Buscar

Aula 7 - História Medieval Ocidental

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 32 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

História Medieval 
Ocidental
Danielle O. Mércuri
AULA 7
Cristandade e 
espiritualidade I
DISCUTINDO OS CONCEITOS
Embora o conceito de cristandade (comunidade cristã) seja
empregado nas obras de teologia muitas vezes como sinônimo de
cristianismo, devemos nos atentar ao fato de esses termos terem
significados distintos.
Se o termo cristianismo diz respeito a um sistema religioso, a
cristandade medieval, por outro lado, refere-se a um sistema de
poder e legitimação da Igreja e do Estado em uma certa sociedade e
cultura.
Como ressalta o medievalista brasileiro Francisco José Silva Gomes:
“Na história do cristianismo, o sistema iniciou-se por ocasião da Pax
Ecclesiae em 313 e deu início à primeira modalidade de Cristandade
dita ‘constantiniana’” (2002, p. 221). Ou seja, a Cristandade
medieval ocidental, segundo esse historiador, deu continuidade à
Cristandade antiga de um império que, a partir de Constantino, se
converteu ao cristianismo.
Nesse sentido, como o historiador Paul Veyne chama à atenção no
livro Como o nosso mundo se tornou cristão, Constantino teve um
papel significativo, uma vez que, embora não tenha proibido as
práticas pagãs, demonstrou publicamente o seu agradecimento ao
Deus cristão pelas conquistas alcançadas, associando-as à sua
conversão e tornando-se, assim, exemplo para os seus súditos.
Ao se tornar a religião oficial do Império Romano, em 380, com o
decreto do imperador Teodósio, o cristianismo passou a
desempenhar, nas palavras de Francisco José Silva Gomes, um novo
papel.
De acordo com Gomes, o cristianismo passou a desempenhar a
função de sacralizar o poder das autoridades, sobretudo daquela
representada pela figura do imperador. De religião perseguida, a
Igreja Católica alcançou o lugar de representante de uma fé
triunfante. Por isso, beneficiou-se das estruturas imperiais ao
estabelecer sua rede de dioceses (regiões administradas por um
eclesiástico) nas cidades romanas. E, mesmo após o
desmantelamento do Império Ocidental, conseguiu manter sua rede
de dioceses onde ficavam essas antigas cidades.
Contudo, foi no século IX, com o papa João VIII (eleito em 872 e
atuante até a sua morte, em 882), que a noção de cristandade passou
a ser utilizada para designar o conjunto de territórios cristãos do
ocidente europeu. Nessa altura, como grande parte dos reinos
germânicos havia se convertido ao cristianismo, esta se tornara a
religião do ocidente. Para a construção dessa identidade coletiva
ocidental, segundo Hilário Franco Júnior, certa oposição aos
muçulmanos e bizantinos, respectivamente nos séculos VIII e IX,
parece ter sido fundamental.
ALGUMAS RESSALVAS
Heterogeneidade
Apesar de o termo cristandade sugerir unidade no sentido identitário
e religioso e leve a crer que os membros que comungam dessa
religião seguem os mesmos códigos, não houve homogeneidade na
cristandade. Ademais, cristandade e Europa não são termos
correspondentes, já que a expressão Europa aparece, no sentido de
continente, apenas no século XV. É importante frisar, igualmente,
que a apropriação do cristianismo no Ocidente foi um processo
longo e mais lento em alguns territórios.
Por exemplo, esse processo foi mais lento em algumas porções,
como no caso do Norte e Leste europeus, onde o cristianismo só
alcançou maior número de adeptos a partir do ano mil.
Sem contar que se deu de maneira sincrética, isto é, a partir da
mescla de referências religiosas locais e, até mesmo, em meio a
divergências sobre o entendimento do cristianismo, tal como ocorreu
com a doutrina ariana assimilada pelos vândalos, ostrogodos e
visigodos.
Espiritualidade
Outro elemento importante que chamou à atenção do medievalista
André Vauchez e merece ser destacado é que a Idade Média não
conheceu o termo espiritualidade. Embora essa palavra apareça em
alguns textos do século XII, ela não apresenta um conteúdo
propriamente religioso, dado que designa apenas o que é espiritual e,
portanto, independente da matéria. A espiritualidade, como uma
expressão moderna elaborada no século XIX, diz respeito à vida
interior e implica no conhecimento necessário para alcançar a
ascese, ou seja, o contato com Deus.
De acordo com Vauchez:
“a espiritualidade não é mais considerada um sistema que
codifica as regras da vida interior, mas uma relação entre certos
aspectos do mistério cristão, particularmente valorizados em uma
época dada, e práticas (ritos, preces, devoções) privilegiadas em
comparação a outras práticas possíveis no interior da vida cristã”
(1995, p. 8).
Ao pensarmos em Idade Média, segundo
Vauchez, é importante que consideremos a
espiritualidade dos clérigos e religiosos
elaborada em textos escritos, mas também a dos
populares expressa nos gestos, cantos e
imagens.,
http://bit.ly/2CmKGre
MUDANÇAS ECONÔMICAS, SOCIAIS E 
RELIGIOSAS
Como nosso alvo é compreender a relação entre os homens medievais e
Deus, analisaremos algumas mudanças significativas na cristandade entre os
séculos XI e XIII.
Tal período foi, de acordo com a análise de Georges Duby, marcado pelo
crescimento demográfico e pela difusão de novas técnicas que
impulsionaram a agricultura e o artesanato. Embora o mundo continuasse
rural, os espaços urbanos renasceram e, junto deles, surgiram novos grupos
sociais, tais como: burgueses, mercadores, armadores, notários, etc.
Cidades como Veneza e Gênova despontaram como locais onde os
negociantes realizavam comércio com o Mediterrâneo e, até mesmo, com o
Oriente.
Nos espaços rurais, camponeses comercializavam grãos, ovos, aves,
cerâmica, peças têxteis, e buscavam, nas cidades, peixes, cerveja e
cera.
Para o historiador Vauchez, essa expansão econômica vivida pelo
Ocidente, no século XII, também apresentou consequências
negativas, uma vez que aprofundou ainda mais a distância que
separava ricos e pobres. Se na sociedade rural tradicional todos se
conheciam e eram solidários aos grupos que pertenciam, o uso do
dinheiro e o crescimento da vida urbana dissolveu esses laços,
conduzindo os mais pobres ao anonimato e à indigência.
Essas mudanças permitiram também maior mobilidade das pessoas.
Senhores partiram para as Cruzadas, camponeses ganharam porções
de terras, clérigos procuraram escolas e mestres, abades e bispos
foram convocados para concílios em Roma. Tais deslocamentos
ajudaram a afirmar a ideia de cristandade, fortalecendo essa
identidade através do contato com outros povos e culturas.
Não podemos nos esquecer de que a facilidade em relação à
mobilidade também estava relacionada aos movimentos religiosos
de contenção à violência: a Paz de Deus e a Trégua de Deus. Como
salienta Hilário Franco Júnior, a Igreja promoveu, no século X, o
movimento Paz de Deus. Os cavaleiros foram obrigados a jurar que
respeitariam os espaços das igrejas, os membros do clero e as
pessoas mais humildes. Agindo dessa forma, a Igreja se colocava
como protetora dos mais fracos.
Conquanto esse movimento tenha sido mais efetivo na região da
Aquitânia, foram criados diversos interditos nos sínodos e concílios.
Por exemplo, o concílio de Charroux havia proibido a invasão e
pilhagem das igrejas, o roubo do gado dos camponeses e a agressão
aos clérigos que estivessem desarmados.
Foram proibidos igualmente: a destruição dos moinhos e vinhas,
bem como o ataque às pessoas que estivessem indo à igreja ou vindo
dela.
De acordo com Hilário Franco Júnior, sem conseguir pacificar a
sociedade cristã ocidental e na tentativa de estabelecer novos
mecanismos de controle sobre a elite laica, a Igreja criou, no século
XI, a Trégua de Deus. Nas palavras do historiador:
“Esta proibia o uso de armas alguns dias por semana, a quinta-
feira associada ao Perdão, a sexta-feira à Paixão, o sábado à
Aleluia, o domingo à Ressurreição. Também não se podia lutar
em certos momentos do calendário litúrgico, caso do Advento,
Quaresma, Páscoa e Pentecostes.
Como a ideia básica da Paz e da Trégua de Deus era a
preservaçãoda ordem religiosa, social e política desejada por
Deus, entende-se que a partir de fins do século XI ela tenha
derivado para a ideia de Guerra Santa, que procurava impor
aquela ordem dentro (Cruzada contra hereges) e fora (Cruzada
contra muçulmanos) da Cristandade. Assim, estaria garantida a
ordem terrena, cujo ideal é refletir o melhor possível a ordem
celeste. Por ter aproximado os dois mundos, o clero considerava-
se autorizado a exercer seu domínio sobre este, enquanto se
aguarda a chegada do outro” (2001, p. 100).
A despeito desses movimentos em prol da paz, as tensões entre o
poder laico e o eclesiástico continuaram. Com a finalidade de
delimitar melhor as esferas de atuação de laicos e clérigos, foram
empreendidas reformas religiosas no século XI. Conduzidas pelo
papa Gregório VII, entre 1073 e 1085, mas não restritas à atuação
deste clérigo, elas receberam o nome de “Reforma gregoriana”.
Tinha-se em vista a reestruturação da sociedade cristã sob a
condução da instituição eclesial.
Gregório VII escreveu o programa de sua reforma em um
documento conhecido como Dictatus Papae (1075), no qual deixou
nítida sua consideração a respeito da supremacia do poder espiritual,
representado pelo pontificado, em relação ao poder temporal,
personificado pelos reis, príncipes e imperadores. Conforme alguns
trechos desse documento traduzidos por José Manuel Nieto Soria,
Gregório assegurava que “a Igreja romana foi fundada unicamente
por Deus. Que só o romano pontífice pode, em justiça, ser chamado
de universal” (1996, p. 66).
Segundo Baschet, os eixos principais dessa reforma foram:
1) Restaurar a hierarquia eclesiástica, liberando-a do controle dos
laicos e impedindo que estes interviessem nos negócios da Igreja.
2) Reforçar a separação entre laicos e clérigos.
A figura do imperador foi visada por essa reforma, pois, conforme
os modelos imperais bizantino e carolíngio, os imperadores
poderiam intervir nas questões eclesiásticas, indicando até mesmo os
papas. A reforma buscou, assim, se opor justamente a essa
ampliação do poder temporal através do reforço ao poder
eclesiástico.
A propósito do reforço ao poder eclesiástico, o medievalista
espanhol José Manuel Nieto Soria destaca:
“Do ponto de vista da função da direção do Pontificado sobre a
Igreja, um ponto essencial do programa gregoriano foi a
centralização do governo eclesiástico, quer dizer, o
reconhecimento de que a ação do Pontificado se estendia ao
último rincão da Cristandade, não havendo igreja ou monastério
alheio a essa função de direção dos papas” (1996, p. 20).
A oposição entre Henrique IV (governante do Sacro Império
Romano Germânico - complexo territorial constituído pelos reinos
da Boêmia, Alemanha, Borgonha, Itália e outros territórios; herdeiro
do título atribuído a Carlos Magno em 800) e o que fora estabelecido
por Gregório VII no Dictatus Papae gerou vários conflitos,
conhecidos como Querela das Investiduras.
Papas e imperadores disputavam pela supremacia moral e política na
cristandade.
Para tentar sanar os conflitos entre o pontificado e o poder político,
foi estabelecida, em 1122, a Concordata de Worms, entre o papa
Calisto II e o imperador Henrique V. Por meio desse acordo,
afirmou-se a distinção entre a investidura espiritual e temporal para
os bispos alemães. Isto é, foi reconhecido ao imperador o direito de
investir bispos com autoridade secular em seus territórios, mas não
com autoridade sagrada.
Entre os séculos XI e XII, através dessas mudanças, a Igreja buscou
reforçar a sacralização do clero, no sentido de interditar os laicos de
toda intervenção nos domínios reservados à igreja.
Desse modo, foram reforçadas as distinções do clero através do
celibato e a busca pela pureza moral. Esse movimento, conforme
destaca Baschet, ocorreu por meio de uma intensa separação e
oposição entre: o espiritual e o material, entre o celibato e o
casamento, entre os clérigos e os laicos.
REFLEXÕES FINAIS
Assim podemos fazer algumas considerações sobre essa primeira
parte da aula. De acordo com o historiador Francisco José da Silva
Gomes:
“A Cristandade medieval ocidental é, em certa medida, a
continuadora da Cristandade antiga, a do “Império Cristão” dos
séculos IV e V. No contexto medieval, acentuou-se muito mais a
situação de unanimidade e conformismo, obtida por um consenso
social homogeneizador e normatizador, consenso este favorecido
pela constituição progressiva de uma vasta rede paroquial e
clerical. As instituições todas tendiam, pois, a apresentar um
caráter sacral e oficialmente cristão” (2002, p. 221).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASCHET, Jérôme. A civilização Feudal. Do ano mil à colonização da
América. São Paulo: Globo, 2006.
DUBY, G. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa:
Estampa, 1982.
FRANCO JÚNIOR, H. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São
Paulo: Brasiliense, 1986.
GOMES, Francisco José da Silva. A Cristandade Medieval entre o mito e a
utopia. Topoi. Rio de Janeiro, 2002, p. 221-231.
___________________________. Cristandade e cristianismo antigo.
Phoînix, Rio de Janeiro, 6, p. 178-196, 2000.
VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média ocidental: (séculos
VIII a XIII). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.
QUER SABER MAIS?
Nesta parte, você poderá estudar um pouco mais sobre as referências 
usadas em nossa aula.
• A cristandade medieval 
• http://www.scielo.br/pdf/topoi/v3n5/2237-101X-topoi-3-05-00221.pdf
• Reforma gregoriana https://brasilescola.uol.com.br/historiag/reforma-
gregoriana.htm
• A Paz de Deus https://www.revistas.ufg.br/historia/article/view/23577
http://www.scielo.br/pdf/topoi/v3n5/2237-101X-topoi-3-05-00221.pdf
https://brasilescola.uol.com.br/historiag/reforma-gregoriana.htm
https://www.revistas.ufg.br/historia/article/view/23577
CONHECENDO ALGUNS TERMOS
Concílio
É uma reunião entre autoridades eclesiásticas, presidida pelo papa,
para deliberar e discutir a propósito de questões de fé, doutrina,
costumes e questões pastorais.
SUGESTÃO DE VÍDEOS
• A Igreja na Idade Média. Entrevista com a Profa. Dra. Marcella 
Lopes Guimarães (UFPR). Café Teológico - 2017.
https://www.youtube.com/watch?v=m-wWwPPxeWs
• A Igreja na Idade Média. Documentário.
https://www.youtube.com/watch?v=k0czLtU7qCk&t=234s
https://www.youtube.com/watch?v=m-wWwPPxeWs
https://www.youtube.com/watch?v=k0czLtU7qCk&t=234s

Continue navegando