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Modelo de exame psíquico e de súmula psicopatológica

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MODELO DE EXAME PSÍQUICO E DE 
SÚMULAPSICOPATOLÓGICA 
 
Exame psíquico 
 O paciente foi examinado por mim dentro de uma 
enfermaria de psiquiatria de um hospital no Rio de Janeiro, 
na qual ele estava internado. Encontrei-o em seu leito. 
Embora deitado, estava acordado e não apresentava sinais de 
sonolência. Suas roupas estavam sujas, a barba estava por 
fazer e ele exalava um odor desagradável. Havia dias que ele 
não saía de seu quarto e se mantinha sempre isolado, não 
demonstrando interesse em interagir com os outros 
pacientes da enfermaria. 
 Apresentei-me como médico e lhe disse que 
gostaria de conversar com ele. Então ele falou que eu não 
parecia ser médico e pediu para olhar meu crachá e minha 
carteira do conselho de medicina. Em seguida, perguntou-me 
se eu havia sido enviado pelos seus vizinhos, os quais, 
segundo ele, tinham colocado veneno em sua comida. 
 Para dar início à entrevista, indaguei o seu nome. Ele 
me disse que eu já sabia o nome dele, assim como tudo sobre 
ele, pois todas as pessoas conseguiam ler seus pensamentos. 
Após alguma insistência de minha parte, informou seus dados 
de identificação, os quais correspondiam fielmente às 
informações encontradas em seu prontuário e em seus 
documentos. 
 Sua voz tinha um volume relativamente baixo, o que 
fazia com que, em alguns momentos, fosse difícil entender o 
que dizia. No entanto, quando se entendia o que ele dizia, 
suas frases pareciam estar organizadas e ficava claro o que 
ele queria dizer, mesmo que algumas vezes parecesse 
absurdo. Além disso, seu tom de voz variava muito pouco, o 
que tornava sua fala bastante monótona. Em determinado 
momento, parou de falar subitamente, no meio de uma frase, 
de forma incompreensível. Minutos depois, quando voltou a 
falar, referiu que seu pensamento tinha sumido, havia sido 
retirado de sua mente por um dos seus vizinhos, que usava 
magia negra contra ele. Mais adiante, de repente virou-se 
para o lado e falou como se estivesse se dirigindo a alguém 
que, na verdade, não estava ali presente: “não vou fazer o 
que vocês estão mandando! ” Em seguida, tapou os ouvidos 
com as mãos. 
 Sua mímica facial pouco se alterava enquanto ele 
falava, não importando se estava relatando um fato positivo 
ou negativo. Quando gesticulava, seus movimentos com os 
braços e mãos eram afetados, pouco naturais. Ele parecia 
estar bem distante emocionalmente, expressando muito 
pouco suas emoções durante toda a entrevista. A única 
exceção foi num rápido momento em que riu, 
paradoxalmente quando contava que tinha medo de que 
seus vizinhos o matassem. A minha presença em seu quarto 
não o alegrava, mas também não o incomodava. Embora 
muito frequentemente passassem pessoas diante da porta 
de seu quarto, que estava aberta, quase nunca ele desviava 
seu olhar para aquela direção. 
 Indaguei a razão de ele estar tão sujo. Ele respondeu 
que queria tomar um banho, mas não conseguia fazer isso, 
não conseguindo explicar porque não conseguia. 
 Perguntado sobre o motivo de sua internação, 
respondeu que ali não era um hospital, mas, na verdade, uma 
prisão federal, que ficava no Pará. Negou que tivesse 
qualquer doença e acreditava que, naquele momento, estava 
sendo interrogado por um policial, e não examinado por um 
médico. O paciente sabia em que mês e ano estávamos, mas 
desconhecia a data e o dia da semana. 
 Mais para o final da entrevista, avisei ao paciente 
que iria fazer alguns pequenos testes com ele. Primeiro, pedi 
a ele que repetisse para mim três palavras – “saudade”, 
“praia” e “cachorro” –, o que ele fez de imediato. Depois, 
solicitei que ele me dissesse as letras da palavra “mundo” na 
ordem inversa. Ele disse “O” e “D”, mas não conseguiu 
completar a tarefa. Em seguida, pedi a ele que falasse os 
meses do ano de trás para a frente. Ele só falou “dezembro” 
e “novembro”. Então perguntei se ele se lembrava daquelas 
três palavras, mas ele só pôde recuperar “saudade”. 
 Em outro teste, ele teria que me dizer quem era o 
presidente atual do Brasil e quais foram os que o 
antecederam. Neste ele foi muito bem, citando todos os 
presidentes, na ordem cronológica, desde 1985 até hoje. 
 Solicitei que ele me disse o significado do provérbio 
“mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Sua 
resposta foi que os pássaros gostam de voar. Perguntado 
sobre a diferença entre um erro e uma mentira, disse que 
eram a mesma coisa. 
 Citei novamente aquelas três palavras – “saudade”, 
“praia” e “cachorro” – e pedi que ele inventasse uma história 
usando-as. Todavia a sua história não teve mais do que uma 
única frase. 
 Perguntado sobre o que ele pretendia fazer quando 
saísse de lá, respondeu que iria construir uma bomba atômica 
para matar seus vizinhos e todas as pessoas más do mundo. 
 Quando eu estava indo embora, chegou uma moça 
para visitar o paciente. Perguntei quem era ela a ele, que a 
identificou como sua irmã, o que foi confirmado por ela. Ele 
disse que ela tinha vindo também na véspera, quando lhe 
trouxera uma caixa de bombons. No entanto, ela relatou que, 
desde que ele fora hospitalizado, não o havia visitado 
anteriormente. Segundo a enfermagem me informou, a moça 
era de fato a primeira visita que ele tinha recebido e ninguém 
o havia presenteado com uma caixa de bombons. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÚMULA PSICOPATOLÓGICA 
 
Aparência: descuidada 
Atitude: suspicaz 
Consciência: sem alterações 
Atenção: hipoprosexia 
Sensopercepção: alucinações auditivas 
Memória: hipomnésia de fixação, memória de evocação sem 
alterações, paramnésia 
Linguagem: hipofonia, hipoprosódia, solilóquio 
Pensamento: 
 Curso: bloqueio do pensamento 
 Forma: sem alterações 
 Conteúdo: delírio de perseguição, delírio de 
influência 
Inteligência: déficit intelectivo 
Imaginação: inibição da imaginação 
Conação: hipobulia 
Psicomotricidade: hipomimia, maneirismo 
Pragmatismo: hipopragmático 
Afetividade: 
 Humor: indiferente 
 Intensidade: embotamento afetivo 
 Modulação: rigidez afetiva 
 Conteúdo: paratimia 
Orientação alopsíquica: 
 Tempo: desorientação parcial no tempo 
 Espaço: falsa orientação no espaço 
 Outras pessoas: sem alterações 
 Situação: falsa orientação situacional 
Consciência do eu: 
 Consciência de existência do eu: sem alterações 
 Consciência da atividade do eu: roubo do 
pensamento 
 Consciência da unidade do eu: sem alterações 
 Consciência da identidade do eu: sem alterações 
 Consciência dos limites do eu: divulgação do 
pensamento 
Prospecção: planos inexequíveis 
Consciência de morbidade: ausente.

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