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Apostila Cursinho Popular Freire's Vestibulares

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Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
VOLUME I 
 Ciências da Natureza e suas tecnologias 
 BIOLOGIA 
 Ciências Humanas e suas tecnologias 
 FILOSOFIA 
 SOCIOLOGIA 
 Linguagens, Códigos e suas tecnologias 
 LÍNGUA PORTUGUESA 
 LÍNGUA ESTRANGEIRA 
 LITERATURA 
 Matemática e suas tecnologias 
 ÁLGEBRA 
 GEOMETRIA 
 Redação 
 REDAÇÃO 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS 
BIOLOGIA 
Oi, tudo bem? Resolvi reunir para você os conceitos básicos da Biologia nessa apostila, 
que darão aquela ajuda especial e prática na hora de estudar e arrasar no ENEM (= 
E C O L O G I A 
Biomassa: matéria orgânica que compõe o corpo dos organismos vivos. 
Biosfera: regiões do planeta onde existem seres vivos. 
Biótopo: área geográfica onde se encontra uma comunidade. 
Cadeia alimentar: representa a transferência de matéria e energia que se inicia sempre 
por um organismo produtor e termina em um decompositor. O fluxo é sempre 
unidirecional. 
Ciclo biogeoquímico: conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que permite 
aos elementos circularem entre os seres vivos e a atmosfera, hidrosfera e litosfera. 
Comunidade: conjunto de populações de espécies diferentes que vive em uma mesma 
área geográfica. 
Consumidores: seres que não são capazes de produzir seu próprio alimento e precisam 
alimentar-se de outro ser vivo para obter sua energia (heterotrófico). 
Decompositores: seres que obtêm nutrientes e energia a partir da decomposição da 
matéria orgânica. 
Ecologia: ciência que estuda as relações entre os seres vivos entre si e destes com o meio 
ambiente. 
Ecossistema: local de interação entre seres vivos (fatores bióticos) e fatores físicos e 
químicos (fatores abióticos). 
Espécie: organismos semelhantes capazes de reproduzir-se e produzir descendentes 
férteis. 
Habitat: local em que determinada espécie vive. 
Nicho ecológico: papel ecológico de uma espécie em uma comunidade. Envolve seus 
hábitos alimentares, sua reprodução, suas relações ecológicas e outras atividades. 
Nível trófico: posição que uma espécie ocupa em uma cadeia alimentar. 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
Pirâmide ecológica: representação gráfica do fluxo de energia e matéria em um 
ecossistema. 
População: conjunto de seres vivos da mesma espécie que vive em determinado local. 
Produtores: seres vivos capazes de produzir seu próprio alimento (autotróficos). 
Relações ecológicas: são as relações que os seres vivos possuem uns com os outros. Essas 
relações podem ser entre indivíduos da mesma espécie ou espécies diferentes. 
Cadeia alimentar: representa uma sequência linear de seres vivos na qual um serve de 
alimento para o outro. 
Teia alimentar: conjunto de cadeias alimentares interligadas. 
 
R E L A Ç Õ E S E C O L Ó G I C A S 
 
Relações ecológicas são as interações que ocorrem entre os seres vivos. 
Relações intraespecíficas: ocorrem entre indivíduos da mesma espécie. 
Relações interespecíficas: ocorrem entre indivíduos de diferentes espécies. 
Relações harmoniosas: são benéficas a um ou mais indivíduos da relação, mas nunca 
prejudicam nenhum indivíduo. 
Relações desarmoniosas: prejudiciais a algum indivíduo da relação. 
Sociedade: indivíduos de uma mesma espécie vivem juntos, sem união física, e 
apresentam uma divisão de trabalhos entre eles. 
Colônia: indivíduos de uma mesma espécie vivem juntos, no entanto, podem 
apresentar ou não divisão de trabalho. 
Competição: indivíduos de uma mesma espécies podem entrar em disputa por 
recursos que são limitados, como alimento, território e parceria para reprodução. 
Canibalismo: um indivíduo alimenta-se de outro da mesma espécie. 
Mutualismo: indivíduos de espécies diferentes vivem associados, sendo 
dependentes ou não dessa associação. 
Protocooperação: ocorre entre espécies diferentes e ambas obtém benefícios. 
Comensalismo: apenas uma das espécies é beneficiada, no entanto, não causa 
prejuízo à outra. 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
Comensalismo: um indivíduo secreta substâncias que inibem ou impedem o 
desenvolvimento de outro. 
Parasitismo: um dos indivíduos (parasita) retira do organismo de outro 
(hospedeiro) nutrientes para sua sobrevivência. 
Predatismo: um indivíduo mata o de outra espécie para alimentar-se. 
Competição: indivíduos de espécies diferentes podem entrar em disputa por 
recursos que são limitados, como alimento ou território. 
 
C I T O L O G I A 
 
Teoria Celular de Schwann e Schleiden: “todos os seres vivos são formados por 
células”. 
Procariontes= têm uma organização mais simples, sem núcleo organizado e organelas 
membranosas, como retículo endoplasmático e aparelho de Golgi. 
Eucariontes= apresentam inúmeros compartimentos e estruturas membranosas internas. 
Além disso, possuem um núcleo onde fica o material genético 
Membrana Plasmática: é uma estrutura presente em todos os tipos celulares. É 
composta por uma bicamada fosfolipídica que controla a entrada e saída de substâncias 
da célula. 
Núcleo Celular: está presente apenas em seres eucariontes, é onde fica o material 
genético da célula. É o centro de comando da célula, controlando o metabolismo celular 
e fazendo a síntese de ácidos nucleicos. 
Mitocôndria: é uma organela com DNA próprio, responsável pela respiração celular. 
Cloroplasto: está presente em organismos fotossintetizantes, por isso possui pigmentos 
verdes (clorofila) que possibilitam a realização da fotossíntese. 
Citoplasma: constitui o interior da célula em procariontes e, em eucariontes, corresponde 
ao espaço entre a membrana plasmática e o núcleo. É onde se localizam as organelas 
celulares e ocorrem muitas reações químicas. 
Ribossomos: são responsáveis pela síntese proteica e estão presentes em todas as células, 
tanto eucariontes quanto procariontes. 
Retículo Endoplasmático (R. E.): é um sistema de canalículos e bolsas membranosas 
presente no citoplasma de células eucarióticas. Essas membranas podem ser lisas (R. E. 
Liso) ou apresentar ribossomos aderidos (R. E. Rugoso). O R. E. Liso é uma região de 
intensa síntese de lipídios e o R. E. Rugoso de proteínas. 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
Aparelho/Complexo de Golgi: é um sistema membranoso localizado no citoplasma de 
células eucarióticas especializado em armazenamento, transformação e secreção de 
substâncias. 
Lisossomos: são vesículas compostas por enzimas digestivas com funções de digerir 
materiais englobados pelas células (digestão intracelular) e elementos da própria célula 
(autofagia), quando necessário. 
 
E M B R I O L O G I A 
 
Embriologia: é a área da biologia que estuda o desenvolvimento dos embriões, desde a 
fecundação até a formação completa dos seres vivos. 
Embriologia Humana: é a área de estudo da embriologia que analisa o desenvolvimento 
dos embriões humanos e identifica causas de malformações e anomalias; 
 
Embriologia vegetal: é a área que analisa o estágio de desenvolvimento das plantas; 
 
Embriologia Comparada: faz análise comparada de embriões de diferentes espécies. 
 
Fecundação: é a primeira etapa do desenvolvimento dos embriões humanos. Iniciam-se 
com o encontro das células responsáveis pela reprodução, os gametas masculino e 
feminino. Nessa fase, o espermatozoide penetra o óvulo e os núcleos dos gametas se 
fundem, formando o zigoto; 
 
Segmentação: esta segunda fase também é denominada de clivagem. É a etapa em que 
o zigoto se divide inúmeras vezes. Inicialmente se divide em duas células denominadas 
blastômeros.Continua se dividindo e aumentando o número de células. Passa a se fixar 
na parede uterina em um processo denominado de blastocisto; 
 
Gastrulação: o embrião continua se dividindo e aumentando suas células, além de 
ampliar seu volume total. Nesta etapa também são formados, os três folhetos 
embrionários ou germinativos — camadas celulares darão origem aos tecidos e órgãos do 
novo indivíduo — além da ectoderma, mesoderma e endoderma; 
 
Organogênese: é a última fase do embrião. Nessa fase ocorre a diferenciação dos tecidos 
e dos órgãos. 
 
Fertilização in vitro: é a fecundação do ovo com espermatozoide feita em um 
laboratório. Após análise de especialistas, o embrião é colocado no útero materno; 
 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
Inseminação artificial: é a reprodução intrauterina. Essa técnica prepara uma amostra 
de esperma em laboratório e depois o transfere para o interior do útero. Isso aumenta a 
probabilidade de fecundação dos espermatozoides. 
 
Células-tronco embrionárias: esse tipo de células é encontrado nos embriões com cinco 
dias de fecundação. Atualmente são desenvolvidas diversas pesquisas com elas, pois 
possuem a capacidade de se transformar em outro tipo de célula. Acredita-se que elas são 
capazes de colaborar com o tratamento de diversas doenças, como leucemia, Alzheimer, 
Parkinson, epilepsia. 
 
V Í R U S 
Vírus: são parasitas que se destacam principalmente pelas doenças causadas no homem, 
entretanto, eles não parasitam apenas as células humanas. 
Capsídeo: cápsulas proteicas que envolvem o ácido nucleico. 
Nucleocapsídeo: conjunto do capsídeos com o ácido nucleico. 
Envelope viral: composto de duas camadas lipídicas intercaladas com moléculas de 
proteína (bicamada de lipoproteínas) e pode conter material da membrana de uma célula 
hospedeira da qual o vírus saiu. 
Ciclo lítico: após a multiplicação os vírus podem romper as células infectadas para a 
liberação de novas estruturas. 
Ciclo lisogênico: quando o material genético viral pode manter-se ligado ao da célula 
hospedeira, e a transmissão desse material para novas células ocorre à medida que ela se 
divide. 
 
F U N G O S 
Fungos: são organismos eucarióticos representados por cogumelos, mofos e bolores. 
Parede celular: composta por quitina. 
Glicogênio: reserva energética. 
Micorrizas: associações de fungos à raízes de plantas. 
Líquens: união de fungos à algas ou cianobactérias. 
 
P A R A S I T A S 
Parasitologia: é a ciência que estuda os parasitas e ocorre quando um organismo 
(parasita) vive em associação com outro organismo (hospedeiro). 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
 
P R O T I S T A S 
Protistas: organismos eucariontes, autótrofos ou heterótrofos e unicelulares ou 
pluricelulares. Compreendem protozoários e algas. 
Sacordinos: representados pelas amebas que se locomovem por meio de pseudópodes. 
Mastigóforos: locomovem-se por flagelos. 
Esporozoários: não possuem estrutura locomotora. 
Ciliados: locomovem-se através de cílios. 
Algas: organismos autótrofos, pois têm clorofila, além de outros pigmentos, logo, 
realizam fotossíntese. 
Algas verdes ou Clorofíceas: as algas verdes se caracterizam pela presença de clorofilas 
A e B e carotenoides, reservas de amido, parede celular de celulose. Podem ser uni ou 
pluricelulares. Há espécies comestíveis. 
Algas vermelhas ou Rodofíceas: as algas vermelhas apresentam clorofila A e ficobilina, 
uni ou pluricelulares, filamentosas e fixadas a substratos. Existem espécies comestíveis. 
B O T Â N I C A 
Androceu: conjunto de estames de uma flor. 
Angiosperma: plantas vasculares com sementes abrigadas no interior de um fruto. 
Antera: porção localizada no ápice do filete onde estão localizados os grãos de pólen. 
Anterídio: estrutura reprodutiva que produz os gametas masculinos nas briófitas e 
pteridófitas. 
Anterozoides: gameta masculino. 
Arquegônio: estrutura reprodutiva que produz os gametas femininos nas briófitas, 
pteridófitas e gimnospermas. 
Briófitas: plantas avasculares. 
Cálice: conjunto de sépalas de uma flor. 
Carpelo: estruturas que formam o gineceu e local onde são encontrados os óvulos. 
Caule: eixo da planta que carrega as folhas e possui gemas. 
Corola: conjunto de pétalas de uma flor. 
Endosperma: tecido nutritivo presente na semente. 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
Esporângio: estrutura onde estão localizados os esporos. 
Esporófitos: geração que produz os esporos. 
Estame: estrutura formada por filete e antera que porta os grãos de pólen. 
Estigma: local do carpelo onde são depositados os grãos de pólen. 
Estilete: parte alongada do carpelo, entre o estigma e o ovário, por onde o tubo polínico 
cresce. 
Estômato: estrutura relacionada com as trocas gasosas formada por células-guarda e 
ostíolo. 
Filete: estrutura alongada do estame. 
Flor: estrutura reprodutora das angiospermas. 
Folha: estrutura normalmente relacionada com a fotossíntese da planta. 
Fruto: ovário maduro e desenvolvido. 
Gametângio: estrutura que produz gametas. 
Gametófitos: geração que produz gametas. 
Gimnospermas: plantas vasculares com sementes expostas. 
Gineceu: conjunto de carpelos de uma flor. 
Grão de pólen: micrósporo que contém o gametófito masculino. 
Megasporo: esporo que dá origem a um gametófito feminino. 
Micrósporo: esporo que dá origem a um gametófito masculino. 
Oosfera: gameta feminino. 
Pétalas: estrutura da flor normalmente associada à função de atração de polinizadores. 
Pteridófita: plantas vasculares sem sementes. 
Sépalas: estrutura da flor que é normalmente verde e está relacionada com a proteção das 
estruturas mais internas. 
Soro: conjunto de esporângios encontrados em algumas pteridófitas. 
Tubo polínico: parte formada a partir do grão de pólen que possui a função de transportar 
o gameta masculino até o feminino. 
 
 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS 
FILOSOFIA 
 
Textos de filosofia 
Filosofia e seus períodos históricos 
Você sabe o que significa filosofia? Boécio (1998) nos lembra que, segundo a 
etimologia dessa palavra, filosofia significa “amor à sabedoria”. Ou seja, o desejo de 
conhecer, compreender e explicar as coisas da vida de forma mais profunda e reflexiva 
faz parte dessa disciplina. Mas como filosofar? Por meio da própria reflexão sobre o 
pensar e o agir humano. Então qualquer pessoa pode propor questões filosóficas? Sim, 
qualquer pessoa pode fazer suas questões diante do mundo, inclusive você. Indagar sobre 
a vida cotidiana também nos permite desenvolver o pensamento reflexivo, uma vez que 
as ideias do senso comum são questionadas, e, por meio da investigação filosófica, pode-
se constituir o pensamento crítico. 
Por consequência, o estudo dos períodos históricos na filosofia corresponde ao 
estudo dos períodos históricos na história da sociedade Ocidental. Assim, baseado em 
Marcondes (2010), podemos periodizar a história da filosofia da seguinte forma. 
 Filosofia Antiga corresponde à História Antiga, datada entre o surgimento do 
homem até o fim do século IV. Nessa época, passou-se do pensamento mítico-religioso 
para o pensamento filosófico-científico, evidenciando a noção da natureza, da causalidade 
e da racionalidade. Coube buscar as primeiras respostas para os dilemas existenciais 
humanos. 
 Filosofia Medieval corresponde à Idade Média, período entre os séculos V e XV. 
Nesse momento, deu-se a transição do helenismo para o cristianismo, que veio 
acompanhando de uma deterioração cultural e econômica na Europa em decorrência do 
Império Romano do Ocidente. 
  Filosofia Modernacorresponde à História Moderna, indo do século XV até o 
século XVIII. Nessa época, ocorre a descoberta das Américas, há uma ruptura com a 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
tradição e valoriza-se o progresso e a individualidade. Na questão da fé, é a reforma 
protestante que entra em voga, questionando a autoridade institucional da Igreja. 
 Filosofia Contemporânea corresponde à Contemporaneidade, período a partir 
do final do século XVIII até os dias atuais. Sua concepção busca encontrar respostas para 
a crise do projeto filosófico da modernidade, pretendendo-se, assim, atualizar o 
racionalismo, trazer novas alternativas para o questionamento da subjetividade e 
evidenciar questões de linguagens. 
A Filosofia Antiga engloba todo o pensamento filosófico anterior ao século V. Esse 
momento corresponde à Antiguidade, que vai da invenção da escrita (4000 a.C. a 3500 
a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Surgiu, então, a formação 
do Estado, e as civilizações existentes nesse período eram Egito, Grécia, Roma, Persas, 
Fenícios, povos germânicos, entre outros. Quanto ao desenvolvimento da filosofia, sobre 
esse período histórico Braz (2005) enfatiza o período pré-socrático, que faz referência ao 
período anterior à existência de Sócrates e destaca filósofos que se focavam com aspectos 
da natureza para responder suas questões; o período socrático, que, na figura de Sócrates, 
estimulava o diálogo para filosofar; o período sistemático, que é um período atribuído a 
Aristóteles; e período greco-romano, que destacou aspectos da cosmologia para buscar 
responder aos problemas da época. 
Segundo Marques (2007), as principais preocupações neste momento eram 
compreender a origem do universo, os fenômenos da natureza e os comportamentos 
humanos a partir da razão. Assim, não se aceita mais as explicações míticas e busca-se 
observar, analisar e fundamentar as explicações por meio da racionalidade humana. 
 Podemos destacar uma das escolas desse período, que é uma das escolas com maior 
representatividade na Filosofia Antiga: a Escola Socrática. Seu representante é Sócrates, 
que viveu durante o ano de 470 a.C. em Atenas, na Grécia. Ele foi discípulo de Platão e 
preferiu evidenciar a questão ética e política na filosofia. 
O método utilizado por ele ficou conhecido como método socrático. Esse método 
visava à construção de conhecimento pelo homem a partir de questionamentos sobre 
questões banais. Assim, o diálogo entre professor e aluno não era mais um processo de 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
simples transmissão de ideias, mas uma profusão de trocas em que se podia realizar novas 
aprendizagens. 
A Filosofia Medieval comporta o período que é determinado entre os séculos V e 
XV. Sua correspondência histórica se deu com a Idade Média, que começou com a queda 
do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., e foi até a tomada de Constantinopla, 
capital do Império Bizantino. Esse período ficou conhecido como Idade das Trevas, visto 
que se opôs à difusão de conhecimento existente no período anterior, o Renascimento. 
Nessa época, a cultura greco-romana é recuperada, e a igreja Católica tem uma forte 
influência sobre a produção de conhecimento. Sendo assim, a figura de Deus torna-se 
base para as explicações, e a filosofia leva em consideração as orientações teológicas da 
época. 
Um dos principais expoentes nesse período é Santo Agostinho, que viveu de 354 
a 430 na Argélia. Para ele, era Deus que atuava na vida do homem, de modo que essa 
relação era considerada fundamental para compreender o comportamento humano e até 
mesmo outros fenômenos. Nesse sentido, Franco Júnior (2001, p. 145) enfatiza que “[...] 
é preciso lembrar que para ele as verdades da fé não podem ser demonstráveis pela razão, 
mas esta pode confirmar aquelas: ‘compreender para crer, crer para compreender’”. 
Outro expoente é São Tomás de Aquino, que viveu de 1225 a 1274 na Itália. Ele 
retomou a escola aristotélica a partir de princípios do cristianismo. 
A Filosofia Moderna começa no século XV e vai até o século XVIII. Com a queda 
do Império Romano do Ocidente, o poder da igreja Católica diminuiu, e, então, a filosofia 
passa a valorizar a reflexão humana como partida do raciocínio filosófico. Para 
aprofundar a discussão. 
Logo, o homem ganha centralidade nas respostas das indagações da época, e as 
questões humanas passam a ser o centro de preocupações filosóficas. Assim, o homem 
não é mais passivo do mundo em que vive, pelo contrário, ele é agente do seu processo 
de existência e aos poucos vai se dando conta disso, como reforça Chauí (2000, p. 57): 
“[...] A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas que podem ser 
conhecidas e transformadas pelo homem”. 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
A escola identificada neste período envolve o racionalismo clássico. O filósofo que 
encabeçou as bases filosóficas neste momento foi René Descartes. Ele foi um filósofo 
francês, nascido em 1596, que propôs uma obra intitulada “discurso do método”. Nessa 
publicação, Descartes aposta em uma metodologia racional para se buscar a verdade, 
contrapondo-se à autoridade eclesiástica. Seu método é nomeado cartesiano. 
A Filosofia Contemporânea é considerada desde o final do século XVIII – que tem 
como marco a Revolução Francesa em 1789 – e vai até os dias de hoje. No entanto, 
enfocaremos o começo do período para refletir como ele é determinante de toda uma 
reflexão acompanhada de experiências de lutas e reivindicações por direitos e expressões 
políticas. 
 Podemos dizer que esse foi um período de agitação política que questionou as 
estruturas de Estado na época, e, após derrubarem o governo vigentes, na França, 
definiram-se novos valores para a sociedade, como liberdade, igualdade e fraternidade. 
Essa situação política ecoou em outros países e transformou o modo de pensar da 
população como um todo. 
Quanto ao ponto de vista da filosofia, de forma geral, as afirmações universais da 
tradição filosófica foram colocadas em xeque, e novas reinvindicações filosóficas 
entraram em voga. Nesse momento, a ênfase de análise é dada para condição de vida do 
homem na sociedade e diversas escolas a compõem. 
Para compreender este momento histórico, Domingues (2006, p. 9-10) entende que: 
Trata-se de uma época em que as distinções dos campos disciplinares eram 
mais elásticas, as especializações mais fluidas e a filosofia moral garantia 
a ligação da filosofia e da ciência com o mundo da ação, ligação requerida 
por toda a sabedoria que se preze, do Oriente e do Ocidente. Ora, é 
justamente esse liame da filosofia, da ciência e da sabedoria que se rompeu 
no curso da modernidade, gerando a conhecida situação de uma ciência 
sem filosofia e sem sabedoria, bem como de uma filosofia sem sabedoria e 
sem ciência. Minha tentativa ao longo da conferência, uma vez convencido 
de que esse estado de coisas não pode persistir, sob pena de pôr tudo a 
perder, será justamente a de restabelecer as pontes entre a filosofia, a 
ciência e a sabedoria (bem entendido: a sabedoria não é uma disciplina, 
mas um olhar e uma atitude), tendo por foco a filosofia contemporânea e 
por eixo os grandes desafios do pensamento no século XXI. 
 
Uma das escolas que se destacou nessa época é a escola marxista. Karl Marx nasceu 
na Alemanha, em 1818, e morreu no Reino Unido, em 1883. Sua proposta de metodologia 
envolvia a análise socioeconômica das relações 8 A história da filosofia sociais e visava 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
à dialética para a transformação. Para Marx, é a contradiçãodas próprias ideias que levam 
a novas ideias. Portanto, a proposição da dialética é de refletir acerca da realidade, e não 
mais de interpretá-la. 
Desenvolvimento do pensamento humano 
A partir da filosofia, podemos perceber que o pensamento humano passa por 
transformações tanto no sentido de negar ideias que antes eram consideradas corretas 
como de retomar conceitos e proposições antigas em novos contextos. Sendo assim, o que 
é considerado verdade é ressignificado com o passar do tempo, e o estudo da história da 
filosofia nos apresenta as características que são evidenciadas em cada período. 
Desse modo, a história da filosofia explicita uma sequência histórica do pensamento 
humano, mostrando questões relevantes em cada período histórico da sociedade 
Ocidental. 
 
[...] trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-las 
em algo diferente de uma convicção pessoal; mais ainda, o núcleo essencial 
da filosofia não é constituído de crenças tematicamente definidas e 
racionalmente fundadas, senão de problemas e soluções. 
 
Contudo, só podemos ter certeza da pertinência de “problemas e soluções” que 
marcam um período quando temos certo distanciamento sobre essa época, pois também 
estamos contaminados por diversas outras questões que julgamos pertinentes. 
Ainda se deve levar em conta que os acontecimentos históricos são marcadores de 
mudanças de paradigmas, o que torna ainda mais importante compreender a história do 
homem e o desenvolvimento da sociedade. 
Nesse sentido, o estudo do pensamento humano nos permite compreender quais são 
as bases para as explicações das questões filosóficas e buscar novas soluções para 
problemas da sociedade. Contudo, para isso temos de partir de algum lugar, de alguma 
pergunta, de algo que nos intrigue, como a dúvida, assim como todos esses pensadores 
explicitados ao longo do capítulo o fizeram para iniciar suas reflexões. Como enfatiza 
Fernandes (1994, p. 341): “Parte-se da dúvida, fazem-se conjecturas e aplica-se o 
raciocínio explicativo causal. Chega-se assim a à ‘certeza’ possível”. 
Assim, entendemos a importância da linguagem para canalizar as nossas dúvidas, 
apresentar possibilidades de reflexões sobre elas e também construir conhecimento sobre 
o mundo. Chauí enfatiza que: “[...] para se relacionarem com o mundo e com os outros 
humanos, os homens devem valer-se de um outro instrumento – a linguagem – para 
 
 
Travessa Tiradentes, entre Siqueira Mendes e Getúlio Vargas 
Em frente à Colônia Dos Pescadores 
Anexo ao IETAAM 
persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões” (2000, p. 139). Um dos atributos 
da linguagem é que ela nos ajuda a encontrar a verdade, a expor nossas ideias e a chegar 
a conclusões sobre o mundo. 
Sendo o homem questionador sobre si e o mundo em que vive, cabe a ele desvendar 
o desenvolvimento humano por meio da linguagem e buscar novas verdades. Essa troca 
entre os seres humanos é fundamental, e o que é construído como saber pode ser 
acumulado como conhecimento não só para o homem que a descobriu, mas também para 
as gerações futuras. 
Pré-socráticos, Sócrates e sofistas 
Introdução A filosofia surge na Grécia Antiga, com os pré-socráticos. Ela nasce em 
oposição às narrativas mitológicas e aspira ao conhecimento racional acerca do mundo. 
Os pré-socráticos procuram causas naturais para explicar a origem e a ordem do universo. 
Mais tarde, outros temas passam a interessar aos gregos, os temas morais. Sócrates seria 
o precursor dessa outra maneira de se fazer filosofia, a filosofia humanista. 
Conjuntamente e debruçando-se sobre os mesmos assuntos, surge a figura do sofista, 
especialista que vende o seu conhecimento em retórica e argumentação. Neste capítulo, 
você vai estudar a origem da filosofia e conhecer os primeiros filósofos, os pré-socráticos. 
Além disso, vai se debruçar sobre a obra de Sócrates e os ensinamentos dos sofistas. 
Sofismo ou sofisma significa um pensamento ou retórica que procura induzir ao 
erro, apresentada com aparente lógica e sentido, mas com fundamentos contraditórios e 
com a intenção de enganar. ... Em um sentido popular, um sofisma pode ser interpretado 
como uma mentira ou um ato de má fé. 
Os sofistas foram sábios que atuavam como professores ambulantes de filosofia, 
ensinando, a um preço estipulado, a arte da política, garantindo o sucesso dos jovens na 
vida política. Eles ensinavam a arte da retórica. ... Para Platão, 
os sofistas não eram filósofos. 
Os filósofos pré-socráticos 
 Geralmente, entende-se a filosofia a como uma aspiração ao conhecimento racional 
sobre o mundo e a realidade humana. Assim entendida, a filosofia surge entre o final do 
século VII e o início do século VI a.C., na Grécia Antiga. É difícil explicar por que a 
 
 
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filosofia surgiu na Grécia, já que algumas características que parecem ter sido 
determinantes para o seu surgimento também estavam presentes em outras civilizações; 
por isso, diz-se que ocorreu um “milagre grego” (CHAUÍ, 2000). Essas características 
seriam: o fato de as cidades-estados gregas, as pólis, serem democráticas; o florescimento 
da cultura grega na época; a adoção de moedas; e a vasta troca comercial no Mediterrâneo. 
 Os filósofos pré-socráticos são tidos como os primeiros filósofos. A principal 
marca do seu pensamento é a busca por explicações sobre a ordem e a origem do mundo 
dentro da própria natureza e de seus elementos. Por conta disso, eles são denominados 
“filósofos naturalistas”. 
Antes da filosofia, o mito era a narrativa principal do povo grego. Os mitos 
explicam o mundo ao descrever a sua origem, além de elucidar o porquê de alguns 
fenômenos naturais. Eles também apresentam os valores de um povo e a sua origem. Na 
Grécia Antiga, os mitos eram transmitidos principalmente de forma oral, mas foram 
sistematizados por dois poetas clássicos, Homero e Hesíodo. Por conta disso, até hoje 
você pode acessar essas histórias. 
Credita-se aos filósofos pré-socráticos uma insatisfação em relação às explicações 
mitológicas. O mito recorre a algo misterioso e desconhecido para explicar o mundo. Por 
outro lado, os pré-socráticos apresentaram explicações que recorriam apenas a elementos 
naturais, presentes no mundo real. Para eles, o mundo é um cosmos, isto é, um todo 
ordenado. Além disso, esse cosmos é acessível ao conhecimento humano por meio da 
razão (logos). 
 Para defenderem as suas visões de mundo, os pré-socráticos traziam argumentos 
causais. Por serem argumentos e não alegorias, como nos mitos, as teorias defendidas 
pelos pré-socráticos podiam ser contrapostas por outros argumentos. Isso talvez explique 
por que diferentes filósofos pré-socráticos defendem teses distintas. 
Argumentos causais são regressivos. Isto é, ao descobrir uma causa, falta descobrir 
a causa da causa e assim sucessivamente. Pense no caso de uma criança que interroga 
sobre o porquê de algum fenômeno; por exemplo: por que anoitece? Imagine que você 
explique brevemente o movimento do Sol em relação à Terra e descreva como esse 
movimento se relaciona com a concepção de dia e noite. 
 
 
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Se você já interagiu com uma criança, sabe que ela não se contentará com a sua 
primeira explicação e fará novas perguntas, como “Mas por que o Sol roda ao redor da 
Terra?”. Ao fazer esse tipo de indagação, a criança está procurando argumentos causais e 
vendo como eles regridem sucessivamente: pode-se engatar em cada resposta uma nova 
pergunta. Por conta desse caráter regressivo das explicações causais e, para evitar 
regressões infinitas, os filó2 Pré-socráticos, Sócrates e sofistas sofos pré-socráticos 
estabeleceram a noção de causa primeira, um elemento que é a origem de todosos outros. 
Esse elemento é a arqué ou arché (do grego antigo ἀρχή). Cada filósofo pré-socrático 
assume uma arché distinta. Ao longo deste capítulo, você vai conhecer algumas delas. 
Tales de Mileto Tales de Mileto (aproximadamente 625–558 a.C.) é o primeiro 
filósofo conhecido. 
Ele defende que o princípio fundamental da realidade é a água: ela é a origem e está 
presente em todas as coisas. Sobre Tales de Mileto, sabe-se muito pouco, pois nenhum 
texto original sobreviveu à passagem do tempo. A existência de Tales de Mileto é 
conhecida apenas porque outros filósofos fizeram referência ao pensamento dele em seus 
textos. 
Heráclito 
Heráclito viveu por volta de 500 a.C. na cidade de Éfeso, na região da atual Turquia. 
Ele é um dos pré-socráticos mais estudados, principalmente em dicotomia com a teoria 
de outro fi lósofo que você vai conhecer a seguir, Parmênides. Para ele, o fogo é a arché 
e o mundo está em fl uxo, nada sendo permanente. A tese de que tudo fl ui, de modo que 
nada persiste nem permanece o mesmo, é central em seu pensamento. Uma conclusão que 
ele obtém dessa primeira tese é a de que não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois 
o rio seria outro, assim como o sujeito. O rio se movimenta e, assim, se modifi ca. Por 
sua vez, as pessoas também estão em constante transformação. Portanto, é impossível 
reviver exatamente o mesmo mergulho no rio. Talvez você estranhe essa teoria do 
constante fluxo de movimento. No entanto, Heráclito explica que, apesar do movimento, 
a complementação dos opostos garante a unidade das coisas no mundo. Ele ainda diz que 
a mente humana é capaz de identificar ordem e harmonia no movimento. Então, em vez 
de ver o mundo como um movimento contínuo de mudanças bruscas e inexplicáveis, a 
 
 
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razão humana organiza o movimento por meio da concepção de opostos, como o frio e o 
calor, o dia e a noite e a vida e a morte. 
Parmênides 
 Parmênides viveu por volta de 500 a.C. na cidade de Eleia. Em contraposição a 
Heráclito, o filósofo do movimento, Parmênides é tido como o filósofo da unidade. Para 
ele, o elemento primordial, a arché, é o próprio ser. Ao contrário dos textos dos filósofos 
citados anteriormente, um dos textos de Parmênides chegou até o mundo contemporâneo: 
o Poema. Nesse texto, ele narra o caminho da verdade. Ali, a firma que “O ser é e não 
pode não ser e o não-ser não é e não pode ser de modo algum [...]” (PARMÊNIDES, 
1996, p. 26). A sua constatação é considerada a primeira versão do princípio de não 
contradição, princípio que denota que duas afirmações contraditórias não podem ser 
verdadeiras ao mesmo tempo. 
Por exemplo, se a afirmação “A mesa é azul” é verdadeira, então “A mesa não é 
azul” não pode também ser verdadeira. Como você viu, a teoria de Parmênides é 
contraposta à de Heráclito. Para Parmênides, o movimento é apenas uma ilusão dos 
sentidos, e o seu estudo não ajuda a encontrar a verdade. Por outro lado, para se chegar à 
verdade, a razão humana deve ver a realidade como única, imóvel, imutável e eterna. No 
Quadro 1, a seguir, você pode ver as principais diferenças entre Heráclito e Parmênides. 
Pitágoras 
Outro pré-socrático bastante conhecido é Pitágoras. Ele nasceu por volta de 578 
a.C., na Jônia, e fundou a escola pitagórica, que defendia que os números e a matemática 
são essenciais para a compreensão do real, pois o mundo é regido pela matemática. Desse 
modo, para Pitágoras, o número é a arché. Talvez você já tenha ouvido falar sobre 
Pitágoras por conta das suas contribuições para a matemática. Pitágoras descobriu o 
teorema que leva o seu nome. A sua formulação tradicional é que, em qualquer triângulo 
retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos 
comprimentos dos catetos. O filósofo também é conhecido por ter inventado a palavra 
“filosofia”. 
Outros pré-socráticos 
 
 
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Além dos citados, existiram outros filósofos pré-socráticos. Cada um deles 
defendeu a existência de diferentes princípios primeiros. Anaxímenes defendia que o ar 
era a arché; Demócrito dizia que era o átomo; Anaximandro defendia que era o ápeiron, 
que se traduz por “infinito” ou “ilimitado”. Como você viu, os pré-socráticos traziam 
explicações causais para a origem e a ordem do mundo. Os seus argumentos eram 
passíveis de crítica e revisão. 
Sócrates 
Sócrates nasceu em Atenas por volta de 469 a.C. e morreu por volta de 399 a.C. Ele 
inaugurou uma nova fase na história da filosofia: o período humanista ou clássico. Como 
você viu, os filósofos pré-socráticos se debruçaram sobre a explicação e o conhecimento 
do mundo natural, buscando caracterizar a arché. Sócrates, por outro lado, leva a 
discussão filosófica para outro lugar e foca nos temas relacionados à ética e à política. 
Assim como os textos dos pré-socráticos, os escritos de Sócrates não são acessíveis. 
No entanto, a razão é diferente: Sócrates não escreveu textos. É possível acessar as suas 
ideias porque o seu mais famoso discípulo, Platão, usou Sócrates como personagem dos 
seus diálogos e, assim, fez referência ao seu pensamento (PLATÃO, 2009). Outro 
discípulo seu, Xenofante, também cita Sócrates em seus escritos, mas Platão é o maior 
responsável pela presença de Sócrates na história da filosofia. Graças a ele, sabe-se que 
Sócrates foi condenado à morte, acusado dos crimes de corrupção da juventude e de não 
acreditar nos deuses da pólis. Ele influenciou o pensamento de jovens atenienses 
fundamentalmente por seu modo de viver e questionar, que ele levou adiante até o 
momento de sua morte. Desse modo, o símbolo maior da filosofia é alguém que ousou 
viver de maneira diferente e defender ideias, ainda que elas o levassem à morte. 
Sócrates defendia a existência de uma verdade única. Além disso, a distinção entre 
opinião e verdade era central para ele. Para encontrar a verdade, Sócrates empreendia o 
método socrático ou dialético. Em seus escritos, Platão apresenta alguns diálogos entre 
Sócrates e interlocutores diferentes em que eles investigam algum tema abstrato, mais 
especificamente a definição de alguma virtude moral. 
O método socrático contém duas partes: a ironia e a maiêutica. Durante a etapa da 
ironia, o interlocutor de Sócrates descrevia situações em que certa virtude poderia ser 
 
 
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encontrada e começava um processo de abstração para identificar o que todas as situações 
possuíam em comum, definindo, assim, a virtude. O interlocutor era então interrompido 
por perguntas de Sócrates. Essas perguntas problematizavam o discurso do interlocutor, 
exigindo maior rigidez. Ao final dessa etapa, o desconhecimento do interlocutor sobre o 
assunto era evidenciado. Então, ele era convidado a, conjuntamente a Sócrates, construir 
uma definição mais refinada do que aquela compartilhada na primeira etapa. Na segunda 
etapa do seu método, a maiêutica, Sócrates ajudava o interlocutor a aperfeiçoar a sua 
definição e alcançar um conhecimento mais profundo sobre o assunto. 
O método da ironia teria sido inspirado no seu pai, que era escultor. Ao começar a 
sua escultura, o escultor trabalha com uma peça inteira. Sua primeira tarefa consiste em 
lapidar essa peça, retirar os seus excessos para começar a esculpir a figura almejada. O 
método da maiêutica teria sido inspirado na sua mãe, que era parteira. Para Sócrates, todos 
possuem a verdade dentro de si, tal como mulheres grávidas carregam o feto. A função 
da parteira é ajudar a grávida a dar à luz o seu filho, enquanto a tarefa do filósofo, no 
método da maiêutica, é ajudar o interlocutor a encontrar o conhecimento quejá está dentro 
dele. 
O método dialético socrático almeja, em um primeiro momento, deixar clara a 
ignorância do interlocutor sobre determinado assunto. Depois disso, ele estaria mais 
desarmado e pronto para começar a sua própria reflexão. Em geral, Sócrates utilizava esse 
método em espaços públicos da pólis, convidando diferentes cidadãos a exporem 
definições e terem suas respostas problematizadas sucessivamente até encontrarem o 
conhecimento juntos ou se depararem com a aporia. 
Sócrates se recusava a ser visto como um professor, pois, stricto sensu, ele não 
transmitia conteúdos. O que ele fazia era evidenciar a ignorância dos interlocutores, 
levando-os a reconhecer a falibilidade de suas opiniões e motivando-os a refletir a partir 
disso, em busca da verdade. A frase mais famosa atribuída a ele é: “Só sei que nada sei”. 
Esse dizer não é encontrado de maneira direta nos escritos platônicos em que a figura de 
Sócrates aparece, mas é derivado deles. No diálogo Apologia de Sócrates, Platão afirma 
o seguinte: “[...] aquele homem acredita saber alguma coisa, sem sabê-la, enquanto eu, 
como não sei nada, também estou certo de não saber [...]” (PLATÃO, 2009, p. 142). A 
 
 
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partir dessa frase, pode-se concluir que Sócrates toma a admissão de ignorância como 
uma virtude. 
Sofistas 
 Você viu que as pólis gregas eram democráticas. Na democracia grega, assuntos 
de interesse público eram discutidos nas assembleias. Nesses locais, ocorriam discussões 
organizadas, e cada lado poderia apresentar argumentos e buscar consenso entre os 
ouvintes. Os sofistas eram figuras de destaque nas assembleias. Eles eram mestres de 
oratória e retórica, realizavam discursos públicos e davam aulas pagas para aqueles que 
gostariam de dominar essas habilidades. 
Assim como no caso de Sócrates, o foco dos sofistas eram os temas relacionados à 
ética e à política. Esses eram os assuntos que mais interessavam aos participantes das 
assembleias, pois ali eram discutidas as normas e leis que regeriam a população. As 
técnicas ensinadas pelos sofistas eram neutras, no sentido de que podiam ser utilizadas 
tanto para defender uma posição quanto a posição contrária. Protágoras de Abdera 
(aproximadamente 490–415 a.C.), famoso sofista, defendia o antropocentrismo, a ideia 
de que o homem é a medida de todas as coisas. Isso significa que o homem é quem dita 
as normas, as regras e a cultura de um lugar. O que é válido em um local em dado 
momento pode não ser válido em outro local ou em outro momento. Desse modo, é 
fundamental ter as técnicas de oratória e retórica necessárias para convencer ambos os 
lados. Outro sofista, Górgias (aproximadamente 485–380 a.C.) foi além e disse que seria 
capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa. 
 
Vertentes filosóficas defendidas por pré-socráticos, Sócrates, Platão e 
Aristóteles 
 
A filosofia, desde seus primórdios, sempre organizou-se por sistemas (JAEGER, 
2010). Desde os pré-socráticos, ainda que de maneira inconsciente, a filosofia se orientou 
por uma temática, por um escopo teórico comum à sua comunidade filosófica. Isso 
significa dizer que o exercício filosófico se manteve como uma compreensão de um 
grupo, ou ainda, de uma época, o que justifica — ainda por filosofias solitárias — uma 
 
 
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compreensão comum, configurando um entendimento que implica em um contexto 
próprio a determinado pensamento. Nesse contexto, a filosofia grega, desde seu 
surgimento até a última escola filosófica desse período antigo, é o resultado de um 
contexto político, científico, artístico, cultural, enfim, paradigmático. 
O povo grego antigo é conhecido por uma forte característica mística e sábia. 
Assim, os gregos representam, na história ocidental, os pilares da sua civilização, de modo 
que, sem a contribuição grega, a história ocidental poderia ter sido outra, e talvez o 
Ocidente não conhecesse a racionalidade como foi originada e formada. Nesse contexto, 
Jaeger (2010) afirma que a formação da racionalidade frente às crenças que envolviam a 
narrativa mítica deu-se, em um primeiro momento, em relação à natureza, ou seja, nos 
mitos, vê-se muitas histórias que buscavam, antes de tudo, explicar a realidade natural 
das coisas. Muitos dos mitos tinham como contexto as paixões humanas, por exemplo, o 
mito de Afrodite, que era tida como a deusa do amor e da beleza. Essa deusa foi 
considerada a responsável por proteger os amantes Helena e Paris na guerra de Troia. 
Entretanto, a maior parte das narrativas voltava-se a explicar os fenômenos naturais: 
a colheita, a chuva, o mar, o sol, entre outros elementos que compõem a realidade natural 
do mundo. Assim, o primeiro movimento filosófico demonstrava essa preocupação: “[é] 
comum a todos aquele incompreensível devotamento ao conhecimento do cosmos, da 
meteorologia, como então se dizia num sentido mais vasto e mais profundo. Isto é, a 
ciência das coisas do alto” (JAEGER, 2010, p. 194–195). 
Considerado o primeiro filósofo pré-socrático, Tales de Mileto dedicou-se, assim 
como quase todos os pré-socráticos, a pensar a arché (elemento originário, ou seja, que 
dá origem a tudo) da physis (natureza). Para Tales, a arché era a água, ou seja, tudo o que 
existe vem da água. Nesse sentido, a filosofia pré-socrática foi a primeira a demonstrar 
também um sistema de pensamento filosófico, ou seja, organizar o pensamento em torno 
de determinadas questões e fundamentos foi uma atitude inaugurada pelos pré-socráticos. 
Com a ascensão de Péricles (494–429 a.C.) à liderança de Atenas e com a instituição 
do sistema democrático, deu-se início a outra transição. Assim como a transição do mito 
ao logos, a mudança no foco de reflexão dos gregos também aconteceu por meio de um 
processo (JAEGER, 2010). No sistema democrático, os cidadãos atenienses podiam 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
manifestar suas opiniões (doxa) e discutir os caminhos e escolhas políticas para a pólis 
(cidade-estado grega). Vale ressaltar que era considerado cidadão grego apenas homens, 
com mais de 18 anos e filhos de pais e mães gregos. Dessa forma, as figuras que 
ascenderam nesse cenário foram os sofistas, que eram os oradores na Atenas Antiga. 
De acordo com Jaeger (2010), os sofistas são considerados os primeiros professores 
da história. Anteriormente a eles, na Grécia, já existia o ideal de formação, em um sentido 
pedagógico, ou seja, por meio das narrativas míticas, os cidadãos eram educados com 
vistas à arete (excelência virtuosa). Assim, os valores e conhecimentos eram passados de 
geração em geração. Entretanto, foi com os sofistas que surgiu a figura de preceptor. Com 
os debates que eram realizados em praça pública, os jovens sentiam necessidade — e seus 
familiares os estimulavam — de participar da vida pública-política. Nesse contexto, os 
sofistas impressionavam pela oratória e persuasão, portanto, eram tidos como os 
preceptores ideais para a juventude que almejava participar do debate. 
A figura de Sócrates ganhou notoriedade a partir desse contexto. Considerado o pai 
da filosofia, Sócrates foi um homem bem simples. Filho de um escultor e de uma parteira, 
sua filosofia é muito conhecida pelos diálogos platônicos. Entretanto, outros filósofos e 
escritores também citaram Sócrates em seus escritos. Esse fato é relevante porque, 
durante muito tempo, houve a dúvida de que Sócrates pudesse ter sido apenas um 
personagem que Platão usou para ilustrar seus diálogos. 
Sócrates era crítico à postura dos sofistas porque acreditava que eles corrompiam a 
juventude ateniense, não se importavam com a verdade e cobravam por seus 
ensinamentos.Os sofistas preocupavam-se com a persuasão argumentativa: os 
argumentos eram construídos tendo como base a doxa, podendo ser verdadeiros ou não. 
Outro ponto era a remuneração: para Sócrates, era a cobrança por conhecimento: 
“porquanto, cada um desses, ó cidadãos, passando de cidade em cidade, é capaz de 
persuadir os jovens, os quais poderiam conversar gratuitamente com todos os cidadãos 
que quisessem; é capaz de persuadir a estar com eles, deixando as outras conversações, 
compensando-os com dinheiro e proporcionando-lhes prazer” (PLATÃO, 2008, p. 4). 
Sócrates considerava que essa conduta dos sofistas representava o mercenarismo e não a 
busca pelo conhecimento. Desse modo, a busca pelo conhecimento deveria ocorrer 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
mediante a filosofia. É assim que o pensamento filosófico se volta a outro objeto de 
reflexão: o homem. 
Sócrates ficou famoso em seu tempo porque, em contraposição aos sofistas, 
caminhava por Atenas aplicando o seu método — chamado de maiêutica socrática — ao 
conversar com os cidadãos. Por isso, Platão refere-se a Sócrates por meio do gênero de 
escrita do diálogo. Sócrates abordava as pessoas com perguntas que, à primeira vista, 
pareciam ingênuas: o que é bom? O que é belo? O que é verdadeiro? Esse movimento é 
chamado de ironia socrática. Acreditando saber as respostas, as pessoas respondiam de 
forma assertiva, e Sócrates respondia com outra pergunta. Assim, iniciava-se o diálogo. 
A finalidade do diálogo era chegar a uma resposta considerada pertinente e, portanto, 
verdadeira. Sócrates chamava esse movimento de maiêutica, pois essa palavra tem como 
significado dar à luz. Nesse sentido, ele traçava uma analogia com a profissão de sua mãe, 
que era parteira, pois acreditava que a dialética (essa forma de diálogo) era o caminho 
para se dar à luz o conhecimento (JAEGER, 2010). 
Essa teoria se altera com a filosofia de Aristóteles (384–322 a.C.). Aristóteles 
nasceu em Estagira, mas viveu grande parte de sua vida em Atenas. Foi aluno da 
Academia de Platão e seu discípulo. Entretanto, a filosofia aristotélica rompe com a teoria 
platônica. Para Aristóteles (2002), o conhecimento não está nas ideias, mas nas formas, 
nos sentidos, ou seja, ele defendia que, em primeiro lugar, o indivíduo tem contato com 
o objeto de conhecimento e, depois, o elabora intelectualmente. Assim, é por meio dos 
sentidos que reconhecemos a essência das coisas em sua forma. Por exemplo, é por meio 
da visão que reconhecemos a forma das coisas, é por meio do cheiro que também 
distinguimos uma coisa da outra, do som (o silêncio) e do gosto dos alimentos (no que 
compete à sua categoria). 
Aristóteles (2002) argumenta que a essência está na forma porque é na forma que 
temos a finalidade de cada ser. Por exemplo, uma colher é uma colher porque sua 
finalidade está em sua forma, levar os alimentos à boca. Ainda que haja distinção na cor 
ou no material de cada colher, sua essência é ser colher: auxiliar a alimentação. Assim, 
existem modos de ser que são os modos como as coisas são, portanto, divididas em 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
categorias que auxiliam a divisão por meio de classificações que definem as coisas como 
são. 
Essas filosofias mudaram o modo de pensar na Grécia Antiga, pois partiram de um 
aspecto natural e passaram por uma discussão formativa ética, moral e política, com 
Sócrates e Platão, que se relacionam com a filosofia Aristotélica. Desse modo, Aristóteles 
(1987, 2002) relaciona em sua filosofia tanto uma teoria do conhecimento quanto uma 
reflexão ética, política, moral, biológica e artística sobre o homem, trazendo um caráter 
mais realista à sua teoria. 
Características filosóficas da Era Helenística, da Idade Média e do 
Renascimento 
O termo Helenismo deriva da obra do historiador J. G. Droysen Hellenismus e 
caracteriza o período de intercâmbio cultural entre a Grécia, o Mediterrâneo Ocidental e 
o Oriente próximo à Grécia. É normativo que um dos métodos que a humanidade utilizou 
para classificar e periodizar momentos da história foi nomeando e atribuindo 
características que são próprias a esses momentos. Desse modo, entende-se por período 
helênico aquele entre a morte de Alexandre, o Grande (323 a.C.), e o suicídio de Cleópatra 
(30 a.C.). 
Nesse contexto, o Egito foi um dos últimos lugares a herdar a tradição helenística, 
que teve fim, por sua vez, após a conquista do Império Romano (SILVA, 2010). Contudo, 
não há como precisar o momento dessa ruptura cultural com o helenismo. Sabe-se que a 
ascensão cristã pôs fim a qualquer resquício da cultura helênica, principalmente, em 
Alexandria. Uma grande pensadora que retratou essa ruptura em sua história foi a filósofa 
Hipátia (c. 351/370-415 d.C.), que viveu no período de ascensão do discurso cristão e, 
por ser adepta da filosofia helenística, acabou assassinada, apedrejada pelos novos 
cristãos de seu tempo. 
A partir da morte de Aristóteles e da ascensão romana, a Grécia deixou de ter sua 
influência centralizada na cidade de Atenas, que perdeu muito de seu cosmopolitismo e 
protagonismo na produção cultural e filosófica no mundo antigo. Desse modo, surgiu uma 
nova forma de conceber a realidade, bem como uma abertura cultural e filosófica à 
concepção greco-romana cristã. Nesse período, entrou em vigência outras intersecções 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
culturais, incluindo a expansão linguística e de métodos educativos. Nas escolas e nas 
academias criadas por Platão e Aristóteles em Atenas, começou a surgir um 
distanciamento das doutrinas platônicas e aristotélicas em detrimento de novos olhares 
sobre a realidade (SILVA, 2010). Assim, estabeleceram-se as escolas estoicas, epicuristas 
e céticas, o que foi chamado de ecletismo filosófico. Se a característica fundamental do 
helenismo era a troca cultural, com a filosofia não foi diferente. Nesse período, a filosofia 
grega sofreu uma forte decadência, com destaque apenas para os neopitagóricos e os 
neoplatônicos. 
As principais características da filosofia desse período consistem em uma grande 
ruptura com as reflexões platônicas e aristotélicas, bem como em uma ampliação das 
reflexões filosóficas por parte de outros pensadores da época (SILVA, 2010). Esses novos 
pensadores passaram a trazer novas perspectivas, e a corrente que acabou por durar até 
mesmo em relação à ética e à religião foi o ceticismo. Outra forte característica da 
filosofia helenística é que, na pólis grega, a cultura relacionada ao culto aos deuses se 
manteve. Mesmo com o surgimento da filosofia, os gregos mantiveram certos aspectos 
culturais e religiosos relacionados ao politeísmo. Entretanto, com a hegemonia entre os 
gregos e os persas, passou a predominar a religião de apenas um deus, o Deus Cósmico. 
Isso simbolizou uma abertura para a unificação religiosa que, mais tarde, seria convertida 
no cristianismo. 
Portanto, o helenismo é marcado pela superação do homem grego da pólis. Nesse 
sentido, o heleno volta-se à sua liberdade, à cultura e à espiritualidade, deixando para trás 
a dimensão política, mas atendo-se ao cosmopolitismo. 
Isso demonstra como a alteração cultural afetou a dimensão formativa do homem, 
uma vez que a pólis se preocupava em formar cidadãos, enquanto a cultura helenista se 
concentrava em formar indivíduos, ou seja, a primeira experiência do homem como 
indivíduo, aquele que goza de sua individualidade e liberdade frente ao mundo, buscando, 
assim, sua identidade. 
Assim, deu-se a transição da Antiguidade Clássica para a Idade Média, que é 
marcada pelo encontro entre a cultura greco-romana com a cultura judaico-cristã. Em seus 
primórdios, o cristianismonão consistia em um sistema religioso doutrinário fechado, o 
 
 
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que começou a se alterar com a tradição apostólica iniciada por Paulo que, antes de se 
converter à religião cristã, era um soldado do Império Romano, estoico, portanto, helênico 
e judeu (SILVA, 2010). Após a sua conversão, Paulo começou a pregar, em cidades 
greco-romanas, o cristianismo enquanto religião igualitária, feita para todos e universal. 
Nesse período, o cristianismo ainda não se constituía em uma unidade, em uma doutrina 
prática. Para se consolidar como uma doutrina, o cristianismo valeu- -se da filosofia 
grega, principalmente, a platônica. Preponderou-se, a partir de então, a filosofia cristã. 
Nesse contexto, muitos filósofos só valorizavam a filosofia grega em seus aspectos 
concordantes com a nova religião. Em relação à filosofia de modo geral, consideravam-
na desnecessária, pois foi concebida anteriormente à palavra de Cristo, portanto, não era 
relevante. 
Entretanto, apesar de alguns pensadores considerarem a filosofia grega em alguns 
aspectos, defendiam que a razão deveria estar a serviço da fé. Nesse sentido, a reflexão 
filosófica era admitida e praticada apenas com a finalidade de comprovar as verdades 
bíblicas, portanto, acreditava-se que a religião cristã, de certa forma, purificou a filosofia 
grega. Importante ressaltar que, nesse período de disseminação do cristianismo, as 
pessoas não se encontravam sem espiritualidade, ou cultura religiosa, mas foram 
convertidas e, em alguns casos, obrigadas à conversão. A partir de então, a nova religião 
ocupou-se de mudar até mesmo a linguagem grega, inserindo vocábulos próprios ao 
cristianismo e alterando o sentido e o significado dos termos gregos. 
A partir da solidificação do cristianismo e da queda do Império Romano, teve início 
a Idade Média (século V–XV). Esse período é caracterizado pelo forte poder da Igreja, 
pelo sistema político-econômico feudal e pelo poder da nobreza. Nesse contexto, o 
conhecimento ficava detido nos mosteiros, assim, somente quem tinha acesso eram os 
padres e religiosos (SILVA, 2010). A característica central desse período é a relação entre 
razão e fé. Assim, são classificadas duas correntes da história da filosofia cristã na Idade 
Média: a filosofia patrística, que tem duração do século I ao século VI; e a filosofia 
escolástica, que vai do século XIII ao século XIV. 
A corrente patrística da filosofia teve início a partir da formalização e consolidação 
do cristianismo. Seu início foi marcado pelas Epístolas de São Paulo e pelo Evangelho de 
 
 
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João, então, esse período filosófico tem como fundamento os escritos desses apóstolos. 
Após a morte deles, a continuidade foi dada pelos padres. A missão da patrística era 
converter o povo e o governo romano, e isso só seria possível unindo a filosofia grega ao 
cristianismo. Ressalta-se que, até aquele momento, restava, culturalmente, ainda a 
devoção aos deuses. Portanto, ao evangelizar, os padres buscavam demonstrar que a razão 
servia para revelar as verdades da fé. Nesse contexto, os principais argumentos orbitavam 
em torno das seguintes problemáticas: 
a criação do mundo; 
 „ a santa trindade; 
„ a bondade e a origem do mal; „ o livre arbítrio pensado, sobretudo, em relação ao 
pecado original. 
O grande representante desse período foi o filósofo Santo Agostinho (340-430), que 
buscou associar o argumento cristão à filosofia platônica, substituindo o mundo das ideias 
pelo mundo divino. Nesse sentido, a alma, assim como para Platão, assume um caráter 
superior ao corpo e, por isso, deve conduzir o corpo ao caminho do bem e a Deus (SILVA, 
2010). Já a filosofia escolástica (século IX ao século XV) marca um período mais sólido 
em relação à difusão do cristianismo. Esse momento da história é marcado pelas cruzadas 
e pelo surgimento das primeiras universidades (criadas pela Igreja), portanto, há alguma 
abertura do conhecimento, desde que submetidos à religião. 
O maior nome desse período foi São Tomás de Aquino, que buscou associar a fé à 
filosofia aristotélica (SILVA, 2010). Assim, filosoficamente, esse período ficou 
conhecido como aquele em que procurou-se unir o cristianismo a investigações 
filosóficas científicas de Aristóteles. Nesse sentido, a preocupação central passou a ser 
uma coalisão entre a racionalidade da natureza e seus fenômenos com a doutrina cristã. 
A filosofia tomista ocupou-se em buscar formas de fazer essa junção sem que a fé fosse 
de modo algum contrariada. Para tanto, Tomás de Aquino sistematizou o aristotelismo 
privilegiando o mundo, ou seja, conhecer o mundo racionalmente é como conhecer a 
Deus. Esse caráter mais racional, seguindo o aristotelismo, contribuiu para o período 
posterior, que demarcou a ruptura com a Idade Média: o Renascimento. 
 
 
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Como o próprio termo já denota, o Renascimento foi um momento para a Europa 
renascer (BURKE, 2008). Esse período é caracterizado pelo individualismo e pela 
modernidade, ou seja, após o período obscurantista da Idade Média, o homem despertou 
para a própria consciência e autonomia, rompendo, até certo ponto, com a preponderância 
religiosa. Assim, o homem passou a reconhecer-se em qualquer comunidade tradicional 
– familiar, de classe, de raça, política e social –, mas apenas como algo mais geral e não 
determinante. Isso não significa dizer que o homem rompeu com a espiritualidade, mas 
que passou a reconhecer em si a possibilidade espiritual em uma espécie de espelhamento 
com o mundo. 
Na Europa, em especial, na Itália, aumentou o número de pensadores, artistas e 
escritores: “começou a usar a imagética da renovação para assinalar uma nova era, uma 
era de regeneração, restauração, reabilitação, rememoração, renascimento ou 
ressurgimento, em direção à luz, após aquilo a que foram eles os primeiros a chamar a 
‘Idade das Trevas’” (BURKE, 2008, p. 11). Seu avanço intelectual e científico originou 
o período convencionalmente chamado de Modernidade. 
 
René Descartes e o nascimento da filosofia moderna 
O racionalismo cartesiano foi responsável por uma profunda transformação no 
modo como se concebe a fi losofi a na tradição ocidental. Entre os dois milênios que 
separam as obras de Platão (428–347 a.C.) e de Aristóteles (384–322 a.C.), escritas no 
século IV a.C., da obra de René Descartes (1596–1650), datadas do século XVII, não 
havia surgido uma teoria do conhecimento tão radical em sua originalidade. Os fi lósofos 
gregos foram audaciosos ao propor um novo estilo de pensar, colocando em dúvida as 
verdades que os poetas explicavam a partir dos mitos, e os sofi stas, a partir da retórica. 
Da mesma forma, o racionalismo de Descartes propôs uma forma de interpretar a 
realidade que acabou superando a fi losofi a da Idade Média, então dominada pelo 
pensamento escolástico. Por isso, Descartes é conhecido como um dos pais da fi losofi a 
moderna. 
Desde os gregos, portanto, nenhum pensador havia proposto uma mudança tão 
radical na epistemologia (teoria do conhecimento) ou na metafísica (especulação sobre o 
 
 
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suprassensível) como aquela que se anuncia na obra de Descartes. Isso porque toda a 
filosofia medieval é marcada pela tentativa de reinterpretar a filosofia grega pagã à luz 
dos dogmas cristãos. Daí que se conte a piada de que, apesar da profunda influência de 
Santo Agostinho (354–430 d.C.) e de São Tomás de Aquino (1225–1247), os dois mais 
importantes filósofos da Idade Média foram, na verdade, Platão e Aristóteles.Todo o 
pensamento medieval é apenas uma releitura sistemática dos conceitos filosóficos gregos 
(AGAMBEN, 2012a). 
É nisto, justamente, que consiste a radicalidade do pensamento de Descartes: a sua 
filosofia não é simplesmente comentário ou releitura de outros filósofos, mas é uma 
tentativa de fundar um sistema de pensamento coerente e racional inteiramente novo. Para 
explicar a sua intenção, Descartes (1973a) compara a sua filosofia com o trabalho de um 
arquiteto que demole uma casa e constrói outra inteiramente nova a partir dos seus 
destroços: o que ele pretendia demolir era justamente tudo aquilo que os escolásticos — 
isto é, os doutores da Igreja de sua época — tomavam como verdade; e a casa nova seria 
o seu pensamento racionalista, científico e matemático. É claro que essa intenção de 
originalidade em relação aos professores da Igreja não surgiu do nada. É bem evidente 
que o próprio Descartes se valia de ideias da filosofia medieval para fundamentar os seus 
argumentos — especialmente quando trata Deus como um ser perfeito, indivisível e 
imutável (DESCARTES, 1973a). 
A importância de Descartes não é necessariamente o simples resultado da 
publicação dos seus dois livros mais lidos, Discurso do Método (1637) e Meditações 
Metafísicas (1641). Descartes faz parte de um contexto mais amplo de crescente 
racionalização do mundo, que ficou conhecido como Revolução Científica. Esse 
movimento havia se iniciado no Renascimento, com cientistas e pensadores como 
Leonardo da Vinci (1452–1519), Nicolau Copérnico (1473–1543), Galileu Galilei (1564–
1642) e Johannes Kepler (1571–1630). Algumas das ideias desenvolvidas nesse período 
por esses cientistas já colocavam em questão crenças da Igreja Católica: da Vinci havia 
deslocado o eixo de interesse de Deus para a natureza a partir dos seus importantes 
estudos de anatomia, matemática e engenharia, influenciados pelo humanismo da 
Antiguidade Greco-Romana; Copérnico e Galileu haviam afirmado, contra a Igreja, que 
 
 
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era o Sol, e não a Terra, que estava no centro do universo (isso inclusive colocou as suas 
vidas em risco, já que foram perseguidos pela Inquisição); e Kepler havia proposto uma 
interpretação racional do movimento dos astros, aproximando a astronomia da 
matemática. 
Não se pode, portanto, ignorar que tudo isso já anuncia historicamente o imenso 
sucesso que as ideias racionalistas de Descartes teriam na Europa dos séculos XVII e 
XVIII. Mas isso também não torna irrelevante o profundo corte que o pensamento 
cartesiano opera na história da metafísica e da teoria do conhecimento. Há um consenso 
quase geral entre os historiadores de que Descartes foi o primeiro filósofo eminentemente 
moderno, pela forma com que deslocou a metafísica de suas questões teológicas — isto 
é, questões relativas à existência e à vontade de Deus — para uma explicação mecânica 
e matemática da natureza. Veja o que Descartes (1973a, p. 53) afirmou em uma de suas 
cartas ao teólogo Mersenne: “[...] se lhe apraz considerar o que escrevi do solo, da neve, 
do arco-íris etc... saberá efetivamente que toda a minha Física não é mais do que 
Geometria”. 
No Medievo, a interpretação da natureza derivava da profunda fé e da intensa 
servidão que o homem medieval devotava a Deus. Assim, para os medievais, a pergunta 
“por que o Sol nasce?” acabava se transformando automaticamente na questão “por que 
Deus quer que o Sol nasça?”. Dessa forma, todas as respostas para essa pergunta 
acabavam pressupondo que, se Deus criou o Sol, foi porque ele quis, e se ele quis, os 
homens devem, como seus servos, se adequar à sua vontade: “Deus ajuda quem cedo 
madruga”. Assim, no pensamento medieval, há uma inevitável sobreposição entre uma 
vontade divina e a natureza: as leis da natureza são idênticas ao próprio desígnio do 
Senhor. 
Com a Revolução Científica, iniciada no Renascimento e levada a cabo por 
Descartes, a pergunta “por que o Sol nasce?” passou a ser respondida a partir das leis 
fundamentais da matemática e da física. Separaram-se, assim, a finalidade da natureza e 
o desígnio divino — algo que será ainda mais consolidado no século XIX, com o 
Positivismo. Nessa perspectiva, a resposta mais adequada para a questão “por que o Sol 
nasce?” depende unicamente de uma causa natural: como afirmou Galileu, o Sol nasce 
 
 
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porque a Terra gira em torno de si mesma e, assim, só se pode ver o Sol quando um de 
seus lados estiver na direção da luz solar. Essa é uma explicação que não pressupõe, 
necessariamente, um ensinamento de como se deve agir segundo a vontade de Deus. É 
por isso, justamente, que os pensadores da Revolução Científica incomodavam a Igreja 
Católica. 
Seguindo esse pensamento científico da época, Descartes havia sugerido que o 
conhecimento verdadeiro não depende exclusivamente de uma “graça” concedida por 
Deus ao homem, mas deve ser construído por um sujeito que, a partir de sua própria 
vontade individual, questiona e indaga a existência das coisas. Certamente, as conclusões 
de Descartes no Discurso mostram que, sem Deus, não é possível um conhecimento 
verdadeiro — pois, para ele, é Deus quem dá ao homem o acesso às ideias: “[...] dado que 
conhecia algumas perfeições que não possuía, eu [concluí que] não era o único ser que 
existia” (DESCARTES, 1973a, p. 56). Nesse sentido, dizer que Descartes é um filósofo 
moderno se justifica pela forma com que colocou a subjetividade, e não a existência de 
Deus, como o problema mais fundamental da filosofia. Em termos mais precisos, como 
afirma Agamben (2012b), desde a Antiguidade, o problema central da teoria do 
conhecimento foi a relação entre o uno e o múltiplo, o humano e o divino; na época 
moderna, a partir de Descartes, passou a ser a relação entre um sujeito e um objeto, um 
eu e um não eu. 
Isso não quer dizer, necessariamente, que Descartes fosse um ateu ou que não 
acreditasse em Deus — embora tenha sido acusado de ateísmo em sua época pelo reitor 
da Universidade de Utrecht, que o comparou “[...] a Vanini, acusado de haver 
expressamente exibido provas frágeis e ineficazes da existência de Deus” 
(STRATHERN, 1997, p. 48). Tanto no Discurso do Método como nas Meditações 
Metafísicas, Descartes (1973a) afirma que a segunda coisa mais certa e mais racional, 
para ele, é que Deus existe — precedida apenas da evidência de sua própria existência 
enquanto ser pensante. Mas é justamente por dizer que Deus é a segunda, e não a primeira 
coisa mais evidente e verdadeira, que Descartes desloca a questão fundamental da 
epistemologia da existência de Deus para a da existência do próprio sujeito. Para 
Descartes, antes de se ter conhecimento da existência de Deus, é preciso que uma vontade 
 
 
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humana se coloque a pensar: primeiro, a evidência do pensamento; depois, a evidência 
do divino. Como bem disseram os jesuítas que rivalizavam com Descartes, o famoso lema 
cartesiano “Penso, logo existo” anunciava o fim da escolástica medieval 
(STRATEHERN, 1997). 
O que é a razão em Descartes? 
Desde Immanuel Kant (1724–1804), os historiadores dividem a filosofia moderna 
em duas grandes linhas: a filosofia racionalista e a filosofia empirista. Não resta dúvidas 
de que ambas as correntes valorizaram muito mais a ciência metódica e racional do que 
a fé para explicar de que modo o homem pode ter acesso à verdade — e é isso o que as 
torna modernas. Mas as duas grandes linhas da filosofia moderna não estão de acordo 
quanto à forma como os homens distinguem o verdadeiro do falso a partir da razão. Para 
os filósofos empiristas — como Francis Bacon (1561–1626), ThomasHobbes (1588–
1679), John Locke (1632–1704) e David Hume (1711–1776) —, o homem só pode 
conhecer a realidade a partir de seus sentidos e de suas experiências, com base no método 
indutivo. Daí o nome dessa corrente ser “empirismo”: em grego, a palavra émpeiria 
significa simplesmente “experiência”, a mesma que qualquer sujeito adquire a partir da 
prática ou da apreensão atenta dos fatos pelos sentidos. 
O método cartesiano Descartes 
Foi o precursor do racionalismo moderno, justamente por desconfiar de todas as 
verdades que seus contemporâneos afirmavam a partir de suas experiências. No Discurso 
do Método, seu livro mais importante, ele conta como estava descontente tanto com a 
filosofia que aprendeu nas universidades quanto com o saber dos outros povos que 
conheceu ao viajar para terras distantes (apesar de ter nascido na França, Descartes 
adorava viajar; foi na Holanda que ele desenvolveu o seu método). 
Em seu desejo de distinguir o verdadeiro do falso, Descartes passou a duvidar 
radicalmente das opiniões dos outros — o que, em sua época, a filosofia chamava de 
“senso comum” e que Platão havia definido muito antes como “dóxa”. Surge daí o 
procedimento cartesiano da dúvida metódica. Tal procedimento consiste em colocar em 
suspenso todas as verdades que o sujeito adquiriu a partir de suas experiências de vida. 
 
 
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A palavra “método” nada mais significa do que um “caminho” que o raciocínio 
deve percorrer em sua busca pela verdade. O método indica como o sujeito deve pensar 
se quiser distinguir a ilusão sensível da verdade inteligível. O método cartesiano é o do 
esquecimento das verdades adquiridas pela experiência em favor do uso ativo e pleno da 
razão. 
Descartes dizia que, para buscar a verdade, as pessoas devem, antes de tudo, 
abandonar as opiniões que receberam por meio de professores, livros, poesias, literatura 
ou senso comum. Ou seja: para descobrir a verdade, você não pode se basear no que já 
sabe a partir de sua memória ou de sua formação cultural, mas apenas em sua relação 
individual com o mundo (DESCARTES, 1973a). Por isso, no Discurso do Método, ao 
contar como criou o seu método, Descartes (1973a) fala da importância da solidão para a 
sua formação como cientista. 
Esse procedimento de isolar um sujeito do conhecimento puro, sem influências de 
outros sujeitos, é chamado pela história da filosofia de époche. O significado literal desse 
termo é “colocar em suspenso”. É importante lembrar que “suspender” uma verdade não 
quer dizer simplesmente achar que o que os outros contam é falso, ou que tudo o que os 
sentidos indicam é mera ilusão — isso seria o absoluto ceticismo, o que não corresponde 
à filosofia de Descartes, para quem é possível ter certeza sobre a existência da realidade. 
Suspender não é simplesmente negar que os outros possam dizer a verdade, mas tomar o 
cuidado de não acreditar em nada antes de averiguar, por meio da sua própria razão, a 
verdade de uma afirmação que vem do outro. 
E por que desconfiar tanto assim dos outros? Segundo Descartes, o problema em 
basear-se simplesmente no hábito é que, dessa forma, não se chega nunca a uma verdade 
universal, igual para todos. Em suas viagens e em suas leituras, Descartes percebeu que 
diferentes pessoas afirmavam diferentes opiniões sobre um mesmo fato. Havia tantas e 
variadas versões para se explicar por que o Sol nasce — porque Deus quis, porque 
precisamos de calor para viver, porque o Sol é um ser mitológico, etc. —, que algumas 
chegavam a contradizer as outras. Se é assim, em qual se deve acreditar? Como, a partir 
dessa dúvida radical, encontrar a verdade? 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
Descartes acreditava que só poderia haver uma resposta verdadeira para cada 
problema e que a única ciência universalmente válida era a matemática — especialmente 
a geometria. Tanto um matemático da Grécia Antiga quanto um matemático francês 
deveriam chegar à mesma solução para um mesmo problema geométrico. Disso, 
Descartes deduziu que para qualquer questão em que pairasse uma dúvida seria possível 
encontrar uma certeza ao aplicar os procedimentos da geometria. Esse é o método da 
dedução racional da verdade. Para Descartes (1973a), são quatro as etapas que devem ser 
seguidas depois de se colocar a opinião dos outros em suspenso. 
1. Verificar: em vez de acreditar na opinião dos outros, só se deve acreditar em algo 
que seja claro e distinto, aquilo que a geometria chama de “evidência”. 
2. Analisar: implica dividir as observações nas partes mais simples possíveis — isto 
é, reduzi-las matematicamente a unidades, números. 
3. Sintetizar: consiste em reunir essas unidades em agrupamentos coerentes, 
partindo do mais simples em direção ao mais complexo. 
4. Enumerar: é a revisão da construção completa da ordem do pensamento para ter 
certeza de que nenhum raciocínio errado foi tomado como certo. 
“Penso, logo existo”: a matematização do mundo em Descartes 
No Discurso do Método, Descartes (1973a) conta como aplicou o seu método para 
colocar à prova as várias suposições da tradição fi losófi ca ocidental. Ao colocar em 
suspenso todas as suas crenças e opiniões, ele buscava encontrar o elemento mínimo e 
dedutível capaz de sustentar todo o edifício do saber científi co — isto é, o seu 
fundamento, a verdade primeira. Mesmo a sua própria existência deveria ser colocada em 
questão, pois como ele poderia saber que não estava simplesmente sonhando? 
Desse procedimento de colocar a existência de tudo o que ele sentia em dúvida, o 
que sobrou, então? Apenas Descartes, frente ao próprio pensar, num quarto solitário; 
apenas o “eu” do filósofo diante do absoluto nada. É aí que Descartes chega a uma das 
máximas mais famosas da história da filosofia: se esse “eu” que duvida continua existindo 
enquanto duvida, então a coisa mais clara e mais distinta que se pode reconhecer é a 
existência do próprio pensamento: “[...] notando que esta verdade: eu penso, logo existo, 
era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam 
 
 
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Anexo ao IETAAM 
capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la sem escrúpulo, como o primeiro princípio 
da Filosofia que procurava” (DESCARTES, 1973a, p. 54). 
A partir da definição do “eu” pensante como a coisa mais clara e mais distinta, o 
princípio sobre o qual se pode edificar um novo pensamento, Descartes se pergunta qual 
seria a segunda coisa mais evidente. Seria a existência do seu próprio corpo? Não 
exatamente. Para Descartes, embora a razão pudesse extrair de si mesma a evidência de 
sua existência, nada ainda comprovava que esse “eu” pensante fosse idêntico ao corpo 
que ele podia sentir. Pois o corpo, para Descartes, é a origem das sensações, da 
experiência, da empiria; todos os sentidos poderiam estar, naquele momento mesmo, lhe 
enganando. A partir disso, Descartes define que os seres humanos possuem uma alma que 
é absolutamente separada do corpo, e que se o corpo morre, a alma permanece viva. 
Assim, por meio de um raciocínio matemático, Descartes tentava provar a seu modo a 
tese da imortalidade da alma, que já se encontrava em Platão e em todo o pensamento 
cristão medieval (DESCARTES, 1973) 
A Escola de Frankfurt 
A Escola de Frankfurt foi uma escola de análise e pensamento filosófico e 
sociológico que surgiu na Universidade de Frankfurt, situada na Alemanha. Tinha como 
objetivo estabelecer um novo parâmetro de análise social com base em uma releitura do 
marxismo. 
A Escola de Frankfurt e a Teoria Crítica surgiram após a Primeira Semana de 
Trabalho Marxista, um evento organizado por Félix Weil. A intenção do evento era

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