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Ética Aristotélica



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“Como convém viver?” - a pergunta socrática que originou a Ética aristotélica1 
 
Francisco Cleirton Damasceno Holanda 
Gilda Maria Oliveira de Freitas 
Renê Rocha Santiago Leite 
Thiago José Barros Simões2 
 
 
Resumo 
Neste artigo trabalhar-se-á a definição de Ética desenvolvida por Aristóteles, identificando que 
tal se aplica ao cotidiano do ser humano. Desvencilhando-se da perspectiva platônica de 
aplica compreensão das virtudes, Aristóteles justapõe tal pensamento e enfatiza a 
necessidade de viver as virtudes e não apenas compreendê-las buscando a sua perfeição, 
mas a perfeição do ser que a pratica. Discorrerá sobre a importância das virtudes como 
fundamento para a construção no modelo ético aristotélico, além de outras questões 
importantes para o desenvolvimento de sua Ética. 
 
Palavras-chave: Ética; Aristóteles; virtudes; ser humano; modelo ético. 
 
Introdução 
 
A Ética aristotélica é o segundo grande modelo ético do período antigo, alguns 
estudiosos consideram que com Aristóteles nasceu o primeiro modelo ético, “[...] 
desde que consideremos a Ética como uma disciplina específica e distinta no corpo 
das ciências [...]” (VAZ, 1999, p. 109) Em Aristóteles não se pode pensar um conceito 
ético independente do modelo platônico, haja vista que o filósofo foi discípulo de 
Platão, e a crítica que ele faz a seu mestre só pode ser compreendida a partir do 
conhecimento que possui do platonismo original. 
Aristóteles bem como Platão desenvolve uma Ética racionalista, contudo ele 
não trabalha com a dualidade de corpo e alma, procura desenvolver um modelo ético 
que seja mais realista, próximo do homem concreto. A ética aristotélica se encontra 
no campo das ciências práticas, na qual o seu fim é a perfeição do agente enquanto 
um conhecedor da natureza, e não o objeto, como se dá nas ciências poiéticas. Para 
o filósofo a Ética consiste no agir humano segundo a natureza e “Objetivamente ou 
formalmente a práxis é objeto de um saber- a Ética – que expõe a natureza e as 
 
1 Trabalho apresentado ao Prof. Me. Renato Moreira de Abrantes, para obtenção parcial de 
nota na disciplina de Ética II. 
2 Alunos do curso de Bacharelado em Filosofia, pela Faculdade Católica de Fortaleza, 2021.1. 
condições de seu operar segundo o critério do melhor, isto é, da razão.” (VAZ, 1999, 
p. 117). 
Assim Aristóteles pergunta-se qual o fim último do homem (teleologia), para 
tanto, inicialmente pressupõe uma definição de homem como zoo logon echon (um 
animal que possui linguagem e razão) e também como um animal que possui paixões 
e inclinações, “[...] sendo esse o fundamento antropológico de sua Ética e Política.” 
(VAZ, p. 115). Ademais, respondendo à sua inquirição sobre a finalidade do homem, 
Aristóteles afirma que a finalidade de toda ação humana é a felicidade (eudaimonia) 
(EN, I, 7, p. 15), definida pelo filósofo como “[...] uma atividade da alma conforme a 
virtude perfeita [...]” (EN, I, 13, p. 23), sendo que a natureza práxica da ética advém 
dessa finalidade, pois o objetivo não é compreender o que é em si a virtude, mas como 
vivê-la, explicar como o homem se torna virtuoso. Aristóteles considera a eudaimonia 
como a questão fundamental da Ética. 
Tornar-se um homem virtuoso, para Aristóteles, trata-se de agir corretamente, 
assim esse estaria praticando as virtudes, e isso se realiza “[...] uma vez que a 
atividade da theoria é a mais perfeita, desde que dirigida ao mais perfeito dos objetos: 
o divino, dela precedendo, portanto, a mais perfeita eudaimonia.” (VAZ, 1999, p. 125) 
Tais virtudes éticas (sabedoria, prudência, justiça, fortaleza, coragem, liberalidade, 
magnificência, magnanimidade, temperança) não se tratam de “[...] razão pura, uma 
aplicação da razão, não é unicamente ciência, mas uma ação com ciência.” 
(PADOVANI, CASTAGNOLA, 1970, p. 132). 
No decorrer deste artigo analisar-se-á a inquirição de Sócrates, “Como convém 
viver?”, ora tal pergunta se apresenta em um plano prático e Aristóteles, a partir dessa 
questão, desenvolve todo seu sistema ético, compreende a necessidade prática de se 
viver bem, buscando um meio termo, para que a pólis esteja em desenvolvimento, 
haja vista, que o homem sendo político, não vive isolado, mas em uma “comunidade”. 
 
A virtude como base para a ética aristotélica 
 
A teoria da virtude, provavelmente, originou-se na filosofia grega antiga, já a 
virtude ética teve início em Sócrates, desenvolveu-se com Platão, Aristóteles e os 
estoicos. A virtude ética conformiza a natureza do homem e a moralidade da 
sociedade. 
Quando se trata de virtude, não está apenas no seu fazer, mas de viver e sê-
la, lembrando que as coisas virtuosas devem ser feitas com justiça e temperança, para 
que esse modo de agir seja firme e imutável e o homem que age dessa forma, assim 
se torna, como mesmo descreve o autor. Vale lembrar que a virtude, assim como as 
artes e as ciências, não se encontra no saber, mas no seu praticar, no seu agir. 
Ao falar das virtudes, o autor cita que são três as coisas que tem sua geração 
na alma. São elas: afetos – aquilo que produz prazer ou dor; potências – tudo aquilo 
que é possível sentir através dos afetos e os hábitos são as formas como nos 
portamos em relação aos afetos. (ARISTÓTELES, 2015, pp. 54 – 55). Vale ressaltar 
que a virtude não são nem afetos, nem potência, mas pode ser compreendida como 
hábito. (ARISTÓTELES, 2015, p. 56). 
A virtude faz o homem bom, pois aperfeiçoa a boa conduta deste. Para que 
haja um equilíbrio, deve-se buscar o meio, e para isso o sábio evita os excessos e às 
faltas. (ARISTÓTELES, 2015, p. 57). Ao se tratar da virtude ética, esta ocupa-se de 
observar os fatos e ações de cada indivíduo, onde em todas elas vão estar contidas o 
excesso, a falta e o meio. (ARISTÓTELES, 2015, p. 57). Há assim uma diferenciação 
entre o erro e a retidão. O primeiro vai levar à imperfeição, à coisa limitada, finita; já o 
segundo ao que é conveniente, à virtude, buscando o equilíbrio. (ARISTÓTELES, 
2015, p. 58). 
A virtude, vista como mediania será considerada o ponto mais alto, o que a 
difere das ações, que por muitas vezes, podem serem vistas como algo não tão bons, 
pois nestas podem haver o excesso e a falta. Em resumo: excesso e falta são coisas 
que jamais se encontrarão próximas à mediania. (ARISTÓTELES, 2015, pp. 59 – 60). 
E para finalizar, buscar a virtude é, em suma, buscar o equilíbrio, mesmo que 
compreendendo que, em algumas vezes, uma parte do que faz o meio está inclinado 
mais para cima ou para baixo, e quanto mais distante do que é considerado mal, 
errado, mais próximo se encontra do que é virtuoso e pleno. 
O homem autêntico político, aquele que representa o Estado, denota-se nele a 
virtude através do seu governo racional que modera, supremamente, seu modo de 
agir, seu comportamento, não se deixando levar pela prática de seus desejos 
desordenados, mas sim pela racionalidade da alma. Segundo Nicolau Maquiavel, o 
governante deve ser um homem de inquestionável coragem, sabedoria, e inteligência, 
na decisão de sus ações — virtude. Um governante deve ser dotado de capacidade 
de dirigir e controlar acontecimentos exercendo sua autoridade. 
Na alma existe uma parte privada que é a razão, outra vegetativa, esta última 
que é responsável pelo crescimento e não é partícipe da virtude humana. A virtude 
desta parte é comum e atribuída a todos os seres, durante o sono, que é a inércia da 
alma. Tanto o homem bom como o mau dormem sem nenhuma distinção. A razão é 
a porção da alma que insiste no melhor modo de agir. Quando a alma não reflete 
através da razão, perde o controle de seus impulsos e vai em direção contrária aquilo 
que ela realmente almeja. 
Na virtude também se encontra duas espécies, uma dianoética, outra ética. Na 
dianoética vamos encontrar a sapiência, a inteligência e a prudência, que necessitam 
da experiência e do tempo; já na ética deparamos com a liberdade e a temperança,que provém do hábito. As virtudes éticas não nos são brotadas nem pela natureza, 
nem contra a natureza. Elas são originadas através dos nossos hábitos. Precisamos 
primeiro aprender para depois fazer, e fazendo nos tornamos construtores justos, 
praticando atos justos e temperantes. De tal forma relacionamos às cidades, quando 
seus governantes não têm como hábito as virtudes da ética, as diferenças estão na 
ordem e na desordem. Os hábitos são oriundos dos atos de natureza idêntica. 
A virtude resulta de justa medida em cada ação, então somos capazes de 
perceber a justa medida em nossos prazeres materiais, carnais, mas também estar 
convencido de que não devemos combater o prazer, apenas usá-lo na justa medida, 
nos transformando em ser humano temperante para conquistar a virtude ética. 
 
Outros pontos da Ética aristotélica 
 
Ao sabermos que a virtude é a base para a ética aristotélica, passamos a 
analisar onde está é exercida. Um primeiro ponto onde podemos observar as virtudes 
está no ato prático, no qual o indivíduo parte da sua ação. São duas as ações: 
voluntárias e involuntárias. (ARISTÓTELES, 2015, pp. 64 – 65). 
As ações voluntárias partem do princípio do bem fazer, aquele ato que parte da 
vontade, sem que haja alguém forçando-a. As forçadas são as que acontecem à força, 
sem a naturalidade do ato, seja por um objetivo ou mesmo como uma forma de 
escapatória. À essas involuntárias pode assim ser concedido o perdão. 
É importante então, assim saber, que o ato prático visará sempre o bem, e esse 
bem se refere ao que é verdadeiro, mas vale ressaltar que este não se pode comparar 
ou fazer referência ao prazer, pois em relação a virtude, o prazer não seria algo 
totalmente bom. (ARISTÓTELES, 2015, pp. 69 – 70). 
Ao falar das virtudes dianoéticas, deve-se compreender que elas são divididas 
em cinco: Ciência, Arte, Sabedoria, Inteligência e Sapiência, mas as mais importantes 
são a sabedoria e sapiência. A sabedoria vai tratar de guiar, de forma correta a vida 
do homem, ou seja, em considerar o que é bem ou mal para o homem. Já 
a sapiência vai ser o conhecimento das realidades que tratam do bem e do mal, e vai 
ser a partir do exercício desta última virtude, que constitui a perfeição da atividade 
contemplativa, onde o homem busca alcançar o bem maior almejado pelo homem, 
que é a felicidade. 
Por fim, o homem vai buscar a FELICIDADE, esta é a sua finalidade. A 
felicidade é vista como a atividade mais virtuosa, é aquela desejada por si mesmo, e 
é cheia, em plenitude, só ela se basta, não necessita de outras para se manifestar, e 
quando se fala em bastar por si, isto se dá na questão da atividade contemplativa. 
Nada de imperfeito existe na Felicidade. (ARISTÓTELES, 2015, p. 121). 
A sabedoria e a virtude ética precisam estar em inteira relação, pois uma vai 
depender da outra para exercer a sua função, contanto que estejam em conformidade 
de uma com a outra. (ARISTÓTELES, 2015, p. 122). 
 
Considerações Finais 
 
A virtude conduz o ser humano a ser uma pessoa boa, o seu agir determina 
aquilo que é bom, que deve ser seguido, assim se torna um hábito, algo que deve ser 
tomado como frequência. Devemos aperfeiçoar a nossa conduta e assim observar por 
qual caminho se deve seguir, pois o homem virtuoso é aquele que tem a capacidade 
de escolher aquilo que é bom, virtuoso, pleno. 
De modo geral, o homem virtuoso não é aquele que somente sabe o que é a 
verdade, mas sim aquele que a põe em prática, estabelecendo não um conhecimento 
vazio, mas sim uma prática que exala a virtude. O ser humano é chamado a romper 
os limites que lhe são impostos, ele precisa sair de si para reconhecer os problemas 
que agitam o nosso ser. 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
 
ARISTÓTELES. A ética: textos selecionados. São Paulo: Edipro, 2015. Tradução de 
Cássio M. Fonseca. 
 
VAZ, Henrique Cristiano de Lima. Escritos de Filosofia IV: introdução à ética 
filosófica i. São Paulo: Edições Loyola, 1999. 
 
PANDOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia. 8. ed. São 
Paulo: Edições Melhoramentos, 1970.