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1 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblástica Anemia megaloblástica Anamnese • ID: paciente, 57 anos, sexo feminino, dona do lar. • QDP: Vem em consulta com clínico com formigamento em ambas as pernas há 18 meses. • HMA: A paciente refere que há 18 meses, iniciou quadro de formigamento e dormência em ambos os pés, com piora progressiva em que no momento acorda com dor intensa em ambos os pés. Notou há 6 meses, os mesmos sintomas em mãos bilateralmente, agora, apresentando dificuldades para realizar atividades simples, como vestir uma camisa. • AM: Diabética em uso de Metformina e diagnóstico de ̈ Gastrite¨ em uso de Omeprazol. Nega alergias. Nega internamentos e cirurgias prévias. Nega transfusão. • AF: Pai e mãe vivos, ambos hipertensos e com diabetes. Uma irmã com obesidade mórbida. Exame físico • Paciente BEG, LOTE, descorada (++/IV), icterícia, acianótica; • P: 100bpm; FR 16ipm; PA:120X80mmHg • CP: presença de queilite angular • AR: MVBD, sem RA • ACV: BRNF, 02 tempos, sem sopro • ABD: Plano, RHA+, flácido, indolor, sem VMG • EXT: perfundidas, sem edema Questão 1: Baseado na história clínica, qual a(s) principal (is) suspeita (s)? a) Neuropatia periférica b) Síndrome anêmica c) Síndrome de falência medular; d) Insuficiência vascular Resposta: Alternativas a e b. • Padrão conhecido como parestesia em bota e luva (formigamento em pés e mãos) → Quadro sindrômico de neuropatia periférica. • Descorada ++/IV, taquicárdica → Sínd. anêmica. • Anemia que vem com icterícia → Hemolítica. Quadro: Sintomas de anemia ferropriva: palidez cutânea, fadiga, dispneia e dor de cabeça. Muitas pacientes também reclamam de dor em membros inferiores. Ps. A imagem tá ruim porque o professou colocou pequena demais. Questão 2: Baseado no seu diagnóstico, que exames laboratoriais essenciais solicitar? a) Hemograma: para identificar se a paciente tem um quadro de anemia. b) Reticulócitos: Suspeita de anemia → pedir reticulócitos para definir se a anemia é hiperproliferativa ou hipoproliferativa. c) TSH; d) Eletroneuromiografia: Suspeita de neuropatia periférica, que deve ser investigada. e) Radiografia do tórax f) VDR g) HIV: é um quadro infeccioso que pode vim com anemia e neuropatia. Diagnóstico diferencial. Os reticulócitos da paciente vão estar aumentados ou diminuídos? Tratando-se de um quadro de anemia, neuropatia e icterícia, imagina-se que os reticulócitos estejam aumentados. A paciente já tinha passado no laboratório e colhido o exame abaixo Hemograma: Macrocitose (representado pelo VCM alto); pancitopenia (3 séries abaixo do valor de referência) 2 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblástica Pensando em anemia hemolítica, a máquina quando vai ler o hemograma normalmente, os reticulócitos aumentados mostram macrocitose. Quando se pensa em anemia hipo/micro, a primeira coisa que tem que estar na frente é a anemia ferropriva. Diagnósticos diferenciais: principalmente talassemia e anemia de doença crônica, A paciente tem anemia com VCM alto, pancitopenia e neuropatia periférica. Qual o diagnóstico? Questão 3: A partir dos exames solicitados, quais possíveis diagnósticos para a paciente? a) Anemia hemolítica auto-imune b) Leucemia aguda; c) Anemia ferropriva d) Anemia megaloblástica; e) Púrpura Trombocitopênica Idiopática Por que a paciente apresente icterícia e pancitopenia na anemia megaloblástica? A principal queixa da paciente foi neuropatia periférica (NP), então é importante entrar no diagnóstico diferencial. Diabetes, comorbidade presente na história clínica, está entre as principais causas de NP. O que realmente chama atenção na paciente é o quadro de neuropatia com anemia. Quando surgir isso, pensar principalmente em duas coisas: Anemia megaloblástica ou HIV. A parte de anemia foi investigada através do hemograma, que apresentou macrocitose e nos direcionou para anemia megaloblástica (deficiência de vitamina B12 e ácido fólico, que no seu metabolismo, atuam na síntese de DNA). A medula é um tecido que se reproduz muitas vezes durante a vida, sendo necessária a renovação do DNA. Quando se tem uma deficiência da vit B12 leva a alguns erros, levando a uma hematopoiese ineficaz (a célula não tem uma maturação adequada, não atingindo seu estágio final – transição da medula óssea para a periferia). O achado clínico é uma medula cheia de célula com a periferia vazia (pancitopenia). O principal achado no exame de uma anemia megaloblástica é a macrocitose e ela está no subgrupo das anemias hipoproliferativas. Então, os reticulócitos provavelmente vão estar baixos, o que leva ao descarte da anemia hemolítica. A pancito é explicada porque as outras células dentro da medula não estão sendo produzidas direito, causada pela deficiência da vitamina B12 ou do ácido fólico. É importante sempre pedir o reticulócito. Se ele tiver baixo → descarta anemia hemolítica. A icterícia vem de onde? Dentro da medula não há maturação, fazendo com que a célula seja induzida a apoptose. É causada por uma célula imatura que não consegue fazer sua transição e acaba morrendo dentro da medula (INTRAMEDULAR). A morte programada ou não programada parece a anemia hemolítica, levando a liberação da hemoglobina que vai ser degradada em biliverdina e bilirrubina indireta, que acarreta na icterícia associada à anemia megaloblástica. Tem relação com a hemólise INTRAMEDULAR!!! RESUMINDO ... A medula necessita tanto da vitamina B12 quanto do ácido fólico para síntese do DNA e, consequentemente fabricação das proteínas com maturação das células. Quando a gente tem deficiência de alguma dessas duas, a gente não fabrica devidamente o DNA e não acontece a maturação. Então, a medula fica cheia de célula imatura (atraso da maturação), não acontecendo a transição da medula para a circulação, representada pela pancitopenia. O atraso na maturação leva à morte celular e então acontece o mesmo mecanismo que ocorre na anemia hemolítica. Há uma liberação da hemoglobina, que vai ser degradada em biliverdina e depois em bilirrubina indireta, levando a um quadro de icterícia. Em relação a neuropatia periférica: Normalmente a síntese da bainha de mielina, células de Schwann, cê não consegue fabricar direito, levando a uma degradação dos neurônios (principalmente os mais longos, que normalmente vão para periferia) e, consequentemente, a neuropatia. A apresentação clínica neurológica mais comum da vitamina B12 é a neuropatia periférica. Não necessariamente a neuropatia apresenta relação com a síntese de DNA, é mais com a bainha de mielina dos neurônios, como se o fio fosse desencapado gerando um curto circuito e levando a parestesia. O DNA apresenta relação com a reprodução celular dentro da medula óssea. Neurônio não se reproduz tanto como as outras células, geralmente é quiescente (fica na dele). Já a medula óssea se reproduz muitas vezes, não é à toa que a principal manifestação da quimioterapia é fazer queda 3 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblástica das células, queda de cabelo, pois como a troca celular é muito alta, quando há falta de material há também essas repercussões. A principal manifestação no hemograma, da falta de vitamina B12, é a anemia. Não necessariamente vai vim com pancitopenia. Deficiência de vitB12 → Anemia → VCM elevado. Quando se trata de intra ou extravascular, é quando se tem uma maturação adequada das hemácias. No quadro da anemia megaloblástica, a hemácia nem conseguiu sair da medula (intramedular). ❖ Mielodisplasia (síndrome mielodisplásica – alterações que acontecem no DNA dentro da medula, que futuramente pode levar a uma neoplasia – leucemia aguda) entra como diagnóstico diferencial da anemia commacrocitose. Normalmente, o quadro anterior da leucemia aguda é uma síndrome mielodisplásica, que pode ser manifestar com alterações das séries da medula óssea, podendo apresentar anemia, pancitopenia, leucopenia ou plaquetopenia. A investigação é mais ou menos a mesma coisa, para descartar deficiências de vitaminas e, caso não encontre nada, estudo medular para verificação de displasias (alterações dentro da medula óssea). CAU SAS DA ANEMIA MEGAL OBLÁSTICA Anemia megaloblástica é anemia com o VCM (volume corpuscular médio) elevado e com reticulócitos baixo. Quem faz a transição da medula óssea para a circulação é o reticulócito, então, se eu não consigo fazer essa transição, o reticulócito vai estar baixo. Se tiver reticulócito elevado cai em duas possibilidades: anemia hemolítica ou sangramentos. Principais causas: Deficiência de cobalamina – vitamina B12 e deficiência de ácido fólico. Lembrar que alguns medicamentos podem interferir no metabolismo principalmente do ácido fólico, podendo desenvolver uma anemia com VCM elevado (macrocitose). Principais medicamentos: MTX (antagonista do ácido fólico – simula a deficiência de ác. fólico e a anemia megaloblástica), AZT (utilizado no tratamento do HIV), anticonvulsivantes (atuam no DNA). Toda vez que tiver algo interferindo no DNA, a gente vai ter uma anemia com macrocitose. RELEMBRANDO ... • Anemia com microcitose e hipocromia → Pensar em anemia ferropriva, talassemia ou doença crônica. Incluir sideroblástica. Se você viu anemia com microcitose, talvez nem precise do reticulócito, porque provavelmente vai ser uma anemia hipoproliferativa (carencial, hereditária ou doença crônica). • Anemia com macrocitose → Megaloblástica (deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico). Diagnóstico diferencial: uso de drogas ou doenças que vão atuar na medula óssea – ex. síndrome displásica/leucemia aguda. Existe uma pegadinha na MACROCITOSE: Deve-se sempre pedir reticulócitos. O grande diagnóstico diferencial é a anemia hemolítica. Quadro: Quando a gente pensa em deficiência de B12, a gente tem que saber porque tá em falta, podendo ser nutricional (dieta vegana – não fica deficiente logo no início – pode levar de 5 a 10 anos). A vitamina B12 é mais rica em proteínas animais. A principal causa de deficiência da vitamina B12 é a anemia perniciosa. 4 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblástica Você pode ter 3 apresentações da anemia megaloblástica → 1 – anemia; 2 – neuropatia; 3 – anemia com neuropatia. O quadro mais comum é o de anemia que, ao longo do tempo, caso não seja identificada, pode desenvolver um quadro de neuropatia. Na maioria das vezes, se descobre os dois juntos. A neuropatia também pode vir isolada. A deficiência de vitamina B12 levando a anemia, em torno de 2 meses já há uma melhora no hemograma, podendo estar até normal. Mas, tem casos de neuropatia que pode levar de 6 meses a 1 ano pra apresentar alguma diferença. No fundo gástrico, a gente tem as células parietais que vão produzir o fator intrínseco. Quando você receber a proteína animal, vai haver uma separação de DNA e vitamina B12, depois, vai ter a junção da vit B12 com o fator intrínseco no duodeno. Essa associação, lá no íleo distal, atua na absorção da vitamina B12. A anemia perniciosa é uma doença autoimune que destrói as células parietais do estômago, fazendo com que elas parem de produzir o fator intrínseco e, consequentemente, não haverá associação desse fator com a vitB12 e nem a absorção desta vitamina no íleo distal. A reposição de vitamina B12 pode ser parenteral, pois aí a absorção já é imediata. Lembrar que altas doses de vitB12 via oral podem ser absorvidas em torno de 1%, que seria a dose em torno de 5.000unidades diárias, onde você pode absorver a quantidade adequada de vitamina B12 mesmo não tendo o fator intrínseco. Quem não gostar de injeção, pode fazer essa reposição diária, na qual é possível obter o mínimo de absorção. Cirurgia gástrica (fundo, antro) também pode levar a uma deficiência da vitamina B12 por uma falta na produção do fator intrínseco. Ex. cirurgia bariátrica. A principal causa da deficiência de vitamina B12 na doença de Crohn é que ela faz uma ileíte (inflamação no íleo). O problema não vai ser a deficiência do fator intrínseco e, sim, um problema na absorção do íleo distal. Doença celíaca está na 1º-2º parte do duodeno, não tendo interferência na absorção da vitamina B12. Têm relação com a absorção do ferro. Quadro: Afecções relacionadas com a deficiência de vitamina B12. Principais: Anemia e neuropatia. Lembrando da parte neurológica, o paciente também pode fazer um quadro de demência. Pode ocasionar doenças psiquiátricas, como depressão, mania megaloblástica, loucura megaloblástica. Quando se pensa em doenças neurológicas reversíveis, sempre vai entrar aí deficiência de vitB12. Não é pra sair decorando isso tudo do quadro anterior! As manifestações clínicas da deficiência da vitamina B12 geralmente são as mesmas da deficiência do 5 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblástica ácido fólico. Lembrar que o ác.fólico faz mais manifestação hematológica do que neurológica. Questão 4: Quais exames para melhor avaliação do seu diagnóstico? Marque o essencial! a) Ferro b) Ferritina: só entra em casos de microcitose c) Ácido fólico; d) Vitamina B12; e) Dosagem de G6PD: geralmente em quadro de anemia hemolítica f) Saturação de transferrina g) TSH h) Perfil hepático Doenças endocrinológicas, principalmente hipotireoidismo e hipertireoidismo, quando evoluem pra um quadro de anemia, vão apresentar macrocitose. Normalmente se dá o diagnóstico de hipotireoidismo e depois se vê o quadro de anemia. Hipotireoidismo tem várias características que vão dar pistas: ganho de peso, perda de cabelo, alteração da temperatura ... um dos achados é anemia com macrocitose. Doenças hepáticas é a mesma coisa. Ex. pacientes com cirrose hepática (fibrose). Lembrar que a cirrose tem várias causas: cachaça, esteato hepatite não alcoólica, doenças autoimunes. Normalmente, quando fazem quadro de anemia é com macrocitose. Questão 5: marque os principais diagnósticos diferenciais: a) Uso de drogas: MTX, AZT, drogas anticonvulsivantes b) Síndrome mielodisplásica c) HIV: pode entrar em diagnóstico diferencial nos quadros de anemia com neuropatia. d) Hipotireoidismo e) Hepatite alcóolica f) Anemia hemolítica autoimune: o que nos ajuda a diferenciar é o reticulócito Resposta: Toda as alternativas são diagnósticos diferenciais da anemia com macrocitose. Toda vez que a gente tiver anemia com macrocitose tem que pedir reticulócitos. Reticulócito aumentado → anemia hemolítica. Reticulócito diminuído → deficiência de vitamina B12 e ácido fólico. Se for anemia com microcitose, não é obrigatório ter reticulócito. Imagem acima: Bioquímica que envolve a vitamina B12 e o ácido fólico que, apesar de terem metabolismos diferentes, no final vão atuar na síntese tanto do DNA quanto do RNA. Não é necessário saber o metabolismo todo, mas é preciso saber que a vitamina B12 está na transição de um círculo metabólico para outro. Para a síntese da homocisteína precisa tanto da vitamina B12 quanto do ácido fólico. Quando a gente tem a deficiência de um dos dois, consequentemente a homocisteína não é metabolizada e não sai do ciclo. Então, há uma elevação da homocisteína (faz parte da investigação). A homocisteína vai estar aumentada tanto na deficiência da vitB12 quanto do ácido fólico. O ácido metilmalônico normalmente está associada a reação que só depende da vitamina B12. Então, quando você tem uma deficiência da vtiB12, você vai ter um 6 Beatriz Machado de Almeida Hematologia – Anemia megaloblásticaaumento do ácido metilmalônico, o que não acontece com a falta de ácido fólico. Uma forma de diferenciar deficiência de B12 de deficiência de ácido fólico é dosar tanto a homocisteína quanto o ácido metilmalônico. A homocisteína vai dizer que vai ter deficiência dos dois e o ác.metilmalônico, quando aumentado, reflete deficiência apenas da vitB12. Agora o prof repete tudo ... Ps: a imagem tá ruim porque tava muito pequena no slide Questão 6: Marque a(s) alternativa(s) INCORRETA(s) a) Todos os pacientes com anemia com hemoglobina menor que 8g/dl devem ser transfundidos: só transfunde paciente com nível de hemoglobina ao nível de 8g/dl quando ele tem manifestações sistêmicas. b) É possível realizar o tratamento para anemia megaloblástica por deficiência de vitamina B12 via oral: é possível, em doses altas. c) Na dúvida do diagnóstico, sempre trate, somente, o ácido fólico. A paciente do caso apresenta Hb 5.2 e taquicardia, o que torna a transfusão talvez necessária. Em casos de UTI, paciente relativamente grave, pode utilizar o valor base de referência para transfusão, que é normalmente hemoglobina abaixo de 7g/dl. Na dúvida do diagnóstico, sempre trata a vitamina B12, pois o ácido fólico normalmente não dá doença neurológica. Se você der apenas ácido fólico, o paciente pode até ter a anemia tratada, mas ainda vai ficar devendo a vitB12, o que pode acarretar em doença neurológica. Questão 7: Qual é a melhor forma de tratamento da paciente? a) Transfusão de hemácias b) Reposição de vitamina B12: em torno de 3-4 dias, o paciente já começa a ter aumento dos reticulócitos. c) Reposição de ferro via oral d) Reposição de ferro parenteral e) Transplante de medula óssea Na prática, na maioria das vezes, dá um pouco de medo e a gente acaba transfundindo o paciente. A paciente do caso, se chegasse na emergência, a maioria dos médicos iriam transfundir, pois ela está com anemia e taquicárdica. Ficar atento ao fato de a paciente apresentar anemia com macrocitose, onde provavelmente ela apresenta A. megaloblástica. Vale a pena aguardar um pouquinho, tentar fazer o diagnóstico e tratar com apenas vitamina B12. Ex: paciente mulher fez cirurgia bariátrica e continua menstruando. Se a paciente chega com quadro de anemia ferropriva, é melhor tratar com ferro venoso do que transfundir a paciente.
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