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1170.000373@cienciasmedicasmg.edu.br DOENÇAS DESMIELINIZANTES DO SNC O cérebro possui um emaranhado de neurônios e axônios que vão formando as redes neurais, passando pela medula, formando os nervos que levam a informação para os alvos somáticos e viscerais (tanto aferente, quanto eferente). A atividade elétrica precisa de velocidade e essa deve ser mantida desde a origem, para que isso ocorra há no axônio as bainhas de mielina que formam um conjunto de nós por onde a atividade elétrica "salta" e vai caminhando numa velocidade intensa. Quando há destruição da bainha de mielina, há um prejuízo da atividade elétrica → déficit neurológico. São doenças inflamatórias que tem como alvo a bainha de mielina, a lesão desmielinizante por si só já traz sintomas (fase inflamatória) mas a lesão se torna mais persistente com desmielinização, dependendo do grau da agressão pode levar a uma lesão/degeneração axonal já que o axônio está mais exposta a alterações iônicas. Dentre as doenças desmielinizantes, são: ● Encefalomielite disseminada aguda (ADEM) ● Neuromielite óptica (NMO) ● Esclerose múltipla (EM) Encefalomielite disseminada aguda (ADEM) Paralelo do Guillain-Barret Reação imunológica cruzada em pacientes com provável predisposição O paciente é acometido por algum patógeno que vai estimular resposta imunológica pegando alguma proteína/epitopo do microorganismo para se criar um anticorpo que tem alvo aquela estrutura mas se o alvo tiver uma morfologia semelhante a mielina, há uma reação cruzada levando ao ataque da mielina Na maioria das vezes pós-infeccioso Encefalopatia (alteração do estado mental) com déficits multifocais (não são lesões únicas, são disseminadas) Profundo acometimento (incluindo tronco encefálico e núcleos da base) Mais comum em crianças Normalmente monofásico (se o patógeno for destruido, a doença cessa) Diferença das outras doenças: quadro intensamente agudo Problema: lesões muito difusas e intensas Edemas subcorticais bilaterais, na imagem B há agravamento do córtex, C tem hiperintensidade no tronco encefálico e núcleos da base Precisa de iniciar o tratamento o mais precoce possível ● Diagnóstico diferencial Meningoencefalite infecciosa ! (prostração, rebaixamento do sensório, hemiparesia e babinski) Tem que analisar o liquor e gram (bacteriana) mas se for viral é difícil analisar porque demanda RM e nem sempre o paciente está em condições de realizá-lo e o líquor do ADEM é semelhante (aumento de linfócitos e proteínas) → tratar ambos juntos Neurosarcoidose Doença autoimune multissistêmica, na maioria das vezes também há o acometimento pulmonar → TC de tórax pode contribuir com o diagnóstico Imagem cerebral: granulomas perivasculares Vasculite Associadas a doenças reumatológicas (colagenoses) → é importante investigar lúpus eritematoso sistêmico + Sjogren + Behçet (lesões aftosas em mucosas) Vasculites 1º → oclusão? Trombose? Processo infiltrativo na parede do vaso? Leucoencefalopatia multifocal progressiva Praticamente exclusiva de imunossuprimidos Processo desmielinizantes progressivo e refratário a tratamentos causado pelo vírus JC (comum mas não causa lesão no imunocompetente) Neuro-Behçet Esclerose múltipla Confunde com ADEM recorrente Neuromielite óptica ● Tratamento 1º escolha: Pulsoterapia com metilprednisolona (corticóide para pulsoterapia: 1g EV por 5 dias) - não usar no guillain-barré Imunoglobulina humana Plasmaférese Obs.: se houver dúvida no diagnóstico diferencial com encefalite herpética, iniciar aciclovir empírico até descartar esse diagnóstico (medicamento seguro para jovens mas tomar cuidado com idosos por ser nefrotóxico) Neuromielite óptica (NMO) - doença de Devic Era vista como uma forma grave da EM A recuperação funcional dos pacientes era pior e tinham lesões mais direcionadas para nervo óptico e medula e menos para o encéfalo Lesão desmielinizante e axonal autoimune severa, com foco predominante em nervos ópticos e medula (mas podendo acometer todo SNC) Difere da EM pela evolução clínica e pela presença de anticorpo anti aquaporina 4 (anti-NMO) Doença recorrente, principalmente nos 5 primeiros anos: necessário tratamento preventivo 10x mais frequente em mulheres Surtos mais agressivos e com menor chance de recuperação quando comparado com EM Componente axonal → maior risco de sequelas Imagem: muita agressão na medula, difusa e extensa pegando vários níveis vertebrais, pega a medula como um todo (mielite transversa). B: quiasma óptico muito visível. C e D: lesões ao redor do 3º ventrículo. E: lesões extensas bilaterais em áreas subcorticais Obs.: o nervo óptico não é SNC mas a mielina do nervo óptico é semelhante a mielina do SNC (todas as doenças podem acometer o nervo óptico, exceto o Guillain-Barré) ● Diagnóstico diferencial Esclerose múltipla Anticorpo ! Colagenoses (LES, Sjogren, Behçet) Pode haver doenças autoimunes coexistentes (pode ter NMO + Sjogren) ADEM Caso o início for mais agressivo Tumores Efeito de massa das lesões medulares ● Tratamento dos surtos Pulsoterapia com metilprednisolona Plasmaférese (pesquisas apontam que associada a pulsoterapia pode trazer benefícios) Imunoglobulina ● Tratamento profilático Anticorpos monoclonal (eculizumabe - resultado muito bom mas não está autorizado no SUS apenas para hemoglobinúria paroxística noturna, rituximabe) Outros imunossupressores (azatioprina, micofenolato) Esclerose múltipla (EM) Principal doença inflamatória desmielinizante autoimune do SNC Mais frequente Traz maior impacto socioeconômico Amplo espectro com formas leves e grande variação de sintomatologia e evolução Não tem marcador O paciente que apresenta surtos inflamatórios desmielinizantes recorrentes sem causa explicável Critério de McDonald 2017 É uma síndrome → variação dos pacientes → estigma muito grande (aparece os casos dramáticos na mídia) Fase inicial inflamatória devido a linfócitos auto reativos. Evolução para degeneração crônica devido a ativação microglial Ao longo da evolução da doença sem tratamento preventivo levaria a atrofia do volume cerebral → mudou os tratamentos para além de prevenir os surtos, prevenir a perda neuronal ● Apresentações da doença 1. EM remitente/recorrente Grande maioria dos pacientes Pacientes com surtos → geram piora funcional → mesmo sem o tratamento o surto passa (o que foi só a inflamação há melhora mas o que houve de lesão axonal há sequela sendo cumulativos em cada surto por isso deve-se evitar os surtos) 2. EM progressiva primária Doença sem surtos e remissões Processo constante e progressivo sem platô e com piora contínua Pior prognóstico 3. EM progressiva secundária Semelhante a EM remitente/recorrente Mas em algum momento deixa de haver surtos mudando o padrão para uma síndrome linear degenerativa ● Incidência Não é tão rara quanto acham Maior incidência no hemisfério norte → exposição ao sol → ativação da vitamina D → imunidade e há uma relação de EM com hipovitaminose Maior incidência nas mulheres (2-3x) Pior prognóstico nos homens Pouco relacionado à hereditariedade ● Sintomatologia Acomete a mielina de qualquer parte do SNC → variabilidade Principais:- Alterações sensitivas de hemiface/hemicorpo Desafio: confundir com lesão por esforço, dormir em cima do braço, ansiedade se não for feito exame neurológico - Neurite óptica - Déficit motor focal - Diplopia - Distúrbio de marcha - Instabilidade postural Grande tempo até o diagnóstico já que muitas vezes os médicos banalizam os sintomas Sinal de Lhermitte: qualquer processo inflamatória cervical, pode gerar, quando se faz a flexão da cabeça na avaliação de rigidez da nuca, sensação de choque nos membros Fenômeno de Unthoff: pacientes já com diagnóstico de EM relata piora dos sintomas em situações de maior calor Imagem: placas em áreas mais susceptíveis (área pericalosa que está perpendicular ao corpo caloso) formando o padrão em chama de vela Lesão em chama de vela Lesões periventriculares Lesão medular: lesão pegando um segmento menor não sendo transversa mas parcial (diferente da NMO) Há captação de contraste → lesão aguda (o contraste mostra se há lesão ativa ou não, a cicatriz é visível no T2 e flair e o contraste é visível em T1) C: lesão posterior direita ● Síndrome clínica isolada Primeiro surto desmielinizante no SNC ou nervo óptico Déficit focal que dura mais que 24h e na RM mostra lesão desmielinizante única Não preenche critério para EM Só se pode afirmar que é EM se houve mais de 1 surto Pode ter até ADEM gerando isso Deve-se investigar outras causas Risco de evoluir para EM em 10 anos: - CIS já com lesão em RM → 60% - CIS sem lesão em RM → 20% Necessário monitorar o paciente de perto (a cada 6 meses por pelo menos 2 anos fazendo RM de neuroeixo mesmo sem sintomas para procura de novas lesões silenciosas ou a qualquer momento se sintomas) ● Critério diagnóstico de EN (Mc Donald 2017) Disseminação no tempo (DIT): surtos clínico ou na RM ao longo do tempo Disseminação no espaço (DIS): surtos em diferentes locais na RM - 2 surtos com sintomas clínicos + comprovação em ressonância de mais de 2 lesões → diagnóstico formado - 2 ou mais surtos com sintomas clínicos + 1 lesão na RM → necessário provar DIS (buscar mais uma lesão) - 1 surto + 2 lesões na RM → monitoração do paciente para verificar DIT ou estudo no líquor para busca de bandas oligoclonais (eletroforese de proteínas) *se apenas 1 das lesões capta contraste, já é comprovação da DIT já que são de idades diferentes → embasamento para tratamento preventivo Se ambas não captam ou se ambas captarem contraste não se pode afirmar a DIT - 1 sintoma clínico + 1 lesão na RM → síndrome clínica isolada → não pode começar tratamento (necessário provar DIT e DIS) Se realizar bandas oligoclonais e for positivo, provavelmente é EM por ter alta especificidade → iniciar tratamento preventivo inicial ● EDSS (expanded disability status scale) Ferramenta que qualifica a incapacidade adquirida na EM baseado em 8 sistemas funcionais Mede as sequelas do paciente Quanto mais déficits → maior a nota Quanto mais precoce o tratamento → menor o EDSS → melhor o prognóstico EM não significa incapacidade funcional mas deve-se triar bem o presente ● Tratamento do surto Pulsoterapia com metilprednisolona (1g por dia por 5 dias) Raramente imunoglobulina ou plasmaférese ● Tratamento preventivo Beta-interferona Acetato de glatirâmer Teriflunomida Dimetil furamato Fingolimode Natalizumabe - anticorpo monoclonal (reduz degeneração e preserva o encéfalo) Ocrelizumato (EV a cada 6 meses) - anticorpo monoclonal Claridrina (ainda não tem no Brasil) Vários estão em pesquisa (muito investimento em neuroimunologia) Células tronco? → casos graves e refratários (deve-se respeitar o fluxograma já que ainda é um tratamento em pesquisa) ● Tratamento adjuvante Vitamina D: papel importante na modulação imunológica Existe tratamentos "milagrosos" tratamentos, inclusive com vit. D Atividade física Influencia também o sistema imunológico e o lobo límbico Suporte psicológico Gestão do estresse O emocional é um dos fatores preditores de prognóstico Qualidade de vida
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