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BIANCA ABREU-MD4 1 Objetivos 1. Descreva a anatomia, histologia, vascularização e inervação do Intestino Delgado 1.1. Função das vilosidades 2. Sobre absorção: 2.1. Mineiras (ferro, cálcio, sódio, magnésio) 2.2. Carboidratos 2.3. Proteínas 2.4. Lipídios 2.5. Vitaminas (lipossolúveis e hidrossolúveis) 2.6. Água 3. Descreva a motilidade intestinal (não entrar no IG) 4. Sobre parasitas intestinais: 4.1. NASA (ciclo pulmonar, fisiopatologia e associar aos sintomas- diarreia, constipação e etc) 4.2. Outras (giardíase e amebíase) 5. Sobre a diarreia: 5.1 Tipos (aguda, crônica e persistente) 5.2 . Quanto a origem (alta ou baixa) 5.3 Diferenciar osmótica. secretória, inflamatória, disfuncional, gordurosa 5.4 . Principais causas de diarreia BIANCA ABREU-MD4 2 A função primária do intestino delgado está relacionada à digestão e à absorção de nutrientes. O intestino delgado apresenta um comprimento médio de 6 m (variando entre 5,0 e 8,3 m) e diâmetro variando entre 4 cm junto ao estômago e 2,5 cm na junção com o intestino grosso. Ele ocupa toda a região abdominal, exceto as regiões do epigástrio e do hipocôndrio esquerdo. Noventa por cento da absorção de nutrientes ocorre no intestino delgado e a maior parte do restante ocorre na porção proximal do intestino grosso. O intestino delgado preenche a maior parte da cavidade abdominal. Sua posição é estabilizada pelo mesentério, fixo à parede posterior do corpo. Movimentos do intestino delgado durante a digestão são restringidos pelo estômago, pelo intestino grosso, pela parede abdominal e pelo cíngulo do membro inferior. O revestimento intestinal apresenta uma série de pregas transversais denominadas pregas circulares. Diferentemente das pregas gástricas, cada prega circular é uma característica permanente do revestimento intestinal; as pregas circulares não desaparecem com o preenchimento do intestino delgado. Em torno de 800 pregas circulares são observadas ao longo da extensão de um intestino delgado, e a presença dessas pregas aumenta significativamente a área de superfície disponível para absorção. O duodeno é o segmento mais curto e mais largo do intestino delgado; apresenta aproximadamente 25 cm de comprimento. O duodeno é a parte imediatamente após o piloro do estômago, e o óstio pilórico de comunicação é controlado pelo músculo esfíncter do piloro. A partir do seu início, no referido esfíncter, o duodeno descreve uma curvatura em C, que se encaixa no pâncreas. A porção dos 2,5 cm proximais é peritonizada e o restante é secundariamente retroperitoneal e localizado entre as vértebras L I e L IV. O duodeno assemelha-se a um “recipiente para mistura” que recebe o quimo a partir do estômago e as secreções digestivas a partir do pâncreas e do fígado. Quase todas as enzimas digestivas essenciais entram no intestino delgado a partir do pâncreas. O duodeno, a primeira e mais curta (25 cm) parte do intestino delgado, também é a mais larga e mais fixa. O duodeno segue um trajeto em formato de C ao redor da cabeça do pâncreas; começa no piloro no lado direito e termina na flexura (junção) duodenojejunal no lado esquerdo. Essa junção ocorre aproximadamente no nível da vértebra LII, 2 a 3 cm à esquerda da linha mediana. A junção geralmente assume a forma de um ângulo agudo, a flexura duodenojejunal. A maior parte do duodeno está fixada pelo peritônio a estruturas na parede posterior do abdome e é considerada parcialmente retroperitoneal. O duodeno é dividido em quatro partes: • Parte superior (primeira): curta (aproximadamente 5 cm), situada anterolateralmente ao corpo da vértebra LI; • Parte descendente (segunda): mais longa (7 a 10 cm), desce ao longo das faces direitas das vértebras LI a LIII; • Parte inferior (terceira): 6 a 8 cm de comprimento, cruza a vértebra LIII; • Parte ascendente (quarta): curta (5 cm), começa à esquerda da vértebra LIII e segue BIANCA ABREU-MD4 3 superiormente até a margem superior da vértebra LII. Os primeiros 2 cm da parte superior do duodeno, imediatamente distais ao piloro, têm mesentério e são móveis. Essa parte livre, chamada ampola (bulbo duodenal), tem uma aparência diferente do restante do duodeno quando observada radiologicamente usando-se meio de contraste. Os 3 cm distais da parte superior e as outras três partes do duodeno não têm mesentério e são imóveis porque são retroperitoneais. A parte superior do duodeno ascende a partir do piloro e é superposta pelo fígado e pela vesícula biliar. O peritônio cobre sua face anterior, mas não há peritônio posteriormente, com exceção da ampola. A parte proximal tem o ligamento hepatoduodenal (parte do omento menor) fixado superiormente e o omento maior fixado inferiormente. A parte descendente do duodeno segue inferiormente, curvando-se ao redor da cabeça do pâncreas. Inicialmente, situa-se à direita da VCI e paralela a ela. Os ductos colédocos e pancreáticos principais entram em sua parede posteromedial. Esses ductos geralmente se unem para formar a ampola hepatopancreática, que se abre em uma eminência, chamada papila maior do duodeno, localizada posteromedialmente na parte descendente do duodeno. A parte descendente do duodeno é totalmente retroperitoneal. A face anterior de seus terços proximal e distal é coberta por peritônio; entretanto, o peritônio é refletido de seu terço médio para formar o mesentério duplo do colo transverso, o mesocolo transverso. A parte inferior (horizontal) do duodeno segue transversalmente para a esquerda, passando sobre a VCI, a aorta e a vértebra L III. É cruzada pela artéria e veia mesentéricas superiores e pela raiz do mesentério do jejuno e íleo. Superiormente a ela está a cabeça do pâncreas e seu processo uncinado. A face anterior da parte horizontal é coberta por peritônio, exceto na parte em que é cruzada pelos vasos mesentéricos superiores e pela raiz do mesentério. Posteriormente, é separada da coluna vertebral pelo músculo psoas maior direito, VCI, aorta e vasos testiculares ou ováricos direitos. A parte ascendente do duodeno segue superiormente e ao longo do lado esquerdo da aorta para alcançar a margem inferior do corpo do pâncreas. Aí, ela se curva anteriormente para se unir ao jejuno na flexura duodenojejunal, sustentada pela fixação de um músculo suspensor do duodeno (ligamento de Treitz). Esse músculo é formado por uma alça de músculo esquelético do diafragma e uma faixa fibromuscular de músculo liso da terceira e quarta partes do duodeno. A contração desse músculo alarga o ângulo da flexura duodenojejunal, facilitando o movimento do conteúdo intestinal. O músculo suspensor do duodeno passa posteriormente ao pâncreas e à veia esplênica e anteriormente à veia renal esquerda. As artérias do duodeno originam-se do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior. O tronco celíaco, por intermédio da artéria gastroduodenal e seu ramo, a artéria pancreaticoduodenal superior, supre a parte do duodeno proximal à entrada do ducto colédoco na parte descendente do duodeno. A artéria mesentérica superior, por meio de seu ramo, a artéria pancreaticoduodenal inferior, supre o duodeno distal à entrada do ducto colédoco. As artérias pancreaticoduodenais situam-se na curvatura entre o duodeno e a cabeça do pâncreas e irrigam as duas estruturas. A anastomose das artérias pancreaticoduodenais superior e inferior (i. e., entre o tronco celíaco e a artéria mesentérica superior) ocorre entre a entrada do ducto biliar (colédoco) e a junção das partes descendente e inferior do duodeno. Aqui ocorre uma importante transição na irrigação do sistema digestório: na parte proximal, estendendo-se oralmente (em direção à boca) até inclusive a parte abdominal do esôfago, o sistema digestório é irrigado pelo tronco celíaco; na região distal, estendendo-se aboralmente (afastando-se da boca) até aflexura esquerda do colo, o sangue provém da AMS. BIANCA ABREU-MD4 4 A base dessa transição na irrigação sanguínea é embriológica; esse é o local da junção do intestino anterior com o intestino médio. As veias do duodeno acompanham as artérias e drenam para a veia porta, algumas diretamente e outras indiretamente, pelas veias mesentéricas superior e esplênica. Os vasos linfáticos do duodeno acompanham as artérias. Os vasos linfáticos anteriores drenam para os linfonodos pancreaticoduodenais, localizados ao longo das artérias pancreaticoduodenais superior e inferior, e para os linfonodos pilóricos, situados ao longo da artéria gastroduodenal. Os vasos linfáticos posteriores seguem posteriormente à cabeça do pâncreas e drenam para os linfonodos mesentéricos superiores. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos duodenais drenam para os linfonodos celíacos. Os nervos do duodeno derivam do nervo vago e dos nervos esplâncnicos (abdominopélvicos) maior e menor por meio dos plexos celíaco e mesentérico superior. Os nervos seguem para o duodeno via plexos periarteriais que se estendem até as artérias pancreaticoduodenais. Uma curva abrupta, a flexura duodenojejunal, marca o limite entre o duodeno e o jejuno. Nesta junção, o intestino delgado proemina novamente em direção à cavidade peritoneal, tornando-se peritonizado e sendo sustentado por uma dupla lâmina de mesentério. O jejuno apresenta aproximadamente 2,5 m de comprimento. A maior parte da digestão química e absorção de nutrientes ocorre no jejuno. A segunda parte do intestino delgado, o jejuno, começa na flexura duodenojejunal, onde o sistema digestório volta a ser intraperitoneal. A terceira parte do intestino delgado, o íleo, termina na junção ileocecal, a união da parte terminal do íleo e o ceco. Juntos, o jejuno e o íleo têm 6 a 7 m de comprimento, o jejuno representa cerca de dois quintos e o íleo cerca de três quintos da parte intraperitoneal do intestino delgado. A maior parte do jejuno está situada no quadrante superior esquerdo (QSE) do compartimento infracólico, ao passo que a maior parte do íleo está no quadrante inferior direito (QID). A parte terminal do íleo geralmente está na pelve, de onde ascende, terminando na face medial do ceco. Embora não haja uma linha de demarcação nítida entre o jejuno e o íleo, eles têm características distintas, que são cirurgicamente importantes. O mesentério é uma prega de peritônio em forma de leque que fixa o jejuno e o íleo à parede posterior do abdome. A origem ou raiz do mesentério (com aproximadamente 15 cm de comprimento) tem direção oblíqua, inferior e para a direita. Estende-se da flexura duodenojejunal no lado esquerdo da vértebra LII até a junção ileocólica e a articulação sacroilíaca direita. O comprimento médio do mesentério, desde a raiz até a margem do intestino, é de 20 cm. A raiz do mesentério cruza (sucessivamente) as partes ascendente e horizontal do duodeno, parte abdominal da aorta, VCI, ureter direito, músculo psoas maior direito e vasos testiculares ou ováricos direitos. Entre as duas camadas do mesentério estão os vasos mesentéricos superiores, linfonodos, uma quantidade variável de gordura e nervos autônomos. A artéria mesentérica superior (AMS) irriga o jejuno e o íleo via artérias jejunais e ileais. A AMS geralmente origina-se da parte abdominal da aorta no nível da vértebra LI, cerca de 1 cm inferior ao tronco celíaco, e segue entre as camadas do mesentério, enviando 15 a 18 ramos para o jejuno e o íleo. As artérias se unem para formar alças ou arcos, chamados arcos arteriais, que dão origem a artérias retas, denominadas vasos retos. A veia mesentérica superior drena o jejuno e o íleo. Situa-se anteriormente e à direita da AMS na raiz do mesentério. A VMS termina posteriormente ao colo do pâncreas, onde se une à veia esplênica BIANCA ABREU-MD4 5 para formar a veia porta. Os vasos linfáticos especializados nas vilosidades intestinais (pequenas projeções da túnica mucosa) que absorvem gordura são denominados lactíferos. Eles drenam seu líquido leitoso para os plexos linfáticos nas paredes do jejuno e do íleo. Por sua vez, os vasos lactíferos drenam para os vasos linfáticos entre as camadas do mesentério. No mesentério, a linfa atravessa sequencialmente três grupos de linfonodos: • Linfonodos justaintestinais: localizados perto da parede intestinal; • Linfonodos mesentéricos: dispersos entre os arcos arteriais; • Linfonodos centrais superiores: localizados ao longo da parte proximal da AMS. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos mesentéricos drenam para os linfonodos mesentéricos superiores. Os vasos linfáticos da parte terminal do íleo seguem o ramo ileal da artéria ileocólica até os linfonodos ileocólicos. A AMS e seus ramos são circundados por um plexo nervoso periarterial por meio do qual os nervos são conduzidos até as partes do intestino irrigadas por essa artéria. As fibras simpáticas nos nervos para o jejuno e o íleo originam-se nos segmentos T8 a T10 da medula espinal e chegam ao plexo mesentérico superior por intermédio dos troncos simpáticos e nervos esplâncnicos (maior, menor e imo) torácicos abdominopélvicos. As fibras simpáticas pré-ganglionares fazem sinapse nos corpos celulares dos neurônios simpáticos pós- ganglionares nos gânglios celíaco e mesentérico superior (pré-vertebral). As fibras parassimpáticas nos nervos para o jejuno e íleo provêm dos troncos vagais posteriores. As fibras parassimpáticas pré-ganglionares fazem sinapse com os neurônios parassimpáticos pós- ganglionares nos plexos mioentérico e submucoso na parede intestinal. A estimulação simpática reduz a atividade peristáltica e secretora do intestino e atua como um vasoconstritor, reduzindo ou interrompendo a digestão e disponibilizando sangue (e energia) para “fugir ou lutar”. A estimulação parassimpática aumenta a atividade peristáltica e secretora do intestino, restaurando o processo de digestão após uma reação simpática. O intestino delgado também tem fibras sensitivas (aferentes viscerais). O intestino é insensível à maioria dos estímulos dolorosos, inclusive incisão e queimadura; entretanto, é sensível à distensão que é percebida como cólica (dor abdominal espasmódica). O íleo, que também é peritonizado, é o terceiro e último segmento do intestino delgado. É também o mais longo, medindo cerca de 3,5 m de comprimento. O íleo termina como um esfincter, a “valva ileocecal”, que controla o fluxo de materiais do íleo ao ceco do intestino grosso. A “valva ileocecal” protrai-se para o interior do ceco*. Como as três regiões do intestino delgado são histologicamente semelhantes, primeiro são descritas as características comuns. A área da superfície da luz do intestino é ampliada pela formação de pregas circulares, vilosídades, microvilosidades e criptas de Lieberkühn. • As pregas circulares (dobras circulares), também conhecidas como valvas de Kerckring, são pregas transversais permanentes e contêm um centro de submucosa. Cada prega circular está disposta circularmente e se estende por cerca de metade a dois terços do caminho ao redor da circunferência da luz. As pregas começam a aparecer acerca de 5 a 6 cm além do piloro. Elas são mais numerosas na porção distal do duodeno e no início do jejuno, e seu tamanho e sua frequência são reduzidos no meio do íleo. • As vilosidades são projeções digitiformes e semelhantes a folhas e únicas da mucosa que se estendem a partir da superfície mucosa teórica BIANCA ABREU-MD4 6 por 0,5 a 1,5 mm para dentro da luz. Elas cobrem completamente a superfície do intestino delgado, conferindo a ele uma aparência aveludada quando visto a olho nu. O eixo central de cada vilosidade contém alças capilares, um canal linfático em fundo cego (quilífero, ou lácteo), e algumas fibras musculares lisas, contidos em um tecido conjuntivo frouxo, rico em célulaslinfóides. As vilosidades são estruturas permanentes. Elas são mais numerosas no jejuno e no íleo e, sua altura diminui de 1,5 mm no duodeno para cerca de 0,5 mm no íleo. • As microvilosidades dos enterócitos propiciam a maior amplificação da superfície luminal. Cada célula possui vários milhares de microvilosidades compactamente dispostas. Elas são visualizadas aomicroscópio óptico e conferem à região apical da célula uma aparência estriada, a chamada planura estriada. • Invaginações do epitélio na lâmina própria, entre as vilosidades, formam as glândulas intestinais, ou criptas de Lieberkühn (criptas intestinais), que também aumentam a área da superfície do intestino delgado. A mucosa do intestino delgado é composta pelas três camadas usuais: epitélio colunar simples, lâmina própria e muscular da mucosa. O epitélio colunar simples, que recobre as vilosidades e a superfície dos espaços entre vilosidades, é composto por células absortivas superficiais, células caliciformes e células neuroendócrinas; Elas são células altas, com cerca de 25 |xm de comprimento, e núcleo oval basal. Sua superfície apresenta uma borda em escova. As principais funções destas células são a parte final da digestão e a absorção de água e nutrientes. Ao microscópio eletrônico, as células absortivas superficiais mostram numerosas microvilosidades, cujas pontas estão cobertas por uma espessa camada de glicocálix. Esta capa de glicocálix não somente protege as microvilosidades da autodigestão, mas seus componentes enzimáticos também participam da parte final da digestão de dipeptídios e dissacaridios em seus monômeros. As zônulas de oclusão entre a luz intestinal e o compartimento de tecido conjuntivo do corpo permitem a retenção seletiva de substâncias absorvidas pelo enterócito. Nos epitélios com zônulas de oclusão mais permeáveis, como aqueles no duodeno e no jejuno, uma bomba de sódio também cria uma concentração intracelular baixa de Na+. Entretanto, quando o conteúdo que passa para dentro do duodeno e do jejuno é hipotônico, ocorre uma absorção considerável de água, juntamente com Na+ adicional e outros pequenos solutos diretamente através das zônulas de oclusão dos enterócitos dentro dos espaços intercelulares. Esse mecanismo de absorção é referido como arrasto pelo solvente. A função secretora dos enterócitos, principalmente a síntese de enzimas glicoproteicas que serão inseridas na membrana plasmática apical, O intestino delgado também secreta água e eletrólitos. Essa atividade ocorre principalmente nas células dentro das glândulas intestinais. A secreção que ocorre nessas glândulas parece ajudar o processo de digestão e absorção por manter um estado líquido apropriado do quimo intestinal. Sob condições normais, a absorção de líquido pelo enterócito da vilosidade é equilibrada pela secreção de líquido pelo enterócito da glândula. As células caliciformes são glândulas unicelulares. O duodeno tem o menor número de células caliciformes e seu número aumenta ao se aproximar do jejuno. Estas células produzem mucinógeno, cuja forma hidratada constitui a mucina, um componente do muco, que constitui uma camada protetora que forra a luz. BIANCA ABREU-MD4 7 O intestino delgado tem vários tipos de células neuroendócrinas que produzem hormônios parácrinos e endócrinos. Quase todos os mesmos hormônios peptídicos identificados nesse tipo celular no estômago podem ser demonstrados nas células entertoendócrinas do intestino. A colecistocinina (CCK), a secretina, o polipeptídio inibidor gástrico (GIP, degastric inhibitory polypeptide) e a motilina são os reguladores mais ativos da fisiologia gastrintestinal que são liberados nessa porção do intestino As células de Paneth são facilmente distinguíveis por causa da presença de grandes grânulos eosinófilos de secreção apicais. Estas células piramidais ocupam a parte inferior das criptas de Lieberkühn e produzem o agente antibacteriano lisozima. Ao contrário das outras células do epitélio intestinal, as células de Paneth têm o tempo de vida comparativamente longo de 20 dias e secretam lisozima de um modo contínuo; As vesículas secretoras contêm a enzima antibacteriana lisozima, a-defensinas, outras glicoproteínas, uma proteína rica em arginina (provavelmente responsável pela intensa acidofilia) e zinco. A lisozima digere as paredes celulares de certos grupos de bactérias. As a- defensinas são homólogas dos peptídios que funcionam como mediadores nos linfócitos T CD8+ citotóxicos. Sua ação antibacteriana e sua capacidade de fagocitar certas bactérias e protozoários sugerem que as células de Paneth têm um importante papel na regulação da flora bacteriana normal do intestino delgado As células M são células epiteliais que se encontram suprajacentes às placas de Peyer e outros nódulos linfáticos grandes; elas diferem significativamente das células epiteliais intestinais circunvizinhas. As células M têm micropregas em vez de microvilosidades em sua superfície apical, e captam microrganismos e macromoléculas da luz nas vesículas endocitóticas. As células M são células transportadoras de antígenos. As vesículas são transportadas para a membrana basolateral, onde lançam seu conteúdo dentro do espaço intercelular epitelial na vizinhança dos linfócitos T CD4+. Portanto, as substâncias que ganham acesso ao corpo a partir da luz intestinal via células M entram em contato com células do sistema imune ao alcançarem a superfície basolateral. Os antígenos que alcançam os linfócitos dessa maneira estimulam uma resposta no GALT. Constituída de tecido conjuntivo fortemente vascularizado. A lâmina própria também é rica em células linfóides, que ajudam a proteger o revestimento intestinal contra a invasão por microorganismos. Como no estômago, a lâmina própria circunda as glândulas intestinais e contém numerosas células do sistema imune (linfócitos, plasmócitos, mastócitos, macrófagos e eosinófilos), particularmente nas vilosidades. A lâmina própria também contém numerosos nódulos de tecido linfático que representam o componente importante do GALT. Os nódulos são particularmente grandes e numerosos no íleo, onde estão preferencialmente localizados no lado do intestino oposto à fixação mesentérica. Esses agregados nodulares são conhecidos como nódulos agregados ou placas de Peyer. Células Regeneradoras. As células regeneradoras do intestino delgado são células-tronco, que proliferam extensamente repovoando o epitélio das criptas, da superfície mucosa e das vilosidades. Estas células, estreitas, parecem estar encaixadas nos espaços limitados entre as células recém-formadas; A muscular da mucosa do intestino delgado é composta por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de células musculares lisas; Durante a digestão, estas fibras BIANCA ABREU-MD4 8 musculares contraem-se ritmicamente, encurtando a vilosidade várias vezes por minuto. A submucosa do intestino delgado é composta por tecido conjuntivo denso, não modelado, fibroelástico, com um rico suprimento linfático e vascular. A inervação intrínseca da submucosa provém do plexo submucoso (de Meissner) do parassimpático. A submucosa do duodeno é diferente, pois contém glândulas denominadas glândulas de Brunner (glândulas duodenais). As glândulas de Brunner são glândulas tubuloalveolares ramificadas, cuja parte secretora é semelhante a ácinos mucosos. Os dutos destas glândulas atravessam a muscular da mucosa, geralmente perfuram a base das criptas de Lieberkühn e lançam seu produto de secreção na luz do duodeno. Após um estímulo do parassimpático, as glândulas de Brunner secretam um fluido mucoso alcalino. Este fluido ajuda a neutralizar o quimo ácido que penetra no duodeno vindo do estômago pilórico. Estas glândulas também produzem o hormônio polipeptídico urogastrona (agora denominado fator de crescimento epidérmico humano), queé liberado na luz do duodeno juntamente com o tampão alcalino. A urogastrona inibe a produção de HCl (inibindo diretamente as células parietais) e amplia a velocidade da atividade mitótica das células epiteliais. A muscular externa do intestino delgado é composta por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de músculo liso. O plexo mientérico de Auerbach, situado entre as duas camadas musculares, constitui o suprimento nervoso intrínseco da capa muscular externa. A muscular externa é responsável pela atividade peristáltica do intestino delgado. Com exceção da segunda e terceira partes do duodeno, todo o intestino delgado está envolvido por uma serosa. Os monossacarídeos hidrossolúveis resultantes da digestão devem ser transportados através da membrana plasmática hidrofóbica do enterócito. Os monossacarídeos são transportados através da membranas hidrófobas dos enterócitos. A glicose e a galactose são absorvidas por cotransportadores na+dependentes; enquanto que a frutose é absorvida por difusão facilitada O transportador de sódio/glicose do tipo 1 (SGLT1) é um simporte que conduz a glicose (e a galactose) contra seu gradiente de concentração acoplando seu transporte ao do Na+. Uma vez dentro do citosol, a glicose e a galactose podem ser retidas para as necessidades metabólicas do epitélio, ou podem sair da célula através do polo basolateral por meio de um transportador conhecido como GLUT2, um transportador por difusão facilitada. Evidências emergentes sugerem que o GLUT2 também pode ser recrutado na membrana apical dos enterócitos para participar na captação de glicose e de frutose quando as concentrações luminais desses açúcares estão elevadas. O recrutamento desse transportador depende, aparentemente, da presença do SGLT-1 e, portanto, este não pode ser substituído pelo GLUT2 em pacientes com má absorção de glicose-galactose Por outro lado, a frutose é conduzida através da membrana apical pelo GLUT5. Entretanto, considerando que o transporte da frutose não é acoplado ao do Na+, sua absorção é relativamente ineficaz, e pode facilmente ser interrompida se forem ingeridas grandes quantidades de alimento contendo esse açúcar. Os sintomas que ocorrem BIANCA ABREU-MD4 9 em decorrência dessa má absorção são semelhantes àqueles manifestados pelos pacientes com intolerância à lactose e que consomem esta substância. O GLUT5 também está presente na membrana basolateral e, portanto, pode mediar a transferência da frutose para a corrente sanguínea, embora haja evidências de que a frutose também seja um substrato para o GLUT2. O intestino delgado é dotado de uma série de transportadores de membrana específicos, capazes de promover a absorção de dipeptídeos, tripeptídeos e alguns aminoácidos livres. Em geral, os transportadores de aminoácidos têm especificidade razoavelmente ampla e, em geral, transportam um subgrupo de aminoácidos possíveis, mas com alguma sobreposição de sua afinidade para aminoácidos particulares. Cotransporte/transporte ativo secundário de aminoácidos e peptídeos: muitas vezes, a energia desse transporte é suprida por mecanismos de cotransporte com o na+ , à semelhança do que ocorre com o na+ e a glicose. A maioria das moléculas de peptídeos e aminoácidos se liga nas membranas da microvilosidade da célula com proteína transportadora específica que requer ligação de sódio para o transporte. Os aminoácidos são transportados do lúmen para o interior das células pelos cotransportadores na+ -aminoácidos da membrana apical, energizados pelo gradiente de na+ . Existem quatro tipos distintos de cotransportadores; um para cada tipo de aminoácido: neutro, ácido, básico ou imino. Os aminoácidos são transportados através da membrana basolateral para a corrente sanguínea, por difusão facilitada; de novo, por mecanismos distintos para os aminoácidos neutros, ácidos, básicos ou imino. Cotransportadores na+ -aminoácidos distintos, na membrana apical, transportam os dipeptídeos e tripeptídeos do lúmen intestinal ao interior da célula, utilizando o gradiente iônico de na+ , criado pelo trocador na+h + na membrana apical. Uma vez na célula, a maior parte dos dipeptídeos e tripeptídeos é hidrolisada a aminoácidos por peptidases citosólicas, produzindo aminoácidos que deixam a célula por difusão facilitada; os dipeptídeos e tripeptídeos remanescentes são absorvidos na forma inalterada. Transporte primário/peptídeo transportador 1 (pept1): o pept1 é um simportador que carrega peptídeos em conjunto com prótons. Os peptídeos absorvidos pelos enterócitos são imediatamente hidrolisados por uma série de peptidases citosólicas em seus aminoácidos constituintes. Os aminoácidos não necessários aos enterócitos são exportados através da membrana basolateral e entram nos capilares sanguíneos para serem transportados para o fígado através da veia porta. O pept1 é, também, de interesse clínico porque pode mediar a absorção dos chamados fármacos peptidomiméticos, que incluem diversos antibióticos, bem como agentes quimioterápicos, para o câncer. Acredita-se que os produtos da digestão da gordura sejam capazes de atravessar fácilmente as membranas celulares devido à sua lipofilicidade. Entretanto, evidências recentes sugerem que sua absorção pode ser, alternativa ou adicionalmente, regulada pela atividade de transportadores de membrana específicos. BIANCA ABREU-MD4 10 1. Os produtos da digestão lipídica (colesterol, monoglicerídeos, lecitina e ácidos graxos livres) são solubilizados, no lúmen intestinal, em micelas mistas, exceto o glicerol, que é hidrossolúvel. O núcleo das micelas contém produtos da digestão lipídica; enquanto que o exterior é revestido por sais biliares (anfipáticos). A porção hidrofílica das moléculas de sais biliares se dissolve na solução aquosa do lúmen intestinal, solubilizando, assim, os lipídeos do centro das micelas; 2. As micelas entram em contato com a borda em escova das células epiteliais intestinais (enterócitos), penetrando os espaços entre as microvilosidades em constante movimento. Os monoglicerídeos e ácidos graxos se difundem através da membrana apical, seguindo seu gradiente de concentração para dentro da célula. Os sais biliares que são deixados para trás no lúmen intestinal, são absorvidos no íleo. Como a maior parte dos lipídeos é absorvida no jejuno médio, o “trabalho” dos sais biliares estará completo muito antes de serem retornados ao fígado via circulação êntero-hepática. Na presença de abundância de micelas de sais biliares, aproximadamente 97% da gordura é absorvida; em sua ausência, a absorção é de apenas 40% a 50%; 3. Dentro das células epiteliais intestinais, os monoglicerídeos e os ácidos graxos são captados pelo retículo endoplasmático liso; sendo reesterificados para formar os lipídeos originalmente ingeridos, triglicerídeos, ésteres de colesterol e fosfolipídios; 4. Ao mesmo tempo, os enterócitos sintetizam uma série de proteínas, conhecidas com apolipoproteínas no retículo endoplasmático rugoso. Essas proteínas são combinadas/empacotadas com os lipídios ressintetizados para formar estruturas chamadas quilomícrons, que consistem em um núcleo lipídico (predominantemente de triglicerídeos) recoberto por fosfolipídios (80% do total) apolipoproteínas (20% do total) As vitaminas são moléculas que não podem ser sintetizadas pelo corpo, mas que são essenciais para o metabolismo normal. Muitas delas atuam como cofatores para reações bioquímicas específicas, ou desempenham outros papéis de importância crítica no organismo. À semelhança dos aminoácidos essenciais, a maioria das vitaminas precisa ser obtida de fontes alimentares, e sua deficiência pode levar ao desenvolvimento de doença. A vitamina C (ácido ascórbico) atua como antioxidante no corpo e também participa em diversas reações de hidroxilação. Ela é obtida de uma variedadede fontes dietéticas, incluindo frutas cítricas e vários vegetais. Com um valor de pKa de 4,2, ela é ionizada no pH do lúmen do intestino delgado, e, por conseguinte, sua difusão passiva ao longo do epitélio é insignificante. A absorção da vitamina C ocorre predominantemente no íleo – seu transporte na parte proximal do intestino delgado é muito menos ativo, e acredita-se que não haja transporte ativo no estômago ou no ceco. Uma série de estudos conduzidos nos últimos 30 anos revelou que o ácido ascórbico é transportado ao longo das membranas apicais dos enterócitos por uma família de cotransportadores acoplados ao sódio, designados como SVCT1 e SVCT2 (SVCT, de sodium-dependent vitamin C transporter, transportador de vitamina C dependente de sódio). Esses transportadores são estereoespecíficos e transportam a vitamina com dois íons sódio, levando, assim, à captação eletrogênica de solutos; Outra vitamina hidrossolúvel importante é a vitamina B12, que é utilizada por todas as células em sua forma de coenzima em diversas reações metabólicas. A absorção da cobalamina é mais complexa e exige a participação de um fator de ligação BIANCA ABREU-MD4 11 específico, que é secretado pelas células parietais do estômago e é conhecido como fator intrínseco. No lúmen gástrico, a vitamina é liberada das proteínas da dieta e liga-se inicialmente à denominada proteína de ligação R (também conhecida como haptocorrina), formando um complexo que é estável no pH ácido próprio desse local. É provável que a proteína de ligação R se origine predominantemente das glândulas salivares. Por outro lado, o fator intrínseco é uma glicoproteína com massa molecular aproximada de 50 kDa e um sítio de ligação de alta afinidade para a cobalamina. Todavia, esse fator não pode se ligar à vitamina na presença de pH baixo. Na verdade, ele acompanha o complexo cobalamina-proteína de ligação R até o duodeno, onde a proteína R é degradada por proteases pancreáticas, e a cobalamina é transferida para o fator intrínseco, no pH aumentado que é produzido quando as secreções gástricas são neutralizadas. A extremidade N-terminal do fator intrínseco também contém uma sequência de ligação reconhecida por um receptor apical para essa molécula, que é expresso pelos enterócitos e conhecido como receptor de fator intrínseco- cobalamina (IFCR, de intrinsic factor-cobalamin receptor). O IFCR é altamente expresso na parte distal do intestino delgado (em particular no íleo terminal), bem como em alguns outros locais epiteliais, incluindo os rins. Quando o complexo formado pelo fator intrínseco e pela cobalamina se liga ao IFCR, o receptor e seu ligante são internalizados, e eles são então direcionados para uma via vesicular para distribuição e tráfego. O fator intrínseco é degradado, e a cobalamina liberada liga-se então à TC II (transcobalamina II), que é sintetizada pelo enterócito. Por sua vez, esse novo complexo é endereçado para a membrana basolateral e é liberado na circulação nessa forma por meio de eventos de fusão vesicular. A cobalamina ligada à TC II pode ser captada pelo receptor específico desse complexo, que apresenta expressão ubíqua em todo o corpo, incluindo na membrana basolateral dos enterócitos, onde medeia a captação de cobalamina necessária para a função normal do enterócito; A quantidade de cobalamina estocada no organismo é grande (∼5 mg), particularmente quando comparada com a taxa de absorção e a perda diária de cobalamina da dieta. (A ingestão diária de cobalamina necessária para um adulto é de 2 microgramas.) A quantidade de cobalamina que chega ao intestino delgado é proveniente, de maneira equivalente, de duas fontes: os alimentos da dieta e a secreção biliar. A última é resultado da circulação êntero-hepática (Capítulo 46) de cobalamina; após sua absorção, a cobalamina é transportada por todo o corpo, e seu excesso é secretado na bile pelo fígado, onde esta pode ser novamente reabsorvida pelo intestino delgado e, então, recircular. O mecanismo para a absorção das vitaminas lipossolúveis consiste na mesma via que os demais lipídeos da dieta. No lúmen intestinal, as vitaminas lipossolúveis são incorporadas a micelas e transportadas para a membrana apical das células intestinais. Difundem-se através da membrana apical e, depois são incorporadas a quilomícrons e, então, expelidas ao interior do sistema linfático, que as entrega à circulação sistêmica. Obs.: Formação de micelas pelos sais biliares: os produtos finais da digestão de lipídios são monoglicerídeos, ácidos graxos, colesterol, lecitina e glicerol. Com exceção do glicerol, todos os demais são hidrofóbicos. Devido a isso, os produtos digestivos hidrofóbicos devem ser solubilizados nas micelas e transportados para a membrana apical das células intestinais para absorção. Os sais biliares, quando em concentrações elevadas, tendem a formar micelas, que são agregados cilíndricos compostos por 20 a 40 moléculas de sais biliares. As micelas se desenvolvem porque BIANCA ABREU-MD4 12 cada molécula de sal biliar é composta por um núcleo esterol lipossolúvel e um grupo polar hidrossolúvel. As micelas, portanto, permitem que o glóbulo da micela se dissolva no meio aquoso e permaneça estável, o que, por sua vez, permite o aumento da solubilidade dos lipídeos no conteúdo intestinal. Além disso, também são meios de transporte, carreando monoglicerídeos e ácidos graxos que entram em contato com a borda em escova das células epiteliais intestinais. Como pouco Na+ é eliminado por via Intestinal (cerca de 40 mEq/ f), este íon é extensivamente reciclado. A taxa de absorção resultante do Na+ é mais alta no jejuno, em acoplamento com solutos orgânicos (por cotransporte). O Na+ move-se do lúmen intestinal para o interior das células do delgado, através da ML, a favor do seu gradiente de potencial eletroquímico; com isso, provê a energia para o transporte dos solutos orgânicos, por mecanismo de transporte ativo secundário. Subsequentemente, o Na+ é transportado de modo ativo para fora das células epiteliais pela Na+ /K+ -ATPase da MBL. No íleo, a taxa de absorção de Na+ é menor, podendo ocorrer contra uma diferença de potencial eletroquímico maior que a existente no jejuno. Nesse segmento, a absorção de Na+ é levemente estimulada pelos açúcares e aminoácidos. No cólon, o Na+ é absorvido contra grande diferença de potencial eletroquímico, uma vez que sua concentração luminal é pequena (no máximo 20 mEq/i) se comparada à do plasma (140 mEq/i). A absorção de Na+ ao longo do intestino ocorre, basicamente, pelos seguintes mecanismos específicos, distribuídos nas membranas luminal e basolateral das células absortivas intestinais: • Cotransporte Na+:substratos orgânicos • Cotransporte Na+:Cl- • Contratransportes paralelos Na+/H+ e c1- 1Hco-3 • Cotransporte Na+:ânions inorgânicos • Transporte desacoplado de Na+, mediado por canais A captação ativa e transcelular de Ca2+ ocorre apenas nas células epiteliais do duodeno, porém o Ca2+ também é absorvido de maneira passiva, através de difusão pela via paracelular ao longo do intestino delgado. A maior parte do Ca2+ é absorvida no jejuno e íleo por difusão, se comparada à quantidade que é absorvida no duodeno através de transporte ativo; esta diferença é grande porque o duodeno apresenta uma menor área de superfície e também porque o fluxo de fluido contendo Ca2+ no duodeno é mais rápido. A absorção transcelular de Ca2+ envolve três etapas. A captação de Ca2+ através da membrana apical ocorre através de canais para Ca2+, e é movida pelo gradiente eletroquímico existente entre o lúmen e a célula. O Ca2+ citosólico, então, liga-se a uma proteína denominada calbindina, a qual tampona o Ca2+ intracelular. Este passo é importante, pois possibilita que o Ca2+ intracelular que não está ligado (i.e., Ca2+ livre) mantenha-se relativamente baixo,apesar do grande fluxo transcelular de Ca2+. Uma bomba para Ca2+ e um trocador Na-Ca presentes na membrana basolateral realizam, então, a extrusão do Ca2+ da célula para o interstício. O Mg2+ é um importante íon intracelular e é utilizado pelo organismo como um cofator — muitas enzimas que utilizam ATP na verdade necessitam que o ATP esteja complexado com o Mg2+ — e é essencial para a transmissão nervosa e para a contração muscular. A deficiência de Mg2+ pode afetar as funções neuromuscular, cardiovascular e gastrointestinal. O Mg2+ também BIANCA ABREU-MD4 13 é importante para que ocorra adequada secreção, e adequada resposta tecidual nos órgãos- alvo do paratormônio. Assim, a depleção de Mg2+ é tipicamente associada à hipocalcemia. A absorção de Mg2+ pelo trato gastrointestinal não está totalmente elucidada, mas parece divergir substancialmente da absorção de outros cátions divalentes importantes, como o Ca2+, de três maneiras importantes. Primeiramente, um transportador ativo para o Mg2+ parece existir no íleo, e não no duodeno, como no caso do Ca2+. Em segundo lugar, a 1,25-di-hidroxivitamina D não aumenta consistentemente a absorção de Mg2+. Em terceiro lugar, pacientes que apresentam absorção de Ca2+ elevada (p. ex., hipercalciúria absortiva) apresentam absorção de Mg2+ normal. Paralelamente à absorção ativa de Mg2+ no íleo, o restante do intestino delgado absorve Mg2+ de forma passiva. A quantidade de ferro recomendada em uma dieta balanceada é de 6 a 8 mg/1.000 cal, o que representa a ingestão de cerca de 10 a 15 mg diários. Desta quantidade, apenas se absorvem 10 a 12%. Em mulher, em período pré-menopausa ou durante gestação, e em criança na idade de crescimento, a absorção de ferro varia de 1,0 a 2,0 mg/dia; em homem adulto, de 0,5 a 1,0 mg/ d ia. Esses valores são suficientes para repor as perdas diárias, resultantes da descamação das células intestinais e epidérmicas. O conteúdo férrico de um organismo adulto é de aproximadamente 4g. O ferro encontra-se, principalmente, ligado aos radicais prostéticos das porfirinas dos grupos heme das moléculas de hemoglobina (65%) e de mioglobina (5%), como também a enzimas (1%). O restante está sob formas de ferritina e de hemossiderina, no fígado. O ferro heme é também absorvido; cerca de 15% do que se ingere são absorvidos. A absorção de ferro ocorre, preferencialmente, no duodeno e no jejuno, diminuindo progressivamente em direção ao íleo. O mecanismo celular de absorção de ferro não está ainda bem esclarecido. O ferro heme é absorvido na ML por mecanismo ainda não conhecido. No citosol do enterócito, o grupo heme sofre ação da heme oxigenase, liberando o Fe2T, que pode ser oxidado a Fel+, o qual é então reduzido a íon ferroso (Fe2+), por ação da enzima ferro redutase. O Fe2+, por sua vez, pode ser transportado para o interior celular por duas vias distintas, descritas a seguir. 1) No lúmen do intestino, o Fe2+ interage com a transferrina (Tf), formando o complexo Fe2+ -Tf, que se liga a um receptor de transferrina localizado na ML, para penetrar no enterócito por endocitose. No citosol, o baixo pH da vesícula endocítica causa a liberação do ferro do complexo TI-receptor. Esse complexo é reciclado para a ML, deixando o ferro livre no citosol 2) O Fe2+ no lúmen do intestino pode também ser transportado para o citosol através do cotransportador H+:fe2+ (DCTl -divalent cation transporter), localizado na ML do enterócito. Como as formas de ferro ionizado e livre são citotóxicas, o ferro no citosol interage principalmente com a mobilferrina para ser tamponado. Quando os níveis plasmáticos de ferro são elevados, aumenta a formação intracelular de mobilferrina, com diminuição da transferência do íon para o plasma. O fosfato, assim como o magnésio, também é absorvido em toda a extensão do intestino delgado. A capacidade intestinal de absorção de fosfato aumenta em resposta aos baixos níveis de fosfato sérico. Esse processo depende da vitamina D, mas os mecanismos pelos quais essa vitamina eleva a absorção de fosfato ainda não são compreendidos. Em grande parte, o fosfato cruza a ML por transporte ativo secundário, energizado pelo gradiente de Na+. Ele deixa a célula a favor de um gradiente de potencial eletroquímico, por transporte facilitado na MBL. O trato gastrintestinal absorve, diariamente, grande quantidade de líquidos e solutos. Aproximadamente 9 litros de água são lançados BIANCA ABREU-MD4 14 nas porções superiores do intestino delgado, provenientes da dieta (2 litros), saliva (1,5 litro), secreção gástrica (2,5 litros), bile (0,5 litro), secreção pancreática (1,5 litro) e secreções do próprio intestino delgado (1 litro). Cerca de 98°/o deste total são reabsorvidos e apenas 100 a 200 mL são excretados nas fezes diariamente. A maior parte da reabsorção, cerca de 85°/o ou 7,5 litros, ocorre no jejuno e íleo e 13°/o no cólon. Os mecanismos envolvidos nos transportes de água e eletrólitos seguem os princípios, forças eletromotrizes e vias descritas anteriormente. Em termos de vias de transporte, cabe salientar que, à medida que se caminha pelo intestino em direção ao ânus, modificações nas junções intercelulares vão tornando a via paracelular cada vez menos perrneável, ou seja, os segmentos vão sucessivamente passando de epitélios leaky para epitélios do tipo tight, o que aumenta a participação da via transcelular nas porções finais do trato gastrintestinal. Isto confere às porções distais do intestino a capacidade de regulação fina da absorção e secreção das substâncias, bem como da constituição final das fezes. Desse modo, o intestino absorve a água de forma global. Durante o período pós-prandial, essa absorção é promovida no intestino delgado, predominantemente por meio dos efeitos osmóticos da absorção de nutrientes. Um gradiente osmótico é estabelecido através do epitélio intestinal que, simultaneamente, direciona o movimento da água através das junções fechadas. Além disso, no período entre as refeições, quando os nutrientes estão ausentes, a absorção de fluidos ainda pode ocorrer pela absorção conjunta de Na+ e Cl- mediada pela interação acoplada dos antiportes Na+/H+ (NHE-3) e Cl-/HCO3-; O transporte de água pelas diversas porções do intestino é sempre de natureza passiva, tendo como força movente o gradiente osmótico gerado pelo transporte transepitelial de solutos, especialmente de sódio. A adição de solutos osmoticamente ativos aos líquidos intercelulares faz com que esses líquidos se tornem hipertônicos em relação ao líquido presente na luz, o que gera fluxo de água através do epitélio intestinal. O próprio movimento de água é capaz de promover o transporte de mais soluto, num processo denominado "arraste pelo solvente". Como dito anteriormente, as características do epitélio intestinal alteram-se ao longo do eixo axial. Este fato tem grande impacto no transporte de água, visto que, nas porções proximais, o epitélio possui tanto a via transcelular quanto a paracelular disponíveis para o transporte de volume. De fato, no duodeno, observa-se fluxo de água no sentido da luz, ou seja, secreção de volume, como forma de tomar o conteúdo desse segmento isotônico e aumentar a capacidade absortiva. A partir do jejuno, a atividade é absortiva. Nas porções mais proximais do intestino, principalmente jejuno e íleo, o transporte de água é isotônico e se dá em grande parte pela via paracelular. No cólon, esta via é praticamente impermeável à água, e a pequena absorção que aí ocorre (cerca de 10°/o do total) se dá por via transcelular, sendo fundamental para a constituição final das fezes. As células epiteliais intestinais que revestem os vilos absorvem grandes volumes de fluido. A primeira etapa neste processo é a absorção de soluto e, a seguir, há a absorção de água. O BIANCA ABREU-MD4 15 absorbato (o fluido absorvido) é sempre isosmótico,ou seja, a absorção de soluto e água ocorre de forma proporcional. O mecanismo desta absorção isosmótica é similar ao observado no túbulo proximal renal. Os mecanismos de absorção de soluto são diferentes no jejuno, no íleo e no cólon. O jejuno é o principal local de absorção de Na+ no intestino delgado. Os mecanismos de transporte de eletrólitos no jejuno são idênticos aos observados no início do túbulo proximal do rim e são mostrados na Figura 8.34A. O Na+ entra nas células epiteliais do jejuno por meio de diversos transportadores acoplados dependentes de Na+. A membrana apical contém cotransportadores de Na+-monossacarídeo (Na+-glicose e Na+- galactose), cotransportadores de Na+-aminoácidos e trocadores de Na+-H+. Depois que o Na+ entra na célula com os transportadores acoplados, sai pela membrana basolateral por meio da Na+-K+ ATPase. Note que a fonte de H+ para a troca de Na+-H+ é o CO2 e a H2O intracelulares, que são convertidos em H+ e HCO3-e na presença de anidrase carbônica. O H+ é secretado no lúmen pelo trocador de Na+-H+ e o HCO3- é absorvido pelo sangue. O íleo contém os mesmos mecanismos de transporte que o jejuno mais um mecanismo de troca de Cl—HCO3- na membrana apical e um transportador de Cl-HCO#-, em vez de um transportador de , na membrana basolateral. Assim, quando o H+ e o HCO3- são gerados no interior das células epiteliais do íleo, o H+ é secretado no lúmen pelo trocador de Na+-H+ e o HCO3- também é secretado no lúmen através do trocador de Cl—HCO3- (em vez de ser absorvido pelo sangue, como no jejuno). O resultado da troca combinada de Na+-H+ e da troca de Cl—HCO3- na membrana apical é o movimento geral do NaCl para a célula, que, então, é absorvido. Assim, no íleo, há absorção geral de NaCl, enquanto, no jejuno, há absorção geral de NaHCO3. "As células epiteliais que revestem as criptas intestinais secretam fluido e eletrólitos (em comparação com as células que revestem os vilos, que absorvem fluido e eletrólitos). O mecanismo de secreção de eletrólitos pelas células da cripta é mostrado na Figura 8.36. A membrana apical contém canais de Cl-. Além de ter a Na+-K+ ATPase, a membrana basolateral também possui um cotransportador de Na+-K+-2Cl- similar ao encontrado no membro ascendente espesso da alça de Henle. Este cotransportador de três íons provoca a entrada de Na+, Cl- e K+ do sangue nas células. O Cl- entra nas células pelo cotransportador de Na+-K+-2Cl- e, então, difunde- se para o lúmen por meio de canais de Cl- na membrana apical. O Na+ segue a secreção de Cl- de forma passiva, movendo-se entre as células. Por fim, a água é secretada no lúmen, seguindo a secreção de NaCl. Os canais de Cl- da membrana apical geralmente estão fechados, mas podem se abrir em resposta à ligação de diversos hormônios e neurotransmissores a receptores na membrana basolateral. Estas substâncias ativadoras incluem a ACh e o VIP. O neurotransmissor ou hormônio se liga ao receptor basolateral, ativando a adenilil ciclase e gerando cAMP nas células da cripta. O cAMP abre os canais de Cl- na membrana apical, iniciando a secreção deste íon; o Na+ e a água seguem o Cl- até o lúmen. Normalmente, os eletrólitos e a água secretados pelas células da cripta intestinal são absorvidos pelas células dos vilos do intestino. No entanto, em doenças em que há estimulação máxima da adenilil ciclase (p. ex., a cólera), a secreção de fluido pelas células da cripta excede a capacidade de absorção das células dos vilos e causa diarreia grave e com risco de morte Hormônios do córtex da suprarrenal: BIANCA ABREU-MD4 16 Aldosterona. Ê um mineralocorticoide sintetizado no córtex da suprarrenal; eleva não só a absorção de água e de NaCl, como também a secreção de K+ no cólon e, em menor extensão, no íleo. Este hormônio tem o mesmo efeito nas células epiteliais do néfron; seu papel, no intestino e no néfron, é regular a absorção de água em resposta à desidratação. O mecanismo de ação da aldosterona consiste na elevação da incorporação e/ou ativação dos canais epiteliais para Na+ na ML e no aumento do número das Na+/K+-ATPases da MBL. Glicocorticoides. Também agem no intestino, elevando a absorção de água e de NaCl tanto no delgado como no cólon, incorporando a Na+/K+- ATPase à MBL. Epinefrina. As células intestinais têm receptores para epinefrina, do tipo ex; o hormônio eleva a absorção eletroneutra de NaCl no neo e inibe os processos de secreção. Ele também tem efeito sobre os plexos intramurais, especialmente os submucosos, por meio de inibição dos neurônios secretores e motores do sistema nervoso entérico. Somatostatina. Inibe a secreção de íons e de água nas células das criptas, reduzindo o nível de cAMP. Estimula a absorção hídrica e de eletrólitos no lleo e no cólon. Substâncias do sistema imunológico do intestino. São parácrinos secretados por mastócitos, fagócitos, linfócitos, basófilos, neutrófilos, células endoteliais e fibroblastos. Estas células secretam: histamina, citocinas, serotonina, prostaglandinas, leucotrienos, endotelinas, fatores ativadores de plaquetas, tromboxanos, adenosina e óxido nítrico. Estas substâncias elevam os processos de secreção de água e de eletrólitos pelas células das criptas, podendo causar diarreia; são liberadas nos processos inflamatórios intestinais, como na doença de Crohn. Estes parácrinos podem agir diretamente sobre as células epiteliais, ou de modo indireto, aumentando a atividade dos neurônios do sistema nervoso entérico, estimulando tanto a motilidade como a secreção das células intestinais. Adicionalmente, o sistema nervoso entérico, via neurotransmissores (como a substância P e o neuropeptídio Y), modula a atividade de células do sistema imunológico do intestino. A chegada do quimo ao intestino estimula os mecano e quimiorreceptores, que desencadeiam curtos reflexos intramurais com liberação de neurotransmissores. Estes agem diretamente sobre as células epiteliais, ou indiretamente (via sistema imunológico do intestino), provocando tanto os processos secretórios como os absortivos, além da motilidade. As células intestinais são inervadas por neurônios motores e secretores que se originam principalmente dos plexos submucosos, mas também dos plexos mioentéricos. Os neurotransmissores são a acetilcolina e o VIP; porém, várias substâncias neuroativas agem como moduladoras. Poucas fibras eferentes parassimpáticas terminam diretamente nas células epiteliais. Porém, elas afetam os plexos intramurais e, predominantemente, o submucoso, alterando a resposta dos neurônios pós-ganglionares secretores e motores. A estimulação parassimpática colinérgica para os interneurônios e neurônios secretores dos plexos intramurais aumenta os processos secretórios. As fibras simpáticas eferentes noradrenérgicas terminam diretamente nas células epiteliais ou afetam a atividade dos neurônios secretores dos plexos intramurais. Nos dois casos, a estimulação simpática noradrenérgica diminui os processos secretores e aumenta os absortivos. Na neuropatia diabética autonômica, a estimulação simpática para o intestino é abolida, causando a diarreia diabética. As catecolaminas e os agentes cx- BIANCA ABREU-MD4 17 adrenérgicos inibem fortemente os processos secretórios provocados pela toxina do Vi brio cholerae. As camadas de musculatura lisa no intestino delgado produzem padrões de motilidade que misturam o quimo com várias secreções digestivas e impulsionam o fluido ao longo da extensão do intestino de modo que os nutrientes (juntamente com água e eletrólitos) possam ser absorvidos. Os padrões motores do intestino delgado durante o período pós-prandial são, predominantemente, direcionados para a mistura, e consistem amplamente em segmentação e contrações retropulsivas que retardam a refeição enquanto a digestão está ocorrendo. Quando a porção do intestino delgado é distendida pelo quimo,o estiramento da parede intestinal provoca contrações concêntricas localizadas, espaçadas ao longo do intestino e com duração de fração de minuto. As contrações causam “segmentação” do intestino delgado, Isto é, elas dividem o intestino em segmentos, o que lhe dá aparência de um grupo de salsichas. Quando uma série de contrações de segmentação se relaxa, outra se inicia, mas as contrações ocorrem em outros pontos entre os anteriores contraídos. Assim, as contrações de segmentação “dividem” o quimo duas a três vezes por minuto, promovendo por esse meio a mistura do alimento com as secreções do intestino delgado. A frequência máxima das contrações de segmentação no intestino delgado é determinada pela frequência das ondas elétricas lentas na parede intestinal, que é o ritmo elétrico básico. Como a frequência dessas ondas não ultrapassa 12 por minuto no duodeno e no jejuno proximal, a frequência máxima das contrações de segmentação nessas áreas é também de cerca de 12 por minuto; entretanto, essa frequência máxima ocorre apenas sob condições extremas de estimulação. No íleo terminal, a frequência máxima normalmente é de 8 a 9 contrações por minuto. A segmentação é um padrão estereotípico de contrações rítmicas que provavelmente reflete a atividade programada do sistema nervoso entérico sobreposta ao ritmo elétrico básico. Os mediadores hormonais desse padrão pós- alimentar de motilidade ainda não estão definidos, embora se saiba que a CCK dá a sua contribuição. A CCK desempenha também funções importantes na desaceleração do esvaziamento gástrico quando a refeição está no intestino delgado. Esse processo faz sentido como um mecanismo para ajustar o fornecimento de nutrientes em conformidade com a capacidade disponível para digerir e absorver os componentes da refeição. Os movimentos de segmentação, embora individualmente durem apenas alguns segundos, em geral percorrem mais ou menos 1 centímetro na direção anal e contribuem para impulsionar o alimento ao longo intestino. A diferença entre os movimentos de segmentação e os peristálticos não é tão grande quanto se esperaria dessas duas classificações. O quimo é impulsionado pelo intestino delgado por ondas peristálticas. Elas ocorrem em qualquer parte do intestino delgado e movem-se na direção do ânus com velocidade de 0,5 a 2,0 cm/s, mais rápidas no intestino proximal e mais lentas no intestino terminal. Normalmente, elas são muito fracas e cessam depois de percorrer em 3 a 5 BIANCA ABREU-MD4 18 centímetros. É muito raro que as ondas atinjam mais de 10 centímetros, de maneira que o movimento para adiante do quimo venha a ser muito lento. De fato, o movimento resultante, ao longo do intestino delgado, é de, em média, apenas 1 cm/min. Essa velocidade de deslocamento significa que são necessárias 3 a 5 horas para a passagem do quimo do piloro até a válvula ileocecal. A atividade peristáltica do intestino delgado é bastante intensa após refeição. Esse aumento da atividade deve-se, em parte, à entrada do quimo no duodeno, causando distensão de sua parede. A atividade peristáltica também é aumentada pelo chamado reflexo gastroentérico, provocado pela distensão do estômago e conduzido, pelo plexo miontérico da parede do estômago, até o intestino delgado. Além dos sinais nervosos que podem afetar o peristaltismo do intestino delgado, diversos hormônios afetam o peristaltismo, incluindo a gastrina, a CCK, a insulina, a motilina e a serotonina, que intensificam a motilidade intestinal e que são secretados em diversas fases do processamento alimentar. Por outro lado, a secretina e o glucagon inibem a motilidade do intestino delgado. A importância fisiológica de cada um desses fatores hormonais no controle da motilidade ainda é questionável. A função das ondas peristálticas no intestino delgado não é apenas a de causar a progressão do quimo para a válvula ileocecal, mas também a de distribuir o quimo ao longo da mucosa intestinal. À medida que o quimo entra no intestino e provoca o peristaltismo, que imediatamente distribui o quimo ao longo do intestino, esse processo se intensifica com a entrada de mais quimo no duodeno. Ao chegar à válvula ileocecal, o quimo por vezes fica aí retido por várias horas, até que a pessoa faça outra refeição; nesse momento, o reflexo gastroileal intensifica o peristaltismo no íleo e força o quimo remanescente a passar pela válvula ileocecal para o ceco do intestino grosso. Após a refeição ter sido digerida e absorvida, é desejável eliminar quaisquer resíduos não digeridos do lúmen para preparar o intestino para a próxima refeição → Essa depuração é efetuada pela peristalse, uma sequência coordenada de contração, que ocorre acima do conteúdo intestinal, e de relaxamento, que ocorre abaixo, permitindo que esse conteúdo seja transportado por distâncias consideráveis. A peristalse reflete a ação da acetilcolina e da substância P liberadas próximas ao local de distensão intestinal, o que serve para contrair o músculo circular, bem como dos efeitos inibitórios do VIP e do óxido nítrico no lado caudal. Como a segmentação, a peristalse inicia-se quando potenciais de ação gerados pela inervação intrínseca são sobrepostos aos locais de despolarização celular determinados pelo ritmo elétrico básico. Os padrões motores peristálticos que ocorrem durante o jejum são organizados como uma sequência de fases conhecidas como complexo motor migratório: A fase I do complexo motor migratório (CMM) é caracterizada por relativa quiescência, enquanto as pequenas contrações desorganizadas ocorrem durante a fase II. Durante a fase III, que apresenta uma duração de cerca de 10 minutos, as grandes contrações que se propagam ao longo da extensão do intestino são estimuladas pelo hormônio motilina, e removem qualquer conteúdo gástrico ou intestinal remanescente para o cólon. O piloro e a válvula ileocecal abrem-se completamente durante essa fase, e mesmo os pedaços grandes e não digeridos podem, eventualmente, ser eliminados do corpo. BIANCA ABREU-MD4 19 A motilidade do intestino volta então para a fase I do CMM, com o ciclo completo durando cerca de 90 minutos nos adultos, a não ser que seja ingerida uma refeição, e nesse caso o CMM é interrompido. Após a refeição, os níveis de motilina apresentam uma redução, e o CMM não pode ser reiniciado até que esses níveis aumentem novamente. Embora o peristaltismo no intestino delgado seja normalmente fraco, a irritação intensa da mucosa intestinal, como ocorre em casos graves de diarreia infecciosa, pode causar peristalse intensa e rápida chamada de surto peristáltico. Esse fenômeno é desencadeado, em parte, por reflexos nervosos que envolvem o sistema nervoso autônomo e o tronco cerebral e, em parte, pela intensificação intrínseca de reflexos no plexo mioentérico da parede do trato intestinal. As intensas contrações peristálticas percorrem longas distâncias no intestino delgado em questão de minutos, varrendo os conteúdos do intestino para o cólon e, assim, aliviando o intestino delgado do quimo irritativo e da distensão excessiva. A válvula ileocecal se projeta para o lúmen do ceco e é fechada quando o aumento da pressão no ceco empurra o conteúdo contra a abertura da válvula. A válvula usualmente resiste à pressão reversa de 50 a 60 centímetros de água. Além disso, a parede do íleo, alguns centímetros acima da válvula ileocecal, tem musculatura circular espessada, denominada esfíncter ileocecal. Esse esfíncter em geral permanece levemente contraído e retarda o esvaziamento do conteúdo ileal no ceco. Entretanto, imediatamente após a refeição, o reflexo gastroileal intensifica o peristaltismo no íleo e lança o conteúdo ileal no ceco. A resistência ao esvaziamento pela válvula ileocecal prolonga a permanência do quimo no íleo e, assim, facilita a absorção. Normalmente, apenas 1.500 a 2.000 mililitrosde quimo se esvaziam no ceco por dia. Controle por Feedback do Esfíncter Ileocecal. O grau de contração do esfíncter ileocecal e a intensidade do peristaltismo no íleo terminal são controlados, significativamente, por reflexos originados no ceco. Quando o ceco se distende, a contração do esfíncter ileocecal se intensifica e o peristaltismo ileal é inibido → fatos que retardam bastante o esvaziamento de mais quimo do íleo para o ceco. Além disso, qualquer irritação no ceco retarda o esvaziamento. Por exemplo, quando a pessoa está com o apêndice inflamado, a irritação desse remanescente vestigial do ceco pode causar espasmo intenso do esfíncter ileocecal e paralisia parcial do íleo, de tal forma que esses efeitos em conjunto bloqueiam o esvaziamento do íleo no ceco. Os reflexos do ceco para o esfíncter BIANCA ABREU-MD4 20 ileocecal e o íleo são mediados pelo plexo mioentérico na parede do trato intestinal, pelos nervos autônomos extrínsecos, especialmente, por meio dos gânglios simpáticos prévertebrais. As parasitoses intestinais constituem um importante problema de saúde pública, pois contribuem para as taxas de morbidade e mortalidade de pessoas em todo o mundo, sendo mais prevalentes em populações associadas a situações de aglomeração e péssimas condições sanitárias, ou seja, em países subdesenvolvidos. A transmissão dos parasitos está ligada à condições de vida, como hábitos alimentares, condições de moradia, comportamentos culturais e educacionais, sendo mais prevalentes em populações de baixo nível socioeconômico, não se relacionando diretamente à predisposição racial, genética ou suscetibilidades específicas. A gravidade da evolução da parasitose depende da situação clínica do paciente (se imunodeprimido e em extremos de idade – crianças e idosos) e do perfil do parasita, que pode invadir regiões do organismo longe dos intestinos (pulmões, cérebro, trato biliar). Infecções com grandes quantidades de parasitas podem, ainda, causar lesões graves e até mesmo óbito, como no bolo de áscaris. Existem 2 grandes classes de parasitas intestinais: os helmintos e os protozoários. Helmintos: dentre os helmintos, o mais prevalente em todo o mundo é a ascaridíase (ascaris lumbricoides). Outros: necatoríase (necator americanus), estrongiloidíase (strongyloides stercoralis), teníase (taenia solium ou taenia saginata), tricuríase (trichuris trichiura), oxiuríase ou enterobíase (enterobius vermiculares ou oxiurus vermiculares), esquistossomose (schistosoma mansoni). Protozoários: dentre os protozoários, a amebíase (entamoeba histolytica) prevalece causando o maior número de complicações, mesmo extraintestinais. Outros: blastocistose (blastocystis hominis), giardíase (giardia lamblia), ciclosporíase (cyclospora cayetanensis), criptosporidiose (cryptosporidium sp). É causada pela Giardia lamblia, protozoário que habita o duodeno e o jejuno proximal. Tem distribuição universal e é muito frequente no Brasil, principalmente em crianças; sua incidência diminui após a puberdade, provavelmente devido à imunidade adquirida. • Os trofozoítas se aderem à superfície epitelial através de um disco ou placa sugadora. Em infecções maciças, o grande número de parasitas sobre a superfície absortiva poderia dificultar a absorção de nutrientes; • Agressão à borda em escova (microvilosidades) dos enterócitos, onde existem enzimas hidrolíticas essenciais à digestão. Em alguns casos, existe de fato redução das dissacaridases intestinais; • Apesar de ser um parasita predominantemente luminal, os trofozoítos aderem à mucosa e alteram a sua arquitetura no local da adesão, promovendo atrofia vilositária de graus variáveis e aprofundamento das criptas, fato observado em modelos animais. Essa anormalidade morfológica tem como consequências funcionais a redução da atividade da lactase, da sacarase e da maltase bem como da absorção de água, eletrólitos e glicose. • Desconjugaçào de sais biliares pelo parasita. A falta de absorção de gorduras por distúrbios de sua emulsificação intestinal explicaria tanto a esteatorréia como a diarréia encontradas em certos pacientes; • Associação de outros microrganismos (bactérias, rotavirus. criptosporídio etc.) com a G. lamblia no aparecimento da doença; • Competição por nutrientes entre o parasita e o hospedeiro. • O hospedeiro, por outro lado, tem papel relevante. Sabe-se, por exemplo, que fatores imunitários são fundamentais, principalmente a imunidade humoral via IgA. Deficiência de IgA secretória, por exemplo, associa-se muitas vezes a giardíase intensa e persistente BIANCA ABREU-MD4 21 • A maioria dos indivíduos parasitados é assintomática. • Quando presentes, as manifestações principais são distensão abdominal, cólicas e diarréia com fezes amolecidas e claras (fezes líquidas, com muco e sem sangue). A duração do quadro clínico varia de dias a semanas. • Nas formas mais graves, especialmente em indivíduos com baixa resistência, pode haver má absorção, esteatorréia e emagrecimento. • Em 30 a 50% dos casos, a diarréia torna-se persistente e crônica, com consequente parada ou retardo do crescimento devido à má absorção intestinal • Algumas crianças apresentam quadro de diarréia crônica semelhante à doença celíaca, com perda de peso, desnutrição, déficit de crescimento, enteropatia perdedora de proteínas, edema, hipoproteinemia e deficiências de ferro, zinco, vitaminas A, E, B12 e ácido fólico É causada pelo protozoário Entamoeba histolytica (protozoário). A transmissão é pela ingestão de água e alimentos contaminados com cistos. CICLO BIOLÓGICO: TROFOZÓITO – PRÉ-CISTO – CISTO – METACISTO. Em sequência, ocorrem a partir da ingestão dos cistos maduros, estes passam pelo estômago e resistem a ação do sulco gástrico daí vão para o intestino grosso onde ocorre o desencistamento, surge o metacisto que sofre sucessivas divisões do núcleo e do citoplasma, dando origem a 4 e depois 8 trofozóitos metacísticos. Estes trofozóitos colonizam-se no intestino grosso vivendo como comensais. • A aderência do parasita ao epitélio se faz mediante lectinas contendo galactose existentes na membrana da ameba. Mucinas da camada de muco do cólon têm alta afinidade para essas lectinas e, por isso, exercem papel importante no impedimento da ligação do parasita às células epiteliais. Entretanto, ao "prender" os trofozoítas em sua superfície, o muco favorece a colonização do parasita na mucosa. • Após aderência, a E. histolytica causa lesão do epitélio por contato direto, sem a ação de toxinas; poucos segundos depois a ameba fagocita a célula lesada. O efeito lítico se faz em grande parte por fosfolipases A liberadas pelo parasita. • Outro possível mecanismo inclui a ação de uma proteína capaz de originar poros na membrana da célula-alvo e, assim, causar graves transtornos no fluxo de íons e água. • Uma vez na intimidade da mucosa, o parasita continua sua ação destrutiva, estimula a reação inflamatória do hospedeiro e pode ganhar a circulação, através da qual chega a outros órgãos e neles provoca lesões secundárias. • As complicações locais são hemorragias, perfuração da parede com peritonite (especialmente em crianças ou indivíduos com deficiência imunitária) e, menos frequentemente, espessamento fibroso circunscrito da parede conhecido como ameboma. • Complicações a distância são principalmente abscessos hepáticos (10%-15% dos casos), sobretudo na forma intestinal assintomática da doença. Podem ocorrer também lesões pulmonares e encefálicas. • Os indivíduos são na sua maioria portadores assintomáticos. • Quando há sintomas, pode ter manifestações intestinais ou extraintestinais (abscesso hepático, lesões pulmonares, cerebrais etc). Na forma intestinal, a apresentação mais comum no nosso meio é diarréia, com duas a quatro dejeções ao dia, contendo muco ou sangue e acompanhadade cólicas abdominais. Muitas vezes, esse quadro se alterna com períodos de funcionamento intestinal normal. BIANCA ABREU-MD4 22 • Podem estar associados tenesmo, vômitos e flatulência. • A forma disentérica clássica (várias evacuações diárias com sangue e muco, cólicas intensas, calafrios e outras manifestações gerais) é menos frequente. • Os sintomas duram uma a duas semanas. É causada pelo Ascaris lumbricoides (nematelminto). É a helmintíase de maior prevalência no mundo acometendo cerca de 30% da população mundial. A principal forma de transmissão é a ingestão de ovos através de água e alimentos contaminados, hábito de levar as mãos e objetos sujos à boca, ou a pratica de geofagia. Os ovos estão presentes no ar em regiões de clima seco e quente, podendo ser inalados ou deglutidos. HABITAT: Intestino delgado, principalmente jejuno e íleo. Machos e fêmeas vivem juntos. Podem ficar presos à mucosa, devido aos fortes lábios, ou migrarem pela luz intestinal. Ação espoliativa, pois os vermes consomem muitas proteínas, carboidratos, lipídios e vitamina A e C, levando o paciente a subnutrição e depauperamento físico e mental. Ação tóxica, ação traumática e mecânica obstrutiva. Forma nódulos no intestino. Ação tóxica: O Ascaris possui uma toxina, como a Hymenolepis nana, que provoca manifestações alérgicas, agindo no córtex cerebral, podendo causar meningite e ataques epiléticos. Causa também prurido nasal e cutâneo. Faz também o paciente ranger os dentes ao dormir • A infecção ocorre pela ingestão de ovos do parasita, que se rompem no intestino delgado e originam larvas que penetram na mucosa. • Algumas ficam retidas na lâmina própria ou na submucosa, onde induzem reação inflamatória com exsudato de macrófagos, neutrófilos e eosinófilos. • Grande número de larvas, porém, penetra em vasos sanguíneos ou linfáticos. Através do sistema porta, as larvas atingem o fígado, onde pode ser encontrado degeneração e necrose dos hepatócitos, infiltrado inflamatório e reação granulomatosa. • As larvas que ultrapassam o fígado ou os linfonodos chegam aos pulmões, onde provocam lesão do epitélio alveolar e, quando morrem, determinam intensa reação inflamatória, com acúmulo de eosinófilos e necrose parenquimatosa focais. Mais tarde, surgem macrófagos, células epitelióides e células gigantes. Durante a passagem pelos pulmões (cinco a seis dias após a infecção), podem surgir febre, calafrios, tosse, dispneia e crise asmática; mais raramente, aparecem cianose e escarros hemoptóicos. O quadro radiológico pode simular tuberculose miliar ou broncopneumonia. As larvas alcançam depois a traquéia, são deglutidas e se localizam no intestino delgado. Cerca de 60-90 dias após a infecção, os parasitas iniciam a postura: cada fêmea é capaz de pôr 200.000 ovos por dia. Durante esse período, o indivíduo sente desconforto abdominal, anorexia, náuseas, vómitos, cefaléia e irritabilidade. • A complicação mais grave é a obstrução intestinal por bolo de vermes, que se forma principalmente em crianças altamente infectadas; ocorre sobretudo no íleo terminal e na válvula íleo-cecal e pode ser seguida de perfuração intestinal. Os parasitas podem ainda comprimir vasos mesentéricos e provocar infarto intestinal. • Se penetram no apêndice, podem causar apendicite aguda, gangrena e perfuração. • A migração para os ductos biliares ou pancreático pode determinar abscessos hepáticos ou pancreatite aguda. O verme adulto provoca manifestações clínicas inespecíficas, como desconforto ou cólicas abdominais, náuseas e carências nutricionais. A semi-obstrução intestinal por Áscaris lumbricoides é um quadro grave, ocorrendo geralmente em BIANCA ABREU-MD4 23 desnutridos. O paciente apresenta cólicas, distensão abdominal, anorexia, vômitos biliosos, desidratação e, às vezes, diarréia no início do quadro. É comum a criança eliminar os vermes pela boca, pelas narinas ou pelo ânus, antes ou durante o quadro clínico. É uma parasitose intestinal causada pelo Ancylostoma duodenale e Necator americanus, esse último mais comum em nosso país. Ovos nas fezes → solo → L1 e L2 rabditóides se alimentam do material orgânico do solo → L3 filariódes → penetrampela pele por meio do contato direto → Após a penetração elas chegam às vênulas subcutâneas e vasos linfáticos atingindo a circulação aferente do hospedeiro até atingirem os capilares pulmonares onde se alojam. Nesta fase atravessam a parede alveolar e entremeadas às secreções mucosas, sobem pela árvore brônquica, ganhando laringe e faringe onde são deglutidas chegando ao intestino delgado. No intestino ocorrem as ultimas ecdises com crescimento das larvas para o estádio de vermes adultos tanto machos quanto fêmeas; Ação mecânica e espoliadora – na mucosa intestinal: Alimentam-se de fragmentos da mucosa e de sangue, Conseqüência: perda de ferro e proteínas do sangue, aumento da produção de eritrócitos com menos Hemoglobina e menor tamanho (anemia crônica). Ação patogênica das formas larvárias: passagem pelo tegumento cutâneo gerando prurido e infecções segundarias pelo inóculo de bactérias. Passagem pelos pulmões gerando lesões, hemorragia e irritabilidade. Ação patogênica das formas adultas: ação espoliadora no intestino delgado com destruição do tecido intestinal gerando hemorragias, ações toxicas pelas excreções e secreções dos helmintos. Na fase aguda do parasitismo intestinal pode ocorrer epigastralgia, náuseas, vômitos, bulimia, flatulência e diarréia. E na fase crônica: anemia ferropriva, anorexia, fraqueza, cefaléia, sopro cardíaco, palpitações, hipoproteinemia e edema por enteropatia perdedora de proteínas. É causada pela Taenia solium (suíno) ou por Taenia saginata (bovino). Os hospedeiros intermediários, suíno e bovino, tornam-se infectados quando ingerem ovos ou proglotes presentes no ambiente. O homem é o hospedeiro definitivo, passando a integrar o ciclo biológico destes parasitas quando ingere a carne crua ou mal passada, vegetais e frutas contaminados por cisticercos de origem suína ou bovina; Os ovos de tênia são ingeridos pelos hospedeiros intermediários, os embriões (oncosferas) se libertam do ovo no intestino delgado pela ação dos sucos digestivos e bile. As oncosferas penetram na parede intestinal e, em 24 a 72 horas, difundem-se no organismo através da circulação sanguínea. Ocorre então formação de cisticercos nos músculos esqueléticos e cardíaco; Quando o homem ingere cisticercos viáveis o mesmo sofre a ação do suco gástrico, evagina-se e se fixando, por meio do escólex, na mucosa do intestino delgado, dando origem a tênia adulta; Após três meses da ingestão do cisto o homem começa a eliminar proglotes grávidas pelas fezes e reinicia-se o ciclo; • Ação Mecânica traumática: pelos movimentos da Taenia • Espoliativa: absorve os nutrientes do Intestino Delgado por osmose no tegumento • Tóxica: metabólitos excretados pela Taenia Alguns sintomas são atribuídos a essa parasitose intestinal: fadiga, irritação, cefaléia, tontura, bulimia, anorexia, náuseas, dor abdominal, perda de peso, diarréia e/ou constipação, urticária e BIANCA ABREU-MD4 24 eosinofilia. Raramente ocorre semi-oclusão intestinal, apendicite, colangite ou pancreatite. O homem também pode ser o hospedeiro intermediário pela ingestão de ovos da T. solium procedente de alimentos contaminados com fezes de humanos portadores de teníase ou pela autoinfecção. Quando ingeridos, esses cisticercos podem se alojar em diversas regiões do organismo inclusive sistema nervoso central gerando sérios problemas e podendo levar inclusive à morte. A doença causada neste caso é a neurocisticercose; • Ação mecânica compressiva • Ação inflamatória SINTOMATOLOGIA: vômito, cefaléia, rigidez na nuca, ataques epiléticos, demência (quadro parecido com meningite) CISTICERCOSE OCULAR: O cisticerco
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