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As folhas de coca eram mastigadas por possuírem efeitos psicotrópicos, há milhares de anos, pelos índios sul-americanos. A cocaína foi isolada em 1860 e proposta como anestésico local para procedimentos cirúrgicos. Os Primeiros usos clínicos foram em cirurgias oftalmológicas por Carl Köller. Um substituto sintético, a procaína, foi descoberta em 1905, e muitos outros compostos úteis foram desenvolvidos mais tarde. A nocicepção refere-se à ativação de fibras nervosas sensoriais primárias (nociceptores) por estímulos nocivos. Os nociceptores possuem terminações nervosas livres localizadas na pele, nos tecidos profundos e nas vísceras. Os corpos celulares dos nociceptores localizam-se nos gânglios da raiz dorsal, próximo à medula espinal, ou no gânglio trigeminal para inervação da face. Os nociceptores (aferentes) transmitem impulsos da periferia para o corno dorsal da medula espinal, onde a informação é processada através de sinapse e ascende para o SNC. Os nociceptores possuem, em suas membranas celulares, receptores para substâncias, como a bradicinina, prostaglandinas e serotoninas, que são liberadas quando células adjacentes sofrem lesão. As fibras mais importantes para percepção da dor são os axônios dos nociceptores aferentes, incluindo as fibras Aδ e as fibras C. A maioria dos neurônios de fibras não mielinizadas (C) é associada às terminações nociceptivas polimodais e transmitem dor profunda, difusa e em queimação, enquanto as fibras mielinizadas (Aδ) transitem dor aguda e bem localizada (mecanoceptores). A geração e propagação do potencial de ação dependem da abertura de canais de sódio voltagem dependente, por isso, os fármacos anestésicos locais basicamente atuaram bloqueando os canais de sódio voltagem dependentes. Os canais de Na+ são bloqueados, prevenindo o aumento transitório na permeabilidade da membrana do nervo ao Na+ o que é necessário para o potencial de ação. Quando a propagação dos potenciais de ação é bloqueada, a sensação não pode ser transmitida desde a fonte do estímulo até o cérebro. - Baixa toxicidade sistêmica. - Rápido início de ação e duração suficiente para o procedimento cirúrgico. - Efeitos reversíveis. - Efetivo quando administrado. Todos os anestésicos locais possuem três domínios estruturais: um grupo aromático, um grupo amina e uma ligação éster ou amina unindo esses dois grupos. A estrutura do grupo aromático influencia a hidrofobicidade do fármaco, a natureza do grupo amina influencia a velocidade de início e a potência do fármaco, e a estrutura do grupo amida ou éster influencia a duração de ação e os efeitos colaterais do fármaco. Por isso os anestésicos são dividos em anestésicos do grupamento éster (efeito mais curto, maior capacidade de levar a reações de hipersensibilidade) e amida (efeito mais duradouro, menor capacidade de reações hipersensibilidade). A benzocaína não tem o grupo amina e por isso, possui uma baixa capacidade de ser absorvida, sendo mais utilizada para efeitos superficiais (por exemplo, balas para dor de garganta). - Bloqueiam o início e a propagação do potencial de ação por impedirem o aumento da condutância de Na+ voltagem-dependente. - Bloqueio do canal de Na+ voltagem-dependente. Os anestésicos locais impedem a transmissão de impulsos através do bloqueio de canais de sódio individuais nas membranas neuronais. O canal de sódio existe em três estados principais de conformação: aberto, inativado e em repouso. Ao passar do estado de repouso para o estado aberto, o canal também passa por várias conformações “fechadas” transitórias. Durante um potencial de ação, os canais em repouso passam para as conformações fechadas e, por fim, abrem-se por um breve período para permitir a entrada de íons sódio dentro da célula. Esse influxo de sódio resulta em despolarização da membrana. Depois de alguns milissegundos, o canal aberto sofre espontaneamente uma mudança de sua conformação para o estado inativado. Isso interrompe o influxo de sódio, com repolarização da membrana. O estado inativado do canal retorna lentamente ao estado de repouso na membrana repolarizada Os anestésicos locais conseguem se ligar com maior afinidade ao canal nos estados aberto ou inativado. A passagem de uma série de potenciais de ação, por exemplo quando um estímulo doloroso é aplicado em um nervo sensorial, provoca um ciclo entre o estado aberto e o estado inativo, tendo ambos maior probabilidade de se ligarem a moléculas de anestésicos locais do que no estado de repouso; assim, ambos os mecanismos contribuem para o efeito dependente do uso do receptor. Por isso, quanto mais as fibras recebem estímulos, mais rápido é o bloqueio: por exemplo, o dentista após aplicar a anestesia, pode massagear o local. Além disso, os anestésicos locais interagem com as fibras de condução de formas diferentes devido ao calibre e ao revestimento com bainha de mielina. O fármaco precisa bloquear cerca de quatro a cinco nódulos de Ranvier consecutivos para realizar um bloqueio efetivo. Por isso, bloqueiam primeiro as fibras de condução de dor (pois são mais delgadas) e depois fazem o bloqueio de fibras motoras (são mais largas). As fibras C têm função de sensibilidade tátil, a dor e temperatura nas raízes sensoriais e nervos periférico aferentes e função vasomotora, visceromotras, sudomotoras e pilomotoras quando estão em localização pós-ganglionar. Dessa forma, o bloqueio das fibras C por anestésicos @waleska112 Med IX - UFOB leva também a vasodilatação, a exceção é a cocaína que causa a inibição da captação da noradrelina, levando a vasoconstrição. A atividade dos anestésicos locais é fortemente dependente do pH, aumentando em pH extracelular alcalino (i. e., quando a proporção de moléculas ionizadas é baixa) e reduzindo-se em pH ácido. Isso porque o composto precisa penetrar a bainha nervosa e a membrana do axônio para chegar à extremidade interna do canal de sódio (onde está o local de ligação aos anestésicos locais). Como a forma ionizada não passa pela membrana, a penetração é muito pequena em pH ácido. Uma vez dentro do axônio, é sobretudo a forma ionizada da molécula de anestésico local que se liga ao canal e o bloqueia, sendo que a forma ionizada possui fraca atividade de bloqueio do canal. Essa dependência do pH pode ser clinicamente importante, uma vez que o líquido extracelular dos tecidos inflamados é, muitas vezes, relativamente ácido e tais tecidos são, por isso, de algum modo resistentes aos anestésicos locais. São os únicos fármacos que bloqueiam canal de sódio voltagem dependente? Não, anticonvulsivantes e antiarrítmicos de classe 1 também possuem esse efeito, mas visando esse bloqueio local, alguns são melhores, por isso são anestésicos locais. Todavia, a Lidocaína compartilha tanto a função anestésica local quanto a função de antiarrítmico, se administrada próxima a raiz nervosa ou de forma sistêmica, respectivamente. Atenção com a toxicidade: cardiotoxidade e neurotoxidade - Anestesia tópica: alívio da dor a curto prazo quando aplicados às mucosas ou à pele. Antes de suturar pequenos cortes, utiliza-se algumas vezes uma mistura de tetracaína, adrenalina (epinefrina) e cocaína, conhecida como TAC. Devido à preocupação sobre a toxicidade e/ou abuso da cocaína presente nessa formulação, utilizam-se, hoje em dia, alternativas como EMLA. - Anestesia infiltrativa: anestesiar uma área da pele (ou uma superfície mucosa) através de uma injeção, por via intradérmica ou subcutânea em vários locais próximos à área a ser anestesiada. Os anestésicos locais utilizados com mais freqüência para anestesia infiltrativa são a lidocaína, a procaína e a bupivacaína. Usada em pequenas cirurgias de membros. - Bloqueio de nervos periféricos: pode ser dividido em bloqueio nervoso pequeno e bloqueio nervoso grande. A) Pequeno: um bloqueionervoso pequeno para uma extremidade distal pode envolver o nervo radial apenas. B) Grande: o um bloqueio nervoso grande para todo o braço deve envolver o plexo braquial. - Bloqueio nervoso central: o fármaco é injetado próximo à medula espinal, inclui tanto a anestesia epidural quanto a intratecal (espinal). Os efeitos iniciais desses procedimentos resultam primariamente do bloqueio de impulsos nas raízes espinais; entretanto, nas fases mais avançadas, o anestésico penetra no interior da medula espinal, onde pode atuar. A) Epidural: injetado no espaço epidural e bloqueia raízes espinhais. Usado para parto sem dor. B) Raquianestesia: injetado no espaço subaracnóideo, atua sobre raízes espinhais e medula espinhal. Usado para cirurgia do abdome, pelve ou perna, principalmente quando não se pode utilizar anestesia geral. - Anestesia regional intravenosa: um torniquete e uma faixa elástica colocada distalmente são aplicados a um membro elevado, resultando em exsanguinação parcial do membro. A seguir, o torniquete é insuflado e a faixa, removida. Injeta-se então o AL numa veia da extremidade, para produzir anestesia local, e o torniquete impede a sua toxicidade sistêmica ao limitar o fluxo sangüíneo pela extremidade. A anestesia regional intravenosa é algumas vezes utilizada para cirurgia de braço e de mão. - Inibição da condução neural - Sistema nervoso central: estimulação, convulsão, depressão central, depressão respiratória. - Sistema cardiovascular: redução da excitabilidade e velocidade de condução, vasodilatação. Fármacos de curta duração: procaína; Fármacos de ação média: lidocaína, prilocaína; Fármacos de ação longa: tetracaína, bupivacaína, etidocaína; Na prática podemos associar: - Um anestésico com vasoconstritor (Adrenalina, Levonordefrina, Noradrenalina, Fenilefrina) para ter um efeito mais longo; - Um anestésico de inicio rápido de ação com um de longa duração para manter o efeito anestésico prolongado. Absorção Afetada pela: dose, vascularização, propriedades fisico-químicas., adição de vasoconstritor influenciam a velocidade e a extensão da absorção sistêmica dos anestésicos locais. A absorção é maior a partir dos tecidos densamente perfundidos ou após múltiplas administrações. Distribuição Os anestésicos locais desviados na circulação sistêmica seguem pelo sistema venoso até o leito capilar dos pulmões. Quando o primeiro leito capilar é alcançado pelo fármaco, o pulmão “amortece” o impacto do fármaco sobre o cérebro e outros órgãos. O pulmão também desempenha um papel no metabolismo dos AL com ligação amida. Maior concentração sanguínea em tecidos mais vascularizados. Atravessam as barreias lipídicas (SNC e placenta). Metabolismo Os AL com ligação éster são metabolizados por esterases (pseudocolinesterases) teciduais e plasmáticas. Esse processo é rápido (da ordem de minutos), e os produtos resultantes são excretados pelos rins. Os AL com ligação amida são primariamente metabolizados no fígado pelas enzimas do citocromo P450. Os metabólitos dos AL com ligação amida retornam à circulação e são excretados pelos rins. Pode ocorrer algum metabolismo extra-hepático dos AL com ligação amida, como, por exemplo, nos pulmões e nos rins. Gestação
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