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Direitos Básicos do Consumidor art 6, V

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2.5. MODIFICAÇÃO E REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS DESPROPORCIONAIS
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
O CDC estabelece que todos os contratos bilaterais devem ter proporcionalidade entre o pagamento efetuado pelo consumidor (produto ou serviço) e o que, em troca, lhe é dado pelo fornecedor. É o que se chama de princípio da comutatividade.
É vedada a onerosidade excessiva nos contratos, em desfavor do consumidor:
A onerosidade excessiva (desequilíbrio das prestações) pode ocorrer nos contratos de prestação continuada:
a) no momento da formação do contrato > (lesão);
b) após a formação do contrato > (onerosidade excessiva superveniente)
Ocorrendo a onerosidade excessiva, o art. 6º, inc. V assegura ao consumidor duas possibilidades: a modificação ou a revisão do contrato.
1) MODIFICAÇÃO - das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais (LESÃO)a modificação é possível quando a desproporção acontece no momento da formação do contrato. NO CÓDIGO CIVIL = a LESÃO tem caráter subjetivo:
“Art. 157. Ocorre a LESÃO quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico;
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”.
A premente necessidade e a inexperiência são requisitos de caráter subjetivo, inerentes a pessoa do contratante.
NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR = a LESÃO tem caráter objetivo:
Art. 6º, inc. V: “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais”
– Basta apenas a “desproporção”, pois, não se exige os requisitos da “inexperiência” e da “premente necessidade”, as quais já são presumidas em face do princípio da vulnerabilidade do consumidor - art. 4º, inc. I.
vulnerabilidade = inexperiência +
premente necessidade
2) REVISÃO - quando ocorrerem fatos supervenientes à celebração do contrato que tornem as prestações vincendas excessivamente onerosas, mesmo que estes fatos sejam imprevisíveis e extraordinários.
· a revisão é possível quando a desproporção acontece após a formação do contrato.
A revisão só é possível nos contratos de execução continuada
No CDC, o princípio da REVISÃO das cláusulas contratuais abusivas não exige que os fatos supervenientes sejam inesperados, mas tão somente tornem o contrato excessivamente oneroso para o consumidor. Destarte, tem um alcance bem mais amplo do que a aplicação da teoria da imprevisão, a qual condiciona que o fato superveniente e desequilibrador não tenha sido previsível no momento do fechamento do contrato.
O CDC (ao contrário do atual CC – ver art. 478) adotou a teoria da BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO (Karl Larenz): Para a revisão ou modificação do contrato basta a onerosidade excessiva em decorrência de fato superveniente, sem a necessidade de que estes fatos sejam extraordinários ou imprevisíveis.
Nas relações de consumo não se aplica a teoria da imprevisão com o perfil delineado pelo artigo 478 do Código Civil brasileiro.
O professor Nelson Nery Jr. leciona que “pela teoria da imprevisão, somente os fatos extraordinários e imprevisíveis pelas partes por ocasião da formação do contrato é que autorizam, não a sua revisão, mas sua resolução” (Novo CC comentado e legislação processual civil extravagante em vigor, p. )
Código Civil:
“Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”
Em suma: quando ocorrer qualquer onerosidade excessiva(prestações desproporcionais), em decorrência de fato supervenientes à celebração do contrato, poderá ser feita a REVISÃO do contrato por aditivo contratual: a) administrativamente ou b) pela via judicial.
	Nelson Nery Jr. e Rosa Nery (Novo CC comentado...) ministram que na revisão judicial “o magistrado poderá integrar o contrato, criando as novas circunstâncias contratuais. Para tanto deverá pesquisar e observar a vontade das partes quando da celebração do contrato de consumo, qual a dimensão da desproporção da prestação ou da onerosidade excessiva, de forma a recolocar as partes na situação de igualdade contratual em que se devem encontrar, desde a formação até a execução completa do contrato”(princípio da conservação do contrato/ art. 51, § 2º).
QUESTÃO = MPDF/2002 = ( ) V ou F. O novo Código Civil exige os mesmos pressupostos que o Código de Defesa do Consumidor para que seja operada a revisão do contrato de trato sucessivo, em face de onerosidade excessiva para o comprador de determinado bem. f
2.5.1. DIREITO À MANUTENÇÃO DO CONTRATO
O art. 51, § 2º funciona como um complemento ao art. 6º, inc. VI. Trata-se do princípio da conservação do contrato: O Consumidor tem o direito à revisão e à posterior MANUTENÇÃO DO CONTRATO quando a modificação ou revisão não acarretar em ônus excessivo para qualquer das partes.
“Art. 51 (...) § 2º. A nulidade de uma cláusula abusiva não anula o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo para uma das partes”.
Se o fornecedor pretender revisar o contrato por motivo de onerosidade excessiva deverá se socorrer ao Código Civil
2.5.2. LEASING: QUEM DEVE SUPORTAR OS ACRÉSCIMOS DA ONEROSIDADE EXCESSIVA SUPERVENIENTE ?
A 2ª Seção do STJ dissolveu o dissídio jurisprudencial que havia entre a 3ª e a 4ª Turma com relação à onerosidade excessiva superveniente nos contratos de LEASING com cláusula de reajuste pela variação cambial (atrelado ao dólar): a onerosidade excessiva superveniente deve ser repartida equitativamente entre consumidor e fornecedor:
EMENTA: Civil. Arrendamento mercantil. Contrato com cláusula de reajuste pela variação cambial. Validade. Elevação acentuada da cotação da moeda norte-americana. Fato novo. Onerosidade excessiva ao consumidor.
Repartição do ônus. Lei n. 8.880/94, art. 6º. CDC, art. 6º, V.
1. Não é nula cláusula de contrato de arrendamento mercantil que prevê reajuste das prestações com base na variação da cotação de moeda estrangeira, eis que expressamente autorizada em norma legal específica (art. 6º da Lei n. 8.880/94).
2. Admissível, contudo a incidência da Lei n. 8.078/90, nos termos do art. 6º, V, quando verificada, em razão de fato superveniente ao pacto celebrado, consubstanciado, no caso por aumento repentino e substancialmente elevado do dólar, situação de onerosidade excessiva para o consumidor que tomou o financiamento.
3. Índice de reajuste repartido, a partir de 19.01.99 inclusive, equitativamente, pela metade, entre as partes contratantes, mantida a higidez legal da cláusula, decotado, tão somente, o excesso que tornava insuportável ao devedor o adimplemento da obrigação, evitando-se, de outro lado, a total transferência do ônus ao credor, igualmente prejudicado pelo fato econômico ocorrido e também alheio à sua vontade.
4. Recurso especial conhecido e parcialmente provido” (STJ – REsp.
473.140-SP – 2ª Seção – rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito – rel. p/ Acórdão Min. Aldir Passarinho Junior – DJU 04.08.2003, p. 217)
2.5.3. LEASING: A COBRANÇA ANTECIPADA DO VALOR RESIDUAL DESCARACTERIZA O CONTRATO DE LEASING?
O STJ revogou a antiga Súmula 263 e formou entendimento de que o fato do consumidor antecipar o pagamento das prestações restantes e quitar todo o contrato, não descaracteriza o contrato de leasing. Este é o teor da Súmula 293:
STJ:SÚMULA 293 – A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil
2.5.4. PODE HAVER REVISÃO EX OFFICIO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS ABUSIVAS?
O Superior Tribunal de Justiça tem decidido reiteradas vezes que “é inviável a revisão de ofício das cláusulas abusivas em contratos que regulem relação de consumo” (AgRg no REsp. 976.237-RS – 3ª Turma – j.
06.03.2008 – rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 17..03.2008, p. 1).
EMENTA: “Embargos de divergência. Relação de consumo. Revisão de ofício do contrato, para anular as cláusulas abusivas. Impossibilidade. Orientação da 2ª Seção. - Não é lícito ao STJ rever de ofício o contrato, para anular cláusulas consideradas abusivas com base no Art. 51, IV, do CDC” (STJ – EREsp. 702.524-RS – 2ª Seção – j.
08.03.2006 – rel. Min. Nancy Andrighi – rel. p/ Ac. Min. Humberto Gomes de
Barros, DJU 09.10.2006, p.256)
STJ: SÚMULA 381 - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.
2.5.5. A PROPOSITURA DA AÇÃO DE REVISÃO DESCARACTERIZA A MORA DO AUTOR?
O STJ firmou entendimento, através da Súmula 380, que a simples propositura de ação de revisão não descaracteriza a mora do autor em relação a todos os seus efeitos, inclusive para fins de negativação no Banco de Dados (SPC, SERASA, CADIN etc.).
Neste sentido, decidiu a Ministra Nancy Andrighi em processo sobre financiamento de um veículo. O cliente processava o banco por considerar os juros do contrato abusivos e, apesar de não pagar as parcelas do empréstimo, pedia que seu nome não entrasse em cadastros de inadimplentes. Em seu voto, a ministra afirmou que a simples estipulação de juros em mais de 12% ao ano não caracteriza abusividade e que não há elementos para suspender a inscrição nos serviços de proteção.
STJ: SÚMULA 380 - A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.

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