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1 ASPECTOS CLÍNICOS, LABORATORIAIS E EPIDEMIOLÓGICOS DA DOENÇA DE CHAGAS 1. Definição de Doença de Chagas É uma doença infecciosa causada por um parasita encontrado nas fezes do inseto barbeiro. Esse agravo é comum em locais onde o inseto triatomíneo (barbeiro) é encontrado, como América do Sul e América Central: ele é o responsável pela transmissão do protozoário Trypanosoma cruzi ao homem. A doença pode ser leve, causando inchaço e febre, ou pode durar muito tempo. Se não for tratada, pode causar insuficiência cardíaca congestiva. O tratamento para a doença de Chagas se concentra no uso de medicamentos que matam o parasita e no controle dos sintomas. 2. Trypanosoma cruzi Como pode ser observado na imagem, trata-se de um protozoário cuja família dispõe de seres flagelados. 2 2.1. Morfologia O Trypanosoma cruzi pode se apresentar em diferentes formas evolutivas: as dimensões, morfologia e organização variam de acordo com a fase evolutiva e o hospedeiro (vertebrado ou invertebrado). o Epimastigota: cinetoplasto situado próximo ao núcleo, bolsa flagelar estreita, com abertura lateral. O flagelo mantém-se colado à superfície por uma prega na bainha (membrana ondulante) e, depois, se torna livre. o Tripomastigota: forma longa, o cinetoplasto e a bolsa flagelar estão localizados na porção posterior ao núcleo. O flagelo percorre toda a extensão do corpo celular, permanecendo aderido pela membrana ondulante. 3 CINETOPLASTO: organela singular, localizada próximo à base do flagelo, rica em DNA. o Amastigota: contorno circular, pouco citoplasma, núcleo grande, redondo e excêntrico. Cinetoplasto bem visível e flagelo reduzido ao segmento intracelular. A depender do indivíduo infectado pelo Trypanossoma, ele pode assumir ainda mais duas formas. ▪ Em mamíferos: 4 ▪ Em invertebrados: 2.2. Ciclo Biológico PARTE 1: 5 PARTE 2: A transialidase de Trypanosoma cruzi (TcTS) é uma enzima de superfície que catalisa a transferência de resíduos do monossacarídeo ácido siálico de sialogliconjugados do hospedeiro para proteínas mucinas amplamente distribuídas na superfície do parasita. 6 7 3. Mecanismos de transmissão FONTE VIAS Vetor Triatomíneos, fezes/urina infectadas (principal meio de transmissão) Transfusão Prevalente em áreas urbanas (tratamento com violeta gensiana elimina o parasito do sangue) Congênita Ocorre durante qualquer estágio da infecção. Pode resultar parto prematuro, aborto ou óbito do feto Acidental Ingestão de alimento contendo tripomastigotas metacíclicos. Acidentes em laboratório 4. Triatomíneos • Importância epidemiológica: espécies que colonizam o domicílio e peri-domicílio humano; • Condições para transformar espécie potencial em efetivo transmissor da Doença de Chagas: – Adaptação ao ambiente humano; – Alto grau de antropofilia; – Curto espaço de tempo entre hematofagia e defecação; – Larga distribuição geográfica; • No Brasil (ordem de importância): T. infestans > P. megistus > T. brasiliensis > T. pseudomaculata > T. sordida 8 9 5.As fases da doença A Doença de Chagas pode ter várias manifestações: •Fase Aguda: – Infecção ativa; – 90% assintomática (exceção: crianças); • Fase Crônica Assintomática (50 a 70%) – Forma Indeterminada; • Fase Crônica Sintomática: – Forma Cardíaca (13%); – Forma Digestiva (10%); 10 5.1. Fase aguda ▪ Duração: 1 a 2 meses; ▪ Inflamação no local da picada: sinal de Romaña (ocular), chagoma de inoculação (cutâneo); ▪ Sintomas incluem: febre, linfadenopatia, hepatosplenomegalia; ▪ Prognóstico: idade do paciente, tipo e intensidade das manifestações; 5.2. Fase Indeterminada ▪ Duração: 10 a 30 anos; ▪ Forma mais freqüente da doença; ▪ Exames clínicos normais; ▪ Presença de infecção: - IgG anti-T. cruzi; - Ninhos de amastigotas nas fibras musculares do coração; Persistência por toda a vida ou evolução para forma clínica determinada. 5.3. Fase crônica ▪ Após fase indeterminada: presença de sintomatologia; – Sistema cardiocirculatório (forma cardíaca); – Sistema digestivo (forma digestiva); – Ambos!!; – Intensa reativação do processo inflamatório; – Destruição do tecido; 11 5.4. Fase cardíaca ▪ Principal manifestação mórbida (80% casos); ▪ Durante fase indeterminada: lento e persistente processo inflamatório – destruição cumulativa de fibras miocárdicas; ▪ Diminuição da massa muscular: substituição por áreas de fibrose (reparação do tecido danificado), destruição do SNA, presença de infiltrado inflamatório. ⊚ arritmia, ocorrência de trombos (embolia), formação e propagação do estímulo é alterada; ⊚ mecanismo de compensação cardíaca torna-se insuficiente ➔ insuficiência cardíaca crônica ➔ cardiomegalia Infiltrado de amastigotas nas fibras miocárdicas. 5.5. Forma digestiva Brasil e Argentina: presença de megas ➔ alterações morfológicas e funcionais importantes; – Parasitismo das camadas musculares ⇨ destruição de células nervosas do sistema nervoso entérico ⇨ alteração da motilidade do esôfago e cólon (principalmente) ⇨ musculatura lisa torna-se hiper reativa ⇨ contração involuntária e hipertrofia; 12 Sintomas: Dificuldade de alimentação, regurgitação, constipação ➔ desnutrição NORMAL CHAGÁSICO 5.6. Outras formas • Doença de Chagas Transfusional: fase aguda semelhante a observada na infecção natural, evolução para forma indeterminada ou forma sintomática; • Doença de Chagas Congênita: transmissão pode ocorrer em qualquer momento da gravidez, criança pode evoluir bem ou apresentar sintomas; • Doença de Chagas em Imunossuprimidos- envolvimento do SNC: presença de áreas de necrose, múltiplas lesões no cérebro e parasitos abundantes no interior de macrófagos, células gliais e neurônios; 6. Diagnósticos 6.1. Clínico 13 • Origem do paciente; • Sinal de Romaña ou Chagoma de Inoculação; • Febre irregular, adenopatia, hepatosplenomegalia; • Taquicardia, edema generalizado ou edema dos pés ➔fase aguda; • Alterações cardíacas e insuficiência cardíaca: ➔Fase crônica; É necessário confirmar com métodos laboratoriais. 6.2. Laboratorial Fase Aguda (⇧ parasitemia). Faz-se uma pesquisa direta (recomendado): • Exame de sangue a fresco; • Técnicas de concentração para aumento da sensibilidade; • Gota espessa; Fase aguda * se parasito não é encontrado, realiza-se exames sorológicos: • Detecção de Ac da classe IgM ⇨ RIFI; ⇨ ELISA com conjugados anti-IgM; Fase Crônica (⇩ parasitemia). Realiza-se uma pesquisa indireta: • Xenodiagnóstico Hemocultura – sangue do paciente é cultivado em meio LIT para a detecção dos parasitas; • Meios sensibilidade quando realizado em paralelo com o xenodiagnóstico; • Inoculação em Animais; • PCR (detecção de DNA do parasita, em geral, kDNA); Xenodiagnóstico ➢ Alimentação de triatomíneos com sangue de paciente, durante 30 minutos, na pele diretamente ou utilizando sangue não coagulado e membrana; ➢ Parasitas presentes se multiplicam no intestino do inseto; ➢ 30 a 60 dias após o repasto sanguíneo, as fezes dos barbeiros são examinadas para a procura de tripomastigotas; 14 7. Tratamento Terapêutica parcialmente ineficaz, pois as drogas são mais eficientes quando aplicadas em esquemas terapêuticos prolongados. • Benzonidazol (“rochagan”): atua sobre os tripomastigotas sanguíneos – Recomendação: ✓ casos agudos (transmissão natural, transfusão sanguínea ou acidental, re- agudização por imunossupressão e prevenção em transplante de órgãos); ✓ Casoscrônicos: pouco eficiente – recomendado em crianças ou portadores da forma indeterminada, formas cardíaca e digestiva leves (paralisação da evolução); 8. Profilaxia o Melhoria das habitações rurais; o Combate ao triatomíneo: ➔ Inseticidas ➔Organoclorados (não biodegradável, não é mais utilizado); ➔ Piretróides: alto poder inseticida, degradação rápida no solo, longo efeito residual (> 12 meses), baixa toxicidade – importados; ➔ Organofosforados: raramente utilizados, pequeno poder residual, altamente tóxico para o homem; o Controle do doador de sangue: seleção dos doadores por testes sorológicos nos bancos de sangue, além de uso de violeta gensiana – quimioprofilaxia da transmissão do T. cruzi; o Controle da transmissão congênita Recém-nascido de mãe com sorologia positiva deve ser examinado (IgM anti T-cruzi) e tratado; Hoje a doença está praticamente eliminada do país após a implantação do Programa de Controle da Doença de Chagas no Brasil! 15
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