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Prévia do material em texto

1 
 
Disciplina: Legislação e políticas públicas para surdos 
Autores: Esp. Priscila Mara Simões 
Revisão de Conteúdos: Esp. Orlei Candido Antunes 
Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki 
Ano: 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
2 
 
Priscila Mara Simões 
 
 
 
 
Legislação e políticas públicas para 
surdos 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
SIMÕES, Priscila Mara 
Legislação e políticas públicas para surdos / Priscila Mara Simões. – 
Curitiba, 2018. 
39 p. 
Revisão de Conteúdos: Orlei Candido Antunes. 
Revisão Ortográfica: Juliano de Paula Neitzki. 
Material didático da disciplina de Legislação e políticas públicas para 
surdos – Faculdade São Braz (FSB), 2018. 
ISBN: 978-85-5475-223-1 
 
 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Apresentação da disciplina 
A disciplina de Legislação e Políticas Públicas na Educação de Surdos 
tratará da ética e atuação profissional, conceito e especificidades da tradução de 
línguas nas diversas modalidades, os problemas teóricos e práticos da tradução, 
a mediação do conhecimento por intermédio do intérprete na sala de aula e na 
educação de surdos, igualmente as técnicas de tradução dentro e fora do espaço 
educacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Aula 1 - História dos surdos na educação 
 
Fonte: https://www.iped.com.br/_upload/content/2014/11/25/lingua-brasileira-sinais-libras.jpg 
 
Apresentação da aula 1 
 
Sabe-se que em vários momentos históricos os surdos eram 
considerados deficientes, amaldiçoados e até mesmo sem pensamento; 
conceitos esses que os levaram à marginalidade. Apesar das ideologias e pré-
conceitos concebidos pelos ouvintes da época, ocorreram avanços e 
retrocessos, mas, quando foram compreendidos como indivíduos pensantes, 
houve grandes avanços no processo educacional da pessoa surda. 
 
1.1. Antiguidade e Idade Média 
 
 A surdez sempre existiu e nunca foi uma epidemia de um dado momento 
histórico. Na antiguidade e na Idade Média os surdos foram marginalizados e 
totalmente excluídos do convívio social, principalmente do contexto educacional, 
pois eram concebidos como indivíduos sem inteligência, afinal, que inteligência 
poderia ter uma pessoa que não fala e gesticula fazendo mímica?! 
 A partir dessa realidade, além de não terem nenhum tipo de instrução 
formal, comunicavam-se com mímicas e algumas gesticulações, ficando 
isolados de seus familiares e da sociedade. 
 Essa concepção de que surdo não tinha pensamento se propagou pelo 
mundo e colaborou com a escravidão e assassinatos de surdos na Grécia e na 
 
7 
 
Roma antiga. Sendo assim, impossibilitando a instrução social da época. 
Segundo Fernandes (2011): 
 
O pensamento se desenvolvia somente através da palavra articulada 
oralmente. Uma vez que o sentido da audição lhes faltava, a intenção 
de ensiná-los a falar foi considerada absurda, relegando-os à condição 
de não humanos (FERNANDES, 2011). 
 
Apenas no final do século XV que alguns pensadores e filósofos 
começaram a discutir a capacidade de aprender dos surdos. Eram discussões 
disformes e isoladas, mas, com certeza, um passo no reconhecimento do surdo 
como um indivíduo intelectual. 
 
1.2. Pós Idade Média 
 
 A partir de 1.500, no século XVI, ocorreram as primeiras experiências 
educativas com surdos. O primeiro a ministrar aula foi Pedro Ponce de Leon 
(1420-1584), monge beneditino espanhol, professor de surdos da nobreza, que 
com o uso de alfabeto digital ou alfabeto datilológico e outros sinais, ensinou-
lhes a ler e escrever. Leon não dispensou a oralização e utilizou o alfabeto 
datilológico para comunicar-se com os alunos. 
 Nas poucas tentativas de ensino da fala que foram realizadas com surdos, 
no século XVIII, o alemão Samuel Heinicke (1727-1790) fundou a metodologia 
oralista que inferia o pensamento por meio da fala. 
 Iniciou-se então uma grande discussão sobre o oralismo e a sinalização, 
decorrida em duas grandes fases que influenciaram todo o contexto educacional 
e social dos indivíduos surdos, que resultou em um grande avanço. Entretanto, 
apesar das discussões, um outro grupo dominou o espaço educacional 
provocando uma drástica mudança 
Na década de 1780, o francês Charles Michel L’Epée desenvolveu uma 
metodologia para o ensino de surdos, idealizando que os sinais – mímica, como 
tido na época – tratava-se da linguagem natural dos chamados “surdos-mudos”. 
O professor utilizava sinais metódicos que seriam a combinação da língua de 
sinais de uso dos surdos com a gramática francesa de forma sinalizada. 
 
8 
 
 A proposta foi experimentada em grupos de pessoas surdas, mostrando-
se claramente eficaz, revelando um sucesso que foi disseminado por todo o 
continente europeu. 
 Um pouco antes, em 1775, havia sido fundado o Instituto Nacional de 
Surdos-mudos, na cidade de Paris, que passou a ganhar mais visibilidade na 
década de 1780 com a proporção tomada pelo método de ensino de L’Epée. 
 Quando se reconheceu que o aprendizado do surdo ocorre a partir da 
aquisição e uso da língua de sinais, permitiu-se que os surdos aprendessem 
também o sistema de leitura e escrita, oportunizando a possibilidade de 
capacitação profissional em diversas áreas. 
 A língua de sinais, porém, ainda não era concebida como língua, mas 
como gesticulação. Mesmo assim, admitia-se ser a forma de comunicação que 
propiciava o desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos surdos. O 
sucesso desse avanço foi nitidamente percebido quando aqueles por tanto 
tempo marginalizados tiveram novas oportunidades para participação efetiva e 
de reconhecimento na sociedade. 
O sistema permitiu um novo caráter de status social aos surdos que até 
pouco tempo ficavam isolados do convívio em sociedade. A partir daí se 
formaram professores e deram aulas nas dezenas de escolas de ensino para 
pessoa surda que surgiram na França. 
A metodologia de ensino foi divulgada para além da Europa, chegando 
aos Estados Unidos. Criou-se o Colégio Gallaudet, em Washington (hoje 
Universidade Gallaudet), protagonizando o ensino de nível superior para 
pessoas surdas, fundado por Thomas Hopkins Gallaudet (1715-1851), defensor 
da língua de sinais e dos direitos dos surdos. 
 Durante todos esses acontecimentos, outro agrupamento de ouvintes 
defendia o oralismo que se fortalecia ainda mais no século XIX com apoio de 
pessoas de prestígio daquele períodocomo Adolf Hitler e Alexander Graham 
Bell, que propiciaram o retrocesso de todas essas conquistas a partir do 
Congresso de Milão. 
Ví deo 
Assista ao vídeo: uma breve história dos surdos no Brasil e no 
mundo: https:// www.youtube.com/watch?v=jc9X1i9zy3o 
 
9 
 
1.3 Método Oralista - Congresso de Milão 
 
Fonte: https://media.agoramt.com.br/2018/03/maos-amarradas.jpg 
 
 
O século XIX foi fortemente marcado pela instauração do Oralismo que 
em duas décadas conquistou seu êxito. No século anterior, foram muito claras 
as conquistas dos direitos dos surdos. Ainda assim, não foi suficiente para que 
se acabasse a busca por uma raça puritana que era defendida por Hitler. 
No dia 06 de setembro de 1880, na cidade de Milão, na Itália, aconteceu 
o II Congresso Internacional de Ensino de Surdos-mudos, composto por maioria 
ouvinte e apenas uma pessoa surda. O congresso foi embasado na perspectiva 
aristotélica de que a língua oral é divina e aquele que não a possui tem 
comprometimento grave intelectual. 
Dessa forma, os participantes do congresso usaram argumentos 
ideológicos de teorias clínicas que defendiam uma padronização biológica, e 
religiosa, sendo que o catolicismo defendia que os surdos eram seres 
amaldiçoados, pois na ausência da fala não poderiam confessar seus pecados. 
Essa perspectiva ouvintista foi base para discussão da educação de surdos 
naquele momento, desprezando toda conquista dos surdos no meio educacional 
e social. 
O Congresso ficou conhecido como Congresso de Milão, que resultou na 
proibição do uso da língua de sinais. Em decorrência disso, todos os 
profissionais surdos de diversas áreas intelectuais, como os professores, foram 
impedidos de atuar, pois o congresso decidiu que os surdos poderiam prestar 
 
10 
 
apenas trabalhos manuais. Na área da educação, ficou instituída a 
obrigatoriedade do aprendizado da língua oral, sem usar de forma alguma a 
sinalização, chamado de método oral puro, pois, na perspectiva ouvintista, além 
de limitar o surdo, deixava-o preguiçoso. 
A proibição do uso da língua sinais retornou à impossibilidade de 
aprendizado dos surdos e à total falta de informação, deixando-os novamente à 
mercê da sociedade, sem poderio à liberdade, à decisão e à voz, tidos como 
incapazes e ineptos. 
O método oralista se mostrou extremamente ineficaz, com comprovações 
científicas e experimentais de que não há desenvolvimento adequado no 
aprendizado dos surdos apenas com o uso de uma língua oral. O aprendizado 
de fala e escrita foram profundamente insatisfatórios, fato percebido em diversas 
partes da Europa e do mundo. 
Na França, pesquisadores atestaram que o não desenvolvimento dos 
indivíduos surdos não se dava à falta de potencial intelectual, mas à falta do uso 
de uma língua que permitisse a conversação com seus pares e, portanto, a falta 
de desenvolvimento de uma identidade. 
A sentença perdurou por todo um século. Foram 100 anos de proibição 
oficial da língua de sinais, mas o que ainda não sabiam é que onde se encontram 
dois ou mais surdos, encontra-se a língua de sinais. Eles continuaram utilizando 
a língua de sinais na marginalidade. Para o surdo, a língua de sinais é a língua 
materna. Oralizado ou não, quando conversa com outro indivíduo surdo, se 
comunica em língua de sinais. 
 
Ví deo 
Para compreender melhor o método oralista assista ao vídeo 
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jK13vu3B 
a60 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1.4 Comunicação Total 
 
 Com o fracasso do método oralista, a partir da década de 1960 
começaram os estudos para o desenvolvimento de uma nova metodologia de 
ensino aos surdos. Uma pesquisa importante foi feita por William Stokoe que 
reconheceu a sinalização como língua, comprovando a existência de elementos 
gramaticais na língua de sinais americana (ASL) encontrados em qualquer 
língua humana. 
O linguista Stokoe é reconhecido como o pai da linguística da língua de 
sinais, revolucionando com a publicação de sua obra em 1960 em que 
apresentou a estrutura gramatical, apontando-a como uma língua. 
 A partir da década de 1980, a nova perspectiva tomada foi a aceitação 
de qualquer forma de comunicação, sendo divulgada a Comunicação Total, 
principalmente fundamentada por Dorothy Schifflet e Roy Holcom. 
 O objetivo era reintegrar o surdo à sociedade, e foi fortemente defendido 
o método bimodal que trata o uso primordial da língua oral com apoio da língua 
de sinais de forma simultânea. O bimodalismo respeita a estrutura gramatical de 
uma das línguas, pois uma não depende da outra. Cada uma tem sua estrutura 
linguística formada naturalmente pelo uso social. 
 Dessa forma, o método da Comunicação Total começou a ser rediscutido 
na busca por uma melhor forma de comunicação do surdo na sociedade. 
 
1.5 Bilinguismo 
 
 Abadé L’Epée já havia estabelecido uma educação bilíngue para surdos 
no século XVIII, fundando escola pública de atendimento para surdos. Sua 
perspectiva de escola era o ensino da leitura e escrita a partir do uso da língua 
de sinais que teve sucesso até o Congresso de Milão, em 1880. 
 O método da Comunicação Total, na década de 1980, também não foi 
suficiente. Percebeu-se então que o surdo pode desenvolver-se plenamente a 
partir da língua de sinais, até mesmo para aprendizado de uma língua escrita. 
 Começou a discussão de ensino Bilíngue para surdos onde há o 
reconhecimento como língua oral materna, e na modalidade escrita, a partir da 
língua de sinais. 
 
12 
 
 Segundo pesquisas cientificas; fica comprovado que o bilinguismo é a 
melhor metodologia para o desenvolvimento cognitivo da pessoa surda no 
contexto escolar. 
 
1.5 E como foi no Brasil? 
 
https://acessibilidadeemmaos.files.wordpress.com/2018/03/logo-faculdade-desu-ines-
av.jpg?w=692 
 
 
 A história da educação de surdos no Brasil destaca-se a partir da 
fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos - Ines, em 1857, no Rio 
de Janeiro. A realização foi possível com a vinda do francês Ernest Huet ao 
Brasil. 
 Huet era surdo e atuava como professor em Paris e ensinava indivíduos 
surdos a partir da língua de sinais. Após a criação de escolas em outros países, 
veio ao Brasil compartilhar da sua experiência, e com a aprovação de Dom Pedro 
II conseguiu a instituição do Ines. 
 Na Lei nº 939 de 26 de setembro de 1857, que tratava das despesas e 
orçamento da Receita, Dom Pedro II incluiu o § 10º, no Art. 16, do Capítulo III 
das Disposições Gerais sobre o orçamento governamental anual voltado para o 
Ines: Conceder, desde já, ao Instituto dos surdos-mudos a subvenção anual de 
5.000$000, e mais dez pensões, também anuais, de 500$000 cada uma, a favor 
de outros tantos surdos-mudos pobres, que nos termos do Regulamento interno 
do mesmo Instituto, forem aceitos pelo Director e Commissão aprovados pelo 
Governo. 
A Lei em questão é mais antiga que a Lei Áurea, assinada ainda em seu 
império pela Princesa Isabel em 1888, portanto se trata de um período de 
 
13 
 
escravidão legal. É importante destacar que a mesma Lei nº 936/1857 também 
dispõe do recurso governamental para escravos. Se ainda em pleno período de 
escravatura os surdos já foram considerados em Lei, o quanto teríamos 
avançado no século XXI se não fosse pelo retrocesso da proibição da língua de 
sinais que influenciou o mundo todo por todo um século? 
 Dom Pedro II tinha familiares surdos. A Lei com certeza foi um avanço em 
toda história brasileira, pois antes da criação do Ines, os surdos eram 
considerados ineducáveis. Segundo Souza (2006), as leis criadas sempre 
privilegiam o grupo que está no governo, fazendo com que interesses pessoais 
sejam regularizados em lei: 
A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os 
governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em 
programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real (p. 
26). De início,o Ines utilizava como base a língua francesa de sinais 
incorporando sinais de uso dos surdos brasileiros. A data da Lei de 26 de 
setembro de 1857 foi um marco tão grande que nesse dia é legalmente 
comemorado o Dia Nacional do Surdo desde 2008 estabelecido pela Lei nº 
11.796. 
E de que forma o Congresso de Milão de 1880 influenciou a conquista da 
educação de surdos no Brasil? 
Desde a declaração da proibição da língua de sinais, o Ines continuou a 
atuar, mas alterou totalmente a proposta de ensino, assumindo a perspectiva do 
Oralismo em sala de aula, em 1911, sendo oficialmente proibida pela diretora 
Ana Rimola de Faria Doria, em 1957. Esse posicionamento privou os surdos de 
acesso à informação até mesmo uma cultura. 
Mesmo marginalizados, é importante lembrar que os surdos continuaram 
a sinalizar em conversações escondidas e clandestinas, fazendo com que a 
língua de sinais sobrevivesse durante todo o período de atraso educacional. Mais 
uma prova da naturalidade da língua: se o surdo tivesse outro meio de acesso 
ao conhecimento por meio do oralismo, ele não sentiria a necessidade de 
expressar-se por uma língua sinalizada. 
A linguagem é um impulso natural do ser humano. Estudos mostram que 
a sinalização é mais instintiva do que o uso vocal. A teoria gerativista de 
Chomsky afirma que a linguagem é inata ao ser humano: 
 
14 
 
De acordo com a teoria gerativa, os seres humanos são, então, 
dotados de uma capacidade inata para a linguagem, e possui um 
conhecimento sobre o sistema linguístico, chamado de “competência”. 
Isso explica como uma criança exposta a tão poucos dados no seu 
ambiente, consegue desenvolver um sistema tão complexo em tão 
pouco tempo. (QUADROS; PERLIN, 2007, p. 28). 
 
 Nesse sentido, a língua de sinais sobreviveu a cem anos de proibição 
devido ao fato natural e necessário ao indivíduo surdo. 
 Dessa forma, o método da Comunicação Total chegou ao Brasil na 
década de 1980, com a permanência de fortes correntes oralistas na perspectiva 
clínica de reabilitação do surdo, 
 Estudos surdos iniciaram na década de 1990 a partir do fortalecimento da 
luta da comunidade por uma educação bilíngue. Diversas conquistas foram 
realizadas nessa perspectiva. Em 2002, conseguiram a realização do 
reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais - Libras como primeira 
língua do surdo, pela Lei 10.346, que o conceitua como indivíduo bilíngue sobre 
a influência da Língua Portuguesa como segunda língua. 
 Diversas leis foram instauradas a partir da Lei 10.436/2002, e a inserção 
obrigatória do Intérprete Tradutor de Libras/Língua Portuguesa presente em sala 
de aula. 
 As leis foram sem dúvida conquistas revolucionárias por todos os 
integrantes da comunidade surda: surdos, intérpretes, familiares e profissionais 
da educação. Ainda assim, tem-se muito a conquistar, portanto o 
posicionamento da luta da comunidade surda hoje é pautado pela criação de 
escolas bilíngues que prezam pelo conhecimento mediado por educadores 
surdos e ouvintes fluentes em Libras. 
 
Resumo da aula 
 
 Nesta aula foram vistos os processos históricos pelos quais a legislação 
da pessoa surda percorreu. Diante de algumas derrotas e conquistas, sabe-se 
que a comunidade surda tem alcançado seus direitos principalmente no que 
tange ao social. 
 
 
15 
 
Atividade de Aprendizagem 
Quanto às propostas de ensino aos surdos aprendidas na 
primeira aula, em, no máximo 10 linhas, defina qual modalidade 
é a mais adequada na sua opinião, justificando a escolha. 
 
 
Aula 2 - Conquistas e Leis na interface da contemporaneidade da pessoa 
surda 
 
Apresentação da aula. 
 
Nesta aula serão vistas as conquistas que as pessoas com deficiência 
alcançaram dentro do processo de inclusão dos surdos. A diferença entre surdo 
e pessoa com deficiência, qual é a realidade do surdo e o objetivo da luta da 
comunidade. 
 
2. Movimentos sociais das Pessoas com Deficiência 
 
 Quando o surdo começou a conquistar alguns espaços sociais, como na 
escola, ainda era considerado um indivíduo deficiente. As lutas pelos direitos de 
igualdade e acessibilidade da pessoa com deficiência também apoiaram o 
espaço de conquistas das pessoas surdas. Portanto, não se pode desconsiderar 
os ganhos das lutas dessa classe social. 
 Sendo assim, o processo de inclusão iniciou com a luta pelos direitos 
humanos, que tinha intrínseco o desejo pela liberdade e autonomia de todos os 
cidadãos, inclusive pessoas com deficiência. 
O movimento social pelos direitos humanos tomou força na década de 
1970 e proporcionou visibilidade à pessoa com deficiência, tudo em meio ao 
conflituoso período vivenciado no Brasil em que enfrentava a dura realidade da 
ditadura militar instaurada de 1964 até 1985. 
Até esse período termos como defeituoso, inválido, incapacitado, aleijado 
ainda eram utilizados. As pessoas com deficiência eram tuteladas pela família 
ou instituições, pessoas ainda sem voz e sem autonomia. Eram pessoas que 
viviam à margem da sociedade escondidas e desprezadas pelo Estado. As lutas 
 
16 
 
pela visibilidade cidadã desse grupo na época, iniciaram um processo de 
criticidade social e educativa. 
Os movimentos sociais passaram a lutar pelo exercício pleno cidadão e 
político das pessoas com deficiência, idealizando a autonomia e participação 
deles nas decisões e discussões sobre si. Além disso, iniciou-se o 
reconhecimento da especificidade de cada deficiência. 
No dia 9 de dezembro de 1975, a Assembleia Geral da Organização das 
Nações Unidas (ONU) proclamou a Declaração sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência, visando conscientizar vários países sobre o assunto. 
Na década de 1980, junto ao movimento de luta pelos direitos humanos, 
surge o conceito de sociedade inclusiva, sendo oficializado pela ONU, em 1981, 
com o objetivo de conquistar uma sociedade em que as pessoas são tratadas 
iguais e com os mesmos direitos, independentemente de sua diferença, 
eliminando todas as formas de discriminação. 
Saeta (1999), em seu artigo sobre Contexto Social e Deficiência, aponta 
que os debates sobre inclusão social, a partir da década de 1970, trouxeram 
avanços significativos principalmente em relação à formação de conceitos e pré-
conceitos. Sabe-se que ainda há muito a ser melhorado quando se trata da 
concepção do outro. Sabe-se que até a década de 1970, os estudos 
relacionados à pessoa com deficiência eram unicamente clínicos. 
Os movimentos da pessoa com deficiência nos anos 70 e 80 acarretaram 
em novas discussões voltadas para o indivíduo, cidadão e pessoa com direitos, 
o que leva principalmente à discussão do acesso à educação. 
Após a movimentação dos anos 70 e 80 de luta pelo reconhecimento dos 
direitos da pessoa surda e da pessoa com deficiência, especialmente no 
movimento do Nada de nós sem nós, na década de 1990, depois disso, a 
declaração de Salamanca causou grande impacto na área de educação a partir 
do ano de 1994. 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
2.1 A Declaração de Salamanca 
 
Fonte: http://www.federacaodown.org.br/portal/images/coringas/educacao_coringa_04.jpg 
 
Como forma de reparação da exclusão vivenciada pelas pessoas com 
deficiência durante séculos, nos dias 7 a 10 de junho de 1994, representantes 
de 88 governos e 25 organizações internacionais realizaram a Conferência sobre 
Educação Especial, na Espanha, na cidade de Salamanca, em busca de da 
inclusão no sistema de ensino regular para aqueles com necessidades 
educacionais específicas. 
 O Congresso baseou-se nas Normas das Nações Unidas sobre a 
Igualdade de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência declaradas um 
ano antes, em 1993. Essas declarações tratavam de assegurar a inclusão das 
pessoas com deficiências no sistema de educação. 
 A Declaração de Salamanca, a partir do direito fundamental de toda 
criança à educação considerando as características, habilidades, interesses e 
formas de aprendizagemespecíficas para cada indivíduo, demanda aos 
governos: 
Conceder a maior prioridade através das medidas de política e através 
das medidas orçamentais, ao desenvolvimento dos respectivos 
sistemas educativos, de modo a que possam incluir todas as crianças, 
independentemente das diferenças ou dificuldades individuais; Adoptar 
como matéria de lei ou como política o princípio da educação inclusiva, 
admitindo todas as crianças nas escolas regulares, a não ser que haja 
razões que obriguem a proceder de outro modo (UNESCO, 1994). 
 
 O direito à educação já estava previsto nos Princípios Fundamentais da 
Constituição Federal de 1988, no Art. 6º do Capítulo II: “São direitos sociais a 
educação [...] na forma desta Constituição”, sendo garantia fundamental no Art. 
5º que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
 
18 
 
garantindo-se [...] a inviolabilidade do direito [...] à igualdade”, aplicando-se, 
portanto, a todos os cidadãos. 
 Dessa forma, a Declaração de Salamanca, em forma mundial, reafirma o 
direito à educação, promovendo políticas públicas que visam as pessoas com 
deficiência inseridas na educação como qualquer outro cidadão. 
 
2.2 Legislação Escolar 
 
 A Declaração de Salamanca solicitou ao governo brasileiro formas de 
inclusão da pessoa com deficiência nas escolas sendo em forma de políticas 
públicas ou leis. 
 Em 1996 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de nº 
9.394 em que assegura o ensino regular a crianças portadoras de necessidades 
educativas especiais - especiais ao MEC era a orientação ao ensino diferencial 
conforme as necessidades educativas do aluno. 
 Assim, a intenção de educação inclusiva começou a ser promovida nas 
escolas, possibilitando maiores oportunidades de formação humana e 
profissional às pessoas com deficiência. 
 Com as pessoas com deficiência inseridas nas escolas, os surdos 
também foram contemplados, mas a questão surda não se trata de nenhum 
comprometimento físico ou intelectual, trata-se de reconhecimento linguístico. 
As escolas fizeram adaptações arquitetônicas para tornar a escola acessível, 
mas o aspecto linguístico comunicacional ainda era apercebido. 
 A Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, 
promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e 
a Cultura (Unesco), na cidade de Barcelona, Espanha, em junho de 1996, 
desenvolveu a Declaração Universal dos Direitos Linguísticos. 
 Quanto ao Ensino, na Seção II, a Declaração Universal dos Direitos 
Linguísticos defende que a educação deve sempre fortalecer a diversidade 
linguística e cultural entre diferentes comunidades linguísticas e defende o direito 
da presença de sua língua em qualquer nível de ensino, assim como professores 
com formação adequada e aquisição do conhecimento a partir de uma 
metodologia adequada. 
 
19 
 
A Declaração afirma o direito de que cada comunidade linguística aprenda 
sobre as mais variadas manifestações culturais, históricas e de literatura de sua 
própria cultura e de outras que tenha interesse. Ainda apresenta o direito do 
aprendizado da língua escrita como instrumento de comunicação com as demais 
comunidades linguísticas. 
 
2.3 Lei de Libras 
 
https://www.wreducacional.com.br/img_cursos/prod/img_610x320/educacao/libras-lingua-
brasileira-de-sinais.jpg 
 
A década de 1990 apresentou avanços no acesso escolar das pessoas 
com deficiência, mas não se mostrou suficiente no atendimento da demanda 
linguística. Assim, a comunidade surda fortaleceu sua luta pelo reconhecimento 
linguístico e acesso comunicacional nas diversas áreas sociais. 
 Em 24 de abril de 2002, a comunidade surda conquistou o 
reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais - Libras com a promulgação 
da Lei nº 10.436, conhecida como a Lei de Libras. Essa lei reconhece a língua 
de sinais brasileira como forma de comunicação das comunidades de pessoas 
surdas no Brasil e garante o apoio à difusão da Libras. 
Saiba Mais 
Leia a lei de Libras nº 10.436/2002 em sua íntegra pelo link: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm
 
20 
 
Em 2005, a Lei de Libras foi regulamentada pelo Decreto nº 5.626, que 
detalha ações e estratégias para a efetivação da lei, além de conceituar pessoa 
surda. Algumas estratégias tratam da formação de professores e instrutores de 
Libras, meios para difusão da língua, formação de tradutores intérpretes de 
Libras/Português e a inserção da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura. 
Saiba Mais 
Segue o link para leitura na íntegra do Decreto 5.626/2005: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/ 
decreto/d5626.htm 
 
 
O Decreto garante professores com conhecimento linguístico para 
educação do surdo em Libras como L1 (primeira língua) e para ensino da língua 
portuguesa como L2 (segunda língua). Nessa forma, o surdo é reconhecido 
como um cidadão bilíngue no Brasil, com direito ao aprendizado das diversas 
áreas em Libras e ao aprendizado da língua oral majoritária do país na sua forma 
escrita, além do direito a formas de avaliação que considerem a língua 
portuguesa como segunda língua. 
Saiba Mais 
Faça a leitura da nota técnica 05/2011 – MEC/SECADI/GAB 
que trata da Implementação da Educação Bilíngue pelo 
link:https://inclusaoja.com.br/2011/06/02/implementacao-da-
educacao-bilingue-nota-tecnica 052011-mecsecadigab/ 
 
O decreto do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005 de 25 de 
junho de 2014, estabelece como uma de suas metas a garantia da oferta de 
educação bilíngue para surdos, tendo a Libras como primeira língua. Ainda que 
a proposta inicial do movimento não tenha sido completamente aceita, trata-se 
de mais uma conquista da comunidade surda. A proposta de “educação bilíngue” 
tinha o objetivo de criação de escolas bilíngues para surdos, mas a garantia 
proporcionada pelo Estado foi da obrigação de intérpretes em salas de aula com 
surdos, portanto atualmente constrói-se um novo projeto com o nome de “escola 
bilíngue”, clareando a primeira proposta da educação bilíngue. 
 
21 
 
 Em 2015, conquistou-se a Lei de Acessibilidade nº 13.146 que também 
tratou sobre a educação bilíngue para surdos, requerendo do Poder Público, no 
Art. 28, a implementação de “educação bilíngue, em Libras como primeira língua 
e na modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas 
e classes bilíngues e em escolas inclusivas”, além da oferta do ensino de Libras 
e da atuação de Intérpretes Tradutores de Libras em todo nível educacional. 
 A comunidade contou muito com as conquistas da pessoa com deficiência 
para acesso ao sistema educacional. Todas as conquistas na educação de 
surdos no Brasil proporcionaram visibilidade da comunidade surda que 
posteriormente teve um retrocesso educacional de mais de um século com o 
impacto do Congresso de Milão de 1880. 
Antes viviam na marginalidade, porém hoje a comunidade conta com a 
presença de surdos universitários, mestres e doutores. O número de 
profissionais surdos formados ainda é pequeno, o reconhecimento social da 
língua de sinais ainda não é tão extenso e as leis ainda são muito recentes, e as 
conquistas devem ser valorizadas, para continuidade de uma luta pela educação 
ideal ao cidadão surdo. 
 
Resumo da aula 
 
 Do retrocesso às conquistas; às leis que apoiam a inclusão da pessoa 
surda na sociedade, sabe-se que outrora as oportunidades não existiam, porém 
hoje as chances de seguir a vida acadêmica são muito maiores, ainda que a 
comunidade enfrente muitas adversidades. 
Atividade de Aprendizagem 
Mesmo que as leis que atendem as Pessoas com Deficiência 
tenham sido importantes para a visibilidade do surdo. Explique 
em no máximo 10 linhas, por que o surdo participa da 
comunidade surda e não da comunidade da pessoa com 
deficiência?22 
 
Aula 3 - Aspectos conceituais na educação no atendimento à Pessoa 
Surda 
 
Apresentação da aula 
 
 Nesta aula serão vistas as terminologias específicas da área da surdez e 
o conceito de inclusão. 
 
3. Terminologias corretas 
 
Ao falarmos de educação, devemos nos preocupar também com o pleno 
entendimento das terminologias corretas para atendimento do indivíduo surdo. 
Primeiramente, por mais óbvio que pareça, tenhamos claro que surdo é 
aquele que não escuta. Ponto. É uma sentença engraçada, mas ao mesmo 
tempo necessária. 
As pessoas focam ainda no conceito, errôneo, de que o surdo é aquele 
indivíduo que não fala. Ainda nesse sentido, quando colocamos o surdo como 
um ser sem fala, trazemos gravemente uma carga preconceituosa: a fala do 
usuário de língua de sinais é feita com as mãos, fala não é apenas vocal ou 
sonora. É um absurdo colocar um ser surdo como um ser sem fala. 
O termo surdo-mudo é errado! É importante no meio educativo deixarmos 
clara essa sentença, como princípio de quebra do senso comum de que surdo é 
também mudo. 
O surdo não é mudo por dois motivos: seu aparelho fonador não 
tem nenhuma alteração. Os surdos não são oralizados, pois ela 
se dá na reprodução daquilo que é ouvido. A sinalização é feita 
por uma língua de sinais, portanto, também é fala. Não se pode 
colocar o surdo como um ser sem voz. A sua forma de expressão 
não é vocal, mas isso não faz com que se torne um sujeito sem 
poder decisório ou crítico, apenas o faz naturalmente uma 
pessoa com língua sinalizada. 
 
Outra questão importante é a diferença entre pessoa surda e pessoa com 
deficiência auditiva. O termo deficiente auditivo não se adequa na perspectiva 
da própria comunidade, pois seu conceito refere-se à visão clínica. 
 
23 
 
A visão clínica atribui ao surdo a intenção de cura e tentativa de 
normalização, como se o ser humano tivesse um padrão anatômico. Não há 
espaço para o déficit auditivo. Essa perspectiva médica não reconhece o surdo 
como pessoa com potencial de desenvolvimento pleno com a língua de sinais. A 
busca é pela cura. 
 
Fonte: Elaborado pelo autor (2018) 
 
O termo surdo, além de mais correto, abrange toda uma questão cultural 
e linguística. Ser surdo refere-se a uma identidade e o faz partícipe de uma 
minoria linguística que luta pelo reconhecimento de sua cultura. 
Na perspectiva socioeducacional, caracteriza-se surdo aquele que utiliza 
a língua de sinais como primeira língua (L1). Deficiente auditivo (DA) é aquele 
indivíduo que não reconhece a língua de sinais como sua língua natural, portanto 
utiliza uma língua oral. 
A luta da comunidade surda assemelha-se às lutas de outras minorias 
sociolinguísticas, como, por exemplo, a luta das tribos indígenas brasileiras. Elas 
buscam a valorização cultural que as representam e o reconhecimento de suas 
línguas naturais. Nesse sentido, lutam e vão contra a obrigatoriedade do 
aprendizado da língua portuguesa como sua L1. 
Considerando isso, os surdos não se enquadram como pessoas com 
deficiência (PcD). Eles simplesmente precisam fazer valer o direito de utilizar sua 
língua em qualquer âmbito social, ou seja, trata-se de uma questão linguística e 
não de acessibilidade. 
Sendo assim, a língua de sinais não é acessibilidade e tão menos uma 
simples forma de comunicação. Da mesma forma pode-se colocar o profissional 
tradutor intérprete de Libras/Português. O intérprete é mediador de duas línguas, 
 
24 
 
e não acessibilidade para o surdo. Um tradutor de português para inglês ou do 
francês para o alemão é considerado acessibilidade? Não. Ele é mediador de 
línguas, assim como o intérprete de Libras. 
 
3.1 Conceito de inclusão 
 
Fonte:https://i2.wp.com/www.araraquara.sp.gov.br/wpcontent/uploads/2017/06/inclus%
C3%A3o-social.png?fit=1200%2C567 
 
 
O direito de acesso a todos os cidadãos na educação é um princípio 
fundamental da Constituição Federal de 1988. E então de que forma isso é feito? 
Não sendo suficiente, em 2015 foi promulgada a Lei de Inclusão da 
Pessoa com Deficiência nº 13.146 em 06 de julho de 2015, que, no Art. 3º, 
considera a comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre 
outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a 
visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação 
tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a 
linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz 
digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de 
comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações. 
A inserção da Língua Brasileira de Sinais nessa Lei de Inclusão 
possibilitou a ampliação na contratação de tradutores intérpretes de Libras nas 
escolas brasileiras. Foi sem dúvida mais uma conquista da comunidade surda e 
uma resposta à luta de anos pela educação bilíngue, ainda que não atendendo 
toda a proposta da comunidade. 
 
25 
 
Incluir trata-se de permitir o acesso de todos independente de suas 
diferenças. Nesse sentido, vale uma discussão: a escola é obrigada em lei a 
acolher todos os alunos sem discriminação. Não é permitido o impedimento de 
matrícula de qualquer aluno. O problema é que o governo obriga, mas não 
fornece recurso para o preparo dos profissionais da educação. 
O verdadeiro sentido de incluir se faz ao se considerar as particularidades 
de cada aluno. Portanto, não basta que todos os alunos tenham acesso à mesma 
aula. É necessário que a aula seja planejada de forma que atenda a 
especificidade de cada um. As metodologias pedagógicas devem ser 
apropriadas para cada aluno. 
A partir do momento em que o aluno é inserido na sala de aula, mas não 
existe nenhuma preocupação com a apreensão do conteúdo e da socialização 
daquele aluno na escola, então a inclusão não está sendo efetivada. 
O que acontece na realidade, por falta de verba, falta de tempo, falta de 
aprimoramento intelectual e formação de qualidade é a desconsideração das 
diferenças. Machado (2008) contextualizando o processo de inclusão 
educacional envolvido em um sistema político capitalista, afirma: 
 
Dentro dessa política, ela é economicamente barata, já que um mesmo 
professor pode atender, sem capacitação, a trinta alunos ou mais que, 
no final das contas, não terão mesmo muitas perspectivas de ascensão 
social ante a sociedade competitiva em que estão colocados. (2008, 
p.44). 
 
A inclusão educacional do país tem utilizado de um discurso manipulado 
e distorcido. As escolas que aceitam a matrícula do aluno com alguma 
necessidade educacional específica, acomodam-se e educam da forma que 
podem. No caso de um processo judicial pela falta de qualidade na educação de 
um aluno com deficiência, a causa é perdida, afinal a escola “fez o seu papel” ao 
recepcionar o aluno. 
O direito de “ser incluído” é claro, mas de que forma essas leis são 
interpretadas?! O que as escolas fazem para a inclusão do aluno surdo?! Fica 
aqui a sugestão para um momento de reflexão. 
O conceito de inclusão para o renomado Romeu Sassaki, pesquisador na 
área de inclusão social: 
 
 
26 
 
É o processo pelo qual os sistemas sociais comuns são tornados 
adequados para toda a diversidade humana - composta por etnia, raça, 
língua, nacionalidade, gênero, orientação sexual, deficiência e outros 
atributos - com a participação das próprias pessoas na formulação e 
execução dessas adequações. (SASSAKI, 2009). 
 
Segundo o pesquisador, existem seis dimensões de acessibilidade que 
norteiam a realização da inclusão, projetadas a partir da perspectiva do Desenho 
Universal que se trata de mudanças metodológicas e estruturais para o acesso 
de todas as pessoas, sejam pessoas com ou sem deficiência: 
 
 Arquitetônica; 
 Comunicacional; 
 Metodológica; 
 Instrumental; 
 Programática; 
 Atitudinal. 
 
 A noção de acessibilidade apresentada por Sassakifoi inclusive utilizada 
como base para a formulação da Lei de Inclusão nº 13.146, em 06 de julho de 
2015. 
Saiba Mais 
Leia na integra a lei Brasileira de inclusão da pessoa com 
deficiência: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27 
 
 
É importante diferenciar os conceitos de igualdade e equidade. 
Igualdade é quando a se garante a mesma oportunidade para 
todos. 
Equidade é quando oportunizamos o acesso à mesma coisa a 
partir das diferenças de cada um. 
Tratar todos os alunos de uma escola da mesma maneira, não 
oportuniza aprendizado. Cada aluno aprende diferente e é 
fundamental que o educador conheça a especificidade 
(habilidades e dificuldades) de cada aluno, pensando na 
mediação do conhecimento a partir de uma perspectiva que 
possibilite a todos os alunos a apreensão do conteúdo. 
 
 
 
Conceito inclusão, aproveitar guia acessibilidade: 
 
A inclusão é um processo no qual criam-se condições e possibilidades 
para que as pessoas com deficiência possam ser realmente incluídas 
na sociedade. Ou seja, a inclusão se dá no respeito às diferenças e às 
necessidades de cada um e não na tentativa de igualar todos 
institucionalmente. (SKILIAR, 2001). 
 
Além disso, a inclusão não se faz suficiente para uma criança em fase de 
alfabetização e letramento. De que forma será possível a aquisição da língua de 
sinais, sua L1, em ambiente prioritariamente de língua oral?! 
Ainda nesse contexto, temos mais uma afirmação que destaca a 
necessidade de Escola Bilíngue com metodologia e ambiente linguístico 
apropriado para o surdo. 
 
3.2 Contexto educacional brasileiro para a efetivação da inclusão 
 
https://socializandocmm.files.wordpress.com/2017/06/equidade-igualdade-1490789046533_ 
615x300.png?w=615 
 
28 
 
A situação educacional do Brasil não tem sido suficiente para o 
desenvolvimento pleno do país. Nessa realidade, não são feitos muitos esforços 
para atender adequadamente a pessoa surda na educação. 
A conjuntura econômica do país também causa grandes impactos no 
sistema educacional brasileiro, portanto é importante considerá-la. A economia 
do país é controlada pelo neoliberalismo que precede o Estado Mínimo e a livre 
atuação do mercado. Significa, então, que o Estado se submete às condições do 
mercado. Os direitos são garantidos pelo Estado, que é coordenado pelo 
mercado. 
Nesse sentido, o professor Paulo Machado coloca em seu livro A Política 
Educacional de Integração/Inclusão: um olhar do egresso surdo a seguinte 
análise sobre essa relação: 
 
A política de desobrigação do Estado com a educação pública, gratuita 
e de qualidade vem excluindo cada vez mais crianças, jovens e adultos 
da escola, e aprofundando desigualdades sociais. Se é esse o 
horizonte que se apresenta, então até que ponto faz sentido o processo 
de “inclusão”?.(MACHADO, 2008, p.44). 
 
A luta pela inclusão educacional é também uma forma de luta pelo objetivo 
constitucional que visa a diminuição da desigualdade social fortemente 
instaurada no Brasil. 
Atualmente o país perpassa por uma crise socioeconômica. O governo 
então tomou atitudes para ajuste, causando forte impacto na área da educação, 
visto que foi um dos setores visados pelo corte de gastos. 
A Proposta de Emenda Constitucional, (PEC) 241/2016, aprovada e 
tornada Emenda Constitucional nº 95/2016, institui o Novo Regime Fiscal que 
estabelece o congelamento de gastos públicos nas áreas da Saúde e Educação 
no período de 20 anos. 
A perspectiva de inclusão para os surdos nesse contexto, certamente não 
é promissor. Muitas leis terão que surgir para que a comunidade surda consiga 
conquistar a Escola Bilíngue nesse período. Então, dentro das escolas a 
consciência é necessária. Trata-se aqui a necessidade de disseminação da 
Libras, do olhar para o aluno surdo e da consciência linguística dentro das 
escolas brasileiras. 
 
29 
 
Esse tipo de consciência educacional envolvendo o aluno surdo, não 
requer tantos recursos financeiros, mas requer, com certeza, muitos esforços de 
todos os envolvidos na educação, seja por parte dos governantes, dos 
educadores, dos familiares e dos próprios estudantes. 
 
Resumo da aula 
 
 Nesta aula, viu-se que a luta das pessoas com deficiência influenciou nas 
conquistas das pessoas surdas. Foi exposto também a questão da terminologia 
correta, bem como as dificuldades ainda perpassadas na educação por causa 
do investimento público para comunidade surda. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Em no máximo 10 linhas, comente de que forma o senso 
comum em relação as terminologias e as crenças errôneas 
sobre o indivíduo surdo podem impactar no seu acesso à 
educação. 
 
 
 
 
Aula 4 - Educação Bilíngue 
 
Apresentação da aula 4 
 
Nesta aula será visto o conceito de bilinguismo e como se aplica a 
comunidade surda brasileira com enfoque na escola bilíngue que se trata da luta 
contemporânea, envolvendo políticas educacionais e linguísticas presentes na 
realidade dos surdos Brasileiros. 
 
 
 
 
 
 
30 
 
4.1. Bilinguismo 
 
Fonte:http://www.surdosol.com.br/wp-content/uploads/2015/10/escola-bilingue.jpg 
 
Bilíngue é o termo utilizado para uma pessoa que fala duas línguas. É um 
significado amplo. Bilinguismo pode ocorrer em uma aquisição materna, 
aquisição no processo de imigração ou pelo ensino formal. Portanto, os níveis 
de fluência também variam: uma pode sobressair a outra ou não. 
Existem diversos conceitos de bilinguismo entre os pesquisadores. 
Segundo Megale (2005) : 
Ser bilíngue é “ser capaz de falar duas línguas igualmente bem porque as 
utiliza desde muito jovem [...] o controle nativo de duas línguas” (BLOOMFIELD, 
1935 apud HARMERS e BLANC, 2000, p. 6 apud MEGALE, 2005, p. 27). 
Nessa perspectiva, o bilinguismo existe ao falar duas línguas com fluência 
materna caracterizando-se qualquer uma das duas como primeira língua de 
produção linguística. 
Outra linha teórica apresenta o bilinguismo conforme a visão de 
Macnamara, que tem como indivíduo bilíngue aquele que “possui competência 
mínima em uma das quatro habilidades linguísticas (falar, ouvir, ler e escrever) 
em uma língua diferente de sua língua nativa” (MACNAMARA, 1967, apud 
HARMERS e BLANC, 2000, p.6 apud MEGALE, 2005, p. 28). Nesse caso, 
possuir qualquer habilidade em outra língua, que não a sua materna, já se 
caracteriza como bilíngue, seja na modalidade escrita, falada ou de 
compreensão. 
 
31 
 
Uma vez compreendida a questão bilíngue, podemos iniciar o processo 
de entendimento do bilinguismo para o indivíduo surdo. 
 
4.2. Bilinguismo surdo 
 
 Para o surdo, o bilinguismo vai além da concepção acima. Para o surdo, 
ser bilíngue é uma necessidade. Não se trata de escolha. O português deve ser 
aprendido para pleno exercício de cidadania em uma sociedade 
majoritariamente de língua oral, tratando-se do Brasil. 
 
A Lei de Libras n. 10.436 de 2002 prevê em Parágrafo Único 
que: “A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir 
a modalidade escrita da língua portuguesa.” 
 
 
A língua portuguesa para o indivíduo surdo não se revela com uma 
aquisição materna e natural. A necessidade de aprendizagem é para que o surdo 
seja um cidadão ainda mais funcional na sociedade brasileira regida pelo 
português. Apesar do reconhecimento legal da língua de sinais no Brasil, 
aspectos oficiais são reconhecidos exclusivamente na língua portuguesa. 
 Assim, a Libras não é apresentada como suficiente, tornando-se uma 
língua dependente do português. Sua autonomia linguística ainda não é 
reconhecida em âmbitos que privilegiem status social da língua. 
 Para Refletir 
Nas aulas anteriores, viu-se sobre a historicidade das 
conquistas e retrocessos da educação de surdos. Sobre a Lei 
de Libras que foi um marco na história dos surdos brasileiros, 
reflita: qual seria a realidade vivenciada no reconhecimento 
social da língua de sinaisse não fosse o impedimento legal 
em que a libras não pode substituir a língua portuguesa na 
modalidade escrita? Afinal, por que não pode? E até onde 
deve-se concordar com essa imposição? 
 
 
 
 
32 
 
A intenção dessa reflexão não é diminuir a importância da conquista que 
a Lei de Libras apresenta. A Lei foi um avanço inegável para a educação de 
surdos. Além do reconhecimento linguístico, garante a inclusão da Libras no 
sistema educacional brasileiro. 
Encontramos, portanto, uma contraditoriedade na Lei de Libras. Esse 
processo é decorrente da conjuntura sociopolítica do país, presente em espaços 
reivindicatórios do movimento popular, na luta por direitos sociais e de cidadania. 
Almeida (2011) explica a contrariedade das políticas públicas no contexto de 
uma sociedade capitalista: 
 
As políticas públicas respondem a um novo patamar de relacionamento 
do Estado com a sociedade civil, em que se combinam 
contraditoriamente elementos de uma lógica globalizante das relações 
econômicas com a perspectiva de valorização da dimensão política. 
[…] aponta para uma diversidade conceitual e política dos processos 
de descentralização política e participação social, tornando as políticas 
públicas campos que além de condensarem uma intensa disputa 
ideológica expressam enormes dificuldades de concretização dos 
direitos sociais. (2011, p. 66). 
 
 O objetivo em destacar a contraditoriedade da Lei de Libras é para que 
não haja confirmadade com as conquistas já apresentadas. Precisamos ficar 
atentos ao todo, desde os aspectos legais aos aspectos práticos vivenciados 
pela minoria surda. É com o entendimento do todo que podemos ampliar nosso 
arcabouço teórico para maior criticidade na vinculação à luta da comunidade. 
Apesar da lei colocar, de certa forma, uma língua sobre a outra, ela 
reconhece a Libras como língua! Libras, na lei, é um sistema linguístico, de 
modalidade visual-motora, da comunidade surda brasileira em que se trata da 
sua forma de expressão e comunicação. 
Esse reconhecimento legal de língua auxilia para que não se abram mais 
margens socioeducacionais de manutenção da ideia de que surdo não tem 
língua. Além disso, ela assegura que a educação mais apropriada e que 
possibilitará o desenvolvimento do surdo é aquela que acontece a partir da língua 
de sinais. 
O Art. 2ª, da Lei 10.436, de 2002, também responsabiliza o governo pela 
difusão da Libras: 
 
 
33 
 
Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas 
concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de 
apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como 
meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das 
comunidades surdas do Brasil. (BRASIL, 2008). 
 
Sendo assim, com o entendimento da importância do bilinguismo ao 
cidadão brasileiro surdo, pode-se compreender com propriedade o que significa 
a educação bilíngue. 
 
4.3. Educação bilíngue para o surdo 
 
 A educação bilíngue, como visto anteriormente é uma luta presente na 
comunidade surda brasileira desde a década de 1990. Várias conquistas foram 
contempladas, como: 
 
 Decreto nº 5.626 de 2005 que regulamenta a Lei 10.436 de 2005; 
 Lei nº 13.146 de 2015. 
 
 No Art. 22, do Capítulo VI do Decreto nº 5.626/2005 que apresenta sobre 
a Garantia do Direito à Educação das Pessoas Surdas ou com Deficiência 
Auditiva, assegura a inclusão de alunos surdos: ”As instituições federais de 
ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos 
surdos ou com deficiência auditiva”. O artigo, portanto, assegura a educação 
inclusiva, ainda que coloque a educação bilíngue como forma de inclusão: 
 
São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas 
em que a libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam 
línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo 
educativo. Artigo 1º. (BRASIL, 2008). 
 
 O conceito apresentado pelo decreto de educação bilíngue considera as 
duas línguas, mas ainda não reconhece a Libras como primeira língua do surdo. 
 O Decreto também assegura o intérprete de Libras em sala de aula, 
tratando-se de um direito importante conquistado pela comunidade surda. 
 
 
 
34 
 
As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, 
devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e 
intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros 
espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que 
viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 
23. (BRASIL, 2008). 
 
 Sendo assim, a forma inclusiva de educação de surdos é garantida pelo 
decreto. O aspecto bilíngue da educação ainda não havia sido discorrido e 
assegurado legalmente em 2005, consequentemente, a luta dos surdos por 
melhorias na educação não parou. 
Recentemente, o Art. 28, da Lei de Acessibilidade de 2015 nº 13.146, 
prevê a responsabilidade do Estado na “oferta de educação bilíngue, em Libras 
como primeira língua e na modalidade escrita da língua portuguesa como 
segunda língua, em escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas”. 
Apesar de recente, destaca-se que a Lei ainda não é uma realidade 
prática no país. Na prática, o “bilinguismo” existente nas escolas é a inserção do 
serviço de tradução em sala de aula, quando se tem. 
Ainda assim, todas essas conquistas são importantes para a inserção dos 
surdos, antes marginalizados, no sistema de educação. A visibilidade ao 
indivíduo surdo teve um avanço considerável, proporcionando mais espaços de 
atuação do cidadão surdo a partir da educação. 
 
4.4 Identidade do movimento surdo 
 
 Os surdos brasileiros são legalmente bilíngues e tem a Libras como língua 
natural. Barreiras de comunicação vivenciadas cotidianamente pelos surdos 
formam uma identidade de luta que se assemelha às lutas de outros grupos de 
minoria linguística. 
A comunidade surda constitui um grupo de minoria linguística de 
composição cultural visual. Ao assumir a luta pelo reconhecimento linguístico 
minoritário, a comunidade surda atrela-se a comunidades indígenas, por 
exemplo, que também buscam pelo direito e reconhecimento linguístico. A luta 
indígena é fortemente cultural, resistindo à imposição da língua portuguesa, 
buscando a sobrevivência das línguas indígenas intrínsecas à cultura indígena. 
 
35 
 
O direito pela manutenção da cultura indígena na educação foi 
conquistado na Constituição Federal de 1988: 
 
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, 
de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores 
culturais e artísticos, nacionais e regionais. [...] § 2o O ensino 
fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, 
assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas 
línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. 
 
 Portanto, a Educação Bilíngue existe no Brasil. Uma conquista legítima 
depois de séculos de luta. Os indígenas brasileiros têm como direito o uso de 
suas línguas maternas dentro da educação. 
 
[...] a prática do bilinguismo e da interculturalidade é o que confere 
tratamento diferenciado à escola indígena em relação às demais 
escolas de ensino. (FERNANDES e MOREIRA, 2014, p. 63). 
 
 Isso nos desperta esperança. Toda revolta pelo retrocesso vivenciado 
durante e após o Congresso de Milão de 1988 pode ser superada. 
 Na espera pela realidade da Escola Bilíngue para surdos, o Brasil requer 
avanços nos estudos sociolinguísticos, no contexto bilíngue e da língua de sinais. 
As pesquisas nessa área ainda são poucas. 
Em nosso país, todas essas questões da educação bilíngue precisam ser 
pensadas e muitas pesquisas terão de ser feitas, embora haja necessidade de 
mudanças urgentes na educação de surdos; mas, é necessário, antes de 
qualquer mudança, fazer cursos de treinamento para mudar a ideologia dos 
profissionais que trabalham nessa área. (FELIPE,1989, p. 110). 
 O artigo de Felipe foi escrito no final da década de 80, mas a necessidade 
de aprofundamento das pesquisas ainda é real para que o movimento surdo 
tome mais força pela conquista de uma Escola Bilíngue. Nesse sentido, é 
necessário entender a proposta da comunidade ao solicitar a Escola Bilíngue. 
 
4.5 Movimento surdo na perspectiva educacional 
 
Um movimento social é formado por um grupo de indivíduos, conceituado 
como minoria, que reconhecem entre si uma mesma causa, então, unem-se e 
lutam para alcançar a conquista de um direito. 
 
36 
 
O exercício da prática cotidiana nos movimentos sociais leva ao acúmulo 
de experiência, onde tem importância a vivência no passado e no presente para 
a construção do futuro. Experiências vivenciadas no passado, como opressão, 
negação de direitos, etc., são resgatadas no imaginário coletivo do grupo de 
forma a fornecer elementos para a leitura do presente. A fusão do passado e do 
presente transforma-se em força social coletiva organizada (Thompson, 1979). 
 Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como 
proibido e inacessível. Aprende-se a decodificar o porquê das restrições e 
proibições. Aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, quando 
expressas em lugares e ocasiões adequadas (GOHN, 1992). 
O movimento surdo atualmente, considerando todas as conquistas 
históricas que impactaram a educação de surdos, toma uma frente pelo direito à 
Escola Bilíngue. 
A proposta da luta por uma Escola Bilíngue não foge do conceito inicial 
da luta pela Educação Bilíngue. Para a comunidade surda, as leis e decretos 
conquistados ainda não se mostraram suficientes. 
O objetivo da luta é pelo mais eficaz desenvolvimento do aluno surdo. A 
Escola Bilíngue proporciona um campo linguístico e cultural apropriado para o 
aprendizado e produção do conhecimento do aluno: 
 
Na perspectiva histórico-cultural da aprendizagem, o sujeito é um ser 
constituído nas inter-relações que estabelece com membros mais 
experiente da sua cultura. Nesse processo, ele se desenvolve nas 
interações que estabelece com outros sujeitos. Para que essas 
relações e interações aconteçam, entretanto, é necessário que os 
sujeitos envolvidos ocupem um mesmo território linguístico. (BASSO e 
MASUTTI, 2009, p. 32-33). 
 
Um ambiente linguístico adequado é essencial para aquisição do 
conhecimento, a partir da troca de experiência entre seus pares, compartilhando 
a mesma cultura a suas identidades multifacetadas. Isso também é importante 
para o aprendizado da leitura e escrita a partir da relação do significado a uma 
função social relevante para si e para seu meio. 
Agora tente imaginar como se dará esse processo de letramento para 
uma criança em uma escola inclusiva, sendo a maioria dos seus colegas 
ouvintes e também seu professor? 
 
37 
 
 A proposta da Escola Bilíngue é a fundação de escolas com ambiente 
linguístico primordialmente em Libras e ensino e uso do português como L2 
(segunda língua), desde a Educação Infantil até a primeira fase do Ensino 
Fundamental. 
 Assim, a comunidade surda, com todos seus participantes, surdos e 
ouvintes que lutam por essa conquista, acreditam que será possível inserir 
alunos letrados na escola, junto com o serviço de tradução em Libras, 
proporcionando melhor acompanhamento do conhecimento escolar, além de 
conhecimento de mundo e maior difusão da Libras no país. O mais importante é 
o reconhecimento social e familiar. As famílias poderão ter um paralelo à 
perspectiva clínica da surdez, a partir da percepção do desenvolvimento pleno 
do surdo. 
 
Resumo da aula 
 
Nesta aula viu-se a importância da efetivação das leis bem como escola 
bilíngue para a efetivação da formação integral da pessoa surda. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Os surdos brasileiros são legalmente bilíngues e têm a Libras 
como língua natural. A comunidade surda constitui-se de um 
grupo de minoria linguística de composição cultural visual”. A 
partir dessa afirmativa, discorra em no máximo 10 linhas o papel 
da escola no atendimento do surdo que apropria-se de duas 
línguas brasileiras. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Resumo da disciplina 
 
Nesta disciplina viu-se o contexto histórico da pessoa surda: suas 
conquistas e retrocessos. A importância da escola bilíngue para formação 
integral do aluno surdo e as terminologias usadas na comunidade surda 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações 
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Subsecretaria de Edições Técnicas, 2008. 
 
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qualidade. Declaração de Salamanca e Enquadramento da Acção: na área 
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