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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Curso de Medicina Disciplina de Imunologia e Imunopatologia Aluno: Eliézer da Cunha Rodrigues Estudo dirigido Hipersensibilidade vs. Autoimunidade HIPERSENSIBILIDADE Na patologia, reações de hipersensibilidade descrevem o mecanismo pelo qual o organismo desenvolve respostas alérgicas ocasionadas pela ativação exacerbada do sistema imune, apresentando todas as características de uma reação imune adaptativa. Por isso, todas as reações de hipersensibilidade são reações de memória, já que são desencadeadas por células T. As diferentes reações são particularmente definidas pelo tipo de resposta imune que suscitam e pelas moléculas efetoras que são geradas no curso da reação. Questão 1 Hipersensibilidade do tipo I ● Anticorpo ou célula T: a partir ligação cruzada dos anticorpos IgE a alérgenos solúveis, estas imunoglobulinas medeiam a degranulação de grânulos de histamina, heparina e bradicinina por mastócitos e eosinófilos, provocando dano imediato a partir: da vasodilatação, do aumento do fluxo sanguíneo e da indução da musculatura lisa à contração. Além dos supracitados mediadores tóxicos, os mastócitos também liberam: enzimas (triptase, quimase, catepsina G, carboxipeptidase), interleucinas (3, 4, 5 13, GM-CSF e TNF-alfa) e lipídios (leucotrienos C4 e D4, que são moléculas quimiotáticas, e fator ativador de plaquetas). Nesse âmbito, as células T-CD4 Th2 operam como células de memória - de modo que, quanto maior o número de exposições de um indivíduo ao alérgeno, mais intensa e potente será sua resposta imune. Em uma situação contrária (supondo, por exemplo, que o paciente tome os devidos cuidados e que limite ao máximo a sua exposição aos estímulos alergênicos), essas células de memória deixam de receber estímulos indutores de sobrevivência. Desse modo, as T-CD4 Th2 morrem aos poucos e o indivíduo se torna “menos alérgico”, ou mesmo deixa de apresentar a alergia. Na imagem abaixo, é possível notar o Mastócito como uma célula gigante e repleta de grânulos de histamina e heparina. À esquerda, temos uma célula não ativada; à direita, vê-se um mastócito ativado por alérgeno (pela ligação de IgE a esse antígeno) degranulando. Na imagem abaixo, vê-se um mastócito que apresenta, na superfície de UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Disciplina de Imunologia e Imunopatologia Aluno: Eliézer da Cunha Rodrigues sua membrana, anticorpos IgE ligando-se a antígenos. ● Sintomas: geralmente, esse tipo de resposta imune acomete o sistema respiratório, provocando edema e irritação da mucosa nasal (no caso da rinite); constrição brônquica, aumento da secreção de muco e inflamação das vias aéreas, hipertrofia do músculo liso brônquico (no caso da asma alérgica); vômito, diarreia, coceira, urticária e anafilaxia (no caso de alergia a alimentos); edema local (no caso de anafilaxia local); e, por fim, edema, aumento da permeabilidade vascular, oclusão da traquéia, colapso do sistema circulatório e morte (no caso da anafilaxia sistêmica). ● Exemplos: rinite alérgica, asma alérgica, alergias alimentares (frutos do mar, leite, ovos, trigo, etc.), anafilaxia local e sistêmica (drogas, soro, venenos, sementes) Um exemplo bastante comum de hipersensibilidade do tipo 1 é a alergia a ácaros, ou simplesmente alergia ao pó. Na verdade, o que ocorre é que os ácaros, aracnídeos microscópicos que dividem o ambiente com os humanos e que se alimentam de pequenas partículas de descamação da pele que ficam suspensas no ar (principalmente em locais fechados), produzem fezes ricas em proteínas (das quais a principal é a protease-cisteína). Essas partículas, também microscópicas, ficam suspensas no ar e podem gerar reação anafilática nos indivíduos reconhecidamente alérgicos. ● Tratamento: exceto nos casos de asma alérgica (em que se usa corticosteróides, broncodilatadores, beta-agonistas, anticolinérgicos e metilxantinas), a hipersensibilidade do tipo 1 é tratada pela administração de anti-histamínicos Para pacientes em choque anafilático, a primeira conduta é recuperar a pressão sanguínea pela administração de epinefrina. Por essa razão, é recomendável que indivíduos alérgicos à picada de insetos/alimentos/outros alérgenos carreguem consigo seringas autoinjetáveis de epinefrina. Isso porque, promovendo a vasoconstrição (em contrabalanço ao aumento da permeabilidade vascular), o medicamento limita a evolução da resposta alérgica - dando ao indivíduo tempo para procurar auxílio médico. O conceito de atopia descreve o fato de que algumas pessoas nascem predispostas a desenvolver respostas imunes Th2 (predisposição alérgica hereditária) - de acordo com o nível de expressão de vários genes, como aquele que codifica o receptor de anticorpos IgE, os que codificam citocinas envolvidas na troca de classe da IgE e na sobrevivência/proliferação de eosinófilos e mastócitos, dentre outros. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Disciplina de Imunologia e Imunopatologia Aluno: Eliézer da Cunha Rodrigues Hipersensibilidade do tipo II A hipersensibilidade do tipo II é mediada por anticorpos IgG e IgM (assim como a hipersensibilidade do tipo III, que é diferente somente pelo fato de que o antígeno, nesse caso, é solúvel e forma imunocomplexos). O dano gerado por ela demora um pouco a se manifestar, já que os anticorpos ainda não estão ligados às células efetoras (macrófagos, neutrófilos, e NK). ● Anticorpo ou célula T: anticorpos IgG ou IgM reagem contra antígenos celulares associados à membrana ou da matriz extracelular. ● Sintomas: os mais comuns são anemia hemolítica, trombocitopenia e plaquetopenia, com o distinto aparecimento de manchas roxas na pele (púrpuras), já que as células imunes do organismo começam a fagocitar as próprias plaquetas e eritrócitos. ● Exemplos: alergias a medicamentos, tais quais penicilina, quinidina e drogas anti-hipertensivos; doença hemolítica do RN, miastenia gravis. Na doença hemolítica do recém-nascido, a mãe (RH+) apresenta anticorpos (anti-RH) que reagem contra as células dos tecidos fetais (já que o feto é RH-). À medida que a gravidez evolui, a exposição constante ao antígeno potencializa a resposta imune, isto é, a produção de anticorpos anti-RH. Por essa razão, aplica-se a vacina de RhoGAM - pela qual se administra anticorpos anti-RH à mãe para que estes destruam as células do feto em circulação pelos tecidos maternos antes que o sistema imune dela se torne mais sensível. ● Tratamento: Hipersensibilidade do tipo III / 3 sintomas ● Anticorpo ou célula T: formação de imunocomplexos de anticorpos IgG ● Sintomas: o dano, que demora um pouco até se manifestar, se desenvolve em tecidos responsáveis pela filtração do conteúdo sanguíneo (já que a formação dos imunocomplexos é muito intensa e que estes, acumulando-se nos vasos, ativam o sistema complemento); desse modo, esse tipo de hipersensibilidade é caracterizado por uma tríade sintomática de vasculite (vasos), glomerulonefrite (rins) e artrite (membrana sinovial). Podem aparecer, também: febre, calafrios, vermelhidão, dor muscular e linfoadenopatia. ○ Dor no joelho e sangue na urina → Hipersensibilidade do tipo III ● Exemplos: doença do soro e fenômeno de Arthus ● Tratamento: Hipersensibilidade do tipo IV Conhecida como dermatite de contato, essa resposta imune só se manifesta alguns dias após o evento de exposição do organismo aos antígenos (geralmente dois dias), sendo desencadeada por linfócitos TCD4+ dos subgrupos Th1 e Th17 e por células TCD8+. Essas células secretam citocinas que ativam macrófagos e que induzem a inflamação. É o único tipo de hipersensibilidade que não depende de anticorpos. ● Anticorpo ou célula T: formação de linfócitos Th1 ○ Fase de sensibilização: a APC apresenta o antígeno ao linfócito, formando células Th1 que produzem interferon-gama (que estimulam a UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Disciplina de Imunologia e Imunopatologia Aluno: Eliézer da Cunha Rodrigues inflamação por macrófagos); ○ Fase de elicitação: ● Sintomas: dermatite ● Exemplos:dermatite de contato → alergia a plantas e a metais; diabetes do tipo 1 (as células das Ilhotas de Langerhans são reconhecidas e destruídas por células T). ● Tratamento: corticoides. Questão 2 Defina: 1. Anafilaxia: sendo um exemplo de hipersensibilidade do tipo 1, a anafilaxia é uma reação alérgica extremamente rápida (ou mesmo imediata) que, mediada por anticorpos IgE e IgM, se desenvolve mediante a exposição do indivíduo a um alérgeno para o qual este é previamente sensível. Em um momento inicial, a presença do antígeno estimula a produção de imunoglobulinas pelos linfócitos B. Depois, esse antígeno solúvel se liga aos anticorpos IgE e provoca resposta por parte dos mastócitos, que liberam grânulos de histamina, heparina e bradicinina, enzimas, interleucinas e lipídios pró-inflamatórios. Todos esses mediadores interagem mutuamente produzindo uma reação inflamatória intensa e expansiva, uma vez que novas moléculas inflamatórias são recrutadas - principalmente eosinófilos. Depois de uma primeira onda de histamina, dá-se o acúmulo de eosinófilos no tecido e no sangue, causando danos e preparando o organismo para a reação de fase tardia. As manifestações da anafilaxia são multissistêmicas e inespecíficas (acomete sistema respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, pele, mucosas, etc.). Em casos de anafilaxia local, o principal sintoma é o inchaço da região . Por exemplo: indivíduo alérgico a amendoim come rapadura e tem edema de traqueia. Já a anafilaxia sistêmica se caracteriza por edema de vias aéreas, por aumento generalizado da permeabilidade vascular (que pode levar a choque do sistema circulatório) e, ocasionalmente, por morte. 2. Alérgeno: partículas que, apesar de inócuas para a maior parte das pessoas, podem ocasionar reações de hipersensibilidade em indivíduos alérgicos (em caso de exposição). 3. Choque anafilático: produzido pela anafilaxia (com a ativação disseminada de mastócitos e a liberação exagerada de histamina), o choque é a forma mais grave de uma reação de hipersensibilidade. Geralmente, ocorre em indivíduos alérgicos a picadas de insetos, a alimentos ou a medicamentos e se caracteriza pelo aumento generalizado da permeabilidade vascular (que leva à queda da pressão sanguínea), pela constrição de vias aéreas, pelo fechamento da epiglote e pelo sufocamento. UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Disciplina de Imunologia e Imunopatologia Aluno: Eliézer da Cunha Rodrigues Diferente do choque séptico (que tem evolução mais lenta), o choque anafilático é instantâneo. Questão 3 Descreva o mecanismo pelo qual o alérgeno, ao reagir com a IgE, induz a inflamação: Na hipersensibilidade do tipo 1, o antígeno faz ligação cruzada com anticorpos IgE que, via de regra, estão dispostos na superfície de mastócitos. Mesmo que não estejam, os mastócitos são as principais células da defesa que apresentam receptores para esse tipo de anticorpo - sendo, portanto, responsáveis pela maior parte dos mecanismos da resposta. Nesse contexto, o reconhecimento de um alérgeno induz o mastócito a: 1. Liberar, por exocitose, grânulos de histamina (que induzem a vasodilatação) e de heparina (fator anticoagulante); 2. Produzir e secretar enzimas (triptase, quimase, catepsina G, carboxipeptidase), interleucinas (3, 4, 5 13, GM-CSF e TNF-alfa) e lipídios (leucotrienos C4 e D4 e fator ativador de plaquetas). Com isso, aumenta-se o fluxo de sangue para o local de suposta infecção (já que, na verdade, o organismo reage como se este tivesse sido invadido por um helminto) e se forma um processo inflamatório expansivo pelo recrutamento de outras células do sistema imune.
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