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- -1 NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO Aline Rocha Rodrigues - -2 Olá! Você está na unidade Nutrição na gestação. Conheça aqui as principais funções da nutrição no período de gestação. Nos aprofundaremos em guias alimentares que auxiliam nas escolhas alimentares da gestante, nas bases para uma dieta saudável e em avaliações de consumo alimentar fundamentadas tanto em quantidade de alimentos ingeridos, quanto na qualidade destes alimentos.Entenderemos ainda como funcionam as metodologias aplicadas ao atendimento nutricional de gestantes de baixo risco, na fase pré-natal, e as possíveis intervenções do nutricionista junto a estas pacientes, garantindo assim nutrição adequada tanto para a gestante como para o bebê. Bons estudos! - -3 1. Guia alimentar para a gestação A nutrição é importante em todas as fases da vida, mas cada uma delas traz questões específicas que podem garantir mais ao indivíduo (MAHAN, 2013). Para compreender melhor as saúde necessidades alimentares , faremos uma incursão em e na literatura específica sobre gestação,durante a gestação guias alimentares buscando conhecer as que podem ser aplicadas a gestantes. Para diretrizes de uma alimentação saudável iniciar, analisaremos a função dos guias alimentares, sua composição em termos de conteúdo e qual a melhor maneira de trabalhar as informações ali contidas juntos aos pacientes. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /bd4e6c243922c80a7bf19ac03b1649fd https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/bd4e6c243922c80a7bf19ac03b1649fd https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/bd4e6c243922c80a7bf19ac03b1649fd - -4 1.1 Função dos guias alimentares Os guias alimentares são considerados instrumentos de apoio nas ,ações de educação alimentar e nutricional praticadas por profissionais de saúde (BRASIL, 2014), dentre eles o nutricionista. Através destes documentos, preferencialmente elaborados por órgãos públicos como o Ministério da Saúde, são dadas as diretrizes, ou seja, os fundamentos para a obtenção de uma alimentação saudável. A principal função de um guia alimentar é , portanto, ele traz consigo uma série de informações que serão úteis aos comensais emorientar o consumo suas escolhas alimentares cotidianas. Um dos compromissos dos guias alimentares é o de refletir a realidade vivida pela população a que se destina, sendo assim, terá como base os alimentos mais consumidos por aquela população em questões de cultura , além disso levará em conta em sua formulação a linguagem popular, bem como as formas dealimentar consumo que são comuns entre as pessoas às quais é destinado (BRASIL, 2014). Outra questão importante sobre os guias alimentares é que as informações ali contidas contribuam para a saúde da população, sejam claras em relação ao seu conteúdo e que possam ser facilmente executadas, sendo incorporadas de maneira possível no dia a dia do público alvo. Considerar outras questões que vão além do ato de comer, como o plantio, comercialização, preparo, custos, por exemplo, também é uma preocupação que deve estar presente na formulação destes documentos.Deste modo, percebemos a importância de que as informações contidas em um guia alimentar possam auxiliar os pacientes na promoção da saúde, sejam acessíveis e que tenham como foco principal a população a que se destinam, e quando necessário sejam , adaptadas às necessidades de situações específicas como é o caso das gestantes. - -5 1.2 Guias alimentares na gestação No caso das gestantes, o guia alimentar deve levar em consideração as alterações pelas quais o corpo passa durante este período. As orientações nutricionais neste período devem ser baseadas tanto no Guia Alimentar para a população brasileira, quanto em outros documentos norteadores do Ministério da Saúde. Eles podem ser elaborados junto ao setor responsável pelo atendimento de saúde destas pacientes, com orientações individualizadas que visem a favorecer a alimentação saudável na gestação, mas também podem ser trabalhadas em grupos de gestantes nas unidades básicas de saúde. O (BRASIL, 2014), por exemplo, traz informações gerais sobreGuia Alimentar para população brasileira alimentação e nutrição que auxiliam na busca por uma alimentação saudável, neste sentido, pode ser seguido por gestantes saudáveis. Já o (BRASIL, 2013b; 2013d) traz informações focadas emGuia da Rede Cegonha gestantes especificamente, sendo estes materiais complementares. Figura 1 - Alimentação na Gestação Fonte: SERGE GORENKO, Shutterstock, 2020 #PraCegoVer: A imagem mostra uma gestante (com a barriga aparecendo) parada em frente a uma geladeira aberta, na qual encontram-se diversos vegetais, legumes, frutas e sucos. - -6 1.3 Aplicabilidade dos guias junto aos pacientes Agora vamos conhecer outros orientadores de consumo alimentar e nos aprofundar nos já citados. Conhecidos como Guias Alimentares, estes documentos podem ser utilizados nas recomendações nutricionais para gestantes, mesmo guias que não são destinados exclusivamente para esta população. Um exemplo de guia, publicado em 2013, é o Manual Instrutivo das ações de alimentação e nutrição na Rede Cegonha (BRASIL, 2013b), ele é destinado à população de gestantes atendidas na rede pública de saúde. Ele traz informações sobre a Vigilância Nutricional, programa de acompanhamento do estado nutricional do Ministério da Saúde, estratégias de apoio a amamentação, suplementações de ferro e vitamina A, outros programas auxiliares que podem contribuir para a saúde da gestante, além de material de consulta e referências pertinentes. Este informativo, destinado a profissionais de saúde, pode auxiliar entre outros, aos nutricionistas na atenção primária. Um dos principais intuitos desta padronização no atendimento é a diminuição da mortalidade materno-infantil, através da promoção de saúde. A recomendação do Ministério da Saúde é que o atendimento seja realizado por equipe multiprofissional, na qual poderão fazer parte médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, agentes de saúde, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. As fases do atendimento são: pré-natal; parto e nascimento; puerpério (período pós-parto); e atenção à saúde da criança. As ações propostas no material estão baseadas nas diretrizes do atendimento primário em saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) e na PNAN (Política Nacional de Alimentação e Nutrição), além e recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde). O público alvo são as gestantes, mulheres no puerpério e crianças até 2 anos. As orientações vão de acordo com as bases da SAN (Segurança Alimentar e Nutricional) e o Marco de Educação Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2012b), prevendo uma alimentação saudável e adequada, que promova uma gravidez saudável, estímulo à amamentação/aleitamento materno e saúde da criança, através de um desenvolvimento e crescimento adequados. Já o Guia Alimentar para população brasileira (BRASIL, 2014) traz o enfoque de uma alimentação saudável para a população em geral, exceto as crianças menores de 2 anos, que têm um guia específico. Nele são dadas diretrizes para uma alimentação adequada, e gestantes sem agravos de saúde, podem segui-lo sem restrições. Neste sentido, o acompanhamento de um profissional de saúde poderá ajustar as recomendações contidas nesse - -7 Guia para as gestantes. Um dos orientadores do Guia, que também segue as recomendações da OMS, é conhecido como 10 PASSOS PARA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL (BRASIL, 2013a). E as recomendações de alimentação e nutrição da gestante devem levar em consideração este documento. Figura 2 - 10 Passos para uma alimentação saudável Fonte: Brasil (2014) #PraCegoVer: A imagem mostra um quadro dividido em 2 colunas (Passos e Orientações). A coluna Passos contém os números de 1 a 10 (um em cada linha), e a coluna Orientaçõescontém as orientações referentes a cada um dos dez passos. Estas dicas de alimentação podem ser aplicadas para gestantes saudáveis, pois se aplicam a toda a população brasileira e, como vimos, suas orientações são simples e de fácil compreensão, base para uma informação acessível. Estas orientações não dispensam a avaliação individualizada das gestantes na atenção primária, seja por nutricionista ou outro profissional de saúde capacitado. Fique de olho - -8 Cabe ao nutricionista conhecer o Guia Alimentar para população brasileira. Este documento oficial poderá facilitar o atendimento de gestantes e a elaboração de planos alimentares para manutenção da saúde. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes /guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf> - -9 1.4 Alimentos, porções, preparações e refeições recomendados Em estados de gravidez sem complicações de saúde, a alimentação materna segue os mesmos padrões da alimentação habitual da mulher. Questões como bom aporte de ferro, vitamina A e ácido fólico devem ser observadas e acompanhadas pela equipe de saúde, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2012a; BRASIL, 2013c). A nutrição neste período deve suprir as necessidades calóricas e de nutrientes para satisfazer tanto as demandas da mãe quanto do bebê. Segundo Mahan et al. (2013) a suplementação para garantia de uma condição nutricional adequada, inclusive em períodos pré-gestacionais, em algumas políticas públicas de suplementação tem como foco a gestação. Porém estudos comprovam que são mais bem sucedidas suplementações de multinutrientes do que apenas alguns poucos nutrientes. Sendo que a suplementação necessita de avaliação do estado nutricional, seguindo a ordem de quanto mais desnutrida for a gestante, maior será a necessidade de suplementação. Outra questão inerente à gestação é evitar desconfortos comuns à condição, como dificuldade no esvaziamento gástrico, náuseas, azia, quedas de pressão e desmaios, e neste sentido a alimentação pode contribuir positivamente. As recomendações de hidratação seguem as mesmas da população em geral, com uma média de 2 litros de água por dia, sempre nos intervalos das refeições. Ainda se preconiza refeições fracionadas, que mantenham a paciente alimentada e satisfeita, facilitem a digestão, diminuam as náuseas e possam garantir uma nutrição adequada. Uma boa avaliação nutricional da gestante poderá garantir que sejam supridas todas as necessidades para uma gravidez adequada. Figura 3 - Porções e quantidades de alimentos Fonte: WAVEBREAKMEDIA, Shutterstock, 2020 - -10 #PraCegoVer: A imagem mostra pequenas porções de amêndoas, feijões, ervilhas, brócolis, morangos, rodelas de laranja, framboesa, nozes, milho, castanhas, amendoim, farinhas, uvas. - -11 1.5 Dez passos para alimentação saudável na gestação Foi criado um informativo para gestantes, baseado no programa Rede Cegonha, pelo Ministério da Saúde, com o título: "Alimentação Saudável para Gestantes – Siga os 10 passos". Em resumo, este orientador traz as seguintes informações (BRASIL, 2013a): realize três refeições e dois lanches saudáveis – evitando ficar mais de 3h sem comer e ingerindo líquidos nos intervalos das refeições (ao menos 2 litros), evitando bebidas açucaradas. Pular refeições não é adequado, pois se alimentando corretamente seu estômago não ficará vazio por muito tempo, evitando algumas sensações típicas da gravidez como náuseas, vômitos, fraquezas e desmaios. Esta ação também promove outros benefícios como controle do ganho de peso, da azia e de consumo de alimentos em grandes quantidades; inclua cereais, de preferência integrais, sendo seis porções destes alimentos, fonte de energia, fibras, vitaminas e minerais. Dando preferência à forma natural dos alimentos, ou seja, sem grandes processamentos. Distribua essas fontes de carboidratos durante todas as refeições. E, caso seja uma adolescente grávida, sua quantidade de consumo deverá ser aumentada, já que, além do crescimento do bebê, você deverá garantir seu próprio crescimento nesta fase; consuma três porções de legumes e verduras e três porções de frutas, no mínimo, durantes as refeições. Você poderá distribuir entre as grandes refeições e os lanches. Um prato colorido é um prato saudável, fornece fibras, vitaminas e minerais, além de contribuir com quantidades significativas de água em alguns casos. Observar as condições de higiene e lavagem destes alimentos garante uma qualidade ainda maior de consumo; coma o prato típico brasileiro de arroz e feijão, ao menos uma vez ao dia. Esta combinação garante boas doses de carboidratos complexos, fibras e proteínas, além de vitaminas e minerais. Uma parte de feijão para duas partes de arroz é a combinação perfeita, mas cuidado com o preparo destes alimentos. Evite a inclusão de muito sal, gordura ou outros componentes como carnes gordas e linguiças que possam interferir na qualidade desta combinação; consuma uma porção de carne ou ovos e três porções de leite e derivados. O leite e seus derivados são uma boa fonte de cálcio, fundamental na gestação. E as carnes de proteínas, que é outro nutriente bastante importante neste período. Cuidado ao escolher as carnes, leite e derivados, pois muitos podem ter altos índices de gorduras e sódio. Cálcio e Ferro são nutrientes que competem entre si na absorção, procure evitar consumir fontes destes dois nutrientes nas mesmas refeições. Por exemplo: se seu almoço tiver carne, prefira leite ou iogurte numa próxima refeição, como o lanche da tarde. Achocolatados e café também interferem na absorção de cálcio, por isso devem ser evitados. No caso de uma alimentação sem carne, vegetariana ou vegana, consulte um nutricionista ou profissional de saúde para maiores informações; - -12 consuma pouca gordura, sendo uma porção diária de óleos vegetais, azeite, manteiga. Prefira aqueles que, em sua rotulagem se apresentam sem gorduras trans. Evite alimentos gordurosos, principalmente aqueles que passaram por industrialização, com adição de grandes porções de gorduras e sódio. Buscar informações sobre os alimentos nos rótulos é sempre uma boa maneira de escolher os alimentos mais saudáveis. Lembrando que alimentos gordurosos tendem a aumentar e sensação de náuseas; evite alimentos industrializados, como refrigerantes, sucos artificiais, biscoitos recheados e guloseimas. Estes alimentos aumentam os riscos de obesidade, doenças associadas e ainda fornecem uma grande quantidade de calorias e poucos nutrientes, além do excesso de açúcar ser apontado como um fator de favorecimento das cáries dentárias. Em caso de diabetes gestacional ou gestantes que já apresentem diabetes, deve ser consultado um profissional para o manejo do uso de adoçantes artificiais; diminua o consumo de sal. Ele pode estar presente em diversos alimentos, sendo fácil ultrapassar as recomendações diárias de consumo. Retirar o saleiro da mesa e evitar a adição de sal após o alimento pronto são maneiras de reduzir o consumo. Alimentos industrializados também podem apresentar grandes teores de sódio, sendo a redução do consumo destes uma boa opção. Complicações na gestação relacionadas ao aumento da pressão arterial são comuns, e a redução do sódio pode ser um fator protetor. O sal pode se apresentar em rótulos como sal, sódio e cloreto de sódio; consuma alimentos fonte de ferro, eles evitam a anemia, mantendo a gravidez saudável. A anemia na gestação está relacionada a casos de morte tanto materna, quanto fetal, baixo peso ao nascer e partos prematuros, devendo ser prevenida. Alimentos fonte de ferro são carnes, vísceras, feijões e alguns grãos, folhas verde-escuras e castanhas. O consumo de alimentos fontes de vitamina C favorece a absorção e biodisponibilidade do ferro, sendo favorável o consumo destes nutrientes combinados em uma mesma refeição. Por exemplo: temperar uma salada de folhas verdes com limão é uma boa dica. O ferro de origem animal é melhor absorvido do que ode origem vegetal, por isso, em dietas com restrição de proteínas de origem animal, deve-se procurar um profissional de saúde que possa orientar o consumo e suplementação de ferro. Lembrando que, de acordo com as políticas de saúde vigentes, gestantes entre 20 semanas até 3 meses pós-parto receberão suplementação de ferro, via postos de saúde, bem como suplementação de ácido fólico; mantenha seu ganho de peso dentro do recomendado. O acompanhamento pré-natal tanto por profissionais de saúde, quanto por nutricionista pode auxiliar na manutenção do ganho de peso adequado na gestação. Os ganhos podem variar entre 18kg a 5kg entre gestantes baixo peso, eutrófica, com sobrepeso ou obesidade, durante toda a gestação, e deve ser distribuído durante todo o período. As dicas de alimentação deste guia e outras - -13 recomendações de profissionais de saúde podem ajudar as pacientes a atingir este objetivo. Os riscos de diabetes gestacional, hipertensão, entre outros estados de saúde não desejáveis podem ser prevenidos através de uma alimentação saudável, atividade física e acompanhamento de saúde. Pudemos perceber que as dicas do orientador alimentar para a gestação trazem informações simples e do cotidiano da alimentação das gestantes brasileiras, com foco nos principais nutrientes e na hidratação, com a intenção de prevenir doenças, através de uma alimentação adequada. Para aprimorar as orientações que serão ministradas às gestantes, podemos fazer um cruzamento de informações entre este guia, que foi lançado em 2013, e o Guia Alimentar de 2014, atualizando assim as dicas que serão repassadas às pacientes. Fique de olho Conhecer os documentos norteadores para o atendimento nutricional é uma boa ferramenta na atenção primária. Um bom conhecimento de todos os documentos disponíveis permite ao profissional um sucesso maior na adaptação dos conteúdos diversos ao planejamento alimentar de seu paciente. Para pacientes gestantes, é importante consultar sempre o guia da Rede Cegonha para informações sobre atendimento específico para esse público. este documentos está disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes /manual_alimentacao_nutricao_rede_cegonha.pdf>. - -14 2. Necessidades nutricionais da gestante e situações incomuns Segundo Acioly et al. (2009), há fortes correlações entre o estado nutricional das gestantes e o resultado da gestação, com reflexos inclusive no bebê. Sendo assim, é importante saber quais as necessidades nutricionais da gestante e fornecer informações e orientações precisas para este público, em seu acompanhamento pré- natal, independente do momento em que este atendimento se inicia (BRASIL, 2012a). Lembrando que, quanto mais cedo ocorrer o início do atendimento, melhores os resultados na saúde da gestante. As deficiências de nutrientes como ferro, ácido fólico e vitamina A podem causar deformidades no feto, prejudicar sua formação e desenvolvimento (VITOLO, 2008). O baixo peso da gestante no inicio da gestação, baixo ganho de peso, bem como sobrepeso e obesidade também são fatores que influenciam na saúde, tanto da gestante, quanto do bebê (ACIOLY et al., 2009). Podendo influenciar inclusive em nascimentos de pré-maturos (KRAUSE, 2013). Situações alimentares não comuns podem ocorrer na gestação, conhecida como Pica, caso em que as gestantes relatam a necessidade de ingerir substancias não alimentícias, como gomas de passar roupa, tijolos, cimento ou cal, por exemplo (VITOLO, 2008). Esta condição também é conhecida como Malácia ou Alotriofagia, e pode ocorrer fora da gestação, sendo mais comum durante a gravidez. Pode ser oriunda da falta de nutrientes ou ainda de foro psicológico, sendo necessário o acompanhamento de médicos, nutricionistas e psicólogos ou psiquiatras. Ela não deve ser confundida com a vontade de comer ou desejo de determinado alimentos que ocorre na gestação, bastante relatado em senso comum. Este processo se dá pela alteração de hormônios que ocorrem na gestação, que afetam a sensação de apetite e saciedade, bem como podem aumentar o olfato, gustação e causar sensações de aversão a alguns alimentos e vontade incontrolável de outros. As relações com a alimentação se alteram de gestante para gestante, necessitando, tanto paciente, quanto profissionais de saúde estarem atentos às rotinas de alimentação. Devemos ainda acompanhar o ganho de peso das gestantes, como ponto fundamental do atendimento relacionado a nutrição, sendo orientado pelo Ministério da Saúde um ganho recomendado de: (i) as gestantes que iniciaram a gravidez com baixo peso ganhem entre 12,5kg e 18kg; (ii) as que iniciaram a gravidez com peso normal ganhem entre 11,5kg e 16kg; (iii) as que iniciaram a gravidez com sobrepeso ganhem entre 7kg e 11,5kg; e (iv) as que iniciaram a gravidez com obesidade ganhem entre 5kg e 9kg durante todo o período gestacional (BRASIL, 2012a, p. 88). - -15 - -16 2.1 A dieta saudável na gestação Ao contrário do que diz o senso comum, uma gestante não deve comer por dois. As necessidades nutricionais não se alteram em grandes proporções, sendo recomendado atenção especial à quantidade de calorias, ferro, vitamina A e B e ácido fólico12 , nutrientes essenciais nesta fase. Proteínas, Cálcio e outros micronutrientes também são importantes durante este período, mas não sofrem alteração tão drásticas e não geram distúrbios de saúde comuns na gestação. Como visto anteriormente, seguir as recomendações do Guia Alimentar do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) também pode contribuir para uma alimentação adequada e saudável na gestação. Fracionar as refeições, evitando consumir grandes quantidades de alimentos numa mesma refeição, não deitar logo após a alimentação e observar a hidratação, preferencialmente nos intervalos das refeições, são dicas importantes para o manejo alimentar das gestantes. Segundo Mahan et al. (2013, p. 732), seis passos podem resumir os cuidados nutricionais na gestação: 1. ingestão de energia que atenda às necessidades nutricionais e permita um ganho de peso de aproximadamente 0,4 kg por semana; durante as últimas 30 semanas de gestação; 2. ingestão de proteínas que atenda às necessidades nutricionais, um adicional de aproximadamente 25 g/dia; adicional de 25 g/dia/feto, se houver mais de um; 20% de ingestão de energia a partir das proteínas; 3. ingestão de sal iodado que não exceda nem seja menor que 2-3 g/dia; 4. ingestão de minerais e vitaminas que atendam às ingestões diárias recomendadas (suplementação de ácido fólico e, possivelmente, de ferro necessária); 5. álcool omitido; 6. omitir toxinas e substâncias não nutritivas dos alimentos, da água e do ambiente o máximo possível. Em seguida, veremos quais são as recomendações nutricionais para suprir as necessidades das gestantes, de acordo com a faixa etária. Conhecer estas recomendações trará grandes benefícios ao nutricionista na prescrição dietética, elaboração de orientações e planos alimentares e no acompanhamento do estado nutricional no período da gestação. - -17 Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /f1bb67043644aef4b55a7a13f9e642c7 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/f1bb67043644aef4b55a7a13f9e642c7 https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/f1bb67043644aef4b55a7a13f9e642c7 - -18 2.2 Recomendações nutricionais Cabe ao nutricionista conhecer quais são as recomendações dos principais nutrientes que influenciam o metabolismo humano, fator importante tanto na prescrição dietética quanto na elaboração de planos alimentares, ou ainda nas orientações nutricionais para grupos ou indivíduos na atenção básica. Vamos conhecer as recomendações nutricionais, baseadas no Institute of Medicine (USA), na forma IDR (Ingestão Dietética de Referência) para gestantes. Figura 4 - Recomendações Nutricionais de macro e micronutrientes para gestantes Fonte: Adaptadode Acioly et al. (2009) e Mahan et al. (2013) - -19 #PraCegoVer: A imagem mostra um quadro onde é possível ler IDR para Gestantes no topo. abaixo disso, o quadro se divide em duas colunas: Nutriente e Recomendação. Abaixo da coluna nutriente, as linhas expressam os principais macro e micro nutrientes relevantes para a gestação e, abaixo da coluna recomendação, estão as linhas com suas respectivas quantidades. Em relação aos micronutrientes, cabe ressaltar que Ferro, vitamina B e ácido fólico12 representam papel fundamental no desenvolvimento de anemia ferropriva, sendo primordiais em avaliação e, se necessário, suplementação para uma gravidez saudável. Quanto a macronutrientes, o aumento da TMB (Taxa Metabólica Basal) de gestantes ocorre, de acordo com o informado na tabela acima, para suprir as necessidades energética fetais, para seu crescimento, desenvolvimento e gasto calórico, esta mudança tem seu auge a partir do 3º mês de gestação. Ainda segundo Acioly et al. (2009), são medidas de prevenção da anemia ferropriva durante a gestação: · ingestão de carnes em pelo menos 2 refeições diárias; consumo de frutas com grandes aportes de vitamina C, como caju, abacaxi, laranja, maracujá e goiaba; estímulo ao consumo de feijões e outras leguminosas; presença de vegetais verde-escuros e alimentos fortificados com ferro; · devem ser desestimulados hábitos como o consumo de produtos lácteos (leite e derivados) junto às grandes refeições; presença de aveia e cereais integrais em almoço ou jantar; consumo de refrigerantes, mate, chás que contenham cafeína e café junto a refeições de maior volume (almoço e jantar). - -20 2.3 Adesão a uma dieta saudável na gestação A adesão a um programa alimentar saudável durante a gestação tem se demonstrado, através de diversos estudos de saúde materna e fetal, como um diferencial na qualidade de vida tanto de gestantes, quanto de seus bebês. Deficiências nutricionais estão relacionadas a más-formações, baixo peso ao nascer, aumento na pressão arterial e eclampsia, diabetes gestacional, anemia ferropriva, parto prematuro, entre outras complicações (VITOLO, 2008). Acompanhamento e elaboração de um plano alimentar que possa garantir uma alimentação adequada e saudável durante a gestação fazem parte do atendimento nutricional na saúde primária, ou seja, durante o período pré- natal. A seguir, veremos estratégias de ação para realizar avaliação antropométrica, o consumo de alimentos e a elaboração de um plano alimentar na gestação que seja possível de ser cumprido pelas pacientes em questão. Lembrando que este processo pode ocorrer tanto na rede pública de atendimento, através dos postos de saúde e programas de saúde da mulher, gestante e família, quanto pode ocorrer dentro da rede privada de atendimento, em hospitais, clinicas e consultórios. Bem como poderá acontecer em atendimento individual ou em grupo. Os principais passos para elaboração de um atendimento global passam por recepção humanizada das pacientes, processo de escuta das necessidades e anseios, avaliação antropométrica, avaliação bioquímica, avaliação dietética, diagnóstico e elaboração do plano de ação nutricional. - -21 3. Como avaliar o consumo alimentar de gestantes: avaliação quantitativa e qualitativa Os métodos mais utilizados na avaliação do consumo alimentar de pacientes, tanto gestantes quanto não gestantes, em populações saudáveis e enfermas são: recordatório de 24 horas e frequência de consumo. Estes dois métodos podem ser utilizados de maneira isolada ou ainda em combinação, e realizam uma avaliação tanto quantitativa, quanto qualitativa do consumo de alimentos de um indivíduo. O esclarecimento, ao paciente, de como funcionam estes questionários, preenchimento de um piloto simulado durante a consulta como exemplificação e a retirada de todas as dúvidas relacionadas ao preenchimento poderão trazer informações mais acertadas em relação ao consumo de alimentos, sendo que a partir destas informações será traçada a estratégia de atendimento nutricional destas pacientes. - -22 3.1 Avaliação nutricional A partir destes questionários de consumo será possível verificar quais são as ingestões de alimentos relacionadas a calorias, nutrientes e grupos alimentares. Com o resultado desta avaliação dos questionários, é possível avaliar, juntamente com os exames bioquímicos, se existem excessos no consumo de alguns nutrientes e falta de outros, sendo possível traçar o plano alimentar desta paciente, de acordo com a avaliação antropométrica, que nos trará informações como peso, altura e pregas cutâneas, e, em alguns casos, bioimpedância (avaliação das taxas de gordura corporal), sendo então calculadas as necessidades nutricionais diárias de cada paciente, dentre elas o valor calórico diário, por exemplo, seguido pelo ganho de peso estimado na gestação durante as 40 semanas. Para ajustes de plano alimentar, prescrição dietética e acompanhamento do estado nutricional da gestante, importa saber qual o valor de calorias diário que deverá ser consumido. O cálculo de VET e GE (gasto energético) das gestantes pode ser obtido através das seguintes fórmulas: VET = GE + ADICIONAL ENERGÉTICO GESTACIONAL GE = TMB x fa* *Fator atividade física Figura 5 - Fator atividade física Fonte: Revista O2 (2006) #PraCegoVer: a imagem traz uma tabela do fator de atividade física de homens e mulheres para atividades físicas leves, moderadas e intensas. - -23 3.2 Avaliação quantitativa Esta avaliação tem como objetivo verificar as quantidades de alimentos, tanto em termos de nutrientes, quanto de grupos alimentares consumidas por um paciente. Conforme mencionamos no tópico Avaliação Nutricional, esta investigação pode ser feita através de diferentes métodos, sendo o mais quantitativo descrito abaixo: Recordatório 24 horas: questionário no qual são anotados todos os alimentos consumidos pelo paciente nas últimas 24 horas anteriores ao atendimento nutricional. Ele pode ser feito em período anterior às 24 horas que antecedem a consulta, mas normalmente reflete o consumo de um dia inteiro de alimentação, constando todas as refeições (café da manhã ou desjejum, almoço, lanches e jantar). Mesmo alimentos que não refletem uma refeição ou lanches deverão ser anotados, bem como as quantidades consumidas, como balas, sucos, frutas, entre outros. Os consumos hídricos que não estejam relacionados a refeições ou lanches também deverão ser devidamente registrados. 3.3 Avaliação qualitativa Um dos métodos de investigação qualitativa de alimentação, desenvolvido no decorrer dos anos, foi o questionário de frequência de consumo alimentar, também conhecido como QFA (questionário de frequência alimentar). Abaixo veremos a descrição deste método: Frequência de Consumo: conhecido como um registro qualitativo de consumo alimentar, pode ser tratado como semi-qualitativo ou ainda, quantitativo, de acordo com a avaliação que é feita dos dados coletados. Ele permite obtenção de informações a respeito do consumo alimentar de alimentos e nutrientes, sua frequência e quantidades consumidas. Este questionário consiste basicamente do preenchimento de uma lista de alimentos ou nutrientes (carboidratos por exemplo) e a frequência em que consome este alimento /nutriente. A marcação pode ser diária, semanal ou mensal. Tanto nos métodos quantitativos, quanto nos qualitativos cabe ao profissional receptor dos dados, neste caso o nutricionista, avaliar e compilar as informações recebidas, de modo que elas possam contribuir para as orientações, planos alimentares ou possíveis prescrições dietéticas que possam dar sequência no atendimento em saúde. Outros métodos de verificação do consumo alimentar podem ser utilizados, porém não são tão comuns quanto os referidos acima. São eles: registro ou diário alimentar, história dietética e inventário alimentar. Todos têm em comum o fato de registrarem longos períodos de consumo, mas apresentam como fragilidade o fato de ficaremsujeitos à rotina dos pacientes e à memória dos mesmos. - -24 4. Metodologia de atenção nutricional em pré-natal de baixo risco: como se faz uma consulta de nutricionista dirigida a gestantes? O Ministério da Saúde, como órgão máximo de gestão de saúde pública brasileiro, define as diretrizes do atendimento primário. Este atendimento primário consiste nas consultas realizadas em programas desenvolvidos em postos e unidades básicas de saúde. Estes atendimentos podem ser feitos de forma individualizada, como é o caso das consultas médicas, avaliações e aferições de enfermagem, atendimento nutricional e de outras especialidades. Mas também podem ser desenvolvidos através de ações coletivas, que visem a estimular o atendimento em grupo, como é o caso dos grupos de gestantes atendidos nas unidades de saúde básicas. Em seguida, nos aprofundaremos neste tipo de atendimento, com foco nos documentos oficiais do Ministério da Saúde, voltados para o público de gestantes, para atendimento na atenção básica de baixo risco (BRASIL, 2016). Este atendimento procura englobar o momento de descoberta de gravidez, seu desenvolvimento no decorrer das 40 semanas, parto e período de puerpério e saúde da mulher e criança no período pós-parto . Segundo manual prático para implementação da Rede Cegonha – folder (BRASIL, 2013d), o atendimento deve seguir os seguintes passos: · Acolhimento com avaliação e classificação de risco e vulnerabilidade, ampliação do acesso e melhoria da qualidade do pré-natal; · Vinculação da gestante à unidade de referência para o parto, e ao transporte seguro; · Boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento; · Atenção à saúde das crianças de 0 a 24 meses com qualidade e resolutividade; · Acesso às ações de planejamento reprodutivo. Segundo Costa et al. (2005, p. 773), o atendimento a gestantes de baixo risco, no âmbito da atenção básica segue o seguinte protocolo: [...] o Ministério da Saúde estabelece diretrizes e princípios norteadores para o PHPN entre os quais destaca-se o conjunto dos direitos relacionados a: universalidade do atendimento ao pré natal, ao parto e puerpério digno e de qualidade às gestantes, acesso com visitação prévia ao local do parto, - -25 presença do acompanhante no momento do parto e atenção humanizada e segura ao parto. Esses direitos são ainda extensivos ao recém-nascido, em relação à adequada assistência neonatal. Posteriormente, deverão ser seguidos os passos de avaliação nutricional preconizados pelos Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde em seu nº 32: 1. Calcule a idade gestacional em semanas. Obs.: Quando necessário, arredonde a semana gestacional da seguinte forma: 1, 2, 3 dias, considere o número de semanas completas; e 4, 5, 6 dias, considere a semana seguinte. Exemplos: gestante com 12 semanas e 2 dias = 12 semanas; gestante com 12 semanas e 5 dias = 13 semanas. 2. Localize, na primeira coluna da tabela 1 (presente no caderno nº 32), [...] a semana gestacional calculada e identifique, nas colunas seguintes, em que faixa está situado o IMC da gestante. 3. Classifique o estado nutricional (EN) da gestante, segundo o IMC, por semana gestacional, da seguinte forma: Baixo peso: quando o valor do IMC for igual ou menor do que os valores apresentados na coluna correspondente a baixo peso; Adequado: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na coluna correspondente a adequado; Sobrepeso: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na coluna correspondente a sobrepeso; Obesidade: quando o valor do IMC for igual ou maior do que os valores apresentados na coluna correspondente a obesidade. (BRASIL, 2012a, p. 74 e 75). Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /910574993ecbd9410772cfac036bfeff https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/910574993ecbd9410772cfac036bfeff https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/910574993ecbd9410772cfac036bfeff - -26 4.1 Como recepcionar a paciente A recepção da paciente em serviço de saúde pode resultar no retorno ou sucesso no atendimento. De acordo com as diretrizes de atendimento humanizado, baseadas na PNH (Política Nacional de Humanização) do Ministério da Saúde, observar questões como nome da paciente, respeito a sua individualidade e intimidade, cordialidade e agilidade no atendimento podem trazer benefícios tanto para o sistema de saúde, como para própria paciente. Estes fatores promovem maior engajamento nas consultas e maiores chances de aderência às práticas promotoras de saúde, além da promoção do parto e do nascimento saudáveis e a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal (BRASIL, 2012a). Segundo o documento norteador da Rede Cegonha (BRASIL, 2013d), um atendimento humanizado é aquele que: Pode-se afirmar que para haver humanização deve haver: compromisso com a ambiência (bem-estar integral em determinado ambiente), melhoria das condições de trabalho e de atendimento; respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.); fortalecimento de trabalho em equipe multiprofissional, fomentando a transversalidade e a grupalidade (experiências coletivas significativas); apoio à construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos; fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as instâncias gestoras do SUS; e compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação permanente. É de suma importância aplicar estes conceitos a todas as pacientes em atendimento de saúde, promovendo maior qualidade de vida e bem-estar a estes atores sociais. Na sequência, observaremos as demais questões envolvidas no atendimento na atenção básica para gestantes de baixo risco. - -27 4.2 Como manter o foco nas orientações Um atendimento de saúde, que contemple as necessidades dos pacientes e ainda observe as questões relacionadas à realidade vivida por aquela população, tende a gerar orientações que são factíveis, ou seja, que podem ser adaptadas às rotinas diárias dos pacientes. Em casos de gestantes, compreender os processos fisiológicos pelos quais elas passam, suas alterações hormonais e de humor, as ansiedades pertinentes à geração de uma vida e questões relacionadas ao desenvolvimento da gravidez e parto pode ocasionar maior adesão às orientações dietéticas. O apoio de toda a equipe de saúde e acompanhamento multidisciplinar também são ações que podem trazer bons frutos neste sentido. A clareza das informações prestadas, tanto em relação às condições de saúde, quanto em relação às orientações, bem como sugestões de melhorias relacionadas à alimentação são certamente bons caminhos a serem seguidos. Podemos usar como exemplo uma paciente que receba um plano alimentar com alimentos que não fazem parte de seu cotidiano, ou ainda, que tenham alto valor, não acompanhando seu poder aquisitivo, isto causaria estranhamento e possível abandono deste plano. Se, por outro lado, o profissional tiver conhecimento da rotina alimentar desta paciente, investigando quais alimentos ela costuma ingerir, qual sua rotina de alimentação diária, seu acesso aos alimentos, e o plano alimentar respeitar estas condicionantes, certamente as chances de sucesso serão maiores. - -28 4.3 Casos tardios ou desistências Outras questões com as quais teremos que lidar, no atendimento em saúde de pacientes de baixo risco, são os casos tardios e as desistências. Nem todas as pacientes descobrem a gravidez no primeiro trimestre, não sendo raro relatos de casos de descoberta inclusive no momento do parto. Nesse sentido, é importante que possamos saber qual a abordagem mais adequada, quando a paciente descobrea gravidez num estágio avançado da gestação. Sendo necessário iniciar as avaliações de peso e altura, número de semanas de gestação, e possivelmente a escolha de métodos de avaliação do consumo alimentar que não demandem tanto tempo, como pode ser o caso de um recordatório de 24 horas. Imaginemos que uma paciente chegue ao serviço de saúde com amenorreia (ausência de menstruação), e seja feita a solicitação de exames de sangue. Digamos que entre o trâmite de solicitação dos exames, coleta e resultados, e ainda marcação de nova consulta se passem 30 dias. Se a paciente já estivesse grávida no momento da primeira consulta, e com gestação estimada em 20 semanas, a confirmação ocorreria com 24 semanas. A sequência de um plano de pré-natal não poderia seguir o mesmo padrão de uma paciente que descobriu a gravidez na terceira semana. Já em casos de desistência, deve ser um trabalho realizado em equipe, sendo envolvidos recepcionistas ou atendentes da unidade de saúde e agentes de saúde, na descoberta do motivo do abandono do pré-natal e tentativas de reestabelecer este atendimento. Mudanças de cidade, internamentos, abortos espontâneos, ou apenas falta de motivação para permanecer comparecendo às consultas podem ser alguns dos motivos que deverão ser investigados e solucionados pela equipe da atenção básica. - -29 5. Como organizar as intervenções nutricionais dentro de um pré-natal de baixo risco, com ênfase no papel do nutricionista Segundo as orientações do Ministério da Saúde, este tipo de atendimento, realizado em assistência básica, tem por objetivo: · Fomentar a implementação de um novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos 24 meses; · Organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil que garanta acesso, acolhimento e resolutividade e; · Reduzir a mortalidade materna e infantil (BRASIL, 2016). As recomendações de intervenções nutricionais, neste momento, têm maior foco nos trabalhos em grupo do que nos individuais, por questões pedagógicas do aprendizado que ocorre nas trocas entre diversos atores sociais que trabalham em conjunto um mesmo tema. São ações que podem surtir efeito e são preconizadas pelo Ministério da Saúde no atendimento nutricional: · ações de educação em saúde; · ações de educação alimentar e nutricional e promoção da alimentação saudável e adequada (de acordo com os guias alimentares). - -30 5.1 Educação alimentar e nutricional Segundo o Marco de EAN, documento norteador para criação de politicas públicas de alimentação e nutrição, educação alimentar e nutricional significa: Educação Alimentar e Nutricional, no contexto da realização do Direito Humano à Alimentação Adequada e da garantia da Segurança Alimentar e Nutricional, é um campo de conhecimento e de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A prática da EAN deve fazer uso de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos que favoreçam o diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o comportamento alimentar (BRASIL, 2012b, p. 23). Este conceito deve balizar as ações tanto do trabalho em grupo relacionado à alimentação e nutrição das gestantes, quanto do atendimento individual, seja na avaliação do consumo alimentar das pacientes, seja na tomada de decisões sobre a melhor estratégia de trabalho, bem como nas orientações prestadas. Deste modo, cabe estabelecer uma relação baseada nas recomendações do Marco de EAN, quanto às intervenções nutricionais para gestantes de baixo risco: escuta ativa e próxima; reconhecimento das diferentes formas de saberes e práticas; construção partilhada de saberes, práticas e soluções; valorização do conhecimento, da cultura e do patrimônio alimentar; atender às necessidades dos indivíduos e grupos; busca da formação de vínculo entre os diferentes sujeitos que integram o processo; busca de soluções contextualizadas; relações horizontais; monitoramento permanente dos resultados; formação de rede entre profissionais e setores envolvidos visando à troca de experiências e o diálogo (BRASIL, 2012b, p. 35). - -31 5.2 Trabalho em equipe multidisciplinar A atenção pré-natal tem como objetivos principais: assegurar a evolução normal da gravidez; preparar a mulher em gestação para o parto, o puerpério e a lactação normais; identificar o mais rápido possível as situações de risco. Essas medidas possibilitam a prevenção das complicações mais frequentes da gravidez e do puerpério (OSIS et al., 1993), neste sentido, é primordial o atendimento realizado por equipe multidisciplinar. As equipes de saúde compostas por diversas áreas do atendimento tendem a prestar maiores cuidados aos pacientes por meio de abordagens diferenciadas, porém complementares, além de desafogarem o atendimento de um único profissional responsável por todo o cuidado com aquela paciente. No caso da gestação, são muitos os benefícios tanto do atendimento em equipe multidisciplinar, quanto em grupos de apoio. As trocas de experiências entre profissionais e pacientes tem sido apontada como positiva por maior adesão, benefícios mútuos e aprendizado colaborativo. Além de ser estimulada pelas diretrizes da atenção básica em saúde (BRASIL, 2009) e OMS. Ainda que em muitos casos o nutricionista não componha a equipe do Programa de Saúde da Família, por exemplo, planos de trabalho têm sido desenvolvidos na ampliação da presença deste profissional nas unidades básicas de saúde, promovendo assim maior interação de nutricionistas com o campo da saúde pública. é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer sobre a estrutura dos guias alimentares, inclusive os indicados para gestantes, sempre baseados em documentos oficiais do Ministério da Saúde; • compreender melhor como devem ser as orientações sobre alimentação adequada e saudável na gestação, com apresentação de 10 passos para uma alimentação saudável; • apreender informações importantes sobre a dieta de gestantes na promoção de uma gestação saudável, com influência na saúde da mãe e do bebê; • descobrir os métodos para realizar a avaliação de consumo alimentar, tanto de maneira qualitativa quanto de maneira quantitativa; • identificar as bases metodológicas para a atenção nutricional em gestantes de baixo risco pelas diretrizes do SUS; • aprender como organizar as intervenções nutricionais baseadas em educação alimentar e nutricional, tanto para coletividade e consultas individuais. • • • • • • - -32 Referências ACCIOLY, E. et al. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. Cultura Médica, 2009. 649p. ALMEIDA FILHO, N; BARRETO, ML. Rio de Janeiro: Epidemiologia & Saúde. Guanabara Koogan, 2013. 699 p. BRASIL. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção eLei 8.080, de 19 de setembro de 1990. recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 set. 1990a Seção 1. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /leis/l8080.htm>. Acesso em: 18 de fev. de 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. (Série A. Normas e Manuais Técnicos - Cadernos de Atenção Básica, n. 23). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré- Brasília: Ministério da Saúde, 2012a. (Série A. Normas e Manuais Técnicos - Cadernos denatal de baixo risco. Atenção Básica, n° 32). BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. SecretariaNacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Brasilia:Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. MDS, 2012b. 68p. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cartilha 10 Brasília: Ministério da Saúde, 2013a. Disponível em: <passos para uma alimentação saudável – gestantes. http://189.28.128.100/nutricao/docs/geral/10passosGestantes.pdf> Acesso em 17 de fev. de 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual Brasília: Ministério da Saúde, 2013b.instrutivo das ações de alimentação e nutrição na rede Cegonha. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro: manual de condutas gerais. 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Atendimento a gestantes no Sistema Único de Saúde. . vol. 39, 2005.Revista de Saúde Pública p: 768-774 MAHAN, L. K. et al. Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 1228 p.Krause: MENDES, A. Gestão pública e relação público-privado na Saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2011, vol.16, n.4, pp. 2347-2350. OSIS, M. J. D. et al. Fatores associados à assistência pré-natal entre mulheres de baixa renda no Estado de São Paulo (Brasil). . 1993; 27:49-53.Rev Saúde Pública PALMA, D; et al. Barueri, SP: Manole, 2009, 661 p.Guia de nutrição clínica na infância e na adolescência. REVISTA O 2006. Disponível em:< 2. Calorias sob medida. http://www.leb.esalq.usp.br/leb/aulas/ler0140 /Calorias_sob_medida.pdf>. Acesso em 20 de fev. de 2020. ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. 6. ed. Rio Epidemiologia e Saúde. de janeiro: MEDSI, 2003. 780p. VÍTOLO, M. R. 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Metodologia de atenção nutricional em pré-natal de baixo risco: como se faz uma consulta de nutricionista dirigida a gestantes? Assista aí 4.1 Como recepcionar a paciente 4.2 Como manter o foco nas orientações 4.3 Casos tardios ou desistências 5. Como organizar as intervenções nutricionais dentro de um pré-natal de baixo risco, com ênfase no papel do nutricionista 5.1 Educação alimentar e nutricional 5.2 Trabalho em equipe multidisciplinar é isso Aí! Referências
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