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SUMÁRIO 1. Embriologia .................................................................. 3 2. Funções Gerais .........................................................10 3. Duodeno ......................................................................25 4. Jejuno ............................................................................36 5. Íleo .................................................................................38 Referências Bibliografica ...........................................42 3INSTESTINO DELGADO 1. EMBRIOLOGIA O desenvolvimento do sistema di- gestório começa no início da quarta semana com a formação do intestino primitivo, que se encontra fechado cranialmente pela membrana buco- faríngea e caudalmente pela cloaca. Ele se forma a partir da incorporação do endoderma e de parte da vesícu- la umbilical (saco vitelino) pelas pre- gas cefálica, laterais e caudal durante o dobramento lateral e longitudinal do embrião. O endoderma do intestino primitivo origina a maior parte do epi- télio e das glândulas do trato digestivo, enquanto que o epitélio da extremida- de cranial é derivado do ectoderma do estomodeu (futura cavidade bucal) e o epitélio da extremidade caudal deri- va do ectoderma do proctodeu (futu- ro canal anal). Os tecidos muscular, conjuntivo e as outras camadas da parede do trato digestivo são deri- vados do mesênquima esplâncnico que circunda o intestino primitivo. O intestino primitivo é formado por três segmentos: anterior, médio e posterior: • Intestino anterior: origina a faringe, esôfago, estômago, primeira por- ção do intestino delgado (duodeno), pâncreas, fígado e vesícula biliar. • Intestino médio: origina o resto do intestino delgado (jejuno e íleo) e parte do intestino grosso (ceco, apêndice, cólon ascendente e me- tade ou 2/3 do cólon transverso). • Intestino posterior: forma a última porção do intestino grosso (metade ou o terço distal do cólon transverso, cólon descendente, sigmoide, reto e a porção superior do canal anal). Figura 1. Embriões durante a quarta (A) e a quinta (B) semanas do desenvolvimento, apresentando a formação do sistema digestório e de vários derivados que se originam da camada germinativa endodérmica. Fonte: Sadler, TW. Langman – Embriologia Médica, 13ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 4INSTESTINO DELGADO SE LIGA! Quando estamos estudando as várias etapas do desenvolvimento embrionário, muitas vezes nos encon- tramos perdidos ou nos desesperamos diante da série de acontecimento que se sucedem. Diante de tantas modificações embrionárias, a origem dos folhetos em- brionários é de longe um dos pontos fun- damentas na embriologia que você deve entender. Durante o processo de gastru- lação, as células que estão em constante multiplicação sofrem invaginação, fa- zendo com que as células presentes na superfície da blástula movam-se para o seu interior, formando camadas e um intestino primitivo. As camadas são chamadas de folhetos embrionários ou germinativos. A ectoderme é a camada mais externa, a endoderme é a mais in- terna, e a mesoderme é a intermediária entre elas. Cada uma dessas camadas posteriormente origina órgãos e tecidos: • Ectoderme: epiderme; anexos epi- dérmicos; sistema nervoso; epité- lios de revestimento das cavidades oral, nasal e anal; glândulas sudo- ríparas, sebáceas, mamárias, lacri- mais, medula da adrenal e hipófise; maxilas e dentes. • Mesoderme: derme; sistema es- quelético; sistema muscular; siste- ma circulatório; sistema reprodutor; sistema urinário; tecidos linfáticos; medula óssea; sangue. • Endoderme: sistema respirató- rio; órgãos do sistema digestório e epitélios de revestimento do tubo digestivo. Desenvolviemnto do Duodeno O duodeno se desenvolve a partir da extremidade caudal do intestino anterior e da extremidade cefálica do intestino médio e do mesênqui- ma esplâncnico associado ao endo- derma dessas porções do intestino primitivo. A união entre os segmentos do intestino primitivo se estabelece na desembocadura do colédoco. A junção das duas porções do duo- deno situa-se logo após a origem do ducto biliar. O duodeno em desenvol- vimento cresce rapidamente, forman- do uma alça em forma de C que se projeta ventralmente. À medida que o estômago rotaciona, aliado ao rápido crescimento da cabeça do pâncreas, a alça duodenal gira para a direita e vai se localizar retroperitonealmente. Por se originar dos intestinos anterior e médio, o duodeno é suprido por ra- mos das artérias celíaca e mesen- térica superior, artérias que vascu- larizam essas porções do intestino primitivo. Durante a quinta e sexta semanas, assim como ocorre no esôfago, a luz do duodeno se torna progressivamen- te menor até ser temporariamente obliterada, devido à proliferação de suas células epiteliais, recanalizando normalmente no final do período em- brionário. Nessa ocasião, a maior par- te do mesentério ventral já desapa- receu, ficando apenas uma pequena porção fibromuscular que fixa a parte terminal do duodeno à parede abdo- minal posterior. 5INSTESTINO DELGADO Desenvolviemnto do Intestino Médio O intestino médio ou alça vitelina se estende da desembocadura do colé- doco até́ o terço médio do cólon trans- verso. Todos os órgãos derivados do intestino médio são supridos pela ar- téria mesentérica superior. Com o alongamento do intestino médio, for- ma-se uma alça intestinal ventral com a forma de U, a alça intestinal média, que se projeta para o remanescente do celoma extraembrionário, na por- ção inicial do cordão umbilical. Grande parte deste desenvolvimento ocor- re entre a sexta e nona semana fora da cavidade abdominal, denominada hérnia umbilical fisiológica. A alça intestinal média comunica-se com o saco vitelino através de um estreito pedículo vitelínico (ou ducto vitelí- nico) até a décima semana. A hérnia umbilical ocorre porque não há espa- ço suficiente no abdome para o in- testino médio em rápido crescimento. NA PRÁTICA! A oclusão completa da luz do duodeno, atresia duodenal, não é comum. Durante o de- senvolvimento duodenal, a luz é completamente fechada por células epiteliais. Se a reca- nalização deixa de ocorrer, um pequeno segmento do duodeno é obliterado. O bloqueio quase sempre ocorre na junção dos ductos biliar e pancreático (ampola hepatopancre- ática), mas ocasionalmente envolve a parte horizontal (terça parte) do duodeno. A in- vestigação de famílias com atresia duodenal familiar sugere uma herança autossômica recessiva. Em bebês com atresia duodenal, os vômitos começam poucas horas após o nascimento. A atresia duodenal está associada à êmese biliar (vômito de bile) porque o bloqueio ocorre distal à abertura do ducto biliar. É importante mencionar que aproxima- damente um terço das crianças afetadas tem síndrome de Down e, além disso, 20% são prematuras. O polidrâmnio também ocorre porque a atresia duodenal impede a absorção normal do líquido amniótico pelos intestinos. O diagnóstico de atresia duodenal é sugeri- do pela presença do “sinal da dupla bolha” nos exames radiológicos e ultrassonográficos. A alça intestinal média comunica-se com o saco vitelino através de um estreito pedículo vitelínico (ou duc- to vitelínico) até a décima semana. A hérnia umbilical ocorre porque não há espaço suficiente no abdome para o intestino médio em rápido crescimen- to. À medida que a hérnia fisiológica se reduz e o intestino volta à cavidade abdominal. Não se conhece a causa do retorno do intestino; entretanto, a diminuição do tamanho do fígado e dos rins e o aumento da cavidade abdominal são fatores importantes. O intestino delgado (formado pelo ramo cranial) retorna primeiro, pas- sando por trás da artéria mesentérica superior, e ocupa a parte central do abdome. 6INSTESTINO DELGADO Na medida em que o intestino ado- ta sua posição definitiva, o mesenté- rio produz a fixação das vísceras à parede posterior do abdome. O duo- deno, exceto cerca de 25 cm iniciais (derivadosdo intestino anterior), não tem mesentério e se localiza retro- peritonealmente. A fixação do me- sentério dorsal na parede abdominal posterior é bastante modificada após o retorno dos intestinos à cavidade abdominal. Inicialmente, o mesentério dorsal está no plano mediano. Quan- do os intestinos se dilatam, se alon- gam e assumem suas posições finais, seus mesentérios são pressionados contra a parede abdominal posterior. O mesentério do colo ascendente se funde com o peritônio parietal nessa parede e desaparece; consequente- mente, o colo ascendente também se torna retroperitoneal. Outros deriva- dos da alça intestinal média ( jejuno e o íleo) retêm os seus mesentérios. O mesentério está inicialmente preso ao plano mediano da parede abdominal posterior. Após o desaparecimento do mesentério do colo ascendente, o mesentério do intestino delgado em forma de leque adquire uma nova li- nha de fixação que passa da junção duodenojejunal, ínfero-lateralmente, para a junção ileocecal. Figura 2. Herniação umbilical das alças intestinais em um embrião com cerca de 8 semanas (comprimento cranio- caudal de 35 mm). As dobraduras das alças do intestino delgado e a formação do ceco ocorrem durante a herniação. Os primeiros 90° de rotação ocorrem durante a herniação; os 180° restantes ocorrem durante o retorno do intestino à cavidade abdominal, no terceiro mês. Fonte: Sadler, TW. Langman – Embriologia Médica, 13ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 7INSTESTINO DELGADO O intestino posterior estende-se do terço distal do cólon transverso até a membrana cloacal, porção inicial- mente comum aos sistemas urinário e digestório. Todos os derivados do intestino posterior são supridos pela artéria mesentérica inferior. A jun- ção entre o segmento do colo trans- verso derivado do intestino médio e aquele que se origina do intestino posterior é indicada pela mudança na circulação sanguínea de um ramo da artéria mesentérica superior (artéria do intestino médio) para um ramo da artéria mesentérica inferior (artéria do intestino posterior). O cólon descen- dente torna-se retroperitoneal quan- do o seu mesentério se funde com o NA PRÁTICA! A onfalocele congênita é uma anomalia caracterizada pela persistência dos componen- tes intestinais na porção inicial do cordão umbilical. A cavidade abdominal é proporcio- nalmente pequena quando há uma onfalocele, já que faltou o estímulo para o seu cres- cimento. É necessária uma correção cirúrgica e, em geral, isto é adiado se o defeito for grande demais. Bebês com onfalocele grande geralmente sofrem de hipoplasia pulmonar ou torácica, e adiar o fechamento é uma decisão clínica melhor. A onfalocele resulta de um crescimento defeituoso dos quatro componentes da parede abdominal. Como a for- mação do compartimento abdominal ocorre durante a gastrulação, uma falha crítica de crescimento nesta época normalmente é associada a outras anomalias congênitas envol- vendo os sistemas cardíaco e urogenital. O revestimento da bolsa hernial é formado pelo epitélio do cordão umbilical, um derivado do âmnio. Figura 3. Onfalocele de um recém-nascido. Fonte.: Sadler, TW. Langman – Embriologia Médica, 13ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 8INSTESTINO DELGADO peritônio da parede abdominal poste- rior esquerda e, então, desaparece. O mesentério do colo sigmoide é manti- do, porém ele é mais curto do que no embrião. A cloaca é uma câmara revestida por endoderma que está em contato com o ectoderma superficial na membra- na cloacal. Essa membrana é cons- tituída pelo endoderma da cloaca e pelo ectoderma do proctodeu ou fosseta anal. A cloaca recebe o alan- toide ventralmente, que é um divertí- culo digitiforme. A cloaca é dividida em porções dor- sal e ventral através de uma projeção de mesênquima, o septo urorretal. Quando o septo cresce em direção à membrana cloacal, ele desenvolve extensões bifurcadas que produzem pregas das paredes laterais da clo- aca, que crescem uma em direção a outra e se fundem formando um sep- to que divide a cloaca em duas par- tes: reto e porção cranial do canal anal, dorsalmente; e seio urogenital, ventralmente. Na sétima semana, o septo urorretal já se fundiu com a membrana cloacal, dividindo-a em uma membrana anal dorsal e uma membrana urogenital, maior e ventral. A área de fusão do septo urorretal com a membrana clo- acal é representada, no adulto, pelo corpo perineal, o centro tendinoso do períneo. Este nódulo fibromuscular é o marco do períneo. O septo urorretal também divide o esfíncter cloacal em porções anterior e posterior. A porção posterior origina o esfíncter anal ex- terno e a porção anterior se desen- volve para a formação dos músculos transverso superficial do períneo, bul- bo-esponjoso e ísquio-cavernoso. Este detalhe do desenvolvimento ex- plica por que um nervo, o nervo pu- dendo, supre todos esses músculos. Proliferações mesenquimais produ- zem elevações do ectoderma super- ficial ao redor da membrana anal. Como resultado, logo essa membra- na estará localizada no fundo de uma depressão ectodérmica, o proctodeu ou fosseta anal. A membrana anal normalmente se rompe ao final da oi- tava semana, levando a porção final do trato digestivo (canal anal) a se co- municar com a vesícula amniótica. 9INSTESTINO DELGADO Mesentérios Os mesentérios são camadas duplas de peritônio que cercam alguns ór- gãos e os conectam à parede corpo- ral, sendo estes órgãos chamados de intraperitoneais. Já os órgãos que se encontram contra a parede posterior e são cobertos pelo peritônio apenas em sua superfície anterior são con- siderados retroperitoneais. Os liga- mentos peritoneais são mesentérios que passam de um órgão para o outro e/ou de um órgão para a parede cor- poral. Tanto os mesentérios quanto os ligamentos são meios de passa- gem para nervos, vasos sanguíneos e linfáticos que entram e saem das vísceras. O intestino primitivo, no início do seu desenvolvimento, possui um amplo contato com o mesênquima da pa- rede abdominal posterior. Entretanto, na quinta semana, a ponte de teci- do conjuntivo se estreita, e a porção caudal do intestino anterior, o intes- tino médio e a maior parte do intes- tino posterior tornam-se suspensas na parede abdominal pelo mesenté- rio dorsal, que se estende da extre- midade inferior do esôfago até a re- gião cloacal. Na região do estômago, ele forma o mesogástrico dorsal ou grande omento; na região do duode- no, ele forma o mesoduodeno; e na região do cólon, ele forma o mesocó- lon dorsal. O mesentério dorsal das alças do jejuno e do íleo forma o me- sentério propriamente dito. O mesentério ventral, que existe ape- nas na região terminal do esôfago e Figura 4. Região cloacal em embriões em estágios sucessivos do desenvolvimento. A. O intestino posterior penetra na porção posterior da cloaca, o futuro canal anorretal; o alantoide penetra na porção anterior, o futuro seio urogenital. O septo urorretal é formado por uma fenda do mesoderma entre o alantoide e o intestino posterior. A membrana cloacal, que forma a delimitação ventral da cloaca, é composta por ectoderma e endoderma. B. Conforme a dobradura caudal do embrião continua, o septo urorretal se move e fica mais perto da membrana cloacal. C. O alongamento do tubérculo genital traciona anteriormente a porção urogenital da cloaca; o desaparecimento da membrana cloacal cria uma aber- tura para o intestino posterior e outra para o seio urogenital. A extremidade do septo urorretal forma o corpo perineal. Fonte. Sadler, TW. Langman – Embriologia Médica, 13ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 10INSTESTINO DELGADO na porção superior do duodeno, é de- rivado do septo transverso. O cresci- mento do fígado no mesênquima do septo transverso divide o mesentério dorsal em omento menor, que se es- tende da porção inferior do esôfago, do estômago e da porção superior do duodeno até o fígado, e em ligamen- to falciforme, que se estende do fí-gado até a parede corporal ventral. 2. FUNÇÕES GERAIS O intestino delgado é formado pelo duodeno, jejuno e íleo, sendo uma re- gião fundamental do trato gastroin- testinal responsável pela absorção de determinados nutrientes, assim como a mistura de diversas secre- ções ao alimento. Estende-se do pi- loro até a junção ileocecal, onde o íleo une-se ao ceco (a primeira parte do intestino grosso). A parte pilórica do estômago esvazia-se no duodeno, sendo a admissão duodenal controla- da pelo piloro. As funções de motilidade do trato intestinal garantem a mistura ade- quada e a exposição do conteúdo intestinal (quimo) à superfície de absorção. A principal característica da digestão dos alimentos durante sua passagem no intestino delgado é a liberação controlada do quimo pelo estômago, a fim de atender as capaci- dades digestiva e absortiva do intes- tino. Além disso, existem estimulação adicional das secreções pancreática e biliar e a liberação dessas secreções no intestino delgado. Por conseguin- te, a função dessa região é bastante regulada por mecanismos de feedba- ck negativo, que envolvem vias hor- monais, parácrinas e neurais. Os es- tímulos mecânicos e químicos que regulam esses processos incluem a distensão da parede intestinal e a presença de prótons, osmolarida- de elevada e nutrientes no lúmen intestinal. Histologicamente, o tubo digestivo, que tem cerca de 9 metros de com- primento, é subdividido em regiões morfologicamente conhecidas: esôfa- go, estômago, intestino delgado (duo- deno, jejuno e íleo) e intestino grosso (ceco, colo, reto, canal anal e apêndi- ce). De modo geral, o tubo digestivo é constituído por quatro camadas (ou túnicas) histológicas concêntricas: mucosa, submucosa, túnica mus- cular externa e serosa (ou adventí- cia). Estas camadas são semelhantes ao longo de todo o comprimento do trato digestivo, mas apresentam mo- dificações e especializações regio- nais. Elas são inervadas pelo sistema nervoso entérico e moduladas por nervos simpáticos e parassimpáti- cos, além de também serem supridas por fibras sensitivas. 11INSTESTINO DELGADO Mucosa A mucosa é uma região que intima- mente recobre e encontra-se em con- tato com o lúmen do tubo digestivo, sendo constituído por um epitélio, lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo subjacente e a camada mus- cular da mucosa. A lâmina própria é uma estrutura altamente vasculariza- da contendo glândulas, assim como vasos linfáticos e ocasionais nódulos linfoides, pertencentes ao sistema de tecido linfoide associado a mucosas (MALT). Certas células da lâmina pró- pria são responsáveis pela síntese e liberação de fatores de crescimento que controlam o ciclo celular do epi- télio sobrejacente. Circundando essa camada de tecido conjuntivo está a camada muscular da mucosa, for- mada de uma camada circular inter- na e uma camada longitudinal ex- terna de músculo liso. Submucosa A submucosa é uma camada de te- cido conjuntivo fibroelástico, que circunda a mucosa. Esta camada não contém glândulas, exceto no esôfago e no duodeno. A submucosa também possui vasos sanguíneos e linfáticos, assim como um componente do sis- tema nervoso entérico conhecido como plexo submucoso de Meiss- ner, que também apresenta corpos de neurônios pós-ganglionares pa- rassimpáticos, controla a motilidade da mucosa (e, até certo ponto, a moti- lidade da submucosa) e as atividades secretoras das suas glândulas. A submucosa é revestida por uma es- pessa camada muscular, denominada túnica muscular externa, responsá- vel pela atividade peristáltica, a qual move o conteúdo do lúmen ao longo do trato digestivo. Ela é constituída de músculo liso (exceto no esôfago e no final do tubo digestivo) e está geralmente organizada em uma camada circular interna e uma ca- mada longitudinal externa. Certas células semelhantes às células mus- culares lisas, as células intersticiais de Cajal, sofrem contrações rítmicas e, por este motivo, são consideradas controladoras do processo de con- tração da túnica muscular externa. Um segundo componente do sistema nervoso entérico, conhecido como plexo mioentérico de Auerbach, está situado entre estas duas ca- madas musculares e regula a ativi- dade da túnica muscular externa (e, até certo ponto, a atividade da muco- sa). O plexo de Auerbach também possui corpos de neurônios gan- glionares parassimpáticos. Tanto a camada circular interna como a ca- mada longitudinal externa tem um ar- ranjo helicoidal, sendo que, enquanto a camada circular interna apresenta uma hélice estreita a camada longi- tudinal externa apresenta uma hélice mais ampla. 12INSTESTINO DELGADO Serosa e Adventícia A túnica muscular externa é envolvida por uma delgada camada de tecido conjuntivo que pode ou não ser reco- berta pelo epitélio simples pavimen- toso do peritônio visceral. Se a região do tubo digestivo é intraperitoneal, ela é recoberta pelo peritônio, e esta cobertura é conhecida como serosa. Se o órgão é retroperitoneal, ele fica aderido à parede do corpo por um tecido conjuntivo frouxo, sem reves- timento mesotelial, conhecido como adventícia. Figura 5. Camadas do intestino delgado. Fonte. Sanarflix. Suprimento Vascular Sanguíneo e Linfático do Intestino Delgado A drenagem linfática do intestino delgado tem seus capilares linfáti- cos terminando em fundo cego de- nominados de quilíferos centrais, os quais estão localizados nos eixos dos vilos, onde liberam seu conteúdo no plexo linfático submucoso, pas- sando por uma série de linfonodos até se lançar no ducto torácico, o maior vaso linfático do corpo. O duc- to torácico esvazia seu conteúdo no sistema circulatório, na junção da veia jugular interna esquerda com a veia subclávia. Alças capilares adjacentes aos quilíferos são drenadas por vasos sanguíneos tributários do plexo vas- cular submucoso. O sangue é levado então para a veia porta hepática para ser processado no fígado. Inervação do Trato Digestivo A inervação do tubo digestivo é constituída de duas partes: o sistema nervoso entérico e os componentes simpático e parassimpático. O sis- tema nervoso entérico é indepen- dente (auto-suficiente), entretanto, 13INSTESTINO DELGADO suas funções são normalmente modificadas pelos componentes simpático e parassimpático. Ele destina-se a controlar as funções se- cretoras e motoras do tubo digestivo. Os numerosos neurônios desse sis- tema estão distribuídos por um gran- de número de pequenos grupamen- tos de corpos de neurônios e fibras nervosas associadas, no plexo mio- entérico de Auerbach e no plexo submucoso de Meissner. Apesar de terem numerosas interligações, o que sugere a possibilidade de contro- les cruzados, os dois plexos exercem funções diferentes. De um modo ge- ral, a motilidade peristáltica do trato digestivo é controlada pelo plexo mio- entérico, enquanto a função secretora e o movimento das mucosas, assim como a regulação do fluxo sanguíneo localizado, são controlados pelo plexo submucoso. Além disso, o plexo mio- entérico é relacionado não somente às condições locais, mas também às condições ao longo de grande parte do trato digestivo, enquanto o ple- xo submucoso cuida primariamente das condições locais, nas vizinhanças do grupo das células nervosas em questão. Na parede do trato digestivo também têm sido descritos componentes sensitivos. Eles transmitem informa- ções relativas ao conteúdo luminal, da condição muscular e secretora do tra- to digestivo para os plexos vizinhos, assim como para os plexos mais distantes do lugar de origem da infor- mação. De fato, alguma informação é transmitida aos gânglios sensitivos, assim como para o sistema nervoso central através de fibras nervosas que acompanham os nervos simpáticos e parassimpáticos do trato digestivo. A inervação parassimpática es- timula a peristalse (contração da musculatura lisa), inibe os músculos dos esfíncteres e estimula a ativi- dade secretora. O trato digestivo re- cebe suainervação parassimpática através do nervo vago, exceto para o colo descendente e reto, que são inervados pelas fibras provenientes da região sacral da medula espinal. A maioria das fibras do nervo vago são fibras sensitivas e levam informações a partir de receptores na mucosa e na musculatura do tubo digestivo para o sistema nervoso central. Frequen- temente, respostas às informações são transferidas pelas fibras vagais para o trato digestivo. Este processo é conhecido como reflexo vagova- gal. As fibras parassimpáticas fazem sinapse com os corpos de neurônios pós-ganglionares parassimpáticos assim como com corpos de neurônios do sistema nervoso entérico de am- bos os plexos. A inervação simpáti- ca provém dos nervos esplâncnicos e apresenta fibras vasomotoras, controlando o fluxo sanguíneo para o tubo digestivo. A ação simpática inibe a peristalse e ativa a musculatu- ra dos esfíncteres. 14INSTESTINO DELGADO Atividade Secretora do Intestino Delgado As glândulas do intestino delgado secretam muco e um fluido aquoso em resposta a estímulos nervosos e hormonais. Os estímulos nervosos, originados no plexo submucoso, são os principais desencadeadores, mas os hormônios secretina e colecistoqui- nina também executam uma parte na regulação das atividades secretoras das glândulas de Brunner do duo- deno e das criptas de Lieberkühn, que coletivamente produzem quase 2 L de fluido levemente alcalino por dia. As células do SNED do intestino delgado produzem numerosos hor- mônios que afetam o movimento do intestino delgado e ajudam a regular a secreção gástrica de HCl e a libera- ção das secreções pancreáticas. Digestão O quimo que entra no duodeno está em processo de ser digerido pelas enzimas produzidas pelas glândulas associadas à cavidade oral e pelas glândulas do estômago. O processo de digestão é intensificado no duo- deno pelas enzimas derivadas do pâncreas exócrino. A degradação fi- nal das proteínas e dos carboidratos ocorre ao nível dos microvilos, onde dipeptidases e dissacaridases, ade- ridas ao glicocálice, liberam aminoá- cidos e monossacarídeos individuais. Estes monômeros são transportados para as células absortivas superficiais por proteínas carreadoras específicas; entretanto, dipeptídeos e tripeptídeos também são endocitados pelas célu- las absortivas superficiais. Os lipídios são emulsificados pelos sais biliares em pequenos glóbulos de gordura que são quebrados em mo- noglicerídeos e ácidos graxos. Os sais biliares segregam monoglicerídeos e ácidos graxos em micelas, as quais se difundem para dentro das células absortivas superficiais através de sua membrana plasmática. Absorção Água, aminoácidos, dipeptídeos e tri- peptídeos, íons e monossacarídeos entram nas células absortivas super- ficiais e são liberados no espaço inter- celular através da membrana basola- teral. Estes nutrientes então ganham acesso ao leito capilar dos vilos e são transportados para o fígado, onde se- rão processados. Os ácidos graxos de cadeia longa e os monoglicerídeos são reesterifica- dos formando triglicerídeos. Os trigli- cerídeos são combinados com uma capa de β-lipoproteína, produzida no REG das células, formando os qui- lomícrons. Estas grandes gotículas de lipoproteínas, acondicionadas e li- beradas pelo aparelho de Golgi, são transportadas para a membrana ba- solateral da célula para serem libera- das na lâmina própria. Os quilomícrons 15INSTESTINO DELGADO entram nos quilíferos, preenchendo estes vasos linfáticos em fundo cego com uma substância rica em lipídios, conhecida como quilo. As contrações rítmicas das células musculares lisas localizadas no eixo dos vilos causam o encurtamento de cada vilos, o que atua como uma seringa injetando o quilo do vaso quilífero para o plexo submucoso de vasos linfáticos. Ácidos graxos de cadeia curta (<12 carbonos de comprimento) não en- tram no REL para reesterificação. Estes ácidos graxos são suficiente- mente pequenos para serem hidros- solúveis, seguirem para a membrana basolateral da célula absortiva su- perficial, difundirem-se para a lâmina própria e entrarem nas alças capila- res em direção ao fígado para serem processados. NA PRÁTICA! A má-absorção no intestino delgado pode ocorrer mesmo quando o pâncreas libera seu conjunto normal de enzimas. As várias doenças resultantes da má-absorção são chama- das genericamente de espru. Uma forma interessante de espru, a enteropatía induzida por glúten (espru não-tropical), é causada pelo glúten, uma substância presente no centeio e no trigo que destrói os microvilos e até mesmo os vilos de pessoas suscetíveis. Estes efeitos podem resultar de uma resposta alérgica ao glúten. Nos pacientes com esta doença, a superfície de área disponível para absorção dos nutrientes é reduzida. O trata- mento envolve a eliminação dos cereais contendo glúten da dieta. Assimilação dos Carboidratos Os nutrientes mais significativos (macronutrientes) digeridos para absorção no intestino delgado se dividem em três classes: os carboi- dratos, as proteínas e os lipídios. A digestão dos carboidratos ocorre em duas fases: no lúmen do intestino e, em seguida, na superfície dos enteró- citos, no processo conhecido como digestão da borda em escova. Este último é importante na geração de açúcares simples e absorvíveis, ape- nas no ponto onde eles podem, final- mente, ser absorvidos. Isso pode limi- tar sua exposição ao pequeno número de bactérias presentes no lúmen do intestino delgado e que poderiam usar esses açúcares como nutrientes. Os carboidratos da dieta são com- postos por várias classes moleculares diferentes. O amido, o primeiro deles, é a mistura de polímeros de glicose, retos (amilose) e ramificados (ami- lopectina). O amido é fonte particu- larmente importante de calorias. Os dissacarídeos são a segunda classe de carboidratos que inclui a sucrose (glicose e frutose) e a lactose (glico- se e galactose), e que é importante fonte calórica para as crianças. Toda- via é princípio-chave que o intestino 16INSTESTINO DELGADO só pode absorver monossacarídeos e não carboidratos grandes. Por fim, muitos itens alimentares de origem vegetal contêm fibras dietéticas, que consistem em polímeros de carboi- dratos que não podem ser digeridos pelas enzimas humanas. Esses po- límeros são digeridos por bactérias presentes no lúmen colônico, permi- tindo, dessa forma, recuperar os valo- res calóricos. Os dissacarídeos da dieta são hidro- lisados em outros componentes mo- noméricos, diretamente na superfície das células epiteliais do intestino del- gado, no processo conhecido como digestão das bordas em escova e mediado por família de enzimas hi- drolíticas, muito glicosiladas ligadas à membrana e que são sintetizadas pe- las células epiteliais do intestino del- gado. As hidrolases, existentes nas bordas em escova, fundamentais para a digestão dos carboidratos da dieta, incluem a sucrase, a iso- maltase, a glucoamilase e a lactase. Acredita-se que a glicosilação des- sas hidrolases protejam-nas da degradação pelas proteases pan- creáticas. Entretanto, entre as refei- ções, as hidrolases são degradadas e têm que ser ressintetizadas pelos enterócitos, a fim de participar da digestão dos carboidratos da próxi- ma refeição. A sucrose/isomaltase e a glucoamilase são sintetizadas em quantidades acima das necessárias e a absorção de seus produtos, pelo corpo, é limitada pela disponibilidade de transportadores de membrana es- pecíficos para esses monossacaríde- os, como discutido adiante. A lactase, por sua vez, apresenta declínio no desenvolvimento, após o desma- me. A relativa escassez de lactase significa que a digestão da lactose, mais do que a captação dos pro- dutos resultantes, é limitada pela intensidade para sua absorção. Se os níveis de lactase caem abaixo de determinado limiar, ocorre doença de intolerância à lactose. A digestão de amido ocorre em duas fases. A primeira ocorre no lúmen e é, de fato,iniciada na cavi- dade oral, via atividade da amilase salivar. A amilase salivar, entretanto, não é essencial para a digestão do amido, sendo que a contribuição mais significativa para a digestão luminal de amido é feita pela amilase pancre- ática. Assim, a digestão de amido pela amilase é, por necessidade, incomple- ta e resulta em oligômeros curtos de glicose, incluindo dímeros (maltose) e trímeros (maltotriose), bem como es- truturas ramificadas mais simples que são chamadas dextrinas α-limitadas. Desse modo, para permitir a absor- ção desses constituintes monossaca- rídicos, o amido tem que se submeter à digestão da borda em escova. Na borda em escova, oligômeros de glicose de cadeia ramificada po- dem ser digeridos pelas hidrolases glucoamilase, sucrase ou isomaltas. 17INSTESTINO DELGADO Todas produzem monômeros livres de glicose que podem ser absorvidos pelos mecanismos discutidos adian- te. Para as dextrinas α-limitadas, por sua vez, a atividade da isomaltase é fundamental porque é a única enzima que pode quebrar não somente as li- gações α-1,4, mas também as liga- ções α-1,6, situadas nos pontos de ramificação. Os monossacarídeos solúveis em água têm, a seguir, que ser transpor- tados através das membranas hidro- fóbicas dos enterócitos. O transpor- tador 1 de sódio/ glicose (SGLT1) é um simporte que leva a glicose (e a galactose) contra seu gradiente de concentração, pelo acoplamento de seu transporte ao do Na+. Uma vez no citosol, a glicose e a galactose po- dem ser retidas para as necessidades metabólicas do epitélio, ou podem sair da célula através do polo baso- lateral via transportador conhecido como GLUT2. A frutose, em contra- partida, é levada através da membra- na apical pelo GLUT5. Entretanto, de- vido ao transporte de frutose não ser acoplado ao do Na+, sua entrada é relativamente ineficiente e pode, com facilidade, ser interrompida se forem ingeridas grandes quantidades de alimento contendo esse açúcar. Os sintomas que ocorrem devido a essa má absorção são similares aos expe- rimentados por pacientes intolerantes à lactose e que consomem lactose. Figura 6. Absorção de glicose, galactose e frutose no intestino delgado. Fonte: Sanarflix. 18INSTESTINO DELGADO Assimilação das Proteínas As proteínas também são polímeros solúveis em água, que têm que ser digeridas em constituintes menores, antes que seja possível sua absor- ção. Sua absorção é mais complica- da do que a dos carboidratos, porque contêm 20 aminoácidos diferentes e pequenos oligômeros desses amino- ácidos (dipeptídeos, tripeptídeos e, provavelmente, até tetrapeptídeos), que também podem ser transporta- dos pelos enterócitos. O corpo, em particular o fígado, tem capacidade substancial de interconverter vários aminoácidos, sujeitos às necessi- dades do corpo. Entretanto, alguns aminoácidos, denominados amino- ácidos essenciais, não podem ser sintetizados pelo corpo nem de novo ou de outro aminoácido e, então, têm que ser obtidos da dieta. As proteínas podem ser hidrolisadas em longos peptídeos simplesmente pelo pH ácido que existe no lúmen gástrico. Entretanto, para a absorção de proteínas para o corpo, três fases da digestão. Assim como a hidrólise ácida, a primeira destas fases ocorre no lúmen gástrico e é mediada pela pepsina, o produto das células prin- cipais, localizadas nas glândulas gás- tricas. A enzima quebra as proteínas em sítios de aminoácidos neutros, com preferência por cadeias aromáti- cas ou por grandes cadeias alifáticas. Como esses aminoácidos só ocorrem com frequência relativamente baixa em determinada proteína, a pepsina não é capaz de digerir, completamen- te uma proteína até uma forma que possa ser absorvida pelo intestino, mas, em vez disso, produz uma mis- tura de proteínas intactas, grandes peptídeos (a maioria) e número limi- tado de aminoácidos livres. Ao se deslocarem pelo intestino del- gado, as proteínas parcialmente dige- ridas encontram, a seguir, as protea- ses provenientes do suco pancreático. Essas enzimas são secretadas em forma inativa, sendo sua ativação re- tardada até que essas enzimas este- jam no lúmen, em virtude da presença da enzima ativadora, a enterocinase, localizada apenas nas bordas em es- cova das células epiteliais do intesti- no delgado. A enterocinase cliva o tripsinogênio, originando tripsina ativa. A tripsina é capaz de clivar todos os outros precursores de pro- teases secretados pelo pâncreas, resultando em mistura de enzimas que podem digerir, quase completa- mente, a grande maioria das proteí- nas da dieta. A tripsina é chamada de endopepti- dase, por ser capaz de clivar tais pro- teínas somente nas ligações internas da cadeia peptídica, em vez de liberar aminoácidos individuais no final da cadeia. Apesar de terem mecanis- mos de ação similares, as outras duas endopeptidases pancreáticas, a qui- motripsina e a elastase, clivam em sítios com aminoácidos neutros. Os 19INSTESTINO DELGADO peptídeos resultantes da atividade da endopeptidase passam pela ação das ectopeptidases. Essas enzimas clivam aminoácidos simples da par- te final da cadeia peptídica, e aquelas presentes no suco pancreático são específicas para aminoácidos neutros (carboxipeptidase A) ou básicos (carboxipeptidase B), localizados na extremidade C-terminal. Assim, os produtos que resultam da digestão total das proteínas da refeição pelas secreções gástrica e pancreática in- cluem aminoácidos neutros e básicos, assim como peptídeos pequenos com aminoácidos ácidos na sua extremi- dade C-terminal e, assim, resistem as carboxipeptidases A ou B. A fase final da digestão proteica ocor- re nas bordas em escova. Os enteró- citos maduros expressam diversas peptidases nas suas bordas em es- cova, incluindo as aminopeptidases e carboxipeptidases, que geram produ- tos adequados para captação através da membrana apical. Entretanto, deve ser notado que, mesmo com o com- plemento substancial das enzimas proteolíticas ativas, alguns peptídeos da dieta são relativa ou totalmente resistentes à hidrólise. Em particular, peptídeos que contêm prolina ou gli- cina são digeridos de maneira muito lenta. Felizmente, o intestino pode absorver não só aminoácidos sim- ples, mas também pequenos peptí- deos. Os peptídeos que são absorvi- dos pelos enterócitos, na sua forma intacta, ficam sujeitos ao estágio final de digestão, no citosol dos enteró- citos, para liberar seus aminoácidos para o uso na célula ou em qualquer outro lugar do corpo. 20INSTESTINO DELGADO Assimilação dos Lipídios Os lipídios fornecem, significativa- mente, mais calorias por grama do que as proteínas ou os carboidratos, por isso têm maior importância nu- tricional, assim como são propen- sos a contribuir para a obesidade, se consumidos em quantidades ex- cessivas. A forma predominante dos lipídios na dieta humana é o triglice- rídeo, encontrado em óleos e outras gorduras. A maioria desses triglicerí- deos tem cadeia longa de ácidos gra- xos esterificados no arcabouço glice- rol. Lipídios adicionais são fornecidos Figura 7. Hierarquia das proteases e peptidases que funcionam no estômago e no intestino delgado, para digerir as proteínas da dieta. Fonte: Sanarflix. 21INSTESTINO DELGADO na forma de fosfolipídios e coleste- rol, originados, principalmente, das membranas celulares. Também é im- portante considerar que chegam ao intestino, diariamente, não apenas li- pídios da dieta, mas também lipídios originados no fígado, nas secreções biliares. Finalmente, apesar de pre- sentes em quantidades muito peque- nas, as vitaminas solúveis em gordura (A, D, E e K) são nutrientes essenciais que deveriam ser suplementados na dieta a fim de evitar doenças. Essas substâncias são quase que comple- tamente insolúveis em água e neces- sitam de cuidados especiais para pro- mover sua absorção pelo corpo. Quando a refeição gordurosa é in- gerida, os lipídios se liquefazem na temperatura corporal e flutuam nasuperfície do conteúdo gástrico. Isso poderia limitar a área de superfície entre as fases aquosa e lipídica do conteúdo gástrico e restringir o aces- so de enzimas capazes de quebrar os lipídios para formar os que poderiam ser absorvidos, pois as enzimas lipo- líticas, como as proteínas, ficam na fase aquosa. Por esse motivo, o es- tágio inicial na absorção dos lipídios é sua emulsificação. A mistura ocorrida no estômago faz com que os lipídios da dieta fiquem na forma de peque- nas esferas em suspensão, que au- menta em muito a área da superfície da fase lipídica. A absorção dos lipí- dios também é facilitada pela forma- ção de solução de micelas, com ajuda dos ácidos biliares, existentes nas se- creções biliares. A digestão dos lipídios começa no estômago, porém, ocorre de forma incompleta, promovendo pouca ab- sorção. A maior parte da lipóli- se ocorre no intestino delgado. O suco pancreático contém três im- portantes enzimas lipolíticas, que têm suas atividades otimizadas em pH neutro. A primeira delas é a lipa- se pancreática, capaz de hidrolisar os triglicerídeos, produzindo grande quantidade de ácidos graxos livres e monoglicerídeos. A lipase é inibida pelos ácidos biliares, que também fa- zem parte do conteúdo do intestino delgado. Os ácidos biliares se adsor- vem à superfície das micelas de óleo, por isso poderiam causar a dissocia- ção da lipase. Entretanto, a atividade da lipase é mantida por cofator im- portante, a colipase, que também faz parte do suco pancreático. A colipase é uma molécula ponte que se liga aos ácidos biliares e à lipase; ela ancora a lipase às gotículas de óleo, mesmo em presença dos ácidos biliares. O suco pancreático também con- tém duas enzimas adicionais, im- portantes para a digestão da gor- dura. A primeira delas é a fosfolipase A2, que hidrolisa os fosfolipídios, como os presentes nas membra- nas celulares. Ela é secretada como proforma inativa que só é ativada quando atinge o intestino delgado. A outra é a colesterol esterase, que é 22INSTESTINO DELGADO relativamente inespecífica, e requer ácidos biliares para sua atividade. Ela pode quebrar não só os ésteres de colesterol, mas também os éste- res de vitaminas lipossolúveis, e até mesmo triglicerídeos. É interessante que essa enzima requer ácidos bilia- res para sua atividade (diferentemen- te da lipase) e é relacionada à enzima produzida no leite materno, com par- ticipação importante na lipólise em recém-nascidos. À medida que ocorre a lipólise, seus produtos são movidos das micelas. Os ácidos biliares anfipáticos (faces hidrofóbica e hidrofílica) servem para proteger as regiões hidrofóbicas dos produtos lipolíticos da água, enquan- to apresentam próprias faces hidro- fílicas em ambiente aquoso. As mi- celas ficam, na verdade, em solução, por isso aumentam a solubilidade do lipídio no conteúdo intestinal. Isso au- menta a intensidade ou velocidade com que as moléculas, como os áci- dos graxos, podem se difundir para a superfície intestinal absortiva. Dada a grande área de superfície do intestino delgado e a considerável solubilidade dos produtos da hidróli- se dos triglicerídeos, as micelas não são essenciais para a absorção dos triglicerídeos. Acredita-se que os pro- dutos da digestão da gordura sejam capazes de atravessar facilmente as membranas celulares devido à sua lipofilicidade. Entretanto, evidências recentes sugerem que sua absorção pode ser, alternativa ou adicionalmen- te, regulada pela atividade de trans- portadores de membrana específicos. Os produtos da lipólise são reesteri- ficados, nos enterócitos, para formar triglicerídeos, fosfolipídios e ésteres de colesterol no REL. Ao mesmo tem- po, os enterócitos sintetizam apoli- proteínas, no RER, que são combina- das aos lipídios ressintetizados, para formar o quilomícron, núcleo lipídi- co recoberto por apolipoproteinas. Os quilomícrons são exportados dos enterócitos por exocitose e são ab- sorvidos por vasos linfáticos da la- mina própria e passam ao longo da circulação porta e do fígado, entran- do na corrente sanguínea pelo ducto torácico, servindo como veiculo para transportar lipídios pelo corpo. Os ácidos graxos de cadeia média são relativamente solúveis em água e por isso desviam desses processos intra- celulares e sendo incluídos nos quilo- mícrons e assim entram na circulação porta e ficam mais facilmente dispo- níveis para outros tecidos. Secreção e Absorção De Água e Eletrólitos A fluidez do conteúdo intestinal, espe- cialmente no intestino delgado, é im- portante para permitir que a refeição seja propelida ao longo da extensão do intestino e para que os nutrientes digeridos se difundam para seus sí- tios de absorção. Parte desse fluido 23INSTESTINO DELGADO é derivado da ingestão oral, mas, na maioria dos adultos, isto consiste em apenas 1 ou 2 L/dia derivados do ali- mento e da bebida. Fluido adicional é suprido pelo estômago e pelo próprio intestino delgado, bem como pelos órgãos que drenam para o trato gas- trointestinal. No total, essas secreções adicionam outros 8 L, o que significa que o intestino recebe quase 9 L de fluido por dia. Entretanto, em indiví- duos saudáveis, somente em torno de 2 L desse total passa para o cólon para reabsorção e, eventualmente, apenas 100 a 200 mL saem na eva- cuação. Assim, o transporte de fluido pelo intestino enfatiza a absorção. Durante o período pós-prandial essa absorção é promovida, predominan- temente, no intestino delgado via efeitos osmóticos da absorção dos nutrientes. Esse gradiente osmóti- co é estabelecido através do epité- lio intestinal, que, simultaneamente, impede o movimento da água pelas junções fechadas. Além disso, no pe- ríodo entre as refeições ocorre a ab- sorção de fluido de forma conjunta ao Na+ e Cl–, mediada pela interação acoplada dos antiportes NHE-3 Na+- -H+ e Cl–-HCO3–. Movimento do Intestino Delgado O movimento do intestino delgado pode ser subdividido em duas fases inter-relacionadas. As contrações de mistura são mais localizadas e sequencialmente redistribuídas para a exposição do quimo aos sucos di- gestivos. As contrações de propul- são ocorrem sob a forma de ondas peristálticas que facilitam o movi- mento do quimo ao longo do intesti- no delgado. Como o quimo move-se em média de 1 a 2 cm/min, ele passa muitas horas no intestino delgado. A velocidade da peristalse é controlada por impulsos nervosos e fatores hor- monais. Em resposta à distensão gástrica, um reflexo gastroentéri- co mediado pelo plexo mioentérico fornece o impulso nervoso para a peristalse no intestino delgado. Os hormônios colequistocinina, gastri- na, motilina, substância P e serotoni- na aumentam a motilidade intestinal, enquanto a secretina e o glucagon a diminuem. NA PRÁTICA! Se a mucosa intestinal é exposta a uma profunda irritação por substâncias tóxicas, a tú- nica muscular externa pode apresentar contrações rápidas e intensas de longa duração conhecidas como crise peristáltica. Estas contrações fortes impulsionam o quimo em minutos para eliminação como diarreia. 24INSTESTINO DELGADO As camadas musculares lisas do in- testino delgado atuam para misturar o quimo às várias secreções digesti- vas e para movê-lo ao longo da ex- tensão do intestino, de forma que os nutrientes ( juntamente com a água e os eletrólitos) podem ser absorvidos. Os padrões motores do intestino del- gado são predominantemente volta- dos para a mistura e consistem, em sua maioria, em segmentação e con- trações retropulsivas, que retardam a refeição enquanto a digestão ainda está ocorrendo. A segmentação é um padrão de con- trações rítmicas e, presumivelmente, refletem a atividade programada do sistema nervoso entérico, sobreposta ao ritmo elétrico básico. Os mediado- res hormonais do padrão pós-alimen- tação de motilidade são pouco defi- nidos, embora a CCK provavelmente contribua. A CCK também tem papel importante no retardo do esvazia- mento gástrico, quando a refeiçãoestá no intestino delgado, como des- crito no início deste capítulo. Isso faz sentido como mecanismo de distri- buição de nutrientes, para a capaci- dade disponível de digerir e absorver os componentes da refeição. Depois que a refeição foi digerida e absorvida, é desejável que seja feita a limpeza dos resíduos não digeridos, ainda no lúmen, para preparar o in- testino para a próxima refeição. Essa eliminação é feita pelo peristaltismo, sequência coordenada de contrações, que ocorrem acima do conteúdo in- testinal, e relaxamento, abaixo, e que permitem o transporte do conteúdo por distâncias consideráveis. O peris- taltismo reflete a ação da acetilcolina e da substância P liberadas próximas ao local de distensão intestinal, o que serve para contrair o músculo circu- lar, assim como o efeito inibitório do VIP e do óxido nítrico, no lado caudal. Como a segmentação, o peristaltismo se origina quando potenciais de ação gerados pela inervação intrínseca são sobrepostos a sítios de despolariza- ção celular ditados pelo ritmo elétrico básico. Os padrões motores peristálticos, que ocorrem durante o jejum, são organizados na sequência de fases conhecidas como complexo motor migratório. A fase I do CMM é ca- racterizada por quiescência relativa, enquanto pequenas contrações de- sorganizadas ocorrem durante a fase II. Na fase III, que dura cerca de 10 minutos, grandes contrações, que se propagam ao longo do intestino, são estimuladas pelo hormônio motilina e removem qualquer conteúdo gás- trico e intestinal remanescente para o cólon. O piloro e a válvula ileocecal se abrem completamente durante essa fase, e mesmo os itens grandes e não digeridos podem sair do corpo. A motilidade do intestino volta para a fase I do CMM, com o ciclo comple- to durando cerca de 90 minutos, nos adultos, a não ser que seja ingerida 25INSTESTINO DELGADO refeição, nesse caso o CMM será in- terrompido. Após a refeição, os níveis de motilina caem (embora os meca- nismos não sejam claros) e o CMM não pode ser reiniciado, até que, de novo, aumentem. Na vigência de uma irritação in- tensa da mucosa intestinal, como ocorre em casos graves de diarreia infecciosa, pode causar peristalse intensa e rápida, também conhe- cida como surto peristáltico. Esse processo é desencadeado, em par- te, por reflexos nervosos que envol- vem o sistema nervoso autônomo e o tronco cerebral e, em parte, pela in- tensificação intrínseca de reflexos no plexo mioentérico da parede do trato intestinal. A B Figura 8. Movimentos intestinais de propulsão (A) e segmentação (B). Fonte: Sanarflix. 3. DUODENO O duodeno é o segmento mais cur- to do intestino delgado, com ape- nas 20 a 25 cm de comprimento, se estendendo da extremidade distal do canal pilórico até a flexura deuodeno- jejunal, mais especificamente entre os níveis de L1 e L3. Ele corresponde a porção proximal do intestino delgado, apresentando um formato de letra “C” e sendo responsável por receber a bile do fígado e sucos digestivos do pân- creas através do ducto biliar comum (ducto colédoco) e do ducto pancre- ático, respectivamente. Estes ductos se abrem no lúmen do duodeno na papila duodenal (de Vater). O duo- deno difere do jejuno e do íleo pelo fato de seus vilos serem mais altos, mais largos e mais numerosos por unidade de área. Ele possui tam- bém menos células caliciformes por unidade de área que os outros seg- mentos, além de possuir glândulas de Brunner na submucosa. O duodeno é um órgão parcialmen- te retroperitoneal, sendo os seus 2 26INSTESTINO DELGADO cm iniciais intraperitoneais. Corres- ponde ao segmento mais curto, largo e fino do intestino delgado, sendo di- vidido em parte superior, descenden- te, horizontal e ascendente. A parte superior do duodeno en- contra-se ao nível de L1 e mede cerca de 5 cm, se estendendo da parte duo- denal do piloro até a flexura duodenal superior. Seus 2 cm iniciais, também chamado de bulbo duodenal, é in- traperitoneal e possui mesentério, já seus 3 cm distais são retroperitoneais e não apresentam mesentério. Esse segmento do duodeno liga-se à mar- gem superior através do ligamento hepatoduodenal (omento menor) e à margem inferior do omento maior. RELAÇÕES ANATÔMICAS DA PARTE SUPERIOR DO DUODENO ANTERIOR POSTERIOR SUPERIOR INFERIOR MEDIAL • Lobo quadrado do fígado; • Colo da vesícula biliar; • Peritônio. • Ducto colédoco; • Veia porta; • Veia cava inferior; • Artéria gastroduodenal. • Colo da vesícula biliar. a • Cabeça e colo do pâncreas. • Piloro. Tabela 1. Relações anatômicas da parte superior do duodeno A parte descendente do duodeno encontra-se à direita das vértebras L1 a L3 e mede entre 8 a 10 cm, se estendendo da flexura duodenal su- perior até a flexura duodenal inferior. Ela curva-se ao redor da cabeça do pâncreas e apresenta dois orifícios papilares: a papila maior, que se en- contra 8 a 10 cm distais ao esfíncter pilórico; e a papila menor, que quando presente, localiza-se 2 cm acima da papila maior. É na parte descenden- te do duodeno que encontramos a ampola hepatorrenal, ponto anatômi- co de transição do intestino anterior para o intestino médio embriológico. Este segmento é caracteristicamen- te retroperitoneal, ressaltando que no ponto onde é cruzada pela raiz do mesocolo transverso não é revestido na face anterior por peritônio. RELAÇÕES ANATÔMICAS DA PARTE DESCENDENTE DO DUODENO ANTERIOR POSTERIOR SUPEROLATERAL MEDIAL • Lobo direito do fígado; • Colo da vesícula biliar; • Colo transverso; • Raiz do mesocolo transverso; • Mesentério; • Alças do intestino delgado. • Hilo renal direito; • Vasos renais direitos; • Ureter direito; • M. psoas maior direito. • Flexura hepática do cólon. • Cabeça do pâncreas; • Ducto colédoco; • Ducto pancreático; • Veia cava inferior. Tabela 2. Relações anatômicas da parte descendente do duodeno 27INSTESTINO DELGADO A parte horizontal do duodeno passa pela vértebra L3 estando ante- rior a veia cava inferior (VCI) e à aor- ta abdominal. Ela mede cerca de 10 cm, indo da flexura duodenal inferior até a junção com a parte ascenden- te, anteriormente à aorta abdominal. Posterior a ela, estão os vasos me- sentéricos superiores e a raiz do me- sentério. Este segmento segue seu trajeto retroperitonealmente, ex- ceto nos pontos onde passam os vasos mesentéricos superiores e a raiz do mesentério. RELAÇÕES ANATÔMICAS DA PARTE HORIZONTAL DO DUODENO ANTERIOR POSTERIOR SUPERIOR INFERIOR • Vasos mesentéricos superiores; • Mesocolo transverso; • Raiz do mesentério; • Alças do intestino delgado. • M. psoas maior direito; • Veia cava inferior; • Aorta abdominal; • Ureter direito; • Vasos gonadais direitos. • Cabeça do pâncre- as e seu processo uncinado; • Vasos mesentéricos superiores. • Alças do jejuno. Tabela 3. Relações anatômicas da parte horizontal do duodeno A porção final corresponde a parte ascendente do duodeno, que mede cerca de 2,5 cm e se estende da jun- ção com a parte horizontal até a flexura duodenojejunal, sustentada pela fixação do músculo suspensor do duodeno, também conhecido como ligamento de Treitz. Esse seg- mento do duodeno ascende até o ní- vel de L2 onde se continua com o íleo. RELAÇÕES ANATÔMICAS DA PARTE ASCENDENTE DO DUODENO ANTERIOR POSTERIOR SUPERIOR LATERAL INFERIOR • Início da raiz do mesentério; • Mesocolo transverso; • Cólon transverso. • M. psoas maior esquerdo; • Aorta abdominal; • Tronco simpático esquerdo; • Vasos renais esquerdos; • Vasos gonadais esquerdos. • Corpo do pâncreas. • Rim esquerdo; • Ureter esquerdo • Alças de jejuno. Tabela 4. Relações anatômicas da parte ascendente do duodeno 28INSTESTINO DELGADO A vascularização arterial do duo- deno tem origem do tronco celíaco e da artéria mesentérica superior. O tronco celíaco dá origem à artéria gastroduodenal e seu ramo, a arté- ria pancreaticoduodenal superior, suprindo assim a parte do duodenoproximal. A artéria mesentérica supe- rior, por meio da artéria pancreati- coduodenal inferior, supre o duode- no distal e juntamente com a artéria pancreaticoduodenal superior situ- am-se na curvatura entre o duodeno e a cabeça do pâncreas e irrigam as essas duas estruturas. As veias do duodeno, mais especi- ficamente as veias pancreaticoduo- denal superior e inferior, seguem as artérias, drenando de forma direta ou indireta para a veia porta, através das veias mesentérica superior e esplênica. No que diz respeito à drenagem lin- fática, os vasos linfáticos anteriores drenam para os linfonodos pancrea- ticoduodenais e para os linfonodos pilóricos, situados ao longo da arté- ria gastroduodenal. Já os vasos lin- fáticos posteriores drenam para os linfonodos mesentéricos superio- res. Os vasos linfáticos eferentes dos linfonodos duodenais drenam para os linfonodos celíacos. A inervação apresenta os nervos do duodeno, que derivam do nervo vago e dos nervos esplâncnicos (abdo- minopélvicos) maior e menor por meio dos plexos celíaco e mesentéri- co superior, favorecendo a transmis- são de estímulos simpáticos prove- nientes dos segmentos T5 a T12. Ao passo que o estímulo parassimpático é estabelecido pelo nervo vago e pelo plexo celíaco. A área da superfície do lúmen intes- tinal é ampliada para a absorção dos nutrientes pela formação de pregas circulares, vilos, microvilos e criptas de Lieberkühn. • Pregas circulares (valvas de Ker- ckring): pregas transversais da submucosa e da mucosa que for- mam elevações semicirculares ou helicoidais, algumas chegando a ter 8 mm de altura e 5 cm de com- primento. Estas pregas são estru- turas permanentes do duodeno e do jejuno e terminam na metade proximal do íleo. Elas não somen- te aumentam a área da superfície do intestino delgado, mas também diminuem a velocidade do movi- mento do quimo ao longo do trato intestinal. • Vilos (ou vilosidade): protrusões digitiformes ou foliáceas perma- nentes da lâmina própria cobertas pelo epitélio, que aumentam cerca de 10 vezes a área da superfície do intestino delgado. O eixo de cada vilo contém alças capilares, um ca- nal linfático que termina em fundo cego (quilífero central), e algumas fibras musculares lisas, imersas 29INSTESTINO DELGADO em tecido conjuntivo frouxo rico em células linfoides. Eles são mais numerosos no duodeno que no je- juno ou no íleo, e sua altura diminui de 1,5 mm no duodeno para cerca de 0,5 mm no íleo. Estas delicadas estruturas conferem uma aparên- cia aveludada ao revestimento do órgão in vivo. • Microvilos (ou microvilosidades): especializações da membrana plasmática apical das células epi- teliais que revestem os vilos in- testinais e aumentam cerca de 20 vezes a área de superfície do in- testino delgado. • Criptas de Lieberkühn: glândulas intestinais formadas por invagina- ções do epitélio para o interior da lâmina própria por entre os vilos. Mucosa Intestinal A mucosa do intestino delgado é composta pelas três camadas usuais: um epitélio simples cilíndrico, a lâmi- na própria e a camada muscular da mucosa. O epitélio simples cilíndri- co recobre os vilos e a superfície dos espaços entre os vilos, e é constituído de células absortivas superficiais, cé- lulas caliciformes e células do SNED. Células absortivas superficiais: cé- lulas cilíndricas altas com núcleos ovais. São as células mais numero- sas do epitélio. Sua superfície apical apresenta uma planura estriada, e, em boas preparações histológicas, também são evidentes as barras ter- minais. Elas participam da etapa fi- nal da digestão e absorção de água e nutrientes. Além disso, estas célu- las reesterificam ácidos graxos em triglicerídeos, formam quilomícrons e transportam a maior parte dos nu- trientes absorvidos para a lâmina própria, visando a distribuição para o restante do corpo. • Células caliciformes: glândulas unicelulares. O duodeno possui um número menor de células cali- ciformes, e seu número aumenta em direção ao íleo. Estas células secretam mucinogênio, cuja for- ma hidratada é a mucina, um com- ponente do muco, que cria uma camada protetora que reveste o lúmen. • Células do SNED: o intestino del- gado possui vários tipos de célu- las do SNED que produzem hor- mônios parácrinos e endócrinos. Aproximadamente 1% das células que cobrem os vilos e a superfície entre os vilos do intestino delga- do são compostas por células do SNED. • Células M (células com micro- pregas): endocitam e transpor- tam antígenos do lúmen para a lâmina própria. O revestimento epitelial simples cilíndrico do intes- tino delgado é substituído por cé- lulas M com aspecto pavimentoso 30INSTESTINO DELGADO nas regiões onde nódulos linfoi- des estão em contato com o epi- télio. Estas células M, as quais se acredita pertencerem ao sistema mononuclear fagocitário, capturam amostras, endocitam e transpor- tam antígenos presentes no lúmen intestinal. O tecido conjuntivo frouxo da lâmi- na própria forma o eixo dos vilos, os quais, como árvores de uma floresta, se elevam acima da superfície do in- testino delgado. O restante da lâmi- na própria, que se estende para bai- xo em direção à camada muscular da mucosa, é comprimido pelas nume- rosas glândulas intestinais tubulosas, as criptas de Lieberkühn, reduzindo- -se a finas lâminas de tecido conjun- tivo frouxo altamente vascularizado. A lâmina própria é também rica em células linfoides e contém nódulos linfoides ocasionais. As criptas de Lieberkühn glândulas tubulosas (às vezes ramificadas) simples que se abrem nos espaços intervilosos como perfurações do revestimento epite- lial. Elas aumentam a área da super- fície do revestimento intestinal e são constituídas de células do SNED, cé- lulas absortivas superficiais, células caliciformes, células regenerativas e células de Paneth. SE LIGA! As células regenerativas são células-tronco que sofrem uma extensa proliferação para repovoar o epitélio das criptas. SE LIGA! As células de Paneth são cé- lulas piramidais, que ocupam o fundo das criptas de Lieberkühn e produzem o agente antibacteriano lisozima, prote- ínas de defesa (defensinas) e fator de necrose tumoral- α (TNF- α). A camada muscular da mucosa do intestino delgado é constituída por uma camada circular interna e uma camada longitudinal externa de célu- las musculares lisas. As fibras mus- culares da camada circular interna penetram nos vilos estendendo-se pelo seu eixo até a ponta do tecido conjuntivo, atingindo a membrana basal. Durante a digestão, estas fi- bras musculares se contraem ritmica- mente, encurtando o vilo várias vezes por minuto. Submucosa A submucosa do intestino delga- do é constituída de tecido conjun- tivo fibroelástico, mais fibroso que o tecido conjuntivo da lâmina pró- pria, com um rico suprimento linfáti- co e vascular. A inervação provém do plexo submucoso (de Meissner) e parassimpático. 31INSTESTINO DELGADO A submucosa do duodeno é diferen- te, pois contém glândulas conhecidas como glândulas de Brunner (glân- dulas duodenais), responsáveis pela produção de um fluido mucoso alcalino em resposta a um estímulo parassimpático. Este fluido ajuda a neutralizar a acidez do quimo que entra no duodeno vindo da região pilórica do estômago. As glândulas também secretam o hormônio poli- peptídico urogastrona (também co- nhecido como fator de crescimento epidérmico humano), o qual é libe- rado no lúmen duodenal juntamente com o tampão alcalino. A urogastrona inibe a produção de HCl (pela inibição direta das células parietais) e amplifi- ca a velocidade da atividade mitótica das células epiteliais. Os ductos des- tas glândulas atravessam a camada muscular da mucosa e geralmente perfuram a base das criptas de Lie- berkühn, lançando seu produto de secreção no lúmen do duodeno. Túnica Muscular Externa e Serosa A túnica muscular externa do intesti- no delgado é constituída de uma ca- mada circular interna e uma camada longitudinal externade músculo liso. O plexo mioentérico ou de Auerba- ch, localizado entre as duas camadas musculares, é o suprimento nervo- so intrínseco da túnica muscular externa. A túnica muscular externa é responsável pela atividade peristálti- ca do intestino delgado. Excetuando a segunda e a terceira partes do duo- deno, que possuem uma adventícia, todo o intestino delgado está envolvi- do por uma serosa. Figura 9. Lâmina histológica do duodeno. Fonte: Sanarflix. 32INSTESTINO DELGADO Funções Digestivas e Secreção Pancreática Para exercer suas funções digestivas, a primeira região do intestino delga- do, o duodeno, recebe enzimas e um tampão alcalino do pâncreas e a bile do fígado. Além disso, células epite- liais e glândulas da mucosa produ- zem tampões e enzimas que facilitam a digestão. A maioria dos nutrientes ingeridos está na forma química de macromolé- culas, sendo grandes para sua absor- ção pelas células epiteliais que reves- tem o trato intestinal. Por esse motivo, elas precisam ser quebradas em constituintes menores, por processos de digestão química e enzimática. As secreções que se originam no pân- creas são quantitativamente as maio- res contribuintes da digestão enzimá- tica da refeição. O pâncreas também produz importantes produtos secre- tores adicionais, que são vitais para a função digestiva normal. Esses pro- dutos incluem substâncias que regu- lam a função ou a secreção (ou am- bos) de outros produtos pancreáticos, bem como água e íons bicarbonato. Este último está envolvido na neutra- lização do ácido gástrico, de modo que o lúmen do intestino delgado tenha pH próximo de 7,0. Isso é im- portante porque as enzimas pan- creáticas são inativadas por altos níveis de acidez e, também, porque a neutralização do ácido gástrico reduz a probabilidade de que a mucosa do intestino delgado seja lesada por tais ácidos, agindo em combinação com a pepsina. Os ductos do pâncreas podem ser considerados como o braço efetor do sistema de regulação do pH, desen- volvido para responder ao ácido lumi- nal, no intestino delgado, e secretar quantidades suficientes de bicarbo- nato situado em células endócrinas especializadas, no epitélio do intes- tino delgado, conhecidas como célu- las S, para levar o pH à neutralidade. Quando o pH luminal cai abaixo de, aproximadamente, 4,5, as células S são estimuladas a liberar secretina. Essa função reguladora também re- quer mecanismos sensíveis ao pH lu- minal e transmite essa informação ao pâncreas, assim como a outros epi- télios (ductos biliares e o próprio epitélio duodenal), capazes de se- cretar bicarbonato. Muitas das enzi- mas digestivas produzidas pelo pân- creas, particularmente as enzimas proteolíticas, são produzidas na for- ma de precursores inativos. O arma- zenamento, nessas formas inativas, parece ser criticamente importante na prevenção da digestão do próprio pâncreas. 33INSTESTINO DELGADO A colecistoquinina (CCK) é produto das células I, localizadas no epitélio do intestino delgado, sendo no espa- ço intersticial, quando componentes específicos do alimento estão presen- tes no lúmen, particularmente ácidos graxos livres e certos aminoácidos. A liberação da CCK também é regula- da por fatores liberadores que agem luminalmente e que podem estimular a célula I. O primeiro deles, denomi- nado fator (ou peptídeo) liberador de CCK, é secretado por células pa- rácrinas, provavelmente em resposta a produtos da gordura ou da digestão proteica (ou ambos). O segundo fa- tor de liberação, é chamado peptídeo monitor e é liberado por células aci- nares pancreáticas, no suco pancreá- tico. Ambos, também podem ser libe- rados em resposta a estímulo neural, o que é particularmente importante na iniciação da secreção pancreática, durante as fases cefálica e gástrica, preparando o sistema para digerir a refeição tão logo ela entre no intesti- no delgado. Para o efeito da CCK sobre o esva- ziamento gástrico, a ligação da CCK ativa reflexos vago-vagais, que po- dem aumentar a secreção das células acinares, pela ativação de neurônios entéricos pancreáticos e liberação de série de neurotransmissores, tais como a acetilcolina, o peptídeo libera- dor de gastrina e o polipeptídio intes- tinal vasoativo (VIP). NA PRÁTICA! No nível celular, a secretina estimula, diretamente, as células epiteliais a secretar íons bicarbonato, na luz do ducto, com água seguindo pela via paracelular, a fim de manter o equilíbrio osmótico. A secretina aumenta o AMPc nas células ductais e, assim, abre os ca- nais Regulador da Condutância da Transmembrana da Fibrose Cística (CFTR), produzin- do efluxo de Cl–, para o lúmen do ducto. Isso, de forma secundária, impulsiona a atividade de contratransportador adjacente, que troca íons cloreto por bicarbonato. Existem evi- dências de que o próprio CFTR, quando aberto, pode ser permeável aos íons bicarbonato. Em qualquer caso, o processo secretório do bicarbonato é dependente dos canais CFTR, base racional para os defeitos na função pancreática vistos, na doença fibrose cística, em que o CFTR está mutado. A membrana apical das células epiteliais apresenta canais, organizações de moléculas ou parte de moléculas da membrana, dispostas de modo que permitem em resposta a agentes, afetar a permeabilidade da célula. Assim, nas células normais, o canal do cloro, quando estimulado pelo AMPc ou pelo cálcio, se abre dando saída ao cloro. Na fibrose cística, o canal do cloro não responde ao estímulo do AMPc, so- mente os canais estimulados pelo cálcio se abrem, determinando uma diminuição relativa da permeabilidade ao íon cloro. A menor saída de cloro da célula traz como consequência uma maior reabsorção de sódio para manter o equilíbrio Cl-/Na+ dentro da célula. 34INSTESTINO DELGADO Outro importante suco digestivo que é misturado à refeição, quando pre- sente no intestino delgado, é a bile, que, por sinal, é produzida pelo fí- gado e estocada na vesícula biliar, sendo liberada em resposta à in- gestão de alimentos, auxiliando na digestão e na absorção de lipídios. A contração da vesícula biliar e o relaxamento do esfíncter de Oddi são induzidos, predominantemen- te, pela CCK. Quando se considera a fase do in- testino delgado de absorção da refei- ção, os constituintes da bile em que estamos mais interessados são os ácidos biliares. Estes ácidos formam estruturas conhecidas como micelas, que servem para proteger produtos hidrofóbicos da digestão lipídica, no ambiente aquoso do lúmen. Os áci- dos biliares são, em essência, deter- gentes biológicos e grandes quan- tidades diárias são necessárias para absorção lipídica ótima. A maioria do conjunto de ácidos biliares é recicla- da no intestino de volta para o fíga- do, após cada refeição, via circulação êntero-hepática. Figura 10. Vias de transporte iônico, nas células ductuais pancreáticas. Anidrase carbônica (CA); regulador da con- dutância transmembrana na fibrose cística (CFTR); , cotransportador (simporte) sódio/bicarbonato tipo 1 (NBC-1); trocador (antiporte) sódio/hidrogênio tipo 1 (NHE-1). Fonte: Sanarflix. 35INSTESTINO DELGADO DUODENO LOCALIZAÇÃO INERVAÇÃO SECÇÕES VASCULARIZAÇÃO FUNÇÃO HISTOLOGIA Entre piloro e jejuno Primeira parte do intestino delgado Parte horizontal Parte ascendente Parte superior Parte descendente Intraperitoneal Retroperitoneal Artéria pancreáticaduodenal Parassimpático Simpática Nervo vago Plexo celíaco Absorção de água e nutrientes Misturar enzimas Neutralização do ácido gástrico Submucosa Muscular Mucosa Células de Paneth Glândulas de Brünner Plexo de Meissner Plexo de Auerbach Criptas de Lieberkühn MAPA MENTAL: DUODENO 36INSTESTINO DELGADO 4. JEJUNO O jejuno corresponde à segunda par- te do intestino delgado. Ele é caracte- risticamente calibroso, avermelhado e constituído por paredes espessas, se iniciando na flexura duodenojejunal, onde o sistema digestório volta a ser intraperitoneal, indo até sua junção com o íleo. Ele encontra-sefixado à pa- rede posterior pelo mesentério e mede cerca de 2,5 m, com sua maior parte si- tuada no quadrante superior esquerdo (QSE) do compartimento infracólico. SE LIGA! O mesentério é uma prega de peritônio em forma de leque que fixa o jejuno e o íleo à parede posterior do abdome. Entre as duas camadas de me- sentério estão os vasos mesentéricos superiores, nervos autônomos, linfono- dos e tecido adiposo. O suprimento sanguíneo do jejuno é levado por cerca de 5 artérias jejunais ramos da artéria mesentérica supe- rior, que estão interconectadas com as outras artérias do intestino delga- do por numerosos arcos arteriais e vasos retos. O sangue venoso drena através das veias correspondentes para a veia mesentérica superior até a veia porta. Os vasos linfáticos seguem para o plexo linfático nas pa- redes do jejuno e entre as camadas do mesentério até três grupos de lin- fonodos: linfonodos justaintestinais; centrais superiores; e mesentéricos. A inervação simpática é levada pe- los nervos do plexo celíaco e plexo mesentérico superior, de modo que, a inervação parassimpática é dada pelo nervo vago. Histologicamente, a superfície jejunal apresenta vilos mais estreitos, mais curtos e mais esparsos que os do duo- deno. Além disso, o número de célu- las caliciformes por unidade de área é maior no jejuno que no duodeno. Figura 11. Lâmina histológica do jejuno. Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/jejuno 37INSTESTINO DELGADO Segunda parte do intestino delgado Entre duodeno e íleo JEJUNO LOCALIZAÇÃO HISTOLOGIA INERVAÇÃO FUNÇÃO VASCULARIZAÇÃO 5 Artérias jejunais Veias jejunais Parassimpático Simpática Nervo vago Plexo celíaco Mucosa Submucosa Vilosidades digitiformes Plexo de Meissner Muscular Serosa Plexo de Auerbach Células de Paneth Absorção de nutrientes lipofílicos Absorção de água Quebra de nutrientes MAPA MENTAL: JEJUNO 38INSTESTINO DELGADO 5. ÍLEO A terceira parte do intestino delgado, o íleo, apresenta cerca de 3,5 m de comprimento e termina na junção ileocecal, a união da parte termi- nal do íleo e o ceco. O íleo apresenta um calibre menor que o jejuno, além de uma cor rósea e paredes finas. A maior parte do íleo está no quadrante inferior direito (QID) e sua parte termi- nal geralmente encontra-se na pelve, de onde ascende, terminando na face medial do ceco. Assim como o jejuno, o íleo é um órgão intraperitoneal, estando fixado à parede posterior pelo mesentério. Cerca de 12 artérias ileais, ramos da artéria mesentérica superior, su- prem o íleo. Estas formam arcadas com outras artérias do intestino delgado. O sangue venoso flui das veias correspondentes para a veia mesentérica inferior, unindo-se à veia esplênica e seguindo para a veia porta. Analogamente ao jejuno tanto o plexo celíaco como o plexo mesentérico superior inervam o íleo simpaticamente, e o nervo vago inerva-o parassimpaticamente. Os vasos linfáticos do íleo seguem a mesma lógica que ocorre no jejuno, sendo que a parte terminal do íleo drena para os linfonodos ileocólicos. Através da avaliação microscópica, po- demos afirmar que os vilos do íleo são os mais esparsos, os mais curtos e os mais estreitos das três regiões do intes- tino delgado. A lâmina própria do íleo contém grupos permanentes de nó- dulos linfoides, conhecidos como pla- cas de Peyer, estando localizadas na parede do íleo que é oposta à inserção do mesentério. Na região das placas de Peyer, os vilos têm sua altura reduzida, podendo até estarem ausentes. Figura 12. Lâmina histológica do íleo. Fonte: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/ileo 39INSTESTINO DELGADO DIFERENÇAS ENTRE JEJUNO E ÍLEO JEJUNO ÍLEO Calibre maior Calibre menor Cor mais avermelhada Cor menos avermelhada (mais róseo) Paredes mais espessas Paredes menos espessas Pregas circulares em maior número e tamanho Pregas circulares em menor número e tamanho Vasos retos maiores Vasos retos menores Vascularização (arterial) menos complexa Vascularização (arterial) mais complexa Nódulos linfoides em menor quantidade (placas de Peyer) Nódulos linfoides em maior quantidade (placas de Peyer) Gordura em menor quantidade no mesentério Gordura em maior quantidade no mesentério NA PRÁTICA! O divertículo de Meckel é uma anomalia congênita muito comum, ocorrendo em cerca de 2% da população de raça branca. O divertículo, um remanescente do ducto vitelino, uma conexão embrionária entre o intestino médio e o saco vitelino, é um curto prolonga- mento de abertura larga na região distal do íleo, a cerca de 100 cm do ceco. A maioria dos divertículos de Meckel é assintomática, mas alguns podem causar sangramento e obstru- ção intestinal. A obstrução é normalmente devida à intussuscepção, ou seja, o prolapso do íleo para dentro do divertículo. 40INSTESTINO DELGADO ÍLEO LOCALIZAÇÃO INERVAÇÃO ESTRUTURAS VASCULARIZAÇÃO FUNÇÃO HISTOLOGIA Última parte do intestino delgado Entre jejuno e o ceco Pregas paralelas circulares da mucosa Folículos linfoides Válvula ileocecal Parassimpático Simpática Nervo vago Absorção da vitamina B12, gorduras e sais biliares Função imunológica Quebra enzimática de nutrientes 12 Artérias ilíacas 12 Veias ilíacas Plexo celíaco Plexo mesentérico superior Mucosa Submucosa Placas de Peyer Plexo de Meissner Muscular Serosa MAPA MENTAL: ILEO 41INSTESTINO DELGADO INTESTINO DELGADO DIVISÃO HISTOLÓGICAParte ascendente Parte horizontal Parte descendente Parte superior FUNÇÃO Mucosa Serosa/Adventícia Células de Paneth Criptas de Lieberkühn Placas de Peyer Submucosa Muscular Glândulas de Brünner Plexo de Meissner Plexo de Auerbach 4ª Semana Endoderme Intestino primitivo Mesentério ORIGEM EMBRIOLÓGICA Intestino anterior Intestino posterior Intestino médio Duodeno Jejuno Íleo Neutralização do ácido gástrico Misturar enzimas Motilidade do trato intestinal Função imunológica Absorção de água e nutrientes Contração de propulsão Contração de mistura Carboidratos Proteínas Lipídios Íon bicarbonato Peristalse Segmentação Transportador 1 de sódio/glicose (SGLT1) Micelas Duodeno Jejuno Íleo DIVISÃO ANATÔMICA MAPA MENTAL: INTESTINO DELGADO 42INSTESTINO DELGADO REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICA Berne, R. M., Levy, M. N., Koeppen, B. M. & Stanton, B. A. Fisiologia. 6ª ed., Ed. Elsevier, Rio de Janeiro, RJ. 2009. Gartner, Leslie P. Tratado de histologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Gray, H. Gray’s Anatomia: A base anatômica da prática clínica, 40ª edição, 2010; Guyton AC, Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 13a ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2017. Junqueira, L. C.; CARNEIRO, J.; ABRAHAMSOHN, P. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Moore KL, Persaud TVN, Torchia, MG. Embriologia clínica. 9a ed. Rio de Janeiro (RJ): Elsevier; 2012. Moore, Keith. L. Anatomia Orientada para a Clínica, 6ª edição, 2010; Netter, Frank. H. Atlas de Anatomia Humana, 5ª edição, 2010. Ross, M. H.; Pawlina, W. Histologia: texto e atlas em correlação com a biologia celular e mo- lecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Sadler, TW. Langman – Embriologia Médica, 13ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 43INSTESTINO DELGADO
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