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Prezados alunos,decidimos resumir o texto a ser refletido e sintetizar a sua abordagem.Por esse motivo reproduzimos aqui,ipsis literis,o conteúdo presente nas páginas de 11 a 20 da obra; “Formação de educadores-Desafios e perspectivas’’,obra organizada por Raquel Lazzari Leite Barbosa. Apresentação Formar educadores - desafio para todos os tempos Raquel Lazzari Leite Barbosa Denice Barbara Catani Ao intitular-se "Formação de educadores: desafios e perspectivas para o século XXI", o "VI Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores" anunciou sua aspiração em ser o quadro de propostas, análises e críticas que pudesse apontar alternativas para um novo tempo. Depois de dez anos de encontros bianuais, buscava-se uma síntese e projeção para um novo tempo, o século que se iniciava. Quando da realização do III Congresso em 1994. Antônio Nóvoa nomeou sua intervenção de maneira simples, porém arguta: "Educação e sociedade: novas respostas para um velho problema". Propôs-se ele a analisar as condições nas quais eram buscadas alternativas para a formação e atuação dos professores. Longe estávamos e longe estamos de tê-las alcançado. A persistência da meditação dos congressos diz muito acerca dos investimentos intelectuais que, no país, têm sido feitos para alcançar "novas respostas" ao problema da formação dos educadores. A percepção mais arguta, no entanto, a cada dia, das grandes questões e suas implicações, dos pequenos problemas e seus desdobramentos, tem certamente sido favorecida ao encontrar fórum privilegiado. Historicamente no Brasil, sabemos, a questão da formação dos educadores foi alvo de investimentos significativos e de omissões de igual peso entre nós. Do alerta de Caetano de Campos, ao buscar o espírito da República brasileira, bradando assim pelo reconhecimento da importância dos professores em qualquer projeto de melhoria da nação, ao "estranho" lugar hoje atribuído aos profissionais que, só no discurso, têm seu papel valorizado e reconhecem na prática as mais"violentas agruras da profissão docente" para o "exercício decente de sua profissão", não se pode dizer que tenham faltado propostas. Podem-se, no entanto, reconhecer também as dificuldades com as quais tem-se lidado ao buscar dar conta de formar profissionais críticos, no interior do Estado, quase sempre para servi-lo, e com a simultânea esperança deque seja possível que estes proponham a inovação e sejam capazes de afrontar o mesmo Estado na defesa de ideais socialmente defensáveis. O intuito do "VI Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores" foi ampliar e fortalecer um espaço para a análise de questões referentes aos atuais desafios e perspectivas no âmbito da educação de docentes. Nesse sentido, reuniu pesquisadores que têm se dedicado a discutir e propor múltiplas formas de estudo e intervenção junto ao magistério. Fazem-se presentes temas como representações mediante as quais tenta-se instaurar modos ideais de atuação dos professores, aspectos da produção e circulação de leituras no interior da escola, as maneiras específicas hoje configuradas nacional e internacionalmente no que tange à preparação técnica dos educadores, as implicações de políticas públicas para as práticas de formação e exercício do magistério, os funda mentos que dão sentido às aproximações realizadas no domínio da História da Educação entre memória e docência, as concretizar reformas capazes de tornar realidade potencialidades das pesquisas acerca de e com os professores, bem como as questões vinculadas às propostas de democratização da escola em seus diversos graus. Ao reunir aqui tais trabalhos, o objetivo é dar a conhecer a fecundidade das análises empreendidas e contribuir para a busca de alternativas nos modos de trabalhar com os professores. "Formando professores reflexivos para a educação centrada no aluno: possibilidades e contradições", de Kenneth M. Zeichner, discute as transformações verificadas nos últimos 25 anos e que definem a figura do "professor reflexivo". Para tanto, o trabalho localiza a configuração desse novo perfil no âmbito de reformas e discursos educacionais que, em diversas partes do mundo, enfatizam a necessidade de um tipo de organização escolar mais democrático por meio da descentralização das decisões, o que exigiria dos docentes a capacidade de exercitar o próprio julgamento acerca das questões de ensino, seja no domínio interno das salas de aula seja no domínio mais amplo dos fundamentos e políticas educacionais. O texto em questão ressalta que, excetuando-se alguns poucos casos, as reformas acabam por desfavorecer uma proposta dessa natureza. Para além de modelos normativos, o autor questiona-se sobre as reais possibilidades de projetos que contribuam para o desenvolvimento de professores reflexivos, capazes de promoverem condições mais justas e condizentes ao ideal de"escola para todos". A democratização do ensino também é uma problemática presente na conferência proferida por Bernard Charlot intitulada "O sujeito e a relação com o saber". Atentando para a desigualdade social ante a escola, questão que tem mobilizado pesquisas desenvolvidas pelo autor e sua equipe há doze anos, o texto constitui um esforço para explicitar os fundamentos que dão sentido às aproximações entre a sociologia e a psicologia. Segundo Charlot, a sociologia permite compreender os modos pelos quais o lugar da criança pode conduzi-la ao fracasso escolar, enquanto a psicologia enfatiza aspectos relativos à constituição do sujeito, deixando de lado o fato de que algumas dificuldades tendem a ser mais freqüentes em determinadas classes sociais. No seu entender, o "pesquisador em educação não pode se restringir nem à sociologia nem à psicologia porque não pode ignorar a singularidade de cada aluno nem as diferenças sociais entre os alunos". Assim, o texto explicita alguns dos resultados de pesquisas que visam articular essas duas perspectivas, sugerindo alternativas férteis para pensar as relações entre o sujeito e o saber. "O livro e a educação: aspectos políticos na produção do livro didático", de Mário Castillo, foi outro trabalho apresentado na qualidade de conferência. O autor assinala elementos que permitem uma visão ampla e integral do tema tratado, reconhecendo o livro como um bem cultural e econômico. Preocupado com a importância e a necessidade do texto escolar , Castillo afirma a fertilidade do uso desse material em nome de um ensino favorável ao desenvolvimento da consciência crítica, a busca de significados, invenção e questionamento da própria realidade. São justamente estes últimos aspectos que estão presentes num projeto, do qual o autor é presidente, intitulado Libro Universitário Regional (LUR), destinado à difusão nas universidades latinoamericanas de conhecimentos tidos como "inovadores", mediante a produção e comercialização de livros. Ao explicitar os propósitos e resultados desse projeto, o texto convida os universitários da América Latina a participarem também como leitores e possíveis escritores. No que se refere especificamente à formação de professores no âmbito das políticas educacionais contemporâneas - temática de uma das mesas- redondas -, Antônio Joaquim Severino, em seu texto "Preparação técnica e formação ético-política dos professores", tece comentários acerca dos efeitos das atuais políticas públicas brasileiras na área educacional implementadas pelos dispositivos da nova LDB (n.9.394/96) e seus efeitos no processo de formação do magistério. Contribui, dessa maneira, para o exame das perspectivas dos limites de tais iniciativas ao desenvolvimento profissional dos educadores, entendido como a articulação de diversas dimensões, a dos conteúdos específicos, a das habilidades técnicas e a das relações situacionais. É nesse sentido que o autor destacaa importância de assegurar aos docentes a participação no"processo construtivo de produção do conhecimento e com os recursos críticos necessários para a avaliação de sua prática político-social". Em "Novas tecnologias na educação presencial e a distância I", Vani M. Kenski discute a temática, entendida como uma das "ferramentas que auxiliam as pessoas a viverem melhor dentro de um determinado contexto social e espaço-temporal", situando-a no atual estágio da sociedade, quando é visível uma lógica em que predomina a permanente aquisição de equipamentos e tecnologias de comunicação. Para os professores, "profissionais que têm a informação como matéria-prima", tal situação implica uma pequena capacidade de "atualizar" os saberes a serem transmitidos aos alunos, pois, pela própria natureza do trabalho docente, esses conhecimentos têm limites mais definidos. Assim, o texto problematiza o atual significado da educação e as formas pelas quais seria possível evitar que as novas tecnologias acentuem a desigualdade no que tange ao acesso e consumo da informação, assinalando que "a preocupação dos educadores precisa ser a de contribuir para a formação de pessoas ativas socialmente ... que possam ter autonomia e conhecimento suficientes para a compreensão e análise crítica do papel das novas tecnologias no atual momento da sociedade". Acerca dessa mesma questão, "Novas tecnologias na educação presencial e a distância II", Raquel Goulart Barreto acrescenta que tais elementos implicam novos desafios e possibilidades para o magistério. A autora considera a configuração de um certo reducionismo do trabalho docente, hoje mais vinculado à idéia de atividade por conta da tendência em enfatizar o uso de métodos e tecnologias eficientes de ensino. Ao atentar para as implicações de políticas públicas - levadas a efeito pela LDB n.9.394/96, por programas coordenados pelo MEC, em âmbito nacional e, internacionalmente, pela Unesco e pelo Banco Mundial - no que se refere à formação de professores, faz-se notável o "esvaziamento da docência" decorrente da proposição de treinamento de habilidades desejáveis em curto prazo com o uso de técnicas supostamente econômicas e eficazes. Sendo assim, Barreto sugere outro tipo de investimento nos cursos de formação docente, de modo a redimensioná-los para além do consumo de tecnologias, assumindo significados mais amplos e significativos para o exercício do magistério. Acerca dos investimentos junto à educação de professores, é Denice Barbara Catani, em comunicação intitulada "Lembrar, narrar, escrever: memória e autobiografia em História da Educação e em processos de formação", quem indica alternativas para propiciar a esses profissionais modos de trabalho mais férteis. Trata-se do recurso às memórias e às narrativas autobiográficas tanto nos processos de formação quando na escrita da História da Educação. A autora constrói a sua análise partindo das produções do campo educacional, especialmente do modo como se tem falado de memória. Nesse sentido, refere-se a autores como Adorno, Pierre Nora, Maurice Halbwachs, M. Pollak, às memórias de Elias Canetti, assinalando algumas das formas pelas quais se constrói a memória dos educadores e se instauram legitimidades em seu espaço profissional. Catani ainda sustenta "a fecundidade do domínio acerca da própria história e (o) reconhecimento da riqueza envolvida nos processos memorialísticos que reconstituem trajetórias intelectuais" para desenvolver novas maneiras de educar professores. Dialogando sobre o tema da memória, Clarice Nunes escreve o seu trabalho "Memória e História da Educação: entre práticas e representações", tecendo algumas reflexões acerca da produção da pesquisa e da educação de professores. No seu entender, a problemática assume contornos especiais no atual contexto da globalização, quando a crença no poder da tecnologia induz os homens a esquecerem o que aprenderam e valorizarem a expansão da indústria moderna. Diante disso, a autora assinala os múltiplos papéis da memória no desenvolvimento do sujeito e da sociedade, discutindo o seu uso como fonte, as complexas relações com a história e, em especial, a importância da escola como um dos espaços mais significativos de memória. É justamente na busca de revisar a organização da instituição escolar da forma como ela tradicionalmente tem se apresentado que Zoë Readhead estrutura suas idéias em "O treinamento e a formação dos educadores". Filha de A. S. Neill -fundador da Escola de Summerhill (criada em 1921) e destacado como o "pioneiro da educação democrática" -, a autora critica a tendência em se incorporar ao ensino o controle cada vez mais acentuado das pessoas por meio de inúmeros testes e exames de classificação. Contrapõe a essa experiência a filosofia de Summerhill, voltada para a formação de "crianças livres" e capazes de se autogovernar e procura elucidar a complexidade de tal processo, que faz parte de uma "comunidade democrática na qual os adultos e as crianças têm direitos iguais". Segundo Readhead, a liberdade da infância deve integrar um projeto social maior de equação da violência, posto que esse tipo de educação pode garantir a formação de pessoas mais felizes e responsáveis. Além das palestras e mesas-redondas até aqui descritas, o Congresso ainda contou com seminários temáticos. Um deles é o de Sadao Omote, que versa sobre "A formação do professor de Educação Especial na perspectiva da inclusão" e argumenta a necessidade de pensar o tema considerando não apenas os professores atuantes junto a crianças e jovens com necessidades educacionais especiais, como também o magistério no ensino comum. Isso porque a inclusão é entendida como uma perspectiva fundamental nas sociedades atuais, e todos os educadores têm um importante papel a desempenhar para prover as pessoas dos bens necessários à superação da exclusão social. Contudo, o autor observa que a formação de professores especiais, tal como tem se configurado, acaba por favorecer práticas de segregação, o que pode, como se defende, ser transformado para promover o princípio da integração. Em seu seminário: "Formação de professores e pedagogos na perspectiva da LDB", Leda Scheibe discute uma das medidas mais inovadoras e polêmicas instituídas por meio da Lei n.9.394/96: a formação docente em nível superior. Retomando os artigos que tratam da questão, a autora assinala possibilidades como a extinção gradativa do curso de Pedagogia, a formação dos chamados técnicos ou especialistas em Educação, a criação dos Institutos Superiores de Educação, dentre outros aspectos, e chama a atenção para o risco de se descaracterizar a educação profissional dos professores por meio de iniciativas que acabam por favorecer a dicotomia entre teoria e prática, a separação entre ensino e pesquisa, bem como as diferenças entre bacharéis e licenciados. Assim, o trabalho visa colaborar com os debates acerca do tema, de modo a buscar alternativas de trabalho mais férteis a partir das mudanças empreendidas no âmbito da legislação e da implantação de novos cursos para o magistério. No entender de Emília Freitas de Lima, em sua comunicação "O curso de pedagogia e a nova LDB: vicissitudes e perspectivas", há que se defender uma educação de qualidade para os profissionais do ensino a partir de elementos que considera serem a "espinha dorsal" desse projeto: ter o curso de Pedagogia como o locus de formação de professores para os níveis infantil e fundamental; contar com pedagogos capazes de atuar na docência, na organização e gestão de sistemas; formar todos os profissionais da Educação em nível superior (faculdades, centros de formação e congêneres). Essas propostas são tecidas pela autora a partir de uma concepção específica de formação e dos modos pelos quais issotem se configurado no interior das atuais políticas públicas brasileiras e latino-americanas. Numa outra perspectiva, Maria da Graça Nicoletti Mizukami, com "A pesquisa sobre formação de professores: metodologias alternativas",alternativas", discute metodologias alternativas de pesquisas sobre, com e dos professores. A autora esclarece as potencialidades desse tipo de trabalho retomando idéias de autores como Shulman, Cochran-Smith e Lytle, Clark, John-Steiner, Weber, Minnis, Zeichner, Schön, Noffke, Anderson e Herr e, ainda, dando conta dos resultados de uma "pesquisa-intervenção" da qual participou visando tanto promover quanto pesquisar processos de formação docente. Trata-se, portanto, de um esforço para explicitar as bases que fundamentam estudos sobre os professores e trabalhos de educação desses profissionais. Já Fernando Becker, em texto intitulado "Vygotski versus Piaget - ou sociointeracionismo e educação", oferece importantes contribuições para pensar os modos pelos quais determinadas teorias circulam entre o corpo docente. Isso porque, analisando especificamente os dois autores citados em seu texto, Becker procura situar as contribuições de cada um no campo da pedagogia e da educação, alertando para o perigo das "primitivas paixões ideológicas" que, no caso brasileiro, resultam da aclamação da teoria vygotskiana em detrimento das idéias de Piaget quando, na verdade, as obras originais de cada teórico ainda são pouco conhecidas no país, e suas apropriações decorrem de uma "leitura descontextualizada historicamente", que o autor do trabalho revê, de modo a possibilitar contatos mais férteis dos professores com o conhecimento. Outro tema relevante e que também diz respeito ao trabalho docente é aquele tratado por Dagmar E. Estermann Meyer na comunicação "Escola, currículo e diferença: implicações para a docência", o qual se propõe a oferecer aos professores e professoras elementos para uma reflexão sobre os processos de produção de diferenças e desigualdades na escola, entendida como "instância em que se produzem identidades sociais". A autora tece comentários específicos acerca da questão de gênero e das formas pelas quais as práticas escolares instituem posições sociais de menino e de menina, de modo a favorecer debates que permitam refletir sobre a organização dos currículos e das atividades com os alunos. "Docência no ensino superior: construindo caminhos", escrito por Selma G. Pimenta, Léa das Graças C. Anastasiou e Valdo José Cavallet, apresenta conclusões e debates levados a efeito em Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores da FEUSP, o qual pretende analisar questões atualmente impostas ao ensino superior, com a expansão desse nível. Para tanto, os autores se referem a experiências recentemente realizadas em instituições universitárias e assinalam a importância de os professores dessas mesmas instituições pensarem e avaliarem constantemente suas práticas. No seminário "Formação continuada: memórias", João Cardoso Palma Filho e Maria Leila Alves examinam a história do aperfeiçoamento profissional docente em São Paulo desde os anos 1960 - momento em que surgem as primeiras iniciativas na área - até os dias de hoje - quando ainda se reconhece a necessidade de superar problemas de fragmentação e descontinuidade das ações relativas à formação continuada dos professores. Em "Educação e emancipação", Newton Ramos de Oliveira traz uma análise sobre a situação e a formação do professor hoje em nosso país, caracterizando as implicações da chamada "sociedade administrada, atrasada pela informação" para os fins aos quais o professor e a escola se propõem. É por meio desse exame que o autor procura compreender o tema que intitula o seu trabalho, defendendo o exercício da reflexão e do pensamento crítico, assinalando "que a educação não é linear e exclusivamente um processo de resistência. Tem também - e obrigatoriamente - sua face de adaptação", do qual é preciso ter consciência, de modo a favorecer a formação humana em todas as suas dimensões. Atentando especificamente para a "formação de uma cultura de respeito à dignidade humana através da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz", Maria Victoria Benevides questiona acerca da "Educação em direitos humanos: de que se trata?". Segundo a autora, o tema deve ser discutido considerando-se como premissas a educação global e continuada, a educação para mudança e a educação compreensiva, e, incluindo, nesse sentido, tanto a razão quanto a emoção. Esse trabalho mostra-se relevante tendo em vista o reconhecimento das contradições e conflitos vividos pela escola no seu cotidiano e que devem ser dados a conhecer por todo programa de direitos humanos, pois é nisso que reside o sucesso desse tipo de esforço. O tema "A reforma do ensino médio: uma crítica em três níveis" é examinadopor Celso João Ferretti numa perspectiva que, segundo o próprio autor, não é original, pois várias pesquisas têm sido produzidas ultimamente na área, exposta a diversas polêmicas. Ferretti traz importantes contribuições para o debate, tecendo observações acerca dos aspectos político-ideológico, educacional e de implementação, a partir das determinações constantes nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e alertando para os limites que as reais condições do sistema público de ensino podem impor às atuais proposições de autonomia para as escolas. "Mas o que significa ter autonomia? O que é ser autônomo?": é o que se interroga Stela Miller em seu "A leitura na escola hoje", pensando diretamente sobre as implicações do termo no processo de ler. O texto contribui, dessa maneira, para o esclarecimento de que, "por intermédio da leitura, o aluno poderá, paulatinamente, ir apropriando-se dos conteúdos socioculturais e construindo sua participação autônoma e crítica na sociedade" e, ainda, que "essa meta só se concretizará se a leitura de textos de fato contemplar a diversidade de escritos veiculados pela sociedade". Acrescentando outros elementos para discutir o tema da leitura na escola hoje, Juvenal Zanchetta Junior trata de "A leitura de linguagens não- verbais na escola: uma introdução", examinando o papel que os meios de comunicação devem cumprir na formação escolar dos alunos. Lembra que as recentes diretrizes governamentais expressas em documentos como os PCNs para a educação têm privilegiado o estímulo compreensivo das linguagens midiáticas, com destaque para mensagens televisivas, sem, contudo, favorecer o desenvolvimento de atividades que abranjam de maneira fértil tais dimensões. E explicita os fundamentos da proposta de se "ensinar a entender esses procedimentos de representação do mundo e utilizá-los de modo a expandir o horizonte de expectativas e mesmo outras habilidades possíveis - como a da produção de textos, do uso da gramática prestigiada socialmente etc". Outro tema tratado em seminário acerca da "Organização dos sistemas municipais de educação no Estado de São Paulo: novas possibilidades na gestão de políticas públicas" foi examinado por Ana Maria Freire P. M. Almeida e Ricardo Ribeiro, de modo a - como os próprios autores se propõem - explicitar a questão na ampla perspectiva do fenômeno educacional e de políticas públicas. Nesse sentido, o movimento da descentralização é destacado como uma tendência atual e mundial, o que implica uma repartição de poderes administrativos e decisórios, favorecendo o fortalecimento dos níveis locais e, em última instância, a democratização do processo de gestão dos sistemas de ensino. Julio Groppa Aquino traz contribuições relevantes para pensar a questão da "Disciplina e indisciplina como representações da educação contemporânea"ao discutir algumas interpretações correntes acerca do tema e que circulam, "na maioria das vezes, de maneira cronificada, estereotipada". Trata-se da idéia segundo a qual os contratempos do trabalho docente são atribuídos a dificuldades - psicológicas ou sociais - da clientela escolar ou, como assim são chamados, dos "alunos-problema". Numa análise arguta dos limites dessa concepção, o autor sugere que se compreenda a indisciplina não como um desvio do aluno, mas como "algo relativo ao âmbito ético da prática pedagógica". Outra importante dimensão do trabalho docente é tratada por Dagoberto José Fonseca em "Diversidade cultural e educação", texto apresentado no seminário temático "Educação e afrodescendentes: uma relação a ser construída". O autor reflete sobre a presença do racismo na escola brasileira, que se manifesta em materiais como o livro didático e paradidático, no número significativo de evasão e repetência escolar entre a população negra, em práticas cotidianas que favorecem o complexo de inferioridade da criança afrodescendente, o que conduz o autor a reivindicar a construção de uma escola onde a diversidade seja verdadeiramente respeitada Em "Contextos integrados de educação infantil: uma forma de desenvolver qualidade", Tizuko Morchida Kishimoto oferece os fundamentos para a construção de uma proposta pedagógica atenta à dimensão cuidar-educar, tida como a base de uma formação integral da criança. Tal projeto deve ser "fruto de trabalho coletivo", abranger diferentes espaços e envolver pais, comunidades e outros agentes. Entretanto, pelo que a autora observa de experiências levadas a efeito por educadores paulistas e portugueses, essa proposta assume perspectivas férteis, mas tem encontrado entraves de ordem administrativa e curricular em sua realização. "Políticas de avaliação do MEC e suas repercussões na sala de aula", de Vera Maria Nigro de Souza Placco, constitui uma referência para entender aspectos relativos ao funcionamento e resultados do sistema educacional, na medida em que analisa as políticas de avaliação do MEC e algumas de suas repercussões. Para tanto, a própria noção de avaliação é explicitada como um elemento que possibilita a manutenção e o direcionamento do ensino e que se vincula a propósitos definidos e específicos nas políticas vigentes. É nessa perspectiva que a autora tece comentários acerca do Saeb, Enem e do Exame Nacional de Cursos, ponderando a necessidade de uma"cultura avaliativa", "realmente educativa e possibilitadora de avanços no campo educacional e político". Finalmente, "Do que temos, do que podemos ter e temos direito a ter na formação de professores: em defesa de uma formação em contexto", de António F. Cachapuz, é o trabalho que encerra esta coletânea, discutindo as possibilidades e os limites que nos últimos anos têm sido postos pela concepção, organização e estratégias de formação contínua do magistério Examinando as dimensões epistemológicas, políticas e de ensino dessa proposta, o autor observa a predominância de uma racionalidade técnica, a qual sugere ser reinventada de modo a favorecer iniciativas mais ricas, interativas e reflexivas por parte dos professores Ao reunir as comunicações aqui descritas, este livro corresponde a um importante documento que dá a conhecer debates e proposições relativos à educação e atuação de educadores e que se destaca pela atualidade e diversidade dos textos nele incluídos. Considerando a natureza das discussões, os textos aqui reunidos podem potencializar investigações da área e constituir referências úteis na organização de novos modos de formar os professores, conforme a proposta do "VI Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores Agradecemos o apoio do CNPq.
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