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Patologia do colo uterino Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2021 2020-21 · Anatomia · Útero com corpo e colo, 2 ovários e 2 tubas · Medidas normais e peso: depende da faixa etária da paciente · Útero em idade fértil: 50-70 gramas, 2/3 superiores corpo e terço inferior colo separados por uma constrição, istmo interno · Mulher pós menopausa: útero menor com proporção meio a meio para colo e corpo · Colo composto por duas porções principais · Voltada para o canal vaginal = ectocérvice · Voltada para o interior do colo = endocérvice · Ostio esterno no ectocérvice · Ostio interno: comunica o colo do útero com a cavidade uterina · Porção entre os 2 óstios = canal cervical ou endocervical ou endocérvice · Visão do exame clínico · Ectocérvice e ostio esterno com formato variado: nulípara (circular) ou multípara (aspecto em fenda) · Histologia: · Ectocérvice e endocérvice com revestimentos epiteliais diferentes · Ectocérvice: epitélio escamoso estratificado · Endocérvice: epilético colunar simples mucossecretor · Logo abaixo: glândulas produtoras de muco para a região do canal endocervical · Transição = junção escamocolunar ou JEG ao nível do orifício esterno -> onde os epitélios escamoso e colunar se encontram · Do ostio esterno para fora: epitélio escamoso estratificado · Do ostio esterno para dentro: epitélio colunar simples mucossecretor · Variação da JEG em relação à localização -> depende dos estímulos hormonais e da idade da paciente Ectrópio e metaplasia escamosa · Fenômeno fisiológico de eversão da JEG (se exterioriza) situada na região da ectocérvice = ectrópio · Exposição do epitélio colunar: entra em contato com o meio vaginal -> + sujeito a traumatismo durante as relações sexuais · Epitélio colunar + frágil e menos resistente -> adaptação: por meio de substituição para epitélio escamoso (+ resistente): metaplasia escamosa · Epitélio escamoso e epitélio de metaplasia escamosa (glândulas em correspondência) · Glândulas originalmente não associadas ao epitélio escamoso, mas sim ao epitélio colunar mucossecretor · Zona de transformação: entre JEG original e JEG atual (ao nível da ectocérvice -> região que sofrerá a metaplasia escamosa) · Área do colo uterino que o epitélio colunar é substituído pelo epitélio escamoso · HPV (papilomavírus humano) se adapta melhor a essa região -> lesões displásicas · Teste de Schiller (2ª foto): substância rica em iodo que fixa em células ricas em glicogênio, células escamosas · Das setas da 1ª figura para o centro = epitélio escamoso · Das setas para a periferia = epitélio colunar · 2ª figura: escuro = células que se fixaram ao iodo = epitélio escamoso estratificado · Lesão frequentemente associada ao ectrópio e à metaplasia escamosa = Cisto de Naboth · Pequena estrutura arredondada, bem delimitada e cavitada · Região da endocérvice com revestimento de epitélio colunar simples mucossecretor -> abaixo = glândulas produtoras de muco que é escoado por esse epitélio · Região da ectocérvice: epitélio escamoso estratificado · Ectrópio: eversão da JEG -> epitélio colunar exposto junto com as glândulas -> com o tempo: metaplasia escamosa = glândulas associadas ao epitélio escamoso estratificado que obstrui a via de saída das glândulas · Muco produzido -> dilatação das glândulas -> formando o Cisto de Naboth · Bem aparente -> possível localizado durante o exame clínico Neoplasia cervical · Brasil: · Para cada ano do triênio 2020/22, no Brasil, há estimativa de 16.590 novos casos (INCA) · Estratégias para redução em até 80% da mortalidade: rastreamento, tratamento das lesões precursoras de alto grau, garantir organização, integralidade e qualidade dos programas · 3º tumor + incidente em mulheres (INCA): perdendo apenas para câncer de mama e carcinoma colônico · 4º lugar em mortalidade · Diagnóstico precoce e prevenção: possibilidade de detecção das lesões antes de se metastizarem -> pelo teste do Papanicolau · Grande impacto populacional: mulheres jovens, em idade fértil e profissionalmente produtivas · Comporta-se como infecção sexualmente transmissível · Fatores de risco (indiretamente relacionados com o comportamento sexual, na maioria): · História sexual: múltiplos parceiros ou parceiro do sexo masculino com múltiplas parceiras prévias ou atuais · História reprodutiva: multíparas (muitos filhos) · Infecções sexualmente transmissíveis: herpes · Tabagismo: alterar imunidade local do colo · Estados de imunodepressão · Uso de contraceptivos orais · Uso de nicotina · Idade precoce na 1ª relação sexual · Infecção por HPV HPV · HPV: Papiloma vírus humano -> condição necessária, mas não única · Vírus DNA da família Papovavírus · + de 30-40 tipos infectam a região anogenital e induzem proliferação celular · Consequência depende de 2 fatores: · Tipos do vírus: · HPV de baixo grau: tipos 6, 11, 42, 44 (6 e 11 são + prevalentes) · Induzem condilomas (lesões verrugosas), NIC I (lesão intraepitelial escamosa de baixo grau) e raramente lesão de alto grau · Permanecem na forma epissomal (não se integrando ao DNA da célula hospedeira) · HPV de alto grau: tipos 16, 18, 31, 33 (16 e 18 + prevalentes) · Induzem lesões de alto grau e carcinoma invasor -> potencial oncogênico · Integram-se ao DNA celular · Capacidade de resposta imune da vítima · Maioria das infecções por HPV: assintomática sem causar alteração do tecido · Maioria transitória e eliminada pela resposta imunológica no decorrer de meses · Infecções por HPV de alto risco oncogênico duram + tempo que as de HPV de baixo risco Patogênese da infecção do HPV · HPV infecta as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial (relações sexuais) ou células escamosas metaplásica imaturas presentes na junção escamocolunar · Se replica por meio das células escamosas em maturação · Integração do DNA viral ao DNA da célula pode interromper a transcrição ou deletar a sequência E2 · Função fisiológica de inibir a expressão dos genes E6 e E7 que produzem oncoproteínas E6 e E7 · Falta ou redução da produção da proteína E2 que aumenta as oncoproteínas E6 e E7 · Proteína E6 do HPV se liga a p53 (detectar mutações e alterações no DNA da célula e repará-las ou induzir à apoptose da célula) -> degradação da p53 -> inibição da apoptose e redução do reparo ao DNA -> acúmulo de células mutadas · Proteína E7 do HPV se liga à proteína pRb da célula hospedeira -> estímulo à síntese de DNA e à proliferação celular · Instabilidade genômica das células epiteliais, aumento da replicação das células mutadas, acúmulo de danos no DNA celular do hospedeiro e de outras mutações, transformação celular · HPV de baixo grau · Proteína E6 não se liga a p53 em níveis detectáveis -> não afeta de maneira significativa a estabilidade da proteína p53 · Proteína E7 se liga a pRb com menor afinidade Evolução das lesões por HPV · Disposição das células displásicas na espessura do epitélio · HPV com tropismo pelas células da camada basal -> se aloja · Como ficar latente ou causar alteração -> células começam a se multiplicar -> células displásicas · Alterações citológicas: atipias nucleares, proliferação celular, perda da polaridade/diferenciação, mitoses · Classificação das lesões intraepiteliais escamosas se baseia na expansão da camada de células imaturas a partir de sua localização basal normal: · Células displásicas ocupando 1/3 basal do epitélio (figura 2) = NIC I = neoplasia intraepitelial cervical I -> alterações no 1/3 basal do epitélio = displasia leve ou lesão de baixo grau · Maioria regride espontaneamente · Não tratada como lesão pré-maligna · NIC II ou displasia moderada ou lesão de alto grau (figura 3): células displásicas nos 2/3 basais do epitélio · Minoria regride · Progressão caso não tratamento · NIC III (figura 4): células displásicas nos 3/3 do epitélio = displasia acentuada ou lesão de alto grau ou carcinoma in situ · Conduta semelhante ao NIC II · Carcinoma invasor ou microinvasor (figura 5) -> células alteradas ultrapassaram a membrana basal ·Uma vez que ultrapassam -> vasos sanguíneos e linfáticos -> células com capacidade de metastizar · Fazer o diagnóstico antes da lesão de tornar carcinoma invasor Condiloma acuminado · Classificado como lesão de baixo grau · Localização: região vulvar, perianal, peniana, perineal · Lesão de aspecto verrugoso, vegetante -> lesão em couve-flor · HPV de baixo grau/potencial oncogênico -> 6 e 11 · Efeito citopático = alterações celulares causadas pelo HPV = coilocitose ou atipia coilocítica · Atipias celulares: aumento nuclear, hipercromasia, presença de grânulos grosseiros de cromatina, binucleação, contorno irregular dos núcleos · Halo perinuclear indicativo de ruptura do citoesqueleto antes da liberação do vírus para o meio ambiente -> aumento da relação núcleo-citoplasma Neoplasia epitelial invasiva · Classificação dos tumores invasivos do colo: Carcinoma de células escamosas (85-90%) e Adenocarcinoma (10-15%) com maior importância epidemiológica + Carcinoma adenoescamoso, Sarcomas, Melanoma Carcinoma de células escamosas invasor do colo do útero · Qualquer idade, porém, com maior frequência entre 40-45 anos ou um pouco + · Etiopatogenia: HPV de alto grau (16 costuma ser o + prevalente) · Sinais e sintomas: assintomáticas ou com corrimento, sangramento genital, dispareunia (dor ou desconforto nas relações sexuais) · Importância do exame clínico (visão especular do colo do útero = visualizar alguma lesão; teste de Schiller = loção da lesão sem a fixação do iodo) e do exame citopatológico (detectar lesões antes que se tornarem invasoras do colo do útero, antes de adquirir capacidade de metástase = NIC I, II e III) · Macroscopia: · Lesão de aspecto vegetante · Lesões ulceradas -> lesão entrando na endocérvice da paciente · Lesões + avançadas · Infiltrativa, ulcerada, necrótica, alterando ou destruindo a anatomia do colo do útero · Lesão infiltrando a região do colo do útero e do corpo uterino · Bexiga: com parede invadida pelo carcinoma (seta pontilhada) · Histologia: · Células escamosas atípicas formando ninhos de células -> produção de ceratina que se distribui em estruturas arredondadas = pérolas córneas · Pérolas córneas: critério + importante para avaliar o grau de diferenciação: bem, moderadamente ou pouco diferenciada -> prognóstico da neoplasia · Bem diferenciada: tenta imitar o tecido de origem -> prognóstico melhor = célula ainda gasta sua energia para parecer com o tecido de origem -> grande quantidade de pérolas córneas (ainda está imitando o tecido de origem) · Pouco: não imita o tecido de origem -> energia para multiplicar, proliferar e invadir -> em geral apresentam prognóstico pior · Evolução · Invasão de corpo uterino, vagina e paramétrios; infiltração do ureter · Quadros de hidronefrose e insuficiência renal devido à infiltração do ureter · Invasão de bexiga ou reto -> aderências com estruturas vizinhas -> cirurgia mutiladora (retirada do útero, dos anexos, da bexiga e do segmento do reto) · Metástases em linfonodos pélvicos e inguinais e hematogênicas (medula óssea, fígado e pulmões) Adenocarcinoma · Cerca de 15% dos carcinomas do colo · Origem em glândulas endocervicais · Neoplasia intraepitelial glandular: adenocarcinoma “in situ” · Proliferação de glândulas atípicas que invadem o estroma adjacente do colo uterino · Muitos fatores epidemiológicos de risco para o CCE são aplicáveis ao adenocarcinoma · Associado ao HPV, especialmente o 18 · Macroscopia: · Massa de aspecto infiltrativo e esponjoso no colo do útero · Pequenas cavitações presentes na neoplasia = lúmen das glândulas · Histologia: · Proliferação de glândulas revestidas por células atípicas, estratificadas, as vezes com figuras de mitose -> glândulas infiltram o estroma do colo uterino · Glândula normal com epitélio simples colunar mucossecretor · Glândulas alteradas: epitélio estratificado com núcleos hipercorados · Atividade sexual -> exposição ao HPV -> tropismo pela zona de transformação do colo uterino ou região da JEG -> capacidade de indução de lesões: · Diferenciação escamosa: lesão intraepitelial escamosa -> de baixo ou alto grau -> lesão de alto grau evolui para carcinoma escamoso invasor caso não diagnosticada e tratada · Diferenciação colunar endocervical: lesão intraepitelial glandular se não diagnosticada ou tratada evolui para adenocarcinoma invasor · Outros fatores de risco: tabagismo, uso de contraceptivos orais, número elevado de partos, estado imunológico, alterações genéticas, tempo de evolução das lesões · Prognóstico: · Estadiamento: TMN · Tamanho tumoral (sobrevida em 5 anos de 95% < 2cm; 79% entre 2 e 3 cm; 47% > 4cm) · Tipo histopatológico: tumores não epidermoides com pior prognóstico em relação ao CCE · Invasão do corpo uterino e linfovascular · Profundidade de invasão estromal · Metástases linfonodais · Margens cirúrgicas Questão Paciente de 30 anos recebeu laudo do exame de Papanicolau cujo resultado foi lesão intraepitelial de alto grau (HSIL), Candida sp e componente inflamatório moderado. Qual a orientação correta nesta situação? (TEP MINAS 2014) a) Tratar a candidíase e orientar a repetição do preventivo anualmente -> não indicado orientar repetição do preventivo anualmente b) Indicar colposcopia e biópsia dirigida -> colposcopia: ver o colo do útero por uma lente de aumento: ver com + detalhes a lesão, o padrão vascular, o relevo, o teste de Schiller; biópsia para esclarecimento diagnóstico Lesões de baixo grau: acompanhar a paciente durante 6 meses e repetir o exame c) Indicar conização sem a necessidade de biópsia -> conduta agressiva d) Solicitar captura híbrida para HPV para confirmação diagnóstica -> captura hibrida para detectar o tipo e a carga viral do HPV: não acrescenta grandes informações para alterar a conduta -> solicitar quando: inquéritos epidemiológicos e casos em que a citologia do colo do útero dá resultados duvidosos 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
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