Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arquétipos “O arquétipo é uma fonte primária de energia e padronização psíquica, constitui fonte essencial de símbolos psíquicos, os quais atraem energia, estruturam-na e levam-na em última instância, a criação de civilização e cultura.” Está talvez fosse para Jung a idéia central sobre o conceito de arquétipo, porém este conceito, pela sua complexidade, abre margem para muitas interpretações equivocadas. Por isso julgamos apropriado nos ampararmos em outro saber, para facilitar a compreensão. No caso a etologia. Konrad Lorenz Conhecido como pai da etologia moderna, Lorenz que, em 1973, ganha o prêmio Nobel de medicina e fisiologia realizando experimentos com gansos que permitem a ele relatar um fenômeno com o nome de imprinting (estampagem). Usaremos o trabalho de Lorenz para tentarmos nos aproximar do conceito de arquétipo. Experimento 1 No experimento, Lorenz põe alguns ovos de ganso em uma chocadeira em seu laboratório. Quando os ovos estavam prestes a eclodir, Lorenz sozinho com os ovos, começa ajudar os pintainhos a sair do ovo. A primeira e única imagem que eles observam ao nascer é a do cientista, que os acolhe e os ajuda em todo processo de secagem das penas. A partir daí os filhotes de ganso passam a seguir o etólogo por onde ele for, mesmo quando colocada a gansa, dona dos ovos, os gansinhos a desprezam, acompanhando somente a Lorenz. Mais tarde ele mergulha em um lago para nadar e é prontamente acompanhado pelos gansinhos. Experimento 2 Dentro do laboratório, coloca-se um varal de arame por onde circula uma estrutura feita em papelão, tendo por trás de si uma lâmpada, e ao movimentar tal estrutura projeta- se uma sombra no chão onde se encontram os pintainhos, semelhante a um ganso voando. Eles permanecem imóveis e tranqüilos, sem manifestar nenhum estresse. Porém quando essa estrutura faz o movimento contrário ao primeiro, projetando no chão onde se encontram os pintainhos, uma sombra semelhante ao vôo de um gavião, eles entram em pânico e correm, provocando uma comoção geral. Eis aí o fenômeno a qual Lorenz batizou com o nome de imprinting (estampagem). No experimento acima citado a psicologia analítica pergunta: O que faz os gansinhos seguirem Lorenz ao invés de seguir a gansa? Jung diria que no momento que os gansos nasceram um arquétipo se constelou, o arquétipo da grande mãe, e neste caso constelou-se sobre a imagem de Lorenz, primeira figura que é percebida pelos gansos no momento do nascimento. Sendo assim poderíamos dizer que o arquétipo é uma estrutura a priori, uma estrutura vazia que será preenchida por algo (no caso, o etologista). Neste momento, cabe uma distinção entre arquétipo em si e representação arquetípica. “Carchetypusansich X Archetypischevorstellung” O arquétipo em si é uma estrutura incognoscível, irrepresentável e transcendente, assim como o instinto, do qual deduzimos a existência a partir da ação que exerce sobre a consciência, ou seja, mediante as representações arquetípicas, estas sim, fenômenos psíquicos. “Os arquetípicos como o inconsciente de um modo geral tem a função de correção ou compensação da atitude unilateral ou falsa da consciência subjetiva” C. G. Jung 1986 Para Jung os arquétipos, ao lado dos complexos, são as agências psíquicas que movem a alma humana. Eles podem ser personificados em sonhos, fantasias, visões, alucinações, narrativas míticas, obras de arte e etc. Eles podem ser projetados. O conceito de arquétipo está intimamente ligado a outro conceito junguiano, o de inconsciente coletivo. Inconsciente Pessoal X Inconsciente Coletivo O inconsciente pessoal para Jung compõe-se de conteúdos que foram, em certo momento, conscientes. São principalmente os complexos de tonalidade emocional que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Já o inconsciente coletivo é um reservatório de imagens latentes, em geral determinadas, imagens primordiais. Uma imagem primordial diz respeito ao desenvolvimento mais primitivo da psique. O homem herda tais imagens do passado ancestral, passado que inclui todos os antecessores humanos, bem como antecessores pré-humanos ou animais. Estas imagens étnicas não são herdadas no sentido de uma pessoa lembrar-se delas conscientemente ou de visões como as dos antepassados. São antes pré-disposições ou potencialidades no experimentar e no responder tal como os antepassados. Se no caso do inconsciente pessoal os seus conteúdos são os complexos de tonalidade afetiva, em se tratando do inconsciente coletivo seus conteúdos seriam os arquétipos. Persona A palavra persona significa originariamente uma máscara usada por um ator que lhe permite compor um determinado personagem. Na psicologia junguiana o arquétipo da persona atende a um objetivo semelhante: dar ao indivíduo a possibilidade de compor uma personagem que necessariamente não seja ele mesmo, persona é a máscara ou a fachada ostentada publicamente com a intenção de provocar uma impressão favorável a fim de que a sociedade o aceite. Ela funciona como uma pele psíquica entre o ego e o mundo, oferece à pessoa uma identidade psicossocial, é o rosto que envergamos para o nosso encontro com outros rostos, para sermos como eles e para que eles gostem de nós. O próprio processo de desenvolvimento humano nos leva ao encontro desta estrutura psíquica. “Mariazinha, você não pode puxar o cabelo da sua coleguinha, a boa menina não puxa o cabelo da coleguinha. Mamãe não gosta disso.” Desde cedo aprendemos que há coisas que fazemos que nos traz o amor dos pais, e outras que nos afasta desse amor. Como o bebê humano, a criança humana, necessitam desse amor, ele já em tenra idade começa a desenvolver uma estratégia para nunca falta esse amor, ela usa uma máscara. Conforme vai crescendo, esse ser humano vai guardando uma coleção dessas máscaras no armário. Uma para os pais, uma para os colegas, uma terceira para o namorado ou namorada, uma quarta no trabalho e assim por diante. Jung diria que esse processo é organizado por uma estrutura arquetípica que ele chamou de arquétipo da persona Com o passar dos anos temos uma coleção de máscaras, mas também temos uma sacola de demônios que são nada mais nada menos que aquelas partes de nós que não se adaptaram às nossas máscaras, que fomos jogando numa sacola no inconsciente. Porém mesmo numa sacola e no inconsciente, essas partes estão vivas e, o que é pior, são partes nossas clamando por uma alteridade. A essa sacola Jung batizou com o nome de sombra. “Passamos a vida, até os 20 anos decidindo quais as partes de nós mesmos que poremos na sacola, e passamos o resto da vida tentando retirá-las de lá.” Robert Bly Sombra “Todo homem tem uma sombra e, quanto menos ela se incorporar à sua vida consciente, mais escura e densa ela será, de todo modo ela forma uma trava inconsciente, que frustra nossas melhores intenções.” Ao estudarmos o arquétipo da persona, vimos que sua constelação levávanos a inconscientizar partes nossas, negando aquilo que não era bem aceito pela estrutura social vigente num determinado tempo e espaço, essas partes negadas no inconsciente se organizavam numa estrutura que Jung chama de sombra. Todo mundo tem uma sombra que começa a se desenvolver na infância como resultado da repressão ou negação de sentimentos indesejáveis. Encontramos com a nossa sombra quando sentimos uma inexplicável aversão por alguém, quando descobrimos um traço inaceitável e há muito tempo escondido dentro de nós, ou quando nos sentimos dominados pela raiva, pelo ciúme ou pela vergonha. No homem a sombra contem maior quantidade de natureza animal do que qualquer outro arquétipo em virtude de suas raízes muito profundas na história evolutiva. É provavelmente o mais perigoso de todos os arquétipos, é a fonte do que há de melhore pior no homem. Se fossemos representar em símbolos, seria o demônio, as trevas e (o lado negro da força). Porém Jung não gostava de ver somente esse lado da sombra, ele costumava dizer que sua essência era ouro puro. Se uma pessoa rechaça completamente a sombra, a vida é correta mas terrivelmente incompleta. Ao abrir-se para a experiência da sombra, entretanto, uma pessoa fica manchada de imoralidade, porém alcança o maior grau de totalidade. Isso é na verdade um dilema diabólico e é o problema essencial da existência humana. Esse talvez fosse o dilema de Fausto. Uma questão fundamental da psicoterapia junguiana seria a conscientização da sombra, recatexiar a libido que se encontra represada na sombra seria o primeiro passo para realizar aquilo que Jung chamou de “processo de individuação”. “Aquilo que não fazemos aflorar à consciência aparece em nossas vidas como destino” C. G. Jung Individuação O conceito de Jung de individuação baseia-se, em parte, na observação comum de que as pessoas crescem e desenvolvem-se no decorrer de 70 ou 80 anos. Fisicamente as pessoas nascem como bebês, transitam para a infância após alguns anos, depois ingressam na adolescência, daí à vida adulta por volta dos 20 anos. O corpo saudável está agora vibrando plenamente, capaz de reprodução biológica e das proezas heróicas, prontos para enfrentar o mundo. Do ponto de vista físico, a pessoa está completa nessa fase. A partir de meado da casa dos 30 anos, o declínio e a decadência das funções orgânicas começam a ser um fator cada vez mais importante. Na primeira metade da vida o principal projeto consistia em desenvolver o ego e a persona até ser atingido o ponto de viabilidade individual, adaptação cultural e responsabilidade adulta pela criação dos filhos. Porém, é justamente após essa fase que alguns conflitos existenciais podem começar a se manifestar, e é nesse ponto que Jung fala da possibilidade de um processo de individuação. “Já casei, tive filhos, construí uma família, tenho um bom emprego. E aí, o que vou fazer com tudo isso? O que me motiva daqui pra frente?” Jung usou o termo individuação para falar sobre o desenvolvimento psicológico que ele define como o processo de tornar-se uma personalidade unificada, mas também única, indivíduo, uma pessoa indivisa e íntegra. O desenvolvimento ideal do ego e da persona deixou uma considerável soma de material psicológico fora da consciência, a sombra não foi integrada, permanece inconsciente, agora a questão que se impõe é a seguinte: como pode uma pessoa realizar a unidade psicológica, no sentido mais amplo do termo, o que pressupõe unir aspectos conscientes e inconscientes da personalidade? Jung acredita que a resposta para a pergunta acima seria fundamentalmente conscientizar a sombra. Ele falava sobre um impulso de individuação, que não é primariamente um imperativo biológico, mas antes, de natureza psicológica. Jung deu o nome de compensação ao mecanismo psicológico por meio do qual a individuação ocorre. A tendência do ego é tornar-se unilateral e excessivamente confiante em si mesmo (arquétipo do herói constelado). Quando isso acontece, o inconsciente começa a compensar essa unilateralidade. As compensações acontecem, muitas vezes, em sonhos. A função de compensação consiste em introduzir o equilíbrio no sistema psíquico, com o tempo, essas muitas e pequenas compensações cotidianas somam-se e convertem-se em padrões, esses padrões estabelecem a base da espiral de desenvolvimento para a totalidade que Jung denominou individuação. “Essas ações compensatórias aparentemente isoladas obedecem a uma espécie de plano pré-determinado. Parecem ligadas umas as outras e subordinas, em um sentido mais profundo, a um fim comum (...) designei esse fenômeno inconsciente, que se exprime espontaneamente no simbolismo de longas séries de sonhos, pelo nome de processo de individuação” C. G. Jung A segunda metade da vida é marcada por um movimento diferente da primeira. Na primeira metade da vida o movimento recai sobre a separação do ego do seu inconsciente, e também sobre a identificação com o meio ambiente externo, é o momento em que a libido está direcionada para o mundo e seus objetos. Na segunda metade da vida, o movimento da libido muda de direção. A tarefa agora consiste em unificar o ego com o seu inconsciente, os quais contem a vida não vivida da pessoa e o seu potencial não realizado, e esse desenvolvimento na segunda metade da vida é o clássico significado junguiano de individuação, tornar-se o que a pessoa já é potencialmente, mas agora de um modo mais profundo e mais consciente.
Compartilhar