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YGOR_DE_OLIVEIRA_SILVA_ATIVIDADE3

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Anápolis 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Todo trabalho, em cada uma das etapas, será submetido às ferramentas de varredura 
para a detecção de plágio. Assim caso seja detectado percentual acima do tolerado, 
seu trabalho será invalidado em qualquer uma das atividades. Antes de começar o 
trabalho, leia o Manual do Aluno e Manual do Plágio para compreender todos 
itens obrigatórios e os critérios utilizados na correção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
YGOR DE OLIVEIRA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: 
A DISCUSSÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DE RESERVA 
DE COTAS POR CRITÉRIOS ÉTINICOS NOS CONCURSOS 
PÚBLICOS. 
 
 
 
 
Cidade 
Ano 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anápolis 
2019 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: 
A DISCUSSÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DE RESERVA 
DE COTAS POR CRITÉRIOS ÉTINICOS NOS CONCURSOS 
PÚBLICOS. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdade Anhanguera Anápolis, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Direito. 
Orientador: Anderson Gomes Coelho 
 
 
 
 
YGOR DE OLIVEIRA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
YGOR DE OLIVERIA SILVA 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO SOCIAL: 
A DISCUSSÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DE RESERVA 
DE COTAS POR CRITÉRIOS ÉTINICOS NOS CONCURSOS 
PÚBLICOS. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à 
Faculdade Anhanguera de Anápolis, como 
requisito parcial para a obtenção do título de 
graduado em Direito. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Prof(a). Titulação Nome do Professor(a) 
 
 
Anápolis, 06 de junho de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não foi a existência de ‘raças’ que gerou o racismo, mas 
o racismo é que 
fabricou a crença em ‘raças” - Maggie 
DE OLIVEIRA SILVA, Ygor. Políticas públicas de inclusão social: A discussão da 
constitucionalidade de reserva de cotas por critérios étnicos nos concursos públicos. 
2019. f 40. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade 
Anhanguera, Anápolis, 2019. 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho objetiva-se a promover uma análise técnico científica da eficácia 
das Cotas raciais na realidade social da população brasileira, passando pelo 
desenvolvimento histórico-cultural no país e a partir disso analisar o grau de acesso 
de negros no funcionalismo público. A justificativa da implantação das cotas é a 
compensação histórica, utilizando a ideia de que a sociedade tem um dever de 
reparação com a entidade negra no país pelo período escravocrata ocorrido, o que 
legitimada pelo Estado compensar os males vividos por esse grupo étnico. A contrária 
sensu desse entendimento, há posições que defendem uma violação do princípio da 
igualdade por tratamento desigual sem critério que desiguale de forma proporcional – 
para os defensores desse argumento a cor não tem azo, por si só, para diferenciar um 
candidato ao outro. Assim, se faz necessário uma análise mais minuciosa da validade 
da reparação histórica no Brasil, bem como averiguar as causas da desigualdade 
étnica pós-graduação e o não ingresso dos negros nos cargos públicos. 
 
Palavras-chave: cotas; raça; negro; concurso público; ações afirmativas; 
constitucionalidade. 
DE OLIVEIRA SILVA, Ygor. Public policies of social inclusion: The discussion of 
the constitutionality of quota reservation by ethnic criteria in public tenders. f. 40. 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Faculdade Anhanguera, 
Anápolis, 2019. 
ABSTRACT 
The present work aims to promote a scientific and technical analysis of the 
effectiveness of racial quotas in the social reality of the Brazilian population, through 
the historical-cultural development in the country and from this, to analyze the degree 
of access of blacks in the civil service. The justification for the implementation of quotas 
is historical compensation, using the idea that society has a duty to repair the black 
entity in the country for the enslaved period, which legitimized by the state to 
compensate for the evils experienced by this ethnic group. Contrary to this view, there 
are positions that advocate a violation of the principle of equality by unequal treatment 
without proportional unequal criteria - for proponents of this argument color does not 
in itself have the potential to differentiate one candidate from the other. Thus, a more 
thorough analysis of the validity of historical reparation in Brazil is necessary, as well 
as to investigate the causes of post-graduation ethnic inequality and the non-entry of 
blacks into public positions. 
 
 
 
Key-words: quotas; breed; black; public tender; affirmative actions; constitutionality. 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
 
Tabela 1 – Distribuição da população ocupada no setor público, por sexo, cor ou 
raça, segundo posição na ocupação e setor de atuação – Brasil (2011) .................30 
Tabela 2 – População negra no ensino superior ...................................................... 37 
Tabela 3 – Distribuição dos estudantes de acordo com a cor ou raça ..................... 38 
Tabela 4 – Distribuição por cor ou raça por curso nas universidades ...................... 38 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
UNB Universidade de Brasília 
 
 
 
 
 
13 
SUMÁRIO 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 14 
 
2. A MISCEGENAÇÃO BRASILEIRA E O SUSRIGMENTO DA RAÇA NEGRA 
NO BRASIL. .............................................................................................................. 16 
2.1 CLASSIFICÃO DE RAÇA................................................................................18 
2.2 A ORIGEM DAS AÇÕES AFIRMATIVAS........................................................21 
2.2.1 AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL............................................................22 
 
3. A FALÁCIA DAS COTAS RACIAIS COMO REPARAÇÃO HISTÓRICA . ERRO! 
INDICADOR NÃO DEFINIDO. 
 
4. CONCEITO E PRINCÍPIOS DO CONCURSO PÚBLICO ..... ERRO! INDICADOR 
NÃO DEFINIDO.2 
4.1 CARGOS E FUNÇÃO PÚBLICA......................................................................33 
4.2 DA IGUALDADE APÓS A CONCUSÃO DO ENSINO SUPERIOR.................34 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 40 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 
 
 
 
 
14 
1. INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem por objetivo discutir a constitucionalidade das ações 
afirmativas de cotas para afrodescendentes em concursos públicos, visando a 
aumentar a representação destes nas camadas de prestígio da sociedade, a fim de 
se reduzir a desigualdade racial e promover uma diminuição no racismo, fazendo que 
as pessoas se acostume a ver negros em todas as escalas de trabalho. 
Propõe-se discutir a forma de acesso dos negros aos cargos públicos, 
analisando a necessidade do sistema de cotas após a conclusão da graduação e 
posterior ingresso no mercado de trabalho. Como parâmetro, foi usado o curso de 
Direito para se analisar as diferencias raciais nesse extrato da sociedade. Cumpre 
salientar que o presente trabalho não tem o condão de discutir a existência ou não do 
racismo no país, somente elucidar se este é a causa do não ingresso da população 
negra nos cargos públicos e se o sistema de cotas raciais é ou não justo. 
 O sistema de cotas iniciou-se no ensino superior, quando as faculdades 
públicas começaram a reservar uma porcentagem das vagas de seus cursos somente 
para os que se auto declaravam negros. Àquela época já se discutia a 
constitucionalidade de tal medida pelo critério usado como
justificativa para as cotas. 
Tal medida é defendida como uma reparação histórica pelas disparidades e 
desvantagens vivenciadas pelo grupo racial de modo que dificultou a igualdade de 
oportunidades. Destarte, será analisada de que forma se caracteriza a discriminação 
social implícita no sistema de cotas racial, bem como avaliar se o sistema por cota 
racial é justo diante de uma sociedade miscigenada onde temos pessoas não negras 
que nasceram e convivem no mesmo ambiente de um negro, passando pelas mesmas 
deficiências de oportunidades. 
Este estudo investigou se a aplicação das cotas raciais em concursos públicos 
não viola o princípio da igualdade/isonomia, bem como aumenta a discriminação no 
Brasil, mormente pelo critério da diferenciação ser somente racial, hão havendo uma 
definição precisa de quem é considerado negro e quem é considerado branco perante 
a lei, ficando o critério subjetivo da autodeclaração, delimitando a evolução histórica 
 
 
15 
das relações raciais no Brasil, abordando a classificação racial em um país 
miscigenado, abordando a igualdade material após a conclusão do ensino superior. 
A partir disso, o primeiro capítulo abordou a ocorrência da miscigenação no 
Brasil e como foi o surgimento da raça negra no país, abordando as formas de 
classificação de raça que são adotadas pelas leis de ações afirmativas, juntamente 
com a impossibilidade da classificação do ser humano em raças. 
O segundo capítulo tratou da questão da compensação histórica, quanto a 
validade desse método, bem como sua eficácia, e a aplicação dele em outras 
situações, assim como fará uma breve análise do racismo na época colonial 
escravagista e da razão da utilização do negro africano como escravo. 
Por fim, o terceiro capítulo trouxe a análise da igualdade material após a 
formação no ensino superior fazendo uma análise do mercado de trabalho brasileiro, 
fazendo um diagnóstico e relação do sistema educacional brasileiro, analisando as 
causas do não ingresso de negros em cargos públicos, trazendo algumas alternativas 
ao método atual de ação afirmativa. 
Diante dos questionamentos realizados, a pesquisa foi realizada por meio de 
vários procedimentos metodológicos, a partir da pesquisa bibliográfica, baseando-se 
no exame de livros, revistas, periódicos, monografias e artigos e a utilização de dados 
oriundos de pesquisas e publicações existentes, a fim de se apresentar o contexto 
histórico, evolução e definição das ações afirmativas, fazendo uma abordagem 
qualitativa, com a observação e compreensão dos fenômenos sociais envoltos no 
tema analisado. 
 
 
16 
2. A MISCIGENAÇÃO BRASILEIRA E O SUSRIGMENTO DO NEGRO NO 
BRASIL. 
Antes de adentrar no mérito da questão, se faz necessário contextualizar, de 
forma resumida a história do Brasil, adentrando na formação da sua população. 
Pensamos no brasileiro como um povo miscigenado por causa das relações 
dos Portugueses e os povos trazidos da África, bem como com os Índios que aqui 
viviam, porém sempre tivemos a ideia de que os Portugueses fossem um povo 
majoritariamente, para não dizer na sua totalidade, branco. Essa visão é corroborada 
pelos quadros e descrições da época que chegaram até nós, contudo, essa visão 
merece ser revista. 
Gilberto Freyre (2002 apud KAUFMANN, 2007), assevera que o Português, à 
época do descobrimento do que viria a ser o Brasil, não era uma nação definida. Como 
Portugal é um país costeiro, saída para o caminho das navegações com o mundo, 
várias nações passavam por suas terras para que pudessem ter acesso ao mar, 
desenvolvendo uma irradiação de comerciantes ingleses, flamengos, alemães, 
galegos, biscainhos, ao lado de comerciantes aragoneses, catalães, franceses, 
italianos, etc. 
Ainda, como o comércio com as Índias era muito grande, essa relação também 
permitiu uma absorção muito grande de cultura e valores, dando origem a uma das 
mais miscigenadas sociedades da época (FREYRE, 2002 apud KAUFMANN, 2007). 
Assim, percebemos que os Portugueses já mantinham uma relação inter-racial 
mesmo antes do descobrimento do Brasil, havendo, naquela época, uma 
miscigenação tanto racial quanto cultural, onde o Português não era mais aquele 
homem branco dos olhos claros e cabelos louros. Tem-se a ideia que a miscigenação 
começou somente com a descoberta do novo mundo pelos europeus, contudo, nota-
se que mesmo antes da descoberta das Américas, Portugal se caracterizava como 
uma sociedade altamente miscigenada, devido a sua posição geográfica. 
Após o descobrimento das terras que viriam ser o Brasil, demorou-se algum 
tempo para que Portugal iniciasse a colonização do Brasil, devido as recém terras 
descobertas não serem economicamente atrativas, aliado ao fato de que o comércio 
 
 
17 
com as Índias ainda lhe rendia um grande retorno comercial. Aliando na morosidade 
da colonização, estava o fato de que a população portuguesa se somava um pouco 
mais de um milhão de habitantes, não havendo pessoas suficientemente motivadas a 
exploração e povoamento da colônia brasileira (PRADO JÚNIOR, 2001 apud 
KAUFMANN, 2007). 
Em função disso, Portugal adotou o sistema de capitanias hereditárias que já 
havia sido utilizado com certo sucesso. Contudo, ao contrário do que aconteceu 
anteriormente, esse sistema fracassou quase que inteiramente, onde apenas duas 
capitanias desenvolveram: Pernambuco e São Vicente1. 
Em virtude desse quase absoluto fracasso, Portugal começou o processo de 
colonização por exploração a fim de incentivar a vinda de portugueses as terras 
brasileiras. Devido à baixa população, a vinda de famílias portuguesas para o Brasil 
era rara, deste modo a colonização fez-se essencialmente por homens, tanto 
portugueses, quanto os escravos trazidos da África. 
A falta de mulheres acompanhando os homens no povoamento da colônia, 
facilitou as relações entre os homens portugueses e as mulheres indígenas e os 
escravos aqui presentes. 
Destarte, Caio Prado Júnior (2001 apud KAUFMANN, 2007), evidencia que a 
formação étnica do Brasil a mestiçagem profunda das três raças: o português, o índio 
e o negro, fazendo da população brasileira uma das mais variadas agregações 
étnicas da humanidade. 
Em virtude disso, após anos de miscigenação ocorrem desde o 
descobrimento, o que tornou a raça, geneticamente falando, tão miscigenada, que 
no Brasil há uma dificuldade grande na determinação da raça de um indivíduo. 
 
 
 
1<http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanias_do_Brasil> 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanias_do_Brasil
http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanias_do_Brasil
 
 
18 
2.1 A CLASSIFICAÇÃO DE RAÇA. 
A ideia ligada ao racismo vem da existência de raça, mormente as diferenças 
entre os seres humanos, contudo, a contrário sensu, não foi a raça que criou o 
racismo, mas o racismo que criou a raça. 
Exemplificando o entendimento acima, colaciona o seguinte fragmento: 
Mas em verdade, e ao contrário, a ideia [de ‘raça’] que embasa essas 
leis (...) deveria ser extirpada da vida social”. “Não foi a existência de 
‘raças’ que gerou o racismo, mas o racismo é que fabricou a crença 
em ‘raças’”. “O racismo contamina as sociedades quando a lei afirma 
às pessoas que elas pertencem a determinado grupo racial – e que 
seus direitos são afetados por esse critério de pertinência de ‘raça’ 
(SOUZA, 2011. p. 23). 
Nota-se que a classificação racial dos seres humanos é derivada de um 
processo político social. 
Com efeito, segundo Belisário desse processo surgiu duas classificações de 
raça: o sistema birracial, também chamado de genotípico e sistema multirracial, 
conhecido também como fenótipo, onde o primeiro sistema baseia-se na definição da 
raça pela ancestralidade do indivíduo, isto é, o indivíduo é considerado integrante da 
mesma raça que compõem seus ascendentes, mesmo que ele seja de cor diferente 
(2007, p. 63). 
Já o sistema da multirracialidade caracteriza-se
pelo reconhecimento de 
diversas raças, havendo uma diversidade racial, onde surgiu a ideia de 
autoclassificação, baseado a raça na aparência física. 
A maior diferencia entre os sistemas está na não limitação de raças do sistema 
multirracial, não havendo a limitação de raça a somente brancos e negros, existindo 
várias outras raças dentro desse espectro, bem como não usa da ancestralidade como 
critério de classificação racial do indivíduo. Esse sistema é adotado no Brasil, onde o 
indivíduo se declara a qual raça ele pertence. 
Isto posto, vimos que para se definir a raça, usa-se somente a auto percepção 
de cada indivíduo, não levando em conta sua ancestralidade, assim, ficando a critério 
próprio a definição de qual grupo social pertence na sociedade. Seguindo essa 
 
 
19 
premissa, fica a dúvida de se a autoclassificação seria a maneira mais correta de 
definir a raça de alguém. 
Em estudo realizado pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais-
UFMG, Sérgio Pena, quanto à divisão racial no Brasil, concluiu-se que, 30% (trinta por 
cento) dos indivíduos que se declaravam brancos, também seriam afrodescendentes 
por conterem DNA de origem africana (PENA; BORTOLINI, 2000). 
No referido estudo, concluiu-se, ainda, que 87% (oitenta e sete por cento) da 
população brasileira, segundo o censo do ano 2000, possui 10% (dez por cento) do 
DNA com ancestralidade africana, onde apenas 73% (setenta e três por cento) das 
pessoas que se autodeclararam negras tinham, em seu DNA, mais de 50% (cinquenta 
por cento) de ancestralidade africana. 
Estudos filogeográficos2 com brasileiros brancos revelaram que a imensa 
maioria das patrilinhagens é europeia, ao passo que a maioria das matrilinhagens 
(mais de 60%) é ameríndia ou africana. Evidencia-se, assim, um padrão de 
reprodução assimétrico - homem europeu com mulheres indígenas ou africanas 
(PIOVESAN, 2008). 
Obstante ao estudo realizado por Pena, os dados do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística-IBGE, do ano 2000, apontam que 54% (cinquenta e quatro por 
cento) da população brasileira seriam brancas. Para Pena tal resultado decorre do 
sistema de autoclassificação adotado que não corresponde à realidade do país 
(PENA; BORTOLINI, 2000). 
Ficou evidenciado, assim, que os critérios utilizados pelos estudos 
estatísticos, como o da autoclassificação, fazem com que a realidade social não 
corresponda àquela trazida pelos dados coletados. 
O critério fenotípico, então, cria uma zona de incerteza entre as pessoas que 
são mestiças ou miscigenadas, as quais o IBGE as denominas pardas. Acontece 
 
2 Filogeografia é o estudo dos processos históricos que podem ser responsáveis pela distribuição 
geográfica contemporânea de indivíduos. Isto é conseguido considerando a distribuição geográfica dos 
indivíduos à luz dos padrões numa genealogia genética. 
 
 
20 
que, a Lei Federal n° 12.990/2014, que regulamenta a reserva de vagas em 
concursos públicos a negros, assim como o Estatuto da Igualdade Racial, definem 
como pessoas negras, aquelas que são classificadas como pretas e pardas, de 
acordo com IBGE. 
Partindo desse princípio, segundo o IBGE, todos aqueles que não são 
brancos, indígenas e amarelos, são negros. Deste modo, a população tecnicamente 
negra no país equivale a 50,7% da população. Assim, cria-se o vale da incerteza 
racial, onde estão aquelas pessoas que não possui todos os fenótipos da raça negra, 
mas igualmente não possui todos da raça branca, chamados, muitas vezes de 
morenos. 
Essa falha do sistema de classificação dificulta a definição das características 
fenotípicas que determinam alguém como negro. As definições da raça negra não 
foram elencadas por nenhuma lei. 
Contudo, suponha-se que a lei previu, dentro do critério fenótipo, quais são as 
características que um indivíduo deverá ter para ser considerado negro. Partindo 
disso, precisa-se definir como essas características serão verificados. Para isso, há 
duas hipóteses, a autodeclaração e o heterorreconhecimento. 
Na primeira hipótese o indivíduo se auto declara negro, somente isso. Se o 
indivíduo se reconhece como negro, o estado o reconhecerá como negro. Nesse 
critério, para o indivíduo valer-se do benefício da cota, basta sua autodeclaração 
como negro, o que ocasionou no surgimento de pessoas não negras se declarando 
como negras. 
A fim de resolver essa problemática, o Estado passou a usar o critério do 
heterorreconhecimento, para evitar fraudes. A Universidade de Brasília-UNB, foi a 
primeira a utilizar esse critério, utilizando uma comissão para julgar se os 
vestibulandos na condição de cotistas eram ou não negros, conduto sem divulgar 
quais os critérios seriam utilizados para essa verificação. 
Então, utilizando esse critério, que em 2007, dois irmãos gêmeos, idênticos, 
se inscreveram no vestibular da universidade pelo sistema de cota para negros. Após 
 
 
21 
a submissão das fotografias à banca avaliadora, um dos irmãos foi considerado 
negro e o outro não.3 
Assim, como foi adotado o sistema no Brasil do fenótipo, arrolada na auto 
identificação pelo indivíduo, cria-se outra incerteza na classificação racial, pautado 
na feição do indivíduo com fenotípico branco, mas com linhagem genética negra, 
mormente ser a cor da pele uma mera alteração genética, variando conforme as 
combinações genéticas dos pais, não obstante uma pessoa pode ser branca 
concomitantemente em que descende de uma família negra. 
Como assentado alhures, apenas 73% (setenta e três por cento) dos 
indivíduos que se declaram negros possuem mais de 50% (cinquenta por cento) do 
seu DNA com genética da raça negra. 
Destarte, baseando-se somente no critério de autodeclaração, não permite 
saber, precisamente, quem é negro no Brasil, sendo um obstáculo ao sistema de 
cotas unicamente racial. 
2.2 A ORIGEM DAS AÇÕES AFIRMATIVAS. 
A fim de se compreender melhor o sistema de contas ou reservas de vagas 
destinadas a negros em concursos públicos é de bom tom apresentar a origem desse 
sistema. 
O berço das ações afirmativas é os Estados unidos da América, após o fim da 
segregação racial vivenciada pelos negros, onde os mesmos eram impedidos de 
frequentar lugares, dificultando o acesso a estudo, trabalho, etc. 
Assim, as ações afirmativas são um encorajamento estatal, para que as 
categorias historicamente discriminadas tivessem acesso à educação e ao mercado 
de trabalho, promovendo, então, maior igualdade de oportunidades (BELLINTANI, 
2006, p.45). 
 
3 https://www.estadao.com.br/noticias/geral,para-unb-um-era-branco-e-outro-negro-imp-,951965 
https://www.estadao.com.br/noticias/geral,para-unb-um-era-branco-e-outro-negro-imp-,951965
 
 
22 
John F. Kennedy, no seu primeiro mandato, implementou políticas sociais, 
sendo a primeira delas o Right Act (Lei de Direitos Civis) de 1964. Ainda, no seu 
primeiro ano, Kennedy expediu a Executive Order n. 10.925, que trouxe, pela primeira 
vez, o uso da expressão affirmative action, ação afirmativa. Com isso, o presidente 
Kennedy visava estabelecer uma igualdade de oportunidades entre as raças. 
A ordem de número 10.925 determinava que nos contratos realizados com o 
governo federal: 
O contratante não discriminará nenhum funcionário ou 
candidato a emprego devido a raça, credo, cor ou 
nacionalidade. O contratante adotará ação afirmativa para 
assegurar que os candidatos sejam empregados, como também 
tratados durante o emprego, sem consideração a sua raça, seu 
credo, sua cor ou nacionalidade. Essa ação incluirá, sem 
limitação, o seguinte: emprego; promoção; rebaixamento ou 
transferência; recrutamento ou anuncia de recrutamento, 
dispensa ou término; índice de pagamento ou outras formas de 
remuneração; e seleção para treinamento, inclusive 
aprendizado (MENEZES, 2011, p. 88). 
Posteriormente, foi expedido o Civil Rights Act de 2
de julho de 1964, onde 
previa a proibição de qualquer discriminação no ambiente de trabalho. Contudo, os 
resultados pretendidos não foram alcançados. 
O fim da segregação racial se deu com o julgamento do caso Rose Parks, 
mulher negra que se negou ceder o espaço destinados as pessoas brancas no ônibus, 
resultando na sua prisão, onde o caso terminou na Suprema Corte Americana obtendo 
decisão favorável, ordenado o fim da discriminação, o que, até aquele momento, era 
legitimada pelo Estado (PALMARES, 2011). 
E nesse contexto, surgiu as ações afirmativas como forma de se buscar a 
igualdade de oportunidades, exigindo do estado uma postura ativa para a condição 
da população negra. 
2.2.1 ações afirmativas no brasil. 
No Brasil, tomou-se como base o modelo adotado nos países segregacionistas, 
como foram os Estados Unidos, onde a população negra foi vedada, com o aval do 
estado, o acesso a diversos setores e direito que o resto da sociedade detinham. 
 
 
23 
As ações afirmativas, no Brasil, como política de estado, surgiram com a 
Consolidações das Leis Trabalhistas-CLT, no governo do Presidente Getúlio Vargas, 
onde as mulheres ganhavam benefícios legais (SILVA 2000). 
Em 1995, o então Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, anunciou 
o desenvolvimento de um programa de valorização da população negra. Em seu 
governo, foram criadas algumas ações afirmativas, tais como: Grupo de Trabalho para 
a Eliminação da Discriminação no Emprego e na Ocupação, o Grupo de Trabalho 
Interministerial para a Valorização da População Negra e o lançamento do Programa 
Nacional de Direito Humanos (SILVA 2000). 
O Brasil adotou as ações afirmativas como medidas de compensação a fim de 
se atingir a igualdade de oportunidades entre as raças, por um período histórico do 
país, onde a raça negra foi utilizada como mão de obra escrava. 
Nesse diapasão, Gomes define ação afirmativa: 
Inicialmente, as ações afirmativas se definiam como um mero 
“encorajamento” por parte do Estado a que as pessoas com poder 
decisório nas áreas pública e privada levassem em consideração, nas 
suas decisões relativas a temas sensíveis como o acesso à educação 
e ao mercado de trabalho, fatores até então tidos como formalmente 
irrelevantes pela grande maioria dos responsáveis políticos e 
empresariais, quais sejam, a raça, a cor, o sexo, e a origem nacional 
das pessoas. (...) Atualmente, as ações afirmativas podem ser 
definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter 
compulsório, facultativo ou voluntário, concebidas com vistas ao 
combate à discriminação racial, de gênero e de origem nacional, bem 
como para corrigir os efeitos presentes da discriminação praticada no 
passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva 
igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e o 
emprego (2001, pág. 39/40). 
Diante do exposto, o surgimento das ações afirmativas no Brasil e a sua 
implementação, tem por objetivo a compensação visando combater as desigualdades 
materiais, sejam elas econômicas ou de outra natureza, promovendo os direitos dos 
grupos vulneráveis, bem como as minorias. 
 
 
24 
3. A FALÁCIA DAS COTAS RACIAIS COMO REPARAÇÃO HISTÓRICA. 
O maior argumento utilizado para a implementação das cotas raciais modernas 
é a dívida histórica que o Brasil possui com a população negra, ao passo que os 
negros atuais estão em desigualdade com as demais raças em virtude da negação de 
direitos sofridos durante a escravidão. Assim, as cotas raciais, tanto no ensino 
superior, quanto no ingresso ao serviço público, teriam a função de compensar por 
essa restrição de direitos. 
Destarte, os negros deveriam ser compensados por esse período vivido, 
contudo, fica o questionamento de quem vai compensar, ou ainda, quais são os aptos 
a serem compensados. Em páginas alhures, restou demonstrado o degrade da raça 
no Brasil devido ao alto grau de miscigenação ocorrido no país, não dificultando a 
identificação do negro, mas, sim, a do não negro. 
Se é os brancos que vão compensar, como determinar quem é o responsável 
pela escravidão, os brancos com parte de linhagem portuguesa e parte africana, eles 
devem ser compensados pela parte africana ou compensar pela parte portuguesa, ou 
deve se auto compensar? E como se determina quem é 100% branco sem linhagem 
afrodescendente? E se for o caso de Estado que irá compensar, para isso ocorrer o 
Estado precisará tirar de algum lugar a compensação, no caso de reserva de vagas 
para negros, o número de vagas para as demais raças diminui. 
Com efeito, antes da colonização do Brasil, o negro africano já era utilizado 
como mão de obra escrava pelos países europeus, bem como já eram alvo do tráfico 
de pessoas. Como no início da colonização do que viria a ser o Brasil, Portugal não 
dispunha de uma população suficiente para realizar essa colonização, por isso 
também foi utilizado o negro africano como mão de obra escrava. 
Ademais, a escravidão começou muito antes do período colonial no mundo, na 
Idade Antiga era muito comum a prática da escravidão. Além de ser um trabalho 
compulsório, muitas vezes por serem os escravos o povo que foi vencido em alguma 
guerra, também havia o trabalho escravo por endividamento, que se caracterizava 
pela responsabilização pessoal de dívidas contraídas e não pagas. 
 
 
25 
Deste modo, a escravidão era mais uma forma de dominação de pessoas e de 
exploração de trabalho e que a condição de escravo, naquela época, era apenas mais 
uma circunstância da vida e não configurava uma anomalia social. 
Assim, Noberto Luiz Guarinello (2006) observa que: 
De modo geral, não é possível falar de uma cultura escrava no Império 
Romano. Ou, ao menos, é muito mais complexo do que, talvez, no 
caso da escravidão brasileira. Os escravos romanos não tinham 
nenhuma identidade étnica ou racial. Pelo contrário, as fontes 
ressaltam, precisamente, a estratégia de diversificar as origens da 
escravaria para impedir o surgimento dessas identidades. 
Observa-se, assim, que o critério racial para identificar o escravo surgiu depois 
do surgimento da própria escravidão. A escravidão do negro africano começou no 
Brasil Colonial a partir do século XVI quando os portugueses deixaram de utilizar a 
mão-de-obra indígena passando a utilizar a mão-de-obra africana (HISTÓRIA DO 
BRASIL, 2016). 
Olhando a história de outro país que também utilizou a mão-de-obra escrava 
do negro africano, temos que no Estados Unidos, o escravo era tratado com uma res 
do seu senhor, uma simples propriedade, não mais que uma ferramenta de trabalho 
sem diferença dos cavalos e das carroças utilizadas. Os escravos norte-americanos, 
por sua condição de coisa, haviam normas que o impediam de casar, ter filhos e de 
obter a liberdade. 
Por seu turno, no Brasil, havia o convívio mais social e íntimo do escravo com 
os seus senhores, e mesmo no período da escravidão haviam negros livres, tanto 
porque se permitia a sua libertação, tanto como permitia que os escravos comprassem 
a sua liberdade (KAUFMANN, 2007). 
Assim, no Brasil, os negros livres também possuíam escravos, como pode ser 
observado na passagem do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, do grande autor, 
que também era negro, Machado de Assis, escritor do movimento Realista no Brasil. 
No capítulo LXVIII de seu livro temos a seguinte transcrição (Memórias 
Póstumas de Brás Cubas, pág. 76): 
 
 
26 
CAPÍTULO LXVIII / O VERGALHO. Tais eram as reflexões que eu 
vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a 
casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava 
outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas 
únicas palavras: — “Não, perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” 
Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma 
vergalhada nova. — Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, 
bêbado! — Meu senhor! gemia o outro. — Cala a boca, besta! 
replicava
o vergalho. Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o 
do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, — o que 
meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo 
e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele. 
— É, sim, nhonhô. — Fez-te alguma coisa? — É um vadio e um 
bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu 
ia lá embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda 
beber. — Está bom, perdoa-lhe, disse eu. — Pois não, nhonhô. 
Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado! 
Ainda durante a escravidão, havia a participação de negros nas camadas de 
prestígio da sociedade, visto o próprio Machado de Assis, e que não foi o critério 
racial que foi o responsável pela não ascensão social. Nesse sentido, temos a 
passagem histórica citada Kaufmann (2007, p. 41), a seguir transcrita: 
Relevante exemplo pode ser extraído da Ordem de 1731, emanada 
por D. João V, que revela, pelo menos, magnífico exemplo de 
recusa à discriminação e a postura contrária da autoridade máxima 
ao manifestado preconceito de cor. Por meio dessa norma, o Rei 
conferiu poderes ao Governados da Capitania de Pernambuco, 
Duarte Pereira, para que empossasse um mulato no cargo de 
Procurador da Coroa, de grande prestígio na época, afirmando que 
a cor não lhe servia como um impedimento para exercer tal função. 
 
Resta demonstrado, deste modo, que a utilização da mão-de-obra negro 
africana não se deu por questão racial. A explicação da utilização do negro africado 
como escravo em maior proporção do que o escravo indígena, aqui o índio brasileiro, 
vem do mesmo motivo da sua abolição: interesse econômico ligado ao tráfico de 
escravos da África para a Coroa portuguesa e para os mercadores (VICENTINO, p. 
183). 
A motivação para o fim do tráfico negreiro, na época, eram as dívidas 
contraídas e um possível desequilíbrio populacional em relação a população não 
escrava. 
 
 
27 
A proibição do tráfico de pessoas que a Inglaterra defendia no século XIX tinha 
a pretensão de prejudicar a economia da Espanha e de Portugal, já que a aquela tinha 
a mercantilização da mão-de-obra negra e este fazia grande uso do negro africano 
como escravo. Nessa época, também na Inglaterra, estava acontecendo a revolução 
industrial (MOTA, 2007, p. 487), o que permitia menor utilização na mão de obra 
humana. 
Nesse diapasão, a Coroa Britânica fez pressão para que a Coroa Brasileira 
parasse com o tráfico negreiro como condição para o reconhecimento da 
independência e da identificação do Brasil como outro país e não mais como colônia 
(MULTIRIO, 2016). 
 Resta mais que claro que a escravidão do negro africano não se deu por 
questão racial da cor da pele, que sua raça seria inferior as outras. Essa parte triste 
da história do Brasil se deu unicamente por motivos econômicos, uma vez que a mão-
de-obra nativa do país deixou de ser opção viável. 
Contudo, entre as décadas de 80 e 90, destacaram, no Brasil, movimentos 
antirracistas com o argumento da reparação das vítimas da escravidão. Nas palavras 
de Ronaldo Jorge A. Vieira Júnior, o intuito desses movimentos foi “aprofundar a 
reflexão sobre a impunidade de autores de atos atentatórios aos direitos dos negros 
no Brasil, especialmente a impunidade do Estado e seus agentes diretos e indiretos” 
(JÚNIOR, 2007, p. 94). 
Assim, as ações afirmativas vêm para tentar reparar essa degradação de 
direitos sofrida durante a escravidão, Dworkin (2002, p. 345) entende que as ações 
afirmativas são prejudiciais e que agravam cada vez mais o preconceito: 
[...] Argumentam que qualquer discriminação racial – mesmo aquelas 
com o propósito de beneficiar minorias – termina na verdade por 
prejudicá-las, pois o preconceito é fomentado, sempre que as 
distinções raciais são toleradas, seja com que objetivo for. [...] 
A compensação histórica proposta pelas ações afirmativas tem um fato de 
discriminação que pode provocar uma injustiça maior ao invés de solucionar. 
Como trabalhado em páginas alhures, é muito difícil determinar a raça de uma 
pessoa, ainda mais determinar o não negro. Então, como será direcionado as cotas 
 
 
28 
raciais, quem seria o destinatário? Ainda mais utilizando o critério da autodeclaração 
para se determinar a raça, fica o questionamento de que quem não tem os traços da 
raça negra, mas, mesmo assim descende diretamente de negros se poderá estar apto 
ao sistema de cotas. 
Como já mencionado, o critério da autodeclaração não é confiável e nem 
conduz com a realidade. Também, não há alguma exigência para qualificar o 
candidato a cotas raciais, como faz-se no requerimento das pessoas carentes quando 
se busca a obtenção da assistência judiciária. Outro ponto já mencionado são as 
comissões “julgadoras da raça”, que foram constituídas em algumas universidades 
brasileiras, justamente porque o critério da autodeclaração não é confiável, mas, 
mesmo assim, diante do degrade de cor, aliado ao lugar onde a pessoa vive, gera 
disparidades na determinação racial do indivíduo, como o caso que ocorreu na UNB 
comentado no primeiro capítulo. 
Ainda tem os pardos, os mulatos e os mestiços, que, a depender do local onde 
vive, pois, uma mesma pessoa que é considerada parda, inserida numa sociedade 
onde majoritariamente é composta por negros, ela poderá se reconhecer como 
branca, ou ao contrário, estando inserida em uma sociedade majoritariamente branca 
poderá se identificar como negra, assim, não sendo destinatários das cotas raciais. 
Os pardos são a maior parte da população não branca do Brasil, serão excluídos sob 
a vigência da preferência pela categoria étnico-racial. 
A associação da fusão das categorias “pardo” e “preto/negro” em única 
classificação sob a designação de “negros”, por aferição do IBGE e de outras 
instituições nacionais, verifica-se uma manipulação dos dados e dos seus significados 
reais, bem como vai ao encontro da autodeclaração, já classificando todos como 
negros. 
Conforme pesquisa realizada pelo IBGE, entre 2012 e 2016, a população 
brasileira cresceu 3,4%, alcançando a taxa de 205,5 milhões de habitantes, o número 
dos que se declaravam brancos teve uma redução de 1,8%, totalizando 90,9 milhões. 
 
 
29 
Já o número de pardos autodeclarados cresceu em 6,6% e o de pretos, em 
14,9%, alcançando a taxa 95,9 milhões e 16,8 milhões, respectivamente.4 
Entre 2012 e 2016, a pesquisa mostra que a população de brancos na 
população do país caiu de 46,6% para 44,2%, enquanto a população parda aumentou 
de 45,3% para 46,7% e a dos pretos, de 7,4% para 8,2%. 
Há marcantes diferenças regionais na distribuição da população por cor ou 
raça, o que pode ser explicado pelo processo de ocupação do território. No Sul, 76,8% 
da população se declarou branca, 18,7% parda e apenas 3,8% preta. Por outro lado, 
na região Norte, 72,3% da população se declarou parda, 19,5% branca e 7,0% preta. 
Essa redução da população branca no país e o aumento de pretos e pardos, 
segundo a pesquisadora Maria Lucia Vieira, é uma tendência verificada ao longo do 
tempo. “Até o Censo Demográfico 2010, os brancos representavam mais da metade 
da população e naquele ano, pretos e pardos ultrapassaram”, afirmou. 
Isso decorre de dois fatores principais segundo a pesquisadora: “Há a 
tendência da miscigenação, ou seja, que a população se misture e o grupo pardo 
cresça. E, no caso do aumento da autodeclaração de pretos, tem um fator a mais: o 
reconhecimento da população negra em relação à própria cor, que faz mais pessoas 
se identificarem como pretas”. 
Nisso vemos o quão frágil é o sistema e autodeclaração, ao vermos que o 
mesmo indivíduo muda sua raça ao longo do tempo. Em um momento da vida ele 
pode se considerar branco e, com a mudança do meio social onde vive poderá se auto 
identificar como negro, havendo, ainda, o aumento da miscigenação gradamente no 
país. 
No Brasil, os negros, são considerados como
o conjunto de pretos e pardos, e 
representam, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)5 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011), 51,3% da população. 
 
4 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18282-
populacao-chega-a-205-5-milhoes-com-menos-brancos-e-mais-pardos-e-pretos. 
5 RESERVA DE VAGAS PARA NEGROS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
30 
Conforme a Tabela abaixo, a taxa de ocupação da população negra em cargos 
públicos é de 44,5%, enquanto a taxa de ocupação nos mesmos cargos pela 
população branca é de 54,6%, apresentando uma taxa de ocupação superior em 
10,1%, ou seja, a cada 10 cargos públicos, 6 seriam ocupados por brancos e 4 por 
negros, uma diferença tão ínfima que não se justifica a reserva de vagas, essa 
diferença está ligado a diversos fatores externos a sociedade, não pode afirmar, 
categoricamente, com base em uma diferença pequena, que o racismo e a dívida 
histórica é que está impedindo o aumento da taxa de negros no serviço público. 
 
 
Depreende-se, ainda, da tabela acima, que, sobre representação das mulheres 
é mais marcante no setor público municipal, no qual as mulheres concentram 63,7% 
das ocupações – com destaque para as mulheres negras: cerca de 64% das mulheres 
negras ocupadas no setor público estão no nível municipal. 
Ou seja, em nível municipal, do universo de vagas 64% destas são ocupadas 
por negras, em contrapartida no setor público federal, a sua participação é de 38,5%, 
mas vê-se que tanto as mulheres, quanto as mulheres negras estão bem 
representadas no setor público, e que a diminuição do percentual de ocupação no 
 
Disponível em: <httprepositorio.ipea.gov.brbitstream1105874611RP_Reserva_2016.pdf>. Acesso em: 
03 maio. 2019. 
 
 
 
31 
setor federal não se deve exclusivamente pelo racismo ou pela negação de direitos 
aos antepassados, mas pode ser baseados em fatores mais concretos, como já ser 
ocupante de cargo municipal, ou ainda, não escolheram ingressar na carreia pública. 
Destarte, resta evidenciado que a participação da população negra nos cargos 
públicos é correspondente com a parcela destes na população, assim, tem-se que o 
sistema de cotas raciais em concurso público não está sendo utilizado como 
compensação histórica, mas sim como uma ferramenta de combate ao racismo, 
realizando uma equiparação social. 
As desvantagens do negro em relação ao branco deveriam terminar após a 
formação no curso superior, pois, ambos saem igualmente qualificados para o 
mercado de trabalho. 
Inegável falar que não há casos de racismos no mercado de trabalho, ocorre 
sim casos em que negros não são contratados mesmo tendo a mesma qualificação 
que seus concorrentes e em algumas vezes até uma maior qualificação. Contudo, 
quando falamos de concurso público, isso já não ocorre, porque não é o trabalhador 
do Recursos Humanos que estará selecionando os candidatos, mas sim a 
administração pública. 
No concurso o candidato será selecionado pela sua capacidade técnica, não 
havendo na seleção nem contato pessoal com a administração. Assim, não há que se 
falar em combate ao racismo em concurso, ficando mais evidente a falha da cota racial 
nessa categoria de avaliação. 
 
 
 
32 
4. CONCEITOS E PRINCÍPIOS DO CONCURSO PÚBLICO. 
Já que o presente trabalho tem por objetivo expor a inconstitucionalidade das 
cotas raciais em concurso público, faz-se necessário uma breve explicação do 
conceito de concurso público. 
Primeiramente, para uma melhor compreensão do instituto do concurso público 
e sua constitucionalidade, é necessário explanar sobre seus princípios. 
O concurso público, bem basicamente, é mais um ato administrativo para 
contratação de pessoas, e como todo ato administrativo, devem observar os princípios 
gerais do direito administrativo, além de princípios próprios, como os princípios da 
competitividade, da seletividade, da obrigatoriedade, proibitivo da ordem de 
classificação, princípio do julgamento objetivo e do duplo grau de jurisdição, todos 
presentes na Constituição Federal de 1988. 
Destes princípios, alguns são mais relevantes e, por isso, será dado mais 
destaque a eles. 
A Constituição Federal determina que, para o ingresso no serviço público tem-
se a obrigatoriedade de ser por meio de concurso público de provas e títulos ou só 
provas, mas nunca somente de títulos, conforme disposição do artigo 37, inciso II da 
Constituição, in verbis: 
Art. 37. A administração pública federal direta, indireta ou fundacional, 
de qualquer dos Poderes da União, do Distrito Federal e dos 
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e, também, ao seguinte: 
(...) 
II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação 
prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, 
ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei 
de livre nomeação e exoneração. 
Portanto, a investida em cargos ou emprego público depende da aprovação em 
concurso público. 
O princípio proibitivo da quebra da ordem de classificação está na Constituição 
Federal, no inciso I do artigo 93, in verbis: 
 
 
33 
Art. 93. Lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, 
disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes 
princípios: 
I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, 
mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da 
ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do 
bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e 
obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação. 
Em relação ao concurso público, o princípio mais importante é o da 
impessoalidade. Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, a impessoalidade 
consiste em: 
“na Administração tem que tratar a todos os administrados sem 
discriminações, benéficas ou detrimentosas. Nem favoritismo nem 
perseguições são toleráveis. Simpatias ou animosidades pessoais, 
políticas ou ideológicas não podem interferir na atuação administrativa 
e muito menos interesses sectários de facções ou grupos de qualquer 
espécie. O princípio em causa não é senão o próprio princípio da 
igualdade ou isonomia” (Curso de direito administrativo, 30a. ed, p. 
117). “ 
Deste princípio extrai-se que a administração não poderá fazer diferenças entre 
os candidatos do concurso. Aquela máxima de que a justiça é cega para que seja 
imparcial se amolda perfeitamente ao caso, ao passo que a administração não 
enxerga o candidato para que não o venha beneficiar. 
4.1 CARGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS. 
Os cargos e funções públicas são acessíveis a todos os brasileiros natos e 
naturalizados que preencham os requisitos estabelecidos pela lei, assim disposto no 
supramencionado artigo 37, no seu inciso primeiro, da Constituição Federal: 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos 
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios 
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos 
brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim 
como aos estrangeiros, na forma da lei; 
Os cargos públicos são criados por lei, havendo diferença entre cargo e função 
pública. Nas palavras de Celso Antonio Bandeira de Mello, o cargo público “é uma 
denominação dada a mais simples unidade de poderes e deveres estatais a serem 
expressos por um agente. 
 
 
34 
Hely Lopes Meirelles (1999, p. 79) conceitua cargos como: 
Os cargos são apenas os lugares criados no órgão para serem 
providos por agentes que exercerão as suas funções na forma legal. 
O cargo é lotado no órgão e o agente é investido no cargo. Por
aí se 
vê que o cargo integra o órgão, ao passo que o agente, como ser 
humano, unicamente titulariza o cargo para servir ao órgão. Órgão, 
função e cargo são criações abstratas da lei; agente é a pessoa 
humana, real, que infunde vida, vontade e ação a essas abstrações 
legais. 
Já a função pública é a atribuição ou conjunto de atribuições que a 
administração confere a cada categoria profissional ou a determinados servidores de 
serviços eventuais. Assim, todos os cargos têm função pública, mas a recíproca não 
é verdadeira, a função pública nem sempre decorre de um cargo. 
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles (1999, p. 79), a função pública: 
“...são os encargos atribuídos aos órgãos, cargos e agentes. O órgão 
normalmente recebe a função in genere e a repassa aos seus cargos 
in specie, ou a transfere diretamente a agentes sem cargo, com a 
necessária parcela de poder público para o seu exercício. Toda função 
é atribuída e delimitada por norma legal. Essa atribuição e delimitação 
funcional configuram a competência do órgão, do cargo e do agente, 
ou seja, a natureza da função e o limite de poder para o seu 
desempenho. Daí por que, quando o agente ultrapassa esse limite, 
atua com abuso ou excesso de poder. ” 
 
Deste modo, cargo público é aquele ocupado por servidor público, já a função 
pública é um conjunto de atribuições destinadas aos agentes públicos, abrangendo à 
função temporária e a função de confiança. 
4.2 DA IGUALDADE APÓS A CONCLUSÃO DO ENSINO SUPERIOR. 
O princípio basilar de um estado democrático é o da igualdade, sem ela 
voltamos aos tempos do Império. 
Adotada pela Constituição Federal, o princípio da igualdade de direitos, 
prescreve uma igualdade de aptidão, onde todos os cidadãos têm a prerrogativa de 
ter um tratamento igualitário perante a lei, em conforme com os critérios abraçados 
pelo ordenamento jurídico. Destarte, busca-se a vedação de diferenciações 
arbitrárias, porque o trato dado ao desigual em casos desiguais, na medida em que 
 
 
35 
se desigualam, é mínima exigência do próprio conceito de justiça, uma vez que o que 
se busca proteger são certas finalidades. 
 O princípio da igualdade pode ser dividido em igualdade forma e igualdade 
material. É possível conceituar a igualdade formal como uma norma de caráter 
negativo, que impõe restrições e vedações na aplicação da norma. É aquela igualdade 
genérica, elencada no artigo 5° da Constituição, onde diz que todos são iguais perante 
a lei, sem qualquer descriminação. 
Assim, nas palavras de José Afonso Silva, “igualdade perante a lei, enunciado 
que, na sua literalidade, se confunde com a mera isonomia formal” (DA SILVA, 2014, 
p. 216). 
No que tange à igualdade material, devemos partir da máxima aristotélica de 
que “os iguais devem ser tratados como iguais e os desiguais, na medida de suas 
desigualdades”. 
Nesse sentido temos os ensinamentos de HESSE: 
A igualdade jurídica material não consiste em um tratamento sem 
distinção de todos em todas as relações. Senão, só aquilo que é igual 
deve ser tratado igualmente. O princípio da igualdade proíbe uma 
regulação desigualdade de fatos iguais; casos iguais devem encontrar 
regra igual. A questão é quais fatos são iguais e, por isso, não devem 
ser regulados desigualmente. (1998, p. 330) 
Nessa toada, tem-se que a igualdade possui três finalidades limitadoras, as 
quais segundo para Alexandre de Moraes (2009. p. 37-38.): limitação ao legislador; 
ao intérprete/autoridade pública e ao particular. Em relação à primeira limitação, o 
autor fez as seguintes ponderações: 
O legislador, no exercício de sua função constitucional de edição 
normativa, não poderá afastar-se do princípio da igualdade, sob pena 
de flagrante inconstitucionalidade. Assim, normas que criem 
diferenciações abusivas, arbitrárias, sem qualquer finalidade lícita, 
serão incompatíveis com a constituição federal. 
Deste modo, tem-se que podem ser tratados igual e desigualmente, ao mesmo 
tempo, dois indivíduos, tendo em vista que todos têm semelhanças e diferenças que 
possa justificar tratamentos diferenciados. 
 
 
36 
Partindo deste princípio, conclui-se pela existência de discriminação quando 
uma norma diferencia de modo não legítimo ou arbitrária um tratamento específico a 
pessoas diversas. De outro modo, para que uma iniciativa normativa seja considerada 
não discriminatória, ou seja, que busque efetivar a igualdade material, faz-se 
necessário a existência de uma justificativa objetiva e razoável, fundados em critérios 
amplamente aceitos, sendo possível visualizar razoabilidade entre os meios 
empregados e a finalidade a ser alcançada. 
Quanto à limitação destinada ao intérprete/autoridade pública, Alexandre de 
Moraes assim a apresentou: 
 
A intérprete/autoridade pública não poderá aplicar as leis e atos 
normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar 
desigualdades arbitrárias. Ressalte-se que, em especial o Poder 
Judiciário, no exercício de sua função jurisdicional de dizer o direito ao 
caso concreto, deverá utilizar os mecanismos constitucionais no 
sentido de dar uma interpretação única e igualitária às normas 
jurídicas. (2009. p. 37-38) 
Seguramente, a maior dificuldade na apreensão do princípio da igualdade está 
precisamente em evitar que distinções que não possuam uma fundamentação 
razoável sejam aplicadas, ocasionando na ampliação da desigualdade que se 
pretende combater, bem como na discriminação reversa desequilibrando, ainda mais, 
as relações sociais (MORAES, 2006). 
Nessa seara, para que haja compatibilidade entre critério de Cotas Raciais e o 
princípio da igualdade, é necessário um nexo de causalidade entre a causa de 
discrímen praticado e a desigualdade que se visa combater por meio da norma, que 
se traduz na falta de representação da população negra nas camadas sociais de maior 
prestígio. 
Em seu livro de Direito Constitucional, José Afonso da Silva explicou que: 
“haverá ofensa ao princípio da igualdade gerando uma 
inconstitucionalidade quando houver benefício que seja legítimo, mas 
a pessoas ou grupos que esteja em igual situação que outras – não 
justificando então a sua discriminação para com os demais – e 
também quando discriminar pessoas em situações iguais e assim 
gerando condições mais favoráveis para uns (DA SILVA, JOSÉ. 2014, 
p. 230-231)”. 
 
 
37 
Aqui surge um dos problemas das cotas raciais em concurso público. Como já 
evidenciado em linha pretéritas, o conceito de cotas não coaduna com a 
argumentação da reparação histórica. Deste modo, fica claro que o objetivo das cotas 
raciais não é compensar pelo período da escravidão, mas sim ser uma ferramenta de 
combate ao racismo. 
Esclarecendo bem, não se nega a existência do racismo, nem da necessidade 
de seu combate, mas a forma de se fazer, quando gera mais injustiças do que resolve 
sim merece ser criticada. 
Como já demonstrado alhures, em alguns setores do serviço público, não só o 
negro, mas como a mulher negra tem uma maior expressividade na categoria do que 
a população branca. Ademais, tem-se, também, que a diferença de brancos e negros 
ocupantes de cargos públicos são de apenas 10%. Essa diferença não pode ser 
baseada exclusivamente na questão racial. 
Conforme a tabela abaixo6, vê-se que a população negra, assim aquela definida 
pelo IBGE como preto e pardos, já superou a população branca no ensino superior. 
 
 
6 http://cadernodoenem.com.br/fique-ligado/26-11-2014/sistema-de-cotas-nas-universidades-entenda-
como-funciona.html 
http://cadernodoenem.com.br/fique-ligado/26-11-2014/sistema-de-cotas-nas-universidades-entenda-como-funciona.html
http://cadernodoenem.com.br/fique-ligado/26-11-2014/sistema-de-cotas-nas-universidades-entenda-como-funciona.html
 
 
38 
Nas universidades públicas, são a maioria, conforma a tabela abaixo7. 
 
Nessa tabela, vemos a distribuição da população por cor em cada curso8.
7 https://g1.globo.com/educacao/noticia/apos-cotas-universidades-federais-ficam-mais-populares-e-
negras-diz-estudo.ghtml 
8 http://mercadopopular.org/como-as-universidades-publicas-no-brasil-perpetuam-a-desigualdade-de-
renda-fatos-dados-e-solucoes/ 
https://g1.globo.com/educacao/noticia/apos-cotas-universidades-federais-ficam-mais-populares-e-negras-diz-estudo.ghtml
https://g1.globo.com/educacao/noticia/apos-cotas-universidades-federais-ficam-mais-populares-e-negras-diz-estudo.ghtml
http://mercadopopular.org/como-as-universidades-publicas-no-brasil-perpetuam-a-desigualdade-de-renda-fatos-dados-e-solucoes/
http://mercadopopular.org/como-as-universidades-publicas-no-brasil-perpetuam-a-desigualdade-de-renda-fatos-dados-e-solucoes/
 
 
39 
Vemos que em alguns cursos há predominância da população negra, enquanto 
outros ocorre o inverso. Aqueles cursos em que a população negra é menos 
expressiva não ocorre exclusivamente por questão racial, uma discriminação, um 
impedimento da população negra ao ingresso nesses cursos. Concluir que essa é a 
causa desse efeito é uma desonestidade intelectual. 
Ao analisarmos o gráfico, se pegarmos o curso de direito, vemos que a 
população não branca soma-se quase a metade dos estudantes desse curso, que um 
dos mais visados para o ingresso no serviço público. 
Assim, não há justificativa para dizer que negros e brancos não estão em 
condições de igualdade após a conclusão do ensino superior, ainda mais se analisar 
a obrigatoriedade da observância do princípio da igualdade dos atos administrativos, 
onde não há como ocorrer a impossibilidade de um negro não ingressar no cargo 
público devido a sua cor, basta ter sido classificado dentro no número de vagas. 
Vê-se, assim, que as cotas no serviço público estão sendo usadas como 
ferramenta de combate ao racismo, mesmo havendo uma boa representação da 
população negra no serviço público. Não impede, ainda, que a representação seja 
maior, mas que não seja aumentada em detrimento de outras pessoas. 
 
 
 
40 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
No presente trabalho foi trabalhado como surgiu a população negra no Brasil, 
demonstrando que mesmo antes da colonização do que viria ser o Brasil, já havia a 
mistura de raças entre os portugueses e os negros africanos, onde os colonizadores 
já estavam acostumados com a miscigenação racial. 
Na falta de população para colonização da colônia brasileira, a grande maioria 
dos colonizadores que vieram para as novas terras eram homens, proporcionando o 
desenvolvimento das relações inter-raciais, ou seja, os homens portugueses 
acabaram por se relacionarem com as mulheres negras e indígenas, o que propiciou 
a miscigenação desde nossas origens. 
Analisando a história do negro no Brasil, pode-se observar que, mesmo no 
período da escravidão, a raça não era o critério que impedia o acesso aos diversos 
setores de nossa sociedade, visto que na mesma época tinham negros nas 
camadas altas da sociedade, como Machado de Assis. 
Em resumo, a miscigenação no Brasil decorreu de um processo natural 
desde o início da colonização, ao contrário do que ocorreu nos Estados Unidos, 
onde a miscigenação além de ser combatida, houve uma segregação racial 
estimulada pela sociedade e positivada pelo Estado. 
Verificou-se no presente trabalho, que há um consenso na comunidade 
científica quanto à impossibilidade em se classificar os seres humanos em raças, 
ou seja, independentemente da cor da pele ou feições, todos pertencem a mesma 
raça. 
Após, viu-se que as ações afirmativas, surgiram nos Estados Unidos em 
meados da década de 30. Nesse período, tinham a função de promover medidas 
de erradicação da discriminação e promover um tratamento igualitário entre as 
raças. 
Em virtude da severa segregação racial, nas décadas de 60 e 70 surgiram 
os programas de cotas raciais, promovendo uma integração racial permitindo a 
miscigenação. 
 
 
41 
Somente nas décadas de 60 e 70, diante da grande segregação racial que 
havia, sugiram os programas de cotas raciais, onde se permitia uma maior interação 
inter-racial promovendo a miscigenação entre as raças. 
Não se tem dúvidas da existência do racismo no Brasil, contudo, os números 
apresentados mostram uma equidade na ocupação dos cargos públicos, bem como 
no ensino superior por negros. A diferença, além de não ser muito grande, não pode 
ser toda atribuída pela ocorrência da escravidão no país. 
É certo que a população negra vive em uma situação precária, mas isso não 
é exclusividade da raça, essa situação decorre essencialmente da situação 
econômica, que atinge todos, sejam negros, brancos ou pardos, esses então 
inseridos em uma classe econômica menos favorecida não conseguem ascender 
socialmente pela falta de acesso à saúde, alimentação, moradia, educação e 
preparo adequado para o mercado de trabalho. 
Destarte, no que concerne especificamente às cotas raciais, pode se concluir 
que elas são inconstitucionais por afronta ao princípio da igualdade, ao passo que 
o critério eleito para a aplicação da discriminação não condiz com a realidade social 
brasileira, ou seja, o fator principal é o sócio econômico, isso resulta no tratamento 
desigual aos materialmente iguais, além de incentivar a disputa e o ódio racial e 
institucionalizar o racismo em afronta ao disposto nos incisos IV e VIII do artigo 5º 
da Constituição Brasileira. 
Pode observar durante o presente trabalho que no Brasil não houve um 
sistema segregacionista, com a divisão de nossa sociedade em brancos e negros, 
mas, sim em pobres e ricos, de modo que o modelo de ação afirmativa adequado à 
nossa realidade deve levar em consideração tal fator e não a cor da pele como 
pregam as cotas raciais. 
Diante do exposto, conclui-se que as Cotas Raciais são inconstitucionais por 
afronta, sobretudo, ao princípio da isonomia, na medida em que o fator de discrímen 
usado para implementação das cotas raciais não corresponde à nossa realidade 
social. Conclui-se, também, que vivemos numa sociedade com alarmante divisão 
socioeconômica, na qual são latentes a precária situação e dificuldades enfrentadas 
 
 
42 
pelas classes sociais menos favorecidas, figurando as cotas sociais, nas quais se 
leve em consideração a situação socioeconômica dos beneficiários, como ação 
afirmativa adequada a propiciar desenvolvimento e ascensão social dos negros, 
indígenas e demais integrantes das classes sociais menos favorecidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
6. REFERÊNCIAS 
 
 
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