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História da Filosofia Antiga José Matias dos Santos Filho Igor Guedes Ramos © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Imagens Adaptadas de Shutterstock e iStock. Todos os esforços foram empregados para localizar os detentores dos direitos autorais das imagens reproduzidas neste livro; qualquer eventual omissão será corrigida em futuras edições. Conteúdo em websites Os endereços de websites listados neste livro podem ser alterados ou desativados a qualquer momento pelos seus mantenedores. Sendo assim, a Editora não se responsabiliza pelo conteúdo de terceiros. Presidência Rodrigo Galindo Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão Julia Gonçalves Vice-Presidência Acadêmica Marcos Lemos Diretoria de Produção e Responsabilidade Social Camilla Veiga 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Santos Filho, José Matias dos S237h História da filosofia antiga / José Matias dos Santos Filho, Igor Guedes Ramos. – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2020. 184 p. ISBN 978-85-522-1671-1 1. Grécia. 2. Aristóteles. 3. Dialética. I. Ramos, Igor Guedes. II. Título. CDD 109 Jorge Eduardo de Almeida CRB-8/8753 Gerência Editorial Fernanda Migliorança Editoração Gráfica e Eletrônica Renata Galdino Luana Mercurio Supervisão da Disciplina Tatiana Gomes Martins Revisão Técnica Carla Fortunato dos Santos Cirino Maysa Ferreira Rampim Tatiana Gomes Martins mailto:editora.educacional@kroton.com.br http://www.kroton.com.br/ Sumário Unidade 1 O surgimento da filosofia ............................................................................. 7 Seção 1 A gênese do pensamento filosófico na Grécia Antiga ...................................................................................... 9 Seção 2 Condições históricas para o nascimento da filosofia ...................24 Seção 3 A passagem do mito ao logos ..........................................................40 Unidade 2 Períodos da filosofia antiga ........................................................................55 Seção 1 O período cosmológico e antropológico .......................................56 Seção 2 O período sistemático ......................................................................68 Seção 3 O período helênico ...........................................................................81 Unidade 3 Dos pré-socráticos aos sofistas e Sócrates ................................................95 Seção 1 Os pré-socráticos ..............................................................................97 Seção 2 Os sofistas .......................................................................................110 Seção 3 Sócrates ...........................................................................................120 Unidade 4 Platão e Aristóteles e as escolas filosóficas helenistas ..........................133 Seção 1 Platão ...............................................................................................135 Seção 2 Aristóteles .......................................................................................147 Seção 3 As escolas filosóficas helenistas ...................................................160 Palavras do autor Caro aluno, seja bem-vindo ao estudo da disciplina de História da Filosofia Antiga.Com o estudo da origem da Filosofia, veremos que essa forma de conhecimento está marcada pela tentativa de explicar, de maneira lógica e racional, aquilo que se mostra ao nosso redor. Você entrará em contato com o pensamento dos primeiros filósofos e verá como eles realizaram o caminho para a organização do pensamento de maneira sistemática, caminho este que não foi fácil ou isento de equívocos. Muitas foram as dificuldades enfrentadas nessa transformação de mentalidade. Nossos estudos visam conhecer os fatores que deram condições para o surgimento e o desenvolvimento da Filosofia no mundo helênico. Os conhe- cimentos da Filosofia Antiga vão conduzi-lo à base conceitual para refletir de maneira crítica, com rigor metodológico, levando-o a ampliar sua própria visão de mundo e a visão dos modelos interpretativos que recebemos da cultura que até então tivemos acesso. Visitando a filosofia clássica, teremos a oportunidade de conhecer a complexidade dos grandes sistemas filosóficos e como os conhecimentos construídos no auge da cultura grega foram a base de toda a cultura ocidental, conhecida como cultura Greco-Romana. Veremos como a busca por entender as questões cosmológicas levou os Pré-Socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles, a formularem sistemas teóricos que serviram para orientar as escolhas humanas e foram a base para a organização do conhecimento cientí- fico atual. Na primeira unidade você vai conhecer sobre a gênese do pensamento filosófico na Grécia Antiga, local que foi o berço das primeiras questões da humanidade. Seguindo o caminho de formação do conhecimento, na segunda unidade você verá quais foram os principais períodos da Filosofia Antiga que deram condições para o desenvolvimento do conhecimento filosófico, quais questões levaram os filósofos a refletirem sobre as origens das coisas e a superar a mentalidade mítica, consolidando-se assim a mentali- dade ocidental da qual somos herdeiros. A terceira unidade abordará o início do pensamento filosófico clássico, veremos os Pré-Socráticos, os Sofistas e Sócrates, que iniciaram a sistematização do que podemos entender por pensamento filosófico. Na quarta e última unidade, com Platão e Aristóteles, você vai conhecer o centro do pensamento filosófico clássico, conhecido como os pilares de toda a filosofia. Em todo o livro você verá que filosofia e história estarão entrelaçadas desde o início, apresentando fatos históricos e situando geograficamente as ideias dos filósofos clássicos, apontando caminhos no decurso do tempo. Filosofar é um exercício que se realiza na história dialogando com a história. Levando, assim, a atividade reflexiva a provocar discussões para além da História. Abordar a História da Filosofia Antiga não é uma tarefa simples, mas você entrará em contato com os conceitos filosóficos essências e os principais filósofos clássicos e, dessa forma, irá construir as competências históricas para entender melhor a fascinante área da filosofia. Espero que este livro contribua para o seu amadurecimento intelectual. Bom estudo! Unidade 1 José Matias dos Santos Filho O surgimento da filosofia Convite ao estudo Esta unidade está organizada em três seções, as quais são importantes para que você compreenda a contextualização da História da Filosofia Antiga, expressa pelas diversas escolas filosóficas e seus principais filósofos, conhecidos como filósofos clássicos. Na primeira seção, iniciaremos nosso estudo com a compreensão de como foi a gênese do pensamento filosófico na Grécia Antiga. Veremos as principais características que permeavam a cultura grega antes do nascimento da filosofia, contexto este que proporcionou o seu surgimento, abordando as principais trans- formações históricas que deram condições aos gregos de mudança do pensa- mento com características míticas, para um pensamento racional e filosófico. Já na segunda seção, trataremos condições históricas para o nascimento da filosofia, transcorrendopela história da filosofia e seus períodos históricos iniciados na Grécia Antiga, e veremos que diversas foram as transformações em todos os níveis (social, político, econômico e cultural) que tiveram um impacto significativo, pois anteciparam e prepararam as condições para o aparecimento da filosofias e duas primeiras reflexões. Na terceira seção, discutiremos a passagem do mito ao logos, momento vivido historicamente por cada civilização na tentativa de construir suas próprias formas de compreender e explicar a realidade. Com o estudo dos três temas centrais desta seção você vai compreender os principais fatores históricos que possibilitaram que a filosofia surgisse, inaugurando a mentalidade racional. Para desenvolver o estudo das temáticas apresentadas, imagine o trabalho de Luciano, um professor que objetiva apresentar os grandes temas da filosofia para alunos do ensino fundamental e médio. Luciano é um professor e “filósofo”, alguém muito criativo e, em seu projeto de ensino, ministra suas aulas de uma maneira bem diferentes dos demais professores. Em sua metodologia, ele aborda pessoas, visita locais e também faz a leitura de livros específicos de filosofia em suas classes, buscando entender melhor as questões que são próprias da área filosófica. Assim, o percurso de Luciano será acompanhado pelo sentimento de “confabulação” sobre os mais variados problemas filosóficos, os quais suscitaram respostas de natureza existencial sobre a origem do mundo e da existência humana. Luciano passa quase todo o seu dia em uma escola de ensino fundamental e médio. Uma de suas classes é formada por alunos que vivenciam as mais diversas situações trazidas do cotidiano para as aulas de filosofia e, em conjunto, os alunos irão gradativamente desenvolver o senso crítico e questionador. Você verá que os questionamentos da classe nas aulas de filosofia são os mesmos que incomo- daram os primeiros filósofos. Vamos caminhar pela História da Filosofia Antiga e, junto de Luciano e a classe de filosofia, você também conhecerá as grandes perguntas que os filósofos vêm fazendo desde o começo da humanidade. O desafio de Luciano, vai além de apenas descrever a História da Filosofia e a vida dos filósofos clássicos. Luciano deve identificar os elementos do contexto social grego precursor de todo o desenvolvimento da cultura Greco-Romana que influenciou a visão e organização de mundo da qual somos herdeiros e, consequentemente a formação do pensamento ocidental. 9 Seção 1 A gênese do pensamento filosófico na Grécia Antiga Diálogo aberto É bastante comum entre as pessoas que não conhecem a filosofia, a ideia de que se trata de um conhecimento inútil, produzido pelos filósofos ao longo do tempo. Por que a filosofia é considerada uma dor de cabeças por algumas pessoas, enquanto outras a exaltam e alguns a consideram algo subversivo e perigoso? No entanto, a resposta mais assertiva é que se tata do exercício do pensamento que busca o entendimento das coisas, das pessoas e do meio em que vivem. Mas o que será essa tal filosofia? De que maneira você pode começar a pensar filosoficamente? Vivemos um momento na história nunca visto antes, trata-se do excesso de informação diária, que bombardeia cada um de nós. O século XXI é marcado pela era da informação e da comunicação em tempo real, mas, algumas vezes, você já deve ter se perguntado sobre questões que surgiram do nada, como questionamentos furtivos, que retiraram do ordinário, da correria desenfreada do dia a dia, pois, hoje, praticamente não existe mais tempo para o pensamento crítico, para pensar, e muito menos para o “ócio criativo”. Em sua primeira aula de filosofia no colégio, Luciano entra na sala de aula e lança um questionamento a um dos alunos que encontrou pela frente: “Você acha que a filosofia tem validade?” O jovem ficou sem saber o que responder. No mesmo instante uma segunda questão é proposta a outro aluno: “Qual profissional tem a maior responsabilidade, um advogado, um médico ou um professor?” Tais questionamentos são do tipo que instiga os adolescentes, pois é nessa fase que começam as primeiras ideias sobre qual profissão seguir. É nesse contexto que Luciano gosta de trabalhar com eles, pois há constante questio- namento sobre a origem e a validade de tudo o que existe. As respostas para essas questões não são tão fáceis de serem encontradas nas informações, notícias e estudos que todos os dias são propagados. Assim como os adoles- centes na aula de filosofia, você já parou para se perguntar sobre algumas dessas questões, por exemplo: “Como surgiu tudo? Qual é a origem do planeta, das coisas, do homem? Se todas as necessidades do ser humano forem satis- feitas, mesmo assim você verá que surgirão necessidades que não se podem ser atendidas. Por isso, estes questionamentos sempre acompanham: “Quem somos? De onde viemos? Existe um deus? Há vida após a morte? ” 10 Nesta seção iremos abordar diversas questões que dão fundamentos para o pensamento racional. Por exemplo, a ciência constantemente veicula notícias sobre suas descobertas, e uma delas é sempre a busca pela a origem da vida: “Encontrada a evidência de vida mais antiga, a descoberta de fósseis de 4 bilhões de anos indica alta probabilidade para rápida evolução da vida” (SAMPEDRO, 2017, [s.p.]). Qual ideia pode ser aferida para discutir a origem da vida e da Terra? Você concorda com a resposta científica para a origem de tudo o que existe? No decorrer desta seção, você encontrará os conteúdos dialogados pelo professor Luciano com sua turma, buscando encontrar as respostas para as questões levantadas, com o objetivo inicial de compreensão os diversos questionamentos que fundamentam o conhecimento filosófico. Não pode faltar Você já parou para se perguntar que somente o ser humano é capaz de pensar? Há discussões sobre a capacidade de pensamento dos animais irracionais, no entanto, essa é uma questão a cargo da biologia. O que interessa para o campo filosófico é a capacidade de abstração e isso somente o ser humano pode fazer. O que chamamos de pensamento aqui é a capacidade de dar sentido às coisas. Reflita Conforme enfatizado, no campo filosófico, o que interessa é a capaci- dade de abstração, a capacidade de pensar. Considerando essa tese presente, cabe perguntar: 1. O que é o pensamento? 2. Em que medida é possível dar ao pensamento novos meios de expressão? O pensamento é uma atividade do ser humano, algo associado estri- tamente ao fazer humano. A realidade do pensamento é uma tentativa de compreensão de si mesmo e da realidade que o cerca, é uma ação que parte da natureza humana. No tempo dos antigos gregos, a filosofia era identificada com o conhecimento, no sentido mais amplo da palavra. Posteriormente com o passar do tempo, algumas das ramificações que a constituíam (como a astronomia, a física, a política e a medicina) tornaram-se ciências próprias, deixando à filosofia apenas a ética, a lógica e a ontologia. Mas afinal, o que é filosofia? A palavra filosofia é grega, composta por: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia deriva-se de sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. A partir da conceituação etimológica temos como 11 significado para a palavra filosofia, a definição de amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Disso decorre que o filósofo é aquele que ama a sabedoria, almeja a sabedoria, tem amizade pelo saber, é desejoso por saber. Imaginemos, alguém que tomasse uma decisão muito estranha e começasse a fazer perguntas inesperadas. Em vez de “que horas são?” ou “que dia é hoje?”, perguntasse: O que é o tempo? Em vez de dizer “está sonhando” ou “ficou maluca”, quisesse saber: O que é o sonho? A loucura? A razão? Se essa pessoa fosse substituindo sucessivamente suas perguntas, suas afirmações por outras: “Onde há fumaça, há fogo”, ou “não saia na chuva para não ficar resfriado”,por: O que é causa? O que é efeito?; “seja objetivo ”, ou “eles são muito subjetivos”, por: O que é a objetividade? O que é a subjetividade?; “Esta casa é mais bonita do que a outra”, por: O que é “mais”? O que é “menos”? O que é o belo? [...] Alguém que tomasse essa decisão, estaria tomando distância da vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa existência. Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo, desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos. Esse alguém estaria começando a adotar o que chamamos de atitude filosófica. (CHAUÍ, 2000, p. 8-9) Portanto, a filosofia indica um estado de espírito, a busca da pessoa que ama, que deseja conhecer, que se distancia da vida cotidiana e de si mesma, que indaga e está à procura do conhecimento. De onde viemos? A necessidade de saber o porquê das coisas está presente na história da humanidade: “quem somos, de onde viemos, para onde vamos?”. Essa busca de uma explicação para os acontecimentos é própria do ser humano e está associada à tentativa de compreensão sobre o sentido da vida. O que é a racionalidade, essa capacidade humana de pensar? Por que precisamos dar sentido às coisas? O mundo e as coisas existem porque damos sentido a eles por meio dos questionamentos. Questionar sempre foi a tarefa primordial da humanidade e essa tarefa foi desenvolvida por três áreas importantes: arte, filosofia e religião, conforme nos mostra o filósofo Mário Sergio Cortella. 12 Em toda a história da humanidade há uma questão que nos acompanha... em qualquer momento da história humana. A grande questão, que é absolutamente abstrata... mas ela é funda, é... por que existe alguma coisa e não nada? Quatro grandes foram os caminhos para tentar responder a essa angústia. A ciência, a arte, a filosofia e a religião. Essas quatro áreas se dedicaram a tentar explicar... por que nós existimos, por que as coisas existem... com uma grande diferença: a ciência... procurou trabalhar o “como” das coisas, isto é, o funcionamento... enquanto a filosofia, a arte e a religião... foram em busca dos “porquês”. Ambos são necessários. Não ao mesmo tempo, e não do mesmo modo. Mas tanto o “como” quanto o “por que” são necessários. (CORTELLA, 2013, [s.p.]) A filosofia, então, não é um conhecimento inútil, mas um assunto que é fonte de conhecimento, pois levou a humanidade e as civilizações a constru- írem novos conhecimentos a partir dos questionamentos que fizeram no decorrer da história da humanidade. Filosofia trata-se de uma atitude que se desenvolve pela capacidade de formular perguntas. Muitas vezes essas perguntas são marcadas pelo exagero ou pela obviedade, contudo, ao fazerem esses questionamentos e refletirem sobre eles, os seus formuladores vão além do que está posto, vão além da realidade, e essa saída revela ao ser humano uma grandiosa tarefa: filosofar. Mas como acontece a atividade de “filosofar”? Conhecendo como pensaram os filósofos de outras épocas, e assim pensando com eles, encontramos, em suas proposições, ideias que podem ser interessantes e fecundas, pois podemos aproveitar o caminho aberto pelo pensamento que já está posto e seguir o nosso próprio caminho. Não será bom entender como surgem as ideias filosóficas e ampliar como você percebe o mundo? Sempre devemos considerar que o objetivo último da reflexão filosófica é aprender a viver bem, buscar a felicidade, mas felicidade aqui deve ser entendida como o bem de todos. Antes de mais nada, todo procedimento filosófico encontra diante de si uma história, um passado. Não poderíamos fazer como se começássemos a filosofar sozinhos e pela primeira vez. Filosofar é, em primeiro lugar, colocar-se em presença de uma filosofia anterior. Entretanto, isso não significa incli- nar-se diante de uma tradição, como se festejam os santos; as grandes filosofias são algo bem diferente de obras-primas insuperáveis que suscitariam a veneração e que deveríamos visitar como um museu. Ao contrário de uma fria histo- 13 riografia, a história da filosofia deve servir para descobrir pensamentos vivos em ação, para encontrar filosofias em ato, através das quais possamos das a nosso próprio pensa- mento um suporte, um quadro para orientá-lo. [...] a história da filosofia torna-se, assim, um meio de nos exercitarmos em formular e resolver problemas. (FOLSCHEID, 2006, p. 10) A partir da citação, você percebe que, por meio da filosofia, é exposta a história da civilização e da cultura, e uma exposição histórica das ideias filosóficas. Um dos objetivos de estudarmos a História da Filosofia Antiga é voltar às fontes, conhecer as grandes articulações da cultura humana sob a perspectiva da historicidade da filosofia. Com esse objetivo em mente é possível compreender melhor o mundo de hoje como fruto de um processo de construção da humanidade que influencia o nosso modo de conhecer e as relações sócias. Ou seja, tudo é fruto do esforço das sociedades que formaram a humanidade em cada período da história. A busca por respostas A pergunta sobre a origem de tudo é uma questão um tanto que enigmá- tica. Qual teria sido a origem da vida e de tudo que conhecemos? Uma das tentativas para responder a esse questionamento foi tarefa da ciência, sendo, nesse sentido, formulada a teoria do Big Bang, ou Grande Explosão, teoria defendida por grande parte dos cientistas. Apesar da possível resposta, ainda temos outra questão: “O que existia antes da Grande Explosão?” A filosofia surgiu em meio a questionamentos desse tipo, a partir da tentativa de responder às questões sobre a origem de tudo o que existe. Diferentemente da teoria do Big Bang, a resposta à origem do universo foi dada por meio do mito, e essa atitude levou a Grécia a dar origem ao que conhecemos como filosofia. No entanto, o que é o mito? Assimile Do grego mŷthos = História fantástica de transmissão oral, cujos protagonistas são deuses, semideuses, seres sobrenaturais e heróis que representam simbo- licamente fenômenos da natureza, fatos históricos ou aspectos da condição humana; fábula, lenda, mitologia. Discurso propositalmente poético ou narrativo, cujo objetivo é transmitir uma doutrina, por meio de uma representação simbólica. (MICHAELIS, 2019, [s.p.]) 14 Para maior aprofundamento, indicamos a leitura do artigo: PERINE, M. Mito e filosofia. Philósophos - Revista de Filosofia, São Paulo - PUC, v. 7, n. 2, 2002. Historicamente, cada civilização buscou maneiras de compreender e explicar a realidade, sendo que, ainda nos primórdios desse processo, não existiam conhecimentos sistematizados ou métodos investigativos e de pesquisa. Por exemplo, para explicar a causa de fenômenos naturais criava-se uma história de cunho parcial e subjetivo. Posteriormente essas respostas, em forma de histórias, estabeleciam-se como um conjunto de verdades aceitas coletivamente. Sendo repassadas pela sociedade como crenças, essas explica- ções tornavam-se verdades, constituindo-se o mito. O mito consistia, então, numa narrativa passada de geração a geração, que, de modo geral, era utilizada na explicação de fenômenos naturais ou na prescrição de condutas morais. Na atualidade como são formuladas as respostas para aquilo que não sabemos? Como você formularia uma resposta para aquilo que ainda não existe resposta? Para isso que estudamos e hoje contamos com o conheci- mento científico, não é mesmo? O mito foi uma tentativa de responder ao que se apresentava como desco- nhecido no mundo grego, e as questões sobre o universo entravam nessa categoria. Mas, hoje, a tentativa está a cargo da ciência que tenta responder as mesmas perguntas sobre a origem do universo. Contudo, agora as teorias são outras, como a dos criacionistas, de um lado e, de outro, a dos evolucio- nistas. Os criacionistas defendem a existência de uma inteligênciasuperior por trás de todos os eventos de criação da vida. Você certamente conhece as escrituras cristãs, a Bíblia, não é mesmo? Pois bem, essa é a fonte do pensa- mento criacionista. No caso do evolucionismo, as teorias estão no campo da ciência. Como isso funciona? Como a ciência poderia comprovar suas teorias? Você já ouviu falar da “partícula de deus”? Esse é um termo um tanto curioso, não é mesmo? Nossos companheiros de estudos sob a condução do professor Luciano, em sala de aula também devem pensar o mesmo, então vamos entender melhor do que se trata. Esse termo diz respeito a uma experiência da física, em que cientistas desen- volveram um acelerador de partículas, popularmente conhecido como “partí- culas de deus”, ou melhor dizendo, a tentativa de descobrirem a origem de tudo simulando o Big Bang em laboratório. Assim, foi realizada uma experiência em que cientistas vindos do mundo inteiro, reuniram-se e colocaram em funciona- mento o experimento que ficou conhecido como a “partícula de Deus” (túnel 15 subterrâneo formado por 27 quilômetros), com o objetivo de examinar as condi- ções “originais” do Big Bang, tese científica para a origem do universo. Como sabemos, o Bib Bang é uma teoria sobre a origem do universo do ponto de vista científico. Como você pode ver, o questionamento sobre de onde viemos persiste: como teria surgido a vida humana em nosso planeta? E o próprio planeta? Associados a esses questionamentos, você pode elencar outros: como anda a nossa evolução biológica? A fragilidade da vida foi superada pelas intervenções da medicina? A pergunta inicial, indicada pelo tópico “de onde viemos”, segue sem consenso e ainda prevalece nos dias atuais. Ao abordar essa questão, perce- bemos como a filosofia nos conduz a esse questionamento, ou seja, para que possamos buscar entender a realidade é preciso refletir e questionar. Portanto, para entendermos melhor a realidade, é preciso entender o humano, conhecer a si mesmo. Como você já pôde perceber, os questionamentos estão presentes em todas as civilizações, de forma, às vezes, mais e outras menos elaborada. Foram os gregos antigos os responsáveis pela elaboração de uma maneira particular de fazer questionamentos. Vamos, então, identificar quais foram as peculiaridades desse modo grego de fazer perguntas: o modo filosófico-científico-racional. A origem histórica da filosofia A historiografia mostra que a filosofia nasceu na Grécia, tendo como marco o século V a.C. A região não tinha um estado unificado, mas era formada por Cidades-Estados independentes, chamadas pólis. Nesse contexto, podemos identificar o berço da política, da democracia e das ciências no ocidente. A filosofia, então, é grega e tem uma data de nascimento mais ou menos precisa, demarcada entre os séculos V ou VI a.C. Você pode estar se perguntando: mas porque a filosofia é considerada criação do povo grego? Quais características permeavam o pensamento desse povo que o tornaram tão brilhante? Entre as características do povo grego, encontramos o desenvolvimento do conhecimento matemático, que foi herdado dos orientais e transformado na aritmética, a geometria e a harmonia (concordância das coisas, assim como a harmonia dos sons na música). Encontramos, também, uma outra característica que os tornou tão surpreendentes: ter cunhado o conceito de razão e um pensar metódico, sistemático, regido por regras e leis universais. Giovanni Reale, em sua obra A história da filosofia pagã, elenca algumas razões pelas quais a filosofia teria surgido na Grécia, ou seja, as características próprias do 16 povo e da cultura grega que teriam formado o que Reale chama de “uma tempera- tura espiritual particular e um clima cultural e político favoráveis”. Dessa forma, as fontes das quais derivou a filosofia helênica foram: a poesia, a religião e as condi- ções sócio-políticas adequadas, que foram desenvolvidas pelos gregos por fortes atividades de comércio e de navegação e que levaram o povo a ter contato com outras civilizações. Consequentemente, a filosofia é fruto dessas relações como outros povos, originadas das adaptações que os pensadores associaram aos conhe- cimentos que foram adquirindo dessas influências (REALE; ANTISERI, 2003). Exemplificando Como consequência das relações comerciais e de navegação, foi possível aos gregos alcançarem grande riqueza cultural, tanto que até hoje ouvimos o termo herança cultural Greco-Romana, da qual somos herdeiros diretos. Como um modo de vida pode influenciar tanto a cultura de todo o Ocidente? Poderíamos dizer que na atualidade existem culturas que também influenciam tanto outras culturas como aconteceu com a cultura grega? Para exemplificar essa questão, vejamos a matéria do jornalista Lindsey Galloway, da BBC Viagens. Segundo o relato, são apresentados os países e cidades que ditam a vida cultural do resto do mundo, sendo que o Brasil está entre eles. Você acredita? Segundo o jornalista, a influência global de um país é geralmente medida pelo poderio militar, político ou econômico, mas para alguns é a força da cultura – sua comida, moda ou entretenimento – que impacta mais fortemente o resto do mundo. Esses países culturalmente influentes foram recentemente listados em um ranking pelo veículo US News and World Report, com base em fatores como prestígio, elegância, moda, felicidade, modernidade e entretenimento. Embora a maioria dos países do top 10 esteja na Europa, a lista também inclui o Brasil (que ganhou pontos em felici- dade e entretenimento), Japão (por modernidade e prestígio) e Estados Unidos (modernidade e entretenimento). Entre os dez países, os cinco mais expressivos são: Itália, França, Estados Unidos, Espanha, Reino Unido. O Brasil é considerado na lista sendo descrito como “por sua população feliz e por seu entretenimento” (GALLOWAY, 2018, [s.p.], tradução nossa). Esquema da História da Filosofia Antiga Ao estudarmos a História da Filosofia é necessário que você conheça quais são os períodos e como se organizam os fatos que a compõem. Vamos 17 estabelecer uma sequência histórica da filosofia usando como critério a demarcação histórica do mundo antigo, destacando os principais nomes dos grandes pensadores e a correlação com os períodos históricos, políticos e culturais que decorrem de suas ideias. 624-546 a.C. - Tales de Mileto, o primeiro filósofo grego conhecido, busca respostas racionais para questões sobre o mundo em que vivemos. 569 a.C. - Data Tradicional de nascimento de Confúcio, cuja filosofia é centrada no respeito e na tradição. 508 a.C. – A poderosa cidade-estado grega de Atenas adota a consti- tuição democrática. 480 a.C. – Morte de Sidarta Gautama, o Buda, fundador da religião e da filosofia do budismo. 469 a.C. – Nascimento de Sócrates, cujos métodos de questionamento em Atenas formaram a base de grande parte da filosofia ocidental. c*.460 a.C. – Empédocles propõe sua teoria dos quatro elementos clássicos. É o último filósofo grego a registrar suas ideias em verso. 404 a.C. – A Guerra do Peloponeso leva ao declínio o poder político de Atenas. c. 385 a.C. – Platão funda a sua academia de grande influência em Atenas. 335 a.C. – Aristóteles, discípulo de Platão, funda sua própria escola em Atenas, o Liceu. c. 332-265 a.C. – Zenão de Cítio formula sua filosofia estóica, que continua a ter apoio no Império Romano. 323 a.C. – A morte de Alexandre o Grande sinaliza o final do domínio cultural e político da Grécia no mundo antigo. c. 100-178 d.C. – Ptolomeu, um cidadão romano do Egito, propõe a ideia de que a Terra está no centro do universo e não se move. 122 d.C – Começa a construção da Muralha de Adriano na Grã-Bretanha, marco da fronteira setentrional do Império Romano. c.150 d.C. – Galeno de Pérgamo realiza uma extraordinária pesquisa médica, que só seria superada pelo trabalho de Vesálio, em 1543. 220 d.C – O colapso da dinastia Han marca o fim da China unificada, começa o período da Desunião. A cronologiaque você acabou de conhecer demonstra os principais acontecimentos do Mundo Antigo. Veja a seguir um mapa que apresenta a Grécia Antiga. 18 Figura 1.1 | Mapa da Grécia Antiga Fonte: iStock. Uma questão importante ao abordarmos a história grega é que a Grécia Antiga não era formada por um Estado único e centralizado, mas uma região onde habitavam vários povos independentes, os quais na maioria das vezes rivalizavam entre si. Estes povos eram os Aqueus (do Reino de Minos), os Eólios (Macedônia), os Dórios (Esparta) e os Jônios (Atenas). Dessa forma, é necessário a compreender que os gregos não eram um único povo, mas 19 constituíam-se pela junção de vários povos de origem indo-europeia, sendo que a aglomeração naquela região se deu em épocas diferentes. Cada um dos povos gregos fundava sua própria cidade-Estado, entre elas se destacaram Esparta e Atenas. A estrutura política e administrativa das diferentes cidades-estados gregas ficou conhecida pelo conceito de polis, termo que pode ser entendido como comunidades organizadas, indepen- dentes e autossuficientes (CHAUÍ, 2000). Quanta coisa vimos até aqui, não é mesmo? Você já teria condições de responder à pergunta: “O que é filosofia e para o que ela serve?” Com os conceitos sobre o termo filosofia que estudamos nesta seção, o exercício do filosofar vai ficando mais claro, como também será possível responder de forma filosófica a essas questões que propusemos e sobre muitos outros temas que vão surgir do decorrer da leitura deste livro. Sem medo de errar Você se recorda das perguntas que o professor Luciano fez aos dois alunos no início da primeira aula de filosofia? Sobre o que ele perguntou? A primeira pergunta tratava da utilidade da filosofia: “A filosofia serve para alguma coisa?” Já a segunda pergunta se referia sobre qual área profissional concentrava a maior responsabilidade: o direito à medicina ou à educação? Vamos à nossa situação problema. Para isso, precisamos conceituar o termo “deonlogia”, que na filosofia significa “fundamento da ação eticamente correta”, ou seja, é importante que você entenda que ao fazer uma ação, ela não é “neutra” (pode conter tanto benefícios como malefícios). Portanto, a situação problema mostra o valor da ação ética como fundamento para nossas ações de maneira correta, não para responder as regras da socie- dade, mas por uma necessidade da própria consciência, fazer o que é correto porque sabemos o que é o correto. A questão proposta pelo professor Luciano tem relação com o “deontolo- gismo”, palavra que deriva de deontologia, mais conhecida na área médica. No entanto, não somente a medicina tem a prerrogativa de ser uma profissão de responsabilidade, mas todas as demais profissões, pois o agir humano e a práxis deve ser realizada de maneira correta independentemente da área. Assim, tanto o direito quanto a medicina, a educação e todas as demais são áreas que possuem o mesmo status de responsabilidade. A norma que rege uma ação profissional de qualquer área deve sempre orientar as escolhas sobre o que deve ser feito como bem para a humanidade. 20 Avançando na prática Filosofar é um privilégio para poucos na sociedade capitalista? Na Grécia eram considerados cidadãos apenas aqueles que eram livres. A ideia de cidadania que temos hoje, em pleno século XXI, é bem diferente de como era entendido esse conceito em Atenas, pois para os gregos estava restrita apenas à uma pequena parcela da população, destinada àqueles que tinham direito ao voto e acesso ao serviço militar. Essa ideia remete também a outra questão, a atitude filosófica, pois a filosofia era entendida como uma arte a qual somente um cidadão poderia exercer, somente quem era livre de obrigações e não tivesse que trabalhar, ou seja, quem fosse da “classe abastada”, poderia ser filósofo. O trabalho não era destinado aos cidadãos, os quais tinham apenas a obrigação de se manifestarem politicamente. Quem fosse surpreendido trabalhando era considerado um “banausi” e, dessa forma, era desprezado pela elite pensante daquela sociedade (REALE; ANTISERI, 2003). A quem se destina o papel de pensar na sociedade? O pensamento é uma atividade livre para o exercício da cidadania, para a evolução do conhecimento, para o desenvolvimento da história e da cultura? Paradoxalmente hoje a situação ainda permanece. Aqueles que estão em posição dominante na socie- dade, possuindo recursos financeiros que os permitam ditar tendências na economia, na política, no livre mercado, tendem a desprezar a condição dos trabalhadores “manuais”. Temos no capitalismo um modelo de trabalho que cria cada vez menos condições favoráveis à atividade reflexiva, pois são cada vez mais longas as jornadas de trabalho. Na condição de trabalhador, o cidadão do século XXI tem cada vez menos tempo para pensar. Refletindo sobre essa questão: como a filosofia pode ser exercida como atividade refle- xiva na sociedade moderna? Existe espaço para o filósofo na sociedade atual? Resolução da situação-problema Para resolver nossa situação problema, nos remetemos ao pensamento de Aristóteles: para ele, o homem é um animal político, ou seja, as relações se desenvolvem pela atuação política, mas política entendida como ação de pensar a sociedade, refletir sobre os problemas e direcionamentos necessários para o bem comum da sociedade. Nos seus aspectos etimológicos, o termo política advém do grego com o surgimento da pólis que propiciou uma ampla 21 e grandiosa efervescência cultural, artística e comercial na Antiguidade Clássica Grega. Esse contexto criou condições para o advento da filosofia como um saber racional e reflexivo capaz de auxiliar a compreensão do ser humano acerca do cosmo – inicialmente do ser e do devir- e posteriormente da sociedade daquela época. Assim, essa atuação participativa permanece sendo necessária na sociedade atual e, desse modo, a filosofia é fundamental na sociedade moderna. Então, você já pode refletir sobre a importância dessa temática, visando chegar a um primeiro entendimento sobre a política: o que a envolve enquanto espaço de debate público e enquanto dimensão interdis- ciplinar de formação e exercício de uma das principais práticas de cidadania. Faça valer a pena 1. Sobre a filosofia como criação do gênio helênico: [...] seja como termo, seja como conceito, a filosofia é considerada pela quase totalidade dos estudiosos como uma criação própria do gênio dos gregos. Efetivamente, enquanto todos os outros componentes da civilização grega encontram uma correspondência junto aos demais povos do Oriente que alcançaram um nível elevado de civilização antes dos gregos (crenças e cultos religiosos, manifestações artísticas de várias naturezas, conhecimentos e habilidades técnicas de diversos tipos, instituições políticas, organi- zações militares etc.), já no que se refere à filosofia nos encontramos diante de um fenômeno tão novo que não apenas não tem uma correspondência precisa junto a esses povos, mas também não há tampouco nada lhe seja estreita e especificamente análogo. (REALE; ANTISERI, 2003, p. 11) Em relação à gênese do pensamento filosófico, analise as proposições a seguir: I. O nascimento da filosofia é um acontecimento que marcou efetiva- mente a história do ocidente. II. A filosofia como ciência teve suas raízes chinesas, sendo os chineses o povo que desenvolveu pela primeira vez o pensamento lógico racional. III. A filosofia é grega em sua essência e tem uma data de nascimento aproximada. 22 IV. A filosofia teve seu nascimento a partir das narrativas dos mitos e a doutrinas religiosas que tentavam explicar a origem do mundo. V. O mito é considerado a religião oficial da civilização grega. Considerando o contexto apresentado, é correto APENAS o que se afirma em: a. I, III e IV. b. I, II e V. c. I, II e V. d. II, III e IV. e. III, IV e V. 2. A filosofia nasce primeiro nas colônias e não na mãe-pátria. Mais precisamente, primeiro nas colôniasorientais da Ásia Menor (em Mileto) e logo depois nas colônias ocidentais da Itália meridional e só depois refluiu para a mãe-pátria. E isso aconteceu precisamente porque, com sua operosi- dade e com seu comércio, as colônias alcançaram primeiro a situação de bem-estar e, devido à distância da mãe-pá- tria, puderam construir instituições livres antes do que ela. Portanto, condições sociopolítico-econômicas favoráveis das colônias que, juntamente com os fatores ilustrados anteriormente, permitiram o surgimento e o florescimento da filosofia. (REALE; ANTISERI, 2003, p. 20) Conforme mencionado no texto-base, a filosofia nasce primeiro nas colônias e não na mãe-terra. Com relação à localização geográfica grega de origem da filosofia, qual o nome da mãe-pátria que proporcionou o desenvolvimento do conhecimento filosófico? a. Egito. b. Jônia. c. Politeística. d. Ilíada. e. Atenas. 23 3. As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático, segundo Marilena Chauí professora de filosofia da USP: [...] essas indagações fundamentais não se realizam ao acaso, segundo preferências e opiniões de cada um de nós. A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comuni- cação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer preferências dos consumidores e montar uma propaganda. (CHAUÍ, 2000, p. 13) O estudo da Filosofia, nos leva a buscar o que ela é, assim, o que significa a definição de que as indagações filosóficas se realizam de modo sistemático? a. Significa que a filosofia busca formular proposições complexas para os problemas complexos da humanidade. b. Sugere que o modo sistemático da filosofia se baseia na tentativa de entender os filósofos clássicos. c. Significa que a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. d. Trata-se de entender o que a filosofia é e que suas proposições remetem ao senso comum objetivo do método filosófico. e. Demonstra que as indagações filosóficas se realizam de modo natural e espontâneo de acordo com o desenvolvimento cultural de um povo. 24 Seção 2 Condições históricas para o nascimento da filosofia Diálogo aberto Diversas são as nacionalidades encontradas no mundo. Você, por exemplo, sabe a data, o local e até o horário exato em que nasceu. Observe a sua certidão de nascimento, lá você vai encontrar todas essas informações. Com a filosofia aconteceu algo semelhante, ela também tem data e local de nascimento. A filosofia é grega e, de acordo com uma definição apresentada pela história, possui uma data de nascimento mais ou menos precisa entre os séculos V e VI a.C. Tendo surgido na Grécia, possui, também, um objetivo, que na perspectiva dos pensadores antigos, corresponde a uma ativi- dade que visa o saber. Mas o que é o saber? O saber é a mesma coisa que o conhecimento? Nesta seção, buscaremos entender o contexto que deu origem ao pensa- mento filosófico, como viviam os gregos, quais eram as características que permeavam seu pensamento, quais transformações intelectuais ocorreram e que sentido elas tomaram. O surgimento da filosofia é um acontecimento considerado sem precedentes na história e que marcou de maneira profunda o pensamento ocidental, mas tudo isso só foi possível porque houve condi- ções que favoreceram o desenvolvimento de um novo modo de pensar. O que é, então, o pensamento? Como a humanidade colocou em prática suas ideias e as tornou inventos? Como surgiram soluções para as principais dificul- dades das pessoas que viviam no período antigo? Como se deu a “gênese” das principais ideias do século XX? A partir da gênese do pensamento filosófico iniciado na Grécia, você vai conhecer as condições históricas do nascimento da filosofia. Veremos, nesse processo histórico, que diversos eventos, como as grandes viagens marítimas gregas, o surgimento da moeda, a invenção do alfabeto grego, até a invenção do calendário e a organização da vida urbana foram preponderantes para o surgimento do pensamento racional. Tudo o que conhecemos teve um início, pense em como surgiram algumas das tecnologias que você utiliza no seu dia a dia, por exemplo, a lâmpada elétrica que ilumina a sua casa com o simples pressionar de um interruptor, como alguém pensou que isso daria certo? A lâmpada incandes- cente de Thomas Edson é uma das maiores invenções do Século XX. Parece mágico, mas foram necessários muitos testes para se chegar a esse feito, ou 25 seja, houve uma “gênese” para esse invento. Luciano, ao tentar elaborar seu roteiro para o documentário sobre a gênese da filosofia na Grécia, questio- na-se sobre o quanto a humanidade evolui e sobre as condições históricas para o surgimento das tecnologias que utilizamos hoje, das quais nem nos damos conta. Uma dessas tecnologias é a internet, você sabe quais foram as condições históricas para o seu surgimento? Vamos percorrer o caminho da origem do conhecimento filosófico desde as condições históricas para o seu surgimento. Desse processo, tanto Thomas Edson recebeu influência, como o pai da internet, e consequentemente todos nós somos herdeiros. Vamos acompanhar como se deu a forma grego antiga de pensar. Você está convidado para a jornada da gênese do conheci- mento grego. Não pode faltar Quando nasceu a filosofia? Estudiosos e pesquisadores apontam os anos de 800 a 500 a.C. como período de florescimento, considerando esse momento como o de consolidação dessa prática reflexiva. A filosofia favoreceu o desen- volvimento da atitude científica e do pensamento abstrato dedicado à busca do princípio e da essência das coisas. A partir dela, os indivíduos teriam criado as condições para não mais julgar os fatos ou se deixarem guiar pelos mitos, preconceitos e superstições. Há um consenso no campo da História da Filosofia em atribuir-se aos gregos o privilégio da originalidade dessa revolução no campo das ideias. Mas por que os gregos? É sabido que civiliza- ções orientais como a egípcia, a chinesa e a hindu, não menos importantes e influentes culturalmente, desenvolveram incursões no campo da especulação filosófica, sendo capacitadas, portanto, à criação da nova mentalidade. Reflita Entre as diversas civilizações, por qual motivo a filosofia nasceu entre os gregos? Seria possível a filosofia ter nascido em outro lugar diferente da Grécia? Alguns manuais de filosofia apresentam considerações sobre esses questionamentos, um deles é o livro de Hobuss (2014), que menciona o seguinte: Normalmente, a Filosofia é reconhecida como uma criação do gênio grego, ou seja, ela teria nascido em Mileto, cidade localizada em uma colônia grega (Jônia) da Ásia Menor, atual Turquia, no século VI a.C., com Tales file:///Z:\Ensino_Superior\04_ORIGINAIS_E_FORNECEDORES\KLS 2.0\2020_01\HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA\Elaborar\Seção 1.2\2. finalizada\U1S2_História da Filosofia Antiga _Finalizado.docx#tituloReflita 26 de Mileto. A esse respeito, porém existem divergências, contestações, entre os antigos, entre historiadores do século XVIII, que não creem ser uma criação original da Grécia, mas que elementos anteriores oriundos de outras civilizações já conteriam elementos que desdo- brar-se-iam no que hoje conhecemos como Filosofia. Várias foram as vozes que questionaram a origem grega da Filosofia, tais como os sacerdotes egípcios, que não duvidaram em fundar a Filosofia na sabedoria egípcia; os hebreus alexandrinos, que sustentaram ser a Filosofia devedora de Moisés; os gregos do último período da filosofia grega, como Numênio, um neopita- górico, que sustentava ser Platão um Moisés que falava ático (Reale, Vol. I, 1993, p.15; Burnet, 1994, p.26); e até mesmo os apologistas cristãos, como Clemente de Alexandria, que julgava ser Platão um filósofo judai- zante (Conche, 1991, p.6),mesmo que historiadores como Momigliano negassem fortemente tal afirmação, sustentando que antes de Alexandre Magno, os gregos não conheciam a existência dos judeus, e que Platão mesmo ignorava a existência de Moisés (1991, cap. 4). (HOBUSS, 2014, p. 15) Pela citação apresentada, você pode verificar que se trata da visão de historiadores que interpretam de modo diferente o local de nascimento da filosofia. O que essa diversidade lhe diz? Contudo, partiremos, aqui, das pesquisas e descobertas arqueológicas na área da História Antiga apresentadas por historiadores que concordam com a tese, segundo a qual a civilização grega foi a pioneira no pensamento filosó- fico. De acordo com essa perspectiva, essa civilização foi a primeira a elaborar uma forma de pensamento que se desvinculou das explicações míticas e religiosas e partiu para uma investigação científica e racional do princípio e da natureza das coisas, constituindo-se em uma disciplina independente da religião. Diversos manuais de história da filosofia apresentam histori- camente o nascimento da filosofia. Assim, considerando a necessidade de escolher qual viés tomar para também abordar historicamente esse longo período denominado história da filosofia antiga, o recorte aqui utilizado está de acordo com a obra da Profa. Marilena Chaui, de nome Convite à Filosofia (2000). Compreenderemos, desse modo, o conjunto de circunstâncias que contribuíram para que a civilização grega alcançasse um nível de distinção 27 e de amadurecimento intelectual que a conduziu ao status de berço da filosofia ocidental. Reale e Antiseri, estudiosos da história da filosofia, apresentam as formas da vida grega que prepararam o nascimento da filosofia, afirmando que “a filosofia surgiu na Grécia porque justamente na Grécia formou-se uma temperatura espiritual particular e um clima cultural e político favoráveis. As fontes das quais derivou a filosofia helênica foram: 1) a poesia; 2) a religião; 3) as condições sociopolíticas adequadas” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 6). As grandes viagens marítimas gregas A filosofia nasceu na Grécia, sendo o mérito atribuído aos gregos por sua excepcional contribuição à civilização ocidental. No entanto, o que conhe- cemos como filosofia vinda dos gregos teve influência de outros povos, com algumas referências ao pensamento oriental antigo. Como a influência de outros povos chegou a Grécia? A resposta e essa questão está diretamente relacionada com as grandes viagens marítimas. A Grécia Antiga passou por diversas transformações no decorrer dos seus períodos históricos, sendo que essas transformações ocorreram nos níveis sociais, políticos, econômicos e culturais do povo grego nos séculos V e VI a.C. Sendo formada por conjunto de cidades-estado (Pólis) que se desenvol- veram na Península Balcânica no sul da Europa, a Grécia Antiga tinha saída direta para o mar e, por essa composição e localização geográfica, tornou-se um importante centro de comércio e uma potência marítima. Figura 1.2 | Atenas e a Acrópole – Grécia Fonte: Shutterstock. 28 A configuração geográfica do território grego possui um relevo peculiar, constituindo-se como um continente montanhoso e de grande altitude, com um litoral recortado por golfos e baías e inúmeras ilhas do Mar Egeu. Esse território representava um obstáculo ao deslocamento dos povos, no entanto, proporcionou o desenvolvimento de outros meios de deslocamento que favoreceram o comércio marítimo e o intercâmbio cultural e econômico com outros povos. A saída encontrada foi pelo mar, o que favoreceu os contatos com outros povos e culturas, como os orientais – diversos culturalmente, possuidores de conhecimentos, religiosidades e explicações míticas distintas da visão de mundo grega. Esse contato com outras populações influenciou a formação do povo grego em muitos aspectos (CHAUI, 2000). As grandes viagens marítimas gregas, constituíram-se como um marco expansionista e foi, também, um desafio para o povo grego, pois obrigou aqueles que viviam do comercio a enfrentarem seus medos, oriundos de lendas e narrativas míticas que, mais tarde, seriam consideradas como fantasia do discurso mítico. Assim, a partir do processo de desmitificação do mundo e do contato com a diversidade presente em outras culturas, foi possível o nascimento do pensamento filosófico. Assimile A Grécia era formada por um conjunto de cidades-estado (Pólis) que se desenvolveram na Península Balcânica no sul da Europa. Vamos conhecer, então, o que é “Pólis”. Esse termo nos remete à noção de que a Grécia Antiga não era um país, mas sim um conjunto de dezenas de pequenos países, ou cidades-estados. Nesse sentido, Pólis é um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais alto da região, cujas características eram equivalentes a uma cidade. O surgi- mento da Pólis foi um dos mais importantes aspectos no desenvolvi- mento da civilização grega. O surgimento da moeda Para um grande número de pessoas, atualmente, ir ao shopping, ou a qualquer outro tipo de estabelecimento, é uma atividade corriqueira. Compramos uma mercadoria e pagamos com dinheiro ou cartão, simples, não é mesmo? No entanto, como eram pagas compras antes da invenção da moeda? As aquisições eram realizadas com base em trocas, sendo um objeto trocado por outro de acordo com o interesse dos negociantes. file:///Z:\Ensino_Superior\04_ORIGINAIS_E_FORNECEDORES\KLS 2.0\2020_01\HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA\Elaborar\Seção 1.2\2. finalizada\U1S2_História da Filosofia Antiga _Finalizado.docx#tituloAssimile 29 Mas, quando surgiu a moeda, então? A história da invenção da moeda é um tema pesquisado e abordado a partir da história do dinheiro em geral. Sua origem remonta ao florescimento do pensamento filosófico grego e às primeiras moedas gregas começaram a ser cunhadas a partir do século VII a.C. Nesse processo, eram utilizadas figuras de animais verdadeiros, plantas e objetos úteis ao homem, sendo, entre as moedas primitivas, as figuras mais destacadas as da coruja, do pegasus e da tartaruga. As primeira moedas cunhadas foram as com imagens de tartarugas, cunhadas na Grécia, seus exemplares mais antigos são de 625 a.C. e durante um século foram elas que ditaram as leis nas trocas comerciais. Figura 1.3 | Moedas gregas antigas Fonte: Shutterstock. A moeda serviu para o desenvolvimento do comércio entre as cidades- -estado. Relatos de historiadores indicam que, por volta do ano 525 a.C., as moedas gregas seguiam a contagem denominada dracmas, uma antiga medida de peso para metais e peças preciosas. Uma dracma equivalia 1.772 gramas. 30 A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização. (CHAUI, 2000, p. 36) A partir da definição da moeda como forma de medida e comparação, aos poucos todas as cidades gregas também iniciaram o processo de cunhagem de moedas e a maioria delas começou a receber imagens de deuses. Nesse momento, as moedas deixariam de ser simples instrumentos de troca e passaram a ser consideradas como obras de arte, sendo valorizadas pelo modo requintado da cunhagem, pelo relevo acentuado e pela perfeição e harmonia da espessura do metal. Desse modo, as moedas gregas se tornaram peças únicas. Mas você sabe qual foi o primeiro produto a ser comercializado em grande escala potencializado pela invenção da moeda (dinheiro)? Vejamos uma curiosidade sobre como se desenvolveu o papel moeda como conhe- cemos hoje e sobre uma origem do que conhecemos por salário: A industrialização do sal, extraído do mar e produzido no estado sólido como hoje o conhecemos, foi um dos princi- pais fatores que consolidaram, nos primórdios da humani- dade, a moeda como elemento da circulação universal dos bens providosda extração e do trabalho do homem [...] foi o primeiro produto de demanda universal e oferta prati- camente monopolística; o fabricante do sal, todavia, não tinha nenhum interesse no grande volume das mercadorias ofertadas para escambo, tais como carne de caças, grãos e cereais [...] Surgiu então a expressão “salário”, que era o quanto valia determinada medida destes bens em quanti- dade de sal ou mesmo o valor, em sal, de um mês de serviço prestado por um empregado. Como o sal era uma merca- doria de aceitação universal, conhecida e procurada por toda população, foi possível o lançamento da moeda-papel, um certificado emitido pelo fabricante do sal, cuja confia- bilidade permitiu a aceitação universal deste papel em troca das mercadorias, na certeza de que com este papel se poderia adquirir, então, quaisquer outros produtos no mercado. (REIS, 2017, p. 1) 31 Com a invenção da moeda grega, a sociedade, que antes praticava o escambo (troca de bens), passou ao desenvolvimento mais efetivo da economia e consequentemente o mercado passou a depender cada vez menos do encontro de interesses do vendedor e do comprador, sobre quais bens desejassem trocar, o que tornou a circulação mais efetiva e o acarretou no desenvolvimento de toda a economia. Reflita A filosofia é um constructo grego, um conjunto de características que desencadeou novas formas de organização da vida em sociedade. Como você viu, a Grécia antiga não era um país, mas um conjunto de dezenas de pequenos países, as cidades-estado (pólis). Nesse contexto, o que interligava esses países era a sua cultura e o idioma grego dava força a essa unidade entre os países, pois, com pequenas variações, a língua grega era falada em todos eles. Como você pôde perceber, língua é um fator de unidade, pois facilita a comunicação, diminuindo as fronteiras. Hoje, o idioma que predo- mina no meio comercial é a Língua Inglesa, no entanto temos diversos idiomas que são importantes por veicularem o caráter cultural dos povos. A partir dessa constatação, reflita sobre a importância cultural das línguas para a preservação de um povo. Quando mencionamos que o inglês é a língua predominante para o comércio e o turismo em todo o mundo, entre os motivos para essa afirmação está a integração dos povos tradicionais a culturas dominantes e à globalização. A hegemonia de um idioma poderia acarretar o desapa- recimento de centenas outros idiomas em povos menores? Qual a impor- tância da diversidade linguística para o mundo moderno? A invenção do alfabeto grego A criação do alfabeto grego unificou os diversos dialetos falados nas regiões da Grécia Antiga e, com a representação das ideias pelo uso de signos e símbolos linguísticos, o povo grego pôde desenvolver ainda mais a capaci- dade da abstração e generalização. Segundo Havelock (1996), em sua obra A Revolução da escrita na Grécia e suas consequências culturais, o surgimento da filosofia na Grécia não teve nada de acaso, pois a filosofia teria nascido na Grécia especificamente em decorrência da criação e uso do alfabeto. O registro escrito libera a energia, antes gasta com a memorização, para novas descobertas, favorecendo o acúmulo do saber e a criação do pensamento concei- file:///Z:\Ensino_Superior\04_ORIGINAIS_E_FORNECEDORES\KLS 2.0\2020_01\HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA\Elaborar\Seção 1.2\2. finalizada\U1S2_História da Filosofia Antiga _Finalizado.docx#tituloReflita 32 tual. Nesse cenário se dá o nascimento da prosa, que aparece como o veículo adequado a expressar as ciências emergentes: medicina, historiografia, geografia, além das reflexões de Platão e Aristételes. (HAVELOCK, 1996, [s.p.]) Figura 1.4 | Alfabeto grego Fonte: Shutterstock. Em civilizações anteriores aos gregos já havia formas de escritas, como a egípcia. No entanto, a escrita em forma de ideogramas e símbolos tem como base ideias que fazem parte da cultura e do inconsciente coletivo. Com a criação do alfabeto grego, a escrita passou a ser alfabética e com grau de abstração maior, possibilitando o estabelecimento da relação com os fonemas e, consequentemente, a construção das palavras a partir dos sons, que passaram, desse modo, a ser codificados e reproduzidos. O surgimento do alfabeto grego proporcionou, dessa forma, mais clareza na descrição de ideias e conceitos abstratos e maior precisão nas narrativas histórico-míticas. Com isso, a linguagem escrita possibilitou não somente a descrição dos fatos, ou a representação das coisas, mas que os indivíduos elaborassem definições acerca das ideias que estão por trás das coisas e das ideias que estão na base dos acontecimentos históricos (CHAUI, 2000, p. 36). 33 Exemplificando A escrita foi uma importante conquista para toda a humanidade, esse avanço iniciado pelo povo grego foi potencializado pelas demais culturas das sociedades no decorrer da história. Você se recorda do seu processo de alfabetização, quando aprendeu a reconhecer as letras do alfabeto vernáculo e a decodificar as palavras, sílaba por sílaba? Em grande parte das salas de aula da educação infantil, encontramos afixadas na parede, acima do quadro, as diversas letras que compõem o alfabeto que usamos para representar nosso pensamento. Mas o ato de afixar as letras vai mais além, pois nas classes de educação infantil e de alfabetização acontecem os primeiros contatos das crianças com as letras e foi esse tipo de contato com as letras que também aconteceu no contexto grego. A visualização de cada letra do alfabeto representa para o aluno a autonomia em reproduzir corretamente as letras e isso, na cultura grega antiga, equivale à capacidade de abstração, o que consequentemente levou ao desenvolvimento das ideias que foram a base para todos os questionamentos filosóficos e a formação do pensa- mento filosófico. A invenção do calendário e a organização da vida urbana Na sequência de acontecimentos do mundo grego que contribuíram significativamente para o surgimento da filosofia juntamente da invenção da moeda e do alfabeto, a invenção do calendário também participou do desenvolvimento das capacidades de abstração e generalização por meio da compreensão das noções de tempo. A noção de tempo para o ser humano é muito antiga, assim como sua necessidade de tê-lo como referência. Hoje, muito de nossa jornada é determinada pelas horas, minutos e até segundos em que cada coisa deve acontecer. Mas isso nada mais é que uma evolução em curso. Há alguns milhares de anos, importava saber quando era tempo de caçar, de pescar e de procurar abrigo. Depois viriam as preocupações com a determinação da época de plantar e de colher, e assim sucessivamente. Portanto, há muito tempo o ser humano aprendeu a marcar a passagem do tempo. Para isso, utilizou-se de fenômenos contínuos e repetitivos, como a alternância entre o dia e a noite, as fases da Lua e as estações climáticas. (MOREIRA, 2019, p. 1) file:///Z:\Ensino_Superior\04_ORIGINAIS_E_FORNECEDORES\KLS 2.0\2020_01\HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA\Elaborar\Seção 1.2\2. finalizada\U1S2_História da Filosofia Antiga _Finalizado.docx#tituloExemplificando 34 A partir desta nova noção, foi possível a mensuração dos anos, meses, semanas, dias e horas, e essa nova categorização do tempo trouxe à cultura grega organização e agilidade na realização de suas atividades cotidianas básicas. Inicialmente, cada cidade-Estado grega teve seu calendário, ainda que com semelhanças, criados a partir da organização lunar (ciclo da lua) e, posteriormente, tornaram-se lunissolares (ciclo da lua e do sol). Entre os tipos de calendários, o mais conhecido foi o ateniense. Figura 1.5 | Fases da lua Fonte: Shutterstock. O ciclo completo da Lua, com suas quatro fases, tem uma duração que pode variar entre 29 dias e 6 horas e 29 dias e 20 horas. Assim, a duração média do ciclo é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos, 2 segundos e 8 décimos de segundo. Esse período variável entre 29 e 30 dias deu origem ao conceito que hoje conhecemoscomo mês. Um mês do calendário lunar normal- mente inicia-se na lua nova. (MOREIRA, 2019, p. 1) Com a mensuração do tempo pelas categorias (anos, meses, semanas, dias e horas), houve um avanço significativo na civilização grega, pois foi possível o mapeamento das principais épocas de chuva, calor, frio e estiagem, levando 35 a agricultura a melhorar os períodos de plantio e de colheitas. A invenção do calendário proporcionou aos gregos considerável melhora na qualidade de vida, uma vez que, ao aumentar a aquisição de alimentos, permitiu mais tempo para os gregos se dedicarem a questões abstratas que, consequente- mente, os levaram a desmistificar os fenômenos naturais que eram atribuídos às figuras mitológicas. Com essa nova organização de tempo pelo calendário, o povo grego passou a compreender como “natural” aquilo que era entendido como fenômeno sobrenatural ou ação dos deuses (CHAUI, 2000). No contexto dessas mudanças vividas pela sociedade grega, uma delas pode ser considerada, também, de grande riqueza cultural: a invenção da política. O seu surgimento está relacionado à ampliação e à estruturação da vida urbana, pois criou a necessidade de que a vida das cidades fosse organi- zada de maneiras mais práticas, segundo ideias nunca vistas antes. Essa nova sociedade via florescer intensamente o comércio e o artesanato e, diante disso, foi necessário que desenvolvessem técnicas de fabricação de seus produtos, e também criar estratégias de troca e venda que tornassem os processos comerciais ágeis e eficientes. Com isso, houve o aumento da aglomeração de pessoas nos centros urbanos, exigindo do povo grego a criação de formas de organização social por meio da política. Desse processo, uma nova classe surgia em meio à aristocracia grega. As condições socioeconômicas, conforme dissemos, favore- ceram o nascimento da filosofia na Grécia, com suas carac- terísticas peculiares. Com efeito, os gregos alcançaram certo bem-estar e notável liberdade política, a começar das colônias do Oriente e do Ocidente. Além disso, desenvol- veu-se forte senso de per- tensa a Cidade, até o ponto de identificar o “individuo” com o “cidadão”, e de ligar estrei- tamente a ética com a política. (REALE; ANTISERI, 2003, p. 6) Essa nova classe passou a ser detentora de poder econômico e começou a participar das decisões políticas. Desse modo, as decisões passaram das mãos das grandes famílias proprietárias de terras para as discussões políticas debatidas em praça pública. Assim, podemos perceber que não seria possível a Filosofia ter surgido do nada, ou ter sido fruto de um milagre. A Filosofia é, assim, fruto dos fatos históricos que descrevemos até agora. A filosofia surge como uma reação a toda uma série de fatores e acontecimentos históricos que, como vimos, foram decisivos para o princípio do conhecimento filosófico. 36 Sem medo de errar Ao estudarmos a gênese do pensamento filosófico iniciado na Grécia, chegamos ao conhecimento das condições históricas do nascimento da filosofia. Nesse processo histórico, os diversos eventos descritos, desde as grandes viagens marítimas gregas, o surgimento da moeda, a invenção do alfabeto grego até a invenção do calendário e a organização da vida urbana foram fundamentais para o surgimento do pensamento racional. Ao relacio- narmos o contexto das condições históricas para o surgimento de um evento contemporâneo, como o surgimento da internet, quais condições históricas foram necessárias? Hoje, ao falar de internet, o tema é comum a grande parte das pessoas que usam ou são afetados por essa tecnologia. No entanto, nem sempre foi assim. Você consegue imaginar o mundo sem internet? Se você nasceu antes de 1992, você faz parte das pessoas que são classificadas como “inativos digitais”, pois é assim que são chamadas as pessoas que nasceram antes da invenção da internet comercial. Assim como a internet teve um início, também houve fatores para o seu surgimento. Vamos ajudar Luciano a elaborar o roteiro para o documentário, elencando quais foram essas condi- ções e realizando uma reflexão com neutralidade no uso da tecnologia. Todas as tecnologias foram criadas para o bem-estar das sociedades? Resolvendo a situação-problema O contexto da nossa situação-problema diz respeito à questão da “gênese das coisas”, refletir sobre a origem dos inventos que a humanidade criou. Partindo do pressuposto de que tudo o que conhecemos teve um início, pense em como surgiram algumas das tecnologias que você utiliza no seu dia a dia, como a internet que é uma tecnologia que está presente nas casas, nas empresas e na palma da sua mão. Luciano questiona-se sobre o quanto a humanidade evoluiu desde que o modo de pensar racional foi inaugurado na Grécia Antiga, permitindo a criação das tecnologias que utilizamos hoje e nem nos damos conta. Considerando a internet, você sabe quais foram as condições históricas para o seu surgimento? A primeira informação que constatamos é que a internet é fruto de ameaças de guerra. Sim, isso mesmo. Por medo de sofrerem ataques surpresa, a inteligência militar dos EUA criou um protocolo de transmissão de dados remotos entre computadores por meio de uma rede e esse feito deu origem à internet que conhecemos hoje. Como você pôde perceber, em sua gênese, a internet tinha como objetivo a estratégia militar para garantir a segurança das informações, preservar o conhecimento acumulado por anos de pesquisas e que poderia se perder se o local onde estava armazenado fosse atacado por 37 países opositores, e com o compartilhamento via rede de conexão remota, em instantes, todas as informações poderiam se deslocar de um local para outro. Pelo exemplo da gênese da internet, é possível perceber que na origem de uma tecnologia são empregados interesses diversificados, o conhecimento pode ser direcionado para conseguir vantagens sobre aqueles que dispõem de menos informações e desenvolvimento. Isso demonstra que as tecnologias não são neutras, podem ser criadas, também, para fins ideológicos. Avançando na prática O surgimento da política também é de origem grega Assim como na Grécia, as mudanças são inevitáveis em qualquer período ou sociedade da história. A política, desde o seu surgimento, está ligada à ampliação e estruturação da vida urbana que exigiu tomadas de decisão tendo em vista o bem comum da “Polis”. Você faz parte da associação de moradores do seu bairro, e o objetivo dessa organização de pessoas é buscar o bem comum das pessoas que moram no seu bairro. Foi marcada uma reunião para decidirem quais ações preci- sariam ser desenvolvidas em caráter de urgência para conter o aumento da epidemia de dengue no bairro. Essa preocupação também partiu da queixa de que existiriam várias casas com acúmulo e armazenamento inadequado de lixo de diversas categorias (plásticos, latas, utensílios de cozinha), uma vez que os moradores dessas casas são catadores de lixo para reciclagem, mas estariam contribuindo para surto de dengue no bairro. Como os integrantes da Associação de Moradores devem tratar essa questão? Alguns do grupo apontaram que o problema da epidemia tem relação direta com o lixo acumulado pelos catadores de reciclagem, já um segundo grupo opina que a falta de assistência da prefeitura e de visitas dos agentes de endemias é o motivo da epidemia de dengue, e uma terceira parte dos membros exige que a própria comunidade enfrente a situação realizando a limpeza das casas que acumularam o lixo. Como você resolveria essa situação? Como decidir democraticamente a ação para resolver esse problema? Resolução da situação-problema A política para os gregos tinha como objetivo a organização e a estrutu- ração do urbano. A necessidade de estruturação da vida nas cidades pode ser entendida como “tomada de decisões de maneira democrática”, tornando a 38 resolução de conflitos em maneiras mais práticas. Em todas as sociedades, onde há aglomeração de pessoas em centros urbanos, comono caso do bairro que sofre com a epidemia de dengue, é necessária a criação de formas de organização social por meio da política. Desse modo, as discussões políticas podem ser debatidas de forma que as soluções para o enfrentamento dos problemas sejam decididas democraticamente. A partir da situação descrita sobre o bairro, a associação de moradores pode elencar as medidas de enfrentamento da epidemia de dengue em parceria com o sistema de atendimento a endemias do município e também promover a conscientização das pessoas que acumulam o lixo reciclável coletado nas ruas. Essa conscientização pode ser realizada em parceria com a secretaria de assistência social também do município. Faça valer a pena 1. Para os gregos, ao empreenderem as viagens marítimas, tornou-se possível o contato com outros povos, incluindo os povos orientais – diversos cultural- mente, possuidores de conhecimentos, religiosidades e explicações distintas da visão de mundo grega. Esse contato com outras populações influenciou a formação do povo grego em diversos aspectos (CHAUI, 2000). Qual ideia caracterizava a visão de mundo grega antes do empreendimento das viagens marítimas? a. Visão de mundo ideológica. b. Visão de mundo psicológica. c. Visão de mundo mítica. d. Visão de mundo rural. e. Visão de mundo inferior. 2. A invenção da moeda permitiu uma forma de troca que não se realiza por meio das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização. A atividade filosófica é uma “experiência” do pensamento que tem suas particularidades e, assim, trata-se de uma maneira diferente de pensar sobre as coisas que fogem à rotina (CHAUI, 2000, p. 36). Quais características do pensamento são próprias da atividade filosófica? a. Desenvolvimento de ferramentas e de aceitação. 39 b. Desenvolvimento humano e social. c. Desenvolvimento de habilidades motoras. d. Desenvolvimento do estranhamento e do questionamento. e. Desenvolvimento da resiliência e da aceitação. 3. O calendário de criação grega originalmente tinha como base os fenômenos do ciclo lunar. Sua organização seguia o ciclo completo da Lua, com suas quatro fases, tem uma duração que pode variar entre 29 dias e 6 horas e 29 dias e 20 horas. Assim, a duração média do ciclo é de 29 dias, 12 horas, 44 minutos, 2 segundos e 8 décimos de segundo. Esse período variável entre 29 e 30 dias deu origem ao conceito que hoje conhecemos como mês. Um mês do calendário lunar normalmente inicia-se na lua nova. O que a invenção do calendário proporcionou aos gregos? a. A invenção do calendário proporcionou aos gregos maior organi- zação das guerras e conflitos. b. A invenção do calendário proporcionou aos gregos navegar à noite. c. A invenção do calendário proporcionou aos gregos melhora na quali- dade de vida em função da relação entre trabalho e tempo. d. A invenção do calendário proporcionou aos gregos melhor divisão do trabalho. e. A invenção do calendário proporcionou aos gregos melhora na quali- dade de vida, aumento na aquisição de alimentos, mais tempo para se dedicarem a questões abstratas. 40 Seção 3 A passagem do mito ao logos Diálogo aberto Caro aluno, seja bem-vindo a nossa terceira seção. Vejamos alguns questionamentos que podem nos introduzir aos tópicos de estudos: tudo que existe tem ou teve uma causa? O que é o universo? Qual o fundamento de todas as coisas? O que é a realidade? Perguntas como essas fazem parte dos questionamentos chamados filosóficos, mas você saberia dizer quando, onde e porque esse tipo de questionamento surgiu? Assim como a história é dividida em períodos para um melhor enten- dimento, do mesmo modo a História da Filosofia é, também, dividida em épocas para melhor contextualizar a origem das ideias filosóficas, bem como os fatores que as causaram. O mito é considerado uma dessas causas. Nesta seção, você vai entrar em contato com os fatores que contribuíram para o que chamamos de passagem do mito ao logos, ou seja, o processo pelo qual a consciência racional teria suplantado a consciência mítica, ainda na Grécia Antiga – local de nascimento da filosofia e também do pensamento racional do qual surgiriam todas as demais ciências . Vamos acompanhar o professor Luciano, que começa a preparar o conteúdo para a sua aula e, então, ao ler sobre o início da filosofia, ele se depara com a questão do mito. Como o conteúdo sobre o mito pode ser apresentado para a turma de filosofia? Qual papel o mito teve na sociedade grega? Luciano se questiona: “Como um adolescente entenderia que este tipo de explicação, no caso da explicação mitológica, era baseado nas representações das verdades mais profundas da mente, tidas como verdades absolutas? ”. Luciano segue com a leitura para a preparação da sua aula e, entre as diversas informações, um fator interessante que encontra sobre os mitos é a ideia da representação dos desejos humanos. Um exemplo da representação desse desejo foram os mitos de Hércules, Perseu e Teseu, todos personagens da filosofia clássica. E nos dias de hoje? Em pleno século XX, nós temos alguma representação mitológica de herói? O pensamento mítico ainda se faz presente na atualidade? Quais seriam as manifestações que podemos consi- derar como míticas em nosso dia a dia? No decorrer da abordagem, você vai acompanhar o desfecho da aula do professor Luciano e junto dos alunos da turma de filosofia, você vai conhecer como se deu a transposição do pensamento mítico para o pensamento 41 racional, processo que inaugurou a razão como forma de compreensão da realidade e que não parou mais. Não pode faltar A porta da livraria está aberta, pelo vidro pode-se ler na pequena placa pendurada na maçaneta “Estamos abertos”. O professor Luciano está folhe- ando alguns livros dentro da livraria, mas não é em qualquer livraria, trata-se da Livraria Lello, localizada na cidade do Porto, em Portugal. Assim como a cena dessa livraria, muitas são as livrarias nas quais podemos repetir o mesmo ato de folhear um livro. No entanto, essa possibilidade de encontrar, com facilidade, conhecimento de forma escrita não existia no mundo grego. O conhecimento, na época, era transmitido por meio dos mitos, a primeira tentativa de compreensão da realidade. A filosofia nasceu na Grécia entre os séculos VII e VI a.C. e esse fato marca a passagem do pensamento mítico (alegórico) ao pensamento racional (logos), essa mudança não ocorreu repentinamente, mas foi fruto de um longo processo histórico (WARBURTON, 2012). Vamos conhecer como se desenvolveu a transição de pensamento na Grécia Antiga no decorrer dos tópicos a seguir. O mito no mundo grego Ulisses e seus companheiros aportam em uma terra desconhecida. Eles levavam consigo odres cheios de vinho para, como de costume, oferecer como “penhor de hospitalidade” aos habitantes da nova localidade que encon- trassem. Eles iniciam, então, a caminhada e logo encontram uma caverna. Ao entrarem, deparam-se com comida e em seguida começaram a matar a fome. Mal sabiam eles que a terra desconhecida era “o país dos Ciclopes” (Sicília). De repente, eles foram surpreendidos por alguém que retorna da caverna, era o Ciclope Polifemo (criatura gigantesca que possuía um único olho na testa), e era tarde demais para Ulisses e seus companheiros, que foram feitos prisioneiros (HOMERO, 2013). O trecho que você acabou de ler apresenta o início de uma cena das viagens de Ulisses, personagem dos poemas homéricos, ou seja, trata-se de um relato mítico. Mas você sabe o que foi o mito? Qual a importância do mito para o mundo grego? O mito no mundo grego foi uma forma de expressão que empregava características de uma linguagem metafórica e sagrada ao mesmo tempo. Sua mensagem tinha o objetivo de “contar” histórias que eram consideradas 42 verdadeiras, como uma
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