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CASO CONCRETO: CESP/Unb - Exame da OAB 2009.2 - PROVA PRÁTICO - PROFISSIONAL - ÁREA: DIREITO CONSITUTCIONAL. João, nascido e domiciliado em Florianópolis - SC, indignou-se ao saber, em abril de2009, por meio da imprensa, que o senador que merecera seu voto nas últimas eleições havia determi- nado a reforma total de seu gabinete, orçada em mais de R$ 1.000.000,00, a qual seria custe- ada pelo Senado Federal. A referida reforma incluía aquecimento e resfriamento com controle individualizado para o ambiente e instalação de ambiente físico para projeção de filmes em DVD, melhorias que João considera suntuosas, incompatíveis com a realidade brasileira. O se- nador declarara, em entrevistas, que os gastos com a reforma seriam necessários para a manu- tenção da representação adequada ao cargo que exerce. Tendo tomado conhecimento de que o processo de licitação já se encerrara e que a obra não havia sido iniciada, João, temendo que nenhum ente público tomasse qualquer atitude para impedir o início da referida reforma, diri- giu-se a uma delegacia de polícia civil, onde foi orientado a que procurasse a Polícia Federal. Supondo tratar-se de um "jogo de empurra-empurra", João preferiu procurar ajuda de profissi- onal da advocacia para aconselhar-se a respeito da providência legal que poderia ser tomada no caso. Em face dessa situação hipotética, na qualidade de advogado(a) constituído(a) por João, redija a medida judicial mais apropriada para impedir que a reforma do gabinete do refe- rido senador da República onere os cofres públicos. EXCELENTÍSSIM O SENHOR DOUTOR JUIZ DA VARA FEDERAL DE FLORIANÓPOLIS DA SEÇÃO JU- DICI ÁRIA DE SANTA CATARINA JOÃO (sobrenome), brasileiro, (estado civil), ( profissão ), portador da cédula de identidade n° (num ero), inscrito no CPF/MF n° (num ero), residente e domiciliado (end. Completo), nesta cidade, por s eu advogado infra - assinado, conforme procuração anexa, com escritório à rua (end. Completo ), endereço para onde devem ser remetidas notificações e intimações con- forme estabelece o art. 39, I, do C PC, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro nos termos do art. 5º, LXXIII, da CRFB/ 88 e da Lei n. 4.7 17/65 , ajuizar a presente: AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR Em face de ato praticado pelo senhor SENADOR DA REPÚBLICA , com domicílio profissional no prédio do Senado Federal, na esplanada dos Ministérios, em Brasília, com base nas razões de fato e de direito a seguir expostas : DOS FATOS João, nascido e domiciliado em Florianópolis – SC, indignou -se ao saber, em abril de 2009, por meio da imprensa, que o senador que merecera seu voto nas últimas eleições havia deter- minado a reforma total de seu gabinete, orçada em m ais de R$ 1.000.000,00, a qual ser ia cus- teada pelo Se nado Federal. A referida reforma incluía aquecimento e resfriamento com controle individualizado para o ambiente e instalação de ambiente físico para projeção de filmes em DVD, melhorias que João considera suntuosas, incompatíveis com a realidade brasileira. O senador declarara, em entrevistas, que os gastos com a reforma seriam necessários para a manutenção da representação adequada ao cargo que exerce. Tendo tomado conhecimento de que o processo de licitação já se encerrara e que a obra não havia sido iniciada, João, tem endo que nenhum ente público tom asse qualquer atitude para impedir o início da referida reforma, dirigiu-se a uma delegacia de polícia civil, onde f oi orientado a que procurasse a Polícia Federal. DO DIREITO A ação popular é a ação constitucional de natureza civil, conferida ato dos os cidadãos para a impugnação e a anulação dos atos administrativos comissivos e omissivos que sejam lesivos ao patrimônio público em geral , à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patri- mônio histórico e cultural, com a imediata condenação dos administradores, dos agentes ad- ministrativos e, também, dos beneficiados pelos atos lesivos ao ressarcimento dos cofres pú- blicos, em prol da pessoa jurídica lesada, conforme estabelece o art. 5º, LXXIII, da CRFB/88, onde se lê: ‘’Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Esta do participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada m á- fé, isento de custas judiciais e do ônus d a sucumbência.’’ Assim, para ser legitimado ativo da ação popular segundo o m andamento constitucional do art. 5º, LXXIII, combinado com o art. 1º da Le i n. 4.717/65, é necessário ser cidadão na forma do art. 12 da CRFB/88, desde que em pleno gozo dos seus direitos políticos, o que o impe- trante comprova juntando Título de Eleitor e a certidão de regularidade da Justiça Eleitoral, anexos na inicial. A exigência de ser cidadão também está expressam ente prevista n o art. 1º da Lei n. 4.717/6 5, abaixo transcrito: Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de en- tidades autárquicas, de sociedades de economia mista, de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais au- tônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro público haja con- corrido ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municí- pios , e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas p elos cofres públicos. Além disso, para a propositura da Ação Popular, há ainda os requisitos legais previstos no art. 2º da Lei n. 4. 717/65, onde se lê: ‘’Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas n o artigo ante- rior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. ’ Cumpre destacar que houve lesão ao patrimônio público, pois foi utilizado dinheiro do Se- nado Federal para beneficiar um agente político em suas pretensões pessoais, em termos de melhorias do seu próprio gabinete, o que de forma expressa é vedado pela Constituição, nos termos do art. 37, caput, já que a administração pública direta e indireta de qualquer dos Po- deres da União, dos Esta dos, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá a os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Havendo, portanto, expressa violação ao princípio da m oralidade, uma vez que o dinheiro pú- blico e a máquina pública foram gastos para atender fins pessoais. Também pode ser aplicado ao caso em tela o disposto no art. 4º , I, da Lei n. 4.717/65, que estabelece que sejam também nulos os atos ou contratos, praticados ou celebrados por quais quer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º da Lei n. 4.7 17/65, com o por exemplo, a admissão ao serviço público remunerado, com desobediência, quanto às condições de habili- tação, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruções gerais. Destaque- se que, em regra, a competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até m esmo do Senado Federal, é, via de regra, do juízo competente de primeiro grau. S endo para tanto competente o Juiz Federal, e, no caso, no domicílio do autor. Diante de todo o exposto e da gravidade dos fatos, a presente ação deve ser julgada proce- dente. DA MEDID A LIM INAR Conforme estabelece o art. 5º, § 4º, da Lei n. 4. 717/65, na defesa do patrimônio público ca- berá à suspensão liminar do ato lesivo impugnado. Observa- se que, no caso em tela, a situa-ção atenta contra a moralidade administrativa, princípio expresso no caput do art. 37 da Cons- tituição Federal, o que demonstra inequivocamente o fumus boniiuris. Já o periculum in mora faz-se presente, visto que o processo licitatório já se encerrou. Em bora as obras ainda não tenham se iniciado, necessário se faz evitar que os gastos sejam efetuados, tendo em vista a enorme dificuldade de reembolso ou ressarcimento futuro do Erário por parte do Político. Assim, presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, é cabível e neces- sária à concessão da liminar. DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer: a) conceda a medida liminar para suspender imediatamente o contrato de reforma do gabi- nete do senador, bem como a sustação de qualquer ato que digne a pagar tais despesas com recursos públicos. b) cite o impetrado, por precatória, para que responda à presente ação n o prazo legal ; c) intime o representante do Ministério Público Federal para intervir n o feito até o final, nos termos do art. 7º, I, a, da Lei n. 4.717/65; d) ao final julgue procedente o pedido, confirme a liminar e determine a anulação do contrato firmado para reforma do gabinete do senador, com base nos arts.3º e 4º da Lei n. 4.717/65. Pretende-se produzir todos os meios de prova em direito admitidos, principalmente a prova documental, prova testemunhal e pericial. Dá-se à causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ ... (valor em reais) (valor por extenso). Nesses termos, Pede deferimento. Local e data ... Advogado OAB ...
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