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Resenha - A mídia pode desempenhar um papel crítico onde a justiça deve ser feita No texto “A mídia pode desempenhar um papel crítico onde a justiça deve ser feita”, a entrevistada Shakuntala Rao fala sobre a glocalização da prática jornalística e a importância desse conceito em questões éticas e morais. Segundo a pesquisadora, isso seria usado para problematizar as questões locais com uma “ética global de dignidade humana”, mas buscando uma visão regional. Ou seja, compreender as relações sociais, culturais, religiosas e o que mais puder se relacionar com o problema naquele ambiente específico. Ela cita a questão dos feticídios femininos na índia e a importância de reportar os casos “não como um crime cometido por uma única mulher, ou mesmo um casal”, mas como o conjunto de relações e hierarquias sociais que criam condições para que isso aconteça. Nelson Lourenço explica que as teorias da globalização tendem a minimizar a importância da localidade, utilizando o paradigma da compressão do tempo-espaço e, portanto, conduzindo à “generalização da ideia de um imparável processo de homogeneização cultural à escala global”. Desta forma, a globalização excluiria as barreiras e especificidades regionais, criando uma cultura única e universal. Por isso, acreditando que essa é uma definição superficial e insuficiente, Robertson sugere o termo “glocalização”, para se referir ao “processo em que o local e o global se entrosam para constituir o que designa por glocal”. Compreende-se, então, que a cultura de um povo, no momento atual, é formada por ideias globais, mas também pela herança histórica e pelas construções sociais específicas do local. Ocorre, portanto, a “globalização do local e a localização do global”. Shakuntala Rao também comenta sobre o cenário da imprensa na Índia, destacando que a liberdade na prática jornalística é muito baixa e os níveis de corrupção na mídia, muito altos. A ética jornalística também é criticada, principalmente fazendo relação com seu artigo “Covering rape in shame culture”, onde a pesquisadora expõe o fato de que as coberturas televisivas na Índia só apresentam o estupro como um problema quando ele acontece com mulheres de castas nas classes alta e média. Ela ressalta que “há uma crise real na sociedade indiana, e que vem crescendo a um ritmo mais rápido do que antes, com uma desigualdade de renda entre os ricos e os pobres, entre os urbanos e os rurais. A mídia, por outro lado, parou de cobrir, em sua maior parte, as vidas dos pobres”. A professora entrevistada também aborda os conceitos de justiça baseados nas ideias de niti e nyaya. Enquanto niti “se refere aos procedimentos corretos, às regras formais e às instituições”, nyaya seria “não apenas uma questão de julgar instituições e regras, mas de julgar as próprias sociedades”, com base na lógica e racionalidade. Para os adeptos dessa ideologia, o papel do jornalismo democrático é “garantir a transparência do processo de raciocínio” quando a justiça é feita, de modo que o apoio popular, que facilita a implementação de um julgamento, seja conferido pela população sem a interferência de falhas sistêmicas e compreensões equivocadas. Os jornalistas fundamentados em nyaya, então, devem buscar a representação dos problemas de forma aprofundada, trazendo à tona as raízes dessas questões. No caso estudado por Shakuntala, por exemplo, “buscar entender a própria natureza da desvantagem feminina na Índia”. Essa teoria indígena da ética seria, portanto, uma forma de realmente causar impacto social através do jornalismo, indo além do mero noticiar e apresentando à sociedade os conflitos e questões que resultam no cenário atual, para que haja uma compreensão e um julgamento mais crítico e realista por parte da população.
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