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Sabrina Angheben │Ginecologia e obstetrícia Lesões do colo do útero Lesões do colo do útero - É um termo que se refere a lesões no epitélio escamoso do trato genital, consideradas precursoras de câncer invasivo. - As alterações podem ocorrer no citoplasma e núcleo, variando de displasia leve à grave (sem invasão da membrana basal). - A gravidade da lesão é classificada conforme a proporção de epitélio acometido. HPV - O papiloma vírus humano é transmitido pela via sexual, contato direto e via materno-fetal (gestação, intra e periparto). ● Lesões: - Clínica - Condilomas visíveis, verrucosos hiperpigmentados ou cor da pele. - Localizada intróito vaginal e lábios. - Subclínica - Ocorre 90% das vezes. - Lesões micro ou maculopapulares, visualizáveis apenas após exposição ao ácido acético 5% → lesões acetobrancas, margens irregulares e superfície áspera, puntiforme ou em mosaico. - Assintomática - A maioria dos indivíduos consegue eliminar o vírus naturalmente em cerca de 18 meses, sem que ocorra nenhuma manifestação clínica ● Fisiopatologia: - O ciclo adentra à pele ou mucosas e penetram nas células da camada profunda, que são menos diferenciadas do epitélio escamoso (células basais). - Conforme as células migram para a superfície e se diferenciam, o DNA viral é distribuído para as células-filhas (uma continua na camada basal e outra segue a maturação). - Com a evolução da infecção, é formado o condiloma acuminado (grego - kondilus: tumor redondo; latim - acuminare: tornar pontudo), também chamado de crista de galo e verruga venérea. - Quando o HPV infecta as células, pode interagir com o genoma da célula basal (imatura), impossibilitando sua diferenciação e maturação. - A persistência da infecção (10 a 20 anos) permite a ocorrência de mutações adicionais e progressão da lesão de baixo/moderado/alto grau para câncer. Câncer de colo de útero ● Epidemiologia: - É o segundo câncer mais comum em mulheres. - Desconsiderando o câncer de pele não melanoma, é o terceiro tipo de tumor maligno mais frequente na população feminina (mama e colorretal). - É a quarta causa de morte de mulheres por câncer. ● Etiologia: - É causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papilomavírus Humano - HPV (chamados de tipos oncogênicos). - Os tipos 16, 18 (70%), 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73 e 82 são considerados de alto risco oncogênico. - A infecção pelo HPV é necessária, porém não suficiente para o desenvolvimento da neoplasia de colo uterino, ● Fisiopatologia: - A infecção pelo HPV se inicia nas células basais ou parabasais, e em caso de persistência, há integração do genoma viral ao da célula do hospedeiro. - Há um interrompimento do processo de maturação do epitélio escamoso, pela ação das oncoproteínas E6 e E7. - Esse processo pode levar ao aparecimento de um epitélio atípico, levando às lesões intraepiteliais cervicais. - Caso o evento não seja interrompido, a lesão evolui e rompe a camada basal, tornando-se uma doença invasora. - Duas principais categorias de carcinoma invasores do colo do útero - Epidermóide (ep escamoso) - Adenocarcinoma (ep glandular) Sabrina Angheben │Ginecologia e obstetrícia Lesões do colo do útero ● Etapas sequenciais da neoplasia epitelial: ○ Carcinoma in situ → neoplasia confinada à membrana basal. ○ Carcinoma microinvasor → neoplasia maligna que ultrapassa a membrana basal, alcançando o tecido conjuntivo (<=5 mm). ○ Carcinoma invasor → invade os tecidos adjacentes. ● Fatores de risco: - Exposição ao HPV, especialmente ao 16 e 18. Início da atividade sexual precoce (<16 anos), pela maior chance de infecção e tempo para progressão. - Multiparidade: quanto mais filhos, maior a propensão. - Múltiplos parceiros. - Fatores socioeconômicos, educacionais e culturais. - Menor cuidado em relação ao contágio - Ausência de acompanhamento médico - Substância cancerígena do esmegma e sêmen (histona e porfirina). - Pólipos cervicais. - Fatores genéticos. - Imunossupressão. ● Quadro clínico: - Pode ser assintomático. - Paciente pode referir secreção vaginal amarelada, fétida e até sanguinolenta. - Ciclos menstruais irregulares. - Spotting intermenstrual (sangramento de escape). - Sangramento pós-coital. - Dor suprapúbica. - Estágios mais avançados: - Dor suprapúbica mais evidente. - Anemia pela sangramento. - Dor lombar pelo comprometimento ureteral. - Alterações do hábito intestinal pela invasão retal. ● Metástase: - A disseminação ocorre por extensão direta e linfática, principalmente (linfonodos pélvicos → para-aórticos). ● Estadiamento: ● Tratamento Citopatológico - Também denominado papanicolaou, colpocitologia oncótica ou preventivo. - É o exame para avaliação das células e suas alterações morfológicas, em caso de patologia. Sabrina Angheben │Ginecologia e obstetrícia Lesões do colo do útero ● Rastreio geral: - Rastreamento se inicia aos 25 anos para mulheres que já realizaram atividade sexual. - Os dois primeiros exames devem ser realizados de forma anual e, caso ambos sejam negativos, realizar a cada 3 anos. - Os exames devem ser realizados até os 64 anos nas mulhere sem doença neoplásica prévia, com dois últimos exames negativos - Para mulheres com mais 64 anos de idade e que nunca se submeteram ao exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. - Se ambos os exames forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais. - Mulheres sem história de atividade sexual não devem ser submetidas ao rastreamento do câncer do colo do útero. ● Rastreio em imunossuprimidas: - Iniciar após o início da atividade sexual com intervalos semestrais no primeiro ano. - Caso ambos sejam normais, realizar seguimento anual enquanto houver a imunossupressão. - Se HIV+ com CD4+ <200 células mm³ deve-se realizar semestral até a correlação dos níveis. ● Rastreio em gestantes: - Deve-se seguir as recomendações de periodicidade da faixa etária. ● Rastreio em caso de histerectomia: - Histerectomia total por lesão benigna, sem história prévia de lesão de alto grau → excluir do rastreio. - Histerectomia por lesão precursora ou câncer de colo → acompanhar conforme a lesão. ● Nomenclatura citopatológica e histopatológica utilizada desde o início do uso do exame citopatológico para o diagnóstico das lesões cervicais e suas equivalências: ● Recomendação de conduta conforme alteração do exame citopatológico: ALTERAÇÕES CITOPATOLOGIA ● ASC: células escamosas atípicas de significado indeterminado - Representa uma resposta exacerbada a uma inflamação ou amostra não representativa da lesão ● ASC-US: - Células escamosas atípicas de significado indeterminado possivelmente não neoplásicas - É responsável por 90% dos casos de ASC - Aumento nuclear - Alteração do formato do núcleo - Binucleação, com hipercromatismo discreto e com irregularidade ● ASC-H: - Células escamosas atípicas de significado indeterminado quando não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau. Sabrina Angheben │Ginecologia e obstetrícia Lesões do colo do útero - Refere-se a células escamosas atípicas, cujo achado não permite a exclusão de lesão de alto grau. - Atipias de leve a moderada. - Elevado risco de lesão de alto grau. ● Células glandulares atípicas - Células glandulares atípicas de significado indeterminado, possivelmente não neoplásicas ou; - Células glandulares atípicas de significado indeterminado quando não se pode excluir lesão intraepitelial de alto grau. ● LSIL ou NIC I: - Lesão Intraepitelial escamosa de baixo grau - Essas alterações ocorrem em células epiteliais maduras (superficiais e intermediárias) ● HSIL ou NIC II/III: - Lesão intraepitelial de alto grau - As alterações ocorrem em células epiteliais imaturas, tais como as parabasais, basais e as metaplásicas - A “fila indiana” pode ocorrer no carcinoma in situ. ● Carcinoma invasor de células escamosas: - É uma neoplasiamaligna que atinge a membrana basal, estroma e tem capacidade metastática - É o segundo tipo de câncer mais comum entre mulheres - Carcinoma queratinizante, Carcinoma não queratinizante e Carcinoma de pequenas células Condutas ● ASC-US - >= 30 anos - Repetir em 6 meses - 25-29 anos - Repetir em 1 ano - <25 anos - Repetir em 3 anos - HIV + imunossuprimidas: - Colposcopia - Gestantes: - De acordo com a idade - Pós-menopausa ou com atrofia disgnosticada - Preparo com estrogênio antes de nova citologia - Resultado anormal: - Biópsia - Resultado normal: - Repetir em 6 meses, ou em 12 se <30 anos. ● ASC-H - Colposcopia - <=24 anos: - Normal → repetir em 1 ano - Se normal, seguir normalmente - Anormal → biópsia ● Células glandulares atípicas - Colposcopia - Anormal → biópsia - Normal: acompanhar anualmente até 4 exames consecutivos normais e retornar à periodicidade normal. ● LSIL (2ª mais comum) - >=25 anos - Repetir em 6 meses. - Positivo: colposcopia. - Negativo: repetir semestral até dois negativos consecutivos e retornar ao rastreio normal. - >25 anos. - Citopatológico em 3 anos ou ao completar 25. ● HSIL - Colposcopia. - Normal: realizar novo citopatológico. - Anormal: biópsia. Sabrina Angheben │Ginecologia e obstetrícia Lesões do colo do útero ● Adenocarcinoma invasor: Colposcopia É o teste para avaliar o nível da lesão e a extensão das células neoplásicas quanto às camadas histológicas do colo uterino. O iodo apresenta afinidade pelo glicogênio presente nas células do epitélio cervical normal. Contudo, como as células repletas de glicogênio são gradativamente substituídas pelas células parabasais, o iodo não consegue reagir com o glicogênio. Os locais que não se coram com iodo refletem, portanto, a ausência de células do tecido normal. Neste teste, aplica-se lugol com iodo em cortes histológicos do colo uterino e, se positivo para as lesões neoplásicas, não se observa coloração (Schiller Positivo). - Ácido acético: marca local onde está tendo muita atividade proteica (mitose) → acetobranca. - Joga lugol: cora as células normais, pela produção de glicogênio (iodo) - Células cancerígenas não marcam - Primeiro deve jogar ácido acético e depois jogar lugol. Schiller Positivo Não ocorre coloração, indicando células provavelmente cancerígenas Schiller Negativo Ocorre coloração, indicando células normais pela produção de glicogênio Biópsia - Utilizado para avaliação histológica. - É dirigido conforme a colposcopia, sendo coletado material nos locais com Schiller Positivo (descorados). - Os 4 quadrantes devem ser biopsiados. - Classificação: - NIC 1, quando as anormalidades nucleares estão confinadas ao terço inferior do epitélio; - NIC 2, quando existe o comprometimento de dois terços epiteliais; e - NIC 3, se as três camadas do epitélio mostrarem indiferenciação - Doença invasora Referências https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/d ocument/diretrizesparaorastreamentodocancerdocolodouter o_2016_corrigido.pdf
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