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INFECÇÕES PARASITÁRIAS Os parasitos podem ser subdivididos em protozoários e helmintos. → Protozoários ∙ Os protozoários parasitos são eucariontes unicelulares e são a principal causa de doença e morte em países em desenvolvimento. ● Os protozoários podem se reproduzir intracelularmente ou extracelularmente. ● Transmissão: Insetos vetores; Oral-fecal; Sexual (Trichomonas vaginalis) . → Helmintos ∙ Os helmintos (vermes) parasitos são organismos multicelulares altamente diferenciados. ● Reprodução sexuada no hospedeiro definitivo ● Multiplicação assexuada em um hospedeiro intermediário ou vetor. ● Transmissão: Oral-fecal; Insetos vetores; Invasão direta PROTOZOÁRIO Malária Paciente com 32 anos, procedente da Amazônia. Refere há sete dias um quadro súbito de febre irregular, acompanhada de cefaleia, calafrios, e dor no corpo durante os episódios febris. Ao exame físico, estava prostrado, levemente ictérico com hepatoesplenomegalia. Na pesquisa direta de parasitos no sangue periférico, observou se uma estrutura aneliforme dupla cromatina no interior da hemácia. Considerando-se os achados clínicos e laboratoriais, responda 1. Qual a hipótese diagnóstica? ∙ Malária 2. Qual o agente etiológico? Como é a transmissão? ∙ Agente é Plasmodium ∙ Transmissão pela picada do vetor – anópheles 3. Quais as características clínicas? ∙ Febre, icterícia, hepatoesplenomelagia, anemia . Vetor da malária: mosquito do gênero anopheles. ● É intracelular. Protozoário: plasmodium, existem 4 espécies - Plasmodium vivax (mais comum - Plasmodium falsiparum (mais grave) - Plasmodium malariae (mais raro) - Plasmodium ovalae Ciclo evolutivo Mosquito pica e entra o plasmodium entra no corpo na forma esporozoíta, ao entrar, essa forma precisa amadurecer, esse amadurecimento acontece no fígado (no hepatócito) - por meio da ligação ao receptor do hepatócito para as proteínas séricas trombospondina e properdina - então o parasita precisa chegar no fígado para se multiplicar e amadurecer na forma merozoita (forma madura). Quando alcança a forma madura, o parasita vai para seu alvo principal através da corrente circulatória, que são as hemácias, então entra na hemácia e mantém seu ciclo dentro da hemácia – se multiplicando até que a hemácia se rompe – quando rompe, ocorre liberação na corrente circulatória que fazem com que ative os mediadores inflamatórios, levando a febre. Apesar de a maioria dos parasitos da malária no interior de eritrócitos se desenvolver em merozoítos, alguns se desenvolvem em formas sexuadas denominadas gametócitos, que infectam o mosquito quando este se alimenta de sangue. No caso do plasmodium vivax quando entra no fígado, parte dele ao invés de amadurecer ir para o sangue, permanece ali de forma hibernante, esperando um outro momento para sair do fígado. Plasmodium vivax, P. ovale e P. malariae causam baixos níveis de parasitemia: ∙ Anemia branda, e, em casos raros, ruptura esplênica e síndrome nefrótica. P. falciparum causa altos níveis de parasitemia ∙ Anemia intensa, sintomas cerebrais, insuficiência renal, edema pulmonar e morte. Patogenicidade: Diversas características de P. falciparum são responsáveis por sua grande patogenicidade: ● O P. falciparum é capaz de infectar eritrócitos de qualquer idade, levando a altas cargas parasitárias e anemia profunda. As outras espécies infectam apenas eritrócitos jovens ou velhos, os quais são uma fração menor do pool de eritrócitos. ● O P. falciparum faz com que os eritrócitos se agreguem (rosetas) e provocam sua adesão às células endoteliais do revestimento de pequenos vasos sanguíneos (sequestro), o que bloqueia o fluxo sanguíneo. A isquemia devido à baixa perfusão causa as manifestações da malária cerebral, a qual é a causa principal de morte devido à malária em crianças. ● O P. falciparum estimula a produção de altos níveis de citocinas, incluindo TNF, IFN γ, e IL-1. Essas citocinas suprimem a produção de eritrócitos, aumentam a febre, estimulam a produção de óxido nítrico (levando a dano tecidual) e induzem a expressão de receptores endoteliais para PfEMP1 (aumentando o sequestro). → Resistência do Hospedeiro ao Plasmodium Existem dois mecanismos gerais de resistência do hospedeiro ao Plasmodium. ∙ Primeiro, alterações herdadas em eritrócitos tornam pessoas resistentes ao Plasmodium. ∙ Segundo, exposição repetida ou prolongada às espécies de Plasmodium estimulam uma resposta imune que reduz a intensidade da doença causada pela malária. Pessoas que são heterozigóticas para o traço falcêmico (Hbs) se tornam infectadas pelo P. falciparum, mas elas são menos propensas a morrer da infecção. O traço Hbs faz com que os parasitos cresçam pobremente ou morram devido às baixas concentrações de oxigênio. A distribuição geográfica do traço Hbs é semelhante à do P. falciparum, sugerindo a seleção evolutiva, pelo parasito, do traço Hbs em pessoas. A HbC, uma outra mutação comum da hemoglobina, também protege contra a malária intensa por reduzir a proliferação do parasito. As pessoas também podem ser resistentes à malária devido à ausência de proteínas as quais o parasito se liga. O P. vivax entra nos eritrócitos através da ligação ao antígeno do grupo sanguíneo Du�y. Anticorpos e linfócitos T específicos para o Plasmodium reduzem as manifestações da doença, apesar de o parasito ter desenvolvido estratégias para escapar da resposta imune dos hospedeiros. Clínica Sinais e sintomas ● Crises febris As crises febris acontecem por ruptura da hemácia libera mediadores inflamatórios. - Febre terçã e quartã pode ocorrer – mais comuns em lugares não endêmicos). ● Anemia hemolítica – icterícia Quando a hemácia se rompe, libera-se bilirrubina indireta na corrente circulatória, por isso ocorre a icterícia Num paciente normal com anemia hemolítica, no hemograma apresenta o reticulócito aumentado, no caso da anemia hemolítica por conta da malária o reticulocito não está alto porque o plasmodium fica dentro do reticulócito. ● Hepatoesplenomegalia As hemácias são invadidas o tempo todo então, o fígado e o baço tem função de “analisar” quais são as hemácias boas e as ruins, para poderem matar as ruins, e como são muitas essas hemácias ruins, para isso eles precisam aumentar sua função para “manter as hemácias que estão boas” e por isso aumentam seu tamanho. ● Trombocitopenia (diminuição de plaquetas) e leucopenia (diminuição dos leucócitos) . O baço faz hemocaterese, quando a hemácia esta invadida por parasitas, ela fica deformada e tem dificuldade de passagem pelos capilares, assim o baço percebe que essa hemácia não está “boa” e então a mata, e matando a hemácia, acaba matando alguns outros componentes do sangue, causando também leucopenia. ● Mal estar, fadiga, vômitos ● Liberação de fatores inflamatórios. Na infecção crônica pela malária, o baço se torna progressivamente fibrótico e frágil, com uma capsula espessa e trabéculas fibrosas. O parênquima está cinza ou preto devido as células fagocíticas conterem pigmento hemozoína, que é granular, marrom-enegrecido, fracamente birrefringente. Com a progressão da malária, o fígado se torna progressivamente aumentado e pigmentado. As células de Kup�er (macrofagos do fígado) são altamente preenchidas por pigmentos maláricos, parasitos e debris celulares, enquanto algum pigmento também está presente nas células parenquimatosas. Células fagocíticas pigmentadas podem ser encontradas dispersas ao longo da medula óssea, linfonodos, tecidos subcutâneos e pulmões. Os rins estão frequentemente aumentados e congestos com uma poeira de pigmento nos glomérulos e aglomerados de hemoglobina nos túbulos. Filariose A larva – que são as microfilarias – estão presentes na glândula salivar do mosquito (fêmea), esse mosquito se alimenta de sangue. Quando as fêmeas picam, injetam a saliva na pessoa que tem função anestésica e anticoagulante, e é na saliva que estão as microfilarias infectadas. Essas microfilarias caem nos capilares sanguíneos e migram para os vasos linfáticos, lá sofrem uma evolução para a fase adulta– esses vermes são de sexo distintos (macho e fêmea) – e começam a se copular, os ovos então ficam “guardados” no corpo da fêmea, quando os ovos se tornam completamente maduros, eles eclodem e novas microfilárias saem do corpo da fêmea e vão se deslocando para capilares sanguíneos cada vez mais superficiais. Cronicamente, os capilares e vasos linfáticos acabam ficando obstruídos para a passagem dom sangue por conta da grande quantidade de larvas, à hipoxia causa o edema. Na perna se desenvolve uma fibrose subcutânea e uma hiperqueratose epitelial – elefantíase. Na filaríase linfática crônica, o dano ao linfático causado diretamente pelos parasitos adultos e por uma resposta imunomediada por TH1, a qual estimula a formação de granulomas ao redor dos parasitos adultos. Vermes filarianos adultos – vivos, mortos, ou calcificados – estão presentes nos vasos linfáticos de drenagem ou nodos, circundados por: ● Inflamação branda ou ausente ● Uma eosinofilia intensa com hemorragia e fibrina (funiculoepididimite filariana recorrente) ● Granulomas. Com o tempo, os linfáticos dilatados desenvolvem pólipos circundantes. Nos testículos, o fluido da hidrocele, o qual frequentemente contêm cristais de colesterol, eritrócitos e hemossiderina, induz o espessamento e a calcificação da túnica vaginal. O envolvimento pulmonar por microfilárias é marcado por eosinofilia causada por respostas TH2 e produção de citocina (eosinofilia tropical), ou por microfilárias mortas circundadas por precipitados eosinofílicos, hialinos é estrelados, embebidos em granulomas epitelióides pequenos (corpos de Meyers-Kouvenaar). Tipicamente, estes pacientes não possuem outras manifestações de doença filariana. Leishmaniose A leishmaniose é uma doença inflamatória crônica da pele, membranas mucosas ou vísceras, causada por protozoários parasitos intracelulares obrigatórios), transmitidos através da picada de flebotomíneos infectados. Agente etiológico: - Leishmania braziliensis - L. donovani - L. chagasi. - L. infantum. Vetor: flebotomíneos O ciclo de vida da Leishmania envolve duas formas: ● Promastigota, a qual se desenvolve e vive extracelularmente no vetor flebotomíneo. Invade vários tipos de células, mas especificamente invade MACROFAGOS- onde se diferenciam. - ativa e inibe o sistema complemento, evitando sua destruição. Não é sensível ao fagocito e inibe a ação das suas enzimas (fagolisossomo) e espécies reativas de oxigenio. ● Amastigota a qual se multiplica intracelularmente nos macrófagos do hospedeiro. Secreta ATPases que mantém o ph dentro do fagolisossomo (+alto) para evitar à sua degradação. As espécies de Leishmania produzem quatro tipos diferentes de lesões em humanos: ● Visceral ● Cutânea ● Mucocutânea ● Cutânea-difusa. Chagas O Trypanosoma cruzi é um protozoário parasito intracelular, que causa à tripanossomíase americana ou doença de Chagas. Agente etiológico: Trypanosoma cruzi Vetor: Bicho barbeiro (triatomíneos) Enquanto a maioria dos patógenos intracelulares evita os conteúdos tóxicos dos lisossomas, o T. cruzi realmente necessita de breve exposição ao fagolisossomo ácido para estimular o desenvolvimento das amastigotas, o estágio intracelular do parasito. Para ser exposto ao lisossomo, as tripomastigotas de T. cruzi estimulam um aumento na concentração de cálcio citoplasmático nas células hospedeiras, o que promove a fusão do fagossomo e lisossomo. Além de estimular o desenvolvimento da amastigota, o baixo pH do lisossoma ativa proteínas formadoras de poros que rompem à membrana lisossômicas, liberando o parasito no citoplasma celular. Os parasitos se reproduzem na forma de amastigotas arredondadas no citoplasma das células hospedeiras, e então desenvolvem flagelos, lisam a célula hospedeira, entram na corrente sanguínea e penetram nos músculos liso, esquelético e cardíaco. Na doença de Chagas aguda, a qual é branda na maioria dos indivíduos, o dano cardíaco resulta de invasão direta das células miocárdicas por organismos e subsequente inflamação. Raramente, a doença de Chagas aguda se apresenta com alta parasitemia, febre ou dilatação cardíaca progressiva e insuficiência cardíaca, frequentemente com linfadenopatia generalizada ou esplenomegalia. Na doença de Chagas crônica, a qual ocorre em 20% das pessoas 5 a 15 anos após a infecção inicial, o mecanismo de dano cardíaco e ao trato digestivo é controverso; ele provavelmente resulta de uma resposta imune induzida por parasitos T. cruzi, os quais ainda estão presentes em pequenos números. Um infiltrado inflamatório evidente do miocárdio pode ser induzido por organismos escassos. Alternativamente, parasitos podem induzir uma resposta autoimune, de forma que anticorpos é células T que reconhecem proteínas do parasito reajam de forma cruzada com células miocárdicas do hospedeiro, células nervosas é proteínas extracelulares como a laminina. O dano às células miocárdicas e às vias de condução causa miocardiopatia dilatada e arritmias cardíacas, enquanto o dano ao plexo mioentérico causa dilatação do cólon (megacólon) e esôfago. Na miocardite aguda letal, as mudanças são difusamente distribuídas ao longo do coração. Grupos de amastigotas causam aumento de fibras miocárdicas individuais e criam pseudocistos intracelulares. Ocorre necrose celular miocárdica focal acompanhada de infiltração inflamatória intersticial extensa, densa e aguda por todo o miocárdio, frequentemente associada à dilatação das quatro câmaras cardíacas. Na doença de Chagas crônica, o coração está tipicamente dilatado, arredondado, e umentado em tamanho e peso. Frequentemente, existem trombos murais que, em cerca de metade dos casos de autopsia, deram origem a êmbolos pulmonares ou sistêmicos ou infartos.