 
seja tão intensa. Às vezes só a terapia já resolve o 
quadro, sem precisar de medicação. A professora 
gosta de enviar todos os pacientes com dor abdominal 
ao psicólogo, mesmo sem ter achado nada na anamnese. 
Se a psicóloga achar que não tem necessidade, ela 
encaminha de volta com um relatório. 
Prognóstico 
É importante intervir nesses pacientes, pois eles podem 
ficar com dor abdominal crônica para o resto da vida, 
inclusive SII. 
Casos clínicos 
Cenário 1 
Paciente 9 anos, trazida por seu genitor ao ambulatório 
de gastropediatria com relato de dor abdominal 
periumbilical sem irradiação há 5 meses. Refere que 
episódios ocorrem somente durante o dia, cerca de 2-
3 vezes na semana, com duração de 10-20 minutos, às 
vezes acompanhada de náuseas e palidez e que 
melhora com uso de chás. Refere que criança apresenta 
dejeções diariamente (1-2/dia) cilíndricas, sem 
esforço e de consistência normal. Refere que dor 
abdominal não melhora com as dejeções. Já fez uso de 
diversos antiparasitários sem melhora da dor. Criança 
não tem alimentação adequada para a idade, ingerindo 
grande quantidade de biscoitos recheados, salgadinhos 
e frituras. 
Ao exame físico: paciente com sobrepeso; abdômen: 
semigloboso às custas de panícula adiposo. 
Conversando sobre o caso: é uma dor abdominal 
crônica (>2 meses pelo critério de Roma). Ausência de 
sinais de alarme – náusea e palidez não é sinal de alarme. 
Provavelmente são sinais neurovegetativos associados 
no episódio de dor. Agora se fosse palidez o tempo todo, 
 
11 
Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
fora da dor, náuseas e vômitos frequentes fora dos 
episódios de dor, você iria ver como um sinal de alarme, 
mas a palidez referida no caso é durante o episódio de 
dor, depois está bem. 
Sobre o caso acima, marque a alternativa correta: 
a) A principal hipótese diagnóstica para o quadro de 
dor abdominal crônica acima é distúrbio 
gastrointestinal funcional; 
b) Devem ser investigadas causas orgânicas de dor 
abdominal para essa paciente, umavez que a mesma 
possui sinais de alarme como palidez e náuseas. 
c) Desordens gastrointestinais funcionais não devem 
ser consideradas nesse paciente, uma vez que são 
raras em pediatria como causa de dor abdominal 
crônica. 
d) A paciente preenche critérios de ROMA IV para 
SII. 
e) O quadro clínico é compatível com doença péptica, 
condição geralmente associada a infecção por HP. 
COMENTÁRIOS 
a) VERDADEIRA. É uma dor abdominal crônica, em que 
a principal hipótese diagnóstica é dor abdominal 
funcional por dois motivos funcionais: 1º é o mais 
comum - 90 a 95% e 2º porque não foi achado 
nenhum sinal de alarme na história. 
b) FALSO. A palidez e a náusea durante a crise de 
dor podem acontecer. Se fossem fora do episódio 
de dor, aí seria considerado como um sinal de alarme. 
c) FALSO. Ridícula! 
d) FALSO. Pode ser SII? Tem mais de 4 dias por mês 
de dor? Sim. Tem mais de dois meses de dor? Sim. 
Tem dor abdominal? Sim. Tem associação com a 
evacuação? NÃO. Tem associação com mudança do 
padrão –frequência ou aparência - de fezes? Não. 
Cuidado com a definição da SII: dor que melhora 
com a evacuação. Pois as vezes a criança não traz 
isso pra você, mas ela traz que tem dor e tem 
alteração do padrão de fezes, e então por isso você 
não considera SII? É um dos critérios, mas a criança 
pode ter só diarreia com a dor abdominal que as 
vezes alivia, mas ela não consegue trazer esse relato. 
EX: é o tempo todo constipada, toda hora refere 
dor, a dor até pode aliviar quando defecar, mas volta 
depois que passou, porque às vezes continua não 
eliminando as fezes direito. 
e) FALSO. Pela sintomatologia pode se pensar em 
doença péptica, só que não estou pensando em 
doença orgânica. Doença péptica é uma doença 
orgânica, tem lesão de mucosa. Não vou pensar nisso 
a princípio. 
OBS.: Doença péptica nunca é funcional, é orgânica: 
lesão associada a ação cloridopéptica. Se tem lesão, 
não é funcional! 
A paciente do caso anterior não entra em SII, não 
entra em dispepsia e não entra em enxaqueca. Ela vai 
ficar como distúrbio gastrointestinal funcional não 
especificado. 
OBS.: Dispepsia funcional não é diagnóstico de 
exclusão; é para estar como principal suspeita 
diagnóstica se não houver sinais de alarme. 
Diarreia de repetição com dor noturna. Lembrando que 
na SII é possível verificar padrão de diarreia. Diarreia 
de repetição, com dor abdominal principalmente noturna, 
com perda de ponderal como sinal de alarme. 
Sobre o caso acima, assinale a correta: 
a) Essa paciente irá apresentar uma calprotectina 
fecal elevada. 
b) Não há necessidade a princípio de realização de 
exames para essa paciente. 
c) Está indicada realização de ultrassonografia de 
abdome. 
d) Deve ser realizada endoscopia digestiva alta com 
pesquisa de HP. 
e) Há indicação de realização de colonoscopia e 
investigação laboratorial para doença celíaca e 
intolerância a lactose 
COMENTÁRIOS 
a) FALSO. Calprotectina fecal é uma proteína de 
citosol de neutrófilo, então qualquer condição que 
leve a um infiltrado de neutrófilo para a região 
do trato gastrointestinal pode elevar a 
calprotectina fecal. 
Porém, em distúrbio funcional não existe lesão ou 
inflamação de estrutura, então não há migração de 
neutrófilos e não há aumento da calptrotectina fecal; 
Resumindo, não é necessário solicitar a calprotectina 
para esse paciente, apenas quando há dúvida entre 
distúrbio funcional e distúrbio orgânico, que funciona 
como triagem e indicação para colonoscopia. Se for 
 
12 
Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
feito no distúrbio funcional, a calprotectina não virá 
elevada. 
b) VERDADEIRO. Distúrbio funcional não necessita 
de exame, apenas avaliação laboratorial básica de 
pediatria (hemograma, urina, fezes), mas não é 
obrigatório no primeiro momento. O Roma IV traz 
que poderia realizar a triagem celíaca nesse 
paciente, mas não é obrigatório; 
c) FALSO. Pedido de USG de forma desregulada 
onera o sistema de saúde. Se não existe sinais de 
doença orgânica não é necessário solicitar exames 
para essa criança; 
d) FALSO. Não existe sinais de alarme nessa criança 
para pensar em causas orgânicas, então não é 
necessário solicitar endoscopia. 
e) FALSO. Não é necessário realizar diversas doenças 
para eliminar causar orgânica para classificar em 
causa funcional. O diagnóstico de distúrbio 
funcional deve sempre ser considerado como 
primeira hipótese quando a criança não apresenta 
sinais de alarme. 
Como iremos realizar o tratamento? 
a) Probiótico estão indicados para essa paciente como 
terapêutica de primeira linha. 
b) Orientação dietética, estímulo a atividade física 
e acompanhamento psicológico fazem parte da 
terapêutica para o caso acima. 
c) Caso a pesquisa de HP seja positiva, na ausência de 
doença ulcerosa, está indicada erradicação com 
esquema tríplice e uso de IBP por 2-4 semanas após 
término do ATB. 
d) Atualmente não há disponível terapêutica 
medicamentosa que possa ser utilizada para reduzir 
os episódios de dor. 
e) Suporte psicológico não tem demonstrado 
resultados favoráveis em casos como o do paciente 
acima. 
COMENTÁRIOS 
a) FALSO. Probiótico não é primeira linha, não existe 
grau de evidência cientifica; dieta é o principal. 
b) VERDADEIRO. Existe sobrepeso e erro alimentar, 
então é necessário. 
c) FALSO. Não existe indicação de endoscopia ou 
pesquisa de H. pylori. Mesmo que a mãe venha com 
endoscopia e H. pylori positivo não é necessário 
tratar na ausência de úlcera. Não é para realizar 
esquema de teste. A causa da dor não é a presença 
de H.pylori, não é necessário tratar. 
d) FALSO. Os probióticos podem ser utilizados ou 
antidepressivo. 
e) FALSO. Sempre o suporte psicológico demostra uma 
eficácia boa para distúrbio funcional. 
Cenário 2 
Paciente 13 anos, sexo feminino, com história de dor 
abdominal em região periumbilical há 1 ano. Refere que 
dor ocorre somente durante o dia, 2-3X na semana, com 
intensidade variável, mas às vezes impedindo de ir à 
escola. No mesmo período referiu que as fezes se 
tornaram endurecidas e ocorrem a cada 3-4 dias. 
Refere que apresenta distensão abdominal, mas que a 
dor melhora com evacuação. Já fez uso de 
antiparasitários por diversas vezes sem melhora. 
Genitora refere que adolescente está com humor 
deprimido desde o início dos sintomas. 
Ao exame físico: eutrófica. ABD; fezes palpáveis em 
fossa ilíaca esquerda. Toque retal não realizado por não 
colaboração do paciente. 
Alimentação: pouca ingesta de frutas e verduras, ingere 
grande quantidade de massas, refrigerantes, doces e 
leites e derivados. Ingesta hídrica: 500ml/dia. 
Conversando sobre o caso: É um adolescente com dor 
abdominal crônica. Os principais diagnósticos 
diferenciais será intestino irritado e constipação. 
Obs.: ela pode ser uma criança que tem dor porque é 
constipada ou ela pode ser uma criança que tem dor e é 
constipada ??, ela é uma criança que tem dor e 
constipação; a constipação pode ser a causa da dor 
dela, ou ela pode ter a dor e também ser constipada.. 
Relembrando: esse caso provavelmente será um 
distúrbio funcional porque não tem nenhum sinal de 
alarme, mas pela HMA dela não dá pra diferenciar se 
tem constipação funcional ou SII; o humor deprimido 
pode estar associado ao SII, mas ainda assim não dá 
pra falar logo de cara, porque é uma paciente que pode 
ter constipação funcional e a dor ser só da constipação 
ou pode ter SII com padrões de constipação, pois ela 
tem dor que alivia com evacuação, tem alteração de 
frequência de fezes, tem alteração de aspecto das 
fezes então também pode ter SII. 
 
13 
Beatriz Machado de Almeida 
Gastropediatria – Dor abdominal 
Ao primeiro momento será conduzida como um processo 
de constipação funcional, prescrever medicamentos 
para constipação. 
No retorno: se ela melhorou da dor e da constipação, 
ela tinha uma constipaçãofuncional. Mas se essa criança 
voltar referindo que melhorou o padrão de evacuação, 
mas ainda tem dor, ela tem uma SII. 
Então, a princípio não será definido nada do 
diagnóstico inicial. Ao primeiro momento, será 
conduzida como constipação funcional, mas ela pode ser 
um SII. Lembrar: SII não é diagnostico de exclusão, 
mas nesse caso tem que ser conduzido como constipação 
funcional. 
Sobre o caso acima, assinale a alternativa correta: 
a) A paciente deve ser conduzida inicialmente como 
portadora de constipação funcional. 
b) Trata-se de um quadro de SII. 
c) A única hipótese diagnóstica para essa paciente é de 
constipação funcional. 
d) Devem ser investigadas inicialmente causas de 
constipação orgânica como hipotireoidismo, doença 
celíaca e distúrbios eletrolíticos. 
e) Devem ser afastadas causas orgânicas para a dor 
abdominal como doença inflamatória, doença péptica. 
COMENTÁRIOS 
a) VERDADEIRO. Se fosse só uma dor abdominal que 
melhora com a evacuação ou dor abdominal com 
diarreia e alterando com constipação, poderia se 
pensar logo no primeiro momento na SII. 
b) FALSO. Entra no diagnóstico diferencial. 
c) FALSO. 
d) FALSO. Não se pensa em causa orgânica para esse 
caso. 
e) FALSO. Se a constipação não melhorar: fecha com 
constipação funcional e investiga causa orgânica, 
agora se a constipação e a dor melhoram: 
constipação funcional e se a constipação melhora e 
a dor continua fecha como SII. 
Sobre o caso, assinale a correta: 
a) Inicialmente não há necessidade de realização de 
exames. Devem ser prescritas terapias de 
desimpactação e manutenção com polietilenoglicol. 
b) Inicialmente devem ser solicitados os seguintes 
exames complementares: TSH/T4L/triagem para 
doença celíaca e eletrólitos. 
c) Antidepressivos são a medicação de escolha para 
esse paciente. 
d) Suporte psicológico e orientação dietética são as 
únicas medidas necessárias. 
e) Deve ser solicitada calprotectina fecal e se normal 
devem ser solicitadas EDA e colono. 
 
COMENTÁRIOS 
a) VERDADEIRA. Primeiro considera como funcional, 
não precisa realizar exames, vai conduzir como 
funcional. Ela está impactada já que possui fezes 
palpáveis, deve-se fazer a desimpactação. 
b) FALSA. 
c) FALSA. Se tratou algumas vezes com probiótico e 
ela continuou com dor pode pensar em 
antidepressivo como causa. 
d) FALSA. 
e) FALSA. NÃO precisa pedir esses exames...

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