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– Zootoxinas são um grupo de toxinas que fazem parte da composição dos venenos que os animais produzem, principalmente as/os: • Serpentes • Aranhas • Escorpiões Esse veneno é inoculado através da mordedura de animais (picadas de cobras, por exemplo), ou por ferroadas (aranhas, pernilongos, escorpiões). As ações toxicas dos venenos decorrem do sinergismo de todos os componentes. O acidente ofídico se refere àqueles que ocorrem pela mordedura de espécies de serpentes, sendo que os casos não são tão rotineiros na medicina veterinária. Contudo, em regiões especificas do país há uma moderada frequência. Há 4 principais serpentes que causam acidentes ofídicos no Brasil, dentre elas, os seus respectivos venenos podem exercem 6 tipos de ações, e geralmente um mesmo veneno tem mais de um tipo de ação tóxica distinta. 1ª Ação: ação proteolítica Causa proteólise, ou seja, degradação de proteínas, que estão basicamente em todos os tecidos do corpo, como por exemplo na composição da membrana plasmática (proteínas integrais de membrana e bicamada fosfolipídica) e em abundância no musculo. A degradação de proteínas da ação proteolítica destrói os tecidos, causando graves necroses nos locais das picadas, sendo esse o maior indicativo desse tipo de toxina 2ª ação: ação miotóxica Além da ação proteolítica, que já irá destruir as proteínas, temos venenos que são específicos para necrosar as fibras/células musculares. Quando essas toxinas necrosam/matam as fibras musculares, o seu conteúdo interior é extravasado e cai na circulação sanguínea. Isso gera um efeito de liberação de alguma enzimas, como a creatinoquinase. (CK) Além dela, a mioglobina (que é a proteína que dá o pigmento avermelhado nas fibras musculares) também cai na circulação sanguínea. Com a entrada desses componentes na circulação, e sua filtração nos néfrons, acaba participando da formação da urina, gerando uma coloração escura, chamada de “aspecto de Coca-Cola” nela, sendo esse o principal indicativo desse tipo de toxina. 3ª ação: ação neurotóxica É causada por neurotoxinas que irão atrapalhar as sinalizações dos neurotransmissores. Essa ação não é desgovernada, ela é mais focada em neurotransmissores que agem em periferia (na junção neuromuscular), pré-sináptica, ou seja, na enervação do sistema somático (onde a acetilcolina é liberada na placa motora, a fim de ativar os receptores nicotínicos) e assim o paciente não terá estímulo para a contração muscular (já que não há acetilcolina sendo liberada) Assim, o animal começa a apresentar fraqueza muscular, paralisia do tipo flácida e parada respiratória. Quando chegamos nesse nível de músculos da respiração bloqueada, já é grave e o animal pode vir à óbito por asfixia. 4ª ação: ação coagulante: Aqui, as toxinas irão estimular a transformação do fibrinogênio em fibrina. Essa fibrina, quando se junta em grupos, leva a formação de micro-trombos, que por sua vez podem gerar pequenos coágulos que deslocam pela circulação, gerando possíveis acidentes vasculares. Dependendo de qual vaso ele obstruir, sua gravidade se altera 5ª ação: ação hemorrágica: Essas toxinas irão favorecer o bloqueio da cascata de coagulação. Dependendo do quão espalhado esse veneno estiver, podemos ter uma hemorragia local ou sistêmica Os locais de sangramento são: Nariz Gengiva Local da mordida Saliva (o paciente cospe sangue) Urina Fezes – Pode ocorrer de haver, no mesmo veneno, serpentes com toxinas de ação coagulante e hemorrágica. Nesse caso, essa combinação gera: a ação coagulante gasta os fatores de coagulação, enquanto o hemorrágico bloqueia. Enquanto as toxinas hemorrágicas não se espalham para bloquear os fatores de coagulação pelo corpo, a ação coagulante aproveita, transformando fibrinogênio em fibrina, gastando assim os fatores que ainda não foram bloqueados. Ou seja, a princípio pode ter a formação de micro-trombos, porém, depois o que prevalece é a hemorrágica. 6ª Ação: ação nefrotxica/ vasculotoxica: Age nos rins, causando lesões renais. Temos uma ação direta dessas zootoxinas, agindo com as células de revestimento dos túbulos renais e do endotélio vascular (tanto da região renal quando de outras partes do corpo) Essa combinação de lesão de endotélio altera a circulação, enquanto a lesão em túbulos altera a função dos rins, levando o paciente à um quadro de: insuficiência renal aguda. No Brasil os 4 gêneros mais responsáveis por acidentes ofídicos são; Jararacas: acidente botrópico Cascavéis: acidente crotálico Surucucus: acidente laquético Corais: acidente micrúrico/ elapídico Gênero Bothrops (jararaca): ampla distribuição por todos os estados brasileiros Gênero Micrurus (corais): ampla distribuição por todos os estados brasileiros Gênero Crotalus (cascavel): localizadas principalmente no interior do território brasileiro, fora da floresta amazônica e do litoral. Gênero Lachesis (surucucu): distribuídas no litoral do país e principalmente na floresta amazônica São serpentes agressivas, ou seja, atacam mesmo quando não se sentem ecoadas. Ambientes úmidos Sombra de árvores Região de rios e lagos Regiões com barro (já que fica com temperatura mais fria) Ação proteolítica (principalmente pela enzima hialuronidase) Ação hemorrágica Ação coagulante Ação vasculotóxica Pode ocorrer de haver, no mesmo veneno, serpentes com toxinas de ação coagulante e hemorrágica. Nesse caso, essa combinação gera: a ação coagulante gasta os fatores de coagulação, enquanto o hemorrágico bloqueia. Enquanto as toxinas hemorrágicas não se espalham para bloquear os fatores de coagulação pelo corpo, a ação coagulante aproveita, transformando fibrinogênio em fibrina, gastando assim os fatores que ainda não foram bloqueados. Ou seja, a princípio pode ter a formação de micro-trombos, porém, depois o que prevalece é a hemorrágica Aproximadamente 85% dos casos de ofidismo, ou seja, de acidentes com serpentes, são causados pelas jararacas. Isso se dá tanto pelo comportamento agressivo, quanto pela sua ampla distribuição, já que está em todos os estados brasileiros. – Geralmente cobras grandes não tem veneno, mas essa é uma exceção, já que essa espécie pode chegar a 4 metros. Ou seja, além de matar por asfixia, possuem veneno. Áreas florestais úmidas (Amazônia, litoral, mata atlântica) Noturna Ação proteolítica Ação coagulante Ação hemorrágica Ação vasculotóxica São agressivas, e atacam mesmo que não sejam perturbadas e quando querem atacar, elas chocalham o chocalho que há em sua cauda. A gravidade do caso depende da quantidade de veneno injetado. Seco Quente Arenoso Pedregoso Ação coagulante Ação miotóxica Ação neurotóxica: A vítima fica com a paralisia flácida, sem conseguir se mover e contrair nenhum músculo. Litoral Mata atlântica Amplamente distribuída por todo o país Ação neurotóxica O veneno dela é o mais potente. Além da ação pré-sináptica, (bloquear a liberação de acetilcolina), tem ação pós-sináptica (que bloqueia receptores nicotínicos na junção neuromuscular) ou seja, é extremamente grave Essas cobras não são agressivas e não tem costume de atacar, sendo extremamente “tímidas”. Porém, quando ocorre o ataque, é o veneno com maior gravidade. Noturno Os acidentes corais são raros, apesar de estarem por todo o país, representando cerca de 0,6% de todos os acidentes ofídicos no Brasil Atualmente, as cobras já têm características muito marcantes que ajudam na sua identificação: Coral: cor Cascavel: chocalho Surucucu: tamanho muito grande Jararaca: brava, e sem as demais características. Contudo, devemos lembrar que essas são as 4 principais espécies e o acidente podeter ocorrido com alguma outra serpente. 1. Pode-se tentar tirar uma foto ou relatar qual era o animal, se for possível. 2. Identificar é os sintomas (sintomatologia): quadro neurotóxico? há hemorragia? 3. Em que região do país aconteceu o acidente? 4. Quais as características do ambiente em que estava? 5. Não devemos matar a cobra para fazer a identificação. Além de correr o risco de um novo ataque, não é justo com o animal. Leves Moderados Graves Com os mais variados sintomas Porém, elas não são tão agressivas quanto as jararacas, e acidentes com esses animais são raros, correspondendo a aproximadamente 3% do total de acidentes ofídicos do Brasil. Acidentes com cascavéis são relativamente raros, correspondendo a aproximadamente 9% do total de acidentes ofídicos no Brasil. – Leve: dor local, equimose (no local da picada), manifestações hemorrágicas discretas e aumento do tempo de coagulação Moderada: dor intensa no local, edema, equimose ultrapassa o local da picada, hemorragias locais e sistêmicas e aumento do tempo de coagulação. Grave: dor generalizada, edema endurado, equimoses sistêmicas, bolhas, isquemia, manifestação sistêmica com hipotensão arterial, oligúria, hemorragia e choque. Equimose: é um sintoma que parece um hematoma, que é caracterizado por uma hemorragia. O desenvolvimento da lesão é uma área que muda de coloração, variando entre vermelho, esverdeado, amarelado, roxo etc. Isso ocorre pois houve extravasamento de sangue, por conta principalmente das ações anticoagulantes. Edema endurado: edema que ocorreu pelo extravasamento no processo inflamatório, fica como se fosse (mas não é) encapsulado, por conta da ação pró-trombótica 1. Específico: soro antiofídico. Temos dois tamanhos, e decidimos qual deles usar de acordo com o tamanho do animal: − 50 ml: porte pequeno − 100 ml: porte grande A aplicação de mais de uma bolsa não é necessária em pequenos animais, e raramente é preciso nos grandes. 2. Sintomatologia: precisamos tratar os sintomas − Fluidoterapia − Analgésico − Antibiótico − Anti-histamínico − Anti-inflamatório A terapia consiste em: salvar a vida (com o soro) + acelerar a recuperação (tratando os sintomas) Temos dois tipos de soros antiofídicos para a medicina veterinária: Esse é o mais utilizado, pois é completo (inclusive já vem com a seringa). Essa é a outra opção Contudo, ambas são apresentações comerciais que só servem para acidentes com serpentes do gênero Bothrops, Lachesis e Crotalus (soro polivalente) Para a cobra coral não tem e nem é indicado o uso de nenhum tipo de soro, pois o veneno dela é predominante neurotoxico, e nesse soro não há nada que combata isso. . Por essa razão só terá efeito em neurotoxinas pós-sinápticas. Contudo, geralmente não é suficiente para salvar o animal. Por que não há soro na medicina veterinária? Pois não compensa para a indústria produzir, (visto que a taxa de acidentes com corais é muito baixa - 0,6%) e é uma produção muito cara. É possível usar o soro feito para humanos? Até pode, contudo, não onde comprar esse medicamento, visto que ele é liberado apenas para hospitais. Se usar o soro errado? Não gerará efeito e o animal continuará sofrendo com os efeitos do veneno Se houver um paciente que foi atacado por uma coral, é complicado, pois não há tratamento específico, e a única coisa que podemos fazer é melhorar os sintomas com anticolinesterásicos (inibidor da acetilcolinesterase), já que o veneno da coral bloqueai a liberação de acetilcolina e os receptores nicóticos. Ao usar essas drogas, aproveitamos a acetilcolina que está disponível, e ela não degradada. Tente a expulsar as zootoxinas que estão em receptores nicotínicos
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