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Intoxicação por agrotóxicos

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GABRIELA BORGMANN
GABRIELA MUELLER
KATHERINE PLAUTZ
MICHEL ZIMATH
INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS NO CULTIVO DA BANANA
JARAGUÁ DO SUL - SC
MAIO 2019
1. INTRODUÇÃO
Os profissionais de saúde enfrentam no Brasil dificuldade para diagnosticar, registrar
e encaminhar pacientes com intoxicação por agrotóxicos. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) reconhece que, para cada caso registrado de intoxicação pelos agrotóxicos, há 50 não
notificados (LONDRES, 2011).
O Brasil possui uma extensão ampla e forte agricultura. Em todo o território nacional
são comercializados inúmeras variedades diferentes de grãos, hortaliças, verduras, frutas,
entre outros. Por esse motivo, o número e diversidade de agrotóxicos utilizados no país é
amplo. Segundo o Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o ano de 2014 registrou a maior quantidade
de agrotóxicos comercializados no Brasil desde o início da série histórica.
Entre 2007 e 2014, esse quantitativo passou de, aproximadamente, 643.057.017 quilos
para 1.552.998.056 quilos (equivalente a 141,5% de aumento) e a área plantada (considerada
a soma da lavoura temporária e da lavoura permanente) aumentou de 62.338.730 hectares
para 76.246.588 hectares, segundo dados do Sistema de Recuperação Automática (SIDRA)
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os anos de 2007 e 2015,
foram notificados 84.206 casos de intoxicação por agrotóxicos no Sistema de Informação de
Agravos de Notificação (Sinan), sendo que em 2014 foi identificada a maior incidência de
casos, de 6,26 por 100 mil habitantes.
Análises feitas pela Anvisa demonstram que diversos produtos de grande importância
na alimentação dos brasileiros têm apresentado resíduos de agrotóxicos acima dos limites
permitidos e também de agrotóxicos proibidos. Alguns fatores como a venda de agrotóxicos
sem receituário agronômico e o desrespeito ao período de carência – intervalo de tempo
exigido entre a última aplicação e a comercialização do produto – são agravantes (ANVISA,
2016).
Em Santa Catarina, principalmente na micro-região de Corupá, a agricultura é
familiar e o principal produto comercializado é a Banana e em consequência, os principais
agrotóxicos utilizados estão relacionados com o cuidado e cultivo desta fruta. A Sigatoka é
uma doença da bananeira responsável por reduzir a produtividade dos produtos. O subtipo
Sigatoka-negra, causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, ataca bananais de diferentes
linhagens, como ‘Prata’, ‘Maçã’, ‘D’Angola’, entre outros (GHINI et. al, 2007). A
Sigatoka-amarela, por sua vez, é causada pela espécie M. musicola, e de acordo com Peruch e
colaboradores (2015) “ainda é a principal doença da cultura da bananeira no estado de Santa
Catarina”.
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a doença é
atualmente a mais grave e temida no mundo, e está presente nos estados do Acre, Rondônia,
Pará, Roraima, Amapá, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Minas Gerais. A incidência da Sigatoka-negra é influenciada por fatores ambientais, sendo
mais comum em regiões de umidade e temperatura elevadas (CORDEIRO, MATOS,
MEISSNER [20--?]).
O estado catarinense, junto de São Paulo, Paraná e Rio Grande do sul, é considerado
um dos “celeiros agrícolas do país”. Dessa forma, o número de casos de intoxicação nesses
estados é proporcionalmente alto se comparado com outras regiões do país. Dados do Sistema
Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) mostram que, entre os anos de
1990 e 2009, foram notificados em Santa Catarina 4.681 casos de intoxicação, e 107 mortes
notificadas. Isso aponta para a importância da proteção por meio de equipamentos de
proteção individual (BOMBARDI, 2011).
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Conscientizar os bananicultores sobre a importância do cuidado com o uso de agrotóxicos o
uso adequado de EPI’s.
2.2 Objetivos específicos
Determinar os principais agrotóxicos utilizados no cultivo de banana e seus princípios ativos;
Identificar as doenças causadas pela intoxicação por agrotóxicos no cultivo de banana;
Relacionar os EPI’s de uso indispensável por agricultores.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Agrotóxicos
Segundo o dicionário Aurélio (2019), são chamados de agrotóxicos as substâncias
químicas ou biológicas utilizadas no controle de organismos considerados pragas, sejam esses
animais, vegetais, fungos ou bactérias; substâncias estas que podem ser empregadas em
indústrias como na agricultura, pecuária, veterinária, saúde humana ou campanhas sanitárias.
Até a década de 1970, os agrotóxicos eram chamados de “defensivos” pela indústria e
por seus utilizadores (FRANCO e PELAEZ, 2016) . Em 1989, a Lei de Agrotóxicos (Lei nº
7802/89) passou a utilizar a palavra “agrotóxicos” (FRANCO e PELAEZ, 2016), e
definiu-os da seguinte forma:
“Agrotóxicos são os produtos e os componentes de processos físicos, químicos
ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e
beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas
nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes
urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da
flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos
considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como
desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento.”
(BRASIL, 1989).
A aplicação de agrotóxicos na agricultura é feita com o objetivo de destruir possíveis
pragas de plantações, evitando que elas prejudiquem as colheitas e, consequentemente, os
lucros econômicos. Além disso, estes praguicidas também agem no sentido de controlar a
transmissão de doenças humanas, por meio da eliminação de vetores (KLAASSEN,
WATKINS, 2012).
Apesar dos benefícios gerados pelo uso de agrotóxicos, eles podem agir de forma
maléfica sobre o ser humano e o meio ambiente, por meio de intoxicações agudas e/ou
crônicas, problemas reprodutivos e danos ambientais. O agricultor, portanto, trabalha sob
riscos ocupacionais que devem ser discutidos e evitados (FARIA, FASSA, FACCHINI,
2006).
Rachel Carson (1962), relata casos reais de destruição da biodiversidade nos EUA
por agrotóxicos, nas décadas de 1940 e 1950. Estes danos foram causados, em grande parte,
pela ausência de cuidados durante a pulverização de pesticidas. Além de atingir as
plantações, também alcançavam margens de estradas e áreas não agrícolas. Outro fator
contribuinte para o extermínio da biodiversidade naquela época foi o uso de agrotóxicos que
atualmente são proibidos em muitos países, por apresentarem riscos elevados ao meio
ambiente e ao ser humano (CARVALHO, NODARI, ONOFRE, 2017)
Nas décadas de 1950 a 1980, Santa Catarina passou por um período denominado a
“era de ouro” dos agrotóxicos. Havia a concepção de que a população poderia erradicar as
pragas por meio da aplicação de pesticidas. Entretanto, os efeitos maléficos dessas
substâncias ainda eram desconhecidos, expondo os agricultores a complicações que só seriam
percebidas anos depois - quando a intoxicação já havia sido feita (CARVALHO, NODARI,
ONOFRE, 2017).
Relatórios da Associação de Crédito e Assistência Rural do Estado de Santa
Catarina (Acaresc), órgão oficial que existiu até o ano de 1991 no estado, revelam fotografias
onde pode-se perceber a ausência de cuidados na utilização dos agrotóxicos: não usava-se
nenhum equipamento de proteção contra produtos químicos, permitindo o contato dos
profissionais por vias respiratória e cutânea (CARVALHO, NODARI, ONOFRE, 2017).
O desconhecimento a respeito dos agrotóxicos não existia somente no grupo de
agricultores. Em uma entrevista realizada por Carvalho, Nodari, Onofre (2017) com um
engenheiro agrônomo aposentado da Epagri (órgão que surgiu após a extinção da Acaresc), o
profissional relata sua experiência pessoal com os agrotóxicos emuma época onde não havia
proteção contra eles:
“Agora, não adianta ser técnico, agrônomo ou agricultor e abusar como eu, que era
ignorante no assunto. Depois que eu me intoxiquei é que passei a me interessar um
pouco mais. Claro, pois passei por uma situação difícil. Perdi todos os movimentos:
não caminhava, não mastigava, não conseguia me mexer, não escrevia, não falava.
Quando eu descobri, corri para o médico da Epagri, o Vani, e expliquei para ele.
Então ele deu uma recomendação para uma colega dele que era neurologista, e eu fiz
a primeira consulta com ela. E eu disse para ela: ‘Eu mexo com essa porcaria há
tantos anos e não tinha conhecimento disso’ (...)” Elmo Piazza Branco, engenheiro
agrônomo aposentado da Epagri (CARVALHO, NODARI, ONOFRE, 2017).
Nas últimas décadas, muitos agrotóxicos foram proibidos, e novas substâncias foram
desenvolvidas. A Lei de Agrotóxicos (1989) obteve avanços na proteção humana e ao meio
ambiente, pois estabeleceu um controle rigoroso de agrotóxicos, e ampliou a fiscalização para
outros produtos químicos, como aqueles utilizados em pastagens, florestas, ambientes
hídricos, industriais e urbanos. O controle de produtos tóxicos passou a ser dividido entre os
órgãos federais de saúde, meio ambiente e agricultura, de forma que o Ministério da
Saúde/Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) passou a avaliar os riscos
toxicológicos à saúde humana (DA ROCHA FRANCO, PELAEZ, 2016).
“Conforme definido na legislação (Lei 7802/89), os agrotóxicos e
afins são os produtos e agentes de processos físicos, químicos ou
biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no
armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas
pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de
outros ecossistemas cuja finalidade seja alterar a composição da
flora ou fauna, a fim de preservá-las da ação de seres vivos
considerados nocivos (SILVA JUNIOR, MAJELLA, LOPEZ E
FERRAZ, 2010).”
A partir de 2005, entretanto, o Brasil tem enfrentado um retrocesso com a rigidez aos
agrotóxicos. Da Rocha Franco e Pelaez (2016), identificaram mais de 35 projetos de lei com
o objetivo de alterar a Lei de Agrotóxicos. Algumas propostas buscavam reduzir as pesquisas
exigidas para o registro de um produto químico, acelerando o tempo de disponibilização do
produto em mercado (DA ROCHA FRANCO, PELAEZ, 2016).
A intoxicação por agrotóxicos, seja de forma direta por trabalhadores rurais ou
indireta por suas famílias e consumidores, é considerada por Almeida e colaboradores (2017)
um problema de saúde pública, cuja porcentagem de vítimas pode aumentar se não houver
consciência dos agravos causados por essas substâncias químicas (ALMEIDA et. al, 2017).
Os EPIs que devem ser utilizados na aplicação de agrotóxicos são, o macacão de
algodão hidrorepelente com mangas compridas, chapéu impermeável de abas largas, avental
impermeável, protetores ou viseira facial, máscara descartável cobrindo o nariz e a boca,
luvas e botas de borracha. O uso dos EPIs deve ser recomendado no receituário agronômico e
bula dos produtos.(SILVA JUNIOR, MAJELLA, LOPES E FERRAZ, 2010)
Devem ser utilizados em boas condições e de acordo com a recomendação do
fabricante e do produto a ser utilizado, também devem possuir Certificado de Aprovação do
Ministério do Trabalho. Os filtros das máscaras e respiradores são específicos para
defensivos e têm data de validade, as luvas recomendadas devem ser resistentes aos solventes
dos produtos. O trabalhador deve seguir as instruções de uso de respiradores, a lavagem deve
ser feita usando luvas e separada das roupas da família. Todos os EPI’s devem ser mantidos
em locais limpos, secos, seguros e longe de produtos químicos. (SILVA JUNIOR,
MAJELLA, LOPES E FERRAZ, 2010)
3.2 Classificação dos agrotóxicos
O Plano de Vigilância e Atenção à Saúde de Populações Expostas aos Agrotóxicos
do Estado do Paraná (PEVASPEA), classifica os agrotóxicos quanto à sua finalidade ou
organismo alvo, quanto ao grupo químico a que pertencem e em relação à sua toxicidade
(PEVASPEA, 2019).
De acordo com o PEVASPEA, os agrotóxicos classificados quanto à
finalidade/organismo alvo são: inseticidas, que agem em insetos; fungicidas, utilizados para
combater fungos; herbicidas, que controlam o crescimento de plantas consideradas daninhas
ou invasoras (em especial na agropecuária); desfolhantes, que em contato com as plantas
induzem à queda prematura das folhas; fumigantes, que promovem ação sobre a fauna e flora
por meio de gases; rodenticidas/raticidas, empregados para matar roedores; moluscicidas, que
atuam em moluscos terrestres ou aquáticos; nematicidas, que operam em nematóides;
acaricidas, que intervém em ácaros; e algicidas, utilizados no controle de algas. Alguns
agrotóxicos, como os inseticidas e moluscicidas, ainda são subdivididos quanto à fase
evolutiva do alvo: ovicida, larvicida e adulticida (PEVASPEA, 2019).
Quanto ao grupo químico a que pertencem os agrotóxicos, têm-se:
- Organofosforados: derivados dos ácidos fosfórico, tiofosfórico e ditiofosfórico.
Geralmente são usados como inseticidas e acaricidas agrícolas como: inseticidas à
base de Malation®, Clorpirifós®, Temefós®, Acefato®, Fenitrotion®, Paration®,
Metamidofós®.
- Carbamatos: provenientes do ácido carbâmico. Mais comumente utilizados na área
doméstica, como os inseticidas Carbofuram® e Aldicarbe®.
- Piretróides: resultantes dos sintéticos das piretrinas naturais encontradas em extratos
vegetais, como os extraídos das flores de Chrysanthemum cinerariaefolium. São
exemplos os inseticidas como a Deltrametrina®, Cipermetrina®, Lambdacialotrina®
e Permetrina®.
- Glicina substituída (N-(fosfonometil) glicina): desenvolvida com a finalidade de
herbicida não seletivo, sistêmico, pós emergente, utilizado comumente em agricultura
e em ambientes domésticos. Possui como seu princípio ativo o glifosato.
- Bipiridilos: utilizados como herbicidas, são compostos que atuam por meio da
formação de radicais livres com o oxigênio. Como exemplo, há o Paraquate® e o
Diquate®.
- Ditiocarbamatos (DTC’s): pertencem a um grupo de agrotóxicos organossulfurados de
ação fungicida, tais como Mancozeb®.
- Dinitrofenóis: realizam um déficit energético desacoplando as ligações do ATP.
Alguns exemplos são os herbicidas 2,4-D e 2,5-T.
- Organoclorados: hidrocarbonetos que apresentam em sua estrutura um ou mais anéis
aromáticos ou cíclicos saturados, seus exemplos são o diclorodifeniltricloroetano
(DDT), hexaclorobenzeno (BHC), Aldrin® e Dieldrin®.
- Organomercuriais: agrotóxicos a base de mercúrio (Hg), seu uso mais comum é para o
combate a fungos, e um exemplo é o acetato de fenilmercúrio.
A classificação de acordo com a toxicidade, por sua vez, é uma das mais
importantes, pois classifica os agrotóxicos de acordo com seus efeitos agudos no organismo
(PEVASPEA, 2019). Nesse aspecto, a divisão dos compostos químicos em classes de
toxicidade (Tabela 1) é baseada nos valores de dose média letal (DL50). Esses valores são
utilizados para estabelecer as medidas de segurança necessárias para cada classe
(BARRIGOSI, [20--?]).
Classe toxicológica Classificação
Classe I
Extremamente tóxico: as formulações
sólidas que apresentam DL50 oral, para ratos,
igual ou inferior a 5 mg/kg;
Classe II
Altamente tóxico: as formulações sólidas
que apresentam DL50 oral, para ratos,
superiores a 5 mg/kg e até 50 mg/kg,
inclusive;
Classe III
Medianamente tóxico: as formulações
sólidas que apresentam DL50 oral, para ratos,
superior a 50 mg/kg e até 500 mg/kg,
inclusive;
Classe IV
Pouco tóxico: as formulações sólidas que
apresentam DL50 oral, para ratos, superior a
500 mg/kg, inclusive;
Tabela 1: Classes toxicológicas dos agrotóxicos com base na DL50 (BARRIGOSI, [20--?]).
3.3 Ação no organismo
As intoxicações por agrotóxicos acontecem devido à exposição a um ou mais
agentes tóxicos. Essa exposição pode ser intencional (em caso de tentativa de suicídio);
ocupacional, quando o indivíduo é expostodurante seu período de trabalho ou ainda acidental
(KLAASSEN e WATKINS, 2012).
As diferentes vias de exposição aos agrotóxicos podem levar a efeitos distintos no
organismo. De acordo com Klaassen e Watkins (2012), são elas:
Dérmica/cutânea Via de exposição mais frequente, pode
causar efeito local ou sistêmico
Inalatória Comum na absorção de gases, aerossóis e
vapores, acomete vias aéreas e compromete
o aparelho respiratório
Ocular Ocasiona lesões nos olhos e pode levar a
sequelas permanentes
Aspiração Entrada de substância líquida ou sólida pela
traqueia
Digestiva Na maioria dos casos intencional
Tabela 2: Vias de exposição aos agrotóxicos (KLAASSEN e WATKINS, 2012).
A utilização de agrotóxicos sem o devido cuidado pode ser prejudicial tanto para o
produtor rural quanto para o consumidor. Por isso, é necessário o manejo correto das
substâncias químicas, intensa fiscalização e conscientização quanto ao seu uso correto.
3.4 Grupos-alvo de intoxicações por agrotóxicos
Um dos grandes perigos representados pelo uso de agrotóxicos diz respeito aos efeitos
que eles podem provocar na saúde das pessoas, especialmente as que estão em contato direto
com a sua utilização (LONDRES, 2011). Além da exposição ocupacional dos agricultores,
existe o risco de intoxicação alimentar e ambiental de suas famílias, da população vizinha às
plantações e de qualquer indivíduo que faz uso do alimento produzido (ALMEIDA et. al,
2017).
O grupo de trabalhadores rurais é o que representa maior preocupação, pois têm
contato direto com as substâncias químicas e normalmente não fazem uso dos equipamentos
de segurança necessários (LONDRES, 2011).
O risco de contaminação também se aplica aos profissionais de saúde que trabalham
em programas de conscientização sobre doenças infecciosas - como a dengue -, indivíduos
que trabalham com dedetização, funcionários de indústrias responsáveis pelo
desenvolvimento de agrotóxicos, e pessoas que trabalham com transporte e comércio destes
produtos (LONDRES, 2011).
Um frequente problema é a exposição dos agricultores à vários agrotóxicos diferentes,
de grupos diferentes e também às suas misturas e essa exposição acontece ao longo de vários
anos, com poucas manifestações agudas de intoxicação por algum agrotóxico específico.
Entretanto, os produtos misturados podem interagir entre si e causar efeitos diferentes, às
vezes até mais graves, do que provocam separadamente (LONDRES, 2011).
O uso de equipamentos de proteção coletiva (EPC) e equipamentos de proteção
individual (EPI) para evitar e reduzir riscos de acidentes de trabalho é obrigatório no Brasil.
Segundo Meirelles, Veiga e Duarte (2016), medidas coletivas de proteção são pouco
utilizadas na agricultura, pois tem custo elevado e difícil adaptação às condições de campo.
Na maioria das vezes, portanto, o uso de EPI é valorizado acima do uso de EPC
(MEIRELLES, VEIGA, DUARTE, 2016).
Um estudo realizado por Ubessi et al., (2015), com trabalhadores rurais do Rio
Grande do Sul aponta que 60,6% destes utilizam máscara de proteção durante o trabalho.
15,4% responderam que utilizam às vezes, e 24% não utiliza. O estudo relata que maioria dos
trabalhadores pesquisados realizou parte do ensino fundamental, de forma que a escolaridade
é um dos fatores que interferem no uso de EPI (UBESSI et al, 2015).
Ainda assim, observa-se que trabalhadores que utilizam EPI também são acometidos
por doenças vinculadas aos agrotóxicos. No mesmo estudo, Ubessi e colaboradores destacam
que, entre os que fazem uso da máscara durante trabalho 20,7% já apresentaram problemas de
saúde (UBESSI et al, 2015). Uma das justificativas para isso pode ser a baixa porcentagem de
fabricantes de EPI agrícolas no mercado geral, que optam por adaptar os equipamentos de
proteção individual utilizados na indústria ao invés de fazer a produção específica
(MEIRELLES, VEIGA, DUARTE, 2016).
Nunes (2010) aponta que uma das principais reclamações dos trabalhadores rurais em
relação ao uso de EPI são as altas temperaturas impostas pelo clima tropical, fato que torna os
equipamentos de proteção inadequados para o meio agrícola. Segundo o estudo, a maior parte
dos agricultores possuem os equipamentos em suas propriedades, porém não fazem o uso dos
mesmos (NUNES, 2010).
A ausência do uso de EPI ou sua má utilização pode levar a acidentes de intoxicação,
configurando risco de surgimento de doenças em agricultores. Nesse contexto, são
desenvolvidos programas de conscientização de trabalhadores rurais quanto ao uso de
agrotóxicos, visando reduzir a incidência de acidentes (BRANCO, 2003).
3.5 Sistemas de notificação e registro de intoxicação por agrotóxicos
A Portaria GM/MS nº 1.271, de 6 de junho de 2014, incluiu a intoxicação por
agrotóxicos na Lista de Notificação Compulsória (LNC) do Sistema Único de Saúde (SUS).
Intoxicações por essa classe de substâncias químicas devem ser notificadas semanalmente por
médicos, profissionais de saúde ou responsáveis por serviços públicos e privados de saúde,
serviços de hemoterapia, laboratórios e centros de pesquisa (ALMEIDA et. al, 2017).
Além da LNC, existe uma série de sistemas de notificação e registro que reúnem e
sistematizam dados sobre intoxicações provocadas por agrotóxicos no país. De acordo com
Londres (2011), os sistemas de notificação mais importantes a nível brasileiro são o Sistema
Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), gerenciado pela Fundação
Oswaldo Cruz, e o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de
responsabilidade do Ministério da Saúde (LONDRES, 2011).
O Sinitox faz a coleta, junção, análise e divulgação de dados sobre intoxicação e
envenenamento registrados pela Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência
Toxicológica (Renaciat). Essas informações são recebidas junto de orientação quanto ao
diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção de intoxicações (LONDRES, 2011).
Segundo Londres (2011), a maior porcentagem de registros de intoxicação e
envenenamento da Renanciat diz respeito às tentativas de suicídio. Embora as intoxicações
por trabalhadores rurais também sejam graves, muitas vezes não desenvolvem sintomas
agudos, assim os trabalhadores intoxicados não procuram atendimento. Quando procuram,
ainda, se dirigem a hospitais e postos de saúde que geralmente não registram os casos como
intoxicação (LONDRES, 2011).
Em Santa Catarina, o Programa Alimento Sem Risco (PASR) busca trazer segurança
dos alimentos vegetais cultivados e comercializados no estado, por meio da monitoração da
presença de resíduos de agrotóxicos em vegetais, combate ao uso indiscriminado de
agrotóxicos na produção agrícola e incentivo de pesquisas e estudos técnicos. Outra iniciativa
do estado diz respeito à Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa
Catarina (CIDASC), que executa ações sanitárias animais e vegetais, promovendo o
agronegócio paralelamente ao desenvolvimento sustentável do estado.
4. Toxicologia dos agrotóxicos
4.1 Organofosforados
Diferentes grupos de agrotóxicos apresentam ações distintas no organismo durante
uma intoxicação. Além disso, a quantidade de produto químico a qual o agricultor é exposto é
outro fator importante para determinar a gravidade dos efeitos. Os inseticidas apresentam alta
toxicidade aguda e principalmente os organofosforados são responsáveis a cada ano por um
grande número de intoxicações e mortes, como explicam Casarett E Doul (2012):
“Todos os inseticidas químicos usados atualmente são neurotóxicos e agem
no sistema nervoso dos organismos alvo. O sistema nervoso central dos
insetos é altamente desenvolvido e não muito diferente do de mamíferos.
Enquanto classe de compostos, os inseticidas apresentam alta toxicidade
aguda para animais não alvo quando comparados com outras classes de
praguicidas. Alguns deles, mais precisamente os organofosforados, são os
responsáveis, a cada ano, por um grande número de intoxicações humanas e
mortes (CASARETT E DOUL, 2012, p. 314).Os inseticidas organofosforados (OF’s) agem inibindo acetilcolinesterase (AChE)
levando a um acúmulo de acetilcolina nas células neurais causando a síndrome colinérgica
com sintomas de salivação, diarréia, sendo o sintoma mais grave a insuficiência respiratória.
Segundo Casarett e Doul (2012):
“Os inseticidas OF’s apresentam alta toxicidade aguda, com valores de DL50
orais para ratos frequentemente inferiores a 50 mg/kg. A inibição da AChE
pelos OF’s leva ao acúmulo de acetilcolina nas sinapses colinérgicas e à
estimulação exacerbada dos receptores colinérgicos muscarínicos e
nicotínicos. Uma vez que esses receptores se encontram localizados na
maioria dos órgãos do organismo, surge uma “síndrome colinérgica”, na qual
são observados os seguintes sintomas: sudorese e salivação, grave secreção
bronquial, broncoconstrição, miose, motilidade gastrointestinal aumentada,
diarreia, tremores, espasmos musculares e diversos efeitos associados ao
sistema nervoso central.” (CASARETT E DOUL, 2012, p. 314).
O tratamento para casos de intoxicação por organofosforados pode ser feito com
atropina em casos de ingestão que previne o efeito acumulativo da acetilcolina, e também
pode-se fazer uso de diazepam para diminuir a ansiedade e reduzir fasciculações musculares
em casos leves e controlar convulsões em casos graves (CASARETT e DOUL, 2012).
4.2 Carbonatos
Os carbonatos possuem uma toxicidade oral aguda, moderada ou baixa, como no caso
do carbaril e extremamente tóxica no caso do Aldicarb. Os carbonatos inibem a
acetilcolinesterase que pode ser rapidamente reversível. Os sinais de uma intoxicação por
carbamatos incluem miose, diurese, diarreia, salivação, fasciculação muscular, tontura,
letargia, fadiga, cefaleia, convulsão e coma e o tratamento é feito com atropina (CASARETT
E DOULL, 2012).
4.3 Piretróides
Em função da alta atividade inseticida e da toxicidade relativamente baixa em
mamíferos, compostos piretróides representam mais de 25% do mercado global de
inseticidas. Os mecanismo de ação dos piretróides são divididos em dois tipos: o primeiro
interrompe os canais de sódio voltagem dependentes em mamíferos e insetos, ligam se a
subunidades alfa do canal de sódio e diminuem a abertura e o fechamento destes levando a
um estado de hiperexcitação, já no segundo tipo ligam se e inibem os receptores GABA e
bloqueiam canais de cloro, por isso, em alguns casos graves de intoxicação por piretróides,
observa se convulsões (CASARETT E DOULL, 2012).
A parestesia é um efeito mais relevante em caso de exposição ocupacional resultante
do contato dérmico, parestesia esta que pode estar relacionada em função da atividade
repetitiva da indução anormal que os piretróides causam nas terminações nervosas da pele,
outros sintomas são ardor e formigamento em casos mais graves e o tratamento nesses casos
é feito com vitamina E, e também pode-se apresentar um aumento do fígado. Esses efeitos
são geralmente revestidos em 24 horas (CASARETT E DOULL, 2012).
4.4 Organoclorados
Já sobre o grupos dos organoclorados temos que:
“O inseticidas organoclorados incluem os derivados etanol clorados, tais como o
DDT e seus análogos; os ciclodienos, tais como clordano, aldrin, heptacloro, endrin e
toxafeno; os hexaclorociclohexanos, tais como o lindano; e as estruturas fechadas,
como o mirex e a clordecona” (CASARETT E DOULL, 2012).
Esses inseticidas apresentam uma toxicidade aguda moderada porém a exposição
crônica pode estar associada a efeitos no fígado, no sistema endócrino e reprodutor
(CASARETT E DOULL, 2012).
Em relação ao DDT e seus análogos, temos que doses altas ingeridas acidentalmente,
na faixa de 285 mg/kg podem levar a óbito, porém seus efeitos dérmicos são limitados a
baixas doses, porém a exposição em altas doses pode gerar agitação motora, aumenta da
frequência de movimentos espontâneos, suscetibilidade anormal a sensação de medo e
hipersuscetibilidade a estímulos externos como luz e sons, tremores leves e convulsões
tônico-clônicas, hiperestesia na boca e parte inferior da intoxicação, seguido de parestesia
nestas mesmas áreas, tontura, tremores das extremidades, confusão, vômito e convulsões em
casos mais graves (CASARETT E DOULL, 2012).
O DDT e seus análogos interferem nos canais de sódio na membrana axonal,
mecanismo semelhante aos piretróides tipo 1 descritos anteriormente (CASARETT E
DOULL, 2012).
O fígado é um órgão alvo importante, tanto o ddt como seus produtos metabolizados
aumentam o peso do fígado e causam hipertrofia e necrose das células hepáticas por serem
indutores das enzimas citocromo P450, por conta disso, esses compostos podem ocasionar o
aparecimento de tumores hepáticos (CASARETT E DOULL, 2012).
Organoclorados hexaclorociclohexanos e ciclodienos apresentam o mesmo
mecanismo de ação neurotóxica, o principal agente dessa família é o lindano e cos
ciclodienos que apresentam uma toxicidade oral aguda moderada, porém são absorvidos
rapidamente na pele e tem como órgão alvo o sistema nervoso central, seu efeito mais
predominante é a convulsão, esses compostos se ligam a sítios ligantes de picrotoxina nos
canais de sódio e bloqueiam sua abertura e antagonizam a ação inibidora do GABA
(CASARETT E DOULL, 2012).
4.5 Ditiocarbamatos
Os ditiocarbamatos são compostos associados com alguns cátions metálicos, em sua
maioria, maneb (Mn), ziram e zineb (Zn), e mancozeb (Mn e Zn) são exemplos destes
compostos. Sua toxicidade é baixa, porém seus efeitos crônicos são preocupantes
(CASARETT E DOULL, 2012).
“Esses compostos têm baixa toxicidade aguda pelas vias oral, dérmica e respiratória.
Entretanto, a exposição crônica está associada a efeitos adversos, que podem advir do
ácido ditiocarbamato ou do metal ligante. Esses compostos são biotransformados em
um metabólito comum denominado etilenotiouréia (ETU), que é responsável pelos
efeitos dos ditiocarbamatos na tireoide, os quais incluem hipertrofia e hiperplasia das
células foliculares tireoidianas, que progridem para adenomas e carcinomas; também
alteram os níveis de hormônios tireoidianos e causam hipertrofia da tireóide. Além
disso, a estrutura dos fungicidas ditiocarbamatos assemelha-se à do dissulfiram, que
inibe a aldeído desidrogenase e pode, após ingestão de etanol, produzir níveis
elevados de acetaldeído.” (CASARETT E DOULL, p. 321, 2012).
4.6 Bipiridílicos
Compostos bipiridílicos são usados no controle de plantas indesejadas. O paraquat é
um exemplo. Este é usado no controle de plantas de folhas largas e de gramíneas na lavoura e
em pomares, além do controle geral de ervas daninhas. Entre os herbicidas, o Paraquat
apresenta um alto grau de toxicidade aguda, seu órgão alvo são os pulmões, porém pode
afetar os rins e em casos graves leva à morte por anoxia (CASARETT E DOULL, 2012).
“O composto apresenta uma das mais altas toxicidades agudas entre os herbicidas.
Independentemente da via de exposição, o paraquat se acumula nos pulmões e rins. É
pouco biotransformado, sendo excretado inalterado pela urina. Apresenta pouca ou
nenhuma atividade genotóxica, não é carcinogênico para roedores, não induz efeitos
teratogênicos e apresenta fetotoxicidade apenas nas doses em que se observa
toxicidade materna. O problema toxicológico mais relevante são os efeitos sistêmicos
agudos, primariamente nos pulmões e, em segundo lugar, nos rins. Uma vez
absorvido, o paraquat entra nas células e sofre redução, seguida de reoxidação,
processo conhecido como ciclo redox. Esse ciclo intracelular do paraquat também
resulta na oxidação do NADPH, levando a sua depleção celular, exacerbada pela
detoxificação da enzima hidrogênio peroxidase formada pelo sistema glutationa
peroxidase/redutase para regenerar GSH O dano às células epiteliais alveolares
aparece em 24 horas após a exposição aguda a doses letais do paraquat; progride nos
2 ou 4 dias subsequentes com perda do epitélio alveolar e aparecimento de edema
pulmonar, extensa infiltração de células inflamatórias no interstício alveolare, por
fim, morte, causada por grave anoxia.” (CASARETT E DOULL, p. 319, 2012).
Esse efeito descrito acima, corresponde a primeira fase da ação toxicológica do
agente, se o paciente sobreviver a primeira fase, o organismo tentará repor o dano causado
pela primeira e por conta disto, apresentará uma grande quantidade de fibroblastos
pulmonares e fibrose disseminada, sendo assim o indivíduo poderá ir a óbito devido a perda
de função pulmonar (CASARETT E DOULL, 2012).
Outro herbicida dessa família bem conhecido é o diquat, com uma toxicidade e seus
órgãos alvos são rins, sistema digestivo e olhos, este último principalmente, este composto
tem um mecanismo semelhante ao do paraquat, onde este é reduzido a um radical livre e é
reoxidado na presença de oxigênio, formando o ânion superóxido, esse processo pode
acometer os olhos levando a catarata. Alguns sintomas clínicos são náuseas, vômitos,
diarréias, ulceração bucal e esofágica, diminuição das funções renais e efeitos neurológicos
(CASARETT E DOULL, 2012).
4.7 Aminoácidos Fosfonometil (Glicina Substituída, N-Fosfonometil, Glicina)
São herbicidas, de amplo espectro de ação, usados no controle de plantas perenes e
anuais. Estes compostos são separados em duas classes, o glifosato (N-fosfonometil glicina) e
o glifosinato (N-fosfonometil homoalanina). O glifosato apresenta uma toxicidade aguda
moderada, em intoxicações leves, observa-se sintomas gastrointestinais passageiros, porém
em intoxicações mais moderadas os sintomas são sangramento gastrointestinal, hipotensão,
disfunção pulmonar e dano renal. O glifosato é um herbicida bem difundido e a intoxicação
por este é quase inevitável, porém não observa-se efeitos teratogênicos, no desenvolvimento
embrionário e fetal ou reprodutivo, carcinogenicidade e genotoxicidade (CASARETT E
DOULL, 2012).
O glifosinato age inibindo a glutamina sintase aumentando o nível de amônia em
plantas, e em mamíferos, que até certo ponto pode ser suportado. Os sintomas por intoxicação
com um composto glifosinato incluem efeitos gastrointestinais, comprometimento do sistema
respiratório, distúrbios neurológicos e cardiovasculares (CASARETT E DOULL, 2012).
4.8 Agrotóxicos utilizados na região de jaraguá do sul/corupa.
De acordo com a Associação dos bananicultores de corupá, os compostos mais
utilizados na plantação de banana da região são os tiazídicos e estrobilurina. Os tiazídicos são
herbicidas e é utilizado no controle de ervas daninhas e de folhas largas. Já os estrobilurina
são fungicidas derivados a partir de um metabólito secundário produzido pelo fungo
Strobilurus tenacellus e, por isso, são assim chamadas, e frequentemente são utilizados com
os tiazídicos (RODRIGUES, 2006).
Os tiazídicos apresentam toxicidade aguda oral ou dérmica baixa, e estudos em
relação ao efeito crônico mostram que o efeito mais relevante é a perda de peso, no entanto
estudos recentes sugerem um efeito clastogênico e já se comprovou efeitos endócrinos
(CASARETT E DOULL, 2012). Por sua vez, os compostos estrobilurina são de baixa
toxicidade tanto aguda como crônica.
Em relação aos sintomas, temos que:
“A ingestão do produto pode causar sintomas gerais como dor abdominal, náusea,
vômito, diarreia, dor de cabeça e tontura. Triazínicos apresenta baixa toxicidade em
mamíferos, porém, a exposição a compostos triazínicos pode causar fadiga, náusea,
acidose metabólica, irritação à pele, olhos e ao trato respiratório. A inalação de
fungicidas do grupo químico estrobilurina pode causar sintomas como dor no peito,
dor de cabeça, prurido, tontura, fraqueza, dor nos olhos e vermelhidão na pele. O
contato direto com os olhos pode causar vermelhidão e desconforto.” (ADAMA,p. 1
2017)
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
De acordo com a PEVASPEA, a intoxicação pode ser aguda, subaguda e crônica. A
intoxicação aguda é decorrente do contato com um agrotóxico em um período de 24 horas
onde os efeitos podem surgir de imediato ou dentro de alguns dias. A subaguda possui
sintomas vagos e subjetivos que surgem horas após a exposição ou dias. A intoxicação
crônica, por sua vez, caracteriza-se por um surgimento tardio, após meses ou anos de
exposição e que pode acarretar a danos muitas vezes irreversíveis (PEVASPEA, 2019).
O risco de contaminação também se aplica aos profissionais de saúde que trabalham
com a conscientização sobre a dengue, assim como trabalhadores que trabalham com
dedetizações, os funcionários das indústrias responsáveis pelo desenvolvimento de
agrotóxicos e pessoas que trabalham com transporte e com comércio destes produtos,
constituem outro importante grupo de risco.
“Moradores de regiões de predomínio do agronegócio, onde maciças
quantidades de agrotóxicos são usadas ao longo do ano, formam outro grupo
de grande risco. Em várias regiões do país é comum a aplicação aérea de
venenos. Há estudos que indicam que, nestes casos, muitas vezes apenas
30% do veneno atingem o alvo. O resto contamina solos, água, plantações
de vizinhos, florestas e, muitas vezes, áreas residenciais. Outros estudos
indicam também que águas subterrâneas estão sendo contaminadas,
colocando em risco a saúde de populações que se abastecem de poços em
regiões de grande produção agrícola (Rigotto et al, 2010).”
Garrigou e colaboradores (2011) discorreram que os EPI podem ser fontes de
contaminação se não forem produzidos e manuseados corretamente. Em seu trabalho,
encontrou ineficiência de permeabilidade do material de vedação dos EPI. Em relação ao mal
uso, foi constatado que muitos trabalhadores levavam os equipamentos de proteção individual
para suas residências, lavando-os e guardando-os no ambiente doméstico. Destaca-se mais
uma vez a importância da instrução à respeito dos EPI aos trabalhadores rurais
(MEIRELLES, VEIGA, DUARTE, 2016).
Os agrotóxicos estão presentes em nossas vidas diárias, nos rios, nos alimentos e nas
plantações, e com eles, há o perigo das intoxicações. No último relatório feito em 2015, de
acordo com o CIATOX-SC:
“Os agrotóxicos estiveram envolvidos em 668 casos (5,8%), isolados ou em
associação com outros grupos, com 794 envolvendo os agrotóxicos. A circunstância
mais frequente envolvendo os agrotóxicos foi a tentativa de suicídio (42,9%), seguida
pela exposição acidental (30,7%) e ocupacional (23,2%)” (CIATOX/SC, p. 34, 2015).
Ou seja, há um grande número de intoxicações acidentais por agentes agrotóxicos, e é
necessário uma conscientização a respeito do manejo desse tipo de produto. Entre esses casos
envolvendo intoxicação por agrotóxicos, 14 chegaram a óbito. 14 pode parecer um número
pequeno, porém, poderia ser menor, se houvesse um cuidado maior com esses compostos
tóxicos (CIATOX, 2015).
A CIATOX-SC apresenta também os agrotóxicos responsáveis pelo maior número de
intoxicações no estado. Estes estão expostos na tabela abaixo:
Há perigo também em áreas domésticas, e não somente nas lavouras:
“Os inseticidas de uso doméstico estiveram envolvidos em 138 casos (1,2%),
isolados ou em associação com outros grupos, as circunstâncias mais frequente foi a
exposição acidental (68,8%), seguida pela tentativa de suicídio (16,7%) e
ocupacional (13,0%)” (CIATOX, p. 35, 2015).
Os inseticidas mais frequentes relacionados à exposição doméstica estão
referenciados na tabela abaixo.
De acordo com a Associação dos Bananicultores de Corupá, os compostos mais
utilizados na plantação de banana da região são os tiazídicos e estrobilurina. Os tiazídicos são
herbicidas e é utilizado no controle de ervas daninhas e de folhas largas. Já os estrobilurina
são fungicidas derivados a partir de um metabólito secundário produzido pelo fungo
Strobilurus tenacellus e, por isso, são assim chamadas, e frequentemente são utilizados com
os tiazídicos (RODRIGUES, 2006).
Os tiazídicos apresentam toxicidade aguda oral ou dérmica baixa, e estudos em
relação ao efeito crônico mostram que o efeito mais relevante é a perda de peso, no entanto
estudos recentes sugerem um efeito clastogênico e jáse comprovou efeitos endócrinos. Por
sua vez, os compostos estrobilurina são de baixa toxicidade tanto aguda como crônica
(CASARETT E DOULL, 2012).
Em relação aos sintomas:
“A ingestão do produto pode causar sintomas gerais como dor abdominal, náusea,
vômito, diarreia, dor de cabeça e tontura. Triazínicos apresenta baixa toxicidade em
mamíferos, porém, a exposição a compostos triazínicos pode causar fadiga, náusea,
acidose metabólica, irritação à pele, olhos e ao trato respiratório. A inalação de
fungicidas do grupo químico estrobilurina pode causar sintomas como dor no peito,
dor de cabeça, prurido, tontura, fraqueza, dor nos olhos e vermelhidão na pele. O
contato direto com os olhos pode causar vermelhidão e desconforto.” (ADAMA,p. 1
2017).
Há um grande descaso em relação a agrotóxicos no Brasil, e existe uma necessidade
urgente de atentar para a melhor maneira de utilização desses compostos. Infelizmente, os
dados relacionados a intoxicações não são atualizados devidamente, visto que o último
relatório disponível refere-se a 2015.
Existe uma grande quantidade de intoxicações anuais em Santa Catarina, por isso, é
necessário intensificar ações de prevenção e controle. Especificamente em Corupá e região,
tem-se que os agrotóxicos utilizados são de classificação leve, o que é um ponto positivo para
a região, porém, mesmo assim há riscos em seu uso, caso os cuidados necessários não sejam
tomados. Como diz Paracelso: “A diferença entre o remédio e o veneno é a dose”, ou seja, se
ele for ingerido em grandes concentrações, este mesmo sendo de baixa toxicidade, pode gerar
problemas sérios (CASARETT e DOULL, 2012).
Constata-se também uma grande preocupação do uso de agrotóxico para práticas
suicidas, portanto, é necessário também uma intervenção no sentido de prevenir esses casos;
Foi identificado que os acidentes com agrotóxicos ocorrem em maior proporção não na
agricultura, mas sim no seu uso doméstico, sendo necessário um maior olhar para este local.
REFERÊNCIAS
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Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos. Brasília, 2016.
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Tecnológica. Brasília, DF.
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do capitalismo oligopolizado. NERA – Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma
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GHINI, Raquel; HAMADA, Emilia; GONÇALVES, Renata R. V.; GASPAROTTO, Luadir;
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