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Diuréticos Os diuréticos são fármacos de vasta aplicação de uso clínico, que promovem o aumento da excreção de líquidos e sais (aumentam o fluxo urinário); Nem todos os diuréticos são usados para reduzir a pressão arterial. Eles são utilizados, principalmente, para amenizar edemas; Pode ser utilizado no tratamento de ICC - condição que pode levar ao edema pulmonar - da insuficiência renal, da insuficiência hepática, da hipertensão e do glaucoma. Fisiologia Renal Cada diurético atua em um ponto específico do néfron (como no TCD, TCP e alça de Henle), possuindo ações distintas. Existem, pelo menos, 7 formas de transporte entre membranas do epitélio dos túbulos renais. Mas os fármacos atuam essencialmente em 3 formas. Na membrana existem algumas proteínas e canais. A primeira é a bomba de sódio e potássio que depende diretamente do ATP para seu funcionamento (joga sódio para fora e o potássio para dentro). Já as outras duas proteínas dependem de forma indireta ao ATP (a energia da bomba de sódio e potássio pode ser emprestada para que os outros canais possam agir – por isso são secundariamente dependentes de ATP), elas são: transporte antiporte e transporte simporte. O transporte antiporte é quando duas moléculas passam pelo canal em direções distintas (um entra e outro sai), já no transporte simporte duas moléculas passam na mesma direção (duas entram ou saem). A mácula densa tem contato direto com o corpúsculo renal, sendo responsável por detectar a quantidade de sódio. O túbulo contorcido proximal reabsorve 65% de todo sódio e água; O ramo descendente espesso da alça de Henle absorve bastante sódio e pouca água; O ramo delgado da alça de Henle reabsorve bastante água e pouco sódio; O ramo ascendente espesso da alça de Henle reabsorve 25% de sódio e água; O túbulo contorcido distal tem mais reabsorção de sódio; O ducto coletor reabsorve muita água. *Os diuréticos de alça também são chamados de diuréticos osmóticos, pois, como na alça de Henle tem muita reabsorção de água, eles conseguem promover uma maior reabsorção de H2O. As classes de diuréticos vão atuar, respectivamente, no túbulo contorcido proximal, na alça de Henle, no túbulo contorcido distal e no ducto coletor: Diuréticos inibidores da anidrase carbônica; Diuréticos de alça ou osmóticos; Diuréticos de alça de alto limiar; Diuréticos tiazídicos; Diuréticos roubadores de K+. Diuréticos Inibidores da Anidrase Carbônica Acetazolamida; Possui uso clínico. Efeitos colaterais: hipertensão compensatória e acidose. Eles atuam no túbulo contorcido proximal. Uma das funções dos rins, além de regular a PA, é a regulação do ácido-básico (o que ocorre, principalmente, no TCP). No túbulo contorcido proximal há um filtrado que vai ser constituído, principalmente, de sódio e bicarbonato (HCO3). A porção da célula que está em contato com a luz do túbulo é a apical e a porção que está em contato com o sangue é chamada de basolateral. Na porção apical existe uma proteína que é antiporte, em que prótons H+ saem para o túbulo e o Na+ entra. Assim, o H+ se junta com o bicarbonato na luz tubular formando o ácido carbônico (H2CO3). Na porção apical também existe a enzima anidrase carbônica que acelera a dissociação do ácido carbônico – para formar CO2 e H2O. Por difusão, o CO2 entra na célula e, por osmose (devido a entrada de sódio), a água também entra. Na célula, a água e o CO2 se juntam novamente (formação de ácido carbônico). Ou seja, houve a dissociação no túbulo e a junção novamente no interior celular. No citoplasma da célula existe uma isoforma da anidrase carbônica, que é capaz de dissociar o ácido em bicarbonato e prótons H+. Esses prótons são aqueles que são utilizados pela proteína antiporte na membrana apical. As bombas antiporte (na membrana apical) e a simprte (na membrana basolateral) são secundariamente dependentes de ATP da bomba de sódio-potássio (que se encontra na membrana basolateral). A bomba de sódio e potássio envia o sódio para o lúmen e o potássio para o citoplasma celular. A energia dessa bomba serve como “matéria prima” para o funcionamento das bombas secundárias. O transporte simporte coloca bicarbonato e potássio no sangue. Além disso, o sódio vai para a corrente sanguínea. Conclusão: o bicarbonato e o sódio que estavam na luz do túbulo vão para o sangue, regulando o ácido-base do organismo (servem como tampão). Essa situação citada acima é a fisiológica, entretanto, existem indivíduos que possuem condições como edemas e glaucomas. Nesses casos podem ser administrados os diuréticos inibidores da anidrase carbônica, como a acetazolamida. A acetazolamida é um fármaco que possui enxofre em sua configuração, que é o responsável por inibir a anidrase carbônica. Como é preciso aumentar a diurese precisa aumentar a excreção de sódio e bicarbonato na urina evitar/diminuir a reabsorção = isso é feito pelo bloqueio da anidrase carbônica. Bloqueio da anidrase carbônica gera uma dissociação muito lenta do ácido carbônico, ou seja, aumenta a quantidade de ácido carbônico no túbulo e dentro da célula. O acúmulo gera a redução do pH intracelular, o que tem a capacidade de parar a bomba de sódio e potássio. Consequentemente, a bomba simporte e antiporte não vão funcionar logo, o sódio e bicarbonato não conseguem chegar na corrente sanguínea. A maior presença desses solutos (sódio e bicarbonato) na luz tubular atrai mais água, tendo, assim, maior excreção! EFEITOS COLATERAIS: O pH do sangue, então, diminui gera acidose metabólica; O bicarbonato acumula na urina gera alcalose urinária; A mácula densa percebendo a maior quantidade de sódio no túbulo aciona o SRAA, o que eleva a pressão arterial gera hipertensão compensatória; *Esses efeitos podem acontecer a depender da dose e ao passar do tempo. A acetazolamida também é utilizada para tratamento da alcalose metabólica. Glaucoma: No final da retina há uma área chamada de fóvea – onde a imagem se forma. Essa porção é muito irrigada e a sua frente há uma estrutura que forma a córnea e atrás dela há o cristalino. A contração e relaxamento da musculatura do cristalino permite o efeito conhecido como acomodação visual. Nessa musculatura existe uma área conhecida como trabécula, que é constituída por tecidos epiteliais (que possuem muita anidrase carbônica - AC). Pela ação da AC, vai existir bicarbonato e sódio na trabécula K+ Na+ - que atrai também água. Entre a córnea e o cristalino existe o espaço denominado de câmara anterior que possui o humor aquoso (líquido derivado da água pela ação da AC). O humor aquoso serve para gerar a difração da luz para podermos “enxergar” a imagem. A produção do humor aquoso deve ser igual a sua drenagem na trabécula. Se houver algum problema que obstrua parcial ou totalmente essa área, vai ter a produção sem drenagem acúmulo de líquido na câmara anterior empurra o cristalino compressão dos vasos sanguíneos isquemia glaucoma. Isso gera perda de visão periférica e central. Glaucoma de ângulo aberto: obstrução parcial. Glaucoma de ângulo fechado: obstrução total. A acetazolamida diminui a produção de humor aquoso (já que diminui a quantidade de bicarbonato e sódio), o que reduz a pressão intraocular. Diuréticos de Alça (Osmóticos) Manitol; Muito usado para tratamento de edema encefálico. Farmacologicamente inerte. Ação na alça de Henle. Aumenta a concentração na alça de Henle, o que atrai osmoticamente mais água mais excreção de água. Entretanto, não há relação com os sais – ou seja, é importante quando for preciso tratar um edema sem interferir na concentração salina. Diuréticos de Alça de Alto Limiar Furosemida; Torsemida; São diuréticos muito potentes. Agem na alça de Henle, onde existe sódio, potássio, cloro,cálcio e magnésio. Há um simporte na parte apical da célula de 1 sódio-1 potássio – 2cloro (movimenta essas substâncias para dentro da célula). A energia para que o simporte funcione é proveniente da bomba de sódio-potássio na membrana basolateral (que coloca sódio no sangue e potássio dentro da célula). Ou seja, existe potássio entrando pela membrana apical e pela membrana basolateral (do sangue e do túbulo) – o que resulta no aumento da concentração de K+ intracelular. Há ainda outro simporte na membrana basolateral de 1 potássio-1 cloro. Ele joga o potássio e cloro que entraram na célula para o sangue. O outro cloro sai por um transporte de membrana. Dessa forma, a membrana basolateral irá ficar negativa (devido a saída de 2Cl-: excesso de cloro) e o Ca2+ e o Mg2+ irão ser atraídos eletrostaticamente para o sangue (de forma paracelular – entre as células). O dipolo formado consegue levar o cálcio e o magnésio para o sangue. Além disso, a grande concentração de sais no sangue leva a atração de água para os capilares peritubulares (por osmose). O indivíduo que tem edema, ICC ou insuficiência renal pode utilizar furosemida, um diurético de alça de alto limiar. Esse fármaco vai inibir o simporte apical (1Na+/1K+/2Cl-), logo o cloro, potássio e sódio não vão entrar na célula. Então não haverá a formação do dipolo, que permitiria a passagem do cloro. Portanto, todos os sais terminam sendo eliminados na urina (redução deles no sangue) juntamente com a água. Isso corresponde em diminuição de H2O no corpo. A ICC é progressiva e é um problema de contratilidade cardíaca, um processo que é efetivado com a entrada de sódio que sinaliza para a entrada de cálcio. À medida que entra sódio, o reticulo sarcoplasmático mobiliza o cálcio, levando a uma rápida despolarização. Esse evento irá facilitar a abertura de canais lentos de cálcio, o que leva à entrada de cálcio na célula cardíaca. A bomba de Na+/K+ ATPase é acionada, e pega o Na+ que entrou e joga para fora, e o K+ para dentro. A energia dessa bomba facilita a abertura de canais de cálcio e, assim, o cálcio que entrou, vai para fora – repolarização. Na ICC usamos os medicamentos na classe dos glicosídeos digitálicos, que tem como função a inibição da bomba sódio-potássio-ATPase do coração. Assim, sódio não sai, K+ não entra, canais de cálcio não se abrem e o cálcio não sai da célula o que leva ao acúmulo de cálcio e uma contratilidade mais efetiva (efeito inotrópico positivo). A digoxina é um digitálico que realiza essa ação, entretanto ela é extremamente tóxica (já que causa arritmias) e seu índice terapêutico é baixo (isso significa que a dose letal é muito pequena). No entanto, o potássio é capaz de diminuir o efeito tóxico da digoxina – já que ele compete diretamente com esse fármaco. Conclusão: quanto mais K+ disponível, menor a toxicidade da digoxina. Como a furosemida reduz o potássio no sangue, a combinação DIGOXINA + FUROSEMIDA leva à intoxicação digitálica, exceto se houver a reposição de K+. A furosemida reduz sódio e cálcio e, por isso, reduz a efetividade da contratilidade. Por isso na ICC pode ser imaginado um plano terapêutico com o uso de furosemida (para redução do edema) e digitálicos (para aumentar a força de contração) – mas é preciso ter cuidado com essa interação medicamentosa. EFEITOS COLATERAIS: A redução de sódio no sangue gera hiponatremia e efeitos cardiovasculares; A redução de potássio no sangue + utilização de digitálico = intoxicação digitálica; Hipocalemia devido à redução de potássio no sangue; A redução de magnésio no sangue leva ao aumento da glicemia. Isso ocorre, pois, a insulina se liga no receptor celular e mobiliza o GLUT-4, que tem alta afinidade pela glicose, para a membrana. A fixação do GLUT-4 na membrana depende do magnésio, logo, a deficiência dessa substância impossibilita a implantação e, assim, a absorção de glicose pela célula hiperglicemia. Diuréticos Tiazídicos Hidroclorotiazida; Clortalidona; Indapamida; Agem no túbulo contorcido distal. Eles pertencem a primeira linha para tratamento contra hipertensão. A hidroclorotiazida é um fármaco clássico e “pode” causar câncer – tumores de pele não melanômicos (efeito colateral). Entretanto, é um fármaco excelente no tratamento contra a hipertensão. MECANISMO DE AÇÃO: Na luz do TCD há uma grande quantidade de sódio e cloro. Na porção apical da célula, há uma bomba simporte para sódio e cloro (essas substâncias irão passar da luz para dentro da célula). A energia para essa bomba é proveniente de outra bomba – a sódio- potássio-ATPase (na região basolateral). Devido à Na+-K+-ATPase, o Na+ sai da célula e o K+ entra. Também há na região basolateral há uma bomba simporte de cloro e potássio (que também pega energia da Na+-K+-ATPase) - a partir dela saí o cloro e potássio para o sangue. A partir da bomba simporte de cloro e potássio, o cloro sai e o potássio pega “carona”. Assim o TCD consegue reabsorver o cloreto de sódio para o sangue. O aumento de sódio e cloro consequentemente eleva a pressão arterial, já que o sódio “puxa” a água para o sangue. A água vem, principalmente, pelos ductos coletores e alça de Henle. Nos 2/3 iniciais do TCD a porção apical é carregada da bomba de sódio e cloro. 1ª linha Hipertensão A hidroclorotiazida inibe a bomba simporte de cloro e sódio – que impedirá a entrada dessas substâncias na célula. Sem a entrada de sódio e cloro, não há a reabsorção dessas para o sangue. Nos 2/3 iniciais do TCD há um canal de potássio, o qual permite que parte do potássio volte para a luz tubular. De maneira que, com a ação da hidroclorotiazida, o K+ não é poupado. Há, então, uma perda (pequena) de potássio, pois esse canal que se localiza na membrana apical permite sua passagem livremente (hidroclorotiazida não poupa potássio), mas a furosemida elimina muito mais. A bomba de sódio e potássio diminui bastante sua atividade, mas o K+ consegue entrar de maneira espontânea (pouca quantidade) pela célula e é eliminado pela urina. Dessa forma, há uma perda pequena, comparada a furosemida, de K+ no sangue – devido ao canal de K+ na porção apical, que permite a saída de K+ de forma espontânea. A hidroclorotiazida ao bloquear a reabsorção de sódio e cloro leva a diminuição brusca da pressão arterial do paciente. O cloro e o sódio não passam para o sangue. Assim, a pressão do indivíduo cai – primeira droga indicada contra a hipertensão. Há uma perda de potássio na urina – ela não poupa potássio. A clortalidona tem uma meia-vida maior do que a hidroclorotiazida (menos doses administradas). Entretanto, ambas são metabolizadas no fígado. A HCTZ e a clortalidona geram um metabólito, após a ação de uma enzima, capaz de clivar o glicogênio nas reservas hepáticas (glicogenólise) – assim, aumenta a glicemia. Tanto a clortalidona quanto a hidroclorotiazida aumentam a glicemia! Diuréticos de alça de alto limiar e os diuréticos tiazídicos - hidroclorotiazidicos e clortalidona aumentam a glicemia (por mecanismos diferentes). A furosemida porque diminui o magnésio e os tiazídicos devido a glicogenólise. A indapamida faz a mesma coisa que os anteriores, mas não aumenta a glicemia – já que é possui um metabolismo neutro. A indapamida é mais cara. Para o diabético e hipertenso pode ser receitado todos esses medicamentos – mesmo que aumente a glicemia, já que ele, provavelmente, está utilizando hipoglicemiantes. A glicemia só aumenta com o uso crônico desses medicamentos. Diuréticos Poupadores de K+ Amilorida; Triantereno; -Eles atuam no terço final do TCD. *Antagonista de Aldosterona Espirinolactona; -Atua no terço final do TCD e no ducto coletor. - No terço final do TCD existe uma bomba de sódio na porção apical das célulasepiteliais que captura o sódio da luz. Na porção basolateral, há a bomba de sódio- potássio-ATPase (sódio sai e potássio entra). Não existe o canal de potássio na porção apical da célula! Os poupadores de potássio bloqueiam o transportador de sódio, que não vai entrar na célula. Assim, a bomba de sódio e potássio não vai funcionar (sem o substrato, a enzima não funciona) – o sódio não sai para o sangue e o potássio é mantido no sangue (ele é poupado). Eles auxiliam na redução da pressão arterial em casos de ICC (pode associar digitálico e poupador de potássio). Tratamento de outras formas de hipertensão, como doença base leva ao aumento da pressão – ex.: a felcromacitoma (tumor de suprarrenal). Esse tumor aumenta a liberação de aldosterona, que aumenta a PA. Nesse caso, o medicamento indicado é a espirinolactona. A espirinolactona é um anti- hipertensivo de 2ª linha. A aldosterona é liberada no sangue e é muito lipossolúvel e atravessa a membrana basolateral – se liga ao receptor no citoplasma e esse complexo vai para o núcleo, ativando promotores gênicos. Aumenta a transcrição de DNA, ativa a produção do canal de sódio e da bomba de sódio e potássio, aumentando a quantidade dessas estruturas no 1/3 final do TCD e ducto coletor. Dessa forma, há uma maior reabsorção de sódio (da luz para o sangue) nos casos de hiperaldosteronismo primário – esse processo ocorre de maneira exacerbada e há a presença de hipertensão. Assim, a espirolactona bloqueia a ligação da aldosterona ao receptor (não reduz a liberação da aldosterona, diminui o efeito dela). Não vai ter a transcrição gênica, sem bomba de sódio e potássio nem transportador de sódio. O sódio se mantém na luz e o potássio é poupado (no sangue). Aumento de K+ no sangue e eliminação de Na+ devido à ausência da bomba de sódio e potássio. A espirolactona pode ter um efeito colateral, devido a sua metabolização, de aumento do estrogênio – causando ginecomastia em homens.