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Lucas Melo – Medicina Ufes T103 Síndrome do Intestino Irritável É um distúrbio gastrointestinal caracterizado por dor abdominal crônica associada a uma alteração do hábito intestinal na ausência de qualquer causa orgânica, existem critérios diagnósticos para essa doença, que são os critérios de Roma IV, que defina a SII como: *Dor abdominal recorrente é uma dor que ocorre mais de uma vez por semana nos últimos 3 meses. *Relacionada a evacuação significa dizer que ela pode ser desencadeada pela evacuação ou piorada ou melhorada pela evacuação. Ainda podemos subclassificar a SII novamente, como mostra a imagem abaixo: A classificação de Bristol é relacionada com a forma das fezes, já estuda na aula de diarreia, podemos classificar o paciente de Bristol 1 a Bristol 7. - Epidemiologia: É uma doença de alta prevalência na população em geral, cerca de 5 a 10%, mais predominante no sexo feminino e mais frequente em pacientes jovens, principalmente mulheres entre 20 e 40 anos, sendo que essa doença é a segunda causa mais frequente de absenteísmo de trabalho, logo depois de resfriado comum. - Fatores de risco: Os estudos que definiram os fatores de risco não possuem um nível grande de evidencia, mas podem ser os seguintes fatores: Periféricos: Alimentação, infecções gastrointestinais agudas (gastroenterite bacteriana), inflamação da mucosa, cirurgia prévia abdominal e pélvica e menstruação. Centrais: Estresse da vida, somatização de doenças psicológicas, ansiedade e depressão, dificuldade em lidar com as dificuldades da vida, baixo suporte social, abuso sofrido na infância, etc. Infecção intestinal aguda prévia, principalmente gastroenterite bacteriana, é o fator de risco mais bem estabelecido para a SII, existe até uma entidade nomeada síndrome do intestino irritável pós-infecciosa, que representa 10% dos casos e ocorre após infecções por vírus, bactérias e protozoários. - Fisiopatologia: Ainda não há algo muito bem definido, mas baseado em alguns estudos já realizados, vemos que possui uma relação de vários fatores, como: Em pacientes geneticamente predispostos, quando associados a fatores psicológicos ou infecções gastrointestinais, podem evoluir com alterações do SN entérico, o que pode causar um impacto nas respostas motora (diminuir ou aumentar o motilidade intestinal), sensitiva (aumentar a sensibilidade visceral) e secretora do TGI (aumentar a secreção para o lúmen, podendo cursar com diarreia), assim como a alteração da barreira mucosa. Os dois principais pilares da patologia da doença são aumento da sensibilidade visceral e distúrbio da motilidade intestinal, tanto diminuindo, como aumento a motilidade. Alimentos ricos em FODMAPs. A dieta tem um papel importante na fisiopatologia da doença, parece que esses pacientes tem uma sensibilidade maior aos FODMAPs (carboidratos pobremente digeridos que podem ficar no lumen Lucas Melo – Medicina Ufes T103 intestinal e serem fermentados pelas bactérias causando um aumento de gases e distensão abdominal), geralmente levam a flatulência e diarreia nos pacientes. Além disso, esses pacientes podem ter deficiência de lactase, cursando com intolerância a lactose, e podem ter deficiência de sucrase-isomaltase, que podem ter a digestão de sacarose e amido prejudicada. O papel da microbiota também é digno de atenção, a microbiota é diferente de um indivíduo saudável, mas essa afirmação ainda é muito questionada pelo fato de não sabermos ainda como é uma microbiota saudável. Parece haver um papel dos ácidos biliares, visto que esses pacientes costumam ter uma má absorção de sais biliares, sabemos que sais biliares no intestino podem ter um aumento da motilidade intestinal e fermentação, produzindo gases (flatulência). - Manifestações clínicas: Os dois sintomas cardinais são: 1. Dor abdominal: Geralmente é cronica, surge de forma intermitente (períodos de dor intensa, intercalando com períodos sem dor, ou dor muito leve), no abdome inferior e tem relação com a defecação (melhora, piora ou é desencadeada pela defecação). 2. Alteração do hábito intestinal: Tem uma alteração na consistência das fezes e/ou na frequência das evacuações, e, por isso, podemos classificar o paciente no polo diarreico ou no polo constipado. Bloating (excesso de gases, flatulência) e distensão abdominal são muito frequentes. Existem algumas situações que são comumente associadas a SII, sendo elas dor lombar, cefaleia, fadiga, fibromialgia, ansiedade e depressão, coexistência de outros transtornos funcionais gastrointestinais (paciente que tem 1 transtorno funcional tem uma maior chance de ter outro transtorno funcional). - Diagnostico: A primeira pergunta que temos que nos fazer é se o paciente preenche os critérios de Roma IV. Se sim, precisa ser realizada uma investigação básica do paciente, pedindo hemograma completo, PCR e sorologia para doença celíaca. O objetivo dessa investigação inicial é descartar outras causas orgânicas que cursam com sintomas semelhantes ao da SII. Importante lembrar que esses exames devem ser normais. Se o paciente tem diarreia, temos que dosar a calprotectina fecal, proteína liberada na degranulação dos neutrófilos que não é absorvida no intestino, grande preditor de inflamação intestinal, o ponto de corte dela é 50, acima de 50 há uma sensibilidade e especificidade acima de 80% para doença inflamatória intestinal. Mas, quando a calprotectina está menor que 50 e o paciente tem um PCR normal, o valor preditivo negativo dela é grande, pois nesse caso a probabilidade de uma doença inflamatória intestinal é menor que 1%. *Hemorroidas e fissuras anais podem aumentar a calprotectina. Quando devemos solicitar a colonoscopia para diagnóstico? Quando o paciente apresenta algum dos sinais de alarme, como alterações laboratoriais (anemia por deficiência de ferro, PCR elevado, calprotectina fetal alterada), sangramento gastrointestinal, perda de peso, diarreia noturna e massa abdominal ou retal palpável. *Pacientes com doenças funcionais não costumam apresentar sintomas enquanto estão dormindo, pacientes com doenças orgânicas costumam acordar durante a noite por conta dos sintomas. Além de história na família de doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou câncer colorretal, pois os parentes de primeiro grau têm mais chance. Temos que solicitar para os pacientes com mais de 50 anos, que ainda não realizaram a colonoscopia de rastreio de câncer colorretal. - Tratamento: Nenhum tratamento consegue mudar a história natural da doença, portanto, não existe um tratamento curativo, por isso o tratamento é focado em aliviar os sintomas que mais incomodam o paciente, sendo que a maioria dos tratamentos melhoram em 25-30% os sintomas dos pacientes, é necessário expor ao paciente que ele tem uma doença cronica, de difícil tratamento, que ele vai ter que conviver com ela para o resto da vida, vai ter momentos que ele vai se sentir melhor e outros que ele vai se sentir pior, por isso temos que dizer que Lucas Melo – Medicina Ufes T103 as vezes os sintomas não vão ser totalmente controlados. A dieta pobre em FODMAPs é um passo importante no tratamento da doença, pois melhora a dor abdominal e o bloating e causa um impacto na qualidade de vida do paciente. Geralmente é feita em 3 fases, na primeira o paciente fica com uma dieta bem restritiva, pois o que se faz é a substituição de alimentos ricos em FODMAPs por alimentos pobres em FODMAPs (essa primeira fase não deve durar mais que 4 semanas, pois pode causar deficiência e alteração da microbiota) a segunda fase é reintroduzir os alimentos grupo por grupo e observar os sintomas causados, e a terceira fase é a personalização da dieta (qual grupo dos carboidratos eletolera mais ou menos). *Essa dieta deve ser feita guiada por um nutricionista ou nutrólogo. Podemos prescrever fibras solúveis para os pacientes que tem um predomínio de constipação nessa sindrome, o exercício físico parece ter benefício por conta da melhora psicológica, da dor e do hábito intestinal, o uso de probióticos ainda é controverso na doença, não é uma recomendação com embasamento cientifico. Ainda há o tratamento sintomático especifico para cada polo da síndrome do intestino irritável. Se o paciente é constipado e não teve resposta a fibra solúvel, podemos prescrever o polietilenoglicol (PEG), que é um laxativo da classe dos osmóticos, como a lactulona e o manitol. Se o paciente persistir constipado, podem ser tentadas algumas medicações novas, a linaclotida (da classe dos secretagogos e acelera o transito intestinal), lubiprostone (secretagogo) e tegaserod (aumenta a motilidade intestinal, esse medicamento só é segurado ser usado em mulheres abaixo de 65 anos). *Muitos dos pacientes com constipação, tem disfunção anorretal, que pode ocorrer em até 40% dos pacientes com síndrome irritável, o quadro clinico está relacionado com esforço evacuatório, sensação de evacuação incompleta e necessidade de manobras manuais, o exame para diagnóstico é a manometria anorretal, e o tratamento é feito por biofeedback (fisioterapia para a parte da defecação), pois esses pacientes não costumam responder a laxativos. Se o paciente está no polo diarreico da SII, podemos lançar mão dos antidiarreicos, que como principal temos a loperamida, que é um agonista opióide. Se o paciente não responder, podemos utilizar os quelantes de sais biliares, como exemplo temos a colestiramina (nos pacientes que tem uma má absorção dos sais biliares, se você quela esses sais, diminui o sintoma de diarreia, pois esses sais biliares na luz do intestino podem provocar diarreia). Com relação ao tratamento da dor abdominal e do bloating, nós utilizamos os antiespasmódicos, como a mebeverina, pinavério, otilonio, hioscina, a resposta a esses remédios é individual e não tem uma melhor prescrição. SE a dor persistir, podemos prescrever antidepressivos, as vezes melhorando os sintomas psicológicos podemos melhorar os sintomas de dor, os antidepressivos tricíclicos têm um efeito de modulação de dor tanto periférica quanto central, além de terapia psicológicas, como a terapia cognitivo-comportamental e a hipnose.
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