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G a s t r o e n t e r o l o g i aG a s t r o e n t e r o l o g i a Gab r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h oG a b r i e l Ba g a r o l o P e t r o n i l h o ResumoResumo Introdução As pato log ias do t ipo func iona l foram implementadas para definir disfunções que os pacientes referem quando não há evidência qualquer alteração orgânica. A dispepsia funcional é caracterizada como plenitude excessiva que gera incapacidade de finalizar uma refeição completa - sensação de ‘estufamento', associado a dor epigástrica recorrente. Esses sintomas eram motivos para consultas, a quais a investigação de alterações estruturais falhavam em identificar uma explicação orgânica. Os pacientes sem essa explicação eram, então, rotulados com dispepsia funcional - DF. Definição A dispepsia funcional refere-se a um transtorno inexplicável caracterizado por dor epigástrica e/ ou desconforto pós-prandial (plenitude, saciedade precoce). Os principais subgrupos da DF são: síndrome da dor ep igástr ica (EPS) e s índrome de desconforto pós-prandial (PDS). Esse último é o subgrupo prevalente, mas diversas vezes há a sobreposição com EPS e frequentemente coexistem com refluxo gastroesofágico (DRGE) e síndrome do intestino irritável (IBS), gerando padrões complexos de sintomas. Para enquadrar o paciente no conceito da dispepsia funcional é necessário: sintomatologia ocorrendo pelo menos durante 12 semanas, consecutivas ou não, nos últimos 12 meses. Fisiopatologia Diversos estudos tentam buscar a patogênese da dispepsia funcional, porém, muitas dúvidas ainda são prevalentes. Os achados mais recentes demonstram a associação de hipersensibilidade da mucosa duodenal e inflamação duodenal de baixo grau. Fatores de sinalização neuronal alterada e a ativação imune sistêmica, na hipersensibilidade, podem ser os responsáveis - eixo cérebro- intestino. Não podemos descartar a influência de fatores psicossociais. Comorbidades psiquiátricas, como ansiedade e depressão são comuns e podem surgir da disfunção intestinal ou ativação imune, alterando a função gastroduodenal potencialmente levando à geração de sintomas dispépticos. - eixo cérebro - intestino. Alterações motoras são frequentemente encontradas nos pacientes, porém, não se sabe certamente a relação entra elas e os sintomas. Embora uma parte dos pacientes possuam a infecção por H. Pylori, sabe-se que estudos demonstraram que a erradicação da bactéria não possui benefícios suficientes em relação aos sintomas. Fonte: Functional Gastrointestinal Disorders - Rome IV Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Dispepsia Funcional A dispepsia funcional é presente em cerca de 8x mais nos pacientes que possuem ansiedade de base, reforçando a relação de causa-efeito. Frequentemente, a ansiedade pode preceder o distúrbio, na liberação de citocinas ou pode ser também secundária à inflamação intestinal - em casos de diarreias prolongadas. Em relação ao duodeno, a disfunção da barreira é desconhecida, mas os prováveis fatores são ácido duodenal, sais biliares, alimentos, estresse e alteração do microbioma. A disfunção gástr ica pode ser devido mecanismos de Feedback duodenogástrico por meio de sinalização local ou alterações na ativação do sistema imune. Fonte: Wauters L, Talley NJ, Walker MM, et al Novel concepts in the pathophysiology and treatment of functional dyspepsia Gut 2020;69:591-600. Na imagem acima, temos a barreira duodenal saudável e intacta (lado esquerdo) em que há uma separação de células do sistema imunológico do conteúdo luminal duodenal por meio da mucosa intacta e funcional. Ao lado direito, observamos uma disfunção na barreira. Gatilhos laminais de conteúdo duodenal alteração e/ou disbiose causam ativação do sistema imune e alteração neuronal. As setas vermelhas indicam locais da mucosa duodenal prejudicada. As alterações motoras estão presentes em média de 25% dos pacientes, sendo representada pelo esvaziamento gástrico lento. Porém, pode haver também o esvaziamento gástrico rápido e normal. Sendo o normal presente na maioria dos casos. Diagnóstico Pacientes que foram submetidos a investigação clínica, bioquímica, endoscópica, USG ou radiológico e nenhuma doença orgânica detectável são considerados portadores de dispepsia funcional. É um diagnóstico de exclusão. Para esse diagnóstico de exclusão devemos afastar sintomas de alarme: - Emagrecimento - Icterícia - Anemia - Sangramento - Febre - Outros Além disso, devemos afastar: infecção por parasitas (Giárdia, strongyloides), intolerâncias (lactose, frutose), hiperproliferação bacteriana, erosões gástricas, doença celíaca, gastrite autoimune, enxaqueca, alergia alimentares, etc. A enxaqueca pode causar sintomas de mal estar gástrico (náusea, vômitos, distensão abdominal), porém, somente durante o quadro de enxaqueca. Classificação - ROMA IV A dispepsia funcional é dividido em 3 grupos: - Dispepsia funcional tipo úlcera → síndrome da dor epigástrica (EPS); caracter periódico; - Dispepsia funcional tipo dismotilidade → síndrome do desconforto pós prandial (PDS); - Dispepsia funcional tipo inespecífico → o pac iente apresenta s intomas vagos e inespecíficos. Dispepsia Funcional Tipo Úlcera Caracterizada pelo predomínio da síndrome da dor epigástrica (EPS). São pacientes que possui dor abdominal superior, possuindo 3 ou mais sintomas associados. Há um alívio com a alimentação, antiácidos, inibidores de H₂ e IBP. Ocorre antes das refeições ou em jejum prolongado, acorda o paciente durante a noite e tem caracter periódico. Caráter periódico → períodos doloroso de semanas a meses intercalados com remissões de, no mínimo, 2 semanas. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Dispepsia Funcional Tipo Dismotilidade O sintoma predominante é o desconforto abdominal e não a dor - síndrome do desconforto pós prandial (PDS). O paciente possui o desconforto e 3 ou mais sintomas, como saciedade precoce, náuseas e peso epigástrico pós prandial. Pode haver também sensação de gases e desconforto abdominal agravado pela alimentação. Dispepsia Funcional Tipo Inespecífica Os sintomas que o paciente apresenta são vagos e inespecíficos, não se enquadrando em nenhum dos outros subgrupos ou há sobrepoisção. A presença de inchaço epigástrico, arrotos, náusea, perda de peso fazem parte do espectro da dispepsia, porém, a vômitos são sugestivos de diagnóstico alternativo. Avaliação Clínica e Laboratorial Os principais fatores que devem ser avaliados são: - Idade → + 45 anos - Sinais de alarme → ausentes - Facilidade de acesso a investigação - Risco x Benefício do TTO farmacológico - Consequências econômicas do tratamento A anamnese e exame físico é utilizado para identificar em qual subgrupos o paciente se enquadra. Tratamento Deve-se remover os fatores agravantes presentes na rotina do paciente, não esquecendo da questão psicossocial. Portanto, devemos ter uma conversa franca com ele para que seja tranquilizado sobre sua situação, descartando hipóteses de doenças mais graves que ele mesmo poderia ter criado. Uma boa relação médio-paciente é necessária para conduzir o tratamento. Explicamos que é uma síndrome benigna de curso crônico com uma maior sensibilidade digestiva e não uma doença orgânica. Não é recomendado dieta rigorosa - respeitando particularidades de cada paciente, ou seja, intolerâncias. Sobretudo, evitar quantidades exageradas de café e alimentos muito gordurosos podem trazer benefícios. Em casos de saciedade precoce, o fracionamento das refeições é eficaz. O tratamento farmacológico é pouco eficaz, p o r é m , p o d e m o s u t i l i z a r : an t i á c i d o s , antagonistas H₂, IBP e procinéticos, Em pac ientes com DF do t ipo ú lcera , bloqueadores de H₂ e IBP se mostraram superiores no tratamento - sendo prescritos por 1-2 meses. A domperidona10mg, 12/12h é o procinético mais recomendado na DF do tipo dismotilidade. Além disso, em pacientes com ansiedade, a associação com ansiolíticos (bsupriona - ansitec®) e antidepressivo tricíclicos (amitriptilina, fluoxetina) demonstraram eficácias em doses baixas. A amitriptilina apresentou eficácia em pacientes com dor (DF tipo úlcera). A American Gastroenterological Association recomenda a erradicação do H. Pylori em pacientes com teste +, considerando o benefício obtido por um pequeno número de pessoas, mas há discordância nesse quesito. Pacientes com Síndrome de dor epigástrica (EPS) podemos realizar uma supressão ácida para redução dos sintomas por meio de IBP e terapia de H₂, como primeira linha - estudos demonstram eficácia em relação ao placebo. Alguns indivíduos a longo prazo podem apresentar efeitos colaterais ao uso dos IBPs. Então util izamos eles em dose plena e depois substituímos por um procinético. Pacientes com síndrome de desconforto pós prandial (PDS) o tratamento de primeira linha é realizar com procinéticos. Sendo indicado a domperidona. Metoclopramida também pode ser utilizado, porém, apresenta maior toxicidade em relação a domperidona. Além disso, em pacientes com PDS podem ser utilizados drogas que relaxam o fundo gástrico, acelerando o esvaziamento, como a acetamida. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG Terapias psicológicas são de benefícios incertos no tratamento da DF, embora dados positivos tenham sido relatados. A combinação de terapias médicas com terapia psicológica pode fornecer resultados superiores. Estudos espirituais (prece, meditação, atividade religiosa) podem ser utilizadas a favor. Considerações Finais Importantes Os tratamentos para disfunção intestinal e gástr ico , inc lu indo neuromoduladores e procinéticos, possam eficácia limitada e são prejudicados por efeitos colaterais. O uso de antiinflamatório em paciente com DF e eosinofilia duodenal pode ser o causador dos sintomas e do prejuízo da função da barreira duodenal. O direcionamento da inflamação duodenal e do eixo eosinófilo-mastócito com estabilizadores de mastócito e anti-histamínicos requer estudos em populações adultas. A disbiose duodenal na DF pode ser tratada com ATB seletivos, como rifaximina, porém, requer confirmação por mais estudos. Conclusão A dispepsia funcional é um distúrbio comum que afeta 4 em 10 pessoas da população geral que depende de um diagnóstico preciso, incluindo a exclusão de causas orgânicas com sintomas semelhantes. A abordagem para reduzir o estresse e outros fatores desencadeantes é válida. A erradicação do H. pylori ainda é controversa e uma pequena parcela dos pacientes é beneficiado. A supressão de ácido (IBP) é uma terapia de primeira linha e o bloqueador de H₂ pode ser utilizado quando houver efeitos colaterais. O procinético é util na DF do tipo dismotilidade. Por último, a terapia de segunda linha inclui administração de antidepressivos tricíclicos em doses baixas ou outros. Gabriel Bagarolo Petronilho TXVIII- MEDICINA FAG
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