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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” (ESPECIALIZAÇÃO) A DISTÂNCIA AVALIAÇÃO DA FLORA E FAUNA EM ESTUDOS AMBIENTAIS DESCRITORES DE RIQUEZA E DIVERSIDADE EM ESPÉCIES EM ESTUDOS AMBIENTAIS Prof. Antônio Carlos da Silva Zanzini (D.Sc) Universidade Federal de Lavras - UFLA Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE Lavras – MG 2007 Parceria Universidade Federal de Lavras - UFLA Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE Reitor Antônio Nazareno Guimarães Mendes Vice-Reitor Ricardo Pereira Reis Diretor da Editora Marco Antônio Rezende Alvarenga Pró-Reitor de Pós-Graduação Joel Augusto Muniz Pró-Reitor Adjunto de Pós-Graduação “Lato Sensu” Marcelo Silva de Oliveira Coordenador do Curso Antonio Carlos da Silva Zanzini Presidente do Conselho Deliberativo da FAEPE Luíz Antônio Lima Editoração Centro de Editoração/FAEPE Impressão Gráfica Universitária/UFLA Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA Zanzini, Antônio Carlos da Silva Descritores de Riqueza e Diversidade em Espécies em Estudos Ambientais / Antônio Carlos da Silva Zanzini. Lavras: UFLA/FAEPE, 2005. 43p.: il. – Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” (Especialização) a Distância: Avaliação da Flora e Fauna em Estudos Ambientais. Bibliografia. 1. Flora. 2. Diversidade. 3. Fauna. Universidade Federal de Lavras. II. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. III. Título. CDD – 582.16 – 634.9285 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma, sem a prévia autorização da FAEPE. S U M Á R I O PARTE 1 - ESTIMADORES DE RIQUEZA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ......... 5 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 7 2 POR QUE ESTIMAR A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ...................................... 9 3 COMO ESTIMAR A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ......................................... 10 4 A IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM NA ESTIMATIVA DA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES .................................................................................................... 13 5 CUIDADOS NA INTERPRETAÇÃO DAS ESTIMATIVAS DA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES .................................................................................................... 15 6 DESCRITORES EM ESTUDOS DE DIVERSIDADE ......................................... 17 6.1 ÍNDICES DE DIVERSIDADE DE ESPÉCIES ............................................... 17 6.1.1 Índice de Diversidade de Simpson (DS).................................................. 17 6.1.1.1 Teste de hipóteses para o índice de Simpson ..................................... 18 6.1.2 Índice de Diversidade de Shannon-Wiener (H’) ..................................... 20 6.1.2.1 Equabilidade (E’) ................................................................................. 20 6.1.2.2 Teste de hipóteses para o índice de Shannon-Wiener ........................ 21 6.2 ESTIMADORES DE RIQUEZA DE ESPÉCIES............................................ 22 6.2.1 Estimador de Riqueza Jackknife 1a ordem (SJack1) ................................. 22 6.2.2 Estimador de Riqueza Jackknife 2a ordem (SJack2) ................................. 23 6.2.3 Estimador de Riqueza Chao 2 (SChao2) .................................................. 23 7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................... 25 PARTE 2 - ESTIMADORES DE SIMILARIDADE DE ESPÉCIES .......................... 26 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 27 2 POR QUE MEDIR A SIMILARIDADE ................................................................ 29 3 COMO MEDIR A SIMILARIDADE ..................................................................... 30 4 A IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM NA MEDIÇÃO DA SIMILARIDADE .... 33 5 CUIDADOS NA INTERPRETAÇÃO DAS ESTIMATIVAS DA SIMILARIDADE 34 6 DESCRITORES DA SIMILARIDADE DE ESPÉCIES ........................................ 35 6.1 ÍNDICES DE SIMILARIDADE QUALITATIVOS ............................................ 35 6.1.1 Índice de Jaccard (SJ) ............................................................................ 35 6.1.2 Índice de Sorensen (SS) .......................................................................... 36 6.1.3 Índice de Mountford (SM) ........................................................................ 36 6.1.4 Índice de Baroni-Urbani e Buser (SB) .................................................... 37 6.2 ÍNDICES DE SIMILARIDADE QUANTITATIVOS ......................................... 37 6.2.1 Índice de Sorensen quantitativo (SSQ) ..................................................... 38 6.2.2 Índice de Morisita (SM)............................................................................ 38 7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................... 39 PARTE 1 ESTIMADORES DE RIQUEZA E DIVERSIDADE DE ESPÉCIES 1 INTRODUÇÃO A diversidade de espécies em uma determinada comunidade, constitui um reflexo da convergência nessa comunidade de fatores abióticos favoráveis à instalação e permanência da vida. A vida, uma vez instalada, modifica gradativamente o meio no sentido de torná-lo sucessivamente mais propício ao estabelecimento de novas e mais variadas formas de vida, a partir de interações que envolvem transferência de energia e matéria de um nível para outro das cadeias tróficas, tais como, predação, polinização, dispersão e decomposição. Assim, a diversidade de espécies constitui um atributo das comunidades biológicas fortemente relacionado à estabilidade, produtividade, estrutura trófica e processos migratórios (Stirling & Wilsey, 2001). Essa complexa, e ainda obscura trama de interações, define a organização estrutural das comunidades nos ecossistemas, cujas medidas mais amplamente utilizadas, ainda que distantes da complexidade ecológica, são dadas pelas estatísticas da diversidade. A diversidade de espécies é um antigo e popular conceito em ecologia. O amplo arranjo de cores em borboletas, a grande variedade de pássaros em bordas e clareiras de florestas, a impressionante profusão de insetos e a ampla variedade de formas vegetais, há muito vem atraindo a atenção de cientistas. O escritor e naturalista americano Henry David Thoreau (1817-1862) deixou, em seu livro póstumo intitulado “Excursions” (1863), uma bem documentada descrição de padrões de variação temporal e espacial na diversidade de espécies, durante o processo de sucessão de espécies arbóreas em florestas temperadas. Posteriormente, respectivamente, em 1913 e 1916, os ecólogos americanos Victor Ernst Shelford (1877-1968) e Frederick Clements, o primeiro trabalhando com animais e o segundo com plantas, chamaram a atenção para a evolução da diversidade de espécies durante o desenvolvimento da sucessão em direção ao clímax (Odum, 1986). Contudo, mais que se limitarem à simples apreciação estética e à descrição da grande variedade de cores e formas da natureza, os cientistas passaram a querer desenvolver técnicas para sua quantificação. EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 8 A primeira tentativa notável de quantificar a diversidade de espécies foi feita pelo naturalista e estatístico britânico Sir Ronald Aylmer Fisher (1890-1962) e colaboradores,os quais percebendo que muitas comunidades de insetos, répteis e aves mostravam um padrão quase invariável de apresentarem uma ou duas espécies muito abundantes, algumas poucas espécies com abundância intermediária e muitas outras com baixa abundância, desenvolveram um modelo (a chamada série logarítmica) para tentar explicar tais padrões de abundância. Em 1948, o americano F. W. Preston, percebendo que erros na previsão do número de espécies com baixa abundância pelo modelo de Fisher poderia ser explicado como resultado de amostragens incompletas sugeriu a utilização de outro modelo de previsão da diversidade, a curva log-normal (Vandermeer, 1981). O ano de 1949 marcou o surgimento de duas importantes estatísticas da diversidade de espécies que envolviam a mensuração do número de espécies e da abundância relativa de cada uma delas: o índice de Simpson, o primeiro índice de diversidade de espécies proposto em ecologia (Ludwig & Reynolds, 1988), e o índice de Shannon-Wiener, que viria a se tornar o índice de diversidade mais amplamente empregado (Ludwig & Reynolds, 1988). Ao longo dos anos, muitos outros modelos matemáticos foram propostos na tentativa de expressar a diversidade de espécies nas comunidades ecológicas. Muitos dos modelos desenvolvidos já foram amplamente empregados em estudos dessa natureza. Mais recentemente, esses modelos vêm tendo sua aplicação difundida na estimativa da variação da diversidade de espécies entre comunidades, em estudos de impacto ambiental, em trabalhos de monitoramento ambiental e em práticas de análise e manejo ambiental (Magurran, 1988). 2 POR QUE ESTIMAR A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES Pode-se considerar que existem três principais razões que justificam o grande interesse demonstrado pelos ecólogos na aplicação de meios eficazes para a quantificação da diversidade de espécies em comunidades ecológicas (Magurran, 1988). 1o) Apesar da questão da diversidade de espécies estar atualmente na moda ela sempre foi um tema central em Ecologia e a possibilidade de sua perda causa preocupações que extrapolam os meios acadêmicos. 2o) As medidas de diversidade de espécies podem, em vários casos, ser consideradas como indicadoras da qualidade ambiental de sistemas ecológicos. 3o) As medidas de diversidade de espécies podem ser utilizadas empiricamente como meio de comparação de diferentes comunidades tendo, portanto, aplicação prática nos trabalhos de monitoramento e manejo ambiental. Hair (1987) acrescenta que quando a diversidade de espécies é medida através de meios apropriados: permite a síntese de uma grande quantidade de dados de número de espécies e suas respectivas abundâncias relativas, na forma de um valor matemático compreensível universalmente; permite inferências sobre as relações da diversidade de espécies com outras propriedades estruturais da comunidade, como produtividade, estrutura trófica e condições ambientais; permite a comparação de uma determinada comunidade com outras. 3 COMO ESTIMAR A DIVERSIDADE DE ESPÉCIES A correta mensuração da diversidade de espécies é uma tarefa que exige a observação de alguns princípios fundamentais: 1) definição da comunidade a ser estudada; 2) definição dos limites temporais e espaciais para a coleta de dados; 3) estabelecimento da metodologia de amostragem; 4) identificação correta dos organismos coletados; 5) quantificação dos organismos coletados. 1 - Definição da comunidade a ser estudada A diversidade de espécies pode ser medida considerando-se, sempre, um grupo bem definido de organismos como, por exemplo: a comunidade de aves de uma floresta; a comunidade de pequenos roedores de um campo; a comunidade de pequenos marsupiais de uma floresta; a comunidade de arbustos de um campo; a comunidade de árvores de uma floresta; a comunidade de formigas do solo de um campo; a comunidade de formigas arborícolas de uma floresta. 2 - Definição de limites temporais e espaciais para a coleta de dados A definição de limites temporais e espaciais para a coleta de dados, constitui uma etapa de grande importância na quantificação da diversidade de espécies pelas seguintes razões: uma amplitude de tempo de coleta com abrangência de um ano ou de, pelo menos, duas estações contrastantes (inverno e verão ou seca e chuvosa) permite a detecção de espécies cuja ocorrência na área estudada é influenciada pela sazonalidade; Parte 1 - Estimadores de Riqueza e Diversidade de Espécies 11 uma definição clara da fronteira espacial da comunidade estudada permite a comparação da diversidade de espécies dessa comunidade com outras, e os resultados dessas comparações podem ser aplicadas em práticas de monitoramento, análise e manejo ambiental. 3 - Estabelecimento da metodologia de amostragem Quando se trabalha no sentido de acessar a diversidade de espécies de uma determinada comunidade, raramente é possível ou mesmo desejável fazer o censo das espécies, uma vez que isso consome tempo, dinheiro e pode trazer danos ou mesmo destruir os organismos que estão sendo estudados, se for necessário que o registro das espécies seja realizado através de capturas ou através de métodos destrutivos. Como os estudos da diversidade encerram muitos problemas, particularmente no aspecto que se refere ao tamanho da amostra empregado no estudo, os ecólogos têm se empenhado no sentido de desenvolver protocolos de amostragem mais adequados à aplicação das medidas de diversidade. Uma amostragem correta é muito importante na mensuração da diversidade porque a grande maioria dos índices de diversidade empregados apresenta dois componentes: 1) a riqueza de espécies, que se refere ao número de espécies presentes na comunidade estudada e; 2) a abundância relativa das espécies, que se refere à forma como os indivíduos encontram-se distribuídos entre as diferentes espécies presentes na comunidade estudada. A riqueza de espécies apresenta uma forte tendência de aumentar com o aumento da área amostrada e com o aumento do número de indivíduos coletados. Outrossim, quanto mais indivíduos são incluídos na amostra, maior se torna a possibilidade de ocorrer espécies raras nessa amostra. Essas tendências deixam claro que o valor final assumido pela grande maioria dos índices de diversidade que levam em consideração a riqueza e a abundância relativa das espécies, sofrem influência do tamanho da amostra e, assim, o método e a intensidade de amostragem utilizados podem introduzir erros estatísticos e ecológicos nas comparações da diversidade entre comunidades, quando a metodologia e a intensidade de amostragem não são padronizados, particularmente nos aspectos que se referem ao tamanho da amostra, método de coleta de dados e tempo de coleta de dados. Não só em estudos de diversidade, mas em outros estudos ecológicos, não se constitui em tarefa muito fácil garantir com segurança total que a amostra tomada em um estudo constitui uma fiel representante da comunidade estudada. Apesar dessa dificuldade inerente no processo de amostragem, pelo menos algumas premissas de fundamental importância devem ser observadas, para contribuir para minimizar erros estatísticos e ecológicos no estudo da diversidade. As premissas que devem ser consideradas são: EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 12 estabelecimento de um método de amostragem adaptado para fornecer uma amostra aleatória da comunidade estudada; adaptação da mensuração da diversidade, levando em consideração os padrões de distribuição espacial dos indivíduos na comunidade, os quais podem se distribuir de forma aleatória (não muito comum), uniforme (de ocorrência rara na natureza) e agregada (a mais comum). realização da amostragem considerando área e época de amostragem adequadas; estabelecimento de uma amostragem suficientemente grande, através da observaçãodo ponto de estabilização da curva do coletor. 4 - Identificação correta dos organismos coletados A medida da diversidade exige a identificação correta dos organismos coletados na comunidade estudada, sempre que possível em nível de espécie. Em uma dada comunidade estudada, cuja identificação dos organismos não seja possível devido à falta de conhecimento ou outros fatores, a identificação em nível de “morfoespécie” ou mesmo em níveis taxonômicos superiores pode ser aceita. Nestes casos é preferível a identificação em nível de “morfoespécie”, em detrimento da identificação em níveis taxonômicos superiores. 5 - Quantificação dos organismos coletados A grande maioria dos métodos de medição da diversidade de espécies exige alguma forma de quantificação da abundância relativa das espécies presentes na amostra da comunidade estudada. Essa quantificação pode ser realizada das seguintes formas: contagem do número de indivíduos de cada espécie ; determinação da biomassa de cada espécie; contagem do número de registros de cada espécie. 4 A IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM NA ESTIMATIVA DA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES A conhecida relação entre diversidade de espécies e tamanho da amostra constitui um aspecto de fundamental importância na medição da diversidade. Isso porque quanto maior o tamanho da amostra maior o número de espécies e de indivíduos e maior a probabilidade de se incluir espécies raras (que aparecem na amostra com poucos indivíduos), fatores estes que influenciam o valor final da grande maioria dos modelos matemáticos empregados para medir a diversidade porque, como mencionado anteriormente, estes levam em consideração não só o número de espécies presentes na amostra (riqueza), mas também o número de indivíduos presentes em cada espécie (equabilidade). Outra questão que deve ser considerada é que na natureza muito raramente os indivíduos encontram-se distribuídos de forma uniforme ou aleatória. Em função de fatores como competição, proteção contra predadores, requerimentos de hábitats e vários outros, na grande maioria dos casos os indivíduos tendem a se posicionar de forma agregada no ambiente. Quando a agregação de indivíduos de uma população ocorre, e quase sempre ocorre, torna-se impossível garantir que os indivíduos foram amostrados aleatoriamente, mesmo quando o plano de amostragem foi aleatoriamente planejado e posicionado na área estudada (Magurran, 1988). Assim, em todo processo de amostragem e mensuração da diversidade pode estar inserido um erro inerente à distribuição dos organismos na natureza que foge do controle do pesquisador. Na tentativa de minimizar esse erro algumas premissas devem necessariamente ser adotadas: amostras suficientemente grandes, estabelecidas pela curva do coletor; unidades amostrais posicionadas aleatoriamente na área estudada; emprego de métodos matemáticos de estimativas da diversidade capazes de contornar superestimativas ou subestimativas causadas pela agregação. EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 14 A observação dessas premissas é importante em estudos de diversidade porque se em uma amostra ocorre um certo número de espécies e cada uma delas contém um número aproximadamente igual de indivíduos, ela pode apresentar um valor de diversidade maior que uma outra amostra que tenha o mesmo número de espécies mas os indivíduos mal distribuídos entre elas. Por exemplo, em uma amostra composta por dez espécies e 100 indivíduos, se cada uma das dez espécies apresenta dez indivíduos, então o valor da diversidade dessa amostra será maior que o valor da diversidade de outra amostra composta pelas mesmas dez espécies , mas onde 80 indivíduos pertencem a uma única espécie e os 20 indivíduos restantes , encontram-se distribuídos entre as outras nove espécies. 5 CUIDADOS NA INTERPRETAÇÃO DAS ESTIMATIVAS DA DIVERSIDADE DE ESPÉCIES As medidas da diversidade envolvem a utilização de modelos matemáticos e, assim, torna-se necessário ressaltar que tais modelos constituem recursos para representar de forma matemática, exata portanto, observações realizadas sobre entidades biológicas. Nesse contexto, é preciso perceber que a utilização de tais modelos pode implicar uma considerável perda de informações porque, evidentemente, nenhum modelo matemático consegue expressar com perfeição suficiente a importância dos fenômenos biológicos que gravitam em torno do estudo da diversidade de espécies na comunidade ecológica. Porém, apesar de suas limitações, não se pode descartar o uso desses recursos como uma importante ferramenta nos estudos de comunidades, mas alguns cuidados essenciais devem ser observados quando da interpretação dos resultados de seu emprego (Pereira & Henrique, 1996): dependendo da equação usada para o cálculo da diversidade, do método de coleta de dados e do grau de identificação dos organismos (por exemplo: a diversidade em nível de espécie é maior que a diversidade em nível de taxa superiores), os valores da diversidade podem variar consideravelmente; a interpretação dos índices é padronizada através de escalas de valores que não podem ser universalmente aplicadas. Por exemplo, nem todas as comunidades em equilíbrio possuem altos valores de diversidade. Uma larga variação de valores de diversidade podem ser observadas para comunidades livres de quaisquer interferências; a resposta dos organismos da comunidade às alterações em seu meio não é necessariamente linear. Podem ocorrer casos em que alterações no meio podem provocar um acréscimo em abundância, sem exclusão de espécies, resultando na elevação dos valores assumidos pelos índices de diversidade; EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 16 os estimadores de riqueza e índices de diversidade geralmente fornecem bons resultados em casos extremos de alterações ambientais, quando ocorre exclusão da grande maioria das espécies adaptadas a certas condições estáveis do meio. 6 DESCRITORES QUANTITATIVOS EM ESTUDOS DE DIVERSIDADE Ao longo dos anos uma ampla variedade de índices destinados a medir a diversidade de espécies e seus componentes (riqueza, abundância e equabilidade) em comunidades ecológicas vem sendo propostos. No presente texto serão apresentados e discutidos quanto à aplicação, aqueles que vêm sendo mais amplamente difundidos e empregados nas práticas de análise, monitoramento e manejo ambiental. A quantificação da diversidade de espécies em comunidades ecológicas é, normalmente, realizada considerando três enfoques: 1) os modelos de distribuição; 2) os índices de diversidade e; 3) os estimadores de riqueza. Os índices de diversidade e os estimadores de riqueza mais amplamente empregados em estudos de diversidade, constituem o enfoque do presente texto. 6.1 ÍNDICES DE DIVERSIDADE DE ESPÉCIES 6.1.1 Índice de Diversidade de Simpson (DS) O índice de diversidade de Simpson foi o primeiro usado em ecologia, tendo sido proposto como uma medida de diversidade em 1949, no conceituado periódico científico Nature. Ele fornece a probabilidade de que dois indivíduos tomados ao acaso de uma amostra com N indivíduos e S espécies sejam pertencentes à mesma espécie. Assim, quanto maior o valor assumido pelo índice, menor é a diversidade de espécies estimada para a amostra (Ludwig & Reynolds, 1988). O índice de diversidade de Simpson, foi proposto para ser utilizado em casos nos quais se trabalha com comunidades infinitas, isto é, onde o número total de indivíduos na amostra é diferente do número total de indivíduos na comunidade. Essa é a situação mais comum quando se trabalha com estimativas da diversidade. É importante ressaltar que a utilização de DS é apropriada para estimar a EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 18 diversidade quando os dados coletados apresentam-sena forma de contagem de indivíduos. O índice de Simpson é dado pela seguinte fórmula: )1( )1( NN nnD iiS onde: DS = índice de diversidade de Simpson ni = número de indivíduos da i-ésima espécie na amostra N = número total de indivíduos na amostra Um inconveniente matemático do índice de diversidade proposto por Simpson é que ele fornece uma medida inversa da diversidade, isto é, quanto maior o valor assumido pelos índices, menor é a diversidade. Para contornar esse inconveniente, alguns autores preferem apresentar esses índices das seguintes maneiras: )1( )1(1 NN nnD iiS ou )1( )1( 1 NN nnD iiS 6.1.1.1 Teste de hipóteses para o índice de Simpson Os índices de diversidade apresentam como uma de suas mais importantes aplicações na análise e manejo ambiental, o fato de permitir a comparação entre comunidades que se encontram sob diferentes condições ambientais. Diante disso a aplicação de um teste de hipóteses destinado a verificar diferenças estatísticas significativas, entre dois valores de diversidade obtidos para comunidades distintas pode se constituir em mais uma importante ferramenta na análise ambiental. É importante ressaltar que quando se calcula um índice de diversidade para um certo número de amostras, os valores desses índices passam a apresentar uma distribuição normal e, assim, torna-se possível o uso de uma estatística paramétrica, como o teste t. Portanto, o método de teste de hipóteses a ser apresentado é recomendado na comparação da diversidade de diferentes comunidades, especialmente quando são tomadas um certo número de réplicas amostrais (Magurran, 1988). Nesse caso, a hipótese nula ou H0 e a hipótese alternativa ou H1, poderiam ser assim representadas: H0 : as comunidades comparadas apresentam a mesma diversidade de espécies Parte 1 - Estimadores de Riqueza e Diversidade de Espécies 19 H1 : as comunidades comparadas não apresentam a mesma diversidade de espécies Para se realizar o teste de hipóteses, é necessário proceder aos seguintes cálculos intermediários (Brower & Zar, 1984): a) Cálculo da variância do Índice de Simpson (Var DS) N pp VarD iiS 2234 b) Cálculo do valor do teste t de Student (t ) 21 21 SS SS VarDVarD DD t c) Graus de liberdade para o teste de hipóteses (gl) gl = onde: DS1 = índice de diversidade de Simpson para a comunidade 1 DS2 = índice de diversidade de Simpson para a comunidade 2 Var DS1 = variância do índice de diversidade de Simpson para a comunidade 1 Var DS2 = variância do índice de diversidade de Simpson para a comunidade 2 pi = ni /N a) O teste de hipóteses O teste de hipóteses é realizado pela comparação do valor de t calculado mediante o emprego da equação do item “b”, com o valor de t relacionado à probabilidade estabelecida (95%) e infinitos graus de liberdade. Assim tem-se: EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 20 t calculado < t tabelado : aceita-se a hipótese nula (H0), isto é, as comunidades comparadas apresentam a mesma diversidade de espécies t calculado > t tabelado: rejeita-se a hipótese nula (H0), isto é, as comunidades comparadas não apresentam a mesma diversidade de espécies 6.1.2 Índice de Diversidade de Shannon-Wiener (H’) O índice de diversidade de Shannon-Wiener é um dos mais amplamente empregados em ecologia de comunidades. Foi desenvolvido em 1949, a partir da teoria da informação publicada em The mathematical theory of communication. Ele expressa o grau de incerteza que existe em se predizer a qual espécie pertence um indivíduo escolhido ao acaso em uma comunidade contendo “S” espécies e “N” indivíduos (Ludwig & Reynolds, 1988). Assim, quanto maior for essa incerteza, maior será o valor do índice e maior será a diversidade da amostra. Numericamente, o índice de Shannon-Wiener varia entre 0 e valor máximo qualquer. O índice de Shannon-Wiener será igual a zero somente quando houver uma única espécie na amostra e assumirá seu valor máximo, somente quando todas as espécies existentes na amostra apresentarem o mesmo número de indivíduos. Na prática, os valores assumidos pelo índice de Shannon-Wiener situam-se entre 1,5 e 3,5 e só raramente ultrapassam o valor de 4,5 (Magurran, 1988). É dado pela seguinte fórmula: N n N nH ii ln' onde: H’ = índice de diversidade de Shannon-Wiener ni = número de indivíduos da i-ésima espécie na amostra N = número total de indivíduos na amostra ln = logaritmo neperiano (base e) 6.1.2.1 Equabilidade (E’) A equabilidade (E’), também conhecida como índice de equabilidade de Pielou, é um componente do índice de diversidade de Shannon-Wiener que reflete a forma através da qual os indivíduos encontram-se distribuídos entre as diferentes espécies presentes na amostra. Por exemplo, em uma amostra constituída por 10 espécies e 100 indivíduos, se uma única espécie aparece com 90 indivíduos e as demais com os 10 indivíduos que restaram, então tem-se uma amostra com baixa equabilidade. Por outro lado, se nessa mesma amostra, cada uma das 10 espécies aparece com 10 indivíduos, então tem-se um caso de equabilidade máxima. A Parte 1 - Estimadores de Riqueza e Diversidade de Espécies 21 equabilidade varia entre 0 (equabilidade mínima) e 1(equabilidade máxima), e é dada pela seguinte fórmula: S HE ln ' ' onde: E’ = índice de equabilidade H’ = índice de diversidade de Shannon-Wiener S = número total de espécies presentes na amostra ln = logaritmo neperiano (base e) 6.1.2.2 Teste de hipóteses para o índice de Shannon-Wiener O teste de hipóteses para o índice de Shannon-Wiener é recomendado por Magurran (1988), a partir dos trabalhos de Hutcheson (1970) e segue, basicamente, as mesmas regras e propriedades estabelecidas para o índice de Simpson. Também, nesse caso, a hipótese nula ou H0 e a hipótese alternativa ou H1, poderiam ser assim representadas: H0 : as comunidades comparadas apresentam a mesma diversidade de espécies H1 : as comunidades comparadas apresentam diversidades diferentes Para se realizar o teste de hipóteses, é necessário proceder aos seguintes cálculos intermediários: a) Cálculo da variância do índice de Shannon-Wiener (Var H’) 2 22 ' 2 1lnln N S N pppp VarH iiii b) Cálculo do valor do teste t de Student (t ) 2'1' 2 ' 1 ' VarHVarH HHt EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 22 c) Cálculo do grau de liberdade para o teste de hipóteses (gl) 2 2 2 ' 1 2 1 ' 2 2 ' 1 ' N VarH N VarH VarHVarHgl onde: H’1 = índice de diversidade de Shannon-Wiener para a comunidade 1 H’2 = índice de diversidade de Shannon-Wiener para a comunidade 2 Var H’1 = variância do Índice de diversidade de Shannon-Wiener para a comunidade 1 Var H’2 = variância do índice de diversidade de Shannon-Wiener para a comunidade 2 N1 = número total de indivíduos da amostra da comunidade 1 N2 = número total de indivíduos da amostra da comunidade 2 ni = número de indivíduos da i-ésima espécie na amostra Pi = ni / N a) O teste de hipóteses O teste de hipóteses é realizado pela comparação do valor de t calculado mediante o emprego da equação do item “b”, com o valor de t relacionado à probabilidade estabelecida (95%) e ao número de graus de liberdade calculado pela equação do item “c”. Assim tem-se: t calculado < t tabelado : aceita-se a hipótese nula (H0), isto é, as comunidades comparadas apresentam a mesma diversidade de espécies t calculado > t tabelado : rejeita-se a hipótese nula (H0), isto é, as comunidades comparadas não apresentam a mesma diversidade de espécies 6.2 ESTIMADORES DE RIQUEZA DE ESPÉCIES6.2.1 Estimador de Riqueza Jackknife 1a ordem (SJack1) O estimador de riqueza de Jackknife 1a ordem é uma função do número de espécies que ocorre em uma e somente uma amostra, as quais são denominadas espécies únicas (Heltshe & Forrester, 1983). Quanto maior o número de espécies Parte 1 - Estimadores de Riqueza e Diversidade de Espécies 23 que ocorrem em somente uma amostra, entre todas as amostras tomadas na comunidade estudada, maior será o valor da estimativa para o número total de espécies presentes nessa comunidade. Assim, a estimativa de riqueza atinge seu valor máximo (aproximadamente o dobro do número de espécies observado na amostragem) quando todas as espécies observadas ocorrem em uma única amostra. Por outro lado, a riqueza estimada e a riqueza observada serão iguais quando todas as espécies observadas na amostragem ocorrem em mais de uma amostra. É dado pela seguinte fórmula: a aLSS obsJack 1 1 onde: SJack1 = estimador de riqueza Jackknife de 1a ordem Sobs = número total de espécies observadas em todas as amostras L = número de espécies que ocorrem só em uma amostra (espécies únicas) a = número de amostras 6.2.2 Estimador de Riqueza Jackknife 2a ordem (SJack2) O estimador de riqueza Jackknife 2a ordem é uma função do número de espécies que ocorre em uma amostra (únicas), bem como do número de espécies que ocorre em duas amostras (duplicatas) (Colwell & Coddington, 1994). É dado pela seguinte fórmula: )1( 232 2 2 aa aD a aLSS obsJack onde: SJack2 = estimador de riqueza Jackknife de 2a ordem Sobs = número total de espécies observadas em todas as amostras L = número de espécies que ocorre só em uma amostra (únicas) D = número de espécies que ocorre só em duas amostras (duplicatas) a = número de amostras 6.2.3 Estimador de Riqueza Chao 2 (SChao2) O estimador de riqueza de espécies Chao 2 constitui uma variação do anterior e apresenta as mesmas propriedades (Colwell & Coddington, 1994). Assim, a estimativa da riqueza de espécie utilizando-se o estimador Chao 2, é realizada EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 24 considerando-se as espécies que ocorrem em uma e somente uma amostra e também as espécies que ocorrem em duas e somente duas amostras, entre todas as amostras tomadas na comunidade. O estimador de riqueza Chao 2 é dado pela seguinte fórmula: D LSS obsChao 2 2 2 onde: SChao2 = estimador de riqueza Chao 2 Sobs = número total de espécies observadas em todas as amostras L = número de espécies que ocorre só em uma amostra (únicas) D = número de espécies que ocorre só em duas amostras (duplicatas) 7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA BROWER, J. E.; ZAR, J. H. (1984). Field and laboratory methods for general ecology. Dubuque, Wm. C. Brown Publishers. 229 p. COLWELL, R. K.; CODDINGTON, J. A. (1994). Estimating terrestrial biodiversity through extrapolation. Philosophical Transactions of the Royal Society (Series B). v.345, p.101-118. HELTSHE, J. F.; FORRESTER, N. E. (1983). Estimating species richness using the jackknife procedure. Biometrics, v. 39, p. 1-11. KREBS, C. J. (1989). Ecological methodology. New York, Harper & Row Publishers. 654 p. LUDWIG, J. A.; REYNOLDS, J. F. (1988). Statistical ecology: a primer on methods and computing. New York, John Wiley & Sons. 337 p. MAGURRAN, A. E. (1988). Ecological diversity and its measurement. Cambridge, Cambridge University Press. 179 p. ODUM, E. P. (1986). Ecologia. Rio de Janeiro, Guanabara. 434 p. PEREIRA, D. N.; HENRIQUE, R. M. (1996). Aplicação de índices biológicos numéricos na avaliação da qualidade ambiental. Revista Brasileira de Biologia, v.56, n.2, p. 441-450. STIRLING, G.; WILSEY, B. (2001). Empirical relationship between species richness, evenness, and proportional diversity. The American Naturalist, v. 158, n.3, p.287-299. VANDERMEER, J. (1981). Elementary mathematical ecology. New York, John Wiley & Sons. 265 p. PARTE 2 ESTIMADORES DE SIMILARIDADE DE ESPÉCIES 1 INTRODUÇÃO Eventos antigos e recentes da história evolutiva da Terra têm contribuído para criar barreiras físicas e condições particulares no hábitat e nas relações intra e interespecíficas que têm interferido na distribuição espacial e temporal dos organismos, determinando a presença ou ausência de determinadas espécies em uma comunidade. Assim, a grande maioria das comunidades apresenta uma certa porcentagem de espécies características que se encontram adaptadas às condições ambientais oferecidas pelo meio onde evoluíram, e uma certa porcentagem de espécies que não se encontram presentes, em razão da existência de barreiras de natureza física e/ou adaptativas. A similaridade , como o próprio nome sugere, fornece informações sobre a semelhança que existe entre duas comunidades, entre duas épocas, entre duas técnicas de amostragem ou entre outros alvos de comparações, quanto à presença e/ou abundância dos organismos ou objetos que estão sendo comparados. Por exemplo, considerando duas comunidades e as espécies que nelas existem, estas duas comunidades comparadas apresentarão elevada similaridade de espécies, quando a maior parte das espécies presentes em uma ocorre também na outra. A similaridade constitui um tema central em ecologia e os modelos matemáticos destinados à mensurá-la, apresentam a particularidade de se constituírem em índices essencialmente descritivos e não estimadores de parâmetros estatísticos (Krebs, 1989). As medidas de similaridade de espécies são amplamente utilizadas em ecologia de comunidades, uma vez que permitem comparar diferentes comunidades, acompanhar alterações em uma mesma comunidade ao longo das estações do ano ou antes e após algum evento modificador, quanto à composição qualitativa e, ou quantitativa dos organismos presentes (Laroca, 1995). Assim, torna-se evidente que as estimativas da similaridade de espécies apresentam grande potencial de aplicação prática em estudos de impacto ambiental, nas suas fases que envolvem a análise, o monitoramento e o manejo ambiental. Existe uma ampla gama de índices destinados a medir a similaridade de espécies, a grande maioria dos quais foram desenvolvidos no século passado (Wolda, 1981) tendo, contudo, ampla aplicação neste início de século. Alguns EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 28 desses índices requerem unicamente informações sobre a presença ou ausência das espécies nas amostras (são os chamados índices binários ou qualitativos) enquanto outros, os denominados índices quantitativos, requerem, além da relação de espécies, informações sobre a abundância de cada uma delas nas amostras (Wolda, 1981). 2 POR QUE MEDIR A SIMILARIDADE Pode-se considerar que existem cinco principais razões que justificam o grande interesse demonstrado pelos ecólogos no desenvolvimento e aplicação de meios eficazes de mensuração da similaridade de espécies: 1a) O estudo sobre a semelhança espacial e temporal de espécies é um tema central em ecologia. 2a) Em ecologia de comunidades é freqüentemente desejável fazer comparações entre amostras florísticas e faunísticas tomadas em diferentes locais, em diferentes épocas e por diferentes técnicas. 3a) As medidas de similaridade e suas interpretações são frequentemente consideradas como indicadoras da qualidade ambiental de sistemas ecológicos. 4a) As medidas de similaridade permitem a formulação de hipóteses sobre as relações da similaridade com outras propriedades estruturais da comunidade, como produtividade, estrutura trófica e condições ambientais. 5a) As medidas de similaridade podem ser utilizadas empiricamente como meio de comparação de diferentes comunidades em escala espacial e temporal tendo,portanto, uma grande aplicação prática nos trabalhos de monitoramento e manejo ambiental. 3 COMO MEDIR A SIMILARIDADE A correta mensuração da similaridade de espécies é uma tarefa que exige a observação de alguns princípios fundamentais: 1) definição da comunidade a ser estudada; 2) definição dos limites temporais e espaciais para a coleta de dados; 3) estabelecimento da metodologia de amostragem; 4) identificação correta dos organismos coletados; 5) quantificação dos organismos coletados. 1) Definição da comunidade a ser estudada A similaridade deve ser medida considerando-se, sempre, um grupo bem definido de organismos como, por exemplo: a comunidade de aves de uma floresta; a comunidade de pequenos roedores de um campo; a comunidade de pequenos marsupiais de uma floresta; a comunidade de arbustos de um campo; a comunidade de árvores de uma floresta; a comunidade de formigas do solo de um campo; a comunidade de formigas arborícolas de uma floresta. 2) Definição de limites temporais e espaciais para a coleta de dados A definição de limites temporais e espaciais para a coleta de dados, constitui uma etapa de grande importância no estudo da similaridade pelas seguintes razões: uma amplitude de tempo de coleta com abrangência de um ano ou de, pelo menos, duas estações contrastantes (inverno e verão ou seca e chuvosa) permite a detecção de espécies cuja ocorrência é influenciada pela sazonalidade; Parte 2 - Estimadores de Similaridade de Espécies 31 uma definição clara da fronteira espacial das comunidades estudadas permite a comparação da similaridade de espécies dessas comunidades, e os resultados dessas comparações têm grande aplicação prática em práticas de monitoramento, análise e manejo ambiental. 3) Estabelecimento da metodologia de amostragem Quando se trabalha no sentido de acessar a similaridade de espécies entre comunidades, raramente é possível ou mesmo desejável fazer o censo das espécies, uma vez que isso consome tempo, dinheiro e pode trazer danos ou mesmo destruir os organismos que estão sendo estudados, se for necessário que o registro das espécies seja realizado através de capturas ou através de métodos destrutivos. Como os estudos da similaridade encerram muitos problemas, particularmente no aspecto que se refere ao tamanho da amostra empregado no estudo, os ecólogos têm se empenhado no sentido de desenvolver protocolos de amostragem mais adequados à aplicação das medidas de similaridade. Uma amostragem correta é muito importante na mensuração da similaridade porque a grande maioria dos índices de similaridade empregados sofre influência do tamanho da amostra (Wolda, 1981). Quanto mais indivíduos são incluídos na amostra, maior se torna a possibilidade de ocorrer espécies raras nessa amostra. Isso deixa claro que o valor final assumido pela grande maioria dos índices de similaridade são dependentes da intensidade amostral. Assim, o método e a intensidade de amostragem utilizados podem introduzir erros nas comparações da similaridade entre comunidades quando não são padronizados, particularmente nos aspectos que se referem ao tamanho da amostra, método de coleta de dados e tempo de coleta de dados. Não só em estudos de similaridade, mas em outros estudos ecológicos, não se constitui em tarefa muito fácil garantir com segurança total que a amostra tomada em um estudo constitui uma fiel representante da comunidade estudada. Apesar dessa dificuldade inerente no processo de amostragem, pelo menos algumas premissas de fundamental importância devem ser observadas, para contribuir para minimizar erros no estudo da similaridade. As premissas que devem ser consideradas são: estabelecimento de um método de amostragem adaptado para fornecer uma amostra aleatória da comunidade estudada; adaptação da mensuração da similaridade, levando em consideração os padrões de distribuição espacial dos indivíduos na comunidade, os quais podem se distribuir de forma aleatória (não muito comum), uniforme (de ocorrência rara na natureza) e agregada (a mais comum). EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 32 realização da amostragem considerando área e época de amostragem adequadas; estabelecimento de uma amostragem suficientemente grande, através da observação do ponto de estabilização da curva do coletor. 4) Identificação correta dos organismos coletados A medida da similaridade exige a identificação correta dos organismos coletados na comunidade estudada, sempre que possível em nível de espécie. Em uma dada comunidade estudada, cuja identificação dos organismos não seja possível devido à falta de conhecimento ou outros fatores, a identificação em nível de “morfoespécie” ou mesmo em nível de taxa superiores pode ser aceita. Nestes casos é preferível a identificação em nível de “morfoespécie”, em detrimento da identificação em nível de taxa superiores. 5) Quantificação dos organismos coletados Uma boa parte dos métodos de medição da similaridade de espécies exige alguma forma de quantificação do número de indivíduos (abundância) das espécies presentes na amostra da comunidade estudada. Essa quantificação pode ser realizada das seguintes formas: contagem do número de indivíduos de cada espécie ; determinação da biomassa de cada espécie; contagem do número de registros de cada espécie. 4 A IMPORTÂNCIA DA AMOSTRAGEM NA MEDIÇÃO DA SIMILARIDADE A conhecida relação entre similaridade de espécies e tamanho da amostra constitui um aspecto de fundamental importância na medição da similaridade. Isso porque quanto maior o tamanho da amostra maior o número de espécies e de indivíduos e maior a probabilidade de se incluir espécies raras (que aparecem na amostra com poucos indivíduos), fatores estes que influenciam o valor final de boa parte dos índices de similaridade. Outra questão que deve ser considerada é que na natureza muito raramente os indivíduos encontram-se distribuídos de forma uniforme ou aleatória. Em função de fatores como competição, proteção contra predadores, requerimentos de hábitats e vários outros, na grande maioria dos casos os indivíduos tendem a se posicionar de forma agregada no ambiente. Quando a agregação de indivíduos de uma população ocorre, e quase sempre ocorre, torna-se impossível garantir que os indivíduos foram amostrados aleatoriamente, mesmo quando o plano de amostragem foi aleatoriamente planejado e posicionado na área estudada (Magurran, 1988). Assim, em todo processo de amostragem e mensuração da similaridade pode estar inserido um erro inerente à distribuição dos organismos na natureza que foge do controle do pesquisador. Na tentativa de minimizar esse erro algumas premissas devem necessariamente ser adotadas: amostras suficientemente grandes, estabelecidas pela curva do coletor; unidades amostrais posicionadas aleatoriamente na área estudada. 5 CUIDADOS NA INTERPRETAÇÃO DAS ESTIMATIVAS DA SIMILARIDADE As medidas da similaridade de espécies envolvem a utilização de modelos matemáticos e, assim, torna-se necessário ressaltar que tais modelos constituem recursos para representar de forma matemática, exata portanto, observações realizadas sobre entidades biológicas. Nesse contexto, é preciso perceber que a utilização de tais modelos pode implicar uma considerável perda de informações porque, evidentemente, nenhum modelo matemático consegue expressar com perfeição suficiente a importância dos fenômenos biológicos que gravitam em torno das relações entre as espécies na comunidade ecológica. Porém, apesar de suas limitações, não se pode descartar o uso desses recursos como uma importante ferramenta nos estudos de comunidades, mas alguns cuidados essenciais devem ser observados quando da interpretação dos resultados de seu emprego (Pereira & Henrique, 1996): dependendo da equaçãousada para o cálculo da similaridade, do método de coleta de dados e do grau de identificação dos organismos (por exemplo: a diversidade em nível de espécie é maior que a diversidade em nível de taxa superiores), os valores da similaridade podem variar consideravelmente; os índices de similaridade geralmente fornecem bons resultados em casos extremos de alterações ambientais, quando são comparadas comunidades inalteradas com outras onde ocorre exclusão da grande maioria das espécies adaptadas a certas condições estáveis do meio. em estudos voltados a determinar o grau de alteração ambiental, os índices de similaridade podem ser mais recomendados que os índices de diversidade, porque permitem comparar não só alterações na composição de espécies (com o desaparecimento de umas e dominância de outras), mas também alterações nas suas abundâncias (Pereira & Henrique, 1996). 6 DESCRITORES DA SIMILARIDADE DE ESPÉCIES Ao longo dos anos uma ampla variedade de índices destinados a medir a similaridade de espécies foram propostos. No presente módulo de estudo dirigido, serão apresentados e discutidos quanto à sua aplicação, aqueles índices de similaridade qualitativos ou binários que vêm sendo mais amplamente difundidos e empregados nos estudos de comunidades e nas práticas de análise, monitoramento e manejo ambiental. 6.1 ÍNDICES DE SIMILARIDADE QUALITATIVOS Os índices de similaridade binários ou qualitativos, são empregados nos casos em que as informações disponíveis sobre as espécies presentes nas comunidades estudadas se resumem em dados de presença ou ausência, não havendo informações sobre o número de indivíduos presentes em cada espécie. Esses índices vêm tendo ampla aplicação em análise, monitoramento e manejo ambiental porque fornecem informações sobre variações espaciais e temporais na composição de espécies de duas comunidades comparadas, sem necessitar da contagem do número de indivíduos presentes em cada uma das espécies. Os índices binários ou qualitativos mais amplamente empregados são: 6.1.1 Índice de Jaccard (SJ) O índice de Jaccard foi utilizado em 1908 pelo francês P. Jaccard, em estudos sobre a distribuição de plantas ao longo de gradientes ambientais (Ludwig & Reynolds, 1988). Constitui um dos índices de similaridade mais amplamente empregados em ecologia de comunidades. Compara qualitativamente a semelhança de espécies que existe entre amostras sucessivas retiradas em intervalos espaciais e temporais ou ao longo de um gradiente ambiental. É um coeficiente binário baseado, unicamente, na relação presença-ausência das espécies nas amostras comparadas. Quantitativamente, o índice de Jaccard varia EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 36 entre 0 (comunidades totalmente diferentes quanto à composição de espécies) e 1 (comunidades totalmente semelhantes quanto à composição de espécies) e é dado pela seguinte fórmula: cba cSJ onde: SJ = índice de similaridade de Jaccard a = número total de espécies presentes na amostra “a” b = número total de espécies presentes na amostra “b” c = número total de espécies comuns às amostras “a” e “b” 6.1.2 Índice de Sorensen (SS) O índice de Sorensen, também conhecido como índice de Czekanowski (Wolda, 1981), foi usado pioneiramente em 1913, pelo polonês J. Czekanowski para comparar semelhanças raciais em estudos antropológicos. Mais tarde, em 1948, foi redescoberto e adaptado por T. A. Sorensen que o utilizou para detectar semelhanças em estudos de fitossociologia. É muito empregado em ecologia de comunidades, e apresenta as mesmas propriedades do índice de Jaccard. Contudo, quando muitas espécies encontram-se presentes na comunidade, mas não encontram-se presentes em uma amostra dessa comunidade, é mais recomendável o uso do índice de Sorensen do que o de Jaccard (Krebs, 1989). O índice de Sorensen varia entre 0 (semelhança nula) e 1 (semelhança máxima) e é dado pela seguinte fórmula: ba cSS 2 onde: SS = índice de similaridade de Sorensen a = número total de espécies presentes na amostra “a” b = número total de espécies presentes na amostra “b” c = número total de espécies comuns às amostras “a” e “b” 6.1.3 Índice de Mountford (SM) O índice de Mountford foi proposto em 1962 por M. D. Mountford, como um índice de similaridade para problemas classificatórios em zoologia de solos (Wolda, 1981). Varia entre 0 e 1 e é dado pela seguinte fórmula: Parte 2 - Estimadores de Similaridade de Espécies 37 cbaab cSM 2 2 onde: SM = índice de similaridade de Mountford a = número total de espécies presentes na amostra “a” b = número total de espécies presentes na amostra “b” c = número total de espécies comuns às amostras “a” e “b” 6.1.4 Índice de Baroni-Urbani e Buser (SB) O índice de similaridade de Baroni-Urbani e Buser foi proposto em 1976 por C. Baroni-Urbani e M. W. Buser como uma medida de similaridade de dados binários (Krebs, 1989). È um índice mais complexo que os anteriores. Varia entre 0 e 1 e é dado pela seguinte fórmula: cbacd ccdSB onde: SB = índice de similaridade de Baroni-Urbani e Buser a = número total de espécies presentes somente na amostra “a” b = número total de espécies presentes somente na amostra “b” c = número total de espécies comuns às amostras “a” e “b” d = número de espécies ausentes nas amostras “a” e “b” 6.2 ÍNDICES DE SIMILARIDADE QUANTITATIVOS Os índices de similaridade quantitativos, são empregados nos casos em que existem informações sobre a presença das espécies (lista de espécies) e também informações sobre o número de indivíduos ou biomassa de cada espécie. Esses índices também são aplicados em análise, monitoramento e manejo ambiental porque fornecem informações sobre variações espaciais e temporais na composição e abundância de espécies entre duas comunidades comparadas. Contudo, exigem a contagem do número de indivíduos presentes em cada uma das espécies ou medidas de sua biomassa. Os índices quantitativos mais amplamente empregados são: EDITORA – UFLA/FAEPE - Descritores Quantitativos de Riqueza e Diversidade de... 38 6.2.1 Índice de Sorensen quantitativo (SSQ) O índice de similaridade de Sorensen quantitativo constitui uma versão do índice de Sorensen para dados quantitativos. Varia entre 0 e 1 e é dado pela seguinte fórmula (Magurran, 1988): )( 2 NbNa NjSSQ onde: SQS = índice de similaridade de Sorensen quantitativo Na = número total de indivíduos presentes na amostra “a” Nb = número total de indivíduos presentes na amostra “b” Nj = número total de indivíduos da amostra que apresenta menor número de indivíduos 6.2.2 Índice de Morisita (SM) O índice de similaridade de Morisita, que não deve ser confundido com o índice de Morisita para detecção da distribuição espacial dos indivíduos de uma população, foi proposto em 1959 por M. Morisita. É um índice quantitativo baseado na abundância de espécies nas amostras. É amplamente recomendado por mostrar-se independente da diversidade de espécies (Wolda, 1981). Varia entre 0 e 1, e é dado pela seguinte fórmula: NbNadbda bnanS iiMQ .)( )(2 onde: MQS = índice de similaridade de Morisita ian = número total de indivíduos da i-ésima espécie na amostra “a” ibn = número total de indivíduos da i-ésima espécie na amostra “b” Na = número total de indivíduos na amostra “a” Nb = número total de indivíduos na amostra “b” 7 BIBLIOGRAFIA BÁSICA KREBS, C. J. (1989). Ecological methodology. New York, Harper & Row Publishers. 654 p. LUDWIG, J. A.; REYNOLDS, J. F. (1988). Statistical ecology: a primer on methods and computing. New York, John Wiley & Sons. 337 p. MAGURRAN, A. E. (1988). Ecological diversity and its measurement. Cambridge, Cambridge University Press. 179 p. PEREIRA, D. N.; HENRIQUE, R. M. (1996). Aplicaçãode índices biológicos numéricos na avaliação da qualidade ambiental. Revista Brasileira de Biologia, v.56, n.2, p. 441-450. SOKAL, R. R.; ROHLF, F. 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